África 2

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O povo Bérbere Os bérberes eram povos nômades do deserto do Saara . Este povo enfrentava as tempestades de areia e a falta de água, para atravessar com suas caravanas este território, fazendo comércio. Costumavam comercializar diversos produtos, tais como : objetos de ouro e cobre, sal, artesanato, temperos, vidro, plumas, pedras preciosas etc. Costumavam parar nos oásis para obter água, sombra e descansar. Utilizavam o camelo como principal meio de transporte, graças a resistência deste animal e de sua adaptação ao meio desértico. Durante as viagens, os bérberes levavam e traziam informações e aspectos culturais. Logo, eles foram de extrema importância para a troca cultural que ocorreu no norte do continente. Os bantos Este povo habitava o noroeste do continente, onde atualmente são os países Nigéria , Mali, Mauritânia e Camarões. Ao contrário dos bérberes, os bantos eram agricultores. Viviam também da caça e da pesca. Conheciam a metalurgia, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de povos vizinhos. Chegaram a formar um grande reino ( reino do Congo ) que dominava grande parte do noroeste do continente. Viviam em aldeias que era comandada por um chefe. O rei banto, também conhecido como manicongo, cobrava impostos em forma de mercadorias e alimentos de todas as tribos que formavam seu reino. O manicongo gastava parte do que arrecadava com os impostos para manter um exército particular, que garantia sua proteção, e funcionários reais. Os habitantes do reino acreditavam que o maniconco possuía poderes sagrados e que influenciava nas colheitas, guerras e saúde do povo. Os soninkés e o Império de Gana Os soninkés habitavam a região ao sul do deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este império era comandado por reis conhecidos como caia-maga. Viviam da criação de animais, da agricultura e da pesca.

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O povo Bérbere

Os bérberes eram povos nômades do deserto do Saara. Este povo enfrentava as tempestades de areia e a falta de água, para atravessar com suas caravanas este território, fazendo comércio. Costumavam comercializar diversos produtos, tais como : objetos de ouro e cobre, sal, artesanato, temperos, vidro, plumas, pedras preciosas etc. Costumavam parar nos oásis para obter água, sombra e descansar. Utilizavam o camelo como principal meio de transporte, graças a resistência deste animal e de sua adaptação ao meio desértico.Durante as viagens, os bérberes levavam e traziam informações e aspectos culturais. Logo, eles foram de extrema importância para a troca cultural que ocorreu no norte do continente.

Os bantosEste povo habitava o noroeste do continente, onde atualmente são os países Nigéria, Mali, Mauritânia e Camarões. Ao contrário dos bérberes, os bantos eram agricultores. Viviam também da caça e da pesca.Conheciam a metalurgia, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de povos vizinhos. Chegaram a formar um grande reino ( reino do Congo ) que dominava grande parte do noroeste do continente. Viviam em aldeias que era comandada por um chefe. O rei banto, também conhecido como manicongo, cobrava impostos em forma de mercadorias e alimentos de todas as tribos que formavam seu reino.O manicongo gastava parte do que arrecadava com os impostos para manter um exército particular, que garantia sua proteção, e funcionários reais. Os habitantes do reino acreditavam que o maniconco possuía poderes sagrados e que influenciava nas colheitas, guerras e saúde do povo.

Os soninkés e o Império de Gana

Os soninkés habitavam a região ao sul do deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este império era comandado por reis conhecidos como caia-maga.Viviam da criação de animais, da agricultura e da pesca. Habitavam uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro para trocar por outros produtos com os povos do deserto (bérberes).  A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área de intenso comércio.Os habitantes do império deviam pagar impostos para a nobreza, que era formada pelo caia-maga, seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção das terras e do comércio que era praticado na região. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores, que trabalhavam nas terras da nobreza.

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GANA

O Império de Gana localizou-se na região Sahelo-sudanesa. O Sahel é uma área entre o deserto do Saara e as florestas tropicais. No século IV, o período em que se formaram os Estados Nacionais, era uma área maior. Os soninquês, por exemplo, habitavam uma área saheliana que hoje já foi tomada pelo deserto. Isso porque, há 10 mil anos, uma parte relativamente pequena de deserto começou a se expandir e tomar as proporções gigantescas que o Saara tem hoje.

A adoção do dromedário permitiu que os berberes se tornassem senhores do deserto no século III. Com este meio de locomoção, o deserto deixou de ser um “mar” que separava para unir o Mediterrâneo à África. A partir de então, as comunidades ditas “cameleiras” reduziram à obediência ou à servidão, habitantes do oásis e passaram a ter no saque, na proteção das caravanas e no comércio novos meios de aquisição de riquezas. Os povos agrícolas (do Sahel e da savana) receberam os rebanhos dos pastores (do deserto e do Sahel) e, vale lembrar, é nesse encontro de culturas que surge a escravidão. Porque os povos agrícolas estavam acostumados a receberem os berberes com seus rebanhos que necessitavam de pastos nos meses de estio. Então se praticava o comércio, os pastores berberes entregavam cavalos, leite, sal, e recebiam cereais e outros produtos da terra. Só que quando os pastores ficavam tempos demais, raptavam mulheres, profanavam locais sagrados e o resultado desses conflitos eram, muitas vezes, pessoas feitas cativas pelos nômades.O comércio transaariano foi um fator permissivo do desenvolvimento dos Estados Nacionais e da escravidão, visto que passaram a incorporar o saque às suas atividades econômicas, ou seja, o respeito entre nômades e sedentários já não existia mais, é possível que um desses grupos tenha se imposto como nobreza armada aos sedentários, acelerando o processo de escravidão política e criação de Estados. Mas, segundo Alberto Costa e Silva, é mais provável que pela pressão dos nômades sobre as terras dos agricultores, estes tenham reforçado suas estruturas de poder local para melhor resistir.

O Império de Gana surgiu por volta do século IV como Estado centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal; as orientais perto de Tombuctu; embaixo são delimitadas pelo rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma-se dizer que a origem do Império Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um povo que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem - antes de Cristo. Ki-Zerbo fala da hipótese descrita no Tarik al Fettach, que Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes brancos e que os soninquês teriam tomado o controle do Império quando de tanto se “cruzarem” uma dinastia puramente negra surgiu. Mas a

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hipótese é frágil por que fora escrita 12 séculos depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar prestígio para as famílias nobres depois da dominação islâmica. A origem com os soninquês é a que parece mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para se defender de ataques.

Para tratar da organização política de Gana, é importante frisar alguns conceitos, como o de Estado, o qual, segundo o Dicionário Aurélio, seria um povo que ocupa determinado território, sendo dirigido por um governo próprio - a idéia de Estado estaria ligada à de nação soberana ou divisão territorial. O Império seria um governo com influência dominadora. Império, visto sob a perspectiva romana, estaria associado à expansão territorial. Reino, no Dicionário Aurélio, aparece como uma monarquia. Enquanto Monarquia seria uma forma de governo na qual o poder supremo é exercido por apenas um monarca.

Por não possuir vontade de se expandir territorialmente, não ter tentado unificar todos os povos dentro de seus domínios, de acordo com a visão romana não podemos considerar Gana um Império. Segundo Alberto Costa e Silva, era um reino por ter um soberano, um sistema monárquico, mas também um Estado, por possuir governo próprio. Havia uma esfera de influências, vários povos próximos à Gana não respondiam diretamente ao rei, mas lhe pagavam tributo. A soberania não era exercida sobre a terra, mas sobre os homens. O monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de novos territórios, mas em submeter números crescentes de grupos humanos que lhe pagassem tributo e pudessem fornecer soldados.

Quanto à sucessão ao trono, ela era matrilinear: era o filho da irmã do rei que lhe sucedia. Segundo Ki-Zerbo, o escritor árabe Al Bakri diz que era para assegurar que o sucessor fosse sempre de sangue real, já que seu filho poderia não ser realmente seu filho. Mas Ki-Zerbo também cita Cheik Anta Diop, para dizer que o sistema matrilinear foi prática comum aos povos africanos e ligada ao seu caráter agrícola e sedentário.

Estima-se que na segunda metade do século IX os azenegues tenham conquistado Audagoste, fato de extrema importância para compreender os motivos que levaram Gana ao seu apogeu. Os azenegues figuravam entre os berberes. Dividiam-se em grandes grupos e controlavam rotas comerciais. Enquanto isso, Audagoste era uma pequena cidade, segundo o Costa e Silva, fundada por volta do século sete. Apesar de recente, era um centro agrícola, artesanal e mercantil. Os azenegues conquistaram Audagoste na segunda metade do século nove. O grande chefe azenegue vivia no deserto e ia de vez em quando a Audagoste. Esta e Gana se completavam. Audagoste controlava o comércio de sal e a saída para o deserto e Gana o ouro e as trilhas para a savana e o cerrado. De acordo com Costa e Silva, no início do século XI os soniquês subiram até Audagoste e lá puseram seu rei. Assim, o poderio de Gana atingiu seu apogeu, com seu soberano dispondo de grandes forças militares.

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Os arqueiros militares eram em torno de 40 mil durante o apogeu. Usavam arcos pequenos e flechas com bico de ferro. O alcance da arma era curto, mas os arqueiros eram temidos e decisivos nas batalhas. Uso de eqüinos segundo Costa e Silva, Al Bakri diz que os eqüinos de Gana eram pequenos. O desconhecimento da sela, do estribo e do freio reduzia o impacto do cavalo como animal de guerra. Mas não os excluía das batalhas, já que a montaria fornecia certa mobilidade. O cavalo aparecia como sinal de prestígio. É também provável a existência de tropas camaleiras, inclusive o uso do dromedário para a captura de escravos. A infantaria era a força básica do Exército de Gana, sendo mais de 100 mil soldados, a qual demonstra, portanto, a força militar alcançada pelo Império.

O cavalo, visto que era ligado à pompa do estado, era o transporte do soberano. O gana só montava a cavalo e percorria a cidade, duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado pelos grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros, sendo os tambores utilizados em rituais ligados à religião e à corte, como mais tarde seria comum em quase todos os desfiles reais por África. Parece certo que havia tambores especiais para cultos religiosos e cerimônias da corte. O gana estava vestido de túnica, assim como o herdeiro presuntivo. O gana e seus escravos, cavalos cerimoniais e cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos súditos era vedado usar túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas podiam usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitiam. Ao verem o gana, jogavam areia sobre suas cabeças. Os muçulmanos aplaudiam o rei.

Quando morria o gana, erguia-se uma grande cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo os criados que tinham servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir que não ocorreriam envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.

O ouro era taxado em forma de tributos ao gana, para manter sua numerosa corte. O minério refinado era para o rei, já o ouro em pó era de quem encontrasse. A obtenção de ouro é um processo curioso. Passadas as cheias, cavavam-se poços quadrados, de uns 75m de lado, que raramente iam abaixo dos 20m. À medida que os poços desciam, suas paredes iam sendo reforçadas por vigas de madeira e nos lados uma grade de varas que servia também de escada por onde baixavam os mineiros. Cavavam-se túneis horizontais e mandavam em cabaças o minério para a superfície e este era catado pelas mulheres ao entardecer. São hipóteses levantadas de como se extrai atualmente.

O ouro viria ali ter não só de Bambuk e Buré, mas também de Lobi. E. Jenné poderia já ser então seu importante entreposto. Há uma

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hipótese mais simples: situando-se Bambuk dentro da forquilha formada pela confluência do Falemé com o Senegal, teria sido confundido com uma ilha. O sal, artigo raro, era permutado muitas vezes por igual peso de ouro, ou mesmo o dobro. As principais rotas utilizadas para o entreposto de sal e outras mercadorias do Magreb pelos lingotes de ouro eram: Gana a Sijilmessa, Tafaza, Audagoste e Tagante(azenegues). De Gana a Sijilmessa se atravessava durante dois meses desertos absolutos, pelos quais se podia marchar 14 dias sem encontrar água. A de maior fortuna teria sido a que passava por Tagaza, um centro onde se trocavam as mercadorias do Magreb pelo sal que se ia vender no Sudão. Já no Audagoste e no Tagante, as rotas eram controladas pelos azenegues, que se haviam convertido a um maometismo exigente e militante.

Os zanatas controlavam o comércio na cidade de Sijilmessa e também alguns entrepostos em Audagoste. Com o desejo de também ter por seu domínio estes entrepostoso, os Almorávidas se lançam cada vez mais ao sul do Marrocos e passam a ter um controle mais eficiente nos comerciantes zanatas de Audagoste.

Com o impasse que se seguia entre os azenegues do deserto, Abubacar se retira do Marrocos e deixa no seu lugar Yusufe Ibne Tashfin, que era seu primo, e também sua mulher Zoinabe, de quem se divorcia. Passada a ruputura que afluía no deserto, Abubacar volta ao Marrocos, porém seu primo não lhe devolve o poder em partes.

Paralelo ao desmembramento em duas “facções”, a do norte e a do sul, ambas cada vez mais buscavam expandir seus domínios, o que acarretará mais adiante na morte de Abubacar em 1070, em uma homogênea ocupação Almorávida do Ebro ao Sael, sob o comando de Yusufe.

As “tribos” azenegues estavam cada vez mais inerentes ao domínio almorávida que se concentrava no Marrocos. Desta maneira, o declínio começava a se assentar nas várias tribos azenegues que passaram a oferecer ataques repentinos aos “grandes senhores Almorávidas”.

Os almorávidas deixaram grande contribuição para a islamização de grande parte das populações do norte do Sudão Ocidental, sobretudo os soninquês que iriam se transformar em fervorosos catequistas, além de um rompimento com o equilíbrio entre a agricultura e a pecuária existentes no Sael, substituindo terras que eram cuidadosamente lavradas por campos de pastoreio e a conversão pelos azenegues a seu modo de vida de alguns núcleos que abandonaram a lavoura pela criação de gado e aderiram ao nomadismo. Com os rebanhos numerosos, cedo desertificaram o que então era o Sael e saelizaram o que então era savana. Certos reis e nobres sudaneses começaram a usar até mesmo o véu sobre o rosto, o litham.

Em 1203 ou 1204, os Sossos tomaram militarmente Gana e muitos mercadores soninquês emigraram para outras terras, especialmente

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para um lugarejo que crescerá com o nome de Ualata e se transformará no mais importante porto caravaneiro do Sudão Ocidental.

ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS

Na apresentação das grandes civilizações africanas, em 1000 a.C., povos semitas da

Arábia emigram para a atual Etiópia. Depois, em 715 a.C. o Rei de Cush, funda no Egito a 25ª

Dinastia. Em 533 a.C. transfere sua capital de Napata para Meroé, onde, cerca de cinqüenta

Anos depois, já se encontra uma metalurgia do ferro, altamente desenvolvida. Por volta do ano

100 a.C. desabrocha, na Etiópia, o Reino de Axum.

O tempo que se passou até a chegada dos árabes à África Ocidental foi, durante muitos

séculos, considerado um tempo obscuro, face à absoluta ausência de relatos escritos, que só

apareceram nos séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e o “Tarik-Es-Sudam”, redigidos,

Respectivamente, por Muhammad Kati e Abderrahman As Saadi, ambos nascidos em

Tombuctu. Mas o trabalho de arqueólogos do século XX, aliado aos relatos da tradição oral,

conseguiu resgatar boa parte desse passado.

O mais antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre os séculos III e VII, a Etiópia teve

como vizinhos outros reinos cristãos: o Egito e a Núbia, contudo, com a expansão do

islamismo essas duas últimas regiões caíram sob o domínio árabe e a Etiópia persistiu como

único grande reino cristão da África. Antes do efetivo início do processo de islamização do

continente africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de desenvolvimento bastante

alto. E, os antigos Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin, são excelentes

exemplos de pujança das civilizações pré-islâmicas.

Império do Gana

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O Antigo Império Gana teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que

o florescimento desse império remonte ao século IV. Fundado por povos berberes, segundo

uns, e por outros, por negros mandeus, mandês ou mandingas, do grupo soninkê. O antigo

nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área tão vasta quanto à da moderna

Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental e o sudeste da Mauritânia.

Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o Antigo Império de

Gana era tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana, tal como

seus súditos, eram denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências

no comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076

d.C., em nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos

do Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do Império de Gana.

O Império do Mali2Os fundados do Antigo Mali teriam sido caçadores reunidos em confrarias ligadas pelos

mesmos ritos e celebrações da religião tradicional. O fervor com que praticavam a religião de

seus ancestrais veio até bem depois do advento do Islã. Conquistando o que restara do Antigo

Gana, em 1240, Sundiata Keita, expandiu seu império, que já era oficialmente muçulmano

desde o século anterior. E, o Mali se torna legendário, principalmente sob o mansa (rei) Kanku

Mussá, que, em 1324, empreendeu a peregrinação a Meca com a intenção evidente de

maravilhar os soberanos árabes.Império SongaiA organização do Songai era mais elaborada ainda que a do Mali. O Império Songai

teria suas origens num antepassado lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos

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pescadores sorkôs. Por volta de 500 d.C., diz ainda a tradição, que guerreiros berberes,

chefiados por Diá Aliamen teriam chegado à curva norte do Níger, tomando o poder dos

sorkôs. A partir daí, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma ilha perto do Níger, até 1009,

quando o reino se converte oficialmente ao islamismo e transfere a capital para Goa, onde a

dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songai se liberta do Antigo Mali, de quem se

tornara vassalo em 1275 e, começa a conquistar as regiões vizinhas.

Império Kanem-Bornu

Outro grande Estado da África Negra, florescido por essa época, no norte da atual

Nigéria, foi Kanem-Bornu, em torno do ano 800 d.C. As cidades-estados haussás, situadas

entre o Níger e o Chade que se encontram em uma grande encruzilhada. Constituíram-se por

volta do século XII, em redor das vias comerciais que ligavam Trípolis e o Egito à floresta

tropical, por um lado, e, por outro lado, o Níger ao alto vale do Nilo pelo Darfur. Os haussás ou

a classe dirigente são negros que habitavam muito mais ao norte e a leste do que hoje. Junto

com o Mali e o Songai, um dos mais vastos impérios dos grandes séculos africanos foi o

Kanem-Bornu. A sua influência, no seu período de maior esplendor, estendia-se da Tripolitânia

e do Egito até ao Norte dos Camarões atuais e do Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem

encontra-se a conjunção dos nômades e dos sedentários.

Império Iorubá

A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma

estrutura ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a

aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos

VI e XI. As suas origens, mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos

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fornecem, do ponto de vista cronológico, informações suficientes. O grande passado de todos

estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de Olodumaré, que para muitos seria o

Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica, de Lamurudu, rei de

Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças coroadas”, a

reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma

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cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades

iorubás. É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas

originais para, segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da

antiga Oyó pelos Nupês (Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.

Império do Benin

Famoso por sua arte, o Benin, situado à sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a

tradição, também por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó

e Ifé. A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou

por uma revolta, quando se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu no século XIV, com a

capital Edo, que perdura até hoje.

A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos

sudaneses do império iorubá, acima citado, em suas origens. Na verdade a denominação

“nagô” foi dada, no Brasil, a língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos,

tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações. O iorubá compreende

vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos

do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o Ketu, pelos candomblés mais

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conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o

iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os franceses

chamavam apenas nagô.1