afetividade e exclusão social em adolescentes em situação de rua
TRANSCRIPT
“MAS,EU SÓ QUERO, EU SÓ QUERIA
MESMO ERA PODER MUDAR DE
VIDA”:Exclusão Social e afetividade em
adolescentes em situação de rua
Maria da Conceição Gomes da Silva Orientador: Ms. Deyseane Maria de Araújo Lima Especialização em Psicologia Social e Comunitária
•Crianças e adolescentes em situação de rua.
•Trabalho com este público
•Estudo da Psicologia Social Crítica.
• Adolescentes em situação de rua:
Resultado de um processo de exclusão social a
que está submetida a grande parte da população
brasileira, originado na constituição da história
social do país, profundamente marcada pela
“desigualdade, pela exclusão e pela dominação”.
(Pinheiro 2006,p.40)
INTRODUÇÃO
Busca-se com este estudo, à luz da Psicologia Social
Crítica:
Analisar a situação de rua e o processo de exclusão a que
esses adolescentes que atendidos no Núcleo Albergue
João XXIII, sem perder de vista a possibilidade de, através
de nossas mediações, nos constituirmos instrumentos de
transformação de suas realidades. (BOCK, FERREIRA &
FURTADO, 2007).
Quais os sonhos e expectativas dos adolescentes em
situação de rua; como eles se veem? O que eles esperam
da vida?
O título da pesquisa nasceu da fala de um dos adolescente
entrevistados, demonstrando seu desejo de superar sua
situação, mas impedido de realizar seu desejo pelas
situação de exclusão a que estar submetido.
INTRODUÇÃO
OBJETIVO GERAL
Analisar a situação de rua e o
processo de exclusão social dos
adolescentes atendidos no
Núcleo Albergue João XXIII, sob
a ótica da Psicologia Social
Crítica.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Identificar na vida dos adolescentes,
fatores que levaram a esse processo de
exclusão; (Cap. 1)
Entender seus modos de pensar, sentir e
agir diante de suas condições de vida;(Cap.
3)
Conhecer seus sonhos e expectativas em
relação ao futuro. (Cap. 3)
REFERENCIAL TÉORICO
A SITUAÇÃO DE RUA COMO RESULTADO DA
EXCLUSÃO SOCIAL
•Como eram vistas as crianças e adolescentes das
classes pobres.(PINHEIRO, 2005):
Trombadinha, Pivete e Menor de Rua ( sempre
ligado à criminalidade)
•Anos 80/90- Industrialização e crescimento urbano:
Agora o pobre é representado como um bandido em
potencial. (NASCIMENTO, 1994,p. 43)
Culpabilização (GUARESCHI,2011)
REFERENCIAL TEÓRICO
•Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei 8069/90)
•SUJEITOS DE DIREITO X VIOLAÇÃO DE DIREITOS:
Distância entre a lei e a realidade.
• Motivos de ida para as ruas:
Drogas
Violência Doméstica
Vínculos familiares fragilizados
Miséria
Amigos
Escolha Própria
Exploração do trabalho infantil
Conflitos comunitários
Exploração Sexual
(Campanha Nacional Criança não é de Rua,2012)
REFERENCIAL TEÓRICO
PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA: NOVOS HORIZONTES
A Ineficácia do modelo positivista( LANE, 2004)
Psicologia em bases materialistas históricas
Psicologia da Libertação( MARTIN BARÓ,2009)
Psicologia Social Comunitária (GÓIS,2005)
Categorias da Psicologia Social Crítica:
Consciência, Atividade, Identidade, Afetividade.
REFERENCIAL TEÓRICO
Psicologia Social e Afetividade
•A emoção como instrumento de mediação na
constituição do psiquismo Humano (LANE, 2006)
•A emoção vista pelos racionalistas como perturbadora da
racionalidade do conhecimento.( SAWAIA, 2000)
•O resgate da emoção como fonte de desnaturalização dos
fenômenos sociais e instrumento de transformação social
(LIMA, BONFIM, PASCUAL,2009)
•A compreensão da situação de rua à luz da categoria
afetividade, superação do paradigma da neutralidade
científica(SAWAIA,2011)
REFERENCIAL TEÓRICO
Afetividade e Potência de Ação
Todo ser Humano traz em si a raiz da
Felicidade e da Alegria.(ESPINOSA, 1989)
Potencializar é dar positividade as emoções ,
transformando-as de fonte de desordem em
modos de pensar e agir
positivamente.(SAWAIA,2010)
O ser humano não existe isoladamente, afeta e
é afetado.( BRANDÃO,2012)
REFERENCIAL TEÓRICO
Afetividade e Exclusão
“A afetividade é o nome atribuído à capacidade humana
de elevar seus instintos à altura da consciência, por
meio de significados, de mediar à afecção pelos signos
sociais aumentando ou diminuindo sua potência de
ação”.(Sawaia (2000, p.15),
Utilizar a afetividade como categoria de análise, permite:
Desenvolver uma reflexão da dialética inclusão
/exclusão, para desfazer a ideia de que os indivíduos
são responsáveis por sua situação social e analisa-os
como resultado de uma situação perversa de exclusão
social;
REFERENCIAL TEÓRICO
A exclusão numa compreensão
dialética
Excluídos são todos aqueles rejeitados de nossos
mercados materiais ou simbólicos, de nossos
valores (Xiberras, APUD WANDERLEY, 2011,p. 21)
O Conceito de exclusão é ambiguo e permite usos
“retóricos de diferentes qualidades, desde a
concepção de desigualdade como resultante de
deficiência ou inadaptação individual, falta de
qualquer coisa(...) até a da injustiça e exploração
social.(SAWAIA ,2011, p.8)
• Pesquisa Bibliográfica;
• Pesquisa documental;
• Etnografia
• Observação participante
• Entrevista Semi estruturada
METODOLOGIA
METODOLOGIA
Sujeitos e Lócus
Seis adolescentes atendidos no Núcleo
Albergue João XIII
Análise dos dados:
Análise de discurso
A rua como alternativa de vida e espaço de
privação, sofrimento e violência(MORAIS,
NEIVA-SILVA,KOLLER,2010):
Viver nas ruas assim...É muito difícil, é, né?
Mas tem que encarar as coisas difícil, né ? Eu
em cada dia, em dia a dia, eu encaro uma coisa
difícil, encaro um sentido difícil no meio da
rua, tem que encarar as drogas, tem que
encarar os “pessoal”, né?
O pensar, o sentir e o
agir dos adolescentes do
Núcleo Albergue
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do
Núcleo Albergue
Os encantos da rua, a perspectiva de diversão e liberdade (RIZZINNI
2003):
“Tem vez que acho bom ficar na rua também porque é livre, pode fazer
um bocado de coisa.” (PABLO, 17 anos)
As Estratégias de sobrevivência:
Ao irem para as ruas, os adolescentes desenvolvem estratégias
psicológicas de enfrentamento que levam a formas peculiares de
existência que são fundamentais para sua sobrevivência.
Góis (2003) identifica categorias psicológicas (identidade do oprimido e
explorado) que se desenvolve em condições de pobreza extrema que
levam a cristalização de uma identidade, que não compreendidas ,são
julgadas, como delinquência.
Martin- Baró (1998) aponta que essa identidade de oprimido e
explorado é justificado pelo fatalismo que leva o indivíduo a
explicar o fatos cotidianos de sua existência “por meio de
fenômenos da natureza ou da vontade de uma identidade
superior, ambos impossíveis de serem controlados”
(CIDADE,MOURA &XIMENES,2012,p.94).
O uso da droga e situação de rua como obra de uma força
superior:
“Eu vou pra minha casa e fico pensando, penso na rua, aí bate
aquela vontade de você tá bem pertinho assim, parece o “cão”
atentando... (RONALDO, 14 anos)
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do Núcleo
Albergue
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do
Núcleo Albergue
Drogas: impotência (MIRANDA, 2005) “Mas é que a rua é muito difícil, a pessoa vai pra casa da mãe, a
pessoa fica pensando, pensando nas drogas(...) (RONALDO, 14
anos)
Reações diante da exclusão (SAWAIA(2011):
•Consciência da Exclusão e desejo de sair dela(PABLO);
•Impotência(RONALDO);
•Cristalização de uma identidade negativa.(RONALDO)
AS PRINCIAPAIS ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA
Esmolar:
“quando eu estou na rua, eu saio pedindo aos outros, comida
nas mesas” (PABLO, 17 anos),
A realização de pequenos serviços: “uma pessoa precisando de
uma pessoa pra jogar lixo, jogar umas coisas, aí eu ganho um
dinheirinho,ou ganho uma merenda...ou às vezes os ‘pessoal’ me
chama pra ir na casa, tomar banho, me dão uma roupa, me dão
uma chinela, assim.” ( PAULO, 16 anos)
Prática de atos infracionais: “às vezes eu peço, às vezes eu
‘robo’”(RONALDO, 14 ANOS
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do Núcleo
Albergue
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do Núcleo
Albergue
Essas práticas causam sentimentos de compaixão,mas o
sentimento mais frequente é o medo ( MARINHO, 2012):
“Às vezes eu penso que as pessoas têm medo, nojo porque eu
sou de rua. Primeiro porque eu sou de rua e depois que eu sou
ladrão”(RONALDO, 14 anos)
A procura das Instituições para a realização de necessidades
físicas e até afetivas.
Quando eu chego aqui no Albergue o que eu espero encontrar, os
educadores que eu mais gosto, as cozinheiras, a comida, que eu
adoro a comida daqui do Albergue, gosto de todo mundo do
Albergue, se “dou” com todo mundo aqui do albergue, todo
mundo do Albergue gosta de mim.( PAULO, 16 anos)
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do Núcleo
Albergue
Vínculos com a família( MARINHO,2012)
Minha vó se aposentou, ganha o dinheiro dela, tem a casa dela lá no
Parque Santa Rosa. Minha mãe, minha mãe ela vive lá na favela ali do
Henrique Jorge, mais ou menos assim.(...)(PABLO,16 anos)
Idealização da família( ALVES, 1998):
Você sabe, né, mãe é sagrada”.(PABLO, 16 anos)
Ao mesmo tempo culpa a mãe:“Foi depois que minha mãe me bateu, né
porque eu peguei minha mãe usando drogas, eu tinha cinco anos de
idade. A minha mãe me bateu, peguei fugi de casa (...)”( PABLO,16 anos)
O pensar, o sentir e o agir
dos adolescentes do Núcleo
Albergue
Sonhos e expectativas Retorno às redes de sociabilidade
“Morar sozinho e trabalhar. Fazer faculdade. Estudar também...”( PABLO,
17 anos)
Estudo e trabalho
“Eu queria muito, eu sinto muita, muita vontade (...) de começar a estudar
novamente, começar a trabalhar.(PAULO, 16 anos).
Experiências sócio-culturais
“Trabalhar na Dakota” (MONALISA, 13 anos)
A mediação da Instituição como possibilidade – sonhos possíveis e
sonhos mirabolantes:
(...)Se tiver alguma chance eu queria ir para uma escolinha (de futebol), se
eu tiver aqui...Se aparecer algum atleta, né, eu queria ir pra escolinha, se eu
tiver aqui, eu vou pedir a ele pra eu ir treinar onde ele tá... pra eu ir pra
escolinha...(RAÍ, 17 anos) (
CONCLUSÃO
•Compreensão da situação de exclusão como
processo que afasta os sujeitos da positividade
de sua potência.
•o título da pesquisa: “Mas eu só quero, eu só
queria mesmo era poder mudar de vida”,.
•Espinosa (1989 apud BRANDÃO, 2012): “toda
coisa se esforça enquanto está em si, para
perseverar no seu ser”.
• O desejo de ser feliz,ou pelo menos uma força
em potencial para buscar essa felicidade,
•Percepção dos desejos dos
adolescentes.
• Ouvi-los representa para eles uma
possibilidade.
•O objetivo primordial da Psicologia
Social Crítica:
Propor caminhos de transformação das
realidades sociais injustas, ouvindo as
vozes dos injustiçados.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LANE, S.T.M. & CODO, W (Orgs.) Psicologia Social: O homem em
movimento. São Paulo: Brasiliense, 1989.
LANE, S.T.M. & SAWAIA, Bader B.Org A Mediação emocional na
constituição do psiquismo humano. In: LANE, S.T.M. & SAWAIA,
Bader B. (Orgs) Novas veredas da Psicologia Social. São Paulo:
Brasiliense, Educ. 2006.
MARTIN-BARÓ. Para uma Psicologia da Libertação. In: GUZZO,
Raquel S.L. LACERDA Júnior, Fernando (Org.). Psicologia Social
para a América Latina: o resgate da Psicologia da
Libertação.Campinas, São Paulo: Alínea, 2009
PINHEIRO, Ângela. Criança e Adolescente no Brasil: Porque o
abismo entre a lei e a realidade. Fortaleza: Editora UFC. 2005.
SAWAIA, B. B. (2000). A emoção como locus de produção do
conhecimento: Uma reflexão inspirada em Vygotsky e no seu diálogo
com Espinosa. Trabalho não publicado, III Conferência de Pesquisa
Sociocultural, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Campinas, SP, 2000. Disponível em WWW.fae.unicamp.br/br. Impresso
em 26/10/2012.
SAWAIA, Bader. O sofrimento ético político como categoria de análise
da dialética exclusão/inclusão. In: SAWAIA, Bader.(org.)As artimanhas
da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 11. Ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011,pp.99-117
SAWAIA, Bader.Introdução: Exclusão ou inclusão perversa. In: SAWAIA,
Bader.(org.)As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da
desigualdade social. 11. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, pp. 7-13
REFERÊNCIAS
AGRADECIMENTOS