afrodescendentes da colônia de três forquilhas

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  • 8/9/2019 Afrodescendentes da Colnia de Trs Forquilhas

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    Afro-descendentes da Colnia Alem Protestante de TrsForquilhas

    Elio E. MllerResumo

    Elio E. Muller analisa neste artigo a participao de aproximadamente 60 afro-descendentes na comunidade luterana de Trs Forquilhas (litoral norte do RioGrande do Sul) durante o perodo que compreende o final do sculo XIX e incio dosculo XX. Suas fontes de pesquisa foram o Livro do Registro Eclesistico, mantidopelo ento pastor Carl Leopold Voges, e depoimentos colhidos de pessoas idosas dalocalidade, quando de seu pastorado naquela localidade, nos anos 70. Ele constataque tanto o pastor como vrios outros colonos da poca possuam escravos. Realaa histria, o papel e a influncia desempenhados na comunidade pela escravaMaria, da nao Nag, finalizando com um breve ensaio de uma pastoral para afro-descendentes, como realizada na poca pelo trabalho integrativo do pastor ErnstTheodor Lechler, a partir de 1899.ResumenElio E. Mller analiza en este artculo la participacin de aprximadamente sesentaAfro-descendientes en la comunidad luterana de Trs Forquilhas (litoral norte deRio Grande del Sur) durante el perido que comprende el final del siglo XIX y losinicios del XX. Sus fuentes de investigacin fueron el Libro de Registro Eclesistico,llevado por el entonces pastor Carl Leopold Voges, y testimonios recogidos depersonas ancianas de la localidad, en la poca de su pastorado durante los aossetenta. El comprueba que tanto el pastor, as como otros varios colonos de lapoca posean esclavos. Realza la historia, el papel y la influencia desempeada enla comunidad por la esclava Maria, de la nacin Nag, finalizando con un breveensayo de una pastoral para afro-descendientes, como la realizada en la pocamediante el trabajo integrativo del pastor Ernst Theodor Lechler, a partir de 1899.Abstractlio E. Mller analyzes in this article the participation of approximately 60 afrodescendants in the Lutheran congregation of Trs Forquilhas (northern coastalregion of Rio Grande do Sul) during the period that includes the end of the 19thcentury and the beginning of the 20th century. His research sources were the Bookof Church Records kept up by the pastor at that time, Carl Leopold Voges, andstatements made by the elderly people of that locality when he was the pastor inthat place in the seventies. He affirms that the pastor as well as several othercolonists of that period owned slaves. He emphasizes the history, the role and theinfluence of the slave Maria, of the Nag nation, on the community. He ends with abrief essay on the ministry with afro descendants, as was carried out in that period

    through the integrative work of pastor Ernst Theodor Lechler, as of 1899.

    Ao final do sculo XIX, a Comunidade da Colnia Alem Protestante de TrsForquilhas contava com um significativo nmero de integrantes afro-descendentes,que se diziam evanglicos. Uma riqueza desperdiada ainda na primeira metade dosculo XX.1 - A presena de afro-descendentes na Colnia de Trs Forquilhas

    No ano de 1888, por ocasio da abolio da escravatura no Brasil, existiam,na Colnia Alem Protestante de Trs Forquilhas, em torno de 250 afro-descendentes (FHO n 01).

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    Queremos ajudar os leitores a localizar essa Colnia, que fora formada em1826. Ela se situava na rea conhecida como Litoral Norte do Rio Grande do Sul.

    A partir de 1970, quando comecei a exercer o cargo de pastor naComunidade Evanglica desta antiga Colnia de Trs Forquilhas, passei aentrevistar pessoas idosas que designei por Fonte da Histria Oral (= FHO). Estasigla, portanto, ir aparecer neste trabalho, para indicar os diferentes depoimentoscolhidos e que interessam para esta pesquisa.

    A Fonte da Histria Oral era bastante confivel. Alm disso, pudemosconfront-la com as fontes primrias disponveis. Dessa forma, com seguranavalidamos a estimativa que fala em 250 afro-descendentes. Verificamos que quaseum quarto deles eram considerados protestantes (evanglico-luteranos). Muitosdeles constam do Livro do Registro Eclesistico, mantido pelo pastor Carl LeopoldVoges.

    O Livro do Registro de Batismos tornou-se, dessa forma, a fonte maisimportante de nossa pesquisa, uma vez que permite que possamos conhecerdetalhes interessantes, como por exemplo, a poca da entrada dos primeirosescravos, o nome dos donos de escravos (colonos, membros da ComunidadeEvanglica), bem como o nascimento de filhos de escravas evanglicas, batizadospelo pastor Voges.

    Com base no Registro Eclesistico, verifica-se que o primeiro dono deescravos na Comunidade Evanglica fora o prprio pastor Voges. Existe oassentamento de que, no dia 18 de janeiro de 1848, ele batizara o menino Anton,nascido em 18 de novembro de 1847, filho de Maria, da Nao Nag, escrava dopastor Carl Leopold Voges, constando como padrinhos Magdalena Eigenbrodt eCatharina Jacoby.2 - Os escravos do Pastor Carl Leopold Voges

    Conforme a tradio oral (FHO n 01), a compra de escravos por parte depastor Voges tivera a seguinte motivao: ao trmino da Revoluo Farroupilha, opastor Voges, vendo que a construo que servia como igreja e escola estavadecaindo, props que se fizesse uma nova igreja, mais slida, de pedra. Ele viajaramuitas vezes at a Vila de Torres e assim pudera observar que os catlicos daColnia So Pedro tambm estavam com plano idntico. Ele no desejava ficar paratrs.

    Os colonos protestantes receberam o plano com satisfao. Porm, ningum

    se dispunha a assumir o trabalho de talhar pedras. Diziam que uma tal tarefa spoderia ser destinada a condenados ou escravos. O fato que diversos dessesimigrantes haviam sado das prises de Mecklemburgo e Rostock. Talvez osmesmos at tivessem sido forados a quebrar pedras e fazer outros trabalhospesados. Essa indisposio da parte dos colonos evanglicos levaria o pastor Vogesa buscar uma soluo particular. Na primeira viagem a Porto Alegre, ele seguiu ato mercado de escravos. Procurou por negros que conhecessem bem o trabalho detalhar pedras de construo. Foi atendido. Adquiriu ento um casal de escravos,sendo o homem, o mestre canteiro que passou a ser conhecido como Pai Vicente.Conseguiu ainda dois negros libertos, para ajudar o mestre canteiro.

    Mais tarde, os afro-descendentes evanglicos haveriam de afirmar que

    coubera para eles o trabalho mais importante e mais pesado e que permitira aconstruo da sonhada igreja de pedra.

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    Na oportunidade em que pastor Voges comprara os escravos, fora-lheoferecida uma jovem mulher africana, recm chegada ao Brasil. O pastor decidiraadquiri-la com o propsito de aliviar a pesada carga de tarefas que repousava sobrea sua esposa, Elisabetha. Ela, alm de me de crianas ainda pequenas e docuidado pelas lides domsticas, tambm lecionava na escola da Igreja, mantidapelo pastor. Dessa forma, em 1847, entraria na casa pastoral a jovem Maria, da

    nao nag, conforme se verifica pelo Registro Eclesistico. Me Maria seria umapoliglota pois passou a falar alm da lngua africana materna, tambm a lnguaalem e o portugus.

    3 - Outros colonos evanglicos donos de escravosNa verdade, os imigrantes estavam proibidos de ter escravos em suas

    propriedades. Na Colnia Alem Protestante de Trs Forquilhas, a lei, no entanto,seria burlada. Outros colonos, constatando o procedimento de pastor Voges,tambm quiseram contar com tal mo-de-obra nos engenhos que estavaminstalando naquela poca, logo aps o trmino da Revoluo Farroupilha.

    Convm esclarecer que os primeiros escravos na regio onde estava inseridaa Colnia de Trs Forquilhas no eram os que pastor Voges adquirira. Esses apenashaviam sido os primeiros pertencentes a um imigrante alemo e evanglico. Emtorno da Colnia Alem, estavam estabelecidos sesmeiros lusos e aorianos,chegados j antes da vinda dos imigrantes alemes. Esses sesmeiros, em seusengenhos de cana de acar, trabalhavam com o brao de dezenas de escravos.

    Um destes donos de engenho era extremante com as terras da ColniaAlem. Ele viria a propiciar inesperadamente um comrcio clandestino de escravosna regio. Conforme a tradio oral (FHO n 03), tratava-se de Serafim da SilveiraMarques que, j antes da instalao da Colnia Alem (1826), recebera dasautoridades do Imprio uma Sesmaria conhecida como Sesmaria de TrsPinheiros, contando com mais de 30 mi lhes de metros quadrados de terra. Asesmaria extremava, ao norte, com as terras do colono Johann Nicolaus Mittmann(na rea hoje conhecida como Linha Mittmann). Silveira Marques no vieraocupar suas terras antes pelo fato de ter recebido outra rea ainda maior nafronteira do Sacramento, como paga por servios prestados na defesa do territrio.Ele devia ser um capito das foras imperiais brasileiras, homem de muitas posses,com 18 filhos j adultos e dono de mais de 50 escravos. Ao tomar conhecimento dainstalao dos colonos no Vale do Rio Trs Forquilhas, no extremo norte de suaSesmaria, ele decidira tomar posse da propriedade. Apenas esperou pelo trminoda Revoluo Farroupilha, quando entrou em Trs Pinheiros. Porm, constatou que

    a terra j estava ocupada. Estavam ali estabelecidos ndios com malocas epequenas lavouras. Estes ndios, alguns deles j aculturados, teriam ajudado osimigrantes alemes, em 1826, a construir os primeiros ranchos (malocas) para oincio da Colnia.

    Silveira Marques decidira pela expulso dos ndios. O cacique, porm, teriaresistido, afirmando que aquela terra era dos ndios e no dos brancos. SilveiraMarques trucidou o velho cacique e alguns ndios. O filho mais velho do cacique,no vendo outra alternativa, fugiu com os sobreviventes, indo para um lugardesabitado, no interior de Lagoa Vermelha. Passo seguinte, Silveira Marquesenfrentaria nativos (pees lusos) que haviam se estabelecido na subida dos morros, margem da trilha que leva a Potreiro Velho (rumo ao interior de So Francisco de

    Paula). Ocorreu um combate sangrento, com a morte de inmeros pees serranos.Os derrotados no se conformaram. Apelaram para as autoridades da Comarca de

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    Santo Antnio da Patrulha, qual todos pertenciam. Na poca, existiam poucosmunicpios em todo o Rio Grande do Sul.

    Um fato que chama a ateno que a morte dos ndios no tivera nenhumarepercusso. Mat-los no era crime. Entretanto as mortes dos pees lusoslevariam Silveira Marques perante o tribunal. Seria condenado priso. Nessaoportunidade, que teriam sido colocados venda os escravos desse sesmeiroluso. Na inteno de comprar a liberdade, ele se dispusera a vender todos osescravos a qualquer preo e at na clandestinidade. Seriam exatamente o baixopreo e a clandestinidade do negcio que levariam os colonos alemes a entrar nasnegociaes. Conforme o Registro Eclesistico, os imigrantes alemes JohannNicolaus Mittmann, Carl Kellermann e Johann Hoffmann passariam a ser donos deescravos.

    MAPA: MULHERES NEGRAS (ESCRAVAS)da Colnia Alem Protestante de Trs Forquilhas(Fonte: Livro do Registro de Batismos)Nome da escrava Vinda Dono da escrava01 Maria, da nao nag 1847 Pastor Carl Leopold Voges02 Maria Preta 1848 Carl Kellermann03 Negra Ritha 1850 Johann Nicolaus Mittmann04 Negra Anna 1856 Sem meno de dono05 Negra Juvncia

    1859

    Francisco de Paula Feij

    06 Negra Delfina 1860 Carl Jacoby07 Preta Maria 1863 Viva Anna Maria Hoffmann08 Negra Luisa 1865 Mathias Grassmann09 Negra Eva 1866 Peter Paul Knig10 Eva Santa 1866 Sem meno de dono11 Negra Maria Luisa 1867 Mathias Grassmann12 Negra Rosalia

    1884

    Nicolaus Grassmann

    13 Negra Joaquina 1886 Peter Paul Knig14 Preta Maria Azevedo 1886 Sem meno de dono

    A tradio oral (FHO n 03), porm, insistiu que outros colonos tambmteriam adquirido escravos. Os nomes apenas no chegaram a constar do RegistroEclesistico, pelo fato de terem comprado apenas homens, de modos que estes notiveram crianas para batizar.Os imigrantes alemes donos de escravos teriam, na poca, optado pela construo

    de engenhos de cana para atuar na produo de rapadura, cachaa e acarmascavo.

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    Teria sido por volta de 1847 o incio de um processo de miscigenao na ColniaAlem de Trs Forquilhas, por causa da presena de ndios, lusos, aorianos e afro-descendentes. Os livros do Registro Eclesistico comprovam a miscigenao.Quarenta anos mais tarde, por ocasio da abolio da escravatura, a Colnia japresentaria uma nova caracterstica. Tornara-se uma sociedade pluritnica epluricultural.4 - A histria de Maria, da nao nagConta a tradio oral (FHO n 01), que o Ptio do Engenho do pastor Vogespassara a ser o local de reunies, escolhido por Maria, da nao nag, quando eladecidira orientar os afro-descendentes da Colnia. Esse Ptio do Engenho situava-se a aproximadamente 15 metros da igreja, nos fundos da casa do pastor Voges. Optio era protegido por um pequeno taquaral e um centenrio e frondoso cedrovermelho, sob cuja sombra Maria falava com os seus descendentes e vizinhosnegros. Por volta de 1860, ela solicitara autorizao para ensinar seus filhos, osfilhos de outras escravas da vizinhana e at mesmo mulheres e homens adultos.

    Maria nascera na frica por volta de 1825 e fora trazida ao Brasil em 1846,ocasio em que o pastor Voges a adquirira. Os primeiros anos haviam sido voltados adaptao casa do pastor. Ela tivera que freqentar as aulas de DonaElisabetha para ser alfabetizada e para aprender a lngua alem. O motivo principalteria sido a simples necessidade de permitir uma melhor comunicao dos donoscom ela.

    Maria teria, desde a chegada, a absoluta confiana de Dona Elisabetha.Igualmente os negros da Colnia passariam a t-la como sua lder. Os afro-descendentes passariam a cham-la de Me Maria, em sinal de submisso erespeito.

    Ouvindo tal relato imaginamos Me Maria, por volta de 1860, com 15 anosde vida no Brasil, comeando a observar as diferenas entre o seu povo de origeme essa gente da Colnia Alem.

    Simone de Beauvoir, no livro Segundo sexo(1949), afirma: No se nascemulher, torna-se mulher. Algo assim deve ter acontecido com Me Maria. Nafrica, ela no tivera conscincia de sua negritude. Ela fora apenas uma mulher, nanao nag, em meio a tantas outras tribos ou naes africanas.

    Essa conscincia de sua negritude certamente s aflorara aos poucos. Em1860, parece que ela se tornava uma negra consciente de sua condio africana,

    interessada na sua prpria histria, lngua e costumes. Ela desejava ensinar essasrazes e esses costumes dos ancestrais aos seus filhos e a outras negras.Nas reunies, ela no contava apenas histrias. Ela fazia questo de cantar

    e de ensinar passos de dana, do costume nag. No princpio, o pastor Voges, aesposa, os filhos e netos, e alguns vizinhos, teriam ido ver e ouvir, comcuriosidade, o que ali se fazia. Porm, logo tudo cara numa rotina, como se tudopassasse a fazer parte da vida normal dos fins de semana, sem mais despertar umaateno maior.

    Os afro-descendentes reuniram-se com certa regularidade no Ptio doEngenho, sob a liderana de Me Maria, at que sobreveio a Revoluo

    Federalista, que afetaria a vida de toda a populao. Tudo acabaria de repente.

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    Na mesma poca da Revoluo, uma terrvel epidemia se abateu sobre aColnia de Trs Forquilhas. Pastor Voges seria vitimado pelo mal em 1893 e DonaElisabetha e Me Maria em 1894. Inmeros outros afro-descendentes e familiaresde colonos de origem alem tambm pereceram.5 - A influncia de Me Maria

    Me Maria deixara marcante influncia na casa do pastor, na vida dos filhos,netos e bisnetos do pastor e nos negros da Colnia. Nem fora tanto assim pelasreunies no Ptio do Engenho. Mais decisiva teria sido o servio que ela prestaradentro da casa pastoral e nas festas da Igreja.

    Me Maria distinguira-se como cozinheira e doceira. Alm do trivial exigidopela patroa, ela preparava, em dias especiais, manjares e iguarias jamais vistos.Lamentavelmente no existem receitas anotadas. A tradio oral (FHO n 01)apenas soube informar sobre alguns dos ingredientes usados por Me Maria nasdiferentes receitas. Ela utilizava mel e leite de vaca, leite de milho verde, frutassilvestres, acar mascavo. Ou ento utilizava o fub para fazer guloseimas.Tambm com aipim raspado e outros ingredientes ela preparava uma gostosacomida. Tudo era disputado no s pelas crianas, mas at pelos adultos. MeMaria tambm sabia preparar afrodisacos, alguns tendo na composio ervas docampo, outros mel ou ovos de pssaro. Quem teria feito uso desses afrodisacos? Opastor e esposa?

    Diante dos afro-descendentes, Me Maria passaria a ser uma espcie decurandeira e sacerdotisa. Ela receitava chs e xaropes que ela mesma preparava,feitos de folhas, ervas ou razes de plantas medicinais. Fazia rezas e tratava a todosos doentes e carentes com muito amor.

    Na casa do pastor e na igreja, porm, ela se declarava como sendo umamulher evanglica, com f em Cristo. Muitas vezes, ela teria expressado o desejode ver um filho ou outros descendentes dela, preparando-se para ser pastor, eseguir os passos do velho Voges.6 - A descendncia de Me Maria na Igreja Evanglica Luterana

    Me Maria teve cinco filhos, conforme o Registro Eclesistico:

    Anton (18.11.1847), Johannes Heinrich (20.02.1850), Rosria (28.09.1852),Manoel (21.10.1854), Amlia (20.09.1855).

    Rosria seria a sucessora de Me Maria depois de 1894. Casada com NegroVicente, ela daria os seguintes netos para Me Maria: Ritha (09.08.1869), Luciano(14.09.1871), Carlina ou Candinha (1872).

    Candinha seria a sucessora de Rosria. Casada com o liberto Joo Moreira,ela daria os seguintes bisnetos para Me Maria: Arthur (07.06.1889), Maria Antonia(30.07.1890).

    Maria Antonia, j na casa do Coronel Carlos Frederico Voges Sobrinho (netodo pastor), daria as seguintes trinetas para Me Maria: Osvaldina e Olga.

    Osvaldina daria para Me Maria os seguintes tetranetos: Benoni e Sadi.

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    Sadi Moreira ingressaria na Faculdade de Teologia da IECLB em 1969. Porfora das circunstncias, em uma poca ainda por demais germanista, de umaIgreja incapaz de aceitar um pastor de origem negra, ele seria aconselhado atornar-se dicono. Atualmente ele atua em Panambi-RS.7 - Um breve ensaio de uma pastoral para afro-descendentes

    Em 1899, a Comunidade Evanglica de Trs Forquilhas passaria a contarcom o trabalho do pastor Ernst Theodor Lechler. Ele se revelaria um ministroeclesistico com uma viso extraordinria, ao decidir dar aos afro-descendentesuma ateno privilegiada, reconhecendo a grande riqueza que os mesmosrepresentavam para a Igreja.

    Organizou um coral integrado exclusivamente por afro-descendentes epassou a realizar cultos especiais para a populao negra da Colnia de TrsForquilhas, bastante numerosa.

    A tradio oral informa (FHO n 02) que o templo tornava-se pequenoquando se realizavam os cultos para negros. Eram centenas de homens, mulherese crianas que acorriam muito mais para ver os irmos e amigos cantando no coral,do que para ouvir o pastor.

    Interessante o relato sobre os ensaios do coral. Os cnticos eram tanto emlngua alem como em portugus. Uma vez que a maioria dos afro-descendentesno dominava a lngua alem, o pastor apenas ensaiava cnones ou estribilhos emlngua alem. O peso maior teria sido para cnticos em portugus.

    Um dia desses, em meio a um ensaio de rotina, o pastor teria constatadoque algum estava destoando. Passando bem devagar pelas fileiras de cantores e

    aguando o ouvido, teria localizado aquele que estivera totalmente fora do tom. Aoinvs de cantar O lasset uns anbeten (em portugus, seria vinde e adoremosHPD n 17), ele teria cantado O lao de So Pedro.

    O Pastor Lechler transferiu-se para a cidade de Santa Cruz do Sul em 1907.Seu sucessor simplesmente teria abolido esse trabalho dedicado aos afro-descendentes.8 - Fontes da Histria Oral (FHO)

    FHO n 01 Alberto Schmitt, nascido em 1886, e que, em seu tempo deinfncia, conheceu o pastor Voges, Dona Elisabetha e Me Maria. Depois seria

    escrivo distrital na Colnia, de 1923 at 1953.FHO n 02 Eugenio Bobsin, nascido em 1911, e que guardou na memriaas histrias que seu av Christian Eberhardt contava. Eugenio seria Presidente daComunidade por muitos anos e subprefeito de Itati.

    FHO n 03 Balduino Mittmann, nascido em 1912, e que guardara namemria importantes fatos e relatos dos antepassados sobre os primrdios daColnia de Trs Forquilhas.9 - Fontes bibliogrficas

    Livro do Registro de Batismos n 01, da Comunidade Evanglica de TrsForquilhas.

    MLLER, Elio E. Trs Forquilhas: 1826-1899. Curitiba : Fonte, 1992.MLLER, Elio E. Trs Forquilhas: 1900-1949. Curitiba : Italprint, 1993.