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Adoção de práticas agrícolas e tensões sociais na Alta Sorocabana José de Souza Martins

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Page 1: Adoção de práticas agrícolas e tensões sociais na Alta ... · Adota-se, então, a prática do tombamento me-cânico da terra, ... trabalho assalariado contumaz e a poupança

Adoção de práticas agrícolas e tensões sociais na Alta Sorocabana José de Souza Martins

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arrendatário deixa a propriedade ou desloca-separa nova gleba, iniciando-se para o proprietárioa fase da pecuária de corte. No segundo caso, emgeral após cinco anos de uso, o pasto "fica can-sado", isto é, dissemina-se nele a praga conhecidacomo "grama-paraguaia" ou "grama-de-mato-grosso", que não é aceita pelo gado como alimen-to. Adota-se, então, a prática do tombamento me-cânico da terra, que é cedida, sob pagamentoanual em espécie, a arrendatários que se incum-bem de proceder novamente ao plantio do algodãoe à cultura intercalar do capim. Formado o pasto,o arrendatário desloca-se para outro estabeleci-mente.'

Raramente o tamanho da propriedade suportaa rotação interna, o que implica na mobilidadeespacial da mão-de-obra de um estabelecimento aoutro, já que a pecuária necessita de um númeromuitas vezes menor de trabalhadores do que o al-godão. Essa modalidade de rotação das culturasfaz com que o suporte econômico do estabeleci-mento recaia, numa mesma fase, exclusivamenteou quase exclusivamente numa única atividade,seja a do algodão, a do amendoim, ou a da pe-cuária.

A cultura do algodão ocorre no âmbito de umquadro econômico que transcende muito o poderde decisão do proprietário ou do arrendatário. Essequadro contém os seguintes elementos fundamen-tais: a necessidade de o preço final de comercia-lização do algodão tornar-se concorrencial no mer-cado mundial; a baixa produtividade da indústriatêxtil nacional que reclama matéria-prima prati-camente subvencionada; a pressão do mercadoconsumidor interno, preponderantemente urbano,que ao menos a partir da fase do desenvolvimen-tismo teve que manter-se nos limites do consumocompatível com uma elevada taxa de acumulaçãode capital no conjunto do sistema; o poder de es-trangulamento da oferta de algodão em caroçopor parte das usinas de descaroçamento e enfar-damento, .na maior parte grandes grupos econômi-cos estrangeiros que utilizam táticas oligopsônicasno relacionamento com o produtor; a necessidadede atendimento da capacidade dessas usinas paragarantir o seu funcionamento por meio da manu-tenção de uma produtividade mínima na agrícul-tura; a decorrente necessidade de utilização com-pulsória de sementes selecionadas, resistentes adoenças e conseqüente implantação do monopóliode comercialização das sementes de algodão noEstado de São Paulo; o praticamente compulsórioemprego de inseticidas; o alto custo da mão-de-obra volante, temporária, utílízada na colheita.

O ponto de partida, decorrente desse quadro,definidor da situação do produtor de algodão, está

no seu relacionamento com as usinas de descaro-çamento e enfardamento. As usinas recebem oalgodão no momento da colheita e pagam ao pro-dutor 50% sobre o preço final presumível. O res-tante depende da abertura de cotação, o que ocorrequando se tem idéia sobre o montante da oferta.Via de regra, o pagamento é feito em promissóriasrurais, resgatáveis nos bancos, endossadas peloprodutor. Em outros termos, as usinas negociamcom capitais de terceiros, que são, direta ou indi-retamente, os próprios produtores.

Quem realiza a opção pelo uso da terra é o pro-prietário que, por meio do arrendamento em es-pécie fixo (e não variável nem proporcional à co-lheita), garante de antemão ,o montante da rendada terra equivalente à remuneração necessária deseu capital. O cultivo do algodão - ao contráriodo que ocorre ainda hoje com as culturas de ali-mentos, com uma ou outra exceção - beneficia-seda divisão do trabalho na agricultura e da aquisi-ção certa pelas usinas. Porém, a cultura do algo-dão só é possível com sementes selecionadas, re-sistentes a doenças, dado que o seu comércio émonopólio estatal. Do mesmo modo, em face decondições ecológicas e da especialização da área,ela só é possível com o uso obrigatório de insetici-das. Daí observar-se 100% de uso de sementes se-lecionadas e 94,1% de uso de inseticidas.

Nessas condições, o produtor necessita de ca-pital próprio de custeio e de investimento parasubsistir e manter o empreendimento durante oano agrícola, já que se trata de cultura anual.Quando não dispõe desses recursos, o que freqüen-temente ocorre, precisa obter financiamento embanco oficial ou banco delegado para distribuiçãode crédito agrícola. A condição é ser proprietárioda terra. Quando o sujeito não o é, deve obtercarta de anuência di)'proprietário. Raramente, po-rém, segundo os depoimentos dos gerentes de ban-cos, os proprietários fornecem a carta, preferindoretirar o empréstimo em seu próprio nome ereemprestar o dinheiro, muitas vezes a juros maisaltos do que os que pagou, aos seus arrendatários(na safra de 1965/66, 33,6% dos proprietários re-ceberam financiamento, contra 16,1% dos arren-datários e 100,0% dos propríetáríos-arrendatá-ríosr;' Assim, os arrendatários precisam obtercapital em outras fontes g.e financiamento, sejamelas os próprios proprietários ou outros ínterme-diários, especialmente comerciantes que tornecemsementes, inseticidas, alimentos e outros bens deconsumo para pagamento com juros na época dacomercialização.

A premência de capital é maior no momento dacolheita, pois os colhedores, volantes residentes nacidade, recebem o pagamento no mesmo dia e O

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custo do seu trabalho alcança cerca de 25% dopreço que o algodão em geral obtém na usina.Quanto à dedução no preço, ainda, o arrendamen-to em espécie é, em geral, estipulado em quantida-de fixa (30 a 40 arrobas por alqueire paulista e àsvezesmais), o que corresponde, no geral, a 20-30%do algodão colhido. Portanto, cerca de 50% do va-lor do algodão são transferidos para os colhedorese para os proprietários de terra. Com o restante,o arrendatário deve cobrir a aquísíçâo de semen-tes e inseticidas, a sua manutenção e a de sua fa-mília durante o ano, o pagamento de juros e outrasdespesas eventuais.

Essa exposição sumária das condições econômi-cas em que se dá o cultivo do algodão na Alta 80-rocabana é suficiente para se reterem dois com-ponentes cruciais da situação social dos plantado-res: o caráter intersticial da cultura do algodãono uso rotativo da terra e o caráter especializadodo estabelecimento algodoeiro nessa fase da ro-tação.'

2. A ética do trabalho e as tensões sociais

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A importância desses dois aspectos ficará clara selevarmos em conta que a maior parte dos proprie-tários de terras na região são antigos colonos dasfazendas de café de outras partes do Estado que,antes da crise de 1929, para lá se transferiram,tornando-se proprietários das terras abertas àocupação econômica pelo deslocamento da frentepíoneíra.s No café, o colono era um trabalhadorsingular. Empreitava a limpa e a colheita pararecebimento em dinheiro, mas recebia autorizaçãodo fazendeiro para cultivar, principalmente milhoe feijão, entre as fileiras de café, às vezes sem re-muneração da renda da terra e outras vezes me-diante pagamento de renda em espécie. De qual-quer modo, as culturas intercalares garantiam asubsistência do colono e até mesmo algum exce-dente, sobretudo nas áreas novas.7 O dispêndiomonetário do fazendeiro com a força de trabalhoera reduzido a níveis "concorrenciais" com aprecedente. produção escravista- e, ao mesmotempo, constituía um sobreproduto para o colono.

Na Alta Sorocabana atual, os mesmos antigoscolonos e seus descendentes participam de umesquema de relacionamento com a terra, com oprodutor direto e com o mercado substancial-mente diverso do anterior. Em primeiro lugar,porque o café era cultura permanente, sendo si-multaneamente praticada com a cultura intercalarde alimentos. Para o fazendeiro, o empreendimen-to econômico estava centrado na produção decafé e nela apoiava-se a sua rentabilidade. Nesteoutro caso, a diversificação da cultura faz-se no

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tempo, em função das necessidades de rotação nouso do solo. Em segundo lugar, porque a culturado algodão não é intersticial no espaço, como asantigas culturas de feijão e milho. A culturado algodão é intersticial no tempo e na econo-mia, porque não concorre economicamente como gado de corte e só é praticada como alternativainevitável para a formação ou restauração daspastagens.

Essas duas diferenças implicam em impor basescapitalistas ao uso da terra com a cultura eco-nomicamente intersticial, o que não ocorria coma cultura agronomicamente intercalar na fazendade café. E implicam, igualmente, em suprimir apossibilidade de o arrendatário produzir direta-mente os meios da sua subsistência, o que o tornainteiramente dependente das relações com o mer-cado.

No regime de colonato das antigas fazendasde café, a coexistência da economia de mercadocom a economia do excedente, isto é, a produçãoda mercadoria e a concomitante produção diretados meios de vida, possibilitava ao colono viver,no plano da subsistência, com fartura, e no planodo consumo de mercadorias, com a riqueza va-riável que a característica instabilidade da cafei-cultura permitia. Em outros termos, o colonotinha a sua subsistência garantida e ficava, assim,relativamente protegido contra as oscilações daeconomia colonial. Essa combinação foi a culmi-nância do espírito da Lei de Terras de 1850, queinstitucionalizou a propriedade privada da terra,definiu as condições do trabalho livre e estabele--ceu os pressupostos de uma ética do trabalho, quenada mais é do que a tradução proletária daconsciência burguesa. Em outros termos, o colonoassimilou um universo de concepções em que otrabalho assalariado contumaz e a poupança se-vera constituíam os meios adequados para que setornasse proprietário da terra. A garantia ex-terior dessas concepções estava justamente naspossibilidades de comercialização do excedente dacultura intercalar, a qual não era disputada pelosempreendimentos rurais capitalistas, e na pos-sibilidade da poupança de parte da remuneraçãomonetária do colonato,"

A situação do plantador de algodão na AltaSorocabana é marcada justamente pelo desapare-cimento das possibilidades de aproveitamento docaráter intersticial da cultura e pelo peso que talcaráter passa a ter na relação entre o proprietárioe o arrendatário.

l!: esse o ponto crucial mais imediato da situa-ção social dos plantadores de algodão. Em todosos depoimentos de propríetáríos de terras ou de.pessoas institucionalmente vinculadas à propríe-

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dade da terra, a ética do trabalho constitui ocerne do respectivo universo simbólico. É por meiodela que o proprietário, ex-colono ou descendentedo colono, procura dar coerência (isto é, legiti-mar) a situação de que participa. Só que a passa- _gem da condição de empregado para a de proprie-tário mantém a ética do trabalho na sua funçãode concepção integradora de categorias sociais,enquanto consciência necessária, que viven-ciam solidárias, mascarando as tensões que asfazem objetivamente antagônicas. Trata-se, emsuma, de uma ética para os outros, ou seja, deuma ética que o ex-colono propõe agora ao ar-rendatário para que, a partir dela, arrendatáriose proprietários tenham uma convergente perspec-tiva na incorporação e vivência da situação. Nãose trata de uma sobrevivência cultural porqueela é congruente com a consciência burguesa ne-cessária do proprietário. Todavia, ela se propõe,como veremos, em condições substancialmentediversas daquelas em que floresceu.

O proprietário, na região, concebe a si mesmonos termos dessas representações. A partir, igual-mente, da ética do trabalho é que avalia os seusarrendatários, construindo em relação a eles umestereótipo altamente desfavorável: são definidoscomo instáveis, desapegados à terra, não prati-cantes de qualquer modalidade de ascetismo (al-guns proprietários afirmaram que seus arren-datários comiam demais), que não encaram otrabalho como a mediação suprema da existência.

Por isso mesmo, o arrendatário, geralmentenordestino, é visto com freqüente hostilidade e,excepcionalmente e na melhor hipótese, é alvode "piedosa benevolência" por parte de algunsproprietários que com eles estabeleceram umarelação paternalista.

Para o arrendatário, a regência da relação como proprietário, a partir dos supostos da ética dotrabalho, constitui fonte de tensões e conflitos,até mesmo generalizados, como ocorreu em1963-4. É com a ética do trabalho que, no fimdas contas, se justifica a imposição de uma pro-gressiva renda da terra em espécie, simultanea-mente com o progressivo declínio da fertilidadedo solo. É ela, no final, que comanda as raciona-lizações atrás das quais a rentabilidade do capitale a remuneração da renda fundiária justificama incorporação de mais um elo na cadeia da ex-propriação sucessiva; a qual, passando pela usinade descaroçamento e pelo proprietário da terra,deságua os prováveis rendimentos negativos dafase intersticial do empreendimento - na figurado arrendatário. A vivência da insuficiência eco-nômica estrutural pelo arrendatário abriu-lhe,antes de 1964, o caminho da adesão às diferentes

correntes políticas que entre si disputavam o co-mando do movimento social pela reforma agrária.E manteve-lhe aberto, depois, o caminho da eXMpectativa paternalista em relação ao proprietário,na esperança de que não o despejassem da terraquando o capim estivesse formado ou de queabrandassem o montante da renda em espécie aser pago pela terra.

A nova situação, diversamente da anterior àcrise do café de 1929, não alimenta um universoconvergente de concepções, mas dois universosdivergentes: o centrado na ética do trabalho, deque partilha o proprietário, e o centrado no pa-ternalismo, de que partilha o arrendatário. Assim,as representações que regem as mútuas definiçõesnão só não são convergentes como alimentamconflitos pessoais, de modo mais geral, e conflitossociais mais raramente. Alimentam um estado detensão que não é apenas objetivo por força daconstituição histórica da sociedade capitalista,mas que já se traduz na tensão subjetiva, aindaque mistificadora daquela outra.

3. Difusão da v~ capitalista. edifusão de inovações

Esse estado de tensão não é só constitutivo dasituação social mas é, também, o ponto básicode apoio para apreensão do sentido sociológicoda adoção de práticas agrícolas. A adoção da se-mente selecionada e do uso de inseticida são re-quisitos para que a cultura do algodão, ainda quecom caráter economicamente intersticial, suportea condição capitalista do empreendimento para oproprietário da terra. E, no plano mais geral, érequisito para que os exportadores de algodão, aindústria têxtil nacional e as necessidades deacumulação do capital no nível do sistema sejamatendidos. Assim, a adoção é funcionalmente ra-cional no nível do sistema e substancialmenteracional no nível do proprietário da terra.

Nesses níveis, a adoção concorre para a ins-tauração de um estado de eunômia ou para a suapreservação, e a racionalidade não é mais do queo "equilíbrio" que assim se produz. A partir des-ses níveis, igualmente, pode-se falar de "mudançadirigida por contato", uma das possibilidades con-tidas no modelo de um dos teóricos da adoção. 10Dado o quadro de ocorrência da adoção, em fun-ção dos requisitos do sistema, são dadas igual-mente as condições de sua ocorrência pela açãodos agentes de difusão de inovações: extensionis-tas, casas de agricultura, postos de expurgo desementes, comerciantes de insumos agrícolas, etc.

Ora, a adoção não se dá senão nos termos daprática da consciência necessária do sistema, isto

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é, a consciência burguesa, que transubstancla osrequisitos da multíplícação do capital e que, emúltima instância, se traduz num tipo de persona-lídade que é a do capitalista, ou seja, numa mo-dalidade de vocacão.» Tal vocação supõe um uni-verso simbólico legitimador da integração ideo-lógica e técnico-cultural pretendída.>

Assim sendo, a difusão de inovações, que cons-titui o requisito da adoção de práticas agrícolas,quando teoricamente trasladada para o plano damodernização, isto é, quando pensada como téc-nica de instauração ou reínstauração do "equilí-brio" do sistema, de supressão de suas "anoma-lias", pretende ser na verdade uma técnica dedifusão da vocação empresarial. Pois, a inovaçãosó adquire sentido pela mediação do atendimentodos requisitos de multiplicação do capital,>

Mas, a difusão da vocação empresarial encon-tra uma barreira na própria expansão da forma-ção capitalista, nos elos periféricos da correnteproduzida pela exproprtação sucessiva e aos quaissão transferidas as suas conseqüências "irracio-nais", sob a modalidade de vivência da insuficiên-cia econômíco-socíal.> mediante o aparecimentode categorias de produtores rurais não tipicamen-te capitalistas, como o parceiro, o agregado, ocolono, o posseiro, etc.

Portanto, a difusão de inovações e a resultan-te adoção de práticas agrícolas esgotam os seusefeitos eunômicos e modernizadores no bojo davocação capitalista. Onde a vocação capitalistanão pode ser difundida por limitações estruturaisinerentes ao próprio processo de circulação e acu-mulação do capital, a adoção de práticas agríco-las não é, em si mesma, geradora dessa vocaçãoe acentua as conseqüências sociais "irracionais"de uma situação que se mantém una a partirdas tensões objetivas que a constituem. Gs

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1 Guigou, Jacques. Le sociologue rural et l'idéologie duchangement. In L'Homme et la Société, Paris, n. 19,1971.

2 Havens, Eugene A. Theory and method of researchon diffusion. In: Turk, Kenneth L. & Crowder, Loy V.ed. Rural development in tropuxü Latin America.Ithaca, N.Y., Cornell University, 1967; Rogers, EverettM.>& Svenning, Lynne. Modernization among peasants- the impact of communication. New York, Holt Rí-nehart and Winston, Inc., 1969.

3 Na safra de 1965/66, a distribuição dos 254 planta.dores de algodão, quanto à posse da terra, era a se·guinte: 51,6% proprietârios, 44,1% arrendatârios, 3,9%arrendatáríos-propríetãríos, 0,4% parceiros. O fato deque 68,2%dos proprtetáríos-plantadorss de algodão quetenham recebido financiamentos específicos para acultura algodoeira o tivessem relativamente a áreasdiferentes (maiores ou menores) das que efetivamente

Revista de Administraçãô dlf Empresas

cultivaram, constitui indicação de que grande parte daárea apontada como estando sob cultivo direto do pro-prietãrio e sua família estava, na verdade, sendo cul-tivada por arrendatários ou, menos expressivamente,por parceiros. Daí que a ênfase deste artigo esteja sen-do colocada nas relações econômicas e sociais que en-volvem o arrendatário.

4 Essas e outras indicações estatísticas aqui utilizadasresultaram de uma trabalhosa reunião em formulãriosde dados sobre cada um dos 254 plantadores de algo-dão da área estudada, dados esses provenientes dasseguintes fontes: Posto de Sementes da Secretaria daAgricultura do Estado de São Paulo, agências locaisdo Banco do Brasil S.A. e do Banco do Estado de SãoPaulo, Cadastro da Prefeitura Municipal e Entrepostoda Cooperativa Agricola de Cotia. Cf. também o vre-latório manuscrito de Deák, Luiz Guedes. Programade Trabalho da Casa da Lavoura. jul., 1964. 15 p.

5 A caracterização da economia do algodão na áreabaseia-se nos dados convergentes de entrevistas de pro-fundidade realizadas com arrendatários, proprietários,gerentes de bancos, agrônomos regionais, representan-tes de entidades de classe, cooperativas, etc. e tambémnas fontes e dados referidos em notas anteriores.

6 Cf. Ávila, Celso Jaloto. O desenvolvimento da culturaalgodoeira em Santo Anastácio e sua contribuição parao desenvolvimento desta cidade. Santo Anastácío, 1957.8 p. ms. Cf. também a história romanceada da frentepioneira nessa região, que enfatiza os problemas daluta pela terra e da violência: Vasconcelos, Didi. Riodo peixe, cemitério líquido. São Paulo, Grãfica BiblosLtda., s.d.

7 Beiguelman, Paula. A formação do povo no complexocafeeiro: aspectos políticos. São Paulo, Livraria Pio-neira Editora, 1968.

8 Costa, Emília Viotti da. Da .seneala à col6nia. SãoPaulo, Difusão Européia do Livro, 1966. '

9 Sobre a importância da ética do trabalho na implan-tação do trabalho livre na economia cafeeira, cf. Mar.tins, José de Souza. A comunidade na sociedade declasses. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-manas da Universidade de São Paulo, 1970. esp. capo1: Ambivalências e conciliaçõesna imigração. mimeogr.

10 Rogers, Everett M. & Svenning, Lynne. op. citop. 5-6.

11 A noção de vocação é utilizada aqui no sentido webe-riano, cf. Weber, Max. A ética protestante e o espíritodo capitalismo. Trad. de M. Irene de Q. F. Szmrecsãnyie Tamas J. M.K Szmrecsãnyi. São Paulo, Livraria Pio.neira Editora, 1967. Cf. também a noção dialética de"ser social" em Lukacs, Georg. Histoire et consciencede classe. Trad. de Kostas Axelos e Jaqueline Bois.Paris, Les Editions de Minuit. 1960.

12 Berger, Peter L. & Luckmann, Thomas. The socialconstruction of reality. New York, Anchor Books, 1967.esp. p. 92-128.

13 Schumpeter, Joseph A. Teoria âel desenvolvimientoecon6mico. Trad. de Jesus Prados Arrarte. México,Fondo de Cultura Económica,1957.

14 Pereira, Luiz. Ensaios de sociologia do desenvolvi-mento. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1970.esp.cap.2.