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A GESTÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ: Um estudo de caso sobre a gestão ambiental e o gerenciamento dos resíduos no Campus Litoral SANDRA SIMM ROHRICH Universidade Federal do Paraná [email protected]

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A GESTÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FEDERALDO PARANÁ: Um estudo de caso sobre a gestão ambiental e ogerenciamento dos resíduos no Campus Litoral

 

 

SANDRA SIMM ROHRICHUniversidade Federal do Paraná[email protected] 

 

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A GESTÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ: Um estudo

de caso sobre a gestão ambiental e o gerenciamento dos resíduos no Campus Litoral

Resumo

A gestão ambiental é um tema crescente nas organizações de todos os portes e setores, sendo

relevante também nas prestadoras de serviços, em especial as Instituições de Ensino Superior

(IES). Esse artigo trata de um estudo de caso na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que

fisicamente está dividida em seis campi, todos eles subordinados às diretrizes ambientais

provenientes da Divisão de Gestão Ambiental (DGA), órgão da própria universidade

responsável por gerir as ações pertinentes ao tema. O artigo tem por objetivo descrever o

processo de gestão ambiental e o gerenciamento dos resíduos gerados no cotidiano do

Campus Litoral da UFPR. Dentre os resultados alcançados foi possível visualizar que o

Campus Litoral vem atendendo aos requisitos mínimos obrigatórios regulamentados por lei

quanto à separação e descarte de resíduos reciclados e perigosos, no entanto, as informações a

esse respeito não estão amplamente disponíveis para a comunidade acadêmica, que, em

grande parte, desconhece a política ambiental da UFPR. O Campus Litoral não possui um

sistema de gestão ambiental formalizado, sendo que as ações para a sustentabilidade ainda

não representam uma prioridade estratégica no tripé ensino, pesquisa e extensão.

Palavras chave: gestão ambiental; universidade; resíduos; sistema de gestão ambiental

ENVIRONMENTAL MANAGEMENT AT FEDERAL UNIVERSITY OF PARANÁ:

Case Study on environmental management and waste management on Campus Litoral.

Abstract:

The environmental management is an increasing theme in organizations of all sizes and

industries, being also relevant in services providers, in particular at higher education

institutions. This Article deals with the case study on Federal University of Parana (UFPR),

which is physically split up in six campuses, all of them subordinated to the environmental

guidelines from Environmental Management Division, organ from the university itself is

responsible for managing the actions relevant to the theme. This article aims to describe the

process of the environmental management and the waste management generated daily on the

Coastal Section from UFPR. Among the results achieved it was possible to realize that the

Coastal Section of UFPR meets the mandatory minimum requirements regulated by law such

as separation and waste recycle and dangerous discharge. However, the information in this

regard, is not widely available to the academic community, most part of them, unknown the

environmental policy from UFPR. The Coastal Section does not have a formalized

environmental management system, whereas the actions for sustainability do not yet represent

a priority in the tripod education, research and extension

Key words: Management Environmental; University; Waste; Environmental Management

System

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1. Introdução

Dentre as três perspectivas da gestão ambiental, sendo elas a econômica, a social e

ambiental, é sobre essa última que esse artigo se debruça. Nesse sentido, a gestão ambiental

apresenta diversos temas importantes em seu espectro de problemas evidenciados no ambiente

universitário, dentre eles destacam-se: a gestão dos resíduos sólidos orgânicos; a gestão dos

resíduos sólidos perigosos, a gestão dos resíduos contaminantes e a gestão dos resíduos

sólidos recicláveis. Há também outras temáticas na gestão ambiental que antecedem a geração

dos resíduos, tais como: a economia dos recursos energéticos, a utilização parcimoniosa da

água e do papel; e o estabelecimento de uma política ambiental. Para Juliatto, Calvo e

Cardoso (2011) as universidades destacam-se como uma nova perspectiva na busca por

soluções.

Esse estudo trata essencialmente das universidades e das ações promovidas por elas

que caracterizem práticas de gestão ambiental. Nesse contexto tem por objetivo descrever o

processo de gestão ambiental e o gerenciamento dos resíduos gerados no cotidiano do

Campus Litoral da UFPR.

Entende-se por gestão ambiental as ações rotineiras desempenhadas pela comunidade

acadêmica do Campus Litoral da UFPR, composta pelos discentes, técnicos e docentes. Por

um lado, essas práticas podem ser oriundas de iniciativas voluntárias, muitas vezes derivadas

de diretrizes internas da universidade, porém sem uma exigência normativa regulamentada

pela lei. Por outro lado, podem ter caráter coercitivo, condição que limita as práticas

ambientais em critérios mínimos exigidos pela legislação.

2. Revisão Bibliográfica

2.1 As iniciativas voluntárias

As iniciativas voluntárias geralmente estão presentes em instituições que tem na

gestão ambiental um elemento estratégico e por isso a colocam como fator determinante em

seus objetivos. Essas organizações possuem programas que se estendem em toda a

corporação, educam os funcionários com informações e responsabilidade, monitoram as

operações continuamente e são rápidos em resolver os problemas (Rohrich & Cunha, 2004).

Podem ser procedimentos aleatórios escolhidos pela organização de acordo com o que

esta considera relevante dentro da sua gestão ambiental, ou então seguir diretrizes formuladas

por entidades externas.

Algumas diretrizes voluntárias conhecidas são as diretrizes da ISO (International

Organization for Standartization), sendo que as normas NBR ISO 14000 representam parte

dessa realidade. Sua adesão pode ocorrer devido aos interesses da administração ou até

mesmo devido à a pressão das partes interessadas, como fornecedores, sociedade ou clientes

(Wesendonck & Rohrich, 2013).

Em tradução para o português, o texto da norma ABNT NBR ISO 14001:2004 expõe

que as normas de gestão ambiental têm por objetivo prover as organizações de elementos de

um sistema de gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos

da gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos.

Outra iniciativa voluntária é a Agenda ambiental da Administração Pública A3P,

criada em 1999 pelo o MMA (Ministério do Meio Ambiente), propõe ações ambientais

voluntarias em organizações públicas em busca de padrões sustentáveis de produção e

consumo (MMA, 2013).

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Tem por fundamento que as instituições públicas possam “dar o exemplo” para

redução de impactos socioambientais negativos, a A3P foi estruturada em cinco eixos

temáticos prioritários, são eles: uso racional dos recursos naturais e bens públicos, gestão

adequada dos resíduos gerados, qualidade de vida no ambiente de trabalho, sensibilização e

capacitação dos servidores e licitações sustentáveis.

De acordo com as diretrizes da A3P, A administração pública tem a responsabilidade

de contribuir no enfrentamento das questões ambientais, buscando estratégias inovadoras que

repensem os atuais padrões de produção e consumo, os objetivos econômicos, inserindo

componentes sociais e ambientais. Diante dessa necessidade as instituições públicas têm sido

motivadas a implementar iniciativas específicas e desenvolver programas e projetos que

promovam a discussão sobre desenvolvimento e a adoção de uma política de

Responsabilidade Socioambiental do setor público.

O MMA (Ministério do Meio Ambiente) apoia tecnicamente as instituições

interessadas em implementar a A3P. Para auxiliar o processo de implantação da agenda o

MMA propõe aos parceiros interessados a sua institucionalização por meio da assinatura do

Termo de Adesão e o seu cadastro na Rede A3P. Atualmente são 152 instituições parceiras,

dentre elas uma universidade, a Universidade Federal do Rio grande do Sul.

As iniciativas voluntárias tem na definição da política ambiental uma de suas ações

primárias para conduzir a gestão ambiental. Segundo a NBR ISO 14001/2004, é fundamental

que a política ambiental seja: apropriada a natureza, a escala, ao porte, e aos impactos

ambientais negativos da organização; tenha comprometimento com a melhoria contínua; seja

comprometida em atender os requisitos legais; forneça uma estrutura para o estabelecimento e

análise dos objetivos e metas ambientais; seja documentada, implementada e mantida; seja

comunicada aos colaboradores internos e externos; e esteja disponível para o público.

Além das iniciativas voluntarias como a ISO 14000 e a A3P há ainda os

comportamentos em relação ao meio ambiente que são regulamentados em lei, esses tem

caráter coercitivo e, quando cumpridos, as organizações estão atendendo apenas os requisitos

mínimos em relação ao meio ambiente, denominados requisitos de controle, diferentemente

das iniciativas voluntárias, as quais resultam de motivações estratégicas.

De acordo com Schenini (2005) as exigências de ordem legal no trato das questões

ambientais pelas organizações representam fatores externos que estimulam ou exigem que se

tornem mais responsáveis com relação ao meio ambiente.

2.2 A regulamentação legal para o setor público

Ao longo da história os acordos ambientais firmados em âmbito internacional têm

levado os governos a definirem os requisitos legais para o meio ambiente. Até as décadas de

1960 e 1970 a maior parte dos problemas levantados geravam impactos locais, como as

chaminés e os canos de escapamento. Para esses males as respostas passaram a se alcançadas

mediante a devida regulamentação legal ( Schmidheiny, 1992).

Nesse sentido, a conferência de Estocolmo, em 1972, foi um marco histórico no

tratamento dos aspectos ambientais de forma mais ampla, não se restringindo a problemas

pontuais, como a preservação de uma determinada de espécie da fauna, da flora ou local, por

exemplo. Foi a partir dessa data que começam a se tornar fato as primeiras inciativas de

comando e controle para a gestão ambiental abrangendo questões que vão além das fronteiras

estabelecidas fisicamente pela natureza e geograficamente pelo homem. Novos encontros e

documentos passam a valorizar a temática em âmbito internacional, como a conferência do

Rio em 1992, que resultou na Agenda 21. Posteriormente outras iniciativas como o Protocolo

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de Quioto, em 1997, contribuíram para a aprendizagem quanto ao trato das questões

ambientais em nível planetário.

Os resíduos gerados pelas organizações dos mais variados portes e setores compõem

uma das questões de maior preocupação por parte dos governantes nacionais e internacionais.

No Brasil, é recente a história de formalização da preocupação com a geração e disposição de

resíduos, tornando explícitas as diretrizes ambientais obrigatórias para as instituições públicas

nacionais, sendo que o decreto 5.940/2006 e a Lei 12.205/2010 são os documentos que

competem às universidades públicas.

O Decreto nº 5.940/2006 instituiu a separação dos resíduos recicláveis descartados

pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, bem como sua

destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis;

Esse decreto tem motivado iniciativas concretas para o correto descarte de resíduos

gerados nos ambientes universitários, principalmente no que concerne à separação de resíduos

perigosos, derivados de laboratórios, e os recicláveis.

O Decreto 5.940/06 pode favorecer as associações e cooperativas de catadores de

material reciclável na medida em que se elevam a quantidade e a qualidade dos resíduos

recebidos. O decreto determina a separação de resíduos recicláveis de órgãos e entidades da

administração pública federal direta e indireta em benefício destas entidades (MMA, 2013)

Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da

administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às

associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências.

Não voltada apenas para o setor público, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos,

formalizada na lei 12305/2010, tem entre os seus objetivos: o incentivo à indústria da

reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias primas e insumos derivados de

materiais recicláveis e reciclados; a prioridade, nas aquisições e contratações governamentais,

para produtos reciclados e recicláveis e bens, serviços e obras que considerem critérios

compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis.

Compartilha com o decreto 5.940/06 a integração dos catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos.

Dentre os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, destacam-se àqueles

pertinentes à gestão ambiental em um ambiente universitário:

I - os planos de resíduos sólidos;

II - os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos;

III - a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à

implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de

associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

V - o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária;

VI - a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o

desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão,

reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada

de rejeitos;

VII - a pesquisa científica e tecnológica;

VIII - a educação ambiental;

2.3 Principais resíduos gerados na administração pública

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A respeito dos resíduos produzidos em grande quantidade na administração pública

estão em maior proporção a geração de papéis, os plásticos, os cartuchos e tonners, as

lâmpadas fluorescentes, o lixo eletrônico e, em menor quantidade, vidros e metais, além de

pilhas e baterias (MMA, 2013).

Um aspecto polêmico dentro das entidades de administração pública são as lâmpadas

fluorescentes. Apesar de reconhecidas como mais econômicas e duráveis do que as

incandescentes contêm mercúrio e chumbo, altamente prejudiciais ao meio ambiente e à

saúde. Excedem os limites regulatórios, o que exige a adoção de medidas adequadas para o

seu descarte que não deve, jamais, ser feito diretamente nas lixeiras. São considerados

resíduos perigosos (Classe I) pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

A Resolução CONAMA nº401/2008 estabelece que pilhas e baterias que tenham

elevados teores de chumbo, mercúrio e cádmio, devem ser recolhidas pelos estabelecimentos

comerciais. Do mesmo modo, os cartuchos e tonners também são considerados resíduos

perigosos e devem ter uma destinação apropriada.

A respeito dos pneus, a Resolução CONAMA nº 416/09, disciplina o gerenciamento

dos pneus considerados inservíveis que, dispostos inadequadamente, constituem passivo

ambiental, com riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Já as carcaças de computadores e

aparelhos de ar condicionado podem ser vendidos para desmonte.

A Resolução CONAMA nº 9, de 31 de agosto de 1993 trata dos óleos não refinados ou

não reciclados, depois de usados, deverão ser acondicionados em tambores para disposição

em aterros industriais próprios para resíduos perigosos. Em sua composição há metais e

compostos altamente tóxicos e por isso são classificados como resíduos perigosos à saúde

humana, animal e ao meio ambiente.

As carcaças de veículos podem ser encaminhadas aos ferros-velhos ou sucateiros. O

mesmo procedimento pode ser adotado para os canos de cobre, ferro e alumínio, assim como

peças mecânicas de metal.

Os móveis podem ser levados para aterros sanitários ou doados às entidades sociais.

Além da correta disposição de resíduos, outras regulamentações descritas no Quadro 1

também têm exercido influencia na gestão ambiental das universidades.

Lei nº 12.349/2010 Altera o Art. 3º Lei nº 8.666/1993 com a inclusão da

Promoção do Desenvolvimento Nacional Sustentável como

objetivo das licitações.

Instrução Normativa nº 1/2010 do MPOG Estabelece critérios de sustentabilidade ambiental na

aquisição de bens, contratação de serviços ou obras na

Administração Pública Federal.

Lei 12.462/2011 Regime Diferenciado de Contratações Públicas.

Decreto nº 7.746/2012 Determina a adoção de iniciativas, dentre elas a A3P,

referentes ao tema da sustentabilidade pelos órgãos e

entidades federais, bem como suas vinculadas.

Instrução Normativa Nº 10/2012 do MPOG Estabelece as regras para elaboração dos Planos de Gestão de

Logística Sustentável pela administração pública federal bem

como suas vinculadas.

Quadro 1: Regulamentações que se aplicam às universidades Fonte: organizado pelos autores

2.4 A gestão ambiental nas universidades

As universidades públicas têm por finalidade promover o ensino, a pesquisa e a

extensão. Além disso, estão sujeitas às mesmas intempéries de outras organizações públicas,

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sendo a gestão ambiental um novo contexto com o qual estão aprendendo a lidar em meio aos

seus outros objetivos de trabalho.

De certo modo, as universidades se assemelham a núcleos urbanos, devido à

magnitude que alcançam em sua infraestrutura, abrangendo desde sistemas de transporte,

moradia, alimentação e saúde, até a gestão dos resíduos por elas gerados (Juliatto, et. al,

2011).

Para Esteves e Falcoski (2012) os campi universitários se assemelham nos aspectos

físicos a cidades e nos aspectos organizacionais a empresas. Os autores argumentam que “a

gestão ambiental dentro das Universidades pode contribuir de maneira efetiva para a

disseminação e aplicação de práticas sustentáveis perante a sociedade, visto seu papel de

formação e educação (Esteves & Falcoski, 2012, p.1)”.

A implantação de um SGA em instituições de ensino se torna imperativa uma vez que

suas dimensões no contexto nacional e o papel que desempenham na formação da sociedade

são cada vez mais evidentes.

Estudos sobre a gestão ambiental vêm ganhando espaço crescente no meio empresarial

e também nas IES. “O desenvolvimento da consciência ecológica em diferentes camadas e

setores da sociedade mundial acaba por envolver também o setor da educação, a exemplo das

Instituições de Ensino Superior (IES) (Tauchen & Brandli, 2006, p.1)”.

De acordo com Tauchen e Brandli ( 2006) há duas possibilidades referentes ao papel

das IES no tocante ao desenvolvimento sustentável. A primeira destaca a questão educacional

como contribuição na qualificação de seus egressos. A segunda destaca a postura de algumas

IES na implementação de SGA em seus campi universitários, como modelos e exemplos

práticos de gestão sustentável para a sociedade. Nessa possibilidade as universidades

compõem representações que podem ser referencial de comportamento para várias esferas da

sociedade. Também por esse motivo muitas vezes as práticas ambientais decorrentes das

instituições de ensino são mimetizadas por outras instituições do mesmo setor (Dimaggio e

Powell, 1983). Assim, na medida em que algumas IES começam a inserir práticas voluntárias

de gestão ambiental em seus processos, outras universidades podem copiar essas iniciativas, o

que leva a um crescimento desse grupo de IES.

No Brasil, poucas IES têm apresentando estratégias elaboradas em relação à gestão

ambiental de seus campi. Algumas merecem destaque:

A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), por intermédio do projeto

Verde Campus, foi a primeira e ainda é a única universidade da América Latina a ser

certificada segundo a ISO 14001 (INMETRO, 2013). A Gestão Ambiental da Unisinos é feita

pelo SGA – Sistema de Gestão Ambiental. São exemplos diários: a organização da coleta de

lixo permitindo a posterior reciclagem, ações que incentivem a redução do consumo de água e

energia e a diminuição do volume de resíduos gerados pela comunidade (Verde Campus,

2013)

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi criada uma coordenadoria de

Gestão Ambiental, ligada diretamente ao gabinete da reitoria. Uma das propostas engloba o

sistema de coleta dos resíduos químicos da UFSC. Outro projeto implementado na UFSC foi

o Projeto Sala Verde, cujo consiste na criação de um espaço na instituição dedicado ao

delineamento e desenvolvimento de atividades de caráter educacional, tendo como uma das

principais ferramentas a divulgação e a difusão de publicações sobre Meio Ambiente (Ribeiro,

A. L., Bressan, L. W., Lemos, M. F., Dutra, C. & Nascimento, L. F., 2005)

Também no Estado de Santa Catarina está a Universidade Regional de Blumenau

(FURB). A Instituição criou o Comitê de Implantação do SGA em março de 1998. Este

Comitê, seguindo as normas da ISO 14001, elaborou a Política Ambiental da FURB e deu

início ao Planejamento Ambiental, culminando com a criação do Sistema de Gestão

Ambiental da Universidade em 1999, composto pela Coordenadoria do Meio Ambiente,

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Responsáveis e Agentes Ambientais (Butzke, Pereira & Noebauer, 2002; Tauchen & Brandli,

2006)

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) inicialmente foi realizado

um diagnóstico sobre os resíduos gerados e suas diferentes destinações nas unidades da

universidade. A partir dos seus resultados foi constatada a existência de algumas iniciativas

pontuais objetivando melhoras nos aspectos ambientais da universidade. A partir da iniciativa

de um grupo de alunos orientados por um professor foi proposta a implementação de um

Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos nesta unidade. O grupo realizou o

levantamento dos resíduos gerados e, atualmente, ações possíveis para a diminuição do consu-

mo de energia e água estão em implantação (Ribeiro et al., 2005).

2.5 Universidade Federal do Paraná: Um Estudo no Campus Litoral

.

O ambiente universitário representa papel importante na formação de opinião e

comportamentos dos seus egressos, e esses são disseminadores do conhecimento adquirido..

Desse modo, as questões referentes ao meio ambiente adquirem relevância no processo de

conscientização ambiental de todos os atores do espaço acadêmico.

A UFPR está organizada em seis campi diferentes e tem seguido as diretrizes

ambientais provenientes no Decreto Federal nr. 5.940/2006 e da Política Nacional de

Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010. Estabelece, para tanto, diretrizes internas para a gestão

ambiental.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi criado um órgão competente com

responsabilidade pela gestão Ambiental, a Divisão de Gestão Ambiental (DGA). Fundada em

2002 tem por responsabilidade, dentre as suas atribuições, realizar o gerenciamento integrado

de resíduos e o seu monitoramento, visando o tratamento e a disposição adequada.

A DGA apresenta em seu quadro um funcionário efetivo da UFPR e um funcionário

terceirizado que colabora na condução de suas atribuições. Além destes, em cada um dos

campi um funcionário, geralmente da área administrativa, fica responsável por coordenar as

atividades relativas ao gerenciamento dos resíduos. O Campus Litoral conta com uma Gestora

ambiental atuante nos laboratórios, responsável pela correta segregação de resíduos sólidos e

líquidos; e bombonas disponibilizadas pela DGA.

O Campus Litoral está localizado no município de Matinhos, recebe esse nome por ser

um dos campi situado na região litorânea do Estado do Paraná. Como procedimento padrão os

resíduos orgânicos são coletados pela prefeitura do município. Os resíduos recicláveis são

coletados por duas cooperativas de catadores da região. Os resíduos perigosos e os de saúde

são coletados periodicamente e enviados para Curitiba por empresa especializada no

transporte desses materiais.

A UFPR apresenta uma estrutura organizada quanto à coleta e disposição de resíduos

em seus campi, entretanto, há algumas dificuldades em gerenciar as práticas rotineiras da

comunidade que usufrui da estrutura em questões como o uso de aparelhos de ar condicionado

e a adoção sistemática de práticas de separação e acondicionamento de resíduos

3. Metodologia

O Campus Litoral oferece o curso de Bacharelado em Gestão Ambiental. Foram os

alunos de uma das turmas do curso, sob a orientação dos professores da disciplina

denominada Instrumentos de Gestão Ambiental, que construíram e aplicaram o instrumento

de pesquisa, Em uma das aulas, mediante uma palestra e visita técnica em outro campus da

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UFPR, onde ficam concentradas as atividades da DGA, os alunos puderem conhecer a

Divisão de Gestão Ambiental e as implicações legais para a UFPR na gestão de resíduos

sólidos. A partir disso chegaram ao objetivo de descrever o processo de gestão ambiental e o

gerenciamento dos resíduos gerados no cotidiano do Campus Litoral da UFPR.

Esta pesquisa é de natureza descritiva quantitativa. A metodologia compreendeu um

instrumento de coleta de dados, sendo este um questionário estruturado com questões

fechadas.

Para elaboração e aplicação do questionário foram divididos grupos a fim de abranger

os diversos membros separados por categorias (discentes, docentes, técnicos, restaurante

universitário e laboratórios). Para a coleta e tabulação dos dados a definição do método

utilizado ficou a critério de cada grupo. Em alguns casos foram feitas entrevistas presenciais,

em outros o envio de arquivos digitais para preenchimento, bem como a utilização da

ferramenta Google Drive e de softwares (word e excel) para organização e construção de

gráficos. O período de execução da pesquisa foi o mês de julho de 2013. Na tabela 1 consta o

tamanho das amostras entrevistadas.

Tabela 1: Grupos amostrais

Grupo Amostral Total* Amostra %

Docentes 80** 39 48,75

Discentes 1500 167*** 11,1

Técnicos 46 23 50

Restaurante Universitário 13 10 77

Laboratórios 4 2 50

*Número aproximado de pessoas no campus estudado

**Número aproximado de docentes ativos na UFPR Litoral.

***Foram entrevistados apenas discentes do período noturno.

Fonte: Elaborado pelos autores

4. Apresentação e Análise dos resultados

O estabelecimento das categorias de análise deu-se em virtude das especificidades

observadas em suas rotinas de trabalho. Os discentes foram considerados uma categoria

diferenciada devido ao uso da estrutura coletivamente e por tempo determinado, até a

conclusão do curso. Os docentes também fazem uso do ambiente das salas de aula, porém

com mais autonomia que os discentes. Além disso, permanecem muitas horas em seus

gabinetes de trabalho. Os técnicos que trabalham nos laboratórios apresentam controles

específicos, principalmente no que diz respeito à utilização de bombonas para o correto

descarte de contaminantes. O restaurante universitário não está localizado dentro do campi,

possui endereço diferente, além disso é uma empresa terceirizada que presta serviço à UFPR.

Mesmo nessa condição foram incluídos na pesquisa devido ao grande volume de resíduos

gerados e o impacto do seu descarte.

As questões analisadas abrangem a percepção dos entrevistados em relação a alguns

aspectos ambientais considerados mais relevantes, sendo os seguintes: política ambiental; uso

eficiente dos aparelhos de ar condicionado; destinação correta dos resíduos perigosos;

disposição final dos resíduos sólidos recicláveis; separação dos resíduos feita por cada um em

seu ambiente de trabalho.

4.1 Política ambiental

Foi perguntada a opinião dos entrevistados a respeito da existência de uma política

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ambiental no campus. A realidade posta é que o campus não possui uma política ambiental

explícita e disponível nos documentos, editais ou qualquer outra forma de comunicação. Na

tabela 2 pode ser observada a divergência de argumentos a esse respeito. Para os docentes e

discentes essa política ambiental não existe no campus. Porém, para os funcionários das áreas

técnicas, bem como para aqueles dos laboratórios a política é perceptível. Já para o

restaurante universitário a política ambiental do campus litoral não é uma realidade explícita.

Tabela 2: Política ambiental no campus litoral

SIM NÃO

DISCENTES 11% 89%

DOCENTES 20% 80%

TÉCNICOS 70% 30%

LABORATÓRIOS 100% 0%

RU 20% 80%

Fonte: Elaborado pelos autores.

A partir dos resultados apresentados é possível esclarecer que a gestão ambiental no

Campus Litoral da UFPR tem por diretriz seguir os padrões obrigatórios de acordo com o

decreto federal nr. 5.940/2006 e a lei federal nr. 12.305/2010. Atende ainda, sobretudo, as

diretrizes da Divisão de Gestão Ambiental (DGA) da UFPR. Apesar de estar condicionado a

esses requisitos obrigatórios, não foi evidenciada uma política ambiental que seja explicitada

no campus e reflita claramente os procedimentos internos para a Gestão Ambiental. Percebe-

se que os funcionários das áreas técnicas possuem mais envolvimento com a temática, visto

que 70% deles afirmaram que o campus possui uma política ambiental. Condição que pode

estar ligada à proximidade com as atividades rotineiras de separação e descarte de resíduos.

Os docentes parecem não estarem muito envolvidos com a situação ou talvez não percebam a

aplicabilidade desses requisitos em seus procedimentos de trabalho. Os alunos compartilham

da mesma opinião que os professores, o que leva ao entendimento de algum tipo de lacuna na

comunicação a respeito da política ambiental do campus. Contudo, se a política não está

formalizada então estão corretos os docentes, discentes e funcionários do RU ao afirmarem a

inexistência de uma política ambiental no Campus Litoral.

4.2 Aparelhos de Ar Condicionado

A respeito do uso de aparelhos de ar condicionado nas salas de aula, gabinetes,

bibliotecas, laboratórios e demais áreas fechadas no campus, as opiniões foram bem

divergentes. Devido ao campus estar localizado em uma região litorânea que apresenta

temperaturas elevadas no verão, foram instalados aparelhos de ar condicionado na maior parte

dos ambientes fechados, contudo, percebe-se que muitas vezes os ambientes estão

desocupados e com os aparelhos ligados, ou estão em uso mas com as janelas e portas abertas.

Outras vezes também os usuários buscam alcançar temperaturas muito baixas utilizando os

aparelhos em sua capacidade máxima, forçando o equipamento e consumindo mais energia.

Durante a realização da pesquisa não foi observado nenhum aviso ou campanha interna

visando a economia no consumo energético. Práticas de educação ambiental visando

conscientizar a comunidade acadêmica a esse respeito poderiam contribuir para minimizar

esses problemas.

Esse questionamento não foi realizado para os funcionários do RU, pois lá não existem

aparelhos de ar condicionado. Os funcionários dos laboratórios também não foram

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questionados, pois o uso de aparelhos de ar condicionado nesse ambiente é essencial para a

conservação de determinados componentes e equipamentos.

Na tabela 3 são destacadas as opiniões dos respondentes

Tabela 3: Eficiência no uso de ar condicionado

Nunca Raramente Algumas

vezes

Na maior

parte das

vezes

Sempre

DISCENTES 15% 20% 35% 18% 12%

DOCENTES 10% 24% 34% 29% 3%

TÉCNICOS 11% 17% 11% 33% 28%

Fonte: elaborado pelos autores

Foi questionado aos discentes se eles consideram eficiente o uso dos aparelhos de ar

condicionado no campus. 35% responderam que algumas vezes é eficiente, porém, para 15%

deles nunca é eficiente e para 20% raramente é eficiente. Essas respostas podem ser derivadas

das situações nas quais os aparelhos são mantidos em temperaturas muito baixas, até mesmo

superiores ao necessário para opinião de alguns, bem como em alguns momentos são

esquecidos ligados ou mantidos ligados em ambientes com portas ou janelas abertas.

Para os docentes o padrão de respostas acabou sendo bastante condizente com o que

foi exposto pelos alunos, de modo que cerca de 70% de ambos discordam da eficiência no uso

dos aparelhos de ar condicionado.

Os técnicos percebem a situação de modo mais otimista, pois para 28% dos

entrevistados os aparelhos são sempre utilizados de modo eficiente e para 33% na maior parte

das vezes, compondo mais de 60%. Por outro lado, 11% dos técnicos acham que nunca é

eficiente e 17% raramente e 11% algumas vezes, perfazendo 39% dos entrevistados que

corroboram com a opinião dos docentes e discentes.

4.3 Resíduos Perigosos

Na pesquisa, apesar do conhecimento prévio dos procedimentos da UFPR quanto ao

recolhimento dos resíduos perigosos em todos os seus campi, buscou-se averiguar se essas

informações estavam amplamente disponíveis para aqueles que desejam fazer o descarte

corretamente. Sendo assim, foi perguntado se no campus litoral há informações para a

destinação correta de resíduos perigosos como pilhas e baterias.

Tabela 4: Informações para a disposição de resíduos perigosos

Nunca Raramente Algumas

vezes

Na maior

parte das

vezes

Sempre

DISCENTES 93% 7%

DOCENTES 34% 39% 24% 2%

TÉCNICOS 53% 47%

RU 80% 20%

LABORATÓRIOS 50% 50%

Fonte: elaborado pelos autores

Apenas 2% dos docentes consideram que “na maior parte das vezes” há informações

suficientes, 24% disseram que “algumas vezes”, 39% “raramente” e 34% “nunca”.

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Os alunos corroboram da mesma posição ao afirmarem, em 93% dos casos que essas

informações não estão disponíveis.

Para aqueles que trabalham na área técnica as opiniões estão bem divididas, pois 47%

responderam que as informações estão disponíveis e 53% não percebem essas informações.

No RU 80% dos entrevistados afirmaram que essas informações nunca estão

disponíveis e 20% afirmou que sempre estão disponíveis, duas posições bem antagônicas, tal

qual os técnicos.

Nos laboratórios as respostas foram mais homogêneas. 50% responderam que essas

informações estão disponíveis na maioria das vezes e para 50% estão sempre disponíveis.

A partir das respostas apresentadas foi possível entender que os funcionários dos

laboratórios estão mais bem informados a respeito da disposição dos resíduos perigosos, visto

que são eles os responsáveis por fazerem essa segregação no campus. Todavia, percebe-se que

a informação não está chegando até comunidade acadêmica, pois há dúvidas quantos às

possibilidades de descarte para os resíduos perigosos.

4.4 Resíduos Sólidos Recicláveis

Essa questão procurou identificar o quanto os respondentes têm informação a respeito

do que é feito com os resíduos sólidos recicláveis quando segregados no campus. Essa

questão não foi feita aos discentes, pois foi considerada uma informação pertinente àqueles

que exercem algum tipo efetivo de trabalho em espaço físico permanente gerador de resíduos

recicláveis.

Tabela 5: Resíduos sólidos recicláveis

Deixados à

disposição

de catadores

Entregues a

catadores

mediante

contrato

Enviados

para UFPR

Curitiba

Outro local

DOCENTES 39% 10% 10% 41%

TÉCNICOS 36% 16% 13% 35%

RU 100%

LABORATÓRIOS 100%

Fonte: elaborado pelos autores

Nos laboratórios a resposta foi correspondente com a realidade observada no

atendimento à legislação vigente. Os respondentes afirmaram que em 100% dos casos os

resíduos sólidos recicláveis são entregues à catadores mediante contrato.

Os docentes pareceram menos informados a esse respeito, pois somente 10% acertou o

que de fato ocorre no campi que é o envio dos resíduos para os catadores mediante contrato,

conforme determina a legislação

Os funcionários da área técnica também demonstraram desconhecer as exigências da

legislação quanto à obrigatoriedade de entrega dos resíduos recicláveis a catadores

conveniados com a instituição. Os resíduos gerados pelo RU não fazem parte do contrato

fixado pela universidade, por isso não estão incluídos no contrato da UFPR com os catadores.

Os funcionários do restaurante universitário rotineiramente organizam os resíduos e os

colocam em frente ao estabelecimento para que catadores individuais os peguem. Contudo,

essa prática não impede que o caminhão de lixo comum leve esses recicláveis, afinal ficam na

rua e são levados por quem chegar primeiro.

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4.5 Resíduos produzidos no local de trabalho

Esse questionamento buscou descobrir ações individuais para separar os resíduos

produzidos no local de trabalho. Novamente os discentes não foram abordados, visto que não

estão nas condições de trabalhadores. O primeiro aspecto observado foi o fato de que tanto

nas salas de aula quanto nos gabinetes de trabalho ou em outras áreas administrativas não

existem dois depósitos diferenciados, um para resíduo orgânico e outro para reciclável.

Mesmo assim buscou-se levantar as atitudes dos respondentes a esse respeito.

Tabela 6: Separação dos resíduos produzidos no local de trabalho

Nunca Raramente Algumas

vezes

Na maior

parte das

vezes

Sempre

DOCENTES 18% 18% 6% 29% 29%

TÉCNICOS 38% 4% 24% 10% 24%

RU 100%

LABORATÓRIOS 50% 50%

Fonte: elaborado pelos autores

Sobre os resíduos gerados durante o trabalho, 29% dos docentes responderam que

sempre separam os resíduos, outros 29% responderam que separam na maior parte das vezes,

porém permanece a dúvida para saber de que forma essa separação acontece já que não

existem lixeiras específicas para essa separação. Uma possibilidades seria levarem para a as

suas casas ou depositar os resíduos orgânicos no lixo dos banheiros, condição essa que pode

ser aprofundada em um próximo estudo.

As respostas dos técnicos ficaram um pouco menos otimistas do que as respostas dos

docentes, tendo em vista que 38% afirmaram nunca fazer essa separação e 4% raramente. No

entanto, 24 % deles afirmaram que sempre fazem a separação, e 24% algumas vezes. Talvez

se houvessem mais locais adequados para essa disposição as respostas teriam sido mais

otimistas.

Nos laboratórios 50% responderam que na maior parte das vezes e 50% que sempre

separa. Condição que se fortalece devido aos elementos perigosos e controlados que devem

ser obrigatoriamente segregados nos laboratórios.

No restaurante universitário existem lixeiras específicas para orgânicos e recicláveis,

de modo que os clientes já depositam adequadamente os resíduos de suas refeições,

facilitando assim a disposição final. 100% dos respondentes afirmaram que sempre separam

os resíduos produzidos no restaurante universitário. Condição que fortalece a hipótese de

disponibilização adequada dos depósitos para que cada usuário possa fazer a adequada

disposição dos resíduos por ele produzido durante o trabalho.

5. Considerações finais

O campus litoral, como um dos campi da UFPR, formalmente atende aos requisitos

legais do decreto 5.940/2006, bem como à Lei 12.305/2010. No entanto as suas ações não são

divulgadas na comunidade acadêmica, que muitas vezes acaba não se sentindo responsável

pela gestão ambiental. Com exceção dos funcionários dos laboratórios que se mostraram mais

comprometido, pois esses têm sido os responsáveis pela separação de resíduos, incluindo os

contaminantes, específicos dos laboratórios. Os discentes se mostraram menos envolvidos,

afinal não passarão a vida toda na universidade e esse problema não parece ser deles de fato,

pois não são funcionários da UFPR. Para os docentes e técnicos foi possível perceber que eles

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não conhecem uma diretriz norteadora da gestão ambiental no campus. Sabem pouco a esse

respeito, tudo vem do aprendizado tácito, de como sempre vem sendo feito desde que

chegaram ao campus. Para os aparelhos de ar condicionado a preocupação é se garantem o

frescor necessário para as aulas e também em seus gabinetes, quando os docentes. Os técnicos

algumas vezes não tem ar condicionado em suas salas, mas gostariam muito de tê-los, pois no

litoral faz muito calor. Mas pouco se ouviu a respeito do ar puro do litoral deixado de respirar

quando se faz uso desse meio de ventilação, ou então do consumo energético derivado dele.

Após a coleta e análise dos dados foi possível sugerir algumas ações para a gestão

ambiental no campus litoral da UFPR. Partindo do estabelecimento de uma política ambiental

que traduza a efetiva relevância do tema e o comprometimento da direção. Geralmente essa é

uma das primeiras ações para as organizações que pretendem estruturar um Sistema de Gestão

Ambiental, formalizando as diretrizes estratégicas para o meio ambiente. A implantação de

um Sistema de Gestão Ambiental como iniciativa voluntária pode ser um caminho para que a

gestão ambiental abranja os requisitos necessários para estender as ações além do controle

obrigatório exigido pela legislação, pode ter por fundamento as normas ISO 14000 ou a A3P.

Equipes multidisciplinares com o apoio da DGA e da Direção do campus podem ser

responsáveis por essa proposta. A publicação em editais e informativos on line pode ser um

instrumento efetivo para divulgar locais para disposição de resíduos sólidos recicláveis e não

recicláveis, bem como os perigosos. Ademais, se faz imperativa a conscientização da

comunidade acadêmica para a minimização da geração de resíduos e economia de recursos

energéticos, água e papel.

As universidades são representações sociais que contribuem para a transformação dos

indivíduos mediante o ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse tripé se espera que o conceito de

desenvolvimento sustentável seja elencado nas disciplinas, mesmo que seja de modo

transversal. Além disso, essas instituições são modelos de organizações para aqueles que ali

trabalham por muitos anos e também para aqueles que passam alguns anos estudando. Nesse

contexto, além de ensinar e levar à comunidade as melhores práticas de gestão ambiental,

essas podem estar presentes no dia a dia dessas organizações, indo além do que se exige em

nome da lei, do coercitivo e obrigatório, para o estratégico e sustentável em longo prazo. Para

tanto, as diretrizes precisam ser claras, a comunidade acadêmica precisa compreender o seu

papel nesse processo, ou seja, minimizar os recursos utilizados, minimizar os rejeitos

produzidos e promover a reciclagem e reutilização daqueles que foram gerados.

Esse compromisso pode estar imbricado na missão das instituições de ensino, pois os

profissionais formados irão transferir esse conhecimento após saírem da universidade e essa

pode ser uma importante ferramenta de transformação. “Para que isso aconteça, entretanto,

torna-se indispensável que essas organizações comecem a incorporar os princípios e práticas

da sustentabilidade” (Tauchen & Brandli, 2006, p.1).

Como sugestão para pesquisas futuras pode ser aplicado um diagnóstico semelhante

nos demais campi da UFPR, para entender a realidade da instituição com um todo e assim

propor alternativas que possam ser compartilhadas em toda a Universidade.

6. Referências

BRASIL. Decreto no. 5940, de 25 de outubro de 2006. Diário oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF.

BRASIL. Lei no.

12035, de 02 de agosto de 2010. Diário oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília, DF.

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