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Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007 2 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007 Entrevista Internacional O CEO da Cambridge ........................................................................ 18 A revista Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras/Unipalmares. A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas. A reprodução desta revista no todo ou em parte só será permitida com autorização expressa da Editora e com citação da fonte. 4

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2 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

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4 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

Entrevista EspecialOrlando Silva ......................................................................................... 8

13 de MaioOutorga da Medalha Afro Brasileira ................................................ 10

Entrevista InternacionalO CEO da Cambridge ........................................................................ 18

CidadaniaArtigo Rebello Pinho ......................................................................... 20Artigo Luiz Flávio Borges D’Urso .................................................... 22Artigo Maria Célia Malaquias ............................................................ 24

EsporteA presença negra no Pan ............................................... 25

Entrevista César Maia .......................................................... 34Artigo Matilde Ribeiro .......................................................... 38

Artigo Gustavo Coimbra C. Cintra ................................................ 40Artigo Walter Feldman .................................................................. 42Artigo Ricardo D’Angelo ............................................................. 44Tiger Wood e irmãs Williams ..................................................... 48Panteras Negras ........................................................................... 50Vôlei Brasil ................................................................................... 54Artigo Lica Oliveira ...................................................................... 56

PerfilAdhemar Ferreira da Silva - O Atleta do Século ..................... 58Carlos Nuzman ............................................................................ 60

Responsabilidade SocialFundação Finasa ................................................................................. 62Instituto Alpargatas .............................................................................66

EducaçãoArtigo Nelson Maculan ....................................................................... 68Artigo Gabriel Mário Rodrigues ........................................................ 70Novos cursos na Unipalmares ...........................................................72

SaúdeArtigo Leôncio Queiroz Neto .......................................................... 74Artigo Karin Schmidt Rodrigues Massaro ...................................... 76

Mercado de TrabalhoPesquisa OIT ......................................................................................... 78Artigo Washington Grimas ............................................................... 80Artigo Márcio Juliano ........................................................................ 82

PluralArtigo Paulo Edgar A. Resende ....................................................... 84Artigo Paiva Netto ............................................................................... 86

OpiniãoRosenildo Ferreira ................................................................................. 88

CulturaAgenda Cultural .................................................................................... 89

Palavra do presidenteDe fato e de direito ............................................................................. 90

Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras - Sociedade AfroBrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural e da Universidade Zumbidos Palmares - Centro de Documentação, com periodicidade bimestral.Ano 4, Número 19 - Rua Washington Luiz, 236 - 3º andar - Luz - SãoPaulo/SP - Brasil - CEP 01033-010 - Tel.(55-11) 3228-1824.Conselho Editorial: José Vicente, Ruth Lopes, Raquel Lopes,Francisca Rodrigues, Cristina Jorge, Nanci Valadares de Carvalho, Fran-cisco Canindé Pegado do Nascimento, Jarbas Vargas Nascimento,Humberto Adami, Felice Cardinali, Sônia Guimarães. Direção Edi-torial e Executiva: Jornalista Francisca Rodrigues (Mtb.14485 [email protected]); Redação e Publicidade: MaximagemMídia Assessoria em Comunicação ([email protected])Tel.(11) 3229-9554.Editora: Zulmira Felício (Mtb. 11.316 - [email protected]);Redação : Demetrius Trindade (Mtb.30.177 - [email protected]); Douglas da Silva Souza (estagiário Web); Fotografia:J. C. Santos, Cíntia Sanchez, divulgação. Colaboradores: Rodrigo Massi([email protected]) e Rosenildo Gomes Ferreira([email protected]). Capa: Foto AP, trabalha-da eletronicamente pela Alvo Propaganda.Editoração eletrônica: Alvo Propaganda e Marketing ([email protected]). Impressão e Acabamento: HR Gráfica e Editora.

A revista Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras/Unipalmares.A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigose matérias assinadas. A reprodução desta revista no todo ou em partesó será permitida com autorização expressa da Editora e com citaçãoda fonte.

ndice

Estátua Comemorativa inaugurada em 1999, da Fa-culdade San José State, Califórnia, em homenagemao gesto de protesto dos ex-alunos Tommy Smith,medalha de ouro e John Carlos, medalha de bronze,ambos no atletismo nas Olimpíadas de 1968.

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 5

O esporte é um instrumento po-deroso de educação e de formação

de cidadãos. No período de 13 a 29 dejulho, o Rio de Janeiro deverá receber

5.500 atletas, de 42 países para competiremnos Jogos Pan-Americanos de 2007, em um

megaevento esportivo, uma consagração de ta-lentos, uma confraternização de povos e raças.

Infelizmente no esporte, nem todos pensam assim.Ações de racismo, de discriminação racial são mos-

tradas pelo mundo afora, principalmente para atletasnegros, mesmo quando suas qualidades se sobrepõem

à sua cor.Quem não se lembra dos problemas ocorridos na Copa

do Mundo de 2006, obrigando a Fifa - Federação Inter-nacional de Futebol -, a fazer ampla campanha de com-bate ao racismo?

a desigualdade racial nos EstadosUnidos?E o que falar de Adhemar Ferreira da Sil-va, um dos maiores atletas brasileiros de to-dos os tempos, que se consagrou pentacam-peão sul-americano, tricampeão Pan-Americano,dez vezes campeão brasileiro e obteve mais de40 títulos e troféus internacionais? E que ao nãopoder mais competir em função de problemas desaúde, deu uma virada em sua vida e deslanchoupara os estudos? Formou-se em Belas Artes, Educa-ção Física, Direito e Relações Públicas. Era poliglo-ta, falava inglês, espanhol, italiano, alemão, francês,finlandês e japonês.O que dizer ao saber que há apenas 17 anos todas asdistâncias de 800 metros na maratona eram dominadaspor europeus e que nos dias de hoje, a proporção de

Mas problemas à parte. O que dizer da nossa alegria quan-do vemos uma Daiane dos Santos, linda em seu corpodançando, ou melhor, voando, na Ginástica Olímpica?O que dizer de nossa satisfação ao ver o baiano EdvaldoValério (O Bala) se superando na natação? O que dizerde uma Vanessa e Serena Williams, no tênis? De umTiger Woods no golfe?Quem não se lembra da foto célebre dos atletas afro-americanos nos XIX Jogos Olímpicos, na Cidade doMéxico (1968), Tommy Smith e John Carlos, que nahora de subir ao pódio para receber as medalhas,

foram de punho erguido, cabisbaixos e descalços,em protesto contra o racismo? Quem não se

emociona até hoje ao ler a história ou ver afoto dos atletas de semblantes carregados e

calados que começaram a erguer os bra-ços com os punhos enluvados – sin-

cronizados um com o outro – nasaudação do black power para

denunciar

atletas entre os 20 melhores do mundo está assim: 85%de africanos, dos quais 55,8% são quenianos e 11,7%de europeus?Esses exemplos nos mostram que dando oportuni-dade, os negros são capazes de desempenhar qual-quer função. E para ajudar o negro a quebrar maisbarreiras, a Unipalmares abre as portas ao Esportee Educação Física para seus alunos, cujo time irárepresentar a Universidade no cenário Estadual eFederal do nosso país, inicialmente na FUPE 2°semestre 2007. As primeiras modalidades sãoatletismo, basquetebol, futsal, handball, volei-bol e judô.Estão surgindo novos atletas e novos talen-tos serão descobertos.Parabéns Brasil, parabéns Zumbi!

Boa Leitura a todos!

Francisca RodriguesEditora Executiva

A determinação rA determinação rA determinação rA determinação rA determinação realiza o sonhoealiza o sonhoealiza o sonhoealiza o sonhoealiza o sonho

ditorial

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treinados e preparados alcançam ex-celente performance.”É certo que o Brasil espera que atletasnegros e não-negros alcancem bons re-sultados nos Jogos. “O Pan será a opor-tunidade para ídolos negros ocuparemlugar importante na mídia e se torna-rem referência para o nosso povo”, dizo Ministro. “Até porque, no País, os ne-gros ainda ocupam poucos lugares dedestaque.”A realização do Pan e Parapan será agrande festa do esporte brasileiro. Eos Jogos o momento oportuno de pro-moção do Brasil no exterior, inclusivedo Rio de Janeiro, uma das portas deentrada do turismo brasileiro. Quarentae dois países estarão representados por

mais de 5.500 atletas, disputan-do 34 modalidades. O MinistroOrlando Silva comemora: “OPan é motivo de sobra para a

América nos visitar, reforçandoos contatos e a identificação des-

ses países. São muitas e diversas astradições culturais, sobretudo da Amé-rica Latina, que vão servir para o es-forço que o presidente Lula vem fa-zendo a fim de liderar a construção delaços mais efetivos entre os países donosso continente.”Na organização dos jogos estão envol-vidos 21 ministérios, além de órgãosda Presidência da República, empresaspúblicas e autarquias. Sem dúvida, seráa oportunidade de colocar o esportena agenda nacional, gerar uma grandemotivação para a prática de atividadesfísicas e, com isso, melhorar a qualida-de de vida das pessoas. “Os nossos atle-tas estão motivados, se preparam paraparticipar dos Jogos Pan-americanos,repercutindo na qualidade do nível téc-nico do esporte nacional. Mais do quetudo isso, a juventude vai ter uma refe-rência muito forte no esporte. Duran-

Por: Zulmira Felício - Editora

entrevista especial

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rande

Em uma área de muita beleza natural,Campinho da Independência locali-zada no município de Parati, ao suldo litoral do estado do Rio deJaneiro - a primeira comunida-de quilombola daquele Esta-do a ter suas terras tituladas,em 1999 -, terá o privilégiode receber a Tocha do Pan,que irá percorrer várias ci-dades brasileiras, no iníciodo mês de julho. Nesse dia,em Campinho haverá a cele-bração do Jongo, manifesta-ções culturais executadas porafro-descendentes em várias loca-lidades no Estado do Rio de Janeiroque reúne percussão, dança e canto, emforma de poesia. Esta será uma dasações que visam chamar a aten-ção da população em geral para acultura do País. “Durante o Pan,faremos diversas atividades, comoos projetos Valorizando Talentos, que irárevelar uma parte da nossa culturadesportiva. O outro é o Ginga Brasil,que estimula a prática da Capoeira noPaís”, divulga Orlando Silva de JesusJúnior, Ministro dos Esportes.A fim de valorizar a cultura negra, oMinistério do Esporte empreende al-gumas ações inclusive em parceriacom a Secretaria Especial de Políticasde Promoção da Igualdade Racial(Seppir). “Afinal, o Brasil é um paísmestiço, miscigenado e a presença ne-gra é muito forte e, portanto, estarábem representada nas equipes espor-tivas.” Orlando Silva acredita que, “emmuitas modalidades, os atletas afro-descendentes terão uma boa participa-ção. O esporte tem um espaço privi-legiado para a afirmação da igualdadeentre as raças. Talentos identificados,habilidades percebidas, desde que

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te a realização dos jogos, jovens denorte a sul do Brasil vão acompanharvárias modalidades que eles conheceme descobrir muitas outras”, completaOrlando Silva.Para a realização dos Jogos Pan eParapan-Americanos o Governo Fede-ral está investindo cerca de R$ 1,8 bi-lhão. Cada instalação será um espaçopara formação de base dos atletas, paratreino das equipes e sede de competi-ções internacionais e nacionais queacontecerão no Rio de Janeiro. O Mi-nistério dos Esportes se reuniu com oComitê Olímpico Brasileiro para quejunto às confederações houvesse umplano de ocupação das instalações. “Anossa expectativa é que os atletas pos-sam utilizá-las para treinamento ecompetições futuras. É quase certo queteremos uma série de eventos inter-nacionais nesses locais, o que vai oti-mizar o investimento feito”, justifica.O Ministro destaca a pouca tradição dosetor privado brasileiro em investir emações comerciais fora de seus segmen-tos específicos de atuação. Isto não éum privilégio somente do esporte,tampouco da cultura, nem da ciênciaou da tecnologia. Neste sentido, obser-va-se certa timidez do empresariado doPaís. “Assim sendo, temos que apro-veitar os benefícios da Lei de Incenti-vo ao Esporte e fazer um trabalho desensibilização junto a esse público. Épreciso mostrar ao empresário as van-tagens dele associar sua marca aosvalores como superação e vitória. Sãovalores fundamentais, tanto para asatividades esportivas quanto para em-presas que querem alcançar melhoresresultados no mercado”, frisou.A Lei de Incentivo está em fase de fi-nal de regulamentação. A previsão é deque entre em vigência o mais breve

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Orlando Silva

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entrevista especial

possível para que se possa ter umaampliação das fontes aplicadas ao es-porte. Há um entusiasmo enorme nosetor com a possibilidade do investi-mento privado, uma vez que o Estado,a União e os Municípios são os quefinanciam todas as atividades esporti-vas no País. A expectativa de técni-cos, dirigentes, atletas e de todos os

envolvidos com o esporte é enorme.“Esperamos que a Lei de Incentivopossa incrementar o financiamento doesporte do Brasil, sobretudo paraatingir nosso objetivo, que é demo-cratizar o acesso ao esporte e lazer,melhorando a qualidade de vida dopovo e trazendo o desenvolvimentopara o País”, conclui.

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Um estudo da Organização Interna-cional do Trabalho - OIT, revelou queo homem negro, com a mesma qualifi-cação e nível educacional, recebe umterço menos do que o homem branco.A renda mediana para as negras foi deR$ 316 por mês (2005), contra R$ 632para homens brancos. Homens e mu-lheres negros ganham menos do queos brancos, sem importar o nível edu-cacional. Mesmo com estes números,a pesquisa aponta que a desigualdadede renda entre brancos e negros noBrasil caiu. A luta contra a discrimi-nação no mundo do trabalho registraimportantes progressos, mas continuasendo significativa e persistente a cres-cente desigualdade de rendimentos eoportunidades. Divulgado em maio,

às vésperas do dia 13 em que se co-memorou os 119 anos de Abolição daEscravatura, o estudo também serviude reflexão durante evento realizadono campus da Unipalmares para cele-brar a data.“A Afrobras aproveita o dia 13 de Maio,que para os negros não é de comemo-ração, mas de reflexão, para ampliar odebate sobre a questão racial no Brasile para deixar para as futuras gerações,um porto seguro onde as pessoas, atra-vés da educação, aprendam a não dis-criminar”, disse José Vicente. A afir-mação do reitor da Universidade daCidadania Zumbi dos Palmares -Unipalmares foi feita na abertura dacerimônia de outorga da Medalha doMérito Cívico Afro Brasileiro, quando

são destacadas personalidades que tra-balham em prol da inclusão do negrona sociedade brasileira.“Essa noite rememora 119 anos nãoapenas da libertação da raça negra, masa libertação dos grilhões da ignorância.A conquista da igualdade formal nãoatingiu aquela igualdade que propor-ciona condições materiais para se man-ter igual. Aqui (na Unipalmares) eu con-sigo ver crescer a integração em harmo-nia sem confrontos. Essa Universidadedeita raízes profundas e nós vamos co-lher.”, discursou Massami Uyeda, Minis-tro do Superior Tribunal de Justiça –STJ, um dos homenageados.“Nós acreditamos que a diversidadeengrandece o ambiente de trabalho”,disse Fábio Barbosa, Presidente da

1313dedededede

MaioMaio?O que temos a

comemorar

13 de Maio

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13 de Maio

Fábio Barbosa, Presidente da FEBRABAN e Real ABN Amro

Nós acreditamos que adiversidade engrandeceo ambiente de trabalho.

Fábio Barbosa

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13 de Maio

Federação Brasileira de Bancos –FEBRABAN – e do Banco Real ABNAmro. Como parceiros da Afrobras hámuito tempo e falando em nome daFederação de Bancos, Barbosa agrade-ceu a homenagem recebida destacan-do que as instituições que trabalhamcom estagiários/trainees são prova deque estão na direção certa da inclusãoe da igualdade de oportunidades. “É difícil não se emocionar com essereconhecimento ao participar dessa ce-rimônia, principalmente, porque eusaio daqui com uma responsabilidademuito maior: contribuir para criarmosum País mais digno, onde as pessoaspossam ter oportunidades iguais,” dis-correu Renata Tubini, Diretora de De-senvolvimento de Pessoas do BancoItaú, também agraciada com a Meda-lha do Mérito Cívico Afro Brasileiro.“Como o Bradesco nunca adotou ne-nhum tipo de discriminação, temos 10mil afro-descendentes prestando ser-viços na organização. O nosso projetode estagiários junto a Unipalmares fi-naliza agora em 2007. Esperamos queeles possam ser efetivados para ampli-ar ainda mais esses 10 mil funcionári-os”, acrescentou Milton Matsumoto,Diretor Executivo do Banco Bradescoque, juntamente, com Mário Hélio,Diretor da Fundação Bradesco foramcondecorados.“Eu costumo dizer que o 14 de maio émuito mais importante do que o dia13, a noite mais longa que o negro játeve quando foram para as ruas, sememprego e sem preparo nenhum. Porisso, é necessário refletir sobre esse pósAbolição. Ver a Unipalmares é ver osonho de muita gente concretizado,”disse Mauro Raphael, Gerente de RH- Diversidade do Banco HSBC satis-feito ao receber sua Medalha.Valéria Riccominni e Renata Tubini do Itaú

Eduardo Suplicy (Senador), Matilde Ribeiro (Ministra da Seppir) e Massami Uyeda (Ministro do STJ)

José Vicente com os diretores Júlio Alves Marques e José Luiz R. Bueno (Bradesco) e Mário Hélio (Fundação Bradesco)

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13 de Maio

Benedito Gonçalves, Desembargador Federal do TRF/RJ

Unipalmares e Seppir,vencendo desafios

A construção em poucos anos dasduas entidades Unipalmares e Secre-taria Especial de Políticas de Promo-ção e Igualdade Racial (Seppir) só épossível porque se aceitou esse desa-fio. Matilde Ribeiro, Ministra daSeppir, veio especialmente de Brasíliapara ser uma das pessoas homenage-adas. Ela lembrou que o 13 de Maiotem significado muito importante paraa vida brasileira. “Hoje 119 anos de-pois não podemos dizer que a liber-dade foi concluída. Não temos quelembrar apenas como lamentos, parapodermos valorizar o futuro. Essa ini-ciativa tem que se multiplicar com oconteúdo a partir do olhar da mudan-ça de uma sociedade em que se inseretodos nós, do jeito que somos.”“Existem momentos na vida em queas palavras não exprimem os senti-mentos. A gratidão é uma virtude,mas por si só acaba sendo um defei-to. Há algum tempo perguntei para oDr. Vicente o que eu poderia fazerpelos afro-descendentes e ele me dis-se: venha, se aproxime, se apresentee mostre para eles o que é possível.Digo isso com certeza: é possível”,lembrou Benedito Gonçalves, Desem-bargador Federal do Tribunal Regio-nal Federal/RJ, homenageado.“Há muitos anos atrás, José Vicenteme procurou, falou da Afrobras e dosseus sonhos. Eu, humildemente, deiuma pequena contribuição para queesse sonho fosse realizado. Hoje, es-tou muito feliz em receber essa hon-raria e aproveito para afirmar que aCâmara Municipal está de portasabertas para todos nós juntos fazerdo Brasil um país cada vez melhor,”salientou Adilson Amadeu, Vice-

Alunos da Unipalmares entregando medalha a Mauro Raphael (HSBC)

Celso Jatene (Vereador), Agnaldo Timóteo (Vereador) e Adilson Amadeu (Vice-presidente da Câmara de São Paulo)

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13 de Maio

Público presente

presidente da Câmara de São Paulo.Realizado há 10 anos pela Afrobras –Sociedade Afro Brasileira de Desen-volvimento Sócio Cultural, a outorgada Medalha do Mérito Cívico AfroBrasileiro, este ano aconteceu na noi-te de 14 de maio, no campus da Uni-palmares. Além das personalidades jámencionadas, também foram agracia-das: Fundação José de Paiva Nettorecebida pelo Diretor de Comunica-ção Celso de Oliveira, José Luiz R.Bueno, Diretor de RH do Bradesco,Valéria Riccominni, Gerente de Atra-ção do Itaú; Celso Jatene, Vereador deSão Paulo; e Eduardo Suplicy, Sena-dor, que com muito entusiasmo en-cerrou a cerimônia cantando juntocom o Coral Unipalmares.

Eduardo Suplicy (Senador) e Coral Unipalmares

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Maria Cristina Carvalho e Fábio Barbosa (ABN Amro)

Pai Francisco

Ruth Lopes

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Por ocasião da cerimônia da entrega daMedalha do Mérito Cívico Brasileiroforam realizadas aberturas das mostrasMulheres Negras, do artista plásticoTom Ruthz, e Mulheres Negras doBrasil com algumas das imagens e pai-néis que compõem o livro de SchumaSchumaher e Érico Vital Brazil (SenacEditoras), obra cujo título leva o mes-mo nome da exposição.

O livro Mulheres Negras do Brasillançado no campus da Unipalmares,em maio, trata de maneira inédita ahistória das mulheres negras brasilei-ras, desde sua chegada ao País até osdias atuais.

ExposiçãoExposiçãoExposiçãoExposiçãoExposiçãoMulherMulherMulherMulherMulheres Negrases Negrases Negrases Negrases Negras

13 de Maio

Celso de Oliveira, Fundação José de Paiva Netto

Tom Ruthz

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Milton Matsumoto (Bradesco)

Apresentadoras do programa Negros em Foco

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entrevista internacional

Por: Zulmira Felício, Editora

omeçodegrandefuturo

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Stephen Bourne, CEO da CambridgeUniversity Press (CUP) - uma das mai-ores e mais antigas editoras de livrosacadêmicos e didáticos do mundo, es-teve no Brasil, em maio, e incluiu emseu roteiro pelo País uma visita à Uni-versidade da Cidadania Zumbi dosPalmares. Seu interesse em conhecer aessa instituição mais de perto se justi-fica. Nascido em Uganda e moradorno Quênia até os 21 anos, Bourne con-viveu com as diferenças raciais no seudia-a-dia, às quais ele e a família sem-pre recriminaram. Como CEO daCambridge University Press, Bourneacompanha os projetos que a CUP re-aliza em diferentes países. Com o focona responsabilidade social, a empresaacaba de fazer uma doação de materialdidático e pedagógico do idioma inglêspara a Unipalmares. Na oportunidade,ele esteve acompanhado de João Ma-

dureira, da CUP unidade brasileira,Daniela A. Meyer, do Instituto Brasil -Estados Unidos (IBEU), e das repre-sentantes da Associação Alumni, GláuciaM. Ferro, Marie Adele Ryan e SuzanneMonte. Entusiasmado com o trabalhodesenvolvido pela instituição e com oprojeto Unipalmares/Alumni, Bourneconcedeu com exclusividade a entrevis-ta que segue para a Afirmativa Plural.Afirmativa – Qual o seu interesseem conhecer a Unipalmares e comoo senhor analisa essa iniciativa deoferecer curso superior e colocar onegro no mercado de trabalho?Stephen Bourne – Tomei conhecimen-to da Unipalmares por intermédio dorelatório da CUP no Brasil e quis co-nhecer pessoalmente a iniciativa. Fiqueimuito interessado e pretendo voltar aessa instituição. Adianto que a CUPpoderá desenvolver outras ações junto

a Unipalmares. Vivi na África, basica-mente, nos tempos coloniais quando asoportunidades não existiam para a po-pulação negra, somente para os filhosde brancos e alguns asiáticos. Eu e mi-nha família considerávamos isso erradoe que o mundo tinha que mudar. Essainiciativa é a mudança acontecendo... Aoportunidade para que a educação e oincentivo oferecidos a essa populaçãoatinjam um bom nível de modo que elatenha competitividade para ganhar omercado de trabalho. É uma iniciativaexcelente, um modelo que deve ser di-vulgado e ampliado mundo a fora.Afirmativa – Que avaliação fazapós concluir a visitar?Stephen Bourne – Mais do que umaidéia excelente, o espaço físico é con-vidativo e agradável. Existem condi-ções para expansão, aumentando ainfra-estrutura local. É certo que os

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entrevista internacional

Stephen Bourne e José Vicente

alunos vão querer aprender na Unipal-mares e se sentirem valorizados. E issodeve trazer os resultados propostosdessa instituição que é oferecer educa-ção de qualidade e melhoria da condi-ção de vida. “I love it”.Afirmativa – Qual mensagem o se-nhor deixa aos alunos 87% afro-des-cendentes declarados?Stephen Bourne – Esse é um começo deum grande futuro. Portanto, você (alu-no) aproveite cada momento, pois quan-do olhar para o passado terá orgulho deter participado dessa história. Boa sorte.Afirmativa – O senhor conhece ou-tros projetos semelhantes a esse?Stephen Bourne – Conheço uma inici-ativa em Cabo, na África do Sul, ondeem conjunto com o Instituto Africanode Matemática, a CUP e outras empre-sas iniciaram um projeto semelhante,

mas voltado a estudos específicos naárea de Matemática para alunos caren-tes daquele local. O espaço físico queutilizamos era um hotel desativado,montamos uma biblioteca muito bemequipada, e criamos uma atmosferaconvidativa, confortável e motivacio-nal. Temos tido resultados positivos eimediatos. Toda viagem que faço à Áfri-ca do Sul visito o local, fico satisfeito eemocionado. O projeto começou há 4anos atrás, com cerca de 30 alunos.Hoje, tomam parte dele 60 jovens etende a ser ampliado.Afirmativa – Quantos projetos aCUP apóia no Brasil?Stephen Bourne – São 25 projetos nototal, de norte a sul do País, dentre osquais o do IBEU, no Rio de Janeiro e,em São Paulo, a Associação Alumni, alémde outras instituições que trabalham com

o ensino de línguas e que contam comos livros da Cambridge Univesity Press.Afirmativa – Em números, quantosalunos são atendidos nesses proje-tos no País?Stephen Bourne – No final de 2006,assistimos 5 mil alunos. Ano a ano, onúmero de pessoas atendidas aumentaem função de novos projetos que serepetem. Agora, com a Unipalmares,mais 700 alunos serão assistidos comdoações de livros da CUP.Afirmativa – O trabalho da CUP ter-mina com a doação de livros?Stephen Bourne – Não. É um traba-lho que tem sustentabilidade, é perma-nente, sendo os alunos acompanhados.Os objetivos do projeto têm que seratendidos. Não fazemos filantropia quetermina com a doação do material. Onosso trabalho é efetivamente de res-ponsabilidade social. !

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cidadania

reduçãoda idadepenal Muito se tem

discutido sobre a redução da idade penal, isto é, apartir de que faixa etária uma pessoa responde

penalmente por seus atos. A Constituição da República fixaatualmente em 18 anos o patamar mínimo para a aplicação

da legislação penal e determina que a quem praticar crimeantes dessa idade devem ser aplicadas medidas sócio-

educativas, aptas a propiciar ao infrator um tratamentodiferenciado, que leve em consideração o

desenvolvimento incompleto de suapersonalidade.

Por: Rodrigo César Rebello Pinho,Procurador-geral de Justiça de São Pauloe Presidente do Conselho Nacional deProcuradores-Gerais do MinistérioPúblico dos Estados e da União

Dentre essas medidas, está a interna-ção, hoje limitada ao tempo máximode três anos. Medida extrema, é apli-cada essencialmente naqueles casosem que o crime praticado, por sua na-tureza e gravidade, exige que o Esta-do restrinja a liberdade do infrator, afim de que, no período de internação,haja a possibilidade de um acompa-nhamento mais estreito da conduta doautor do delito, buscando, como as de-mais medidas, a recuperação do infra-tor e afastando-o da vida criminosa.

Alegam alguns, contudo, que a legis-lação existente encontra-se superadapela realidade. Crimes bárbaros sãocometidos por adolescentes com ida-de próxima à de 18 anos, e o máximode três anos em que ficarão interna-dos não são considerados suficientespara impedir que, uma vez de volta aoconvívio social, retornem ao crime.Afirma-se, ainda, que um adolescentede 16 anos pode participar do sufrá-gio eleitoral, escolhendo até o presi-dente da República, não se entenden-

do por que, então, não pode respon-der plenamente por seus atos, inclusi-ve na esfera penal.Entende a Procuradoria-Geral de Jus-tiça de São Paulo que a redução da ida-de penal não é medida adequada. Se écerto que há pessoas que, antes dos 18anos, podem ser tidas já como adultas,não é menos correto que a imensa mai-oria dos adolescentes, antes dessa ida-de, não passa de pessoas em formação,e se lhes são outorgados alguns direi-tos, muitos outros lhes são negados,

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Rodrigo César Rebello Pinho

principalmente pela legislação civil.Ademais, o Brasil é um país continen-tal, e as múltiplas realidades sociaisque abriga não aconselham legislarpela exceção: não há como seremcomparados, em amadurecimento eexperiência de vida, adolescentes maisricos com mais pobres – e a reduçãoda idade penal atingiria, igualmente, auns e a outros, o que, pela configura-ção da pirâmide social brasileira, acar-retaria maior punição justamenteàqueles das camadas mais excluídas

socialmente. Contudo, é perfeitamentepossível, respeitada a atual idade pe-nal, pensar-se em soluções diversaspara situações diversas. Afinal, o prin-cípio da igualdade, segundo TobiasBarreto, consiste em tratar igualmen-te os iguais e desigualmente os desi-guais. Uma das alternativas defendi-das pela Procuradoria-Geral de Justi-ça de São Paulo é o aumento do tem-po máximo de internação. A limita-ção em três anos, para todos os casos,parece irrazoável, e, muitas vezes, be-

neficia o discurso extremista, que sevale do sentimento difuso de impuni-dade para exacerbar os ânimos da po-pulação. Por que não permitir que, emsituações específicas, o juiz possa apli-car um prazo de internação maior, queconsidere tanto a personalidade doagente quanto a gravidade do delitopraticado?O debate é necessário e sempre bem-vindo, mas que nele prevaleçam a ra-zão e os valores mais caros à civiliza-ção, duramente conquistados. !

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Não existem instrumentos capazes demedir os níveis de racismo no País.Caso houvesse, certamente poderiamaferir que essa prática pertence a umaminoria da sociedade, que ainda nãotomou consciência da importância dorespeito e tolerância. Portanto, a gran-de maioria dos brasileiros tem demons-trado capacidade de conviver harmo-nicamente com todas as etnias, os cre-dos, as orientações sexuais. Semprehaverá as vozes intolerantes, reticentes,refratáveis. Houve avanços pequenos,porém significativos, paradigmáticos.Dessa forma, os dados positivos me-recem serem comemorados como for-ma de estimular a busca do entendi-mento, da coexistência pacífica entreas muitas raças que compõem o povobrasileiro, parafraseando o estudiosoDarcy Ribeiro, apesar das correntes ex-tremistas que incitam o ódio ou perso-nalidade que defende o contra-ataque.O racismo, todos nós sabemos, temefeitos em questões básicas da vidaquotidiana e impede o florescimentode uma sociedade verdadeiramente plu-ral. Para isso, precisamos implementarpolíticas públicas, muito transparentese muito eficientes. Não estaremos so-zinhos. Nos Estados Unidos, as políti- !

cas afirmativas vêm sendo implemen-tadas desde os anos 50. No continenteeuropeu, uma corrente de europarla-mentares arquiteta o novo arcabouçolegal para todas as nações-membrocom vistas a combater o racismo e cri-ar oportunidades de igualdade para to-das as raças. Faz pouco tempo, insta-lou-se, com sede na capital austríaca, aAgência dos Direitos Fundamentais daUnião Européia com o escopo de fo-mentar debates sobre o tema. São mo-delos que têm conquistado resultadose podem servir de balizamento.Entre os mais legítimos instrumentosde transformação social a serem repen-sados estão os meios de comunicação,um fabuloso canteiro para a socializa-ção positiva, a caminho da almejadapluralidade social. Queremos o fim donoticiário, das novelas, dos filmes, doshumorísticos que tratam a afro-descen-dência com um elemento menor. HáPouquíssimos anos, sequer imaginarí-amos um casal de atores afro-descen-dentes sendo protagonista de uma no-vela em horário nobre, com imensosucesso e altos índices de penetraçãona sociedade nacional. Nem uma atle-ta negra brilhando num esporte eliti-zado, como a ginástica olímpica. Ou

um negro na mais alta Corte de Justi-ça. Ou apresentadores de telejornais erepórteres ocupando posições de des-taque. Ou seja, trata-se de aproveita-mento das oportunidades, embora con-venhamos ainda continuam sendo pou-cas diante de tamanha demanda.Lentamente, elementos da cultura ne-gra se instalam na rotina nacional, mu-dando a percepção da sociedade emgeral em relação à temática. As cidadesde São Paulo e Rio de Janeiro já come-moram, com feriado local, o Dia daConsciência Negra na data da morte dolíder Zumbi de Palmares - 20 de novem-bro de 1695. Outros municípios brasi-leiros estudam seguir o modelo. Por lei,temas afro-brasileiros e inerentes aocontinente africano devem ser imple-mentados nas escolas tantos públicascomo privadas. Na capital paulista, ummuseu dedica-se cultuar a história e acultura do negro na sociedade, desde osseus primórdios e é gerido por um ar-tista negro. E uma universidade, na ca-pital paulista, a Unipalmares, tem seuescopo centrado na cultura negra. Sãopontuais, é verdade, mas são conquis-tas que não podem ser desprezadas.Uma grande caminhada se começa como primeiro passo.

para uperar o

racismoPor: Luiz Flávio Borges D’Urso, Presidente da OAB - SP – Ordem dos Advogados do Brasil

oportunidade

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Luiz Flávio Borges D’Urso

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Há mais de meio século, de quatro emquatro anos, o mundo se articula paraa participação dos Jogos Pan-Ameri-canos, numa espécie de aquecimentopara os Jogos Olímpicos.Em pauta o jogo, a fantasia, o desejode transformar em ação concreta o re-sultado de anos de treino, dedicação,suor e dor em prol de um ideal voltadopara a superação dos próprios limites.A história humana é pautada pelo mo-vimento natural de dominar a nature-za, para transformá-la em benefício desuas necessidades de sua sobrevida.Sobreviver para viver, tem sido a bata-lha que atravessa gerações. Em ummovimento intenso que nos coloca emcontato com nossas dualidades, potên-cia e impotência, interno e externo ca-minham juntos na busca do equilíbrio– desequilíbrio que move e promovediferentes encontros consigo mesmo

e com outro, quer nos contextos pri-vados quer nos coletivos.O Brasil, especialmente o Rio de Ja-neiro, se prepara para receber os atle-tas e as delegações de todas as partesdo mundo. E durante alguns dias, di-ferentes povos irão compartilhar umalinguagem comum, ditada por um con-texto que inclui regras que regem osjogadores e o próprio jogo, possibili-tando o estabelecimento de relaçõescom pessoas e objetos.A população negra mais uma vez se fazpresente, seus inúmeros atletas estarãorepresentando o nosso País em diver-sas modalidades, com sua capacidadeinesgotável de criar e recriar possibili-dades, apresentando seu modo históri-co de superar obstáculos, com sua gar-ra, vitalidade, vontade de ser e de sefazer presente. Potencializando a essên-cia humana espontânea - criativa, numa

parceria que envolve e aglutina senti-mentos, emoções, corpo e mente.Nossos representantes, como atores eautores do seu ser e do seu fazer seempenham cientes do seu papel comoreferência de um legado recebido dasgerações que os antecederam, da im-portância que representam para as atu-ais e para aquelas que os sucederão.Os Jogos propiciam também a aprendi-zagem como um processo de apropria-ção das experiências, na interação entresujeito e objeto. Aprendizagem não sópara os atletas envolvidos diretamentecom as atividades das competições, mas,também para a população como umtodo, o aprender ganhar e perder, dar ereceber, potencialidade e impotência, li-mite e superação, exercícios necessári-os para entrarmos em contato com adualidade humana. Estaremos atentosna expectativa do grande encontro! !

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Maria Célia Malaquias

ualidadesprendera

Por: Maria Célia Malaquias,Mestre em Psicologia Social, Coordenadorado NAP - Núcleo de Apoio Psicológico daUnipalmares - [email protected]

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umana

raçaPor: Juçara Braga, especial para Afirmativa Plural

história escrita

Acesa no dia 4 de maio, na Cidade doMéxico, a Tocha Pan-americana come-çou sua trajetória, no Brasil, em SantaCruz Cabrália, na Bahia, dia 5 de maio,iniciando uma maratona na qual 3 milpessoas percorrerão, em 50 dias, 42cidades, representando o número depaíses que participam dos XV JogosPan-Americanos, que terão 5.500 atle-tas de 34 modalidades esportivas.

O Brasil será representado por 678atletas, sendo 383 homens e 295 mu-lheres, a maior delegação brasileira emum evento esportivo internacional.Entre eles, a força negra destaca-secomo exemplo de garra e superação.Se, no Brasil, atletas, de modo geral,ainda encontram grandes dificuldadespara viver de seu ofício, para atletasnegros, não raro, os obstáculos são

maiores, face o grande abismo socio-econômico que ainda separa negros ebrancos no País.É para eles e elas, atletas negros enegras, orgulho da raça, que Afir-mativa Plural tira o chapéu e pres-ta homenagem neste passeio pelotempo que revela a indelével marcada presença negra nos Jogos Pan-Americanos.

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No basquete, a garra queconquistou respeito

internacional

Em 14 edições do Pan, a Seleção Bra-sileira de Basquete masculina conquis-tou quatro medalhas de ouro, duas deprata e seis de bronze. Fazem partedessa história de sucesso, os atletasnegros Carmo de Souza, conhecidocomo Rosa Branca (1959/63); EdsonBispo dos Santos (1955/59/63);Adilson de Freitas Nascimento (1971/75/79/83); e Gerson Victalino (1987/91), entre outros que vêm contribuin-do para posicionar o basquete brasilei-ro entre os melhores do mundo.Embora a equipe que participará dosJogos este ano ainda não esteja defi-nida, deve brilhar, nas quadras, a for-ça negra de Welington Reginaldo dosSantos (Nézinho), Alex Garcia,

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Janeth, Alessandra e Cintia

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Maybyner Hilário (Nene), MarcusToledo dos Reis e Leandro Barbosa,o Leandrinho que, aos 24 anos, é umdos grandes nomes da Liga de Bas-quete norte-americana (NBA), atua noPhoenix Sun, e tem extenso currículode vitórias na Seleção Brasileira.A Seleção feminina participou de 12edições do Pan, conquistando novemedalhas, sendo três ouro, três pratae três bronze. Nessa trajetória estive-

ram a força negra de Marta de SouzaSobral (1983/87/91), Ruth Roberta deSouza (1987/91) e Roseli do CarmoGustavo (1991/99).A equipe deste ano ainda não está de-finida, mas, na linha de frente, estãosete jogadoras negras. Entre elas, Janethdos Santos Arcain, tetracampeã da LigaFeminina de Basquete norte-america-na (WNBA) pelo Houston Comets, vá-rias vezes campeã brasileira, medalhista

nas Olimpíadas de Atlanta e Sidney,campeã pelo Mundial de Seleções e me-dalha de ouro no Pan de Havana (1991)pela Seleção Brasileira.Junto com ela, buscando o ouro para obasquete feminino no Pan do Rio de-verão estar Cíntia Silva dos Santos,Kelly da Silva Santos, Graziane de Je-sus Coelho, Micaela Jacintho, JaquelineSilvestre e Karen Rocha.No vôlei, as equipes também ainda nãoestão definidas, mas a expectativa é deque a Seleção masculina venha com araça negra de Escadinha, Anderson eSamuel. Na turma feminina, Fabiana,Regiane, Sassá, Fofão e Arlene. Nofutsal, Alessandro Rosa Vieira, o Fal-cão, eleito melhor jogador do mundoem 2004, pela Fifa, é uma das promes-sas brasileiras do Pan.

A cor brasileira que dáo tom no atletismo

Aos 26 anos, o paranaense JadelGregório é um dos grandes nomes doatletismo brasileiro da atualidade. Eleacaba de cravar 17,90 m no salto triplo,superando o recorde sul-americano es-tabelecido por João do Pulo há 32 anos,no Pan do México. O feito se deu noGP Brasil de Atletismo realizado emmaio, em Belém (PA), como etapa pre-paratória para o Pan.No mesmo evento, a saltadora pernam-bucana Keila Costa, 24 anos, estabele-ceu a melhor marca mundial deste anono salto em distância, ficou à frente darecordista norte-americana AkibaMcKinney e levou para casa a medalhade ouro, pavimentando seu caminhopara o Pan.A gaúcha Daiane Garcia dos Santos, 24anos, vem emocionando o Brasil comseus feitos na ginástica olímpica e é umdos grandes nomes brasileiros no Pan

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deste ano, embora a equipe ainda não esteja definida. Commedalhas de prata (individual) e bronze (equipe) no Pan deWinnipeg, no Canadá, em 1999, e uma de bronze (equipe) noPan de Santo Domingo, em 2003, Daiane chega ao Pan doRio com seu talento já reconhecido internacionalmente.Na ginástica de solo, Daiane foi campeã mundial em Anaheim,na Califórnia (2003); medalha de ouro nas etapas da Copa doMundo de Stuttgart (Alemanha), Lyon (França), Cottbus (Ale-manha) e Rio entre 2003 em 2004; e foi a 5a colocada nasOlimpíadas de Atenas em 2004.Aos 24 anos, Aline Campeiro, vem sendo apresentada, namídia, como a atleta do momento no halterofilismo brasileiroe, certamente, será um dos sete nomes que integrará a equipebrasileira de levantamento de peso no Pan 2007. Medalha debronze nas modalidades arranco e arremesso e prata pelo de-sempenho total nos Jogos Sul-americanos realizados emBuenos Aires no final do ano passado, Aline foi velocista e,como boa parte dos atletas brasileiros, enfrenta a falta de re-cursos que dificulta sua participação em eventos competitivos.

Atletas que fizeram adiferença no esporte nacional

João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, é um dos mais popu-lares atletas brasileiros. Recordista mundial no salto triplo noCampeonato Sul-americano em 1973, ele conquistou duasmedalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos da Cidade doMéxico em 1975 – nos saltos à distância e triplo, estabelecen-do, neste último, o recorde de 17,89 m, marca que permaneceuinatingível, em nível mundial, por 10 anos e, em nível sul-americano, só foi superada este ano por outro brasileiro negro,Jadel Gregório. Bicampeão no salto triplo e à distância no Pande Porto Rico, em 1979, João do Pulo foi medalha de bronzenas Olimpíadas de Montreal em 1976 e Moscou em 1980.Joaquim Cruz saiu de Taguatinga, na periferia de Brasília, parainscrever o nome do Brasil com fio de ouro em competiçõesinternacionais de velocidade. Ele foi o primeiro atleta brasileiro,e único até hoje, a ganhar medalha de ouro em prova de pista emuma Olimpíada. O feito aconteceu em Los Angeles, em 1984.Várias vezes recordista brasileiro e sul-americano, Joaquim

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conquistou sete medalhas de ouro, umade prata e uma de bronze para o Brasilentre 1980 e 1995. Em Jogos Pan-Americanos, ele subiu ao pódio qua-tro vezes para receber o ouro (EUA/1987, Argentina/1995 e duas vezes nojuvenil do Canadá em 1980).O velocista carioca Robson Caetano daSilva bateu o recorde sul-americano nos100m em 1988/89/91, foi medalha debronze nas Olimpíadas de Seul (1988)e Atlanta (1996) e tricampeão na Copado Mundo entre 1985 e 1992. Levounovamente o bronze para casa no Pande Indianópolis (EUA) em 1987 e feza torcida brasileira vibrar com a con-quista de duas medalhas de ouro noPan-americano de Havana, em 1991.Outro carioca, Arnaldo de Oliveira Sil-va, também construiu seu nome naspistas de atletismo. Ele participou dequatro Olimpíadas entre 1984 e 1996,conquistando o bronze nesta últimaedição, em Atlanta (EUA), na prova derevezamento da qual também partici-pou Robson Caetano. Em 1985,Arnaldo levou prata e ouro, respecti-vamente nos 200m e 100m, no Cam-peonato Sul-americano de Atletismo.O paulista Nelson Prudêncio fez histó-ria no atletismo brasileiro a partir dadécada de 1960. Bateu o recorde mun-dial do salto triplo em 1968, trazendopara casa uma das três medalhas de pra-ta que o Brasil conquistou nos JogosOlímpicos do México. Foi medalha debronze nos Jogos de Munique em 1972e consagrado, na década de 1980, comoum dos 10 melhores do mundo no sal-to triplo em todos os tempos.Outro grande nome do atletismo bra-sileiro, considerado um dos principaismeio fundistas do mundo, o mato-grossense José Luís (Zequinha) Barbo-sa bateu o recorde mundial dos 800 m

em 1983 na disputa pelo Troféu Brasile conquistou a medalha de prata noCampeonato Mundial Interclubes deTóquio em 1991. Zequinha participoude quatro Olimpíadas e trouxe para casa,em 1987, a única medalha de ouro con-quistada pelo Brasil até hoje em umMundial indoor (Indianápolis/EUA).

Em 1991, no outdoor de Tóquio, no Ja-pão, Zequinha conquistou a prata e, noPan de Mar del Plata, em 1995, foi ouro.

Martelo Negro marcouépoca no boxe

Ao longo dos anos, a presença negratem sido marcante nos Jogos Pan-ame-

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ricanos. Não é objetivo desta matériafalar sobre todos os jogadores negrosque fizeram – e farão este ano, no Rio– a história do Pan, até porque issoexigiria uma edição inteira da revista.Assim, para homenagear todos esseshomens e mulheres que, com sua lutapessoal, vêm superando desafios e dei-xando sua marca e na história com aforça e a garra de quem nasceu parabrilhar, Afirmativa Plural resgata amemória do lutador de boxe LuizIgnácio da Silva, paulista que reinounos ringues nas décadas de 1950/60,época de embates históricos na lutapela afirmação da raça negra.Luizão “Martelo Negro” foi o primei-ro pugilista a conquistar, nesta catego-ria, uma medalha de ouro para o Brasilem Jogos Pan-Americanos (Cidade doMéxico, 1955). Ele foi campeão brasi-leiro e sul-americano, registrando, em52 lutas, 37 vitórias, das quais 20 pornocaute. Uma história que começou

com os treinos nas horas de folga naEstrada de Ferro Sorocabana, ondeLuizão trabalhava como carregador.

Em busca de incentivo

Aos 70 anos de vida, a atleta Aída dosSantos ainda desfralda a bandeira brasi-leira de mais incentivo ao esporte. “Asituação é melhor do que na minha épo-ca. Hoje temos material humano de pri-meira qualidade, inclusive técnicos bra-sileiros com os quais se aprende muito.Eu não tinha nem técnico”, recorda-se.De origem pobre, ela aos 19 anos saltoupara o atletismos por acaso. Aos finaisde semana pegava carona na bicicleta deuma amiga para juntas irem jogar vôlei.Por insistência da colega resolveu sal-tar. Na primeira tentativa atingiu 1,45m,e igualou-se ao recorde brasileiro.Aída dos Santos teve muito que supe-rar, não só no esporte. Treinava contraa vontade do pai, trabalhava em qua-tro lugares para ajudar no sustento da

família, “muitas vezes, treinava o diainteiro com apenas um pão com man-teiga”. Em 1964, nos Jogos de Tóquioalcançou 1,74m, conquistando a 4ª co-locação em saltos em altura.A carreira de sucesso não está apo-sentada, Aída dos Santos ainda parti-cipa de jogos e competições. O desa-fio e a garra estão presentes na suavida, de tal modo, que junto com afilha Waleskinha (hexacampeã da Se-leção de Vôlei), criaram a FundaçãoAída dos Santos, em Niterói, para as-sistir crianças de 7 a 15 anos na áreaesportiva. Atualmente a instituiçãoabriga 80 crianças. “É muito bom tra-balhar com elas, pois aprendem brin-cando. Sempre digo para meus futu-ros atletas: é preciso acreditar em si,querer vencer, perseverar, ter força devontade e ir à luta”. Por isso, Aída dosSantos foi outorgada com o troféuAdemar Ferreira da Silva, Prêmio Bra-sileiro Olímpico 2006 (foto).

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Unipalmares

A cultura esportiva no Brasil sóvai melhorar quando houver um

trabalho de excelência do ensinofundamental ao superior

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Professor Wagner Sergio Pereira (em pé a direita) e equipe de esportes

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A cultura esportiva hoje é uma realida-de na Unipalmares - Universidade daCidadania Zumbi dos Palmares. Issoporque foi instituído um departamen-to de Educação Física para todos osalunos e funcionários da instituição,incluindo um programa de conscien-tização nutricional. As primeiras mo-dalidades trabalhadas serão: atletismo,basquetebol, futsal, handebol, volei-bol e judô. O pontapé inicial se deu com a cria-ção de um sub-departamento das mo-dalidades competitivas que vão con-templar o atletismo, o basquete e fute-bol (masculino e feminino) e o volei-bol (feminino). Toda a coordenaçãodesse trabalho é de responsabilidade doprofessor Wagner Sergio Pereira, gra-

duado em Letras e Educação Física,com pós-graduação na Universidade deSão Paulo e na Escola Superior de Pro-paganda e Marketing, em Cuba e emNova York, e fundador gestor do Ins-tituto Black Friends Basquetebol.Uma vez instituído o projeto de Es-portes, começaram as seletivas para adefinição do time que irá representar ainstituição em jogos estaduais e fede-rais. O ponto de partida será a Federa-ção Universitária Paulista de Esportes(FUPE), no próximo semestre, quan-do ocorrem os campeonatos entre asuniversidades.Além dos alunos da instituição, tam-bém participam desse projeto os atle-tas de excelência nessas modalidades,aptos a ingressar na Unipalmares. O

objetivo é formar equipes competiti-vas em parceria com o Instituto BlackFriends. Segundo o prof. Wagner Ser-gio Pereira “a proposta é desenvolverum projeto sócio-esportivo para a co-munidade onde a instituição está ins-talada. Isso inclui também o intercâm-bio com atletas de outras universida-des brasileiras e de países do exteri-or”, empolga-se.Na área sócio-esportiva, a universida-de tem a intenção de desenvolver umaescolinha de judô, de futsal e de volei-bol para jovens de até 14 anos e já estáaprovada a construção de uma acade-mia de ginástica (fitness) dentro docampus para atender a todos os fre-qüentadores do local, além da criaçãode um ginásio poliesportivo. !

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De 13 a 29 de julho, o Rio de Janeiro deverá receber 5.500atletas, de 42 países para competirem em 34 modalidades

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César Maia – Prefeito do Rio de Janeiro

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Por: Zulmira Felício, Editora

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Complexo do Autódromo - Arena Multiuso -Obras Ginásio

Complexo Esportivo do Autódromo: ParqueAquático

Estádio Olímpico Municipal João Havelange –Fase Final

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A conquista dos Jogos Pan-Americanosde 2007 significa muito mais do que apossibilidade de realizar um megaeven-to esportivo com mobilização de pes-soas, por 15 ou 30 dias. É a oportuni-dade única para fazer do Rio de Janei-ro a Capital Esportiva da América do Sul,além de gerar investimentos diretos eindiretos, atraindo investidores para nu-merosos empreendimentos ligados aoesporte. A declaração é do prefeito da

cidade do Rio de Janeiro, César Maia,em entrevista exclusiva para a Afirma-tiva Plural.Afirmativa - O turismo está sendofortemente incentivado com o Pan.Quais são as providências empre-endidas pelo município?César Maia - A intensificação do turis-mo e a divulgação do conhecimento

sobre o país-sede dos Jogos elevam ain-da mais o Rio de Janeiro em sua posi-ção de porta de entrada do turismo noBrasil. Toda a cidade está preparada parareceber turistas brasileiros e estrangei-ros. Não só no período dos Jogos. Trei-namos mais de cinco mil pessoas atra-vés do projeto “Rio Hospitaleiro”. Sãoprofissionais de diversas áreas, comoguardas municipais, taxistas, motoristasde ônibus, além dos que atuam nos se-

tores de hotelaria, bares, restaurantes esimilares, como camareiras, guias turís-ticos, cozinheiros, barmens, garçons etc.Afirmativa - O programa de volun-tários para o RIO 2007 e a criaçãode empregos levarão à capacitaçãode uma mão-de-obra qualificadaem diferentes áreas, essencial-mente, no atendimento ao visitante

estrangeiro. Qual é a atuação daPrefeitura nesse sentido?César Maia - Além do Projeto “RioHospitaleiro”, a Prefeitura do Rio atuano programa “Hospedagem Domiciliar”com o objetivo de informar, estimulare ajudar os interessados a disponibili-zar quartos em suas residências. Lan-çamos um site exclusivo para isso:www.rio.rj.gov/hospedagemdomiciliar.Afirmativa - Os Jogos colaboram

para estreitar os laços tanto com oRio de Janeiro quanto o Brasil, prin-cipalmente, junto aos países daAmérica. Em sua opinião, o que re-presentará a experiência do Panuma vez que a cidade será expostamundialmente?César Maia - A certeza de que podere-mos sediar outras competições comoas Olimpíadas e a Copa do Mundo. OPan colocará o Rio de Janeiro no ro-teiro dos megaeventos mundiais.

Afirmativa - Fale sobre os benefíci-os sociais que irão surgir a partir doevento.César Maia - Além da abertura de em-pregos, o incentivo à descoberta denovos atletas para termos uma geraçãofutura engajada na prática do esporte.Isso é um grande benefício social.

Afirmativa – E sob o ponto de vistada economia?César Maia - Levantamentos relativosao valor econômico dos esportes

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Parque Aquático Maria Lenk

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mostram que nenhuma atividade eco-nômica tem maior expressão sobre oPIB de uma nação. O primeiro e gran-de multiplicador está ligado à própriaatividade esportiva que, além de atletas,necessita de técnicos em geral, médicose massagistas específicos, profissionaisde apoio, do roupeiro à limpeza. Semesquecer que os clubes e os estádiosprecisam de administradores, técnicosem iluminação, eletricidade, manuten-ção, conservação, bilheteiros etc.Durante os Jogos, intensifica-se a de-manda de transportes, significandomais empregos e maior consumo decombustível. No comércio, há aumen-to da procura de bares e restaurantes,compra de brindes, bandeiras e lem-branças de todo o tipo. Multiplica-se aindústria de confecções. Trinta anosatrás, o material esportivo era usadoapenas pelos atletas, nas competições.Hoje, a produção de roupas, incluindoo design, foi influenciada pelo esporte detal maneira que passou a compor o ves-tuário no dia-a-dia, independente da prá-tica esportiva. A mesma coisa aconte-ceu com a indústria de calçados; o tênis

tornou-se de uso rotineiro. Igualmentese deve ao esporte a exacerbação doculto ao corpo e, com isso, a prolifera-ção de salas de ginástica e musculação.Afirmativa - O esporte impulsionadiferentes setores, inclusive desper-ta nas pessoas a importância de suaprática no dia-a-dia.César Maia - Realmente, expande-se aEducação Física como prática educa-cional. Cresce a profissionalização defederações e clubes com seu corpo dedirigentes, especialistas e pessoal deapoio. No setor de saúde, o multiplica-dor vai da proliferação de práticasfisioterapeuticas e reabilitadoras sujei-tas à renovação permanente, até as vá-rias especialidades da Medicina Espor-tiva, com impacto em áreas médicas,como a Ortopedia. Acrescentam-se aesse cenário as pesquisas sobre vitami-nas especiais e nutrição. Há lojas ondese vende todo tipo de produtos liga-dos ao esporte, das vitaminas ao ves-tuário. Diversifica-se o merchandisingcom a imagem de atletas e treinadores.Portanto, os Jogos Pan-Americanos eParapan-Americanos no Rio serão sím-bolos de uma política de desenvolvi-mento sustentável.Afirmativa - Qual o destino da infra-estrutura que está sendo construídaapós a realização dos Jogos?César Maia - O Parque Aquático Mu-nicipal Maria Lenk vai sediar a Facul-dade Carioca de Esportes Aquáticos.A instituição terá de formar e aperfei-çoar atletas, prepará-los para compe-tições e servir como equipamento depadrão olímpico para competiçõesmunicipais, nacionais e internacionais,entre outras finalidades. O local tam-bém será utilizado por escolinhas es-portivas voltadas para a identificaçãode novos atletas. A Faculdade Carioca

de Esportes Aquáticos funcionarácom orientação da Confederação Bra-sileira de Esportes Aquáticos, atenden-do clubes, escolas e faculdades de Edu-cação Física. Conforme decreto muni-cipal publicado em 14 de fevereiro des-te ano, o Parque Aquático MunicipalMaria Lenk, situado na área do Autó-dromo de Jacarepaguá, será integradoà estrutura da Secretaria Municipal deEsportes e Lazer. A utilização do Es-tádio Olímpico Municipal JoãoHavelange, da Arena Multiuso e doVelódromo ainda estão em estudo.Afirmativa - No que diz respeito àsegurança, quais ações estão sendoempreendidas para asseverar a pro-teção do público em geral, incluin-do também os atletas?César Maia - Todo o esquema de segu-rança está a cargo dos governos fede-ral e estadual. A guarda municipal es-tará nas ruas, como sempre esteve.

Estádio Olímpico Municipal João Havelange -Engenhão - entrada principal

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Por: Matilde Ribeiro, Ministra da Secretaria Especialde Políticas de Promoção da Igualdade Racial

A evidência em torno do esporte emrazão dos XV Jogos Pan-Americanose III ParaPan-Americanos no Brasiltraz à tona exemplos de superação dasadversidades individuais e consagraçãode talentos natos, que nem mesmo osdramas pessoais conseguiram ofuscar.Diante das muitas trajetórias de ho-mens e mulheres que realizaram seussonhos através do esporte, percebe-mos a revelação de histórias em que oracismo e a discriminação racial forame são agentes limitadores.No país do futebol, os esportistas sãorepresentados por um número expres-sivo de talentos negros cuja consagra-ção contribui positivamente à auto-es-tima da nação. Portanto, é fundamen-tal que apoiemos e valorizemos os nos-sos atletas.Infelizmente é sabido que o esportepreferido dos brasileiros teceu suasraízes na proibição de participação denegros e na repressão da identidadenegra, inclusive com a negação de seustraços fenotípicos. Muitas barreiras fo-ram ultrapassadas, uma vez que asqualidades dos jogadores negros se so-brepuseram ao impedimento de par-ticipação, no entanto, não significa queo racismo tenha sido superado.

Esse quadro nos mostra que nem mes-mo a paixão nacional está dissociadada ação do racismo e da discriminaçãoracial como vimos em competições na-cionais recentes, em que jogadores sãoofendidos publicamente por conta dasua cor da pele ou traços étnicos. Noexterior, os atletas do futebol brasilei-ro e estrangeiro são vítimas de racis-mo, discriminação racial e xenofobia,problemáticas visibilizadas na Copa doMundo de 2006, quando a Fifa (Fede-ração Internacional de Futebol) am-pliou a campanha de combate ao ra-cismo no futebol com adesão de joga-dores negros e brancos. Isto é, o racis-mo deve ser combatido por todos.Na agenda do governo federal para osJogos Pan-Americanos e ParaPan-Americanos, a Seppir firmou convê-nios e cooperação com o Ministériodos Esportes e o governo do Estadodo Rio de Janeiro para valorização dacapoeira através do projeto Ginga Bra-sil, e também com o Comitê Olímpi-co garantindo o revezamento da tochados Jogos Pan-Americanos em umacomunidade quilombola e povoado in-dígena. Com isso, poderemos garan-tir uma maior inserção de jovens e po-pulação negra e pauperizada atendi-

das por projetos sociais, a fim de tra-balhar exemplos positivos e integra-dores durante os Jogos.O Pan no Brasil é um momento im-portante para visibilizar a resistêncianegra e indígena e a igualdade entre ospovos, como uma forma de afirmar aluta histórica dos afro-descendentespela liberdade e cidadania; dos indíge-nas pelo reconhecimento de suas tra-dições; e o respeito à diversidade raciale étnica como elementos construtoresda paz, do desenvolvimento e da sobe-rania nacional. Essa riqueza será de-monstrada durante a passagem da tochaque mantém acesos os ideais de inte-gração dos povos durante revezamentoem tribo indígena e comunidadequilombola, propiciando intercâmbio,afirmação da cultura nacional e o forta-lecimento de agendas democráticas devalidação de direitos de quilombolas, ne-gros e indígenas brasileiros.O caráter mobilizador do esporte e aspossibilidades de inclusão social e ci-dadania somam ao propósito de ge-rar oportunidades e despertar valorescomo civismo, saúde, espírito coleti-vo, superação individual, disciplina,entre outros. Trabalhemos todos paraum esporte sem racismo!

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A conquista do Rio para ser sede dosJogos Pan-Americanos de 2007 é fru-to de um sólido planejamento de polí-ticas públicas, que começou em 2001.Neste ano, a Prefeitura do Rio – a par-tir da Resolução 25 de 2006 da Secre-taria Municipal de Esportes e Lazer(SMEL) – redefiniu a promoção daprática esportiva e do lazer na cidade,como fator de inclusão social. A refe-rida resolução delineia quatro vetoresde ação para as políticas públicas deesportes e lazer cariocas:

• intervenção social alternativa à mar-ginalidade infanto-juvenil;

• inclusão social das pessoas porta-doras de deficiência;

• promoção social dos cidadãos daterceira idade;

• realização de eventos para divulgara cidade do Rio como referência doesporte.

A partir destas diretrizes, a Prefeiturainiciou um conjunto de ações públicasde estímulo ao esporte, com a implan-tação de projetos socioesportivos e acaptação de eventos de esporte para oMunicípio. De um lado, o municípiopatrocinou e deu incentivo fiscal paraos organizadores de competições na-

Por: Gustavo Cintra, Secretário Municipal de Esportes e Lazer da Cidade do Rio de Janeiro

cionais e internacionais. De outro,construiu centros esportivos (as ‘VilasOlímpicas’) e implantou escolinhaspúblicas de esportes, nos quais come-çaram a ser desenvolvidas atividadesesportivas e recreativas gratuitas, emhorário complementar ao da RedeMunicipal de Ensino.Assim, o Rio ganhou um novo perfilde política pública de esporte, interli-gada com a política municipal de edu-cação. Os professores das atividadesesportivas passaram a acompanhar odesempenho curricular de seus alunos.Para os que não estudavam, as própri-as Vilas Olímpicas facilitaram a matrí-cula escolar. E, como motivação com-plementar, estes jovens foram estimu-lados a participar dos eventos esporti-vos realizados no Rio, disputandocompetições preliminares, assistindoàs disputas ou, até, participando deoficinas com atletas profissionais.Dentro deste modelo, a educação pas-sou a ser “lecionada” durante a práti-ca esportiva. Cada vila possui um gru-po formado por pedagogos, assisten-tes sociais e psicólogos que, junto comos profissionais de educação física,exercitam, com suas turmas, os valo-

res sócioeducativos do esporte, comoa disciplina, a perseverança, e o traba-lho em equipe. Para atender ao públi-co idoso e aos portadores de deficiên-cia, os centros esportivos têm, tam-bém, grupos de professores que de-senvolvem atividades específicas. Estetrabalho conjunto gerou um ambien-te sócioesportivo, espaço para opor-tunidades de relacionamentos maisigualitários entre os freqüentadores,que estimula a cidadania e utiliza o es-porte como poderosa ferramenta deinclusão social.Hoje, a população do Rio conta comnove Vilas, dois parques de lazer e 400núcleos de projetos esportivos em lo-cais públicos. A Prefeitura, através daSecretaria Municipal de Esportes eLazer, destina, em média, R$ 40 mi-lhões, por ano, para a manutenção destarede de esportes e lazer, que atende acerca de 150.000 pessoas de todas asfaixas etárias. Além disso, o planeja-mento de investimentos da secretariaprevê a construção de outros cincocentros esportivos.Ao mesmo tempo em que novas vilassão construídas, a Prefeitura avançatambém no aperfeiçoamento da gestão

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dos centros esportivos já existentes.Em novembro de 2005, o municípioinaugurou uma série de parcerias comuniversidades para a co-gestão das Vi-las Olímpicas, com o objetivo de qua-lificar a política de esportes municipal.Com isso, professores e alunos de cur-sos como Educação Física, ServiçoSocial, Psicologia, Sociologia e Peda-gogia levaram para as vilas projetos dedepartamentos universitários.Como conseqüência deste estímulopúblico à prática esportiva, já surgemos primeiros talentos do esporte nascategorias de base algumas modalida-des, como a natação e o atletismo. São

jovens, alunos e alunas, entre 12 e 17anos, que se tornaram referência nasVilas Olímpicas em que treinam. Elesestão entusiasmados com o ambientepré-Pan 2007 e entusiasmam seus co-legas, através de suas vitórias no espor-te e da sua exposição na mídia. Os mo-radores do Complexo do Alemão, porexemplo – uma das áreas mais violen-tas do Rio –, acostumados a assistir areportagens sobre a criminalidade nolocal onde moram, agora, acompanham,também, as conquistas da equipe detaekwondo da Vila Olímpica da região,através de jornais e na televisão.Estes elementos demonstram como a

cidade está preparada para recebereventos esportivos e revertê-los, atra-vés de suas políticas públicas, em me-lhoria na qualidade de vida da sua po-pulação. O reconhecimento desta ca-pacidade do município foi decisivo navotação dos delegados da ODEPA(Organização Desportiva Pan-Ameri-cana), que escolheram o Rio, em detri-mento da cidade norte-americana deSanto Antonio, para sediar o Pan 2007.Depois dos Jogos Sul-americanos de2002, este será o segundo grande even-to esportivo internacional (e o maiorde todos) sediado na cidade. Mas, se-guramente, não será o último.

Gustavo Cintra

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Estamos a poucas semanas do iníciodos Jogos Pan-Americanos de 2007.Quarenta e quatro anos depois da rea-lização do Pan de São Paulo, o Brasilvolta a receber uma edição desta com-petição esportiva de grande calibre.Muitos serão os benefícios para o cres-cimento do esporte que decorrerãodestes jogos. Fundamentalmente, a so-ciedade brasileira estará fortemente en-volvida com as competições e, dessaforma, o interesse do público pelas mo-dalidades ficará realçado durante e apóso período do Pan. Isso abrirá a possi-bilidade de que haja mais investimen-tos privados e, conseqüentemente, me-lhores resultados a longo prazo.Por outro lado, o poder público tam-bém tem um papel fundamental naconsolidação do esporte entre os in-divíduos presentes na sociedade. Tra-ta-se de um grande desafio colocar asatividades esportivas em evidênciaenquanto existem diversos problemas

em outras áreas, como da educação eda saúde.No município de São Paulo, que con-tará com um alto número de represen-tantes na delegação brasileira dos jo-gos, medidas vêm sendo adotadas nosentido de utilizar o esporte como fer-ramenta de inserção social dos cida-dãos. Exemplo disso são os programasClube Escola e Jogos da Cidade.No caso do Clube Escola, a preocupa-ção reside em fornecer aos jovens quefreqüentam as escolas públicas muni-cipais um local em que possam conti-nuar o processo diário de aprendiza-do e entrar em contato com as diver-sas modalidades esportivas. Os Clu-bes da Cidade e Clubes da Comuni-dade, em resumo, serão os “terceiroslares” dos jovens.Já os Jogos da Cidade cumprem pa-pel de integrarem as diversas comuni-dades em torno de um ideal de gru-po. Equipes das 31 subprefeituras

paulistanas estão envolvidas na buscada primeira colocação regional nasnove modalidades em disputa, além doprivilégio de serem as representantesda sua subprefeitura na fase munici-pal da competição.A expectativa em relação ao sucessodesses programas é bastante grande, equando se menciona a palavra “suces-so”, é em um sentido mais amplo doque a simples vitória numa competi-ção. A verdadeira ambição é muitomaior. Queremos revelar vencedoresnos campos, nas quadras, nas piscinas,nos tatames, mas também na vida pro-fissional e cultural.Assim sendo, é importante que se te-nha consciência de que o trabalho nãovai parar quando os Jogos Pan-Ameri-canos se encerrarem. Ao contrário, seráesse o momento de agir para que anossa sociedade aproveite todos osbenefícios proporcionados por umabase esportiva sólida.

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Por: Walter Feldman, Secretário de Esportes da cidade de São Paulo

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Qual o segredo dos corredores queni-anos para o sucesso mundial nas cor-ridas de longa distância? Esta é umapergunta que sempre nos fazemos. Etodas as respostas, embora tentandojustificar a natureza desta qualidadedesses atletas, muitas vezes não sãomuito esclarecedoras. Apresento aquium estudo de Henri B. Larsen, publi-cado na revista Comparative Biochemistryand Physiology Part A, em março de 2003,em que o autor apresenta alguns aspec-tos interessantes, como seguem.Durante as duas últimas décadas, mu-dou dramaticamente o cenário mas-culino internacional de fundo e meiofundo. Apenas 17 anos atrás, todas as

distâncias de 800 m a maratona eramdominadas por europeus. Nos dias dehoje, a proporção de atletas entre os20 melhores do mundo está assim:11,7% de europeus; 85% de africanos,dos quais 55,8% são quenianos. Então,o que faz os corredores quenianos cor-rerem tão bem? Os fatores a conside-rar são: dotação genética, formação,treinamento e altitude (2000 m), bemcomo, especificamente para o excelen-te desempenho em corridas de fundo,a combinação entre a alta capacidadede liberação de energia aeróbia, altautilização do consumo máximo de oxi-gênio durante a competição e uma boaeconomia de corrida.

Com o objetivo de estabelecer uma re-lação entre todos estes fatores, o au-tor, através de uma extensa revisão daliteratura, identificou todos os parâme-tros necessários para sugerir o porquêdesta superioridade dos atletas quenia-nos. O consumo máximo de oxigênio,sua alta taxa de utilização durante acompetição e a economia de corridasão cruciais fatores para o sucesso.Investigações destes fatores-chavesindicam que a superioridade do Quênianas corridas de longa distância se devea uma única combinação destes fato-res. Especialmente a economia de cor-rida dos quenianos tem sido mostradacomo uma habilidade, onde a forma do

Por: Ricardo D’Angelo, Treinador de Atletismo, Graduado em Educação Física, Mestrado emBiodinâmica da Motricidade Humana pela Unesp/Rio Claro (*)

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Queniano Robert Cheruiyot, vencedor da São Silvestre em2002 e 2004. Vencedor em 2006 da Maratona deChicago. É bicampeão da Maratona de Boston (venceupela última vez em abril passado) e considerado um dosprincipais corredores de fundo do mundo.

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*Referência Bibliográfica: Kenyan dominance indistance running, Henrik B. Larsen, ComparativeBiochemistry and Physiology Part A 136 (2003)161-170.(*) É treinador do medalhista olímpico VanderleiCordeiro de Lima, da equipe Pão de Açúcar/BMFe da Confederação Brasileira de Atletismo.

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corpo aparece sendo um ponto críti-co. Entretanto, por este ângulo, mui-tos etíopes, negros sul-africanos e in-dianos parecem ter quase a mesmaforma do corpo dos quenianos.Podemos até especular por que corre-dores destes países não apresentam omesmo nível dos corredores quenianosnas corridas de longa distância. De fato,os corredores de elite sul-africanos têmmostrado atualmente uma economia decorrida similar a dos quenianos. O quelhes falta é provavelmente um altoconsumo máximo de oxigênio ou ahabilidade em usar um porcentualsuficientemente alto deste consumoquando estão correndo. Após perce-berem o talento para a corrida dos que-nianos, agentes ocidentais e treinado-

res têm trazido recursos financeiros ereconhecimento para a corrida de fun-do no Quênia, e, por meio disso, deuma maneira ocidental, contribuídopara o desenvolvimento do potencialdos quenianos e para o sucesso dosquenianos na corrida de longa distân-cia. Se isto poderia acontecer em algu-ma outra parte do mundo, é uma per-gunta que ainda nos intriga. Será queexistem outros lugares no mundo, ondeas pessoas possuem dotação genéticae propriedades fisiológicas para o de-sempenho atlético similar a dos quenia-nos e, paralelo a isso, um ambiente deapoio sócio-econômico, político e cul-tural para sustentar um similar desen-volvimento? Sim, provavelmente, maspara outra modalidade de desempenho

que a corrida, onde os quenianos po-dem ser únicos.Concluindo, podemos observar queeste estudo, nos mostra que os atletasquenianos apresentam um fator dife-rencial na avaliação com os demaisatletas do mundo. Embora apresen-tem o mesmo potencial, ou seja, po-dem atingir altos níveis de consumomáximo de oxigênio como os outrosatletas pelo mundo, conseguem sus-tentar esta alta intensidade por umtempo mais prolongado. !

Ricardo D’Angelo ao lado de Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze na maratona na Olimpíada de Atenas/2004

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Tiger Woods, o ímpar do golfe americano

Por Camila Vicente, da Redação

Eldrick “Tiger” Woods, 32 anos, nas-cido em Cypress, Califórnia, EUA, éconsiderado um dos melhores golfis-tas de todos os tempos.Criança prodígia, Eldrick começou ajogar golfe aos dois anos de idade. Comcinco anos ele apareceu no sumário dogolf e no abc que incredible. Ao longode sua vida foi acumulando títulos.Com apenas 15 anos ascendeu para onúmero 1 no ranking.Em 2005, aos 30 anos de idade, ele al-cançou a marca de dez grandes con-quistas do golfe profissional, colocan-do-o em terceiro na lista atrás de Jack

Nicklaus e Walter Hagen. Incluindoseus três Campeonatos Amadores dosEUA, ele e Bobby Jones foram os úni-cos golfistas a ganhar 13 títulos impor-tantes antes dos 30 anos de idade. Fa-turou mais vezes no PGA Tour doque qualquer outro golfistaem atividade. Por ser ne-gro, Woods é creditadoo surgimento de umgrande interesse pelojogo de golfe, especial-mente entre as minori-as raciais e jovens nosEstados Unidos.

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Irmãs Williams, exemplo de garra

*Conhecidos como os Torneios do Grand Slam são considerados pelo grandepúblico como importantes competições de tênis da temporada, além de seremos mais bem dotados em prêmios e pontos para a classificação mundial.

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Serena Williams

Vênus Williams

Serena Jameka Williams, 21 anos, e Vênus Ebone StarrWilliams, 23 anos, viveram suas infâncias em um bairro po-bre e violento nos arredores de Los Angeles, EUA, ao ladodos pais e de mais três irmãs.De uma infância pobre em Compton, ao topo do tênis femi-nino mundial, hoje as irmãs Williams são consideradas pelosamericanos um exemplo perfeito de self-made, ou seja, pes-soas que subiram na vida através do próprio esforço e commuita perseverança.A história das Williams é bem peculiar, pois foram concebidas

e treinadas pelo próprio pai para se tornarem verdadeiras má-quinas de jogar tênis e, com isso, tivessem melhores condi-ções de vida. Assim pensou e agiu o genitor e treinador,Richard. “Quando vi uma tenista ganhar muito dinheiro como esporte, virei para minha mulher e disse: vamos ter filhos etorná-los tenistas”, recorda-se. Obcecado pela idéia, Richardencontrou nas duas filhas o talento e a obstinação necessárias.Praticamente, treinadas desde o berço, Vênus e Serena larga-ram a escola e passaram a estudar em casa, com a mãe, paranão atrapalhar a prática esportiva. Toda a carreira das irmãsfoi meticulosamente planejada pelo pai. Há quem critique oestilo excessivamente físico e a força com que jogam, umavez que Vênus saca a mais de 190 km/h, velocidade superiora de muitos homens, enquanto Serena já foi o número 1 domundo. Em 1999 ganhou o seu primeiro Grand Slam* trans-formando-se na primeira mulher americana negra a ganharum Slam, desde 1958.

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1968! O mundo fervia, com manifes-tações por toda parte. Na Tchecoslo-váquia o governo tentou se afastar deMoscou na que ficou conhecida como“Primavera de Praga”.Na própria cidade sededos Jogos Olímpicos nacapital do México, diasantes dos XIX JogosOlímpicos, na Cidade doMéxico, cerca de dez milestudantes ocuparam aPlaza las Tres Culturasem protesto contra aocupação de militaresem duas universidadespúblicas. A União Sovi-ética invadiu Praga. O líder negroMartin Luther King foi assassinado. Omundo queria mudanças e esse desejonão era diferente no esporte.Participaram dos Jogos no México5.531 atletas representando 113 países.

Por: Francisca Rodrigues, Editora-executiva

Os EUA obtiveram 45 medalhas deouro contra 29 da União Soviética. OBrasil ganhou 1 medalha de prata, nosalto triplo, com Nelson Prudêncio

e 2 medalhas de bronze (1 no iatis-mo, na classe Flyin Dutchman e 1 noboxe, com Servilio de Oliveira). Pela1ª vez a pira olímpica foi acesa poruma atleta feminina, a jovem NormanEnriqueta Basilio.

A prova dos 200 metros foi vencidapelo afro-americano Tommy Smith,detentor de 11 títulos mundiais em cor-ridas de curta distância, assombrando

o mundo, pois era a pri-meira vez que se alcan-çava esse recorde emmenos de 20 segundos.Arrebatamento seme-lhante em estádio olím-pico só ocorreria 20anos depois, em Seul,na Coréia do Sul, quan-do o canadense BenJohnson correu 100metros rasos em 9.79segundos.

O bronze ficou com John Carlos, afro-americano e aluno do San Jose StateCollege, da Califórnia, mesmo collegede Smith, que liderava a prova, mas des-concertou-se com a performance deSmith e acabou abrindo espaço para o

O protesto fora planejado pelos

americanos ainda no campus da

faculdade, na Califórnia. Caso um deles

conquistasse medalha, usaria o pódio

como palco para denunciar a

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Da esquerda para a direita: o australiano Peter Normam (medalha de prata), e os afro-americanos Tommy Smith(medalha de ouro) e John Carlos (medalha de bronze)

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australiano Peter Norman conseguir osegundo lugar.Na hora de subir ao pódio para rece-ber as medalhas, o que aconteceu alificou na história do esporte e marcouas imagens dos anos 60. Dois negrosamericanos de punho erguido, cabis-baixos e descalços, em protesto contrao racismo.“O protesto fora planejado pelos ame-ricanos ainda no campus da faculdade,na Califórnia. Caso um deles conquis-tasse medalha, usaria o pódio comopalco para denunciar a desigualdaderacial nos Estados Uni-dos. Assim, entraram jun-tos na saleta onde os ven-cedores aguardavam omomento de serem cha-mados para a premiação,e foram cuidar do visual.Para espanto do australi-ano, que se esmerava emajeitar a juba e alisar ouniforme, Tommy Smithe John Carlos tiraram os tênis e calça-ram meias pretas. Contaram a Normanque fariam um protesto e explicaramque os pés descalços simbolizavam osbolsões de pobreza negra dos EstadosUnidos. Em seguida, Carlos enfiou umcolar de grãos e Smith amarrou um len-ço preto no pescoço. Esclareceram queos adereços eram referência aos negroslinchados da história americana.Norman a tudo ouvia, intrigado. Fal-tando poucos minutos para serem cha-mados, os americanos se deram conta,frustrados, que Carlos esquecera detrazer o par de luvas negras, elementoessencial do seu kit-protesto. Os par-ceiros tinham planejado erguer os pu-nhos aos primeiros acordes do hinonacional, e sem as luvas o gesto perde-ria impacto. Foi então que o australia-

no acordou: sugeriu que Smith e Carlosusassem, cada um em mãos diferentes,apenas uma das luvas do par que res-tava. E fez mais. Pediu um dos adesi-vos de defesa dos direitos humanos,que os americanos ostentavam, gru-dou-o no peito e declarou-se prontopara subir ao pódio”, escreveu DorritHarazim, para a revista PIAUÍ, sobrea morte de Norman, o terceiro homemda famosa foto.O público que lotava o Estádio Nacio-nal não percebeu de imediato o que sepassava. Foi com o semblante carrega-

do que os atletas acompanharam o iça-mento das bandeiras. Aos primeirosacordes do hino nacional, Smith aindapareceu entoar a letra. Depois se ca-lou, e abaixou a cabeça. Começou, en-tão, a erguer o braço direito enluvado,em sincronia com o braço esquerdode Carlos. A saudação do black powertinha invadido os Jogos Olímpicos.Norman foi crucificado pela imprensade seu país e recebeu reprimenda docomitê olímpico australiano. ParaSmith e Carlos as conseqüências foramimplacáveis e duradouras. De imedia-to, o Comitê Olímpico Internacional –COI –, proibiu que os dois velocistastivessem outras participações (ambosestavam escalados para integrar a equi-pe americana de revezamento) e exigiua expulsão da dupla da Vila Olímpica.

Smith e Carlos retornaram aos Esta-dos Unidos como párias, acusados deintroduzir a política no olimpismo e dequerer destruir o tecido social de seupaís. “Mas qual país?”, perguntavam emuníssono. “A América branca diz quesomos americanos quando vencemose que somos negros quando fazemosalgo que julga errado.”Apesar dos ataques e do ostracismo,nem Carlos nem Smith mudaram deposição. Quem mudou foi o curso dahistória. Às vésperas da Olimpíada de1984, John Carlos foi ressuscitado pelo

Comitê Organizador dosJogos de Los Angeles parapromover o esporte juntoà juventude negra. Smithfoi chamado a treinar umaequipe de atletismo. Em1999, a faculdade San JoseState, de onde ambos ti-nham saído três décadas an-tes, inaugurou uma estátuacomemorativa ao gesto dos

ex-alunos. E como não poderia haverinauguração sem a presença do tercei-ro homem, convidaram Norman.Nos Jogos Olímpicos de Atenas, em2004, o brasileiro Diogo Silva, que con-quistou um inédito quarto lugar no tae-kwondo, aproveitou a luta final parafazer um protesto contra a falta deapoio ao taekwondo no país, após per-der a medalha de bronze. Ele entrouna luta com uma luva preta dos BlackPanthers (Panteras Negras), que o juizo fez tirar. “É um sinal de protesto, daindignação. Por mais que a gente bata-lhe, nosso sacrifício não é recompen-sado. Foi meu protesto para que o Bra-sil veja a dificuldade que o esporteamador enfrenta. A gente merecia maisapoio do governo e dos empresários”,desabafou o lutador.

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Na hora de subir ao pódio para

receber as medalhas, o que aconteceu

ali ficou na história do esporte e

marcou as imagens dos anos 60

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Por: João Pedro Nunes, especial para Afirmativa Plural

O vôlei brasileiro há muito tempo dei-xou de ser um mero coadjuvante nocenário internacional. Há pelo menos26 anos o esporte é respeitado e fazparte da lista dos preferidos do grandepúblico. Tudo indica que nos JogosPan-Americanos do Rio de Janeiro, ovôlei seja coroado como a modalidadede ouro e consagre uma geração talen-tosa e disciplinada de jogadores. Por

tudo isso, o Brasil não é mais só o paísdo futebol, pentacampeão mundial. Édo vôlei também.A seleção masculina entra no Pan comoum verdadeiro Dream Team. Campeãolímpica na Grécia, bicampeã mundial noJapão e hexacampeã da Liga Mundial naRússia, a equipe orientada pelo técnicoBernardo Rezende, o Bernardinho, bus-ca o título que falta a esta brilhante ge-

ração. Em 2003, na República Domini-cana, a seleção ficou com a medalha debronze, depois da surpreendente der-rota para a Venezuela nas semifinais.O tropeço pan-americano ainda hojeestá engasgado na garganta do grupo,que elegeu a “Olimpíada das Améri-cas” como uma prioridade deste ano.Sempre em busca de desafios, a se-leção masculina terá como palco o

Seleção masculina será umadas maiores atrações dosJogos Pan-Americanos do

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Ginásio do Maracanãzinho, que ficano complexo do Maracanã.Ricardinho, Giba, Gustavo, Dante,André Nascimento, Escadinha e com-panhia vão em busca da medalha deouro, encarando todas as dificuldadesque o favoritismo impõe, segundo Ber-nardinho. “Sei que temos o rótulo defranco favorito, mas essa situação é apior que podemos enfrentar. Muitos denossos jogadores estão vindo de umatemporada puxada, sem férias e, alguns,recuperando-se de lesões. Tenho quepensar nisso tudo”, lembra o treinador.“Entraremos na competição como aequipe a ser batida. Como favoritos, sevencermos é obrigação. Se perdermos,uma tragédia nacional. Quem nos en-frentará, poderá jogar como franco-ati-rador, que é uma posição cômoda.”

CrescimentoO vôlei brasileiro, na verdade, está en-tre os melhores do mundo desde 1981,quando a seleção masculina de William,Bernard, Amauri, Xandó, Montanaro,Renan, Fernandão e Bernardinho, en-tre outros, fez história ao conquistar amedalha de bronze da Copa dosCampeões do Japão. Depois disso, aequipe passou a ser conhecida como

“geração de prata”. Comandada pelotécnico Bebeto de Freitas, a seleçãofoi vice-campeã no Mundial da Argen-tina, em 1982, ouro no Pan-Americanode Caracas, em 1983, e prata na Olim-píada de Los Angeles, em 1984.Os frutos desta geração não demorarama surgir. Ainda na gestão de Carlos ArthurNuzman como presidente da Confede-ração Brasileira de Vôlei (hoje dirige oComitê Olímpico Brasileiro), a seleçãomasculina comemorou a medalha deouro na Olimpíada de Barcelona, em1992 – a primeira na história de um es-porte coletivo. Com José Roberto Gui-marães à frente, a seleção tinha comoestrelas Maurício, Marcelo Negrão,Carlão, Paulão, Tande e Giovane.Dez anos depois, apenas com Maurí-cio e Giovane como remanescentes nogrupo, começou a “Era Bernardinho”,com a medalha de ouro no Campeo-nato Mundial da Argentina, abrindouma seqüência incrível de conquistas eum domínio fantástico num esportemuito competitivo.

Sede de pódioAssim como a seleção masculina, a

feminina também disputará o Pan-Americano com sede de pódio. O timeorientado por José Roberto Guima-rães teve um ano brilhante no ano pas-sado, ganhando o hexacampeonato doGrand Prix da Federação Internacio-nal de Vôlei e o vice-campeonatomundial no Japão.Unindo experiência e jovens talentos,o Brasil tem tudo para conquistar a me-dalha de ouro, título que não conseguedesde 1999, em Winnipeg, no Canadá.Fofão, Waleswka, Sheilla, Sassá, Mari,Jaqueline, Fabiana, Renatinha, Érika,Paula Pequeno e Fabi, entre outras,devem brilhar e repetir em quadra osucesso das musas da década de 80, quetinha Jacqueline, Isabel e Vera Mossa,campeãs do Mundialito de São Paulo.O surgimento da geração de prata nomasculino e das musas no femininodetonou o primeiro boom do vôlei bra-sileiro, que ajudou a consolidar o es-porte como o segundo na preferênciapopular, atrás somente do futebol. Oresultado de tantos anos de sucesso econquistas é o lema Brasil, o País doVôlei, e não somente do futebol.Levantadora Fofão

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Seleção feminina treina na areia, em Saquarema - RJ

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“Então, está combinado! Assistiremosàs finais (decisão das medalhas de bron-ze e de ouro) do vôlei masculino e logodepois partiremos para o ginásio debasquete, para assistirmos ao segundotempo da decisão do basquete masculi-no”. Este foi o acerto que eu e algu-mas companheiras de equipe fizemosno dia 23 de agosto de 1987, na VilaPan Americana de Indianápolis (EUA).E este foi o meu grande “vacilo” no Pan!A princípio nem parecia tanto, uma vezque o voleibol era a minha modalidade;joguei pela equipe do Brasil naquele Pan,mas não conseguimos chegar às finais.Logo, nos caberia naquele dia, já queestava encerrada a nossa participaçãona competição, torcer para que a equi-pe de vôlei masculino do Brasil, quedisputava o 3º lugar, ficasse com a me-dalha de bronze (o que acabou aconte-cendo). Outro agravante do “vacilo”foi considerar remotas as possibilida-des da equipe brasileira de basquetemasculino vencer a grande decisão con-tra a poderosa equipe dos EstadosUnidos, marcada para aquele mesmo

esporte

Por: Lica Oliveira - Jornalista, Atriz e Atleta da Seleção Brasileira de Voleibol de 1987 - [email protected].

dia, quase no mesmo horário e em umginásio não tão próximo do ginásio dovôlei. Então... Estava combinado!A decisão do ouro no voleibol mas-culino foi disputada entre os EstadosUnidos e Cuba. A medalha douradaficou com os cubanos, em um jogo dis-putado, bonito... mas, a emoção mes-mo estava acontecendo a poucos qui-lômetros dali, no ginásio do basquete,onde a equipe brasileira, liderada porOscar Schmidt, começava a grande vi-rada sobre a equipe norte-americana eestava a um passo da consagração dobasquete brasileiro. Adentramos noginásio do basquete e “PENN!” sooua campainha anunciando fim de jogo.Chegamos a tempo de presenciar a co-memoração dos jogadores ainda emquadra. O ginásio inteiro parecia nãoacreditar naquele resultado: Brasil 120X Estados Unidos 115, na casa deles,o que tornava a conquista ainda maiscelestial. Apesar de não ter assistido àtamanha façanha, saboreei com muitoentusiasmo aquela vitória. Os jogado-res estavam em êxtase.

Como de costume, eu e os outros atle-tas brasileiros das diversas modalida-des presentes naquele ginásio usáva-mos o uniforme de passeio da delega-ção do Brasil, o que facilitava a nossaidentificação no meio daquela multidãodesapontada, mas consciente dos mé-ritos da equipe do Brasil, e assim, noscumprimentava com respeito; e nós,orgulhosos, nos exibíamos recebendoos cumprimentos e elogios como sefôssemos “pais dos noivos”.Bom, felizmente tive a oportunidadede assistir ao vídeo tape do jogão natv, mas sempre lamento não tê-lo as-sistido “in loco”, ao vivo e a cores.Que “vacilo”!Faz 20 anos, mas ainda posso sentir aenergia que uma competição como estapode nos proporcionar. Hoje, experi-mento a sensação de viver na cidadeque receberá estes atletas maravilhososque estão se preparando para realiza-rem aqui, parte dos seus sonhos. Es-pero ser testemunha ocular de mais al-guns destes feitos gloriosos do cenárioesportivo. Sejam bem-vindos! !

grandemeu

“vacilo”

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 57

esporte

Lica – (ao centro) – posição 3, Ana Richa (lado esquerdo) - posição 2 - Ana Cláudia (lado direito)- posição 4 e Fernanda Venturini (ao fundo) - posição 1.

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Durante sua car reira AdhemarFerreira da Silva, um dos maiores atle-tas brasileiros se consagrou comopentacampeão Sul-Americano, tricam-peão Pan-Americano, dez vezes cam-peão brasileiro e obteve mais de 40títulos e troféus internacionais. Seudestaque entre os demais competido-res fez com que o clube no qual trei-nava lhe rendesse uma importante ho-menagem. O São Paulo Futebol Clu-be aderiu duas estrelas douradas à ca-misa de seu uniforme simbolizando asmedalhas olímpicas do atleta, home-nagem que permanece até hoje den-tre os emblemas do time.Vitórias e mais vitórias. Antes dos 30anos Adhemar ainda conseguiria maisum feito ao quebrar novamente o re-corde olímpico obtendo a marca de13,05 m no salto triplo. E com issotornou-se o único brasileiro bicam-peão olímpico, título que só ele pos-suiu durante quase 50 anos no Brasilaté que nomes como os iatistas RobertSheidt e Torben Grael, entre outros,conseguiram se igualar.Negro, pobre e nascido na periferiade São Paulo. Essa poderia ser maisuma história comum ou de sofrimen-to, mas no caso de Adhemar Ferreirada Silva é apenas o início da história

de um vencedor.Nascido no bairro da Casa Verde nazona norte de São Paulo, no dia 29 desetembro de 1927, Adhemar Ferreirada Silva era filho de um ferroviário ede uma cozinheira. Um menino magro,que como tantos outros sonhava emser jogador de futebol e, com isso, daruma vida melhor para sua família.Mas o destino reservava outro cami-nho para o jovem. Aos 19 anos foi le-vado por um amigo a uma pista de atle-tismo dentro do São Paulo FutebolClube. Ali se encantou com o salto tri-plo e começou a treinar. Segundo opróprio Adhemar, o que o levou a pra-ticar foi a sonoridade da palavra atletaque o atraiu e o fez gostar do esporte.As dificuldades não seriam poucas, en-tre ter que trabalhar durante o dia e es-tudar a noite. O único horário que oatleta encontrou para treinar foi o doalmoço, mas a força de vontade foimuito maior do que todas as barreiras eem pouco tempo superou a marca dos15 metros, o que lhe garantiu uma vaganas Olimpíadas de Londres em 1948.Aquele ainda não era o ano do atleta.Em Londres alcançou apenas o 14º lu-gar na competição, porém o desâni-mo não iria abater quem tinha sedede vitória. Continuou disputando em

outras competições e conseguiu meda-lha de ouro nos jogos Pan-Americanosde 1951, em Buenos Aires, o que sóaguçou a vontade de subir em umpódio olímpico.Adhemar não precisou esperar muitopara realizar seu desejo, já no ano se-guinte, em 1952, disputou a Olimpía-da de Helsinque, na Finlândia e mes-mo sem esperar, conseguiu bater qua-tro vezes em uma mesma tarde o re-corde mundial que era de 16 metros. Como forma de comemoração e agra-decimento ao público que prestigiavasua vitória, o atleta resolveu percorrertoda a extensão da pista saudando opúblico, mesmo sem saber, acabava decriar a consagrada volta olímpica, atéhoje realizada por vencedores das maisdiversas competições.No intervalo entre uma olimpíada e ou-tra, nada de descanso. Para ele estavamreservadas mais vitórias e elas com cer-teza viriam. Ganhou medalha de ouronovamente nos jogos Pan-Americanosda Cidade do México em 1955.Após as Olimpíadas de Melbourne,Adhemar mostraria o caráter que iriater como atleta. Após vencer aquelacompetição o governo brasileiroofereceu uma casa como presente;mas ele recusou. Se aceitasse qualquer

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Por: Daniela Gomes, especial para Afirmativa Plural

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pagamento seria impedido de competirnos jogos olímpicos novamente. Esco-lheu o esporte e dar alegria aos torcedo-res brasileiros.Mas a maior derrota de Adhemar não se-ria nas pistas, em 1960 ao se preparar paraas Olimpíadas de Roma descobre estarcom tuberculose e já não consegue obteros mesmos resultados. Assim encerra suacarreira nas pistas de atletismo.O final da carreira ao invés de o desesti-mular serviu como engrenagem para odeslanchar em sua vida acadêmica. For-mou-se em Belas Artes, Educação Física,Direito e Relações Públicas, além de ad-quirir um registro oficial como jornalista.Era poliglota, falava inglês, espanhol, ita-liano, alemão, francês, finlandês e japonês.E passou a atuar em diversas frentes deação, atuou na peça “Orfeu da Conceição”,de Vinícius de Moraes, e também no fil-me Orfeu do Carnaval, em 1962, que ga-nhou o Oscar de Melhor Filme Estran-geiro. Também se destacou como AdidoCultural na Embaixada Brasileira em La-gos, na Nigéria.As conquistas do atleta só foram inter-rompidas no dia 12 de janeiro de 2001,quando aos 73 anos, sofreu uma paradacardio-respiratória em um hospital em SãoPaulo, onde já estava internado.Até hoje Adhemar Ferreira da Silva éconsiderado um exemplo do ideal do atle-tismo como alternativa para uma vida dedificuldades. Como símbolo de sua impor-tância, após a sua morte, o Comitê Olím-pico Brasileiro criou o Troféu AdhemarFerreira da Silva que segundo o própriocomitê “tem como objetivo homenagearatletas e ex-atletas que representem os va-lores que marcaram a vida de Adhemar”.Dentre os valores que segundo o comitêmerecem destaque estão: ética, eficiênciatécnica e física, esportividade, respeito aopróximo, companheirismo e princípios.

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Adhemar Ferreira da Silva

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Adhemar Ferreira da Silva

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Desde 1995, quando assumiu a presi-dência do Comitê Olímpico Brasileiro(COB), Carlos Arthur Nuzman vemtrabalhando para implementar naadministração do esporte olímpicobrasileiro o mesmo conceito vitorio-so que ele implantou na Confedera-ção Brasileira de Voleibol, em 1975.“E temos conseguido vários pro-gressos”, ressalta. Seu entusiasmo sejustifica, hoje o COB é uma entidademoderna, ágil e conta com profissionaisespecializados em todas as áreas. “Pro-curamos dar respaldo às Confedera-ções Brasileiras Olímpicas e motivá-lasa implantar este conceito de moderni-dade na gestão do esporte. Para isso,tem sido fundamental a Lei Agnelo/Piva que, desde janeiro de 2002, vemdisponibilizando recursos financeirosao COB para o desenvolvimento doesporte que, por sua vez, repassa re-cursos às Confederações com base emprojetos apresentados ao COB e apro-vados pela entidade”, reforça. Os re-sultados nesses últimos cinco anostêm sido muito bons, com uma notó-ria evolução da qualidade técnica detodas as modalidades esportivas.Às vésperas de sediar o Pan-Ameri-

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cano, o também presidente do CO-RIO (responsável pela organizaçãodos jogos), Nuzman diz que o fatosignifica a capacidade do Rio e do Bra-sil de realizar eventos multiesportivose contribuir para uma série de lega-dos que os jogos deixarão para a ci-dade e também para o País, nas maisdiversas áreas. Desde instalações es-portivas de nível olímpico, formaçãode mão-de-obra qualificada, incremen-to no setor de negócios, como, porexemplo, turismo e hotelaria, aquisi-ção de equipamentos para a área desegurança, formação da cultura de vo-luntariado e a possibilidade de inser-ção social a partir dos Jogos, entreoutros. “Um evento desta naturezarevitaliza a economia da cidade, gerainvestimentos na área de segurança,cria empregos e traz a oportunidadede novos negócios, antes e depois darealização dos Jogos. Outro aspectoimportante é a imagem da cidade e doPaís no exterior, com a conquista denovos mercados e do incentivo ao tu-rismo”, sintetiza Nuzman.É interessante destacar que os JogosPan-Americanos e ParaPan-America-nos irão proporcionar a inclusão so-

cial, até porque o esporte é reconhe-cidamente uma das melhores ferramen-tas de inclusão social dos jovens, con-tribuindo decisivamente para afastá-losdas drogas e da marginalidade. Tam-bém nesse aspecto a atuação perma-nente e o empenho dos três níveis deGoverno – Federal, Estadual e Muni-cipal – são fundamentais. Nuzmanacrescenta, ainda, que “os Jogos Pan-Americanos e ParaPan-Americanostêm motivado os Governos a implan-tarem programas de formação, capaci-tação e participação voltados para osjovens. Certamente este será um gran-de legado social que o Rio 2007 deixa-rá para a cidade”.O Comitê Olímpico Brasileiro tem es-timulado as Confederações BrasileirasOlímpicas a trazerem para o Brasileventos esportivos de grande porte.E isso tem ocorrido também em ou-tras modalidades, como Ginástica Ar-tística, Vela, Tiro com Arco e Volei-bol. Até porque acreditam que com-petições desse nível contribuem parao desenvolvimento técnico da moda-lidade, para a formação de ídolos doesporte e para uma proximidade maiorcom o público. !

Cantes e depois de

Nuzman

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Carlos Arthur Nuzman

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62 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

responsabilidade social

sporte,Por: João Pedro Nunes, especial para Afirmativa Plural

O esporte há muito tempo deixou deser apenas recreação. Bem utilizado, eleé uma poderosa ferramenta de educa-ção e, principalmente, de formação decidadãos. O Programa Finasa Espor-tes é um exemplo do bom emprego dainiciação esportiva. Desenvolvido emparceria com a Prefeitura de Osasco, oprojeto não visa só a formação de atle-tas, mas a dar maiores oportunidades

para um grupo de cerca de 3 mil meni-nas. Em função do esporte, as crian-ças passam por um programa maisabrangente que reúne, na verdade, edu-cação, saúde e bem-estar.Às vésperas de completar 20 anos e dereunir cerca de 20 mil meninas em todoesse período, o Programa Finasa Es-portes, que faz parte dos projetos so-ciais do Bradesco, atende crianças de

10 a 16 anos, divididas em 51 núcleosde formação de basquete e vôlei, nacidade de Osasco, em São Paulo.O objetivo é proporcionar uma inicia-ção esportiva de qualidade, com meto-dologia criteriosa e ao mesmo tempocuidar de muitos outros pontos impor-tantes. A freqüência à escola, por exem-plo, é fator determinante para a parti-cipação neste projeto, que contempla

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responsabilidade social

Finasa Festival

ferramenta ensino de

também um trabalho de orientaçãocompleto que abrange noções de higi-ene, gravidez precoce, stress, antidro-gas e adolescência e garante uma con-vivência sadia em sociedade, salientan-do a importância do trabalho em grupo.Cerca de 70% das meninas atendidasnos Núcleos de Formação em todo oprograma vêm de famílias carentes. Porisso, o projeto é essencialmente social.

Muito mais do que um programa deiniciação esportiva, os Núcleos são cen-tros de formadores de cidadania.

Desenvolver talentos

A parte mais visível do ProgramaFinasa Esportes é o time adulto, oitovezes campeão paulista e três vezescampeão brasileiro. Mas quem vê aequipe principal de vôlei brigando por

vitórias nas quadras não imagina que aempresa apóia o desenvolvimento detalentos desde 1987, em Piracicaba, quan-do o então BCN passou a patrocinar aequipe de basquete feminino da cidade.Cerca de 600 meninas, na faixa etáriade 9 a 13 anos, participavam das aulasde basquete nos diversos núcleos ins-talados no ginásio municipal de espor-tes, nos Centros Comunitários da pre-

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64 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

responsabilidade social

Juliana Sena

Adenízia

feitura e nas escolas. O es-pelho dessa geração eramMagic Paula, Branca,Karina, Vânia Teixeira e aentão promessa Janeth, en-tre outras.Em 1993, o BCN tambémmontou a equipe de vôleino Guarujá e seis meses de-pois eram implantados osNúcleos de Formação damodalidade. O número decrianças foi maior, reunin-do 800 meninas, e tambémteve resultados bastantepositivos. Várias garotasse destacaram e foram se-lecionadas para as equipesmirim e infantil, tendocomo ídolos Isabel, Arlene,Virna e Rosa Garcia, porexemplo. Os projetos es-portivos se concentraramem Osasco a partir de 1996.Muitas meninas entraramnos núcleos e depois foramaproveitadas pelas categori-as de base. Algumas acaba-ram se profissionalizando.Um exemplo é a atacanteJuliana Sena, que começouno programa com 10 anose aos 19 já defendia o timeadulto de vôlei no Campe-onato Paulista de 2006 e noTorneio Internacional Sa-lonpas Cup do mesmo ano,jogando como líbero.“Foi uma oportunidade es-petacular, que procureiagarrar de todas as formas”,disse a jogadora, que moraem Itapevi, na Grande SãoPaulo. “O vôlei virou umagrande paixão.”

Melhor bloqueio

Além da iniciação, o progra-ma preocupa-se tambémcom o desenvolvimento dasatletas. Muitas delas chegamde longe, ainda meninas esão acolhidas nas categori-as de base, tendo apoio mé-dico, odontológico e psi-cológico, além do escolar.A meio-de-rede Adenízia,de 20 anos, por exemplo,está há seis em Osasco. De-fendeu as seleções brasilei-ras de base e foi eleita omelhor bloqueio do Cam-peonato Mundial Infanto-Juvenil da Polônia.“Nasci em GovernadorValadares, em Minas Ge-rais, mas com 12 anos já es-tava jogando vôlei. Passeipelo Espírito Santo e San-ta Catarina e me fixei emOsasco pelas oportunida-des que tive. Aprendi mui-to nesse tempo todo emque estou no Finasa”, co-mentou a jogadora de 1,86m e grande potencial. “Meusonho agora é virar titularda equipe e jogar toda aSuperliga.”O Programa Finasa Espor-te atende 2.800 meninas nomomento. Existem outrosprojetos de iniciação espor-tiva importantes também.A Confederação Brasileirade Vôlei tem o VivaVôlei,enquanto o Rexona temnúcleos de formação noRio de Janeiro, no Paraná eem São Paulo. !

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66 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

No Centro de Excelência , crianças fazem avaliação médica para a prática esportiva

Por: Demetrius Trindade, da Redação

orações &transformando

cmentes

No Brasil apenas uma em cada seis es-colas públicas possui quadra poliespor-tiva, a valorização e a capacitação de pro-fessores da rede pública sempre ficamaquém das expectativas mundiais. O Bra-sil precisa de um compromisso sério coma idéia e o ideal de educação de qualida-de para todos. Foi pensando nisso que aSão Paulo Alpargatas, maior empresa dosetor esportivo criou em 2003 o Institu-to Alpargatas, braço social da empresa,responsável pela melhoria do ensino emmuitos municípios nordestinos.Um exemplo claro dos resultados ob-tidos pelo instituto, é a cidade de SantaRita, na Paraíba. Antes da implantaçãodo projeto “Educação por Meio doEsporte”, os índices de reprovação es-tavam entre 44% a 52%, nas 20 esco-las públicas urbanas de ensino funda-mental. Hoje estes números chegam amenos de 10%. A seguir, o presidentedo Instituto Alpargatas, José BerivaldoTorres Araújo fala com exclusividadeà Afirmativa Plural.

Afirmativa - Por que motivo aAlpargatas resolveu criar o InstitutoAlpargatas e qual é a sua missão?Araújo - O Instituto Alpargatas foi cri-ado para organizar e dar vazão as açõessociais da São Paulo Alpargatas, que atéentão eram pulverizadas e pontuais. Ainstituição sempre valorizou a questãosocial restrita ao âmbito filantrópico.Desta forma, ao criarmos o InstitutoAlpargatas, sistematizamos estas ações,para que pudéssemos ter certeza de queocasionavam uma transformação soci-al. O instituto tem como missão con-tribuir para a melhoria da educação decrianças e adolescentes na faixa etáriade 7 a 17 anos, por meio do esporte,nas comunidades onde a empresa ope-ra. E usamos a educação porque en-tendemos que este é o maior agente de

transformação para o desenvolvimen-to e associamos ao esporte para faz umlink com o nosso produto final.Afirmativa - Onde vocês têm nú-cleos de atuação?Araújo - O instituto é corporativo, nóstemos uma sede em São Paulo e tam-bém uma no nordeste, na Paraíba. Osprojetos de educação por meio do es-porte iniciaram no nordeste. Tivemoscomo base o IDH – Índice de Desen-volvimento Humano, e o IDH localmais baixo era exatamente na cidadede Santa Rita, na Paraíba, onde a

empresa tem fábrica. O projeto, en-tão começou por esta região. Estesprojetos são muito fortes em SantaRita, João Pessoa e Campina Grande,na Paraíba e em Natal, no Rio Gran-de Norte. Nós também temos um pro-jeto corporativo de voluntariado, o“Funcionário Cidadão” de atuação emtodos os parques fabris. Neste proje-to, os funcionários participavam oudesenvolveram ações com o apoio doinstituto. Existem programas de aten-ção ao idoso, portadores de deficiên-cias e várias outras atividades.

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responsabilidade social

Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 67

Alunos do Instituto Alpargatas em aula de taekwondo

Afirmativa - Existe alguma outraárea de atuação no planejamento doinstituto a longo prazo ou a idéia éfocar somente na educação?Araújo - Por enquanto atuamos comprojetos de ação escola, mas a ten-dência é de que possamos começar aatender em outras localidades e emoutras áreas.Afirmativa - Quantas pessoas sãobeneficiadas em todos os projetos?Araújo - Em 2005 foram beneficiados33.088 alunos, em 2006 uma média de41.645 42 mil alunos. Em 2006, atua-mos com 53 projetos e neste ano nósjá estamos atuando em 77. São 24 pro-jetos pós-escola e 43 de ação escola.Afirmativa - Estes projetos são to-cados e mantidos pelo instituto ouexistem parcerias?Araújo - A nossa parceria é com o po-der público, através da Secretaria Mu-nicipal de Educação e da prefeitura,ou diretamente com o Estado, atra-vés da Secretaria de Educação. Nóstemos um ciclo sustentável de educa-ção por meio do esporte. Neste ciclo,todos os projetos criados são novos einovadores. Nós estimulamos e moti-vamos os professores. Convidamosescola, professores e gestores a parti-cipar do processo e os incentivamosa desenvolver projetos que sejam ino-vadores, com uma metodologia cria-tiva onde possam trazer benefícios quecontemplem a inclusão, o maior nú-mero de alunos atendidos, a diversi-dade e resultados. Nós contamos tam-bém com um consultor pedagógicoque nos acompanha desde o início eque faz o processo de capacitação dosprofessores da rede pública.Afirmativa - O projeto já produziualguma revelação para o esportenacional?

Araújo - A nossa prioridade é a inclu-são, mas cada vez que este talento sur-ge naturalmente procuramos incentivá-lo. Temos um menino de 11 anos, Ra-nielson, que é bicampeão brasileiro detaekwondo e que foi muito bem clas-sificado no campeonato mundial dacategoria.Afirmativa - O que é e como fun-ciona o Centro de Excelência?Araújo - O Centro de Excelência Edu-cacional e da Aprendizagem Sensório-Motora conta com uma equipe multi-disciplinar, professores de educação fí-sica, para avaliar crianças e adolescen-tes de 7 a 17 anos de idade, nas quali-dades físicas básicas, desempenho es-

colar, maturação sexual, coordenaçãomotora, índice de massa corpórea edermatoglifia, considerado um dostestes mais importantes. A dermato-glifia é um diagnóstico que identificaa pré-disposição genética das qualida-des físicas dos alunos avaliados pormeio do exame de impressão digital.Com os resultados as crianças serãodirecionadas à modalidade esportivamais adequada ao seu perfil, assegu-rando, dessa forma, a prática esporti-va diversificada, a inclusão de mais alu-nos nas aulas de educação física e amelhoria do seu rendimento escolar.O objetivo deste centro é melhor di-recionar os alunos avaliados a práti-cas esportivas diversificadas. !

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68 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

educação

O recém-lançado Plano de Desenvol-

vimento da Educação (PDE) deixou

uma impressão positiva de um traba-

lho bem concebido para ampliar a qua-

lidade de ensino no País.

As metas de resgate das escolas públi-

cas até 2021 poderão avançar nos re-

sultados de taxas inconcebíveis de não-

aprendizagem, evasão e repetência já

apurados e divulgados pelo novo mé-

todo de avaliação de ensino, o Ideb (Ín-

dice de Desenvolvimento da Educação

Básica), recentemente divulgado.

O Rio de Janeiro ficou numa das últi-

mas colocações. A média das escolas

avaliadas foi inferior a quatro, mos-

trando que a rede pública no Estado

está abaixo da média nacional da pri-

meira à oitava série do ensino funda-

mental e também no ensino médio.

Todos parecem de acordo com a grande

chance do Brasil de acertar o passo, de

estabelecer metas e cobrar resultados.

Além de reservar R$ 1 bilhão para inves-

timento nos municípios com piores in-

dicadores educacionais, o Ministério da

Educação irá premiar as escolas públi-

cas que melhorarem o seu desempenho.

No próximo ano, as crianças de seis a

oito anos vão fazer a Provinha Brasil,

uma avaliação como a que já é feita para

os alunos mais velhos, mas creio ser

duvidoso o princípio de premiar por

mérito. No Rio, o nosso governo con-

seguiu que o Estado acabasse neste ano

com o Programa Nova Escola, criado

há seis anos pelas últimas gestões.

O programa fazia uma avaliação ex-

terna dos alunos – de Português e Ma-

temática e, em 2005, de ciências da

natureza – e concedia gratificações a

professores cujas unidades escolares,

comprovadamente, apresentavam bons

resultados. No total, foram avaliados

cerca de 2.300.000 estudantes e, nem

por isso, escapamos do vexame de

mostrarmos um ensino de má quali-

dade. Estou convencido de que a ava-

valiarparaconstruir

Por: Nelson Maculan, Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 69

educação

Nelson Maculan

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liação não é para punir nem para pre-

miar, mas sim para construir.

Precisamos continuar a utilizar os exa-

mes nacionais e provas complementa-

res nessas avaliações, mas é importan-

te ressaltar que tipo de avaliação será

essa. O melhor que uma escola pode

oferecer aos seus alunos é o desenvol-

vimento de sua capacidade de abstra-

ção, pois esta lhe permitirá vencer os

obstáculos mais difíceis de sua vida.

Temos que verificar as condições dos

professores e alunos e comparar nos-

sas escolas com outras unidades que

estão entre as melhores.

Esse é o princípio fundamental de um

sistema educacional republicano: o de

garantir a igualdade de oportunidades,

inclusive na avaliação do rendimento

dos estudantes. A escola tem que fa-

zer a diferença, pois, do contrário, se

torna um depósito de crianças que mal

saberão ler e escrever.

É hora de investir em projetos pedagó-

gicos, na infra-estrutura das escolas, na

valorização do professor e em melho-

res salários para eles, o que impedirá o

educador de precisar lecionar em três

ou quatro escolas. Defendo o tempo

integral, com pelo menos oito horas do

aluno na escola, de forma interessante,

com atividades esportivas, culturais, de

informática e línguas estrangeiras. Se o

estudante estiver motivado, não have-

rá força no mundo que o faça não apre-

ender novos conhecimentos.

Há muito o que fazer. No entanto, é

importante salientar que o desenvol-

vimento da educação só dará frutos nas

próximas décadas, tendo em vista os

anos de omissão. Precisamos da inte-

gração de estados e municípios, de

boas gestões e do envolvimento do cor-

po docente no novo plano. A prova

dos nove é na sala de aula e, com es-

forço, vamos avançar no ensino bási-

co e dar início a um novo século da

educação no Brasil.

É hora de investir

em projetos

pedagógicos, na

infra-estrutura das

escolas, na

valorização do

professor e em

melhores salários

para eles, o que

impedirá o educador

de precisar lecionar

em três ou quatro

escolas

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Recentemente, o jornalista Fernando

Rodrigues, da Folha de São Paulo, foi de uma

atrocidade total em relação às instituições de ensino

superior particulares. Seu editorial, do dia nove deste mês,

intitulado Capitalismo sem Risco, foi de uma infelicidade

ímpar ao escrever que “O nível médio desses estabelecimentos

- com as honrosas exceções - é um lixo completo”. A crítica

relacionava-se ao projeto de lei 920, proposto pela Presidência da

República, que possibilitará às instituições educacionais, em débito

com o Governo, que saldem suas dívidas fiscais vencidas, usando tí-

tulos públicos a serem quitados por matrículas de seus estudantes.

iaeducação

Por: Gabriel Mário Rodrigues, Presidente da ABMES -Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior,

Reitor da Universidade Anhembi Morumbi

Por melhores e mais legítimos que pu-

dessem ser seus argumentos contra a

medida presidencial, nada justificava

sua animosidade contra o ensino parti-

cular, se não estiver alicerçada em in-

formações fidedignas e com dados con-

cretos. Para julgar é necessário ter ar-

gumentos sólidos e não juízo de valor

meramente subjetivo, tendo por base

pensamento próprio. Ao menos deve-

ria conhecer o SINAES - Sistema Na-

cional de Avaliação do Ensino Superi-

or, que é o único instrumento do MEC

que tem a finalidade de avaliar institui-

ções e, que inclusive, por ser recente,

ainda levará tempo para ter resultados

confiáveis e consolidados. O ENADE,

que faz parte deste sistema, poderia sim

passar-lhe alguns elementos para uma

melhor análise da situação. E sem dú-

vida, seus resultados comprovariam que

o desempenho das escolas particulares

não difere muito da alcançada pelo en-

sino público. O índice que mostra o

percentual de aumento do conheci-

mento dos alunos ao longo de todo o

curso universitário, por exemplo, é de

58,2% nos cursos oferecidos pelas ins-

tituições federais. O resultado é seme-

lhante nas instituições particulares que

é de 53,5%. Assim, o nível médio das

instituições de ensino superior brasilei-

ras se equivale. Ao contrário do que

afirma o artigo, as exceções ficam por

conta de poucas instituições cujo de-

sempenho é desabonador. E para isto, o

próprio MEC tem medidas saneadoras.

Na questão da qualidade educacional,

o melhor avaliador é, sem dúvida algu-

ma, o mercado de trabalho e, por esta

razão, o jornalista deveria estar mais

bem informado. Poderia tomar conhe-

cimento de duas pesquisas anuais rea-

lizadas pela Franceschini Análises de

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daresponsabilidadesocial

educação

Gabriel Mário Rodrigues

Mercado, tendo como base o ranking

das 500 maiores e melhores empresas

da Revista Exame. Elas mostraram

que mais de 70% dos executivos que

ocupam cargos de alto e médio esca-

lão, nas mais importantes organizações

empresariais do Estado de São Paulo,

são provenientes de instituições priva-

das. É lógico que esses profissionais não

seriam escolhidos pelas empresas que

dirigem, se tivessem se formado em es-

tabelecimentos cujo nível de qualida-

de fosse aquele, injustamente, citado

pelo jornalista.

De tudo isto se conclui que, por maior

esforço que as escolas particulares fa-

çam para cumprir seus objetivos edu-

cacionais, muito pouco é percebido

pelos meios de comunicação e pelos

formadores de opinião. É culpa do pró-

prio segmento, simplesmente porque

não consegue divulgar as centenas de

atividades que são realizadas pelas ins-

tituições. E não precisa ir muito longe

para enfatizarmos esta afirmação, pois

a sociedade como um todo pouco per-

cebe e tem conhecimento das ativida-

des de extensão que as entidades parti-

culares fazem anualmente que, são mais

de 10 milhões de atendimentos em áre-

as como educação, saúde, direito, re-

creação e outras. Por esta razão, e para

mostrar o que se faz habitualmente

como prestação de serviços à comuni-

dade, é que a ABMES - Associação

Brasileira de Mantenedores de Ensi-

no Superior, realizará no próximo dia

27 de outubro, o Dia da Responsabi-

lidade Social do Ensino Superior Par-

ticular. Data esta, criada com intuito

de demonstrar, de forma sintetizada,

o que é feito habitualmente em todos

os dias no atendimento à população.

É a maneira de dar visibilidade e fazer

com que as ações que são desenvolvi-

das diariamente pelas Instituições de

Ensino Superior Privadas sejam per-

cebidas pela sociedade. !

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educação

MECaprovarecomenda

curso de direito da

UnipalmaresPor: Francisca Rodrigues, Editora-executiva

A Ordem dos Advogados do Brasil eo Ministério da Educação aprovarama criação e a instalação da primeira Fa-culdade de Direito do País focada novalor e trajetória do Negro Brasileiro: aFaculdade de Direito da Universidadeda Cidadania Zumbi dos Palmares.A Unipalmares, pela primeira vez des-de sua criação, fará vestibular para o 2ºsemestre, oferecendo além do curso deDireito, também o de ComunicaçãoSocial – Rádio e TV e Tecnologia deSistemas da Informação. Além desses,

também haverá vestibular para o já tra-dicional curso de Administração deEmpresas, com habilitação em Admi-nistração Geral, Financeira, ComércioEletrônico e Comércio Exterior.Única universidade idealizada por ne-gros, a Unipalmares tem como foco acultura, a produção e a difusão dos va-lores da diversidade, é a única com esseperfil na América do Sul e uma daspoucas com o mesmo objetivo nomundo – trabalhar pela diversidade einclusão do afro-descendente no ensi-

no superior no Brasil.Segundo manifestação da OAB Brasil,“a proposta é inovadora, possuindoum projeto diferenciado, o que justi-fica a criação do curso de graduaçãoem Direito, na forma presencial, comtrezentas vagas anuais, para a cidadede São Paulo/SP.”

Necessidade Social

De acordo com o parecer da OAB Bra-sil, na cidade de São Paulo/SP já exis-tem “68” cursos jurídicos em funcio-

OABe

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educação

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Campus II Unipalmares

namento, com uma oferta aproximadade 19.000 vagas. Considerando a po-pulação local, segundo estimativa doIBGE, de 11.016.703 habitantes, con-clui-se que não há necessidade socialpara instalação de um novo curso. “En-tretanto, a Comissão Provisória de

Ensino Jurídico deste Conselho anali-sou a proposta a luz do artigo 2º daInstrução Normativa n. 01/1997, en-contrando características de um proje-to diferenciado.”O parecer, assinado por AdilsonGurgel de Castro, Presidente da Co-

missão Provisória de Ensino Jurídicodo Conselho Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil diz que “o pro-jeto é inovador. A Comissão Provisó-ria de Ensino Jurídico deste Conse-lho opina favoravelmente ao pleito daIES (Unipalmares).”

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saúde

r i scoda bo l aPor: Leôncio Queiroz Neto, Médico Oftalmologista do Instituto Penido Burnier e doHospital Albert Einstein - leô[email protected]

A visão é um dos mais importantes (se-não o mais importante) dos sentidos.Inclusive, todos os atletas hão de con-vir que enxergar – e bem – faz partedas boas finalizações e do bom desem-penho nas atividades esportivas. Du-

rante os dias dos jogos da Copa doMundo, as lesões musculares, as que-das, as fraturas e até bolhas nos pésforam motivos de problemas para osatletas. Entretanto, há um trauma queocorre, principalmente com os jogado-

res de futebol, e que quase sempre nãoé lembrado: os traumas oculares.Apesar de estarem em quarto lugar emfreqüência, após os traumas ocorridosna rua, em casa e no trabalho, o trau-ma ocular na atividade esportiva, sig-nifica uma causa importante, pois re-presenta 25% do total de casos. NosEUA ocorrem, em média, 100 mil ca-sos de acidentes com os olhos dos atle-tas por ano, o que representa 14% detodos os atendimentos oculares. Estu-dos realizados recentemente no Bra-sil mostram que 14% dos casos deperfuração ocular que chegam aospronto-socorros são relacionados alazer e esporte que envolve contatofísico, raquetes, bolas rápidas e es-portes aquáticos. A Universidade Fe-deral de Santa Catarina analisou cau-sas de traumas oculares por esporteno ano de 2004 e apurou que 50%foram causados durante partidas defutebol de campo. Estudo da Esco-la Paulista de Medicina mostrou queo futebol também foi a causa prin-cipal de trauma ocular. Em entrevis-ta que realizei com 80 jogadores daFederação Paulista de Futebol, 25 játiveram algum trauma ocular duran-te algum jogo.Problemas de visão entre jogadores defutebol são muito comuns, e há algunscasos clássicos, como do ex-jogadorTostão, hoje comentarista de futebol,que teve sua carreira encerrada preco-cemente por causa de problemas gera-dos por um deslocamento de retina.Viola teve uma fratura de órbita. Oentão técnico da Seleção Brasileira,João Saldanha, ameaçou não convocarPelé para a Copa de 70, porque ele nãoestaria enxergando bem. Consideradalouca, a dedução de Saldanha foi con-firmada somente há poucos anos atrás,

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saúde

Leôncio Queiroz Neto

quando veio à tona a história de quePelé é míope dos dois olhos há déca-das e, por causa disso, teve um deslo-camento de retina, que quase o deixoucego do olho esquerdo. Várias pessoasse lembram do jogador Davids, daHolanda, com seus óculos de proteção,pois realizou cirurgia para glaucoma, oque deixa os olhos mais vulneráveis.Uma coisa é certa e os estudos são cla-ros: 90% dos acidentes oculares em to-dos os esportes são evitáveis. Portan-to, por mais estranho que possa pare-cer, além das caneleiras, mais um itempoderia ser incorporado no arsenalde proteção de jogadores de futebol:óculos. E isso não é nenhum exagero.Em todas as áreas da saúde, prevenir ésempre o melhor caminho. Protegercontra os raios UV e diminuir o des-conforto do sol são também benefíci-os dos óculos de proteção. A exposi-ção constante ao sol pode causar quei-maduras na córnea, degeneração naretina, aparecimento de pterígio, alémde agravar quadros de catarata.Romário já teve pterígio, uma membra-na que cresce sobre o olho e que temque ser retirada com pequena cirurgia.Todo trauma ocular deve ser conside-rado potencialmente sério. Por vezesuma pequena batida nos olhos podecausar danos irreparáveis. Uma das ra-zões para a ausência dos óculos nosjogos são as normas futebolísticas queestabelecem que o atleta não pode en-trar em campo com acessórios quepossam machucar o adversário. Porisso, a questão do uso obrigatório dosóculos de proteção ainda é motivo dediscussão entre as confederações.O importante é dizer que é possível tra-tar, de maneira factível, os problemasvisuais dos jogadores sem que isso atra-palhe a carreira. Pelo contrário. Esse

tratamento vai possibilitar, inclusive,melhora do desempenho dos atletas. Odesenvolvimento da visão periférica(ou lateral) permite enxergar o que noscerca e é essencial para uma boa defe-sa durante os jogos. Outra dica impor-tante para os jogadores é saber qual é oseu olho dominante, isso por que esseolho transmite informações ao cérebromais rapidamente e o posicionamento

do jogador que mantenha desobstruí-do o olho dominante lhe possibilitará achance de boas finalizações.Os times ficam atentos com a capaci-dade cardio-respiratória e ortopédicado atleta, mas desconhecem a culturada boa acuidade visual. Em tempo: umem cada quatro jogadores entrevista-dos da Federação Paulista nunca haviafeito exame de visão antes. !

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saúde

madoença genética:

nemiaa fa lc i f o rmePor: Karin Schmidt Rodrigues Massaro, responsável pelo depto. deHematologia do Hospital Santa Catarina e do Centro de Estudos Fanem

A anemia falciforme é uma doença ge-nética causada pela presença da hemo-globina S (HbSS) em homozigose (ex-pressão gênica máxima).É caracterizada por anemia hemolítica(por destruição) crônica, susceptibili-dade às infecções e episódios de oclu-são dos vasos sangüíneos de repetição,associados às lesões orgânicas crônicase crises dolorosas agudas. Entre todasas doenças falciformes (existem outrostipos), esta é a forma que apresentamaior gravidade clínica e hematológi-ca além de ser a mais prevalente.Estima-se que no Brasil há mais de 2

milhões de portadores do gene da ane-mia falciforme (só portador, sem a do-ença), desses, mais de 8 mil apresentama forma grave (SS-expressão gênica du-pla). Estima-se ainda que haja 700 a 1000novos casos anuais de doenças falcifor-mes, sendo, portanto, consideradas comoimportante problema de saúde pública.O gene S é originário da África e apre-senta-se amplamente distribuído em to-dos os continentes, atingindo alta pre-valência em população negra e seus des-cendentes. No Brasil, a distribuição dogene da anemia falciforme é heterogê-nea, sendo mais freqüente nas regiões

Norte e Nordeste. Esta variação regio-nal está relacionada com a contribuiçãodos grupos étnicos formadores.A mortalidade de crianças menores de 5anos atinge a porcentagem de 25% a30%. Esses dados enfatizam a importân-cia do diagnóstico precoce e instituiçãode tratamento correto para promover aredução nesse índice de mortalidade.As opções de terapêuticas mais efi-cazes atualmente disponíveis são otransplante de medula óssea e a hi-droxiuréia. O transplante, apesar deser a medida curativa, quando dispõede um doador compatível, é consi-

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saúde

Karin Schmidt Rodrigues Massaro

derado de alto risco por alta taxa decomplicações e mortalidade.A hidroxiuréia é uma droga utilizadaem neoplasias hematológicas e consti-tui uma alternativa ao tratamento con-vencional. Atua aumentando a hemo-globina fetal que transporta melhor ooxigênio. Entretanto, possui efeitoscolaterais tais como: diminuição dasplaquetas, diminuição dos glóbulosbrancos e predisposição às doençasmalignas (leucemia, por exemplo).As células afetadas (glóbulos verme-lhos) apresentam o aspecto de foice,que não transporta bem o oxigênio etêm vida média de apenas 17 dias.Além da predisposição às infecçõespode ocorrer atraso do crescimento,úlceras nas pernas, “pedra na vesícula”,acúmulo de ferro no organismo (pelastransfusões) etc.A anemia falciforme é uma doença he-reditária e não tem cura. Portanto, paradiminuir as complicações e mortalida-de é imprescindível o diagnóstico pre-coce, através de exames de sangue.Seria muito bom que esse tipo de ane-mia tivesse o destaque merecido, apósa edição, pelo Ministério da Saúde daportaria n. 822/01, que regulamentaa triagem neonatal de vários distúrbi-os hereditários, inclusive dessa doen-ça. Além disso, as ações da Anvisa(2002) poderão contribuir para me-lhor divulgação da anemia falcifor-me e outras hemoglobinopatias paratodos os profissionais. São sugeridasalgumas condutas para prevenção ediagnóstico precoce:

a) Igualdade de oportunidade para odiagnóstico clínico e laboratorialdas anemias hereditárias em todasas faixas etárias.

b) Inclusão do diagnóstico laborato-rial das anemias hereditárias nos

exames pré-nupciais e pré-natais,sem, contudo, induzir a qualquerprática de intervenção ilegal.

c) Formação de equipes multidiscipli-nares para praticar programas deeducação, aconselhamento genéticodos afetados, tanto com o traço(portador), como com a doença.

d) Sem ferir nenhum preceito ético ou

moral, sem induzir a qualquer idéiade eugenia ou de qualquer formade segregação, e também sem in-vadir a privacidade do cidadão, se-ria fundamental começar a discutiro aprofundamento do estudo dohemograma, realizando o diagnós-tico das anemias hereditárias, inclu-sive da anemia falciforme. !

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mercado de trabalho

desigualdade

rendade

enormeé

O gênero e a raça não são questõesde minorias no Brasil, estamos falandode uma ampla maioria da sociedade“

Por: Demetrius Trindade, da Redação

Relatório da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT), divulgado emmaio, mostra que o homem negro coma mesma qualificação e nível educacio-nal recebe um terço menos do que ohomem branco. A renda mediana paraas negras foi de R$ 316,00 por mês em

2005, contra R$ 632,00 para homensbrancos. Homens e mulheres negrosganham menos do que os brancos, semimportar o nível educacional. Mesmocom estes números, a pesquisa apontaque a desigualdade de renda entre bran-cos e negros no Brasil caiu.

“Mas a desigualdade caiu devido a su-cessivos aumentos do salário mínimo,redução da inflação e declínio nos gan-hos reais dos homens brancos, segun-do o estudo. O Brasil também obteveprogressos em políticas destinadas a re-duzir a desigualdade racial”, afirma Laís

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Abramo, diretora da OIT no Brasil.“Há muitos países que nem querem re-conhecer a discriminação racial”.A diferença entre as rendas de negrose brancos no Brasil caiu 31%, no perío-do entre 1995 e 2005, de acordo como estudo. “O gênero e a raça não sãoquestões de minorias no Brasil, esta-mos falando de uma ampla maioria dasociedade”, completa a diretora.O relatório ainda aponta que a lutacontra a discriminação no mundo dotrabalho registra importantes progres-sos, mas existe preocupação porquecontinua sendo significativa e persis-

tente com crescente desigualdade derendimentos e oportunidades.

Trabalho e discriminação

A diferença de rendimentos médios en-tre homens brancos e negros no Brasilcaiu 32,6% entre 1995 e 2005. A redu-ção, no entanto, não ocorreu apenaspela evolução da renda dos negros,mas, principalmente, pela queda dosalário dos brancos.No período analisado, o salário dos ho-mens negros subiu 4,7%, passando deR$ 402,00 para R$ 421,00, em núme-ros corrigidos pela inflação. Já o doshomens brancos foi o único que caiu:

11,6%, passando de R$ 715,00 paraR$ 632,00. O de mulheres brancas su-biu 6% (de R$ 447,00 para R$ 474,00).O salário de mulheres negras aumen-tou 41% nos dez anos analisados, amaior alta registrada pela pesquisa. Mascontinua sendo o segmento com me-nor rendimento: R$ 316,00 em 2005, eR$ 223,00 dez anos antes.A diferença de salário entre homensbrancos e negros era de R$ 313,00 em1995 e caiu para R$ 211,00 em 2005.Entre mulheres brancas e negras, pas-sou de R$ 224,00 para R$ 158,00, umaqueda de 29,5%.

mercado de trabalho

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Fonte: OIT

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tomarartede

decisões

Por: Washington Grimas – Profº da Unipalmares, Consultor de Projetos de TI

80 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

A cada momento, as pessoas em qual-quer estágio de sua existência e inde-pendente de raça, religião, nacionalida-de, nível social e cultural, têm de to-mar decisões. Em algumas situaçõesnão é fácil ou agradável ter de decidirsobre alguma coisa. Decidir pode tra-zer conseqüências inesperadas e as im-plicações mais perigosas. No entanto,por mais fácil ou desagradável que sejatomar decisões é uma das tarefas maiscotidianas do gestor, a ponto de HerbertSimon (economista americano) afirmar:“Administrar é essencialmente tomardecisões”, e Peter Drucker (papa daciência da administração) conclui:“Tomar decisões é a tarefa específicados gestores”.O processo de tomar decisão é a esco-lha conscienciosa de uma linha de açãoentre duas ou mais alternativas. É difí-cil imaginar uma atividade que não exijaa tomada de decisão, mas as decisõesvariam em relação à sua importânciapara a situação em que devem sertomadas. Contudo, independente darelevância e situação o processo de to-mada de decisão compreende as se-guintes etapas:

• Descoberta do problema (situa-ção, desafio): Nem sempre o fatoque nos leva ao processo decisório éum problema, em algum momentopodem ser novos desafios ou velhassituações que foram contornadas háalgum tempo;

• Levantamento de Fato: Ao desco-brir o problema ou identificar o de-safio, levantamos os fatos que sãopertinentes ao que foi descoberto;

• Diagnóstico do problema: Emposse dos fatos mensurados e clas-sificados iniciamos o processo dediagnóstico do problema, identifica-

mos corretamente os fatores deter-minantes do problema ou desafio;

• Busca e análise de alternativas:Neste momento já conhecemos oproblema ou entendemos o desafioe vamos buscar as melhoras alterna-tivas e soluções para resolvermos omesmo, neste momento técnicascomo “Brainstorming” (tempestadesde idéias), análise “SWOT” (pontos

do). É preciso saber quais foram aeficácia e impacto do resultado denossa decisão e se efetivamente é asolução adequada e definitiva, casocontrário fazemos uso de nossa con-tingência e novamente implantamose aplicamos nosso plano de ação.

Para fazer uso eficaz, objetivo e pro-dutivo deste processo é necessário queo tomador de decisão recorra a suacapacidade de julgamento, criativida-de, análise quantitativa e experiência

fortes, fracos, oportunidades e ame-aças) são ferramentas muito úteis;

• Escolha de alternativa (decisão):Após conseguir inúmeras idéias con-siderações e soluções selecionamospelo menos as duas melhores, issoporque sempre temos que ter umacontingência (plano “B”) pronta parao caso da alternativa mais adequadapara o momento não obter o resul-tado ou impacto esperado;

• Implementação da decisão (plano

de ação): Em posse da solução, parti-mos para a implementação da decisãomais adequada. Mas para isso primei-ro temos que elaborar um plano deação detalhado e coerente para poder-mos colocar em prática nossa decisão;

• Avaliação dos resultados: E final-mente vamos avaliar e medir o resul-tado de nossa decisão (não se podegerenciar o que não pode ser medi-

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mercado de trabalho

Washington Grimas

Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 81

(profissional e pessoal), além de levarem consideração alguns fatores huma-nos que influenciam no processo detomada de decisão, tais como: valorespessoais, percepção, dinâmica interna dotomador de decisões, administração dotempo e aspectos políticos e de poder.Também é necessário sabermos queas decisões são classificadas em duascategorias - programadas e não pro-gramadas - que têm as seguintes ca-racterísticas:• Decisões programadas: São ca-

racterizadas pelas rotinas para asquais é possível estabelecer um pro-cedimento padrão para ser aciona-do cada vez que ocorra sua neces-sidade. São decisões permanentes ecaracterizadas por situações bemdefinidas, repetitivas e rotineiras epara essas decisões sempre existeminformações adequadas e geralmen-te servem como guias de processode negócios e atividades administra-tivas, tais como: objetivos, desafi-os, metas, políticas e procedimen-tos operacionais e de negócios.

• Decisões não programadas: São asdecisões não estruturadas e caracte-rizadas basicamente pela novidade,isso porque não é possível estruturaro método padrão para serem acio-nadas dadas a inexistência de refe-rências precedentes, ou então por-que o problema a ser resolvido, devi-do a sua estrutura, é ambíguo e com-plexo, ou ainda porque é importanteque sua solução implique a adoção demedidas específicas. Normalmenteestão inseridas num contexto de am-biente dinâmico, que se modifica ra-pidamente com o decorrer do tempo.

Temos que estar atentos também a fa-tores como informação, experiênciaempírica, grau de risco, recursos dis-

poníveis (financeiro, humanos,tecnológicos entre outros), ambiente(interno/externo), criatividade e éticaentre outros, pois eles influenciam noprocesso decisório e devem ser men-surados e considerados. Tendo ciênciae entendimento desses fatores, pode-mos “prever” ou conhecer os impac-tos relevantes ou não para a decisãoque for tomada, por exemplo: conge-lamento de pagamentos, corte no qua-dro funcional, encerramento de ati-vidades em uma unidade produtivo-administrativa. Esses impactos esuas conseqüências podem ser decurto ou longo prazos, imediatas oucombinação de todas como um im-pacto multidimensional.Outro aspecto que deve ser levado emconsideração é o medo de errar, por-que, geralmente toda decisão gera umamudança em maior ou menor grau.Gestores tradicionais tendem a ver todaa mudança com ceticismo e desconfi-ança. Além disso, qualquer mudançatende a se defrontar com alguma resis-

tência por parte das pessoas afetadaspor ela, com isso surge algumas vezesno processo de tomada de decisão omedo de criar conflitos, o medo da re-ação da equipe e o medo de errar. Etodos esses medos contribuem paradesenvolver no gestor pouco experi-ente o medo de decidir. Esse medopode ser reforçado por algumas cren-ças errôneas, como a tendência a acre-ditar que certas coisas acontecerão porsi mesmas ou que o adiantamento dedecisões tende a sempre melhorar a suaqualidade. É claro que algumas coisasespecíficas têm a sua hora certa deacontecer, mas não se pode ficar para-do esperando esse momento.Como podemos constatar, o processodecisório vai desde escolher pela ma-nhã se vamos utilizar uma roupa comtons azuis ou verdes, até a situação denegociarmos um contrato comercial demilhões de euros e arcar com as con-seqüências de nossas escolhas. Comojá foi mencionado, todos os dias e atodos os momentos tomamos decisões.Mas para aquelas de âmbito empresa-rial e profissional, podemos contar comalgumas ferramentas, procedimentos eprocesso que de certa forma são sim-ples e objetivos, mas muito eficazes.Entre essas, por exemplo, a RegressãoLinear, Árvore de Decisões e soluçõestecnológicas da informação como ossistemas integrados SAD (Sistema deApoio a Decisão) e SSE (Sistema deSuporte Executivo), além do mecanis-mo do próprio processo decisório.Como profissionais temos que buscarconstantemente o aprendizado e o de-senvolvimento de nossas competênci-as como tomador de decisões fazendouso de nossas experiências das pesso-as e profissionais, mas a decisão paraisso cabe apenas a você. !

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mercado de trabalho

rela ões de

Brasiltrabalhonoç

No governo do Presidente FernandoHenrique Cardoso o artigo 618 daConsolidação das Leis do Trabalho(CLT), que colocava o acordo entrepatrão e trabalhadores acima de qual-quer aspecto garantido pelas leis tra-balhistas, fomentou a discussão sobrea necessidade de uma reforma traba-lhista e da flexibilização da CLT.Agora no governo do Presidente Lulaa emenda 3, intitulada como a “vilã”que quer eliminar os direitos trabalhis-tas está sendo discutida no CongressoNacional. Essa emenda reza sobre apossibilidade do empregador, ao serautuado por contratar um prestador deserviços ao invés de um trabalhadorcom registro na Carteira de Trabalho ePrevidência Social (CTPS), aguardar aautorização da Justiça sobre a efetiva-ção dessa autuação. Com a já conheci-da morosidade jurídica do nosso País,exceto casos privilegiados onde existea influência do poder econômico, essapostergação da autuação e a procrasti-nação do pagamento da multa contri-buiriam de maneira significativa parao aumento dessa prática (contrataçãode prestadores de serviço).

A exigência do mercado por compe-titividade originou uma necessidadeconstante de revisão de custos parasua posterior redução. As organiza-ções, preocupadas com a sua sobrevi-vência, manutenção ou expansão, es-tão buscando estratégias alternativasde transformar seus custos fixos emcustos variáveis, partindo para a ter-ceirização de seus processos e de par-te de seus trabalhadores.A terceirização é um processo que de-lega certas funções, em grande parteas operacionais de uma organização, aoutras organizações prestadoras de ser-viços com a finalidade de aumentar asua eficiência e manter o foco na suaverdadeira vocação, no seu core business.Esse processo de terceirização, se bemplanejado e de acordo com os aspectoslegais, é uma alternativa que pode real-mente trazer redução de custos e au-mento da qualidade e produtividade.Uma outra forma de terceirização, co-mum no Brasil, é a da mão-de-obra.Uma organização qualquer “negocia”com um ou mais trabalhadores umcontrato de prestação de serviços, demaneira que o profissional, ou um

grupo de profissionais, passa a ter umarelação de trabalho diferente da regidapela CLT. O trabalhador abre mão debenefícios compulsórios, tais como oFundo de Garantia por Tempo de Ser-viço (FGTS), 13º Salário e Férias, porexemplo, em troca de um valor maiorde remuneração e de uma contribui-ção menor à Previdência Social e aoImposto de Renda. O trabalhador temque constituir uma empresa e passa aresponder ao contratante como pes-soa jurídica. Essa prática é mais co-mum no nível gerencial de pequenase médias empresas para atrair profis-sionais qualificados com menor cus-to para a organização e maiores ren-dimentos ao trabalhador.No que se refere aos aspectos legais, esegundo o Superior Tribunal do Tra-balho, a terceirização é permitida des-de que para as atividades-meio de umaorganização, ficando vetado o seu em-prego para as atividades-fim. Isso signi-fica, por exemplo, que uma Instituiçãode Ensino tem o direito de terceirizarserviços de cópias de documentos, desegurança, limpeza e conservação da suaedificação, porém, não pode terceirizar

Por: Márcio Juliano, Profº da Unipalmares

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mercado de trabalho

seus professores, pois ensinar é a razãode existir desse modelo de negócios.Algumas outras condições para a tercei-rização devem ser consideradas aoadotá-la como prática. Uma delas dizrespeito às relações de subordinação ehierarquia. Em momento algum a or-ganização contratante poderá criar ouexigir submissões ou responsabilida-des no gerenciamento de pessoas dosprestadores de serviço, assim, a con-tratante não pode dar ordens diretasaos terceirizado, ficando essa tarefa acargo da contratada. Outro aspecto ésolicitar que a prestadora de serviçosfaça um rodízio dos trabalhadores de-signados para as tarefas, pois a cons-tância de um mesmo trabalhador podeconfigurar vínculo empregatício peran-te a justiça trabalhista. Outra práticaque configura vínculo empregatício éa emissão do documento fiscal, pelocontratado, única e exclusivamente à or-ganização contratante (exclusividade).Mais um aspecto a ser considerado emuma terceirização é a notificação for-mal (com firma reconhecida), da orga-nização contratada pela contratante,sobre potenciais riscos de acidentes nolocal de trabalho.Por fim, não se pode esquecer que,ao contratar uma empresa terceiriza-da, a contratante deve monitorar cons-tantemente se as obrigações trabalhis-tas estão sendo cumpridas pela con-tratada, pois existe o risco dela ser acio-nada, como solidária ou subsidiária emcasos de ações trabalhistas contra acontratada.Uma possibilidade legal para aumen-tar a competitividade, mantendo os tra-balhadores em regime CLT sem agre-dir os seus direitos adquiridos, é geriro capital humano de maneira estraté-gica, com a utilização de meios de re-

muneração estratégicos.Essa é uma maneira, semcustos à organização, deaumentar a remuneraçãodos seus trabalhadores comum respectivo programa demelhoramento contínuo,aumentando a qualidade ea produtividade do traba-lho e a satisfação dos tra-balhadores. Não se trata demágica, mas sim de um sis-tema de remuneração vari-ável que premie as açõesconcretas que efetivamen-te produzam ganhos para aorganização.Associar esse tipo de remu-neração estratégica (variável)com menores salários fixospode ser uma boa alternati-va para gerar competitivida-de e inovação a um custo relativamen-te mais baixo, sem aumentar a assime-tria da relação Capital X Trabalho.De qualquer modo, a discussão sobremudanças nas leis trabalhistas não deveser iniciada com a questão se elas (as mu-danças) devem ou não ocorrer, mas simem que sentido elas ocorrerão. Sabemosque algumas categorias de trabalhadoresencontram na terceirização uma alterna-tiva a CLT por total engessamento desuas atividades, tornando obsoleta a suaempregabilidade frente às exigências desua profissão. Sabemos também que al-guns empresários, na ânsia de lucros ob-tidos de qualquer maneira (inclusive ilí-cita) oprimem trabalhadores, desrespei-tando seus direitos. Uma nova regula-mentação das relações de trabalho noBrasil é prioritariamente necessária.Uma estimativa realizada pelo BancoMundial indica que a economia brasi-leira apresenta 40% de informalidade,

o que significa uma considerável per-da de arrecadação de impostos e en-cargos sociais para o nosso governo.Segundo um estudo realizado pela Cen-tral Única dos Trabalhadores (CUT) ainserção de 3% de trabalhadores infor-mais no mercado de trabalho formalseria suficiente para zerar o déficit daPrevidência Social.Portanto, uma maior quantidade de tra-balhadores formais, sejam as suas rela-ções de trabalho regidas pela CLT oupor um contrato de prestação de ser-viços, terá como conseqüência umamaior contribuição para o Estado, demodo que a inserção formal dessescontribuintes se transformará em umadas opções para equilibrar a arrecada-ção e angariar parte dos recursos paraos investimentos necessários para odesenvolvimento sustentável e a con-solidação do nosso País como umapotência mundial. !

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Márcio Juliano

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84 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

O Conselho Constitucional francês

concedeu registro a 12 candidatos para

concorrer às eleições presidenciais. Dis-

putaram o 2o turno Nicolas Sarkozy, e a

Ségolène Royal. A candidata do Partido

Socialista propôs um pacto presidencial,

com 100 propostas. Mereceu destaque

em seu glossário eleitoral o recall, vi-

sando a temperar a democracia repre-

sentativa com pitadas de democracia

participativa. Seu discurso em torno de

valores da ordem e do trabalho lhe valeu

contudo a acusação de deriva à direita.

No primeiro turno, despontou como

azarão o centri sta François Bayrou, an-

tigo ministro da Educação. Opõe-se à

clivagem direita-esquerda. O líder da

Frente Nacional, extrema-direita, Jean-

Marie Le Pen, teve presença apagada em

sua 5a. corrida ao Eliseu. Em 2002 eli-

minou o socialista Lionel Jospin, e, de

modo surpreendente, chegou ao 2o tur-

no. Com presença irrisória no pleito, a

comunista Marie-George Buffet.

Dominique Voynet, candidata dos Ver-

lossáriodes falou de ecologia política. Foi mi-

nistra do Ambiente de 1997 a 2001.

Frédéric Nihous, candidato do grupo

Caça Pesca Natureza Tradições CPNT,

defendeu a ruralidade contra a Europa

federal e liberal e o intreguismo ecologis-

ta. Olivier Besancenot, candidato da

Liga Comunista Revolucionária (LCR),

denunciou a política da direita, mas

também os sociais-liberais do PS.

Arlette Laguiller, candidata da Luta

Operária, disputou a presidência pela

sexta vez. Philippe de Villiers, presiden-

te do Movimento pela França (MPF),

arauto da soberania nacional, defende a

imigração zero e a Europa das nações.

Gérard Schivardi, artesão e conselheiro

municipal, candidatou-se com apoio do

Partido dos Trabalhadores (PT). O can-

didato José Bové, líder camponês, celebri-

dade do movimento anti-globalização,

consagrou-se com a luta contra a glo-

balização e os produtos transgénicos.

Nicolas Sarkozy, 52 anos, advogado de

formação, candidato pela União por um

Movimento Popular, UMP sucede o

conservador Jacques Chirac. Teve rela-

ção tensa com Chirac, desde que apoiou

seu rival, Edouard Balladur, nas eleições

de 1995. Além de Ministro do Interi-

or, cargo de que se afastou pouco antes

das eleições, já foi Ministro da Econo-

mia. Sua proposta de criação do Minis-

tério da Imigração e da Identidade Na-

cional provoca críticas, que explicita a

incorporação, em seu plano de gover-

no, de crescente discriminação de imi-

grantes na União Européia em geral. No

que interessa ao Brasil, não há indício

de que vá rever a política agrícola pro-

tecionista de Jacques Chirac. A surpre-

sa está na escolha de seu Ministro das

Relações Exteriores, o socialista e fun-

dador da entidade Médicos Sem Fron-

teiras, Bernard Kouchner. Como hipó-

tese, pode ser levantada a tática de atra-

palhar o Partido Socialista na campa-

nha às eleições legislativas de junho

próximo, isentando-se da pecha de ser

chefe da direita, ao colocar em seu ga-

binete líder estudantil da rebelião de

1968. Kouchner foi do Partido Comu-

nista, passou para o Partido Socialista e

participou da campanha de Ségolène

Royal. A pecha de traidor lhe é assacada.

E a França de Sarcozy reitera a predomi-

nância dos partidos de centro na União

Européia, preocupados com a questão

migratória e dispostos a erodir tentati-

vas de críticos do neo-liberalismo.

eleitoral francês

plural

!

Por: Paulo Edgar Almeida Resende, Coordenador do Núcleo de Análise deConjuntura Internacional – PUCSP

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 85

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86 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

ONU e LBV:

plural

Por: Paiva Netto, Jornalista, Radialista e Escritor.É Diretor-Presidente da Legião da Boa Vontade.

Os Oito Objetivos do Milênio estabe-

lecidos pelos 191 países membros da

Organização das Nações Unidas, em

2000, cuja implementação está progra-

mada para ocorrer até o ano de 2015,

foram tratados com especial apreço na

1a Feira de Inovações Rede Sociedade

Solidária, promovida em março pela

Legião da Boa Vontade (LBV), em vá-

rias capitais brasileiras e em Buenos

Aires/Argentina, com o suporte da

ONU. A ela se refere a Dra. Michele

Fedoroff, Chefe Adjunta da Seção de

ONGs/Departamento de Assuntos

Socioeconômicos da ONU, em corres-

pondência que muito nos honra, data-

da de Nova York, 27/3/2007: “(...) Em

nome do meu Departamento e da senho-

ra Hanifa Mezoui, Chefe da Seção de

ONGs, representei as Nações Unidas em

alguns desses encontros e foi um grande

prazer a oportunidade de encontrar-me

com o senhor e ter uma frutífera troca de

opiniões sobre temas que serão debatidos

no Conselho Econômico e Social, em sua

próxima sessão (...)”. Esse evento, a AMR

Innovation Fair, que o Ecosoc realizará

em julho, na Reunião do Alto Segmen-

to das Nações Unidas, em Genebra,

Suíça, contará com a presença de che-

fes de Estado, conselhos ministeriais e

demais participantes. Consoante recen-

temente declarou a sra. Hanifa, “eles

desejam ver o que tem sido feito em âm-

bito internacional. E aqui está a LBV,

com status consultivo geral (na ONU)

desde 1999, conquistando seu lugar e

trazendo tudo isto”.

Trata-se de despretensiosa mobilização

da LBV, com a Rede Sociedade Soli-

dária, nesse contexto mundial em

foco. Em documento que estará na

AMR Innovation Fair, reafirmamos que

a Solidariedade hoje se expandiu do lu-

minoso campo da ética e se apresenta

como uma estratégia, de modo que o Ser

Humano possa alcançar a sua sobrevivên-

cia. À globalização da miséria, contra-

pomos a globalização da Fraternidade,

que espiritualiza a economia e solidari-

amente a disciplina, como forte instru-

mento de reação ao pseudofatalismo da

pobreza. (...) Não se espera um repen-

tino milagre, mas o fortalecimento de

um ideal que se estabelecerá, etapa por

etapa, até que se complete o seu ex-

traordinário serviço. Constitui, porém,

assunto urgente. Então, comecemo-

lo ontem. O bom desafio faz bem a

todos. (…)

os oito objetivosdo milênio*

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 87

plural

*Parte I – Continua na próxima edição

Na minha página “Conhecimento es-

piritual gera fartura” constante do en-

saio literário O Capital de Deus, comen-

to: Nestes tempos de globalização de

benefícios mal distribuídos, principal-

mente para a multidão incontável dos

“sem-acesso”, como os denomina o jor-

nalista Francisco de Assis Periotto, toda

nação tem o dever, mais do que o di-

reito, de ser criativa, de tornar-se eco-

nomicamente estável, expandindo sua

indústria, seu comércio e serviços; de

modernizar a instrução e a educação de

sua gente (a tudo iluminando com o

toque da Espiritualidade, que depreen-

de ética no seu mais exalçado sentido e

correspondente ação), sua rede de co-

municações e de transportes; de buscar

a integração harmônica com os demais

povos; e de atingir internacional pres-

tígio. É o óbvio, mas, por essa mesma

causa, deve ser proclamado. Fora dis-

so, vigora a barbárie que por aí vemos

– a cada dia menos disfarçada – e que,

por mais incrível que pareça, a maioria

talvez não a meça devidamente, pois há

um minucioso esforço para mantê-la

distraída, como na era dos césares ro-

manos. Entretanto, com certeza, ela

cada vez mais irá percebendo os perni-

ciosos efeitos. Isso é fatal. Apenas uma

questão de tempo.

A atual necessidade deplantar a couve e o carvalho

Nenhum dirigente pode fazer coisa al-

guma sozinho. Carece do apoio da so-

ciedade. Todavia, o mínimo que se es-

pera é que governe para seu povo, para a

sua empresa, respeite sua comunidade,

ame sua organização, e assim por diante.

O Homem de visão abrangente sabe

garimpar as almas, não em proveito

próprio, o que é um crime, porém em

prol da coletividade. Eis o sacerdote que

pastoreia com zelo o seu re-

banho; o político de amplo

descortino; o estadista que,

por vezes, os contemporâne-

os não entendem, mas que o

porvir abençoa. Em 29 de

março de 1985, escrevi em “A

Nova República e Jesus”, pu-

blicado no antigo Jornal da

Manhã, de São Paulo:

(...) Rui Barbosa (1849-

1923), o notável civilista bra-

sileiro, de renome internaci-

onal, convida-nos à medita-

ção com estes conceitos de tão

profundo alcance: “Enquan-

to Deus nos dê um resto de

alento, não há que desespe-

rar da sorte do Bem. A injus-

tiça pode irritar-se, porque é

precária. A Verdade não se

impacienta, porque é eterna. Quando

praticamos uma ação boa, não sabemos

se é para hoje ou para quando. O caso

é que seus frutos podem ser tardios, mas

são certos. Uns plantam a semente da

couve para o prato de amanhã; outros,

a semente do carvalho para o abrigo do

futuro. Aqueles cavam para si mesmos.

Esses lavram para o seu país, para a fe-

licidade dos seus descendentes, para o

benefício do gênero humano”.

Nos complexos tempos atuais, prezado

Rui, há que se fazer os dois serviços em

paralelo: plantar a semente do carvalho,

cuja sombra acolhedora se projetará so-

bre as gerações posteriores, e semear o

alimento de agora, contudo para as bar-

rigas vazias, porque ainda hoje ressoa a

advertência de José do Patrocínio (1853-

1905): “Enquanto houver um brasilei-

ro passando fome, somos um povo que

ri, quando devia chorar (...)”. E o sau-

doso jornalista, radialista e Fundador da

LBV, Alziro Zarur (1914-1979), com-

pletava: “... chorar de vergonha!”.

(...) Enquanto os governos não chegam

às “soluções definitivas” para a miséria,

que cada um faça mais do que puder –

e não o deixe de realizar – pelo seu se-

melhante, pondo em ação o podero-

so espírito de Caridade, tão apregoado

e vivido por Jesus e outros luminares

da História não somente religiosa. O

amadurecimento da Alma irmana as

criaturas, concomitantemente, as cultu-

ras terrenas. Por questões tais, mesmo

que chegado o dia em que todos os pro-

blemas sociais sejam resolvidos, a Ca-

ridade será tão necessária quanto ago-

ra, porquanto é sinônimo de Amor. E

sem ele ninguém vive, pois é o alimen-

to do Espírito. Até porque as cidadãs

e os cidadãos, além do bom termo para

os assuntos da alçada de Estado, an-

dam à procura da solução de seus di-

lemas humanos. !

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oJosé de Paiva Netto

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Por: Rosenildo Gomes Ferreira, Repórter darevista IstoÉ DINHEIRO

opinião

saúva dosécu l o

XX IRosenildo Gomes Ferreira

88 Revista Afirmativa Plural ! Junho / Julho 2007

Quem tem mais de 30 anos, por certo,já deve ter ouvido falar no bordão imor-talizado pelo escritor Monteiro Lobato:“Ou o Brasil acaba com a saúva ou asaúva acaba com o Brasil”. O ditadoreferia-se à feroz capacidade predató-ria deste inseto, apto a destruir planta-ções ou inutilizar a terra para a práticaagrícola. Não sei quando estas sábiaspalavras foram proferidas, contudo,tenho certeza que a saúva satanizadapor Lobato, nos idos das décadas de40 ou 50, hoje tem outro nome: impu-nidade. Não passam 15 dias sem querevistas, jornais e emissoras de TVabram espaços generosos para divul-gação de casos de corrupção envolven-do funcionários públicos e políticos. Aonda da vez são as operações condu-zidas por uma agência específica, comoa Polícia Federal, ou uma força-tarefareunindo homens de vários departa-mentos, incluindo até mesmo o Minis-tério Público. O problema é que quan-do se desligam os holofotes da impren-sa, pouco resta. As 10, 20, 30 prisõesresumem-se na reclusão de meia-dúziade “bagres” que não têm acesso a bonsadvogados ou aceitam fazer o papel de“laranja”, assumindo a responsabilida-de por tudo. Mesmo que lhes impu-tem a “queda do Muro de Berlim”.

Nesse ambiente de perplexidade aoqual nós, cidadãos honestos somossubmetidos, restam apenas o sentimen-to de frustração e muitas indagações:1) A Justiça, tão célere na hora de libe-rar seus pares da cadeia é a mesma queleva 10, 15 e até 20 anos para fazer va-ler direitos de aposentados, viúvas oupobres de um modo geral, que tentamenfrentar a máquina do Estado?2) A Polícia, tão diligente na hora deproteger as finanças públicas, é a mes-ma que deixa inquéritos inconclusosquando o tema é a morte de pessoaspobres da periferia?Infelizmente a resposta é sim. Em me-ados de maio, a Polícia Federal (sem-pre ela!) deflagrou uma mega-operaçãopara prender políticos, empresários eservidores federais acusados de desviode verbas públicas. O caso envolviauma construtora que tinha um eficien-te esquema de assalto aos cofres pú-blicos, por meio do Orçamento Geralda União. Pano rápido. Alguém aí selembra da Máfia dos Anões do Orça-mento, desmascarada em 1992? Pois é.O modus operandi continua o mesmo.Mudam-se os personagens e a trilhasonora. Mas a ópera continua bufa!E é fácil entender o porquê. Como aJustiça nunca alcança esses indivíduos,

muito menos o patrimônio deles, valea pena continuar roubando, enganandoe tergiversando. Se você está em apuroscom a lei, basta “descolar” um manda-to parlamentar e, bingo! Ganhou umsalvo-conduto para o passado, o presen-te e, quem sabe, até mesmo o futuro.Trata-se, como dizem os rapazes doCasseta e Planeta, de um “personalsalvêitor para qualquer ocasiêitor!”.O show de eficiência de algumas açõespoliciais, carimbadas com nomes su-gestivos (Navalha, Saúva, Hurricane,Mosaico, Anaconda e Afrodite), ren-dem jornal, saliva, holofotes e honorá-rios para os causídicos de plantão. Maspouco, muito pouco para a construçãoda cidadania plena. A saúva chamadaimpunidade é fruto de um sistema de-senhado exatamente para não dar cer-to. Cuja gênese é direcionar a força daLei e os rigores da Lei apontados sobrea cabeça da “raia miúda”. Não é segre-do para ninguém que as saúvas do sé-culo XXI (ao contrário daquelas quepovoavam o desespero do gênio Loba-to) têm nome, sobrenome e diploma naparede. Resta saber se nós, cidadãos ho-nestos, vamos permitir que a cidadaniaseja derrotada por essa praga vil. !

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Junho / Julho 2007 ! Revista Afirmativa Plural 89

Agenda CulturalO melhor da programação em artes e cultura

Por Rodrigo Massi - [email protected]

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Artes Visuais

Teatro

cultura

“Imagens do Soberano. Acervo do Museu de Versalhes”. A mostra é formada por 59 obras provenientes

do Palácio do Versalhes e quatro do MASP. A exposição procura mostrar a transformação da imagem real

durante os reinados absolutistas de Luis XIV, XV e XVI. Onde: Pinacoteca do Estado (Praça da Luz,

s/n°). Quando: de terça a domingo, das 10h às 18h. Até 05 de agosto. Mais informações: (11) 3228-9844.

“80/90 Modernos Pós Modernos e etc”. Com

curadoria de Agnaldo Farias, a exposição reúne

artistas surgidos nas décadas 80/90 que, no con-

junto de suas realizações, contribuíram para a con-

solidação da maturidade artística no Brasil. Onde:

Instituto Tomie Ohtake (Av. Brigadeiro Faria

Lima, 201). Quando: de 25 de maio a 15 de ju-

lho de 2007. De terça a domingo, das 11h às 20h. Entrada

gratuita. Mais informações: (11) 2245-1900.

“Bob Gruen”. A exposição apre-

senta seleção de imagens da histó-

ria do rock’n’roll feitas pelo céle-

bre fotógrafo americano Bob

Gruen. Destaque para as fotos de

John Lennon durante a permanên-

cia deste em Nova York. A

curadoria da mostra é do cantor

Supla. Onde: Museu de Arte Brasileira da FAAP (Rua

Alagoas, 903). Quando: de terça a sexta, 10h às 20h; sá-

bado, domingo e feriados, 13h às 17h. Até 1° de julho.

Entrada gratuita. Mais informações: (11) 3662-7198.

O espetáculo “Fronteiras”, em cartaz no Mezanino do Centro Cultural FIESP, apresenta diversos

aspectos sobre o tema fronteiras (individuais, geográficas, de linguagem e do corpo). Direção: Newton

Moreno. Onde: Teatro Popular do SESI (Avenida Paulista, 1313). Quando: até 05 de agosto. De

quinta a sábado, às 20h30, domingo, às 19h30. Duração: 80 min. Entrada gratuita. Capacidade: 456

lugares. Mais informações: (11) 3333-7511.

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palavra do presidente

Expressão comumente utilizada no lin-guajar trivial do nosso País traduz umaqualidade consagradora de uma situa-ção inequívoca. Aquela que, por natu-reza, não pese qualquer dúvida sobresua realidade, legitimidade e existênciamaterial e formal no mundo social.Sabidamente, é princípio comezinho daregulação da vida social que, de fato, oque vale mesmo é a norma jurídica, odireito: “ninguém é obrigado a fazerou deixar de fazer alguma coisa senãoem virtude de lei”.É certo, porém, que não são poucas assituações ou acontecimentos que pro-movem a certeza factual. Não encon-tram lugar no nosso ordenamento po-lítico legal, mas não deixam de convi-

ver cotidianamente do nosso lado, con-firmando sua existência e materializan-do a certeza da sua realidade.São assim, aquelas situações das quaistemos convicção da normalidade deseus fundamentos e da convergênciade seus resultados, os quais, em regra,podem testemunhar visualmente aocorrência ali mesmo, na nossa frente,da confirmação da assertiva e da ver-dade da sua informação.Quem em um jogo de várzea não sedeu a vaticinar sobre os novos pelés egarrinchas surgidos em cada partida deincontáveis pés-descalços. Que não viutanto Michael Phelps, quebrando todosos recordes de natação naqueles cór-regozinhos do interior. Quem nuncajurou ter visto um verdadeiro tufão CarlLewis atravessando ileso entre carrose caminhões correndo atrás de pipasou balões por entre calçadas e quintaisdas nossas cidades.No mais das vezes, quando não nósmesmos, muitas dessas pessoas eramum dos nossos entes queridos e, quemvia apaixonadamente cada um dessespersonagens era sempre a nossa lentemeio torta, que, de antemão, transfor-mava cada um deles, ali mesmo emnossos campeões.Ou seja, antes de acontecer, antes de tor-nar realidade, é preciso gente para acre-ditar, para torcer, até para distorcer e an-

tecipar os resultados. Se tem alguma coi-sa que, efetivamente pode tornar reali-dade mesmo o irreal, isso é a inexplicávelcapacidade do ser humano de sonhar,acreditar e levar adiante essa convicção.Assim como no esporte, em muitas ou-tras áreas para a obtenção da vitória, éindispensável nortear-se a ação pela dis-ciplina, preparação, determinação, cons-tância, trabalho em equipe e crença noalcance dos objetivos. Pode-se não che-gar a vitórias, mas serão imperativos paraque, ao menos, se sonhe com ela.Hoje estou escrevendo para comuni-car-lhes uma grande vitória de todosnós. Sonhamos coletivamente com essedia, por muito tempo, e, por muito tem-po acreditamos que ele chegaria. Tra-balhamos por ele e o vimos materiali-zado em cada um dos momentos maisimportantes da nossa trajetória.Ele sempre acompanhou nossa traje-tória, agora é uma verdade real, legal esacramentada. Aprovado pelo Ministé-rio da Educação e Aprovado e Reco-mendado pela Ordem dos Advogadosdo Brasil, anunciamos a todos a cria-ção e a instalação da primeira Faculda-de de Direito do País, focada no valore trajetória do Negro Brasileiro: a Fa-culdade de Direito da Universidade daCidadania Zumbi dos Palmares.De fato e de Direito, uma grande con-quista de todos os Brasileiros.

de f ireitod Por: José Vicente, Presidente daAfrobras e Reitor da Unipalmares

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