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AFRICANIDADE NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ATRAVÉS DE JOGOS DE
MANCALA: UMA INTERVENÇÃO NA FEIRA DAS CIÊNCIAS DO CAP-MACAÉ
LAURINDO, Gabriela Franklin1.
LOURENÇO, Júlio Omar da Silva2.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma proposta de aplicabilidade da Lei 10639/2003 nas aulas de
matemática, através dos jogos de Mancala – Kalah e Oware – no Colégio de Aplicação de
Macaé-RJ, durante a Feira das Ciências. Os métodos e técnicas utilizados foram a observação
e intervenção durante a oficina dos jogos de Mancala e levantamento bibliográfico. A pesquisa
buscou demonstrar que a matemática ensinada na rede de ensino no município de Macaé-RJ
ainda é ocorre sob aspectos enviesados, reproduzida para a manutenção do “status quo” de uma
elite colonial, mesmo diante da existência da Lei 10639/03. O objetivo de nossa pesquisa foi
oferecer novas possibilidades à prática docente pelo viés da Etnomatemática. Através dos
resultados obtidos, constatamos, que antes de nossa oficina, a maioria de nossos(as) alunos(as)
nunca tivera contato com qualquer jogo de origem africana, principalmente nas aulas de
matemática, e, que a maioria dos(as) professores(as) desconhecia as Leis 10639/2003 e
11645/2008. Sugerimos a inserção desses jogos nas aulas de matemática, inclusive nos anos
iniciais do ensino fundamental. Verificamos que tais jogos podem ocupar espaço significativo
no processo de ensino-aprendizagem por estimular o raciocínio-lógico na criação de estratégias
ganhadoras, além de representar elementos históricos e culturais africanos e da diáspora,
auxiliando, assim, no processo de formação identitária de crianças e jovens e no resgate de
valores da tradição e memória africanas.
Palavras-chave: Educação Antiracista; Educação Matemática; Mancala.
1. INTRODUÇÃO
1 Gabriela Franklin Laurindo nasceu em 1983, em Cabo Frio/RJ, onde cursou licenciatura plena em Matemática pela
Ferlagos (2008). Pesquisa sobre as relações étnico-raciais na educação e temas transversais. Atualmente mora e trabalha
Macaé/RJ. Ex-coordenadora estadual do Fórum de Juventude Negra do Rio de Janeiro (2009 – 2013) Professora regente
(SEEDUC/RJ, desde 2010 e SEMAEB – Macaé, desde 2011) e ativista-fundadora do Movimento Voluntário Cultural de
Macaé. http://lattes.cnpq.br/9484785018947424 2 Júlio Omar da Silva Lourenço nasceu em Duque de Caxias em 1968, Cursou Administração de Empresas na
Unigranrio (1993) e Matemática Universidade Castelo Branco (2004). Pesquisa sobre relações étnico-raciais na educação
básica e Currículo. Atualmente mora em Duque de Caxias e trabalha em Macaé/RJ. Militante do MNU, professor regente
(SEEDUC/RJ, desde 2004 e SEMAEB - Macaé, desde 2004). http://lattes.cnpq.br/5123791645640632
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Observando a realidade de nossos(as) alunos(as), vemos que não são contemplados na
forma da lei 10639/2003, mesmo tendo esta completado 15 anos. Neste cenário, propomos uma
reflexão acerca do que se transformou ensinar matemática, se não levarmos em consideração
quem são nossos(as) alunos(as), o que anseiam e o que a escola (e o currículo) desejam para
eles(as). Neste sentido, indica Ubiratan D'Ambrósio (1993, pp 14-5), "Vê-se, em muitos países
e de maneira muito clara, que a matemática tem sido utilizada como selecionador social, como
filtro para seleção de elementos úteis à estrutura de poder”. Faz-se necessário, então, que os(as)
professores(as) de matemática abandonem o raciocínio cartesiano, eurocentrado, colonial, de
dominação e complexo da disciplina em detrimento de formas mais lúdicas, humanas, num
pensamento outro de ensinar a fim de quebrar o paradigma do fracasso escolar.
Embora o COC (caderno de orientações curriculares de Macaé - 2012) utilize-se dos
PCN’s de matemática, do LEM e dos PCN's temas transversais, não contempla a lei 10639/03
ou abre precedentes para a utilização de uma etnomatemática que possibilite aos(as) discentes
o contato com o que determina esta lei.
Propomos aqui a utilização de jogos da família Mancala (ou Mankala), como
possibilidade de aplicação da Lei 10639/03 nas aulas de matemática, a fim de desconstruir o
currículo hegemônico e reduzir o abismo entre a Matemática e a vida cotidiana de nossos(as)
discentes, propondo um pensamento interdisciplinar e intercultural a fim de minimizar as
diferenças preconceituosas em prol de uma educação antirracista.
2. METODOLOGIA
O referencial teórico se fundamenta nas discussões da Etnomatemática, Pedagogia e
Currículo Deocoloniais. A intervenção ocorreu no CAp-Macaé (Colégio de Aplicação de
Macaé-RJ), na Sala da Matemática Interativa, durante a FECIMAC-2018 (Feira das Ciências
de Macaé)– primeira etapa – nos dias 19 e 20 de junho deste ano. Dentre os jogos e atividades
que haviam na sala, a oficina de jogos de Mancala – Kalah e Oware. O tema da Fecimac-2018
foi “Ciência para a redução das desigualdades”.
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Figura 1: Banner exposto sobre a Sala da Matemática Interativa
A sala, formada por um grupo de alunos(as) do segundo ano do ensino médio do CAp-
Macaé orientados(as) pela professora de matemática, foi uma demonstração de como se pode,
simplificar as aulas de matemática com o objetivo de amenizar o medo ou ódio pela
matemática. Este grupo inspirou-se no Laboratório de Ensino de Geometria da Universidade
Federal Fluminense, coordenado pela professora doutora Ana Maria Martensen Roland Kaleff.
Utilizaram-se de Tangram, Dominó Geométrico, Aparelhos Modeladores de Poliedros
Regulares, Poliedros feitos de varetas de bambu, Geoplano, Ciclo Trigonométrico, os Sólidos
Geométricos feitos em acrílico e da oficina de jogos de Mancala – Kalah e Oware.
Figura 2: Alguns do jogos e atividades usados na Sala da
Matemática Interativa
Figura 3: Jogos de Mancala - Oware e Kalah - na Sala
da Matemática Interativa
3. DISCUSSÃO
3.1. O ENSINO DE MATEMÁTICA NA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE
MACAÉ
3.1.1. O COC-MACAÉ (CADERNO DE ORIENTAÇÕES CURRICULARES)
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Em Macaé, toda a rede municipal de educação, tem o caderno de orientações curriculares
(COC-Macaé, 2012) que, junto a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), norteia
tanto o conteúdo quanto a forma pela qual devemos pensar matemática em suas competências
e demandas.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto
orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de
aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação
(PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º
do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, e está orientado
pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica (DCN)2. (Base Nacional Comum Curricular, 2017, p.9)
E dentre outras competências mínimas, o COC de matemática aponta: resolver
problemas criando estratégias próprias de resolução; desenvolver a sensibilidade para as
relações da matemática com as atividades estéticas e lúdicas.
3.1.2. O LEM – LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
No ano de 2009, na rede municipal de educação de Macaé, buscando auxiliar a prática
docente na construção dos saberes matemáticos para a leitura de mundo, através da resolução
de problemas matemáticos, foi criado o projeto LEM (Laboratório De Educação Matemática),
a fim de que pela resolução de problemas os alunos pudessem “olhar, falar, tocar e escrever
matemática”, visando a melhor compreensão do mundo que os cerca e ao pensamento com
autonomia. As atividades sugeridas no LEM também oportunizam o trabalho com os temas
transversais, propostos pelos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), para serem
abordados nas diversas áreas do conhecimento que, em particular, são contemplados na matriz
filosófica da Proposta Pedagógica da rede municipal de Macaé de Ensino através das
“Dimensões Integradoras do Currículo”. Dessa forma, as interfaces da Matemática com as
outras áreas podem se efetivar através de projetos de abordagem multidisciplinar contemplando
as já referidas dimensões integradoras da matriz filosófica: o desafio ao preconceito; a ética no
cotidiano escolar; a abordagem de cunho tecnológico dos conteúdos; a valorização da pesquisa,
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da diversidade e da sustentabilidade, do patrimônio e da cultura do município e de outros locais.
Neste sentido, nos orienta:
A contribuição da escola se ressalta nesse processo, no sentido de que, em sua função social, vem
oportunizar aos alunos a compreensão das questões sociais, econômicas e culturais vinculadas à sociedade
em geral, como também as possíveis intervenções de cada um nessas questões, através das ações cotidianas
que, na maioria, requerem competências matemáticas. (Caderno de Orientações
Curriculares de Macaé, 2012, p. 83)
3.1.3. OS PCN’S (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS)
Outro ponto que norteia o COC são os PCN´S, ainda assim, voltados para os conteúdos,
métodos e avaliações mais adequadas à realidade de forma a conduzir a construção das
competências mínimas voltadas para resolução de problemas (procedimento mecânico que visa
às avaliações externas como Prova Brasil, por exemplo). No sentido contrário ao que nos indica
o COC, vemos o que nos vislumbra os PCN´S no que tange a matemática para educação básica:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais explicitam o papel da matemática no ensino fundamental pela
proposição de objetivos que evidenciem a importância de o aluno valorizá-la como instrumental para
compreender o mundo à sua volta e de vê-la como área de conhecimento que estimula o interesse, a
curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas.
(Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática. 1998. p.15)
No entanto, na realidade, a forma de pensar/ensinar matemática na rede municipal de
educação de Macaé foge a este discurso, pois no próprio COC-Macaé (2012) observamos que
“A contribuição da matemática para as outras áreas se fortalece pelo aprofundamento do
conhecimento sobre tais modelos, tendo como eixo a estratégia da resolução de situações-
problema, dando abordagens significativas aos conteúdos”. Os temas transversais, propostos
pelos PCN´S, que visam à ética, à diversidade e ao combate ao preconceito, segundo as
Dimensões Integradoras da Matriz Filosófica, ainda assim referem-se à resolução de problemas
e os conteúdos. Ou seja, a matemática que nos serve como referencial
pedagógico/metodológico, é uma matemática conteudista de uma educação bancária e
excludente, a qual não dialoga com as identidades plurais que se apresentam em nossas escolas.
Não obstante, Freire (1996) diz que “há uma forma matemática de estar no mundo e há
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necessidade de mostrar a naturalidade do exercício matemático nos movimentos matematizados
do dia-a-dia, despertando o espírito matemático que adormece em cada um”.
3.2. ETNOMATEMÁTICA, UMA PROPOSTA
Hoje se faz necessário pensar matemática de uma forma mais próxima às pessoas,
dialogando com os saberes e necessidades humanas, interagindo com o outro e respeitando seu
tempo e seu espaço. Nesta forma de pensar matemática, devemos buscar a desconstrução do
pensamento eurocentrado e cartesiano que, a escola ainda ensina, buscando reduzir o abismo
de uma matemática estanque e distante da vida cotidiana dos nossos(as) discentes. Devemos
também ter a preocupação de não folclorizar o conhecimento outro. Neste sentido, “o que está
em jogo é evitar o elogio ao exótico, ao diferente de nós, (...) a folclorização dos saberes
subalternos, e também o seu duplo, a "gueto-ização” (Knijnik, 2010).
Propomos uma etnomatemática, não no sentido de uma matemática de diversas etnias, mas
que centralize a África como berço da humanidade, assim nos fala Diop ( apub, Munanga,
2015), “É incômodo o fato de que quase a totalidade dos estudiosos contemporâneos parecer se
recusar a relacionar a Cultura africana com alguma origem antiga, com alguma civilização
antiga que fosse”. Ao mesmo tempo em que Munanga (2015) nos diz que " reconhecer que a
África é o ponto de partida para discutir a diáspora negra que na historiografia dos países
beneficiados pelo tráfico negreiro também foi ora negada, ora distorcida, ora falsificada."
Assim, buscamos uma etnomatemática que nos permita resgatar o legado de nossos(as)
ancestrais, enquanto povo descobridor/inventor da matemática, uma matemática que nos
conduza a formas de relações que propicie um espaço e uma educação matemática visando
preservar o pensamento outro, não eurocentrado e eliminar a desigualdade discriminatória,
dando origem a uma nova organização de sociedade plural, não divisora, excludente, que não
perpetue o status quo de uns, em detrimento do outro. Neste mesmo sentido, corrobora
Halmenschlager (2000), “um processo pedagógico que estabelece vínculo entre educação
matemática e a discussão de processos de exclusão e desprivilegiamento de grupos humanos
em função de raça ou etnia e a interseção dessas com a dinâmica de classe social” a fim de
erradicarmos as diferenças preconceituosas para uma educação antirracista.
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3.3. JOGOS DE MANCALA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Em relação à inserção de jogos no ensino da Matemática, Os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Matemática pontuam que estes:
[...] constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes
sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de
estratégias de resolução de problema e busca de soluções. Propiciam a simulação de
situações-problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o
planejamento das ações. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 46)
Mancala (ou Mankala) é uma família de jogos que, nas suas variadas e numerosas
formas (aproximadamente 200 tipos diferentes), ficou conhecida como “o jogo nacional da
África”. Em cada região o jogo tem seu próprio nome e seu próprio conjunto de regras, como
por exemplo: Oware, em Gana; Walu, Adji ou Adi e Ti, no Brasil; em Portugal, Ouri; no leste
e sul da África, Bao (que significa tabuleiro); nos Estados Unidos da América e Daomé, Adi;
na Costa do Marfim, Awalé ou Awélé; no Congo Kinshasa, N’Golo; na Nigéria, Ayo; na Argélia,
Kalah; em Cabo Verde, Uril, Ori, Oro, Ouri, Urim ou Oril (cada denominação coincide com
uma especificidade de cada ilha). A palavra Mancala origina-se do árabe naqaala, que significa
“mover” ou “transferir” e com o tempo, passou a ser usada pelos/as antropólogos/as para
designar uma série de jogos disputados num tabuleiro com várias concavidades e com o mesmo
princípio geral na distribuição das peças. A forma pela qual se realiza a distribuição está
intimamente associada à semeadura. O movimento das peças (em sentido anti-horário) também
revela sua origem muito antiga. Em várias regiões está associado ao movimento celeste das
estrelas e, em certas mitologias tribais, o tabuleiro simboliza o Arco Sagrado. Existem
estudiosos/as que supõem que os Mancala possuem cerca de sete mil anos, com origem mais
provável no Egito, o que levaria a acreditar serem estes os jogos mais antigos do mundo. Os
tabuleiros destes jogos podem ser feitos de diferentes materiais: madeira esculpida; sulcos
cavados solo, como em algumas regiões da África; confeccionados em papel; ou através do
reaproveitamento de embalagens de ovos (de uma dúzia). Os tabuleiros são encontrados com
duas, três ou quatro fileiras, porém as mais conhecidas têm duas fileiras paralelas de seis casas
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e dois depósitos, e são atribuídas, a cada casa, quatro peças ou quatro sementes para o
funcionamento do jogo.
Figura 4: Tabuleiro de Mancala esculpido em madeira e sementes usadas como peças
Este jogo alia raciocínio, estratégia e reflexão, com desafio e competição de
uma forma lúdica. A sua prática contribui para o desenvolvimento da capacidade de
formalização de estratégias, memorização e para o desenvolvimento pessoal e
social. Um aspecto importante serão o tratamento e a exploração dos temas
“Números e Cálculo”, “Probabilidade e Estatística” e “Álgebra e Funções”
subjacentes ao jogo. Ao introduzir o jogo na escola pretende-se que os(as) alunos(as)
adquiram e desenvolvam em ambiente lúdico e interativo, e em diferentes contextos
– sala de aula, recreio, biblioteca, família – um conjunto de competências
consideradas relevantes para o desenvolvimento do pensamento matemático:
A destreza manual, a lateralidade, as noções de quantidade e de seqüência, as operações
básicas mentais, adequando a aplicação das regras em cada jogo, por exemplo, o sentido
convencional do jogo — sentido anti-horário;
O uso de processos organizados de contagem na abordagem de problemas
combinatórios simples, por exemplo, os conceitos de chance, de eventos aleatórios, de
eventos equiprováveis e não-equiprováveis;
A procura de padrões e regularidades e a formulação de generalizações;
No contexto numérico, durante o desenvolvimento de cada jogo de forma a encontrar
estratégias ganhadoras.
3.4. A INTERVENÇÃO DOS JOGOS DE MANCALA NO CAP-MACAÉ
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A intervenção ocorreu durante os dois dias de Feira das Ciências do CAp-Macaé, na
Sala da Matemática Interativa, por onde passaram cerca de 150 visitantes – alunos(as) e
professores(as) da rede municipal de educação de Macaé. A cada visita, com cerca de 10
pessoas por vez, o grupo de alunos(as), responsáveis pela sala, explanava a respeito da
Matemática Interativa; nós atuamos falando brevemente sobre os jogos de Mancala e, cada
um(a) dos(as) visitantes escolhia a atividade ou jogo de sua preferência. Recebemos alunos(as)
do 3º ao 9º ano do ensino fundamental da rede.
Figura 5: Grupo do Cap-Macaé explanando sobre a Matemática Interativa
Figura 6: Visitantes na Sala da Matemática Interativa durante a explanação
Figura 7: Alunos(as) da rede municipal de educação de Macaé durante a visitação na Sala da Matemática
Interativa
Figura 8: Alunos(as) da rede municipal de educação de Macaé durante a visitação na Sala da Matemática
Interativa
Os jogos de Mancala utilizados na Sala da Matemática Interativa foram o Kalah e o
Oware:
3.4.1. REGRAS DO JOGO KALAH, DA ARGÉLIA
I. distribuem-se 3 ou 4 sementes em cada uma das 12 cavidades (exceto nos
oásis, as cavidades que ficam nas duas extremidades);
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II. o território de cada jogador é formado pelas 6 casas da fileira à sua frente,
acrescido do oásis à direita (somente utilizado pelo proprietário);
III. o jogador pega todas as sementes de uma de suas casas e distribui uma a uma
nas casas subseqüentes, em sentido anti-horário;
IV. o jogador deverá colocar uma semente em seu oásis toda vez que passar por
ele e continuar a distribuição, sem colocar, no entanto, nenhuma semente no
oásis adversário;
V. todas as vezes que a última semente "parar" numa casa vazia pertencente ao
jogador, ele pode "comer" todas as sementes que estiverem na casa
adversária em frente, colocando-as todas (a sua mais as semesntes da casa
do adversário) em seu oásis;
VI. ao terminar a distribuição das sementes ("semeadura"), o jogador passa a vez,
exceto quando a última semente distribuída for colocada no seu próprio
oásis. Nesse caso, ele deve jogar de novo, escolhendo uma nova casa (do seu
próprio campo) para esvaziar;
VII. o jogo termina quando todas as casas de um dos lados estiverem vazias e o
jogador da vez não tiver mais nenhuma casa com um número suficiente para
alcançar o outro lado;
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VIII. Vence quem tiver maior número de sementes em seu oásis (as sementes
restantes no tabuleiro poderão ou não entrar na contagem).
Figura 9: Professor Júlio Lourenço ministrando oficina do jogo Kalah para uma aluna visitante
3.4.2. REGRAS DO JOGO
OWARE, DE GANA
I. Para iniciar o jogo,
distribuem-se quatro peças
em cada espaço. Os seis
espaços, chamados
“buracos”, em cada lado do
tabuleiro, pertencem ao
jogador mais próximo;
II. Os/as dois/uas
jogadores/as sentam-se
frente a frente, um/a de
cada lado do tabuleiro;
III. Para movimentar as peças,
os/as jogadores/as
revezam-se, pegando todas
as peças em qualquer um
de seus buracos e
lançando-as, uma em cada
buraco, indo para a direita
(sentido anti-horário). É o
que se chama “semear os
grãos”. Algumas peças
podem cair nos buracos
que ficam do lado do/a
adversário/a. Se os/as
jogadores/as retirarem
peças de um buraco que
contém doze ou mais
peças, deverão saltá-lo e
deixa-lo vazio enquanto
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semeiam ao redor do
tabuleiro;
IV. Para capturar: Se a última
peça lançada em um
buraco no lado do/a
adversário/a formar um
grupo de dois ou três, essas
peças podem ser
capturadas de buracos que
se encontram lado a lado
na parte mais distante do
tabuleiro;
V. Para terminar: Se todos os
buracos do/a adversário/a
estiverem vazios, um/a
jogador/a deve lançar
peças para dentro deles
quando chegar a sua vez.
Se isso não puder ser feito,
o jogo acaba. O/A
jogador/a junta as peças do
seu lado às do depósito.
Peças que dão voltas e
voltas sem capturas podem
ser divididas igualmente
entre os/as jogadores/as.
Aquele/a que tiver o maior
número de peças em seu
depósito é o/a vencedor/a.
Figura 10: Professora Gabriela Laurindo ministrando oficina do jogo Oware para um aluno do CAp-Macaé
Percebe-se o quanto os jogos de Mancala
agem para além dos benefícios no processo
de ensino-aprendizagem. Os(As) alunos(as)
negros(as) tem sua história e cultura
representada e os(as) não-negros(as) passa a
reconhecer elementos da cultura formadora
da ancestralidade humana.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rede municipal de educação de macaé
não explicita o combate ao racismo em seu
caderno de orientações currculares, mesmo
tendo o amparo da lei 10639/2003, dos
PCN's, das Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica. É
necessário, porém, que a existência do
racismo seja reconhecida e deliberar o
combate. Esconder as diferenças que forjam
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nossas identidades não é sinônimo de busca
pela igualdade. Quando se age de forma
indiferente, ignorando tais diferenças,
brancos(as) perpetuam seu status quo e os
não brancos(as), sua subalternidade. Na
Educação funciona da mesma forma: Como
educar o diferente, se o vemos como igual?
Como ensinar o outro, se ele é invisível, sua
Cultura, valores, história? Um currículo e
uma matemática que não vê o outro e não é
assimilada pelo não comum não conseguem
se unir à luta antirracista.
5. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro
de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional.
BRASIL.Lei nº 10639, de 9 de janeiro de
2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da Rede de
Ensino a obrigatoriedade da temática
"História e Cultura Afro-Brasileira", e dá
outras providências.
COSTA, Ricardo Cesar Rocha da.
Exclusão Social e Desenvolvimento
Humano: uma mapeamento das
desigualdades e do desenvolvimento sócio-
econômico do município de Macaé. Análise
sociológica da pesquisa domiciliar do
programa Macaé Cidadão, 2001-2003.
Macaé: Prefeitura Municipal de Macaé /
Programa Macaé Cidadão, 2007.
HALMENSCHLAGER, Vera Lucia da
Silva. Etnomatemática: uma experiência
educacional.São Paulo: Summus, 2010.
KNIJNIK, Gelsa; WANDERER, Fernanda;
OLIVEIRA, Cláudio José de (Orgs.).
Etnomatemática, Currículo e Formação
de Professores. Santa Cruz do Sul:
EDUNIDC, 2010.
LAURINDO, Gabriela Franklin.
Africanidade Na Educação Matemática
Através De Jogos Culturais. 2008. 10f.
Trabalho de Conclusão de Curso
(Licenciatura em Matemática) – Faculdade
da Região dos Lagos, Cabo Frio, 2008.
MÉSZARÓS, István. A Educação para
Além do Capital. Tradução de Isa Tavares.
2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um
Discurso sobre as Ciências. 5. ed. São
Paulo: Cortez, 2008.
SANTOS, Celso José dos. Jogos Africanos
e a Educação Matemática: Semeando
14
com a Família Mancala. 2008. 34f.
Material Didatico elaborado como parte
integrante das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE da
Secretaria de Estado de Educação do Paraná
– Universidade Estadual do Paraná,
Maringá, 2008.
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.).
Identidade e Diferença: A perspectiva dos
estudos culturais. 15. ed. Petrópolis: Vozes,
2014
ZASLAVSKY, Cláudia. Jogos e
Atividades Matemáticas do Mundo
Inteiro: Diversão multicultural para idades
de 8 a 12 ano Porto Alegre: Artmed, 1998.
PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAÉ.
Caderno de Orientação Curricular.
Macaé, 2012. Disponível em
http://ntmmacae.com/site/index.php/compo
nent/content/article/42-coc/93-caderno-de-
orientacao-curricular. Acesso em: 28 set.
2018.
http://www.laabufpa.com/jogos-
africanos/20-jogo-kalah-mancala.html