adoçar palavras

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ebook coligido a partir do clube de leitura do AEMC

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Page 1: Adoçar palavras

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Page 2: Adoçar palavras

O mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê.

Umberto Eco

A vontade de organizar encontros ou uma tertúlia para conversar sobre

os livros que escolhemos ler, partilhando livros que outros nunca leram,

existia há algum tempo, mas não houvera ainda oportunidade de a

concretizar.

Foi com base na premissa de que existem, efetivamente, muitos livros

fantásticos que nunca lemos e cuja existência, inclusive, ignoramos, que

surgiu a ideia de promovermos um encontro mensal para partilharmos

leituras.

Cientes de que o projeto a Ler+ previa já um manancial de atividades

dirigidas à população estudantil, considerou-se pertinente desenvolver

uma ação apenas para adultos, nomeadamente para o pessoal docente e

não docente do AVEMC.

No sentido de tornar o encontro menos formal e mais intimista, decidiu-

se adoçar as palavras trocadas com a partilha de bolachas, biscoitos,

queques ou bolos trazidos pelos participantes, e que conduziram também

à partilha das receitas registadas neste livro.

Para estes encontros de leitura cada leitor escolheu não só o(s)

livro(s) que o marcou/aram), mas também alguns excertos que aqui

deixamos registados para que não se percam na voragem do tempo, pois

não devemos nunca esquecer que, como dizia Virgílio, tempus fugit.

Ambos eram genuinamente devotos e tementes a Deus, mas não

tinham a mais pequena noção da sua própria falibilidade e, por

conseguinte, viam nos seus desejos a vontade de Deus, perseguindo os

seus objetivos com a mais perfeita impiedade.

Ken Follet, Os Pilares da Terra, vol II

Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e

os ex-ministros a tomarem conta disto. Sinceramente, sejamos justos, a

que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego,

preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia,

ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de

protestarem?

António Lobo Antunes, Quinto Livro de Crónicas

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Às vezes encontramos pessoas que nos são completamente

desconhecidas mas que nos provocam interesse à primeira vista,

inesperada e repentinamente, sem que seja trocada uma única palavra.

Essa impressão atingiu Raskólnikov quando pôs a vista naquele cliente

apartado de todos e com ar de funcionário despedido. Por mais de uma

vez, mais tarde, o jovem se lembraria dessa primeira impressão, que

atribuía mesmo a um pressentimento.

Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo

Porque não há como a mulher para nos falar do céu, de Deus, das

coisas sagradas. Se criaturas assim corressem mundo a resgatar almas, se

para os mais apartados da religião dirigissem um olhar daqueles dizendo

mágoa, entusiasmo e amor, e depois daí os volvessem ao céu como

rasgar caminho para a alma renitente, não haveria ateu que resistisse,

nem coração que não dobrasse.

Rodrigo Paganino, Os Contos do Tio Joaquim

A natureza do castigo ainda está em discussão. Há um grupo que

defende clemência, um amplo perdão, um perdão que abranja todas as

acusações de que o senhor é alvo. Mas há outros que querem sangue. E

não são dois ou três. É toda uma chusma de acusadores e estão caa vez

mais assanhados…

Paul Auster, Viagens no Scriptorium

As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos

anteriores, desenvolvem-se e fatalmente morrem. As mais afortunadas

reproduzem-se. Há-as de índole agreste, cuja simples presença fere e

degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas

iluminam, aquelas confundem. Umas são selvagens, irascíveis, cheiram

mal dos pés, fungam e cospem no chão. Outras, logo ao lado, parecem

altivas e delicadas orquídeas.

José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal

30 de Novembro. Hoje, tive a primeira aula de leitura labial. Foi

uma experiência que evocou em mim vagas recordações do meu primeiro

dia de escola primária, para onde entrei a meio do ano lectivo por causa

de uma doença: tive a mesma sensação de ser o aluno novo, inseguro e

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constrangido, num grupo que já tinha criado laços entre si e estava

familiarizado com os rituais.

David Lodge, A vida em surdina

No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era informe e

vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-Se sobre a

superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz.». Nesse momento, Lisboa

emergiu.

Maria Filomena Mónica, Passaporte

«Sou mentiroso por vocação», bradou. «Minto com a alegria. A

literatura é a maneira que um verdadeiro mentiroso tem para se fazer

aceitar socialmente.»

José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados

“You’ll never understand, will you? Those bourgie schools were

counterrevolutionary. My place was in the streets with my people,

fighting for equality and a better community.”

Gloria Naylor, The Women of Brewster Place

WILLOW SPRINGS. Everybody knows but nobody talks about the

legend of Sapphira Wade. A true conjure woman: satin black, biscuit

cream, red as Georgia Clay: depending upon which of us takes a mind to

her.

Gloria Naylor, Mama Day

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