adrian fanjul - conferencia final no i seminário nacional da copesbra
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Conferencia de Adrián Pablo Fanjul (USP) no encerramento do I Seminário Nacional da COPESBRA. Aracaju, Sergipe, 4 de junho de 2010.TRANSCRIPT
Percursos e encruzilhadas de um grande deslocamento no mapa do
espanhol no Brasil
Adrián Pablo Fanjul – Universidade de São Paulo
Objetivos – conjunto de questões
1. O que é isto que aqui acontece / o que somos?
Tentar um reconhecimento deste coletivo a partir de sua relação com diferentes campos do espaço social:
Quais mudanças nas práticas sociais foram propiciando sua necessidade?
Como se delimita do previamente existente? Como o redistribui?
2. Que perspectivas e novas necessidades enfrentamos?
Campos no espaço social (Bourdieu e continuadores)
Espaços relativamente autônomos (campo econômico, campo político, campo intelectual, campo educativo) estruturados por posições desiguais segundo o “capital” em jogo em cada um
Subordinados ao campo econômico quanto ao seu funcionamento e transformações
A visão e a percepção (habitus) que os agentes têm do espaço social é determinada pela sua posição nos campos e nas suas desigualdades internas
Subcampos e interseções: campo intelectual / campo acadêmico / campo políticocultural
Novas condições no final do século XX
- Tendência mundial ao surgimento de blocos regionais- Consolidação de regimes constitucionais na região- Nas superestruturas de diversos campos,
desenvolvimento de acordos pontuais ou abrangentes
Novas formas de contato que afetam, também, a circulação do espanhol no
Brasil
Nos últimos 90’ e primeiros 00’
Grandes mudanças em uma interseção de campos que podemos denominar:
O espanhol no Brasil
ou, mais tecnicamente
A presença da língua espanhola como objeto de diversas práticas (estudo, pesquisa, fruição, comercialização, etc.) em âmbitos institucionais heterogêneos do Brasil.
ou, mais informalmenteOs do espanhol
E antes?
Várias lacunas sobre essa época: quase não “nos” conhecíamos
__________________________________No campo acadêmico: heranças da hierarquia conferida aos estudos literários
No campo pedagógico: auge de perspectivas instrumentais / “comunicativas”
Em ambos: “obstáculo epistemológico” (Celada, 2009)
Deslocamentos no campo acadêmico (visão parcial)
- Estudos comparativos, a partir da tese de González (1994), que redefinem a quais línguas nos referimos.
- Reflexão sobre imagens e representações do espanhol no Brasil e sobre as relações de sujeitos brasileiros com essa língua, que levam em conta a relação com a língua nacional.
- Análise discursiva de textualidades que constituem a identidade do professor de espanhol.
- Estudos que comparam discursividades brasileiras e hispânicas dando materialidade ao “intercultural”.
Ideologias linguísticas “perturbadas”
Auto-aversão linguística:A ideologia lingüística que vigora no Brasil é tanto mais perversa na medida em que nem
mesmo as classes dominantes acreditam ‘falar bem o português’. A auto-aversão lingüística dos brasileiros é, portanto, muito elevada, e isso em praticamente todas as classes sociais. (Bagno, 2000:300)
Perspectiva unilateral: No sólo jamás se escucha en esos ámbitos la posibilidad de reciprocidad (necesidad de
que los hispanohablantes aprendan portugués), sino que la propia idea de contacto está ausente, conformándose una escena en que, con menor o mayor dificultad, se aprende LA lengua, la que está llamada a ser aprendida. (Fanjul, 2008)
O que começou a ficar no passado
Visão unilateral
O brasileiro como portador intrínseco de dificultad perante o espanhol
Alguns fatos que sacodem o panorama retroalimentando-seA fundação da ABH e os congressos de hispanistas
A cooperação internacional com países vizinhos e os avanços do MERCOSUL no plano educacional e acadêmico
A ampliação de vagas nas universidades
A Lei 11.161 >> não seu “cumprimento” senão as práticas que ocasiona nos campos educacional, político e econômico
A Lei e as práticas INo campo político-educacional: formulação das OCNs >> ganho de capital
simbólico para a academia nesse campo
No campo acadêmico: mais criação de vagas
No campo educacional: realização dos PNLEM / PNLD para espanhol
Campo educacional / mercado editorial: elaboração de livros que atendem as exigências do campo educacional, que ganha, assim, capital nesse segmento do campo econômico
Legitima-se, pela primeira vez, a partir do poder público, pensar o espanhol como assunto da educação brasileira, com visíveis consequências no plano
das ideologias.
A Lei e as práticas II
No campo educacional:Encontro com a “desoficialização” das línguas na escola (Rodrigues, 2010) >>
instalação, desde os anos 60’ de premissas de separação da língua estrangeira dos outros componentes curriculares
Nos campos econômico, político e educacional:Ação crescentemente agressiva dos grupos econômicos que tentam uma
hegemonia sobre o espanhol no mundo (panhispanismo). Tentativas de ingerência sobre o ensino regular e seu planejamento.
Embate entre as práticas I e II, que gera contradições dentro das mesmas instituições e do aparato de estado.
A Lei e o embate
No texto da lei: Centros de Ensino de Língua estrangeira – Centro de
Estudos de Língua Moderna
Na fundamentação de Átila Lira:O Brasil “isolado” / Fala apenas português
Tensões e deslocamentos
Conflito entre setores que mantinham coincidências de fato
Grandes mudanças no panorama de associações
Mais inserção docente no ensino regular, mais formação universitária e mais contato entre os profissionais
Mais contato com docentes de países vizinhos e experiências de intercâmbio e elaboração conjunta
Manifesto 2006 – Exigências ao governo de São Paulo
• suspenda imediatamente o início desse curso;• atenda às exigências legais para a formação de professores de espanhol;• abra concurso para contratação de professores de espanhol para a rede
oficial de ensino do Estado de São Paulo;• abra concursos para professores de espanhol nas Universidades Públicas,
a fim de ampliar o número de vagas nas instituições que já formam professores de espanhol;
• sejam implantados novos cursos de formação de professores de espanhol nas Universidades públicas que não oferecem essa habilitação;
• sejam convocadas as entidades e profissionais competentes para essa missão, a fim de elaborarem um projeto de formação de professores de espanhol que esteja de acordo com os parâmetros de qualidade necessários e que atenda as exigências legais estabelecidas para a formação de professores para a rede pública e particular de ensino.
2009
Lei de oferta obrigatória do português na Argentina e começo da implantação no Uruguai
Acordo MEC-IC
Criação de ELEDOBRASIL, da Plataforma e da COPESBRA >> emergentes de um processo que vinha de alguns anos atrás
Congresso de João Pessoa: duas épocas sobrepostas
Perspectivas e encruzilhadas
Garantir o vínculo entre Universidade e escola
O que é “de lei”ou o programático?
“Especifidade” e integração regional
Os campos acadêmico e educacional
Recuperar ou procurar maior inserção na formação continuada
Ter presença no aperfeiçoamento dos docentes a partir de iniciativas como as que já encaram membros da COPESBRA.
Atitude crítica diante do habitus de nosso campo
A legislação é um programa?
Lugares de contradição no nosso discurso
Colocar, primeiro, programas e objetivos
Um princípio possível: que o ensino de línguas contribua a diminuir a desigualdade social, econômica e cultural
Integração regional – Avanços nos campos educativo, acadêmico e
político
Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL
Protocolos de Integração educacional do MERCOSUL
Acordo sobre reconhecimento automático de diplomas para o exercício da docência em português e espanhol
Especificidade e diversidade
Determinantes históricos comuns, realizações e tempos diferentes.
Proximidade irregular
Memória discursiva parcialmente compartilhada (parafraseável)
Especificidade e reciprocidade
Formação de agentes criadores de integração
Habilitações em “PELSE” ou formulações análogas
A reciprocidade como “antídoto” contra a hegemonia
E a integração no nosso discurso?
[...]Surpreende o recurso a uma instituição desse tipo, dado que o Brasil conta com um amplíssimo acúmulo de ensino e pesquisa sobre o espanhol como língua estrangeira como atividade dos profissionais de suas universidades federais e estaduais, visível em centenas de teses e dissertações, bem como em revistas, congressos, livros e material didático específico para todos os níveis e em todos os formatos e modalidades,
incluindo o ensino a distância. É no sistema escolar e universitário brasileiro que se encontra o saber, inclusive metodológico, sobre o ensino de espanhol a brasileiros em seus diferentes contextos de ensino/aprendizagem. [...] (2ª. Carta da APEESP ao MEC, 10/08/2009)
• [...] Neste processo seletivo, somente um dos 14 títulos da bibliografia (difundida 12 dias antes das provas) é de produção nacional. E outros 11 são espanhóis, sem qualquer reflexão sobre a vida da língua no Brasil, sobre suas relações com o português, nem sobre sua aprendizagem por brasileiros. Além disso, são títulos de difícil obtenção.
• Trata-se de uma atitude inaceitável, dado que existe uma amplíssima produção acadêmica e didática brasileira sobre espanhol [...] (boletim APEESP dezembro de 2009)
“Especificidade”, “Isolamento” e habitus
• Especificidade >> exclusividade (não Latino-Americana) >> pré-destinação
• Visões e percepções consolidadas em alguns setores da hierarquia mais alta do campo político
• ______________________________• Integração regional para a equidade
social
Percursos e encruzilhadas de um grande deslocamento no mapa do
espanhol no Brasil
Adrián Pablo Fanjul – Universidade de São Paulo