afinal, o que é arte na educação infantil

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Afinal, o que é Arte na Educação Infantil? Postado em 2015-06-02T22:31:02+00:00 por Tempo de Creche O caminho de uma experiência de formação com professores de creche e suas crianças nas atividades de artes visuais, revelou questionamentos que provavelmente acompanham professores de outras creches. Que tal se dividíssemos nossas reflexões aqui? Após quase um ano de formação, qualificando o atendimento da creche, adequando os serviços e trabalhando a transição para tornar-se uma creche conveniada à prefeitura, chegamos à etapa de desenvolver conteúdos pedagógicos específicos em serviço, com cada educador e sua turma. As professoras do berçário tinham dúvidas sobre o que trabalhar na linguagem de artes visuais com crianças tão pequenas. Lançado o desafio, trouxemos uma proposta chamada Arte e os Sentidos e na primeira atividade: EU APERTO, ESPREMO E SINTO TEXTURAS: MELECAS, BEXIGAS E RECHEIOS.

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Afinal, o Que é Arte Na Educação Infantil.

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Page 1: Afinal, o Que é Arte Na Educação Infantil

Afinal, o que é Arte na Educação Infantil?Postado em 2015-06-02T22:31:02+00:00 por Tempo de Creche

O caminho de uma experiência de formação com professores de creche e suas crianças nas atividades de artes visuais, revelou questionamentos que provavelmente acompanham professores de outras creches. Que tal se dividíssemos nossas reflexões aqui?

Após quase um ano de formação, qualificando o atendimento da creche, adequando os serviços e trabalhando a transição para tornar-se uma creche conveniada à prefeitura, chegamos à etapa de desenvolver conteúdos pedagógicos específicos em serviço, com cada educador e sua turma. As professoras do berçário tinham dúvidas sobre o que trabalhar na linguagem de artes visuais com crianças tão pequenas.Lançado o desafio, trouxemos uma proposta chamada Arte e os Sentidos e na primeira atividade: EU APERTO, ESPREMO E SINTO TEXTURAS: MELECAS, BEXIGAS E RECHEIOS.

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Deixamos a sala com espaço livre, colocamos uma lona plástica no chão e sobre ela dispomos em um canto bandejas com meleca de amido coloridas (veja receita abaixo), cumbuquinhas e pazinhas. Em outro canto, colocamos bacias com pequenas bexigas coloridas, algumas cheias com um pouco de farinha e outras com um pouco de água.Fizemos a introdução da atividade, o desenvolvimento e o encerramento (veja o planejamento no quadro) com crianças e professoras envolvidas e dedicadas por mais de uma hora.

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A pesquisa foi intensa. Parte da turma dedicou-se à mistura de amido e lá permaneceu. Explorou a textura, os movimentos de escorrer, passar no corpo, a dureza, a viscosidade e a transferência para os recipientes.

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Outras crianças, ainda tímidas à pesquisa mais íntima de materiais viscosos, dedicaram-se de imediato às bexigas coloridas e as sensações de diferentes durezas ao serem apertadas e espremidas. Puderam transferí-las entre recipientes de diferentes tamanhos e, por final, descobriram seus recheios quando perceberam que as bexigas podiam ser rompidas. Sutilmente, uma nova combinação foi introduzida na atividade e a água com farinha, mais rígida e grudenta, surgiu para algumas crianças.Na segunda proposta levamos tintas e diferentes “pintadores” e papeis: EU EXPERIMENTO PINTAR: olha o que consigo!

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Forramos o chão com lona plástica e, sobre ela, folhas de papel vermelho, amarelo e azul. Colocamos uma bandeja de tinta de cor contrastante perto de cada grupo de papel e um tipo de “pintador”. Aquecemos o foco das crianças e apresentamos os materiais permitindo que explorassem os diferentes pinceis antes de colocar as tintas.

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A atividade se desenvolveu com interesse e as crianças pintaram mais a si mesmas do que os papeis. Exploraram as esponjas, os rolinhos, os pinceis grossos, as escovinhas de dentes molhadas com tinta e as estopas molhadas. Algumas levaram mais de 20 minutos passando os “pintadores” nos pés, mãos e rosto, sentido a textura e percebendo a tinta colorindo seus corpos.

No final, tínhamos os registros das fotos, as anotações e as marcas da intensidade emocional nos corações.

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Mas… passados os momentos vivos … ficou a dúvida. Brotaram os questionamentos na cabeça das educadoras. Um incômodo que não quer calar:

O que de fato aconteceu?Cadê a atividade de Artes?O que as crianças pintaram?Importantíssimas colocações pedem reflexão!

Como acontece a Arte na Educação Infantil?O que é esperado para as crianças de 1 a 2 anos de idade?O que é Arte afinal?Podemos começar pelos documentos legais, pesquisando este assunto nos Referenciais e Orientações Curriculares da Educação Infantil.

Segundo as Orientações Curriculares: Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas para Educação Infantil, SP, 2007, a expressividade pressupõe, acima de tudo, muita pesquisa e experimentação, e uma grande familiaridade com os materiais e processos que estão implicados nos diferentes fazeres artísticos. (…) Os processos de criação das crianças têm absoluta prioridade na atenção dos professores, e não o produto final daqueles processos. As crianças trabalham a partir de proposições externas (do professor, por exemplo) e de proposições pessoais. (…) A experiência expressiva não depende de uma busca desenfreada a fazer mais e mais. Tão importante quanto fazer, é ver, apreciar, fruir. O tempo de fazer deve ser equilibrado com o tempo de olhar, pensar, imaginar e conhecer processos de produção.(…) Também apresentar e deixar que conheçam novos materiais e diferentes usos e combinações dos mesmos é motivo de investigação criadora: uma ideia leva a outra e assim elas seguem pesquisando e descobrindo efeitos que não lhes foram ensinados anteriormente.A expressão infantil nas artes visuais acontece em experiências que começam de forma exploratória, isto é, os pequenos agem sobre os materiais descobrindo suas possibilidades por meio de:

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derramar, arranhar, escorrer, borrifar, sobrepor em camadas, raspar, imprimir, espremer, ver pingar, apertar, cutucar, tocar, mergulhar etcEssas ações precisam ser repetidas pelas crianças até se transformarem em situação conhecida. Satisfeitas com a interação com os materiais e propostas é que as crianças começam a construir uma vivência artística e criativa mais profunda. É, por exemplo, usando pincéis, tintas e diferentes suportes repetidas vezes que elas se apropriam do fazer e começam a ter intencionalidade na ação de realizar as marcas. Aí surgem os primeiros desenhos e, posteriormente, as narrativas que acompanham as produções.

O documento ressalta também a ideia de organização do cotidiano da creche como atividade permanente, esclarecendo que é aquela que acontece com regularidade (diariamente, uma ou duas vezes por semana, etc.) ao longo de anos. Ela assegura que as crianças tenham mais de uma oportunidade de vivenciar certas experiências que necessitam de mais tempo e de regularidade para apropriação.De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 2010, as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão assegurar, entre outras questões, a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança.Assim, o professor pode perceber os diversos campos de experiência das crianças ao propor uma atividade ou registrar seu desenvolvimento. Mas, na ótica da infância, as experiências não podem ser separadas. Uma atividade no campo das Artes acessa conhecimentos de espacialidade, contraste de cores e tamanhos, por exemplo. Ao desenhar, crianças a partir de dois anos já podem pensar numa narrativa para sua produção. São vários campos sendo trabalhados ao mesmo tempo, sempre!

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Uma proposta realizada nesta formação, com uma turma de 3 anos e suas professoras é outro exemplo desse processo de apropriação e desenvolvimento da linguagem artística visual.

Para trabalhar espacialidade e composição tridimensional fizemos uma proposta de duas atividades conectadas: EXPERIÊNCIAS COM O ESPAÇO: TESTANDO A TRIDIMENSIONALIDADE (veja o planejamento no quadro).

Na primeira etapa, a proposta consistia em pintar embalagens de papelão com guache (apenas azul, vermelho e amarelo estavam disponíveis) e pinceis e rolinhos. Em outro dia, com as caixas pintadas e secas, a proposta foi fazer construções (e destruições!).

Percebemos, no entanto, que as crianças dessa turma não escolhiam a cor da tinta (qualquer cor servia para a pintura), não faziam desenhos e só queriam preencher os espaços do papel, muitas delas passaram do papel para pintar partes do corpo.

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Esses indícios são típicos de crianças com pouca vivência com materiais plásticos e expressividade. Portanto, não é uma relação com a idade, mas com a vivência.

Para pensar…Sabemos reconhecer o que as crianças já sabem, como se expressam, o que gostam de produzir?Como é o olhar e o escutar do professor para identificar a intenção e o prazer que estão por trás de cada gesto, traço e movimento das crianças?Podemos pesquisar formas de contribuir com o desenvolvimento da pesquisa e da experimentação delas?As percepções e o diálogo com os pequenos, quando se transformam em informações para o professor, tornam mais provável acertar ao propor desafios que façam sentido para as crianças. Nesse contexto é possível aguçar a curiosidade com novas formas de apresentar os materiais, organizar o ambiente desafiando os sentidos ou propor novas combinações de materiais, como usar riscadores com suportes inéditos para os pequenos, por exemplo.

O documento ORIENTAÇÕES CURRICULARES Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas de 2007, São Paulo, enfatiza que a “expressividade pressupõe, acima de tudo, muita pesquisa e experimentação [...]”, o que se traduz na prática do professor, em organizar os tempos e espaços para que a pesquisa e a experimentação aconteçam, com variedade de materiais, com tempo suficiente e escolha da criança, de forma individual ou coletivamente.

Para concluir…

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A artista e arte-educadora dinamarquesa Anna Marie Holm, em recente visita à São Paulo, destacou a postura do educador em um de seus encontros: Arte com as crianças é um momento e precisamos aprender a estar nesse momento. A história desse momento é que pode ser o produto, quando este acontecer.

Quadros de Planejamentos das Atividades desta postagem:

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Meleca – massa de amido de milhoVocê vai precisar de:Use uma xícara para medir (assim a proporção se mantém se for necessário dobrar a quantidade, por exemplo) 1 xícara de amido de milho 1 vasilha ou panela grande corante de alimento (2 gotas – opcional, uma ou várias cores) 1/2 xícara de águaComo preparar: Primeiro organize o espaço cobrindo uma mesa ou um balcão com o jornal A seguir coloque o amido de milho na vasilha. Adicione uma ou duas gotas de corante

de alimento (na cor escolhida). Adicione lentamente a água, mexendo o amido de milho e a água com as mãos (use luva para manter a mistura higienizada) até que o pó esteja todo úmido.

Continue adicionando a água até que a Meleca fique parecendo um líquido se você mexe devagar. Depois, com seu dedo ou com uma colher, tente dar tapinhas na superfície da massa. Quando a Meleca estiver no ponto, não vai espirrar, vai parecer sólido. Se sua Meleca estiver muito seca, coloque, aos poucos, mais água. Se estiver muito úmida, coloque um pouco mais amido de milho.

Pode ser preparada com antecedência e guardada em recipientes ou sacos plásticos bem fechados (na geladeira, se for demorar para usar). No dia de sua utilização é só “acertar” o ponto.

A Meleca está pronta para a brincadeira!!