adesÃo ao regime terapÊutico proposto À pessoa com
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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
COM HISTÓRIA DE EAM
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
JORGE MIGUEL DIAS HENRIQUES
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
COM HISTÓRIA DE EAM – O PAPEL DO ENFERMEIRO
Coimbra, Fevereiro de 2011
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
O PAPEL DO ENFERMEIRO
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Curso de
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
COM HISTÓRIA DE EAM
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica
JORGE MIGUEL DIAS HENRIQUES
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
COM HISTÓRIA DE EAM – O PAPEL DO ENFERMEIRO
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem
de Coimbra para obtenção do grau de
Enfermagem Médico-Cirúrgica
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Conceição Madanelo
Co-orientador: Prof. Dr. José Reis
Coimbra, Fevereiro de 2011
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Cirúrgica
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA
ENFERMEIRO
apresentada à Escola Superior de Enfermagem
de Coimbra para obtenção do grau de Mestre em
Dr.ª Conceição Madanelo
Prof. Dr. José Reis dos Santos Rôxo
AGRADECIMENTOS:
À Prof.ª Dr.ª Conceição Madanelo pela forma diligente e
pelo estímulo que imprimiu durante todo o percurso de
orientação até à concretização deste estudo;
Ao Director do Serviço de Cardiologia do Centro
Hospitalar de Coimbra – EPE, na pessoa do Dr. António
Leitão Marques pela forma como valorizou e acolheu a
realização deste estudo;
Aos sujeitos participantes neste estudo pelo seu contributo
e colaboração, sem a qual não seria possível concretizar
este trabalho;
Aos meus pais, à minha esposa Margarida e à minha filha
Francisca sempre presentes;
A todos, o meu muito obrigado!
LISTA DE SIGLAS
AHA – Associação Americana do Coração
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CHC, EPE - Centro Hospitalar de Coimbra, Entidade Pública Empresarial
CIPE – Classificação Internacional para a Prática da Enfermagem
CNDCV – Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares
DC – Doença Coronária
DCV – Doenças Cardiovasculares
DGS – Direcção Geral de Saúde
DM – Diabetes Mellitus
EAM – Enfarte Agudo do Miocárdio
EAMCSST – Enfarte Agudo do Miocárdio com supra de ST
ECG – Electrocardiograma
ESH – Sociedade Europeia de Hipertensão
EUA – Estados Unidos da América
GEFERC - Grupo de Estudos da Fisiopatologia do Esforço e Reabilitação Cardíaca
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HTA – Hipertensão Arterial
ICN – International Council of Nurses
ICP – Intervenção Coronária Percutânea
INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica
OE – Ordem dos Enfermeiros
OMS – Organização Mundial de Saúde
PTCA – Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea
REPE – Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros
SCA – Síndrome Coronário Agudo
SPC – Sociedade Portuguesa de Cardiologia
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
TSN – Terapêutica de Substituição de Nicotina
UCIC – Unidade de Cuidado Intensivos Cardíacos
UE – União Europeia
USF – Unidades de Saúde Familiar
VV – Vias Verdes
RESUMO
Este estudo subordinado ao tema “Adesão ao regime terapêutico proposto à pessoa com
história de EAM – O papel do enfermeiro”, é de âmbito não experimental do tipo
descritivo exploratório e integra metodologia quantitativa e qualitativa. Para o efeito
foram utilizados dois instrumentos de colheita de dados dirigidos a 22 doentes com
história de EAM e a 18 enfermeiros que regularmente prestam cuidados a doentes com
estas caracteristicas. Os sujeitos participantes foram selecionados por conveniência.
Os principais objectivos que delineámos para o presente estudo foram: identificar as
estratégias que os enfermeiros utilizam para melhorar os indicadores de adesão ao
regime terapêutico proposto às pessoas com história de EAM, conhecer as dificuldades
percepcionadas em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico e ainda
conhecer a percepção das pessoas com história de EAM acerca do papel dos
enfermeiros, quanto à tomada de decisão no processo de adesão ao regime terapêutico
proposto.
O estudo permitiu concluir que a incidência do incumprimento do regime terapêutico é
significativa. Os enfermeiros têm a percepção de que se encontram numa posição
privilegiada para intervir, são os profissionais que mais tempo e atenção dedicam ao
problema e portanto acreditam que o êxito deste processo muito depende da sua
persistência e envolvimento. As competências identificadas aos enfermeiros no âmbito
do trabalho desenvolvido em torno da adesão ao regime terapêutico foram ao nível da
componente: “Diagnóstica”, “Pedagógica”, “Educativa”, “Comunicacional e de
Persuasão”, “Liderança e Coordenação”, de “Visão Holística” e de “Relacionamento
Interpessoal”. As estratégias implementadas pelos enfermeiros, permitiram identificar
seis domínios de intervenção: “Educação para a Saúde”, “Envolvimento da Família ou
Pessoa Significativa”, “Negociação de Objectivos”, “Mobilização de Recursos da
Comunidade”, “Estabelecimento de uma Relação Terapêutica” e ainda “Sinalização e
Referenciação dos Casos Problemáticos”. Finalmente, a referência a um conjunto de
insuficiências ou limitações identificadas ao nível da organização e planeamento da alta,
assim como, no que se refere ao seguimento destes doentes ao longo do tempo.
Palavras-chave:Adesãoaoregimeterapêutico,Enfarte agudodomiocárdioePapeldoEnfermeiro.
ABSTRACT
This study entitled "Adherence to treatment regimen suggested to people with a history
of EAM - The role of the nurse," its ambit isn’t experimental and its type is a
descriptive exploratory study that integrates quantitative and qualitative methodology.
To achieve this end we used two data collection instruments that targeted 22 patients
with a history of EAM and 18 nurses who regularly provide care to patients with these
characteristics. These subjects were selected by convenience.
The main objectives that we outlined for this study were: attempt to identify the
strategies that nurses use to improve the indicators of adherence to treatment regimen
offered to people with a history of EAM; try to know which are the difficulties founded
around the promotion of adherence to therapy and finally try to know the perception that
people with a history of EAM have on the role of nurses regarding the decision making
in the process of accession to the proposed therapeutic regimen.
The study concluded that the incidence of failure of the therapeutic regimen is
significant. Nurses have the perception that they are in a privileged position to
intervene, they are professionals who devote more time and attention to the problem and
therefore they believe that the very success of this process depends on their persistence
and involvement. The skills that were identified for nurses in their work developed
around the accession to the therapeutic regimen were at the level of component:
"Diagnosis," "Educational", "Education", "Communicational and Persuasion,"
"Leadership and Coordination," of “Holistic View "and" Interpersonal Relationships ".
The strategies implemented by nurses, have identified six areas of intervention, "Health
Education", "Family Involvement or Significant Person", "Negotiating Objectives",
"Mobilization of Community Resources," "Establishing a Therapeutic Relationship" and
even "Signaling and Referentiation of Problematic Cases." Finally we can also conclude
that there are a set of insufficiencies or restrictions identified in the organization and
planning for medical discharge, as well as with regard to the care of patients over time.
Keywords: Adherence to treatment regimen, acute myocardial infarction and Role of
Nurse
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Número de EAM referido pelos doentes vs Idade por faixa etária ............. 91
Gráfico 2 - Habilitações literárias dos doentes inquiridos .............................................. 92
Gráfico 3 – Categoria Profissional dos doentes inquiridos............................................. 92
Gráfico 4 - Distribuição da incidência de factores de risco nos doentes inquiridos ....... 93
Gráfico 5 – Distribuição da Experiencia profissional dos enfermeiros ......................... 93
Gráfico 6 – Percepção dos doentes quanto ao cumprimento do regime terapêuticoproposto pela equipa de saúde......................................................................................... 94
Gráfico7 – Percepção dos enfermeiros acerca do incumprimento do regime terapêutico
......................................................................................................................................... 95
Gráfico 8 - Opiniões dos doentes acerca da duração do regime terapêutico ................ 101
Gráfico 9 - Percepção dos enfermeiros acerca dos aspectos do regime terapêutico mais
negligenciados pelos doentes ....................................................................................... 102
Gráfico10 – Aspectos do regime terapêutico que os doentes assumem ter dificuldade em
cumprir ......................................................................................................................... 103
Gráfico 11 - Percepção dos doentes quanto à sua participação na negociação do regimeterapêutico ..................................................................................................................... 107
Gráfico 12 – Percepção dos doentes acerca da qualidade da informação na preparaçãopara alta ......................................................................................................................... 118
Gráfico 13 – Opinião dos enfermeiros quanto ao grau planeamento e de documentaçãodo processo de preparação do doente para a alta .......................................................... 121
Gráfico 14 – Opinião dos enfermeiros sobre momentos formativos e de reflexão alarga-da na equipa de enfermagem sobre adesão ao regime terapêutico ............................... 123
Gráfico 15 - Participação dos enfermeiros acções de formação/eventos temáticosdireccionadas para a problemática da adesão ao regime terapêutico............................ 123
Gráfico 16 – Opinião dos enfermeiros sobre a articulação entre os serviços de saúde erecursos disponíveis para o trabalho em torno da promoção da adesão ao regime tera-pêutico .......................................................................................................................... 131
Gráfico 17 – Opinião dos doentes sobre a criação de uma consulta de enfermagem de
“follow-up” para o EAM............................................................................................... 133
Gráfico 18 – Opinião dos enfermeiros sobre a criação de uma consulta de enfermagem
de “follow-up” para o EAM ......................................................................................... 134
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Número de EAM diagnosticado vs Sexo dos doentes inquiridos ................. 90
Tabela 2 - Episódios de internamento vs Sexo do doente inquirido .............................. 90
Tabela 3 – Representações dos doentes sobre EAM....................................................... 98
Tabela 4 – Razões referidas pelos enfermeiros para o incumprimento do regime
terapêutico .................................................................................................................... 104
Tabela 5 - Opiniões sobre a concordância com o regime terapêutico proposto vs
Opiniões sobre exposição de problemas relativos à prevenção de novo EAM............. 108
Tabela 6 – Estratégias desenvolvidas pelos enfermeiros na promoção da adesão ao regi-
me terapêutico ............................................................................................................... 110
Tabela 7 – Estratégias de Abordagem no âmbito da Educação para a Saúde .............. 115
Tabela 8 – Aspectos valorizados pelos doentes no âmbito da preparação conferida pelos
enfermeiros ................................................................................................................... 124
Tabela 9 – Competências reconhecidas pelos enfermeiros para o desenvolvimento do
trabalho em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico ............................... 128
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CAPÍTULO I – AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM PORTUGAL ....... 15
1 – DOENÇA CORONÁRIA ...................................................................................... 18
2 – A PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO ............................... 19
2.1 – REABILITAÇÃO DA PESSOA PÓS-EAM ........................................................ 26
2.2 – FACTORES DE RISCO CARDIOVASCULAR ................................................. 28
2.3 – PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO EAM ........................................................... 31
CAPÍTULO II – ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO ................................... 41
3 – CONCEITOS DE ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO .......................... 41
3.1 – CARACTERIZAÇÃO DA DIMENSÃO DO PROBLEMA DA INSUFICIENTE
ADESÃO AOS REGIMES TERAPÊUTICOS ............................................................. 45
3.2 – FACTORES QUE INFLUENCIAM A ADESÃO AOS REGIMES TERA-
PÊUTICOS ..................................................................................................................... 47
3.3 – CONSEQUÊNCIAS DA INSUFICIENTE ADESÃO AOS REGIMES TERA-
PÊUTICOS ..................................................................................................................... 51
3.4 – AVALIAÇÃO E INDICADORES DE ADESÃO AOS REGIMES TERA-
PÊUTICOS ..................................................................................................................... 53
3.5 – ESTRATÉGIAS GLOBAIS PARA A MELHORIA DOS INDICADORES DE
ADESÃO AOS REGIMES TERAPÊUTICOS ............................................................. 56
4 – TEORIAS/MODELOS TEÓRICOS QUE SUPORTAM A ADESÃO AOS RE-
GIMES TERAPÊUTICOS .......................................................................................... 61
5 – O PAPEL DO ENFERMEIRO NA ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO
PROPOSTO À PESSOA COM HISTÓRIA DE EAM ............................................. 66
PARTE II – METODOLOGIA
6 – DA PROBLEMÁTICA À INVESTIGAÇÃO ...................................................... 73
7 – DESENHO DO ESTUDO ...................................................................................... 76
7.1 – TIPO DE ESTUDO ............................................................................................... 76
7.2 – OBJECTIVOS DO ESTUDO ............................................................................... 77
7.3 – POPULAÇÃO ALVO E AMOSTRA ................................................................... 78
7.4 – INTRUMENTOS PARA RECOLHA DE DADOS .............................................. 80
7.5 – TRATAMENTO DOS DADOS ........................................................................... 84
7.6 – ASPECTOS ÉTICOS DA INVESTIGAÇÃO ...................................................... 86
PARTE III – ESTUDO EMPÍRICO
8 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................. 89
8.1 – CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA E SÓCIO-DEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS
PARTICIPANTES ......................................................................................................... 89
8.2 – O INCUMPRIMENTO DO REGIME TERAPÊUTICO ...................................... 94
8.3 – ESTRATÉGIAS DESENVOLVIDAS PELOS ENFERMEIROS ..................... 109
8.4 – PERCEPÇÃO DOS DOENTES SOBRE O PAPEL DOS ENFERMEIROS...... 117
8.5 – PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS SOBRE O SEU PAPEL ..................... 127
8.6 – LIMITAÇÕES PERCEPCIONADAS EM TORNO DA ADESÃO AO REGIME
TERAPÊUTICO .......................................................................................................... 131
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 140
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 145
ANEXOS
Anexo I – Guião da Entrevista aos Doentes
Anexo II – Questionário aos Enfermeiros
Anexo III – Autorização do Conselho de Administração do CHC, EPE para realização
do estudo
Anexo IV – Exemplo de uma entrevista transcrita
11
INTRODUÇÃO
As causas epidemiológicas de mortalidade e morbilidade dos países desenvolvidos
alteraram-se substancialmente nos últimos 50 anos, as situações de doença aguda deram
lugar à proliferação de doenças crónicas, no entanto os modelos de cuidados e de
serviços de saúde ainda não se adaptaram a esta nova realidade, facto que compromete a
resposta às necessidades de cuidados das pessoas com doença crónica. Os idosos já
representam hoje cerca de 21% de população Europeia. Esta transição demográfica
conduziu ao aumento da prevalência das doenças crónicas (Alzheimer, Parkinson,
Depressão, Diabetes, Insuficiência Cardíaca Congestiva, Doença Coronária, Glaucoma,
Artrose e Osteoporose entre outras) que requerem tratamento prolongados de modo a
prevenir a incapacidade, a morbilidade e mortalidade precoce (OMS, 2004, p.29).
O desenvolvimento de novos recursos terapêuticos para o tratamento das condições de
saúde crónicas, permitiu aumentar a esperança de vida destes doentes e
simultaneamente conferir-lhes mais qualidade de vida através do tratamento em
ambulatório. Este progresso no paradigma de tratamento trouxe também um enorme
desafio aos serviços de saúde, constata-se hoje que existe uma percentagem significativa
de incumprimento dos regimes terapêuticos prescritos (no adherence), com impacto
social e económico negativo, prejuízos para os indicadores de saúde das populações,
nomeadamente, pelo aumento da mortalidade e morbilidade, aumento do absentismo,
crescimento das resistências farmacológicas em algumas patologias, desacreditação da
imagem dos serviços de saúde, reflexo no aumento dos orçamentos de saúde dos
estados, entre outras (ICN, 2007, p.1; OMS, 2004, p.13 e OE, 2008, p.9).
As doenças cardiovasculares são simultaneamente a primeira causa de internamento
hospitalar e de mortalidade, contribuindo com cerca de 40% para o total de óbitos
ocorridos em Portugal anualmente (Cardoso, 2009, p.4). Estima-se que ocorram
anualmente cerca de 12 mil enfartes agudos do miocárdio. A taxa de mortalidade é de
cerca de 11,4%. Acresce a este cenário, para muitos dos sobreviventes de EAM, o
espectro da invalidez, da dependência para a satisfação de necessidades básicas, da
diminuição da qualidade de vida, da perda do papel social e a consequente disfunção
12
familiar (Aguiar, 2009, p.7). A melhoria dos indicadores de adesão aos regimes
terapêuticos propostos no âmbito da doença coronária isquémica é parte importante da
estratégia global definida no Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças
Cardiovasculares (DGS, 2007, p.9).
A adesão ao regime terapêutico é um foco de atenção dos enfermeiros e uma
necessidade em cuidados de enfermagem, com particular relevância no âmbito da gestão
das doenças crónicas. A sua proximidade com os doentes, a natureza da relação dos
cuidados, proporciona aos enfermeiros uma excelente oportunidade para diagnosticar a
incidência do problema, monitorizar, planear e implementar intervenções que
efectivamente ajudem as pessoas a integrar o regime terapêutico nos seus hábitos de
vida, dotando-as de conhecimentos e habilidades que lhes permitam realizar e manter as
mudanças necessárias, adaptando-se à sua nova condição de saúde (Machado, 2009,
p.2). Este foco de atenção dos enfermeiros é utilizado para descrever necessidades de
cuidados de enfermagem, da pessoa, família ou comunidade, expressa nos diagnósticos
de enfermagem: “Adesão ao Regime Terapêutico Não Demonstrada, Capacidade para
gerir o Regime Terapêutico Comprometida”, de acordo com a versão Beta 2 e Versão 1
da CIPE respectivamente (ICN, 2001 e 2005). O ICN (2005, p.81), define o
comportamento de adesão ao regime terapêutico ou “adherence” como:
“A acção auto-iniciada para promoção do bem-estar, recuperação e reabilitação,
seguindo as orientações sem desvios, empenhado num conjunto de acções e de
comportamentos. Cumpre o regime de tratamento, toma os medicamentos como
prescrito, muda o comportamento para melhor, procura os medicamentos na data
indicada, interioriza o valor de um comportamento de saúde e obedece às
instruções relativas ao tratamento. (frequentemente associada ao apoio da família
e das pessoas que são importantes para o cliente, conhecimento sobre
medicamentos e processo de doença, motivação do cliente, relação entre
profissional de saúde e cliente).”
Numa tomada de posição sobre investigação em enfermagem a OE (2006, p.4), refere-
se à necessidade de renovação contínua do corpo de conhecimentos próprio pela via da
investigação e define quatro eixos de investigação prioritários. O segundo desses eixos
refere-se à “Educação para a Saúde na aprendizagem de capacidades”, concretamente
aspectos de saúde das populações relacionados com a dependência para o auto-cuidado
e a necessidade de cuidados continuados, estilos de vida, qualidade de vida e ambiente.
13
Este relatório de investigação integra todo o suporte ao estudo subordinado ao tema
“Adesão ao regime terapêutico proposto à pessoa com história de EAM. – O papel
do enfermeiro”, desenvolvido no período compreendido entre Junho de 2009 e
Fevereiro de 2011, e enquadra-se no âmbito do Curso de Mestrado em Enfermagem
Médico-Cirúrgica, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. O corpo deste
documento está estruturado em três partes:
A primeira parte integra a fundamentação teórica das doenças cardiovasculares
com particular destaque para a pessoa vítima de EAM, e ainda, a adesão ao
regime terapêutico que é parte imprescindível da estratégia global de melhoria
dos indicadores de saúde cardiovasculares em Portugal. Neste âmbito,
apresentamos uma caracterização abrangente dos contornos desta problemática,
nomeadamente, no que se refere às responsabilidades dos enfermeiros.
A segunda parte faz referência à estrutura metodológica que suportou e
orientou o desenvolvimento do estudo, assim como, no que se refere às
diligências para acautelar os aspectos éticos da investigação.
A terceira parte integra a apresentação e análise dos dados, onde são
confrontados percepções dos enfermeiros e dos doentes sujeitos da investigação,
relativamente à sua perspectiva sobre os contornos do problema da não adesão
ao regime terapêutico. Finalmente uma referência às conclusões do estudo e às
suas limitações.
A elaboração deste documento pretende dar resposta a um conjunto de objectivos que a
seguir enunciamos:
- Apresentar o quadro conceptual que suporta a questão de investigação do
estudo, a sua justificação e relevância;
- Aprofundar conhecimentos no domínio da problemática da adesão ao regime
terapêutico proposto à pessoa com história de EAM;
- Apresentar o plano metodológico que possibilitou o controlo de todos os
procedimentos até à concretização do presente estudo;
- Expor as conclusões do estudo;
- Desenvolver competências no âmbito da investigação em Enfermagem.
14
Fundamentação Teórica
15
PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica enquanto exercício crítico de levantamento da evidência
científica disponível, é uma etapa do processo de investigação que tem como propósito
reunir um conjunto alargado de informação sobre a temática que se pretende estudar, de
modo a dar suporte aos objectivos do estudo e à condução das várias etapas da
investigação (Lobiondo-Wood e Haber, 2001, p.55). O exercício de revisão da literatura
permite também alargar o alcance dos conceitos considerados na investigação, integrar
informação produzida por outros investigadores, delimitar e estruturar melhor o
problema (Fortin, 1999, p.73).
Este capítulo é composto por duas partes distintas, a primeira parte é dedicada à
problemática das doenças cardiovasculares, e em particular à doença coronária na sua
expressão mais grave o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM). Na revisão teórica desta
patologia será dado especial destaque à prevenção secundária na gestão dos factores de
risco cardiovascular, onde são reconhecidas aos enfermeiros competências
inquestionáveis. A segunda parte deste capítulo é centrada na caracterização do
fenómeno de adesão aos regimes terapêuticos, onde se pretende concretamente
descrever as melhores estratégias para potenciar os comportamentos de adesão no
âmbito da prevenção secundária da doença coronária e o papel dos enfermeiros nesse
processo.
CAPÍTULO I – AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM PORTUGAL
As doenças cardiovasculares são simultaneamente a primeira causa de internamento
hospitalar e de mortalidade em Portugal, contribuído anualmente com cerca de 40%
para o total de óbitos ocorridos em Portugal (Cardoso, 2009, p.4). Ainda segundo o
mesmo autor, acrescem os custos para a sociedade que são muito significativos, não
apenas no dispêndio em relação aos internamentos, medicação, exames de diagnóstico,
16
cirurgias, entre outros, mas também em relação aos custos indirectos, nomeadamente,
perdas de dias de trabalho, ou ao agravamento do desequilíbrio do sistema de segurança
social pela perda de elementos activos. Estima-se que na Europa, o impacto económico
das doenças cardiovasculares ascenda a cento e setenta mil milhões de euros por ano.
As autoridades de saúde em Portugal, atentas a este grave problema de saúde pública,
criaram no âmbito do Plano Nacional de Saúde (PNS) – 2004-2010, uma comissão de
Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares regulamentada (CNDCV)
pelo Despacho n.º 19 670/2005 (2.ª Série), que funciona na dependência do Alto
Comissariado da Saúde, íntegra diferentes grupos de trabalho temáticos e têm por
missão:
(a) Melhorar o conhecimento epidemiológico e estatístico dos factores
determinantes das patologias cardiovasculares.
(b) Promover a prevenção cardiovascular, sobretudo secundária e de reabilitação.
(c) Promover o respeito por boas práticas clínicas e terapêuticas através da adopção
de recomendações clínicas (guidelines) nacionais ou internacionais.
(d) Melhorar a organização e a prestação racional de cuidados diagnósticos e
terapêuticos, sobretudo no âmbito da doença isquémica cardíaca e da doença
vascular cerebral.
(e) Promover a avaliação das tecnologias e dos cuidados de saúde neste domínio.
O referido PNS prevê a redução da mortalidade padronizada por Doença Isquémica
Coronária (DIC) em idades inferiores a 65 anos, de 16,1 em 2001 para 11,0 em 2010; a
redução da letalidade intra-hospitalar por DIC de 6,6% em 2001 para <5% em 2010; a
redução da mortalidade padronizada por AVC em idades inferiores a 65 anos de 17,9
em 2001 para 12,0 em 2010; e a redução da mortalidade intra-hospitalar por AVC de
14,5% em 2001 para <13,0% em 2010 (CNDCV, 2007, p.7).
O Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares pretende,
assim, através de uma abordagem integrada, enfatizar a educação para a saúde como a
educação terapêutica, enquanto processos que visam contribuir para que mulheres
e homens sejam capazes de gerir a sua própria saúde de modo mais informado e,
quando for caso disso, sejam capazes de gerir o seu processo de doença de forma
mais autónoma (DGS, 2007, p.9).
Fundamentação Teórica
17
Cerca de 70% das mortes por AVC e aproximadamente 80% das mortes por EAM
ocorrem antes da chegada ao hospital, sobretudo porque os doentes desvalorizam os
sintomas e tardiamente solicitam ajuda. Estes índices de mortalidade preocupantes
apontavam para a necessidade de se aumentar a rapidez no acesso destes doentes ao
hospital, aspecto muito sensível para os indicadores de mortalidade e morbilidade destes
doentes. Nesse sentido foram criadas as Vias Verdes (VV) EAM e AVC no ano de
2007. Trata-se de um programa estratégico, que mediante a definição da rede de
urgências cardiovasculares, dos meios de socorro a activar e da agilização do
encaminhamento destes doentes no Pré-hospitalar, Inter-hospitalar e no Intra-Hospitalar
no acesso aos meios de diagnóstico e tratamento, pretende melhorar os indicadores de
saúde cardiovascular (CNDCV, 2007, p.8).
As taxas de mortalidade por doenças cerebrovasculares têm vindo a diminuir em
Portugal, mas, apesar do notável decréscimo observado, somos ainda o País da União
Europeia (EU) que apresenta a taxa de mortalidade mais elevada para esta causa de
morte. Observou-se, também, um decréscimo das taxas de mortalidade por doença
isquémica cardíaca, mas menos pronunciado do que o verificado nas doenças
cerebrovasculares (DGS, 2007, p.5). A elevada prevalência nacional dos factores de
risco das doenças cardiovasculares obriga a que se tenha uma especial atenção à sua
efectiva prevenção, detecção e correcção, tendo em atenção que o conceito subjacente a
este termo aglutina não apenas as acções que evitam a perda da saúde mas, também,
todos os cuidados que promovem a sua recuperação. Obriga, ainda, à adopção de
medidas integradas e complementares que potenciem, na população portuguesa, a
redução dos riscos de contrair estas doenças, a concretização do seu rápido e adequado
tratamento e a tomada de medidas de prevenção secundária que reduzam a sua
recorrência (DGS, 2007, p.6).
Apesar de, hoje em dia, grande parte da população ter consciência da necessidade de
introduzir alterações nos seus comportamentos de risco, continua a recusar fazer
correcções alimentares, como reduzir o sal, as gorduras e as calorias. Continua, de facto,
a recusar deixar de fumar ou reduzir o álcool, a não controlar os níveis de colesterol e de
açúcar no sangue e continua a não se submeter a exames periódicos de saúde, os quais
são mandatórios, principalmente quando existe risco genético ou confirmação de
história familiar de doença cardiovascular ou de morte precoce. (DGS, 2007, p.7).
18
1 – DOENÇA CORONÁRIA
A doença coronária (DC), é a designação habitualmente utilizada para descrever os
efeitos da redução parcial ou obstrução completa do fluxo sanguíneo através das artérias
coronárias como resultado de estreitamento (arteriosclerose) e/ou migração de um
coágulo de sangue ou gordura (trombo) através da arvore coronária. As principais
manifestações da DC são a Angina Instável (A.I) e o EAM (Hatchette e Thompson,
2002, p.163).
A aterosclerose consiste no espessamento e perda de elasticidade da parede de uma
artéria pela deposição de substâncias gordas e sais de cálcio, sobretudo colesterol
organizado em placa e revestido por uma cápsula branca e fibrosa. Estas placas de
ateroma vão se acumulando ao longo de várias décadas de forma assintomática, por
baixo do revestimento interno da parede da artéria (íntima). Ao fim de alguns anos o
crescimento destas placas de ateromatosas começa a comprometer o lúmen da artéria
coronária com reflexo na diminuição do aporte sanguíneo à parede cardíaca, inicia-se
então a fase sintomática da doença. Por vezes também sucede que esta placa
ateromatosa rompe a camada íntima da artéria e uma vez em contacto com os
componentes sanguíneos, desencadeia-se uma resposta inflamatória local. A activação
da cascata da coagulação e a reacção imunitária contra a placa de ateroma, formando
trombos oclusivos e dando origem à sintomatologia típica da angina instável
(Gonsalves, 2004, p.23).
A evolução da doença arteriosclerótica e o momento em que ocorre o aparecimento
de sintomatologia está relacionado com a presença e duração de exposição aos
factores de risco cardiovasculares, factores hereditários, idade, sexo, etc. O carácter
assintomático de evolução da doença é um aspecto que impede o reconhecimento e
tratamento precoce destes doentes, mas não só, esse aspecto é também apontado como
um factor negativo de ordem psicológica no plano motivacional para a correcção de
estilos de vida de risco e adesão ao regime terapêutico (Figueiras, 2008, p.39).
Fundamentação Teórica
19
2 – A PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO
O Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), faz parte de um grupo de doenças designado –
Doenças Isquémicas do Coração. O EAM é o processo pelo qual o tecido miocárdico é
destruído em regiões do coração desprovidas de um suprimento sanguíneo suficiente,
em virtude da redução do fluxo sanguíneo coronário. O fluxo sanguíneo coronário pode
diminuir devido a um estreitamento de uma artéria coronária, por espasmo súbito
(angina de Prinzmetal), por aterosclerose, ou por uma obstrução total de uma coronária
causada por um trombo ou êmbolo. A redução do fluxo sanguíneo coronário pode ser
também resultado de choque hipovolémico por hemorragia massiva. Em todos os casos
há um desequilíbrio entre o consumo e o aporte efectivo de oxigénio ao miocárdio
(Souza e Andrei, 2002, p.25).
Ocorrem em Portugal anualmente cerca de 12 mil enfartes agudos do miocárdio. A taxa
de mortalidade é de cerca de 11,4%. Acresce a este cenário, para muitos dos
sobreviventes de EAM, o espectro da invalidez, da dependência para a satisfação de
necessidades básicas, da diminuição da qualidade de vida, da perda do papel social e a
consequente disfunção familiar (Aguiar, 2009, p.7). A incidência de enfarte do
miocárdio estimada em Portugal para cada 1000 indivíduos é de 3,1 e 0.8,
respectivamente para os homens e para as mulheres (Macedo et al., 2008, p.574).
A OMS estima que cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo morrem
anualmente devido a EAM, e que na Europa existam cerca de 10 milhões de pessoas
com doença coronária (Gonsalves, 2004, p.21). A mortalidade intra-hospitalar em
Portugal para os SCA caiu de 20 % há alguns anos atrás para os 9,9 % em 2003
(Gonsalves, 2004, p.12).
Manifestações clínicas e diagnóstico do EAM
Como já foi referido anteriormente, cerca 80% dos óbitos por EAM ocorrem antes do
doente chegar ao hospital. O reconhecimento precoce da sintomatologia da pessoa
20
vítima de EAM, a activação do socorro, o diagnóstico e o tratamento no mais curto
espaço de tempo são aspectos muito sensíveis para o prognóstico (CNDCV, 2007). A
sintomatologia do EAM por vezes revela-se de forma atípica (comum nos idosos,
diabéticos e nas mulheres) dificultando o seu diagnóstico. Em cerca de 20% dos doentes
a instalação do EAM é assintomática, nesse sentido são tidos em consideração como
elementos de diagnóstico o quadro clínico, marcadores bioquímicos, o
Electrocardiograma (ECG), angiografia coronária, ecocardiograma e ainda e a história
pessoal (Aehlert, 2007, p.314):
(a) Quadro clínico: dispneia, palpitações, síncope, dor torácica opressiva e intensa
com irradiação para o braço esquerdo, mandíbula, ombros ou dorso
acompanhado de náuseas, vómitos e sudorese profusa fria. Taquicardia mantida
e hipotensão arterial.
(b) Electrocardiograma: a análise atenta do ECG de 12 derivações permite localizar
a área de enfarte do miocárdio. Alguns minutos após o evento coronário existe
tradução electrocardiográfica do mesmo. A isquémica afecta as células
responsáveis pela produção e condução de impulsos eléctricos, nomeadamente
no fenómeno da repolarização com impacto no segmento ST, na morfologia da
onda T e na revelação da onda Q patológica. Elevação do segmento ST maior
que 1 mm, em duas ou mais derivações contíguas e depressão do segmento ST
nas derivações simétricas deve ser interpretada com suspeita de EAM. O
aparecimento de bloqueio de ramo esquerdo na vigência de sintomatologia, é
também um forte indicador de EAM anterior extenso. A inversão da onda T > 3
mm isoladamente no ECG, pode está relacionada com angina instável ou EAM
sem supra-desnivelamento de ST. As ondas Q quando presentes no ECG,
traduzem áreas de necrose de porções de tecido miocárdico transmural, isto é, a
área enfartada abrange toda a espessura da parede ventricular (Limman e Cascio,
2001, p.208).
(c) Marcadores bioquímicos: os marcadores bioquímicos de lesão miocárdica, são
um importante meio de diagnóstico diferencial, nas situações de sintomatologia
atípica em que há suspeita de EAM. Em função da expressão enzimática
permitem também aferir a extensão e gravidade do EAM. Os marcadores
actualmente mais utilizados são as troponinas, a creatinoquinase MB (CK-MB) e
a mioglobina, as creatinofosfoquinases (CPK) as transaminases oxaloacéticas
Fundamentação Teórica
21
(TGO) e a desidrogenase láctica (LDH). As troponinas I e T são os marcadores
bioquímicos específicos de isquémia do miocárdio mais utilizados, surgem 3 a 6
horas após o inicio dos sintomas de EAM e atingem o pico em torno das 18
horas (Pereira, 2007, p.58). A avaliação laboratorial inicial deve incluir ainda o
hemograma com contagem de plaquetas; o INR e o APTT; ureia, creatinina,
ionograma sérico e magnesiemia; glicemia e ficha lipídica (Pereira, 2007, p.51).
(d) Cateterismo Cardíaco ou Angiografia Coronária: fornece informação diagnóstica
da anatomia e da qualidade da circulação coronária, assim como, da função
ventricular global. Nas situações em que estejam presentes critérios de gravidade
(ECG com Supra desnivelamento ST até 3 horas de evolução após o inicio da
sintomatologia), ou esteja contra-indicado o uso da fibrinólise recomenda-se a
angioplastia primária de urgência, possibilitando a reperfusão miocárdica
(Aehlert, 2007, p.338).
(e) Ecocardiografia: Tem pouco valor diagnóstico no EAM, mas é útil na
localização de EAM prévio, despiste de complicações associadas ao EAM,
nomeadamente no edema agudo do pulmão, insuficiência valvular, choque
cardiogénico, e outros.
(f) História pessoal: A doença coronária tem uma forte associação aos factores de
risco cardiovascular (história familiar, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes,
dislipidémia, obesidade, e outros), este facto pode ajudar no levantamento da
suspeita de EAM.
Em face da sobreposição de alguma sintomatologia do EAM com outras entidades
patológicas deve ser feito o diagnóstico diferencial quanto à possibilidade de dissecção
aórtica, pneumonia, pericardite, miocardite, tromboembolia pulmonar, esofagite e
pancreatite aguda (Souza e Andrei, 2002, p.27)
Classificação do EAM
São usadas tradicionalmente três classificações para o EAM, quanto ao grau de
envolvimento do musculo cardíaco, quanto à sua localização e extensão e ainda quanto
ao seu prognóstico. Quanto à extensão de envolvimento do músculo cardíaco, Limman
(2001, p.210) classifica o enfarte em sub-epicárdico confinado à parede ventricular
22
exterior (EAM com elevação ou supra-desnivelamento do segmento ST) ou
subendocárdica confinado à parede ventricular interior (EAM com depressão ou infra-
desnivelamento do segmento ST).
A localização da superfície de isquémia no EAM pode ser estimada através da
identificação de qual ou quais, das 12 derivações do ECG estão afectadas, assim
podemos classificar o EAM em Inferior (derivações do ECG DII, DIII e AVF), Anterior
(derivações do ECG (V3 e V4), Septal (derivações do ECG (V1 e V2) e Lateral
(derivações do ECG (DI, AVL, V5 e V6).
Quanto ao prognóstico do EAM é usada a classificação Killip, que prevê quatro índices
de gravidade (Souza e Andrei, 2002, p.28):
Killip I – Ausência de insuficiência Cardíaca (6% de mortalidade);
Killip II – Extase pulmonar e dispneia (17% de mortalidade);
Killip III – Edema agudo do pulmão (38% de mortalidade);
Killip IV – Choque cardiogénico (61% de mortalidade).
Tratamento do EAM
O objectivo terapêutico na fase aguda do EAM é o restabelecimento do lúmen da artéria
ocluída, quer por meios farmacológicos ou mecânicos, permitindo a reperfusão dos
territórios miocárdicos e a consequente reversibilidade das lesões provocadas pela
oclusão arterial. A redução da mortalidade e morbilidade pelas terapêuticas de
reperfusão verifica-se sobretudo nas primeiras três horas após o início de sintomas
(CNDCV, 2007, p.6).
O EAM requer tratamento urgente na maioria dos casos. Os objectivos no tratamento do
EAM são aliviar a dor, preservar miocárdio e prevenir arritmias graves. Sabe-se que
cerca de um terço dos casos de enfarte do miocárdio têm evolução fatal, sendo que cerca
de 50% das mortes ocorrem na primeira hora de evolução do enfarte, antes da chegada
ao hospital (DGS, 2006, p.18). A celeridade no restabelecimento da perfusão
miocárdico é um aspecto muito sensível para o prognóstico. Perante um EAM em
evolução, a prioridade deve ser a repermeabilização rápida do vaso responsável pelo
acidente isquémico, de modo a preservar o miocárdio em risco, o que só é possível caso
Fundamentação Teórica
23
o tratamento seja iniciado dentro da chamada "janela terapêutica", ou seja, nas primeiras
3 horas a seguir ao início dos sintomas (Sheehy, 2001, p.33).
As principais intervenções a assegurar logo que exista validação da suspeita de EAM
são (Aehlert, 2007, p.83):
Administração de oxigénio de alta concentração por máscara a todos os doentes
com saturação de oxigénio <90%, é razoável a sua administração nas primeiras 6
horas de evolução do enfarte, aos doentes com EAMCSST não complicado;
Controlar a dor. Deve ser administrado sulfato de morfina (2 a 4 mg por via
endovenosa, podendo ser repetida num intervalo de 5-15 minutos) para controlo
da dor associada à isquémica miocárdica.
Monitorização electrocardiográfica;
Reperfusão miocárdica precoce.
Existem essencialmente duas estratégias para restabelecer a circulação coronária, pela
via mecânica através da angioplastia percutânea com recurso à implantação de um stent,
ou com recurso a fibrinólise – reperfusão química. Com o advento dos fibrinolíticos, as
oclusões agudas das artérias coronárias (a maioria das quais provocada por trombos
sobrepostos na aterosclerose) poderam ser "recanalizadas", resultando na preservação
do músculo cardíaco. Estudos demonstram a eficácia deste tratamento na reperfusão das
artérias coronárias, bem como na redução da morbilidade e mortalidade. Os
trombolíticos, como o próprio nome indica, actuam na dissolução dos trombos das
coronárias, restabelecendo o fluxo sanguíneo para o miocárdio hipoperfundido,
suspendendo ou evitando a evolução completa do processo de enfarte (Sheehy, 2001,
34). No ano de 2008 dos 16020 doentes admitidos nas unidades coronárias em Portugal,
apenas 878 doentes foram submetidos a tratamento com fibrinolíticos (CNDCV, 2009.
p.16).
A Monitorização electrocardiográfica e a avaliação dos Sinais Vitais (SPO2, TA, Pulso
e Respiração), para despiste de disritmias, hipotensão arterial, hipóxia, choque ou outras
complicações, são também aspectos imprescindíveis no tratamento do EAM. Neste
âmbito, o papel dos enfermeiros na avaliação e vigilância é de extrema importância.
Ainda de acordo com o mesmo autor as principais medidas farmacológicas incluem: os
nitratos inicialmente por via sub-lingual e posteriormente endovenosos, dilatam as
24
artérias coronárias, reduzem a pós-carga, pela dilatação da circulação venosa periférica,
e a pré-carga, ou seja, diminui o retorno venoso ao coração.
O Ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 75-325 mg via oral mastigado, como anti –
agregante plaquetar, reduz a incidência de eventos vasculares nos doentes com EAM. A
eficácia na redução da mortalidade é tanto maior quanto mais precoce for a sua
administração. Em doentes com EAMCSST deve também ser administrado
clopidogrel® de imediato. A primeira dose deve ser de:
• 300 mg nos doentes com idade ≤75 anos que vão receber terapêutica
fibrinolítica.
• 75 mg nos restantes doentes que vão receber terapêutica fibrinolítica.
• 600 mg nos doentes que vão ser submetidos a ICP primária. As doses
subsequentes devem ser de 75 mg por dia. A terapêutica deve ser prolongada por
pelo menos quatro semanas.
A selecção da estratégia de reperfusão envolve a avaliação do tempo decorrido desde o
início dos sintomas, do risco do EAMCSST, do risco de hemorragia e do tempo
necessário para o transporte até um laboratório de Hemodinâmica onde possa ser
efectuada a intervenção coronária percutânea primária por uma equipa habilitada. Este
recurso de diagnóstico e terapêutica invasivo, não é isento de risco, contudo permite
reduzir muito a morbilidade e mortalidade após o evento coronário:
Angiografia coronária ou Cateterismo cardíaco – permite a visualização directa
das principais artérias coronárias e a avaliação directa da função ventricular
esquerda.
Angioplastia coronária transluminal percutânea (PTCA) – é realizada nas
artérias com oclusão significativa, e é uma alternativa à terapêutica fibrinolítica.
Permite a recanalização da artéria coronária ocluída responsável pelo enfarte.
Basicamente, consiste na colocação de um stent por meio de um cateter inserido
ao nível da região inguinal ou radial que, uma vez abordada a artéria coronária
lesada, é restabelecido o seu lúmem permitindo a reperfusão da área afectada
(Souza e Andrei, 2002, p. 29). Cerca de um quarto dos doentes submetidos a
angiografia coronária têm indicação para angioplastia (DGS, 2004, p.9).
Os critérios electrocardiográficos de elegibilidade para a terapêutica de reperfusão são
(Hatchett, 2002, p.112):
Fundamentação Teórica
25
Supradesnivelamento do segmento ST >0,1 mV em pelo menos 2 derivações
pré-cordiais contíguas ou dos membros adjacentes;
Depressão do segmento ST >0,1 mV em pelo menos 2 derivações pré-cordiais
direitas (V1-V4) contíguas, com onda T positiva e com razão onda R/onda S ≥1
em V1 e V2, sugerindo EAM de localização posterior;
Bloqueio completo do ramo esquerdo de novo, ou presumivelmente de novo.
Complementarmente às medidas enunciadas, Hatchett (2002, p.42) propõe a promoção
do repouso físico e psíquico com recurso a benzodiazepínicos de curta duração, uma vez
que as situações de stress estimulam o sistema nervoso simpático capaz de aumentar a
frequência (cronotrópico positivo) e a contractibilidade (ionotrópico positivo) do
coração com maior necessidade de consumo de oxigénio e maior possibilidade de
aumento da necrose miocárdica. Este repouso só é possível após o alívio da dor, o qual
continua a ser um elemento essencial no tratamento deste tipo de doentes, pois sendo
muito intensa mantém o doente num estado permanente de agitação.
Via Verde EAM
A Via Verde (VV) define-se como uma estratégia organizada para a abordagem,
encaminhamento e tratamento mais adequado, planeado e expedito, nas fases pré, intra e
inter-hospitalares, de situações clínicas mais frequentes e/ou graves que importam ser
especialmente valorizadas pela sua importância para a saúde das populações (CNDCV,
2007, p.8). A VV deverá ser accionada pelo cidadão (doente) através do número
nacional de emergência (112) e envolvem directamente o Instituto Nacional de
Emergência Médica (INEM) no diagnóstico, eventual tratamento pré-hospitalar e
adequado encaminhamento para os Hospitais com as melhores condições de
confirmação diagnóstica e tratamento subsequente e com disponibilidade logística para
a recepção dos doentes.
O aumento do internamento hospitalar através das VV de EAM e de AVC é uma das
metas consideradas prioritárias para as Doenças Cardiovasculares no PNS, assim,
estabeleceu-se a meta de aumentar o internamento pelas VV de 2% para 80% no
período (2004-2010), e reduzir a mortalidade por EAM antes dos 65 anos por cada cem
26
mil habitantes dos 15% para os 11%. A taxa de reperfusão para os 2% de doentes
transportados pela VV coronária no ano de 2004 era de 80%, facto que expressa bem os
ganhos em saúde e a melhoria do prognóstico quando os doentes são socorridos pala
VV (CNDCV, 2007, p.7). Os indicadores estatísticos do número de doentes admitidos
nas unidades coronárias pela Via Verde (INEM) foram de 256 no ano de 2006, e passou
para 717 no ano de 2008, destes 349 dizem respeito à região Centro. Relativamente aos
16 020 doentes internados nas unidades coronárias do País no ano de 2008, apenas 4%
foram admissões VV coronária (CNDCV, 2009, p.14).
2. 1 – REABILITAÇÃO DA PESSOA PÓS-EAM
O conceito de reabilitação cardíaca engloba o conjunto das intervenções necessárias
para fornecer ao doente cardíaco uma condição física, psicológica e social tão elevada
quanto possível, para que estes doentes com patologia crónica ou pós-aguda possam,
pelos seus próprios meios, preservar ou retomar o seu lugar na sociedade. O
envolvimento da família no plano de reabilitação do doente é fundamental, a
preocupação educativa deve iniciar-se logo no primeiro dia de internamento (Gonsalves,
2003, p.71).
As complicações cardiovasculares nos doentes coronários, nomeadamente nos que já
tiveram enfarte do miocárdio, são cinco a sete vezes mais frequentes do que as que
surgem nos indivíduos sem doença diagnosticada, pelo que a prevenção secundária
destes doentes tem que ser mais agressiva no que respeita à prevenção dos factores
de risco. A OMS propõe os seguintes objectivos para a reabilitação e reinserção social
do doente coronário (Gonsalves, 2003, p.67 e Bettencourt, 2005, p.688):
Melhorar a capacidade física ao esforço, reabilitando o miocárdio dos doentes
cardio-vasculares;
Reduzir o impacto psicológico da doença cardíaca;
Assegurar o regresso à vida socioprofissional, principal objectivo da reabilitação
e da legislação social;
Proceder às terapêuticas adequadas e à prevenção secundária dos factores de
risco, aumentando a esperança e a qualidade de vida do doente.
Fundamentação Teórica
27
Este trabalho de reabilitação deve ser de âmbito multidisciplinar, envolvendo o
cardiologista, o fisiatra, o psiquiatra, a assistente social, o enfermeiro, o nutricionista, e
outros. Ainda segundo o mesmo autor a taxa de admissão nos programas de reabilitação
cardíaca em Portugal é muito baixa pelo que tem de ser incrementados paralelamente,
com o desenvolvimento de uma adequada legislação e políticas de integração social.
Segundo um inquérito nacional do Grupo de Estudos da Fisiopatologia do Esforço e
Reabilitação Cardíaca (GEFERC) da SPC, as admissões aos programas de reabilitação
cardíaca aumentaram de 0,7% no ano de 1999, para 1,8 % no ano de 2004, contudo as
taxas de referenciação de doentes para estes programas continuam muito abaixo da
média europeia. Existem em Portugal 14 centros de reabilitação Cardíaca. Os doentes
com EAM contribuem com 59% do total de admissões nos programas de reabilitação
cardíaca. No ano de 2004 foram admitidos 267 doentes em programas de reabilitação
cardíaca em Portugal. As questões económicas têm sido classicamente referidas como
um dos principais entraves ao crescimento da reabilitação cardíaca já que o SNS
continua a não comparticipar as suas despesas em centros extra-hospitalares (Teixeira,
2007, p.816).
De acordo com Bettencourt (2005, p.696), o impacto de um evento cardíaco isquémico
na qualidade de vida é grande e a sintomatologia depressiva é frequente em doentes
com doença coronária, sendo que a depressão major parece afectar 15 a 20% dos
indivíduos no período pós-enfarte agudo do miocárdio. Num estudo desenvolvido no
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia sobre o impacto da reabilitação cardíaca na
qualidade de vida e sintomatologia depressiva após síndroma coronária aguda revelou
indicadores de saúde mental e global significativamente melhores nos doentes
submetidos a programas de reabilitação cardíaca. O início do programa de reabilitação
cardíaca no período do internamento está condicionada por vários factores, entre os
quais:
Condição anátomo-patológica do momento;
Alterações do ritmo ventricular;
Reactivação da dor anginosa;
Agravamento da insuficiência cardíaca.
O enfermeiro deverá em primeiro lugar recolher os dados que lhe vão permitir reunir
informações sobre as necessidades específicas do doente e qual a sua situação de saúde,
28
nesse sentido é necessário fazer um levantamento dos seus hábitos, crenças, atitudes
e conhecimentos que estão relacionados com os factores de risco que determinaram
a manifestação da doença coronária. Quanto à intervenção do serviço social
hospitalar, este deve centrar a sua acção nas dimensões do cognitivo e do social
enquanto elementos que influenciam decisivamente o processo de doença, através da
avaliação das interacções que se estabelecem nos grupos e estruturas sociais onde o
doente se movimenta. Nesse sentido o envolvimento do doente, da sua família e a
cooperação multidisciplinar ao nível da equipa de saúde são fundamentais para
compreender o contexto familiar e social em que o doente está inserido, a avaliação do
potencial de reabilitação do doente e as previsões quanto às limitações e incapacidades
decorrentes da situação clínica, assim como as implicações daí resultantes a todos os
níveis (bio-psico-social) na vida do doente. A impossibilidade de voltar ao exercício
profissional por limitação de saúde reconhecida poderá obrigar à reconversão
profissional, solicitação de apoio social estatal através do normativo legal em vigor,
entre outros. Neste plano importa mobilizar e potenciar o conjunto de acções e recursos
disponíveis que garantam a melhor reinserção social e profissional do doente
(Gonsalves, 2003, p.78).
No plano dos factores psicológicos envolvidos no processo de reabilitação e reinserção
do doente coronário, o “cooping” disfuncional é o aspecto mais premente, isto é, os
factores que estiveram envolvidos na manifestação insidiosa da doença coronária
necessitam de ser trabalhados nomeadamente (distúrbios emocionais, stress,
tabagismo e outros). A intervenção psicológica deve permitir o desenvolvimento do
paciente em habilidades comportamentais e cognitivas que lhe facilitem ultrapassar o
impacto emocional da doença, além duma efectiva alteração dos comportamentos de
risco coronário e dos estilos de funcionamento laboral, familiar e social (Teixeira, 2007,
p.823).
2.2 – FACTORES DE RISCO CARDIOVASCULAR
Um factor de risco cardiovascular é uma característica biológica ou comportamental
que, em termos epidemiológicos, está associada com o desenvolvimento ou com o
favorecimento da aterosclerose ou de algumas das suas expressões clínicas da doença
cardiovascular (Silva, 2006, p.27). Ainda segundo o mesmo autor, o reconhecimento de
Fundamentação Teórica
29
um factor risco para o desenvolvimento de uma doença, no caso particular as doenças
cardiovasculares, prevê que se verifiquem um conjunto de pressupostos:
Força e consistência: o factor de risco deve ter uma forte correlação estatística
com a doença e estar consistentemente relacionado – em diversos estudos e em
diferentes populações com a aterosclerose.
Dose/Resposta e Temporalidade: o factor de risco deve preceder o aparecimento
da doença e existir entre esta e o elemento em causa uma relação gradual,
reiterada, largamente sustentada: quanto maior o factor/comportamento em
causa, tanto mais elevado o risco de contrair a doença.
Especificidade e Independência: o factor de risco deve ser específico e
independente, não procedente de outros traços ou características coexistente e
não relacionado com o número alargado de condições ou quadros
fisiopatológicos díspares.
Coerência e Plausibilidade Biológica: tem de ser sustentado em bases científicas
e modelos experimentais.
Reversibilidade: a actuação sobre o factor de risco, experimentando a sua
redução ou a sua normalização, deve permitir reverter (parcialmente ou
totalmente) a doença (ou risco por ele conferido).
Apesar de, hoje em dia, grande parte da população reconhecer a necessidade de
introduzir alterações nos seus comportamentos de risco, continua a revelar pouca
consistência nas correcções alimentares, na redução do sal e das gorduras e no consumo
de calorias. Continua, de facto, a recusar deixar de fumar ou reduzir o álcool, a não
controlar os níveis de colesterol e de açúcar no sangue e continua a não se submeter a
exames periódicos de saúde, os quais são mandatórios, principalmente quando existe
risco genético ou confirmação de história familiar de doença cardiovascular ou de morte
precoce. (DGS, 2007, p.7).
O estudo AMALIA patrocinado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), é o
maior estudo de prevalência da percepção individual dos principais factores de risco de
doença cardiovascular realizado em Portugal, incluindo as regiões autónomas da
Madeira e dos Açores. A amostra do estudo foi de 38 893 indivíduos com idade igual ou
superior a 40 anos, com uma distribuição por região e grupo etário semelhante à da
população nacional. Pretendeu-se caracterizar a prevalência e a distribuição por classe
30
etária e região dos vários factores de risco cardiovascular. As conclusões foram as
seguintes:
Prevalência da hipertensão arterial (23,5%);
Prevalência da hipercolestrolémia (19,7%);
Prevalência da diabetes (8,9%);
Prevalência de tabagismo (16,3%);
Prevalência de obesidade (51,6%);
As regiões autónomas da Madeira e dos Açores apresentaram maior prevalência para
cada um dos diferentes factores de risco, relativamente às difrentes regiões de Portugal
Continental (Macedo et al., 2008, p.572 e Perdigão, 2009, p.19). O estudo
INTERHEARTH mostrou que nove factores de risco cardiovascular modificáveis
(dislipidémia, tabagismo, HTA, diabetes mellitus, obesidade abdominal, factores
psicossociais, não consumo de frutas e vegetais, hábitos alcoólicos e sedentarismo)
explicam a quase totalidade (> 90%) do risco de ocorrência do primeiro evento
coronário, independentemente da diferença de género ou região demográfica (Silva,
2006, p.32).
Cabe, assim, não apenas aos serviços de saúde, sejam centros de saúde ou hospitais,
mas, por ser um imperativo de natureza ética, a todos os agentes informativos e
educativos da população, esclarecê-la da forma como pode cada pessoa escolher,
adaptar e assumir, as opções mais saudáveis e desejáveis dentro do seu próprio estilo de
vida. (DGS, 2007, P.7). No âmbito do Programa Nacional de Prevenção e Controlo das
Doenças Cardiovasculares a desenvolver no horizonte temporal de dez anos, tendo em
vista a redução da incidência do EAM e do AVC, nos indivíduos com mais de 65 anos,
a (DGS, 2007, p.12 e Silva, 2006, p.28), definem como principais factores de risco
individuais modificáveis, para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a tensão
arterial elevada, a dislipidémia, os hábitos tabágicos, a alimentação inadequada, o
excesso de peso e a obesidade, o sedentarismo, a diabetes mellitus e ainda o stress
excessivo.
Fundamentação Teórica
31
2.3 – PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO EAM
Os sobreviventes de EAM têm um grande risco de recorrência de novo evento
coronário. Há evidência de que existem estratégias eficazes que permitem reduzir
este risco, são as designadas estratégias de Prevenção Secundária do EAM. Esta
abordagem assenta em duas componentes complementares a redução dos factores de
risco cardiovascular e o cumprimento da terapêutica medicamentosa (Mimoso, 2006, p.
1121). Ainda segundo o mesmo autor, após a alta, deverão ser tomadas medidas que
permitam melhorar a adesão e optimização terapêutica, nomeadamente controlar
adequadamente os factores de risco e detectar complicações particularmente a
insuficiência cardíaca.
Hipertensão Arterial
A Hipertensão arterial (HTA) é um factor de risco major para a DC, pela sua alta
incidência e ainda pelo efeito acelerado que imprime no processo de aterosclerose,
hipertrofia ventricular esquerda, anomalias na microcirculação, disfunção endotelial,
resistência à insulina e activação simpática (Gonsalves, 2003, p.25). Apesar dos vários
recursos terapêuticos disponíveis para controlo da HTA e dos cuidados preventivos que
cada doente pode por si adoptar (estilo de vida, dieta, redução sal, abstinência alcoólica,
exercício, etc.), muitos destes doentes permanecem mal controlados evidenciando
insuficiente adesão ao regime terapêutico. Verificam-se várias atitudes: alguns doentes
logo que sentem melhoras suspendem o regime terapêutico (40%), outros suspendem-no
pelos seus efeitos adversos ou não o cumprem como recomendado, outros ainda não
chegam a iniciar o regime terapêutico (34%). O sexo masculino, os doentes com
tratamentos polimedicamentosos, e o maior espaçamento entre as consultas de “follow-
up” revelaram-se estatisticamente significativos na diminuição da taxa de adesão ao
regime terapêutico. Considerando a importância do cumprimento do conjunto dos vários
cuidados para o controlo da HTA, devem desenvolver-se estratégias que promovam a
maior adesão aos regimes terapêuticos instituídos (Vieira, 2001, p.7).
Os valores óptimos para a pressão arterial definidos por várias associações como a
European Society of hypertension (ESH), a OMS, e a International Society of
Hypertension (IST) são inferiores a 120/80 mmHg, contudo os valores consensualmente
32
aceite como objectivo terapêutico são os valores inferiores ao intervalo 140/90 mmHg
(Gonsalves, 2003, p.27). De acordo com Cardoso, (2009, p.5), apenas 29% dos doentes
hipertensos em Portugal estão efectivamente controlados. Vários estudos sobre a adesão
ao regime terapêutico na HTA apresentam conclusões convergentes, verificam-se taxas
de adesão expressivamente baixas. A título de exemplo referem-se três estudos: um
estudo que incidiu sobre 241 doentes hipertensos nos EUA, apenas 38% deles aderiu às
recomendações propostas pelos profissionais de saúde, Inui et al., citado por (Ramalhi-
nho, 1998, p.6). Num outro estudo realizado em Espanha, com uma amostra de 145
doentes hipertensos, a taxa de adesão terapêutica foi de 33,8%, Martinez et al., citado
por (Ramalhinho, 1998, p.6). Finalmente a referência a um estudo realizado em
Portugal, com uma amostra de 130 doentes hipertensos, em que a taxa de adesão
apurada foi apenas de (46,3%). Ainda segundo o mesmo autor, o tempo de duração dos
estudos, os métodos e os critérios usados no cálculo das taxas de adesão terapêutica
impedem que se possam generalizar as conclusões destes estudos, a respeito deste facto,
chama-se à atenção para a discrepância de resultados em um estudo realizado na Suécia
com uma amostra de 130 doentes hipertensos, onde se apurou que 87,5 % dos doentes
revelavam boa adesão ao regime terapêutico.
A fraca adesão ao regime terapêutico é a principal causa do fracasso que se
verifica presentemente no controlo da HTA, as razões são diversificadas: duração do
tratamento, complexidade do regime terapêutico, efeitos secundários, razões culturais e
concepções de saúde dos doentes, o carácter assintomático da doença, falta de suporte
social e o deficit de conhecimento acerca da importância em cumprir o regime
terapêutico ao longo do tempo (Vieira, 2001, p.36). A hipertensão é um importante
problema de saúde pública devido à sua alta prevalência e ao facto de constituir um dos
principais factores de risco das doenças cardiovasculares, sendo um dos mais
importantes preditores da esperança de vida. Um vasto conjunto de estudos
epidemiológicos provou verificar-se uma relação estatisticamente significativa entre a
HTA e as doenças cardiovasculares. A morbilidade e a mortalidade cardiovascular é
maior nos doentes hipertensos. Constatou-se que a HTA é o principal factor preditivo de
AVC, estando presente em cerca de 70% dos casos (Vieira, 2001, p.6 e Ramalhinho,
1998, p.5).
Fundamentação Teórica
33
Perante um doente hipertenso, as principais atitudes a tomar passam pela recomendação
de estilos de vida saudáveis: como a redução do peso corporal, moderação no consumo
de bebidas, restrição do sal, cessação de hábitos tabágicos, exercício físico regular, etc.,
de modo a reduzir o risco total de doença cardiovascular. Os profissionais de saúde
devem identificar os doentes não aderentes e compreender os factores que
influenciam tal comportamento, para um melhor êxito do seu controlo. Na consulta
de “follow-up” do doente hipertenso, salienta-se a importância de uma boa
comunicação, deve demonstra-se disponibilidade, expor a informação de forma
sistematizada e em linguagem de fácil compreensão, nomeadamente: riscos que a
doença comporta e os benefícios em cumprir o regime terapêutico ao longo do tempo
(Vieira, 2001, p.7 e Ramalhinho, 1998, p.5).
Dislipidémia
Uma das primeiras manifestações da doença coronária crê-se ser a disfunção endotelial,
cujos estímulos são diversos, entre os quais a hipercolesterolémia. Quanto mais
elevados são os níveis de colesterol plasmático, mais importantes, extensos e
relacionados estão com a presença (e a carga de doença) de placa ateromatosa. A
probabilidade de EAM fatal é quatro a sete vezes mais elevado nos doentes com doença
arteriosclerótica estabelecida. O colesterol presente na placa de ateroma provém do
colesterol plasmático associado às lipoproteínas em circulação. Estudos
epidemiológicos prospectivos confirmaram que a hipercolestrolémia mantida no tempo,
se associa a uma elevada incidência de eventos cardiovasculares e em particular
coronários (Silva, 2006, p.30). Ainda segundo o mesmo autor vários estudos
epidemiológicos, intra e interpopulacionais, assim como diversos trabalhos
experimentais e clínicos, fundamentam o valor prognóstico do colesterol total e do LDL
na doença isquémica arteriosclerótica, no desenvolvimento das suas complicações
agudas e na morbilidade e mortalidade cardiovascular total que lhe está associada.
Há dois tipos de colesterol. O colesterol HDL (High Density Lipoproteins), designado
por “bom colesterol”, é constituído por colesterol retirado da parede dos vasos
sanguíneos e que é transportado até ao fígado para ser eliminado. O colesterol LDL
(Low Density Lipoproteins) é denominado “mau colesterol”, porque, quando em
quantidade excessiva, ao circular livremente no sangue, torna-se nocivo, acumulando-se
34
perigosamente na parede dos vasos arteriais. Quer o excesso de colesterol LDL, quer a
falta de colesterol HDL, aumentam o risco de doenças cardiovasculares, principalmente
o enfarte do miocárdio. Os valores de referência para os adultos maiores de 20 anos são:
Colesterol Total (CT) <200 mg/dl; LDL <100 mg/dl; HDL> 40 e <60 mg/dl e os
Triglicerídeos <150 mg/dl. A avaliação do perfil lipídico deve ser realizado com pelo
menos 12 horas de jejum, está indicado para todos os indivíduos a partir 20 anos de
idade, mas especialmente quando coexistem dois ou mais factores de risco
cardiovascular (Pereira, 2007, p.9).
Obesidade
No ano 2002 em Portugal, estimava-se em cerca de 900 000 o número de adultos obesos
[índice de massa corporal (IMC) = 30 kg/m2], enquanto o número de pessoas com
excesso de peso (IMC = 25 kg/m2) ascendia a quase metade da população (Pereira e
Mateus, 2003, p.66). Ainda segundo o mesmo autor os custos indirectos da obesidade
em Portugal para o ano 2002, foram estimados em 200 milhões de euros. A mortalidade
contribuiu com 58,4% deste valor (116,6 milhões de euros) e a morbilidade com 41,6%
(cerca de 83,2 milhões de euros). Os custos da morbilidade advêm de mais de 1,6
milhões de dias de incapacidade anuais, principalmente por faltas ao trabalho associadas
a doenças do sistema circulatório e diabetes tipo II. Os custos da mortalidade são o
resultado de 18 733 potenciais anos de vida activa perdidos, numa razão de 3 mortes
masculinas por cada morte feminina.
A presença de obesidade definida pelo índice de massa corporal superior a 28, aumenta
3 a 4 vezes o risco de cardiopatia isquémica (angina de peito, enfarte do miocárdio e
morte súbita), de acidente vascular cerebral e de diabetes, na população em geral.
Diversos estudos demonstraram que a obesidade abdominal é acompanhada por vários
factores de risco cardiovascular, tais como a resistência à insulina, hiperinsulinismo,
diabetes mellitus, um perfil lipídico aterogénico, hipertensão arterial e ainda, distúrbios
na hemostase nomeadamente níveis elevados de fibrinogénio e do inibidor do activador
do plasminogénio. Sem duvida que a obesidade abdominal é mais frequente no homem
e por isso, é também chamada andróide. É mais significativa, como factor de risco, do
que a obesidade mais generalizada. No entanto, a obesidade de índice de massa corporal
Fundamentação Teórica
35
superior a 50, tem graves consequências para a saúde, independentemente da
distribuição regional da gordura (Lopes, 2008, p.48).
Pensa-se, hoje, que a massa adiposa do território da veia porta e um verdadeiro gerador
de factores de risco cardiovascular. Os ácidos gordos livres conduzidos pelo sistema
porta para o fígado, vão estimular este órgão que passa a produzir lipoproteinas de
muito baixa densidade, a formar mais glicose e a inibir a captação de insulina, com a
resultante hiperinsulinémia. A obesidade em geral e a obesidade abdominal em
particular, obrigam a estratégias de intervenção adequadas que diminuam o risco de
doença cardiovascular que limita cada vez mais a qualidade e a esperança de vida da
população do mundo industrializado (Pereira e Mateus, 2003, p.68)
Alimentação
Os hábitos alimentares contribuem decisivamente para o agravamento das doenças
coronárias ao mesmo tempo que tornam possível o aparecimento de outras doenças
crónicas, tais como a diabetes, a hipertensão e a obesidade que são concomitantemente
factores de risco da doença coronária (Gonsalves, 2003, p.68). A American Heart
Association (AHA), tem vindo a delinear recomendações alimentares como
estratégia global, no sentido de reduzir o risco de doença cardiovascular para a
população em geral, tendo a sua última revisão de recomendações sido feita no ano de
2006 (Oliveira e Santos, 2008, p.87). Entretanto o núcleo de Nutrição em Cardiologia
da Sociedade Portuguesa de Cardiologia já apreciou, rectificou e publicou essas
recomendações, que adiante serão expostas.
Qualquer plano de prevenção dos factores de risco cardiovasculares (hipertensão
arterial, alterações do perfil lipídico, diabetes, excesso de peso ou obesidade) passa pela
implementação de uma alimentação saudável. No entanto, o conceito de alimentação
saudável tem mudado ao sabor dos diversos conceitos e escolas, tendo a chamada roda
dos alimentos variado de acordo com a evolução desses conceitos, com prejuízo na
passagem da mensagem clara para os profissionais de saúde e destes para o público em
geral (Pádua, 2008, p.123). Por outro lado, uma educação para uma alimentação
saudável com efeitos na prevenção cardiovascular, que possa ter impacto na população,
é um problema que ultrapassa o âmbito dos profissionais de saúde. É nas escolas que
36
esta educação tem que ser iniciada, é nas famílias que ela tem que ser mantida, são as
autoridades de saúde que têm que planificar as acções a promover, é o poder político
que tem que dar o apoio necessário. Mas a sociedade tem que estar desperta para esta
realidade e esta necessidade, sem o que os esforços feitos (e alguns têm sido feitos) se
perdem em acções inconsequentes, de curta duração e duvidosa eficácia. Acresce que o
aparecimento de uma nova área do conhecimento, a nutrição, trouxe um suporte
científico sólido ao estudo dos alimentos, dos aspectos qualitativos e quantitativos em
que têm de ser consumidos, que conduziu a propostas e recomendações para a sua
utilização que ultrapassou o empirismo com que durante décadas tratámos o problema
(Lopes, 2008, p.50).
O Grupo de Estudos de Risco Cardiovascular em conjunto com o Núcleo de Nutrição
em Cardiologia da Sociedade Portuguesa de Cardiologia apresentou um conjunto de
recomendações/conclusões sobre o plano dietético para a prevenção da doença
coronária propostas pelas principais sociedades científicas internacionais (Oliveira
e Santos, 2008, p.82). Os aspectos mais relevantes do conjunto dessas recomendações
referem-se: ao consumo de Peixe especialmente o peixe gordo; à limitação da ingestão
de gordura saturada, ao consumo de alimentos ricos em fibra especialmente integrais ou
pouco refinados, moderar o consumo de bebidas alcoólicas ainda no que se refere ao
consumo de produtos hortofrutícolas. Quanto à preparação dos alimentos devem
escolher-se e preparar-se os alimentos com pouco ou nenhum sal e sem adição de
gorduras, optando por métodos que valorizem o paladar natural dos alimentos.
Os profissionais de saúde nomeadamente os enfermeiros têm uma grande
responsabilidade nos aspectos relacionados com a prescrição do plano alimentar. É
necessário por isso ter atenção: às dietas padronizadas e monótonas; à prescrição de
planos não adaptados às características individuais do doente; ao não envolvimento do
doente na elaboração do plano; ao estabelecimento de objectivos demasiados
ambiciosos ou pouco realistas; ao estabelecimento de diferentes objectivos por parte de
diferentes membros da equipa e o não prestar informação adequada sobre o plano
alimentar e os objectivos a atingir (Correia, 2007, p.37). As dietas enquanto atitude
preventiva face às doenças cardiovasculares é fundamental na medida em que também
influência o controlo de outros factores de risco como seja a diabetes, a dislipidémia, a
obesidade e a HTA. Um bom exemplo é a dieta mediterrânica que num ensaio clínico
Fundamentação Teórica
37
em doentes pós-enfarte agudo do miocárdio, demonstrou ser capaz de reduzir o risco de
re-enfarte ou angina instável em 70% (Oliveira e Santos, 2008, p.83).
Tabagismo
Os hábitos tabágicos constituem um dos maiores desastres humanitários da história
da humanidade, são a primeira causa de morte e de incapacidade prematura prevenível
em todo o mundo, com 4,9 milhões de mortes anuais. O tabaco matará mais de 175
milhões de pessoas até ao ano 2030. Estima-se que 22% das doenças cardiovasculares,
70 a 90% dos cancros do pulmão e 56 a 80% das doenças respiratórias são causadas
pelo tabaco. (OMS, 2004, p. 155). Estima-se que em Portugal existam até 26% de
fumadores (Pádua, 2008, p.41).
A OMS (2008, p.12), chama a atenção para o paradoxal contraste que existe entre o
fácil acesso aos produtos do tabaco (causa de doença e de morte), e a escassa
disponibilidade de tratamentos para a desabituação tabágica, havendo necessidade de
alterar este desequilíbrio rapidamente. Em muitos países da Europa, o apoio e
tratamento não estão generalizados e não são acessíveis a todos os fumadores, não se
encontrando ainda integrados nos sistemas de saúde nem fazendo parte da prática
clínica diária. Se não forem tomadas medidas enérgicas pelos diferentes países para
contrariar a prevalência de fumadores em todo o mundo, no século XXI poderão morrer
mil milhões de pessoas, assim, propõe seis medidas para controlar a progressão dos
hábitos tabágicos:
(1) Vigiar o consumo de tabaco e as políticas de prevenção;
(2) Proteger a população não fumadora do fumo do tabaco – Estima-se que apenas
5% da população mundial esteja protegida do fumo passivo. É necessário
tornar as leis menos permissivas, através da proibição absoluta de fumar em
alguns espaços públicos e locais de trabalho;
(3) Oferecer ajuda para a desabituação tabágica – muitos desejaria deixar de fumar,
mas poucos recebem a ajuda que necessitariam. Em apenas nove países onde
vive 5% da população mundial, existem plenamente disponíveis serviços para
tratar a dependência do tabaco. Estima-se que 3 em cada 4 fumadores
conscientes dos riscos do hábito tabágico querem deixar de fumar. Os
profissionais de saúde são um importante recurso nesta causa, pela confiança
que a população deposita nas suas recomendações, para efeito deve ser
38
reforçados os apelos para a necessidade da desabituação tabágica em cada visita.
As linhas telefónicas gratuitas de aconselhamento psicológico neste processo
podem ser um importante recurso para potenciar os progressos destes doentes.
(4) Advertir para os perigos dos hábitos tabágicos – É necessário publicitar mais as
consequências dos hábitos tabágicos. Em apenas 15 países onde vivem 6% da
população mundial, existem advertências gráficas dissuasivas nas embalagens de
tabaco;
(5) Fazer cumprir as proibições sobre publicidade, promoção e patrocínio – A
indústria tabaqueira continua a gastar milhões de dólares anualmente em
publicidade. Apenas 5% da população mundial vive em lugares onde é proibida
a publicidade ao tabaco. Metade das crianças em todo mundo vive em países
onde não é proibida a distribuição gratuita de produtos de tabaco;
(6) Aumentar os impostos sobre o tabaco.
De todas as substâncias químicas nocivas no fumo do tabaco, a nicotina e o monóxido
de carbono são as mais importantes do ponto de vista cardiovascular: a nicotina pela sua
actividade adrenérgica eleva imediatamente o nível das catecolaminas e
consequentemente, a tensão arterial e a frequência cardíaca, a par da vasoconstrição
coronária pode despertar uma crise anginosa. Relativamente ao monóxido de carbono ao
fixar-se à carboxihemoglobina, diminui a capacidade de transporte de oxigénio dos
glóbulos vermelhos e consequentemente reduz a oferta de oxigénio ao miocárdio. A
longo prazo o tabagismo acelera o processo de aterosclerose ao lesar o endotélio e ao
facilitar a formação de radicais livres. Por outro lado, aumenta o nível de colesterol
total, reduz o bom colesterol (HDL) e oxida o mau colesterol (LDL). Ao nível das
plaquetas aumenta o factor de crescimento e as células musculares lisas da placa de
ateroma, ao mesmo tempo que aumenta a trombogénese devido a uma maior
reactividade plaquetária e à subida dos níveis de plasmogénio (Pádua, 2008, p.37). As
taxas de adesão terapêutica na cessão tabágica a longo prazo obtidos partir de ensaios
clínicos e estudos populacionais são relativamente baixas <40%, os preços dos
substitutos da nicotina parecem ser um aspecto desencorajador para a cessação tabágica
(OMS, 2004, p.160).
A luta contra os hábitos tabágicos é complexa e multidimensional. Em
complementaridade às leis dissuasivas dos hábitos tabágicos em vigor em Portugal,
Fundamentação Teórica
39
devem ser introduzidas outras medidas. A Sociedade Portuguesa de Pneumologia
(2007), propõe um conjunto de recomendações que poderão potenciar os
resultados da cessação tabágica:
Abordagens psico-comportamentais - Consistem em regra em sessões de
psicoterapia de grupo, que se podem organizar em hospitais ou noutros centros
de saúde, e até em algumas grandes empresas. Podem ainda desenrolar-se em
locais públicos por associações voluntárias. Nestas consultas/palestras de
desabituação tabágica deve valorizar-se o laço causal com a doença (ou os
factores de risco). Sublinhar que o abandono do tabaco é parte importante do
tratamento da doença subjacente e que traz diversos outros benefícios para a
saúde. Avaliar a motivação do doente para deixar de fumar, e encoraja-lo a fazê-
lo. Disponibilize material impresso, sucinto, simples de ler, brochuras, etc.,
delineando os métodos de abandono do tabaco.
Abordagens farmacológicas - Terapêuticas de Substituição Nicotínica – Em
casos de fumadores com dependência elevada, ou mesmo moderada, deverão
considerar-se a Terapêutica de Substituição da Nicotina (TSN). Esta pode ter um
importante papel em ajudar alguns fumadores a abandonarem o seu hábito.
Existem actualmente quatro tipos de TSN: pastilha elástica, penso adesivo
transdérmico, nebulizador nasal e inalador.
Seguimento – É essencial auxiliar o ex-fumador a manter-se assim. É
aconselhável ver o utente num prazo de 2 semanas após o dia do abandono e
assegurar contactos periódicos aos 3-6-12 meses. Aproveitar as visitas
programadas para continuar a encorajar os ex-fumadores. Contudo, o factor
crucial é a força de vontade do utente para nunca mais fumar.
A diabetes mellitus
A Diabetes Mellitus (DM) tipo 2 é uma doença em franca expansão e segundo a OMS,
o número actual de diabéticos, que é aproximadamente de 150 milhões, atingirá os 300
milhões no ano de 2025. Estima-se que a DM em Portugal afecte 5 em cada 100
pessoas, o que corresponderá a cerca de 500 000 diabéticos (Mota, 2003, p.69). Ainda
segundo o mesmo autor, as principais causas para este aumento da incidência da DM
são o sedentarismo e a obesidade. A DM tipo 2 é uma situação clínica onde se
40
encontram reunidos os principais factores de risco para o desenvolvimento da
aterosclerose que, nos diabéticos, é mais precoce e mais difusa. Em consequência disto,
é fácil de perceber porque é que as Doenças Cardiovasculares (DCV) são a principal
causa de morte nos diabéticos com cerca de 80%, e destes cerca de 75 % são devidas à
DC. O risco de doença coronária nos diabéticos é duas a três vezes superior à da
população não diabética e a mortalidade na fase aguda do EAM é duas vezes maior na
população diabética e muitos destes doentes morrem antes de chegar ao hospital.
A prevenção secundária deve começar no momento em que o doente diabético chega à
Unidade de Cuidado Intensivos Coronários (UCIC). O estudo “Diabetes Insulin-
Glucose in Acute Myocardial Infarction - 1997” demonstrou que a terapêutica
insulínica intensiva conseguia uma redução de 30% da mortalidade ao ano em
diabéticos após o episódio de EAM e este efeitos poderia estender-se por três a cinco
anos. É no entanto reconhecido que os diabéticos que sobrevivem a um EAM
apresentam um elevado risco de complicações e de mortalidade a longo prazo. As
medidas não farmacológicas preconizadas para a prevenção primária mantém-se na
prevenção secundária: cessação dos hábitos tabágicos, o exercício físico
individualizado, a dieta, importante, quer para o controlo da glicemia e para correcção
da dislipidémia, quer para o controlo do peso.
Adesão Terapêutica
Reconhecida a dimensão do problema da falta de adesão terapêutica nos tratamentos de
longa duração, que se estima na ordem dos 50% (Maia, 2008, p. 42; Franco, 2007, p.
19; OMS, 2004, p.7), e atendendo a que o controlo da doença cardiovascular uma vez
diagnosticada prevê um rigoroso programa terapêutico de longa duração, com
necessidade de consistência e envolvimento do doente na alteração do estilo de vida e
na correcção de hábitos que prejudicam a saúde, deve considerar-se um novo factor
de risco cardiovascular – a adesão terapêutica (Perdigão, 2008, p.6; Santos, 2008,
p.8).
A problemática da adesão ao regime terapêutico é o tema central deste trabalho, este
conceito será desenvolvido e caracterizado nas suas diferentes componentes no capítulo
seguinte.
Fundamentação Teórica
41
CAPÍTULO II – ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO
A insuficiente adesão aos regimes terapêuticos constitui provavelmente a mais
importante causa de insucesso dos tratamentos, introduzindo disfunções no sistema de
saúde através do aumento das situações de recorrência dos sintomas e de recaída, da
morbilidade e da mortalidade, do alargamento do período de tratamento, de sofrimento
evitável e de custos substancialmente acrescidos (Delgado e Lima, 2001, p.81). Trata-se
de um problema multidimensional, de difícil abordagem, ainda insuficiente
caracterizado, mas com forte impacto sobre os indicadores de saúde das populações.
Como já foi referido a adesão ao regime terapêutico na pessoa com história de EAM,
assume particular relevância, por um lado, o facto da doença aterosclerótica se
caracterizar por uma evolução assintomática, contribuindo para a desmobilização
precoce no cumprimento dos regimes terapêuticos prescritos, por outro lado, o facto dos
factores de risco cardiovascular apresentarem uma elevada prevalência na população
Portuguesa como sustentam os estudos referidos anteriormente.
3 – CONCEITOS DE ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO
Os termos “adesão ao regime terapêutico”, “adesão terapêutica” ou ainda “adesão ao
tratamento”, são por vezes usados indistintamente em Portugal para qualificar o nível de
cumprimento pelo doente, das recomendações sugeridas pelos profissionais de saúde
para uma situação concreta de saúde, tendo sempre presente que este conceito não se
refere exclusivamente à toma da medicação, integra também mudanças no estilo de
vida, participação nas consultas de follow-up e todo o tipo de atitudes preventivas
recomendadas (Machado, 2009, p.26 e Delgado e Lima, 2001, p.82). As conclusões da
investigação neste domínio são claras, o problema da deficiente adesão ao regime
terapêutico está presente sempre que é requerida a auto administração de medicamentos,
42
independentemente do tipo e da gravidade da doença em causa ou da acessibilidade aos
recursos de saúde (OMS, 2004, p.11).
O comportamento de adesão ao regime terapêutico ou “adherence” de acordo com o
ICN/CIPE (2005, p.81), é definido como:
“Volição com as características específicas: Acção auto-iniciada para promoção
do bem-estar, recuperação e reabilitação, seguindo as orientações sem desvios,
empenhado num conjunto de acções e de comportamentos. Cumpre o regime de
tratamento, toma os medicamentos como prescrito, muda o comportamento para
melhor, sinais de cura, procura os medicamentos na data indicada, interioriza o
valor de um comportamento de saúde e obedece às instruções relativas ao
tratamento. (Frequentemente associado ao apoio da família e de pessoas que são
importantes para o cliente, conhecimento sobre os medicamentos e processo de
doença, motivação do cliente, relação entre o profissional de saúde e o cliente).”
Em que o termo volição em linguagem CIPE significa, escolha consciente, acto de
escolher para o bem-estar próprio. Machado (2009, p.25) e Camarneiro (2002, p.26),
referem-se ao termo “compliance” de origem anglo-saxónica também usado em
ciências da saúde para significar o grau de obediência ao regime terapêutico prescrito,
no entanto, este termo tem implícita uma conotação de submissão e de passividade do
doente face ao seu tratamento. Pelo contrário o termo “adherence” prevê
envolvimento, negociação e concordância quanto à adesão ao regime terapêutico
prescrito, tem em consideração as preferências e motivações do doente, observa-se uma
atitude activa na prossecução dos objectivos fixados. A utilização generalizada do uso
do termo “adherence” aconteceu apenas a partir de 1997 nas conferências
internacionais sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV.
Chesney et al., citados por Delgado e Lima (2001, p.82), definem a adesão ao regime
terapêutico como o grau de concordância entre as recomendações do prestador de
cuidados de saúde e o comportamento do paciente relativamente ao regime
terapêutico proposto. Na perspectiva de Franco (2007, p.19), a adesão ao regime
terapêutico integra as características específicas: desempenhar actividades para
satisfazer as exigências terapêuticas dos cuidados de saúde e aceitação do decurso do
tratamento prescrito pelo profissional de saúde. A adesão terapêutica refere-se ao
comportamento de aceitar tomar a medicação prescrita, cumprir o plano de tratamento,
Fundamentação Teórica
43
frequentar as consultas de “follow-up” e proceder a eventuais alterações de hábitos e
estilos de vida. O conceito de “adesão terapêutica” implica também um comportamento
activo, intencional e responsável, através do qual o doente contribui para manter o seu
estado de saúde em colaboração com o profissional de saúde, Kyngas e Lahdenpera,
citados por Figueira, 2008, p.40). No mesmo sentido, Meichenbaum, Turk e Wright,
citados por Delgado e Lima (2001, p.82), referem-se à adesão terapêutica como um
comportamento multidimensional, complexo que integra nomeadamente: “a entrada e a
permanência em programas de tratamento, o seguimento das consultas previamente
estabelecidas, a aquisição dos medicamentos prescritos e a toma dos mesmos de forma
adequada, o seguimento de regimes alimentares ou a prática de exercício físico, ou
ainda, o abandono de comportamentos de risco”.
A participação das pessoas nos seus cuidados e portanto a adesão ao regime terapêutico,
pode não ser um processo linear, podendo processar-se por estádios com envolvimento
crescente da pessoa, como referem Sousa e Ribeiro, citados por Franco (2007, p.20):
(a) Concordância (Compliance) – a pessoa cumpre as recomendações terapêuticas
prosseguindo os objectivos propostos, numa atitude de passividade.
(b) Adesão (Adherence) – a pessoa mantém o tratamento com o qual concordou, sob
vigilância, o que implica uma grande participação e controlo da sua parte. A
pessoa tem autonomia nas suas decisões e os profissionais de saúde têm o papel
de orientação, promovendo a integração do tratamento no estilo de vida da
pessoa através de estratégias adaptativas. Refere-se à fase de transição entre os
cuidados prestados pelos técnicos e o autocuidado.
(c) Manutenção (Maintenance) – o comportamento desejado já se encontra
integrado nas rotinas da pessoa, não é necessária vigilância dos profissionais de
saúde ou existem apenas solicitações pontuais de ajuda. A pessoa demonstra
auto controlo.
A consciencialização progressiva do curso da doença, das suas complicações, do seu
impacto sobre a qualidade de vida e das vantagens em aderir ao regime terapêutico,
transforma o comportamento de passividade inicial, numa atitude activa de
cumprimento das recomendações prescritas. Para os autores deste modelo o papel do
enfermeiro deve centrar-se no desenvolvimento de estratégias e intervenções sobre as
barreiras que impedem a pessoa de atingir o estádio de manutenção na gestão da adesão
44
ao regime terapêutico. Existem outros modelos que procuram explicar as
transformações operadas no comportamento da pessoa ao longo do processo de adesão
ao regime terapêutico. Estes enunciados teóricos podem ser utilizados para orientar
as estratégias dirigidas pelos profissionais de saúde no sentido de melhorar os
comportamentos de adesão, aproveitando as potencialidades de cada pessoa.
Franco (2007, p.20), refere-se também ao modelo de Konkle-Parker que assenta em
cinco fases de aptidão:
(a) Pré-Contemplação – fase precoce do processo do processo em que a pessoa
ainda não tem conhecimentos, nem consciência do alcance da situação em que
se encontra. Não se encontra disponível ou encorajada para a necessidade de
mudar comportamento e/ou atitudes.
(b) Contemplação – inicia-se a tomada de consciência para a necessidade de
introduzir mudanças no estilo de vida ou de comportamento, não se observam
progressos significativos, faltam vencer as barreiras à mudança.
(c) Preparação – existe já um planeamento realista e vontade de introduzir
mudanças num futuro próximo.
(d) Acção – observam-se progressos sustentados, requer à aprendizagem de
habilidades e o uso de estratégias motivacionais e cognitivas que suportem
resultados ao longo do tempo.
(e) Manutenção – o comportamento e as atitudes expressam grande
intencionalidade, estão integradas na vida da pessoa e revelam autocuidado.
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), faz distinção entre “adesão terapêutica”
e “aderência terapêutica”. Assim, o termo adesão terapêutica deve ser reservado para a
fase inicial de um tratamento em que o doente concorda e cumpre o regime terapêutico,
mas num período de tempo limitado. O termo “aderência terapêutica” deve usar-se nos
tratamentos de manutenção em que o doente segue os regimes terapêuticos de longa
duração previstos para uma doença crónica (Perdigão, 2008, p.7). Para além dos
benefícios óbvios em saúde para as populações com a melhoria dos indicadores de
adesão terapêutica, os estudos reflectem também ganhos na poupança de recursos
sempre escassos em saúde nomeadamente pela diminuição da utilização dos serviços de
saúde por descompensação ou recaída, diminuição dos dias de hospitalização, e
preservação da qualidade de vida, do papel social e do rendimento profissional das
pessoas em idade activa (OMS, 2004, p.20).
Fundamentação Teórica
45
Esta problemática é reconhecida como uma área de intervenção dos enfermeiros,
concretamente na necessidade de cuidados de enfermagem, da pessoa, família ou
comunidade, expressa nos diagnósticos de enfermagem: “Adesão ao Regime
Terapêutico Não Demonstrada ou Adesão ao Regime Terapêutico Comprometida” de
acordo com a versão Beta 2 ou versão 2 da CIPE respectivamente (ICN, 2001 e 2005).
3.1 – CARACTERIZAÇÃO DA DIMENSÃO DO PROBLEMA DA INSUFICIENTE
ADESÃO AOS REGIMES TERAPÊUTICOS
A caracterização e o reconhecimento da dimensão do problema da falta de adesão aos
regimes terapêuticos, enquanto aspecto determinante para a melhoria dos indicadores de
saúde global das populações, são fundamentais para a consciencialização dos decisores
políticos, das autoridades e dos profissionais de saúde em geral, no sentido de canalizar
mais atenção e recursos para combater este problema (OMS, 2004, p.4). Ainda segundo
o mesmo organismo internacional, num documento que elaborou sobre a evidência
científica disponível em todo o mundo sobre esta problemática, refere que os
profissionais de saúde tendem a sobrestimar o grau de adesão aos regimes
terapêuticos.
Também na opinião de Machado (2009, p.27), as diferentes metodologias de medição
da adesão, usualmente utilizadas, tendem a sobrestimar a adesão. Uma das razões para a
ocorrência deste erro poderá relacionar-se com o período medido, que frequentemente
não é representativo do comportamento habitual da pessoa. As conclusões de diferentes
estudos sobre adesão aos regimes terapêuticos estimam que a taxa de adesão em doentes
que sofrem de doenças crónicas é em média de 50% nos países desenvolvidos. No
mesmo sentido referem, Vermeire et al., citado por Machado (2009, p.25), que cerca de
30 a 50% dos doentes independentemente da doença, do tratamento e do prognóstico,
não aderem ao regime terapêutico. As conclusões de vários estudos são convergentes
quanto à estimativa da falta de adesão terapêutica, a incidência do incumprimento do
regime terapêutico prescrito nos doentes crónicos é de 50% (Delgado e Lima, 2001,
p.82; Franco, 2007, p.19; Maia, 2008, p.42 e OMS, 2004, p.7).
46
Em Portugal não existe indicadores globais da adesão aos regimes terapêuticos,
existem apenas alguns estudos parcelares, no entanto, é plausível pensar que a
incidência do problema será semelhante à generalidade dos estudos desenvolvidos em
outros países (Delgado e Lima, 2001, p.83). Crê-se que a insuficiente adesão aos
regimes terapêuticos tende a aumentar com o crescimento da incidência das doenças
crónicas no mundo (OMS, 2004, p.7).
As taxas de adesão terapêutica variam em função das características dos sistemas de
saúde, do tipo de patologia em causa e do nível de desenvolvimento de cada país.
Apesar da disponibilidade de tratamento eficaz para a hipertensão os estudos revelam
uma expressiva falta de adesão aos regimes terapêuticos no controlo da hipertensão,
apenas 7% a 30% dos doentes conseguiam alcançar o controlo da tensão arterial na
Inglaterra e nos Estados Unidos da América – EUA respectivamente (OMS, 2004,
p.12). Ainda segundo o mesmo organismo internacional, estima-se que taxa de adesão
ao regime terapêutico nos doentes asmáticos seja de 28% nos países desenvolvidos. Nos
EUA a adesão aos cuidados recomendados para a diabetes em adultos é inferior a 2%, a
adesão terapêutica nos doentes com depressão varia de 40 a 70%, para os doentes com
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana – HIV a taxa de adesão terapêutica
estimada varia de 37 a 83%.
A problemática da insuficiente adesão aos regimes terapêuticos é transversal a todos os
tratamentos, concorrendo fortemente para o fracasso de muitas terapêuticas. Christensen
e Moran, citados por Machado (2009, p.25), referem que os estudos sobre a adesão ao
regime terapêutico nos doentes com insuficiência renal crónica em diálise apontam para
uma prevalência de não adesão entre 30 a 50% para a dieta, quantidade de líquidos e
medicamentos. A adesão terapêutica na diabetes segundo um estudo citado por (Correia,
2008, p.8), foi de apenas 49% do total da população estudada, 36% dos doentes faziam
tomas irregularmente dos anti-diabéticos orais, enquanto 9% não os tomavam. A
deficiente adesão ao regime terapêutico é um aspecto preocupante no doente hipertenso.
A hipertensão aumenta três a quatro vezes o risco de cardiopatia isquémica e duas
a três vezes o risco cardiovascular global. Estima-se que a hipertensão é a causa de
cerca de 40% da incidência do EAM (OMS, 2004, p.12). Num estudo sobre a adesão
terapêutica em doentes insuficientes renais a adesão ao regime terapêutico prescrito foi
apenas de 6,7% (Machado, 2009, p.1).
Fundamentação Teórica
47
Vários estudos sobre a adesão ao regime terapêutico na HTA apresentam conclusões
convergentes, verificam-se taxas de adesão expressivamente baixas. A título de exemplo
referem-se três estudos: um estudo que incidiu sobre 241 doentes hipertensos nos EUA,
apenas 38% deles aderiu às recomendações propostas pelos profissionais de saúde (Inui
et al., citado por (Ramalhinho, 1998, p.6). Num outro estudo realizado em Espanha,
com uma amostra de 145 doentes hipertensos, a taxa de adesão terapêutica foi de
33,8%, Martinez et al., citado por (Ramalhinho, 1998, p.6). Finalmente a referência a
um estudo realizado em Portugal, com uma amostra de 130 doentes hipertensos, em que
a taxa de adesão apurada foi apenas de (46,3%).
3.2 – FACTORES QUE INFLUENCIAM A ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO
As causas epidemiológicas de mortalidade e morbilidade dos países desenvolvidos
alteraram-se substancialmente nos últimos 50 anos, as situações de doença aguda deram
lugar á proliferação de doenças crónicas, no entanto os modelos de cuidados e de
serviços de saúde ainda não se adaptaram a esta realidade, facto que compromete a
resposta às necessidades de cuidados das pessoas com doença crónica (OMS, 2004,
p.13). Frequentemente transfere-se a responsabilidade da não adesão ao regime
terapêutico exclusivamente para o doente, o que constitui um erro de avaliação do
problema. Na verdade a orientação do sistema de saúde, isto é, o ambiente e o contexto
do sistema que garante os cuidados de saúde, a atenção e a forma como os profissionais
valorizam o problema, exercem um efeito notável na adesão ao regime terapêutico. A
OMS (2004, p.27) e o ICN (2007, p.2), referem-se aos factores que influem a adesão
terapêutica como sendo uma componente multi-factorial que contribui para a incidência
e dimensão desta problemática:
(1) Factores sociais, económicos e culturais: o analfabetismo, o desemprego, os
apoios sociais disponíveis, as condições habitacionais, o preço dos transportes e
dos medicamentos, assim como, a distância dos centros de tratamento, têm
influência negativa no comportamento de adesão. As guerras e a raça, pelas
crenças culturais e pelas desigualdades sociais a que por vezes alguns grupos
estão sujeitos, também são factores que a influenciam negativamente. As
48
variáveis sócio-demográficas, como a idade, sexo, estado civil, grau de
escolaridade e condição de saúde, tem efeitos variáveis na adesão. Machado
(2009, p.28) cita dois estudos, um de (Christensen et al., 1995) e outro de (Raiz
et al., 1999), que revelam pior adesão ao regime terapêutico entre os mais jovens
relativamente a pessoas mais idosas em diálise, nas situações de transplante
assim como, em outras doenças crónicas. Relativamente ao sexo, idade e estado
civil, Vieira (2001, p.38) e Ramalhinho (1998, p.9), sustentam que não existem
diferenças estatisticamente significativas.
(2) Factores relacionados com o sistema de saúde: os sistemas de saúde pouco
desenvolvidos, com fracos sistemas de distribuição de medicamentos, pouca
comparticipação, fraca capacidade de educar os doentes e assegurar o “follow-
up”; os serviços de saúde com horários desfasados das necessidades, pouca
oferta de consultas; profissionais de saúde sobrecarregados de trabalho, sem
incentivos e sem “feed-back” do seu desempenho. Deficit de formação e treino
específico na gestão de doenças crónicas e na promoção da adesão aos
regimes terapêuticos, deficiências na qualidade do relacionamento com os
utentes e na atenção que dispensam às solicitações, são factores que
comprometem a melhoria dos indicadores de adesão. Relativamente às
competências do enfermeiro, Franco (2007, p.21), refere as habilidades
comunicacionais, disponibilidade para questões abertas e a relação terapêutica,
como aspectos determinantes.
(3) Factores relacionados com a doença, nomeadamente a gravidade dos sintomas e
a incapacidade que provoca aos vários níveis: físico, psicológico, social e
profissional. O seu impacto, na vida da pessoa, depende do grau de risco que ela
lhe atribui e vai condicionar a prioridade e importância atribuídas à adesão.
Outras doenças concomitantes como a depressão ou o consumo de substâncias,
ilícitas ou não, também podem afectar o comportamento de adesão.
(4) Factores relacionados com o tratamento, como a complexidade, a duração e a
realização de alterações frequentes ao mesmo, bem como a ausência imediata de
melhoria dos sintomas e os efeitos secundários da medicação, diminuem a
adesão.
(5) Factores relacionados com a pessoa doente, como os seus recursos psicológicos,
os seus conhecimentos, as suas atitudes, crenças, percepções e expectativas,
Fundamentação Teórica
49
interagem de modo ainda não suficientemente compreendido, influenciando o
comportamento de adesão. A ausência de informação, de capacidade para gerir o
regime terapêutico, de motivação e de auto eficácia, assim como a ausência de
suporte para as mudanças comportamentais, são as maiores barreiras à adesão
descritas na literatura. Estas barreiras têm maior significado, para as
intervenções destinadas a mudar hábitos e estilos de vida, mas também afectam
a adesão à medicação.
Não existe uma estratégia global que garanta resultados efectivos para todos os
doentes, contextos e patologias. As medidas devem ser adaptadas a cada doente em
particular em função da sua experiência, das suas reais possibilidades, das
características da doença, da sua motivação e envolvimento com os objectivos fixados,
do apoio e orientação que pode ser dispensada periodicamente, entre outras. Os
profissionais de saúde devem dispor de meios e instrumentos que lhes permitam avaliar
a adesão às prescrições, conhecer os factores que as influenciam de modo a prever o
risco de não adesão ao regime terapêutico, este é um processo dinâmico que necessita
ser monitorizado continuamente e que requer treino e preparação dos profissionais de
saúde (OMS, 2004, p.14). As características dos sistemas de saúde e o papel dos seus
profissionais têm em si mesmos constrangimentos à abordagem do problema (OMS,
2004, p.33):
Faltam ferramentas clínicas que ajudem os profissionais de saúde a
avaliar e a intervir sobre os problemas que condicionam a adesão aos
regimes terapêuticos;
Persistem dificuldades no cuidado e atenção aos doentes crónicos;
A qualidade da comunicação entre profissionais de saúde e doentes
necessita ser optimizada de modo a aumentar o envolvimento, a
participação e a confiança;
Falta de ferramentas comportamentais que ajudem os doentes a
desenvolver comportamentos adaptativos tendo em vista o cumprimento
dos regimes terapêuticos;
Falta de consciencialização e conhecimento acerca da problemática da
adesão terapêutica por parte dos decisores políticos e das autoridades de
saúde em geral.
50
A família, a comunidade e as associações de doentes são uma componente fundamental
para a melhoria dos indicadores de adesão ao regime terapêutico, dispensando uma
atenção intensiva dos profissionais sem prejuízo dos indicadores de cumprimento dos
objectivos de adesão. Por outro lado é desejável que a intervenção seja coordenada e
multidisciplinar, integrando contributos de profissionais de saúde, investigadores,
autoridades de saúde e poder político. Existem múltiplos factores e complexas
interacções entre eles que interferem no grau de adesão dos doentes ao regime
terapêutico. A postura dos profissionais deve ser sempre construtiva apoiando e
orientando, evitando culpabilizar ou criticar o doente, investigando e actuando
sobre as causas da adesão insuficiente aos regimes terapêutico (OMS, 2004, p.14).
Ainda segundo a OMS, a melhoria dos indicadores de adesão ao regime terapêutico nas
condições de saúde crónicas, passa por uma abordagem integrada do doente através de
uma componente formativa e educacional, acção sobre a situação socioeconómica
em que ele está inserido, negociação sobre os objectivos a atingir e o modo como
deve conduzir os esforços para alterar o seu comportamento e o seu estilo de vida,
reforçando sempre os progressos alcançados. Atender sempre as preferências dos
doentes e simplificar os regimes terapêuticos (número de tomas, número de
medicamentos, atender aos efeitos secundários e outras), neste âmbito tem havido
muitos progressos fruto da cooperação da indústria farmacêutica e da investigação
produzida. É necessário também maximizar o envolvimento da família e da rede de
suporte de cuidados na comunidade de modo a melhorar o nível motivacional, de
envolvimento, o grau de supervisão e de adesão. A gestão da melhoria dos indicadores
de saúde nos doentes crónicos deve basear-se no planeamento, cooperação
multidisciplinar continuada, reflexão sobre as melhores práticas, integração dos
contributos da investigação produzida e acções das autoridades de saúde orientadas para
políticas potenciadoras de sinergias que possam rentabilizar recursos existentes para
maximizar ganhos em saúde.
As intervenções sobre os factores de natureza individual que condicionam a adesão
terapêutica nomeadamente a falta de informação e aptidões, deficit de motivação, falta
de apoio para introduzir mudanças nos hábitos e no estilo de vida, assim como, no que
respeita aos aspectos do auto-cuidado fundamentais para que estes doentes possam
enfrentar e superar eficazmente os desafios impostos por tratamentos prolongados, cabe
aos profissionais de saúde disponibilizar a informação, apoio e orientação necessária
Fundamentação Teórica
51
para que estes doentes possam construir a sua auto-suficiência, contudo, é reconhecido
que há grandes dificuldades em dar continuidade a todas as solicitações a longo prazo,
pelo que devem mobilizar-se e envolver-se os recursos da comunidade disponíveis,
como sejam as famílias, associações de doentes e outras entidades de solidariedade
social (OMS, 2004, p.35).
O nível de conhecimento acerca da doença parece ser potenciador do comportamento de
adesão ao regime terapêutico, num estudo sobre a diabetes mellitus tipo 2, os doentes
que evidenciaram um melhor conhecimento acerca da doença revelaram-se mais
cumpridores do regime terapêutico (Sousa, 2003, p.5). Alguns estudos atribuem maior
preponderância aos aspectos organizacionais do atendimento (padrão de comunicação
com doentes, continuidade do contacto com o doente ao longo do tempo, nível de
confiança, envolvimento e participação construída com o doente, etc.) na melhoria dos
indicadores de adesão ao regime terapêutico do que aos factores de ordem
socioeconómica. Há evidência científica de que quando os doentes têm um melhor
conhecimento da sua doença, dos mecanismos fisiopatológicos, dos factores
desencadeantes e do risco, da lógica e dos benefícios do tratamento, entre outros
aspectos, a adesão ao regime terapêutico é mais efectiva, sobretudo quando existe um
planeamento multidisciplinar para a gestão desta problemática (Lunelli et al., 2009, p.368).
Os comportamentos de adesão devem ser ancorados numa relação de
disponibilidade dos profissionais de saúde para a compreensão e resolução dos
problemas, dúvidas, medos que os doentes transportam e que muitas vezes os separam
da motivação e da confiança necessária para melhorar a adesão terapêutica, numa
perspectiva de continuidade ao longo do tempo (OMS, 2004, p.30).
3.3 – CONSEQUÊNCIAS DA INSUFICIENTE ADESÃO AOS REGIMES TERA-
PÊUTICOS
A não adesão ao regime terapêutico ou “non adherence” pretende significar o fracasso,
incumprimento, ou recusa na adesão ao regime terapêutico proposto (Abruhosa et al.,
2007, p.10). Franco (2007, p.20), define o comportamento de não adesão ao regime
52
terapêutico quando verificados os seguintes pressupostos: a pessoa em posse de
conhecimentos e informação suficiente sobre o curso da doença, as suas consequências
e as vantagens em aderir às recomendações, deliberadamente falta às consultas de
controlo agendadas, manifesta exacerbação de sintomas e/ou complicações inesperadas,
ou ainda, situações em que a pessoa assume ser incapaz por si só de cumprir os
cuidados por falta de motivação, dificuldade de adaptação, crenças, esquecimento, falta
de destreza manual, diminuição da acuidade visual, deficit cognitivo e/ou educacional,
etc. Sendo esta problemática um foco da atenção do enfermeiro, este deverá
indagar sobre as razões que fundamentam a não adesão de cada pessoa ao regime
terapêutico, de modo a esclarecer se a não adesão ao regime terapêutico é intencional,
ou se pelo contrário decorre de aspectos que são alheios à vontade da pessoa.
A deficiente adesão dos doentes aos regimes terapêuticos compromete os esforços dos
estados na melhoria dos indicadores de saúde das populações, aumenta a possibilidade
de se desenvolverem resistências às terapêuticas medicamentosas, constitui um
desperdício de recursos sem ganhos de saúde, aumenta o absentismo ao trabalho, reduz
a qualidade de vida das pessoas, acarreta desequilíbrios psíquicos e emocionais e
descredibiliza a confiança das pessoas nos serviços de saúde (ICN, 2007, p.1; Correia,
2008, p.8 e OMS 2004, p.13). Descompensações mais intensas dos doentes crónicos são
comuns quando iniciados os tratamentos e os cuidados recomendados, e posteriormente
interrompidos bruscamente. A dependência medicamentosa e os riscos de toxicidade
são outra das componentes da insuficiente adesão aos regimes terapêuticos por toma
incorrecta das dosagens recomendadas. Está documentado também em alguns estudos o
risco aumentado de acidentes pela toma de medicamentos que prevêem alterações do
estilo de vida a que o doente não adere (OMS, 2004, p.21).
A não adesão aos tratamentos constitui provavelmente a mais importante causa de
insucesso das terapêuticas, introduzindo disfunções no sistema de saúde através do
aumento da morbilidade e da mortalidade (Gallagher, Viscoli e Horwitz, citados por
Delgado e Lima (2001, p.81). Ainda segundo o mesmo autor citando (Newman e Sclar,
1994 e Nilsson, 2001), a insuficiente adesão terapêutica é causa de repetidas situações
de recaída e o alargamento do período de tratamento, conduzindo a um sofrimento
evitável e a custos substanciais acrescidos. A “educação terapêutica” está hoje
Fundamentação Teórica
53
consagrada como “arma terapêutica” decisiva na doença crónica, pelo que a OMS elege
esta forma de abordagem terapêutica entre as prioridades nos cuidados.
A dimensão do problema da deficiente adesão aos regimes terapêuticos aumenta com o
crescimento das doenças crónicas, estima-se que no ano 2020 as doenças crónicas
representem 65% do total das enfermidades a nível mundial. O esforço no investimento
em novos fármacos e em novas tecnologias da saúde ainda que muito promissoras serão
sempre insuficientes para alcançar os níveis de saúde das populações desejados, é
necessário complementarmente o desenvolvimento de intervenções de saúde no sentido
de promover a adesão aos regimes terapêuticos. A adesão ao regime terapêutico é
uma condição essencial para a efectividade (desenvolver medidas assertivas para
combater as doenças, impacto/ benefício produzido pelas medidas) e para a
eficiência (utilizar produtivamente os recursos) dos sistemas de saúde (OMS, 2004,
p.13 e 20).
A dimensão do problema da falta de adesão terapêutica nos tratamentos de longa
duração em geral, estima-se em 50% (Maia, 2008, p.42; Franco, 2007, p.19 e a OMS,
2004, p.7). O controlo da doença cardiovascular prevê um rigoroso programa
terapêutico de longa duração, com necessidade de grande envolvimento do doente no
cumprimento do conjunto das recomendações propostas. É reconhecido pelos
cardiologistas que a deficiente adesão aos regimes terapêuticos é a principal causa do
fracasso dos programas terapêuticos em cardiologia, de tal modo que deveria ser
considerado um novo factor de risco cardiovascular – a adesão ao regime
terapêutico (Perdigão, 2008, p.6 e Santos, 2008, p.8).
3.4 – AVALIAÇÃO E INDICADORES DE ADESÃO AOS REGIME
TERAPÊUTICOS
As variáveis envolvidas, no fenómeno da adesão são multidimensionais e difíceis de
mensurar, sendo a ausência de um método válido de medida da adesão a maior
dificuldade da investigação nesta área (Machado, 2009, p.1). Delgado e Lima (2001,
p.81), referem-se a esta problemática nos seguintes termos: “apesar da não adesão aos
54
tratamentos ser provavelmente a principal causa de insucesso das terapêuticas, não se
encontram suficientemente desenvolvidas medidas validadas de detecção do nível de
adesão”. No mesmo sentido prenuncia-se Maia (2008, p.42) e Correia (2007, p.44), não
existe um método “gold standard” para avaliar os comportamentos de adesão ao
regime terapêutico, facto que constitui uma das principais barreiras à investigação.
Existem no entanto, em teoria várias estratégias para a avaliação do grau de adesão ao
regime terapêutico prescrito, contudo, faltam instrumentos validados que permitam
expor a real dimensão do problema na sua dimensão qualitativa e quantitativa para as
diferentes entidades patológicas.
Podem utilizar-se metodologias de medida directa ou de medida indirecta. A observação
directa só pode ser utilizada em tratamentos de toma única, na administração
intermitente de fármacos ou se a pessoa estiver internada. As metodologias de medida
directa são mais objectivas, têm em regra alta especificidade e sensibilidade, mas são
caras, exigem que os fluidos corporais sangue ou urina) estejam disponíveis e só podem
ser utilizadas quando existam marcadores bioquímicos específicos. A hemoglobina
glicosilada, é um exemplo de um marcador bioquímico sensível e específico para a
medição da adesão ao regime terapêutico da diabetes. Mas na verdade, não existem
marcadores específicos da adesão para todas as doenças crónicas, Burrowes e Cockram
citado por Machado (2009, p.27). Ainda segundo o mesmo autor, as medidas indirectas
incluem as entrevistas, diários alimentares, e outros. São medidas subjectivas que
requerem a colaboração das pessoas e autenticidade dos testemunhos. A respeito deste
facto, Delgado e Lima (2001, p.84), referem que os médicos não são capazes de
identificar com fidelidade quem são os doentes aderentes e não aderentes por alguma
característica que estes tenham, ou por qualquer misteriosa intuição a que alguns
chamam “olho clínico”. Ainda segundo o mesmo autor, esta dificuldade de objectivar o
grau de adesão ao regime terapêutico é também condicionada pelo “desejo de agradar
ou de evitar a desaprovação, leva a que os doentes enviesem frequentemente as suas
respostas para se mostrarem a eles próprios e sobretudo aos outros, como mais
aderentes do que realmente são” (Delgado e Lima, 2001, p.84). Na perspectiva de
Joyce-Moniz e Barros, citados por Correia (2007, p.45), a investigação em torno dos
comportamentos de adesão ao regime terapêutico é complexa, muitos doentes não têm
coragem para afirmar a sua não adesão ao tratamento, e só por observação das
Fundamentação Teórica
55
suas atitudes de evitamento ou de recusa concreta desse tratamento é que os
cuidadores podem aperceber-se das suas verdadeiras significações.
Parece existir pela parte dos profissionais de saúde e dos doentes alguma
sobrevalorização do grau efectivo de adesão, pelo que devem ser analisados rigorosa e
criticamente todos os indicadores considerados (ICN, 2007, p.2 e Franco, 2007, p.21):
(a) Realizar questionários normalizados aos profissionais de saúde e aos utentes;
(b) Contabilizar as doses para toma de medicamento restantes;
(c) Utilizar instrumentos electrónicos de vigilância que registam a hora de abertura
e de fecho das embalagens de medicamentos;
(d) Conferir a data de aquisição das receitas na farmácia;
(e) Análises de doseamento sanguíneo das substâncias medicamentosas específicas;
(f) Análise da resposta fisiológica e da incidência de complicações ou recaídas
destes doentes.
Embora exista uma variedade de métodos para medir a adesão, com mais ou menos
dificuldades inerentes à sua aplicação, todos eles apresentam sérios problemas para
gerar dados válidos e replicáveis, que nos permitam uma estimativa exacta da
medida da adesão, Vermeire citado por Machado (2009, p.27). No mesmo sentido,
Maia (2008, p.42), refere-se a falta de um instrumento estandardizado para estimar o
comportamento de adesão, como uma das principais barreiras à investigação neste
âmbito. Os ganhos em saúde das populações não podem medir-se com rigor se
continuarem a ser predominantemente considerado apenas os indicadores de
utilização dos recursos disponíveis, é necessário estimar a relação entre os custo e
os resultados desejados, para a qual concorre a taxa de adesão terapêutica. Neste
particular a investigação tem demonstrado que baixas taxas de adesão terapêutica dão
lugar a maior risco clínico, e por conseguinte maior mortalidade e morbilidade (OMS,
2004, p.22). Como já foi referido anteriormente as diferentes formas de medida da
adesão, usualmente utilizadas, tendem a sobrestimar a adesão e subestimar a não
adesão. Uma das razões para a ocorrência deste erro poderá relacionar-se com o período
medido, que frequentemente não é representativo do comportamento habitual da pessoa.
Resumindo, uma abordagem que combine vários métodos como o auto-relato e
medidas objectivas razoáveis é o actual estado da arte na medição da adesão ao
regime terapêutico, (OMS, 2003) citada por Machado (2009, p.27).
56
O ICN (2007, p.1), define a adesão aos tratamentos de longa duração como sendo o
comportamento de uma pessoa que toma a medicação, segue uma dieta ou introduz
mudanças no seu estilo de vida de acordo com a prescrição ou recomendação do
profissional de saúde. Alguns dos indicadores de adesão definidos por este organismo
internacional são:
(a) Procurar ajuda médica;
(b) Seguir as prescrições e fazer as tomas da medicação correctamente;
(c) Obter as imunizações recomendadas;
(d) Frequentar assiduamente as consultas de “follow-up”;
(e) Introduzir alterações no estilo de vida, através do controlo do peso, dieta
recomendada, actividade física, etc.
Tradicionalmente tem sido dada maior preponderância ao índice de utilização dos
serviços de saúde para estimar a produtividade, negligenciando a questão da
efectividade dos serviços e das políticas de saúde. O novo modelo de organização dos
serviços de saúde na comunidade - as Unidades de Saúde Familiares (USF), prevêem a
avaliação da percentagem de incumprimento dos regimes terapêuticos para o
pagamento de incentivos aos profissionais de saúde (Unidade missão para os
cuidados de saúde primários, 2006, p.95).
3.5 – ESTRATÉGIAS GLOBAIS PARA A MELHORIA DOS INDICADORES DE
ADESÃO AOS REGIMES TERAPÊUTICOS
Os consensos produzidos pela investigação nos últimos 40 anos, sobre a problemática
da insuficiente adesão aos regimes terapêuticos, são enunciados num documento da
OMS denominado “Adesão aos Tratamentos de Longo Prazo – Evidência para a
Acção”, que para além de fazer uma revisão exaustiva da literatura publicada neste
domínio, pretende estabelecer um conjunto de directrizes e princípios orientadores de
suporte às autoridades de saúde e aos decisores políticos na tomada de medidas neste
âmbito (OMS, 2004, p.19). Ainda segundo o mesmo organismo internacional,
frequentemente tende-se a transferir a responsabilidade da adesão aos regimes
terapêuticos exclusivamente para o doente, desvalorizando o papel e o envolvimento
Fundamentação Teórica
57
dos profissionais de saúde, e as características do sistema de saúde que concorrem para
a qualidade do relacionamento com o doente, assim como, a consideração pelas
preferências do doente no curso dos tratamentos e seu o papel activo nesse processo. Os
doentes necessitam de apoio em vez de serem culpabilizados pelas baixas taxas de
adesão terapêutica. Os estudos constatam que o nível de envolvimento dos doentes nas
suas decisões terapêuticas está directamente relacionado e é proporcional às taxas
de adesão terapêutica. As mudanças no estilo de vida e a adopção de comportamentos
concordantes com as prescrições, devem ser negociados de modo a que se verifique um
nível óptimo de congruência entre os esforços que o doente está disposto a fazer e
os objectivos fixados pelo profissional de saúde. A qualidade da comunicação
estabelecida entre o profissional de saúde e o doente é determinante para a percepção da
utilidade e da necessidade de um determinado tratamento ou alteração no estilo de vida
pelo doente e consequentemente da adesão terapêutica.
A complexidade dos regimes terapêuticos é um aspecto que influencia negativamente a
adesão terapêutica, contudo, quando os doentes decidem não aderir ao regime
terapêutico, suportam a sua decisão num conjunto de referenciais e crenças individuais.
Os técnicos de saúde nem sempre têm em consideração este facto, recorrentemente
atribuem a falta de adesão terapêutica ao esquecimento, o que não corresponde à
verdade. Os doentes devem ser estimulados a expressar as suas opiniões sobre a doença
e sobre a sua concordância ou não com o regime terapêutico proposto (Figueira, 2008,
p.41).
A adesão terapêutica é um factor importante para a efectividade das políticas de saúde, e
para a melhoria dos indicadores de ganhos em saúde das populações. O planeamento e a
avaliação de programas de saúde deve considerar sempre as taxas de adesão terapêutica
no sentido de optimizar a oferta de cuidados de saúde e assim produzir melhores
resultados (OMS, 2004, p.22). É necessária no entanto mais investigação para
caracterizar melhor o problema da insuficiente adesão terapêutica, delimitar a sua
dimensão, estimar o peso da influência de cada uma das suas componentes causais,
assim como, o custo económico que o problema comporta. Estes são aspectos essenciais
para criar a consciencialização e a sensibilidade necessária para o problema junto dos
decisores políticos, autoridades de saúde e demais entidades com responsabilidades
nesta problemática por forma a canalizar recursos absolutamente necessária para o
58
desenvolvimento de ferramentas de trabalho neste âmbito de modo a estabelecer
prioridades e fazer uso das intervenções que se tenha provado serem mais eficazes,
assim como definir estratégias para seguir e avaliar os progressos destes doentes (OMS,
2004, p.34).
Melhorar a adesão terapêutica poderá revelar-se um excelente investimento para a
abordagem efectiva das doenças crónicas e dos tratamentos de longa duração. Os
estudos revelam de forma sistemática poupanças nas despesas e aumentos consideráveis
da efectividade das intervenções em saúde, atribuíveis a medidas de baixo custo para
melhorar a adesão terapêutica. Em muitos casos o retorno do investimento feito na
melhoria dos indicadores de adesão terapêutica é conseguido na sua totalidade com
diminuição dos episódios de descompensação e portanto menor utilização dos serviços
de saúde, como sejam consultas e dias de internamento. As intervenções para eliminar
as barreiras à adesão terapêutica devem converter-se numa componente central dos
esforços para melhorar a saúde das populações em todo o mundo. O uso racional dos
medicamentos significa boa prescrição e adesão terapêutica total. As intervenções que
promovem a adesão terapêutica podem diminuir a discrepância que se verifica
actualmente entre a eficácia clínica em teoria e a efectividade quando as medidas
ou tratamentos são intuídos no terreno, de modo a aumentar a eficiência global do
sistema de saúde. A melhoria dos indicadores de saúde da população sujeita a
tratamentos de longa duração requer que seja transferido o enfoque assistencial centrado
na resposta as descompensações agudas episódicas para um sistema de índole
preventiva ao longo da vida destes doentes. Só um sistema de saúde que tenha em
consideração os factores que interferem na adesão terapêutica, poderá tirar proveitos dos
progressos tecnológicos e de todo o seu potencial para reduzir peso das doenças
crónicas no sistema de saúde e melhorar os indicadores de saúde global (OMS, 2004,
p.22).
Os sistemas de saúde devem evoluir de modo a responder às alterações
epidemiológicas das causas de mortalidade e morbilidade de modo a ir ao encontro
das necessidades de cuidados de saúde das populações. Os modelos de saúde nos países
desenvolvidos encontram-se excessivamente dirigidos para os cuidados a situações de
saúde agudas, no entanto e apesar desse facto é reconhecido que existe um potencial
ainda por explorar de recursos que podem melhorar os comportamentos de adesão
Fundamentação Teórica
59
terapêutica dos doentes crónicos. É necessário reforçar o nível de comunicação com os
doentes, reformular os recursos, a modalidade e os objectivos em que actualmente
assentam as consultas de rotina ao doente crónico, assim como, proporcionar o estímulo
indispensável para que os profissionais de saúde possam dedicar mais atenção à
problemática da adesão ao regime terapêutico. A melhoria na articulação entre os
serviços de saúde comunitários, farmácias, clínicas e hospitais e o aperfeiçoamento
desses canais de comunicação tem um enorme potencial na monitorização da adesão
terapêutica e no levantamento das causas que impedem a melhoria dos indicadores de
adesão (OMS, 2004, p.23).
A abordagem do problema da deficiente adesão aos regimes terapêuticos na perspectiva
da DGS (2007, p.8), vai também no sentido de envolver um conjunto alargado de
entidades, nomeadamente, centros de saúde, hospitais, poder local através das
autarquias, associações de profissionais, associações de doentes, sociedades científicas,
meios de comunicação social, educadores e líderes de opinião de modo a materializar
uma atitude global de sensibilidade para a redução dos comportamentos de risco,
promoção de estilos de vida saudável, assim como, para a responsabilização das pessoas
com doenças crónicas para a obtenção de indicadores de saúde que permitam a cada um
fazer a gestão do seu programa terapêutico.
Os estudos mostram que as intervenções focalizadas não produzem resultados
significativos na melhoria dos indicadores de adesão aos regimes terapêuticos, pelo
contrário os programas integrados que prevêem intervenções sobre várias componentes
simultaneamente como seja: as cognitivas, educativas, comportamentais, afectivas
(motivacionais) entre outras, revelaram-se mais eficazes (OMS, 2004, p.34; ICN, 2007,
p.3 e Franco, 2007, p.21). Este último autor citado refere que os resultados podem ser
até três superiores relativamente às estratégias focalizadas.
A melhoria dos comportamentos de adesão terapêutica requer uma intervenção
multidisciplinar. Apesar de existir já um conhecimento muito significativo desta
problemática e das suas diferentes componentes causais, os esforços encetados para
abordar o problema encontram-se dispersos e não tem sido aproveitado o
contributo das potencialidades que a multidisciplinaridade pode acrescentar, falta
também constituir um compromisso que vincule todos os responsáveis. Outro aspecto
organizacional importante é a existência de profissionais de referência no seguimento
60
dos doentes ao longo do tempo, os vários estudos tomam este factor como muito
positivo na melhoria dos comportamentos de adesão ao regime terapêutico (OMS, 2004,
p.23).
A intervenção nas condições socioeconómicas também é decisiva na melhoria dos
indicadores de adesão, existem neste plano várias vertentes que devem merecer atenção,
são elas: acesso aos cuidados de saúde e aos medicamentos, desenvolvimento de redes
de apoio e suporte comunitário, a pobreza, a educação e a formação, etc. As associações
de doentes são também referidas pela OMS como muito positivas na acção pedagógica
que exercem no reforço da adesão terapêutica, motivando, apoiando e promovendo uma
cultura de auto-cuidado, partilhando experiências e desse modo possibilitando que os
profissionais de saúde não necessitem dispensar tanta atenção a estes doentes. As
doenças crónicas têm hoje um peso muito significativo no conjunto das despesas
globais do sistema nacional de saúde, que tendem a aumentar, seria mesmo
insustentável num futuro próximo se de há uns anos a esta parte não se tivesse instituído
uma cultura de autonomia, responsabilidade e auto-cuidado individual que através da
“educação terapêutica” e mediante um processo gradual, controlado e periodicamente
avaliado, tem permitido, transferir as competências e os conhecimentos necessários para
a pessoa fazer a gestão da sua doença ao longo do tempo (Correia, 2008, p.8).
Fundamentação Teórica
61
4 – TEORIAS/MODELOS TEÓRICOS QUE SUPORTAM A ADESÃO AO
REGIME TERAPÊUTICO
A importância atribuída aos factores psicológicos na gestão da saúde tem sido crescente
nas últimas décadas, nomeadamente no que se refere a questões relacionadas com a
forma como os indivíduos pensam acerca da saúde e da doença. Vários modelos de
mudança comportamental, pretendem explicar as relações entre o pensamento e o
comportamento das pessoas, relativamente às questões afectas à saúde e às doenças.
Baseiam-se no pressuposto de que compreendendo as suas crenças, valores e atitudes,
será possível planear uma intervenção mais eficaz, que permita modificar e controlar os
comportamentos adoptados (Machado, 2009, p.49). Ainda segundo o mesmo autor, os
estudos sobre adesão ao regime terapêutico têm seguido uma de cinco perspectivas
teóricas principais: biomédica, comportamental, comunicacional, cognitiva e de auto-
regulação.
Cada uma destas perspectivas inclui uma ou mais teorias ou modelos que se propõem,
cada uma por si explicar a totalidade da intervenção dirigida para a mudança de
comportamentos relativos à saúde. Relativamente ao modelo biomédico é reconhecido o
seu papel no desenvolvimento de novas estratégias de administração de terapêutica de
modo a facilitar a adaptação do doente ao regime medicamentoso, e a aferição do grau
de adesão dos doentes através de valores bioquímicos presentes nos fluidos corporais
(sangue, urina ou outro). Este modelo ainda dominante em alguns contextos dos
cuidados de saúde, vê o doente como mero executor e identificando-se mais com o
termo “compliance”. Os modelos comportamentais são mais adequados quando se
pretende o treino e a aprendizagem de capacidades para realizar actividades
instrumentais referentes ao regime terapêutico, dando ênfase aos estímulos que
desencadeiam o comportamento e às recompensas que o reforçam. Quanto à perspectiva
comunicacional apela ao desenvolvimento da empatia entre os profissionais de saúde e
doentes nos seus relacionamentos, e ainda, na melhoria das competências
comunicacionais para envolver os doentes nesta causa. A perspectiva cognitiva inclui
várias teorias e modelos como: o modelo de crenças de saúde, a teoria da aprendizagem
62
social de Bandura, a teoria da acção racional de Fishbein, entre outras. Relativamente à
corrente da auto-regulação esta pretende explicar as variáveis do contexto e as respostas
cognitivas individuais às ameaças à saúde, à luz do modelo de auto-regulação. No
âmbito da saúde, espera-se que pessoas com uma boa auto-regulação, tenham maior
probabilidade de adoptar comportamentos saudáveis e menor probabilidade de se
envolverem em comportamentos de risco (Woo e Frisbie citado por Machado, 2009,
p.33).
Os vários modelos procuram explicar o modo como se articulam e influenciam entre si
um conjunto de aspectos associados à adesão aos regimes terapêuticos, contudo não
existe nenhum enunciado teórico capaz de abarcar e explicar as diferentes
especificidades de regimes terapêuticos. Os modelos permitem construir uma base
mais sólida, para uma prática mais informada, os subsídios que cada um
acrescenta para a compreensão da problemática da adesão aos regimes
terapêuticos devem ser integrados nas estratégias dirigidas à melhoria dos
indicadores de adesão aos regimes terapêuticos (Franco, 2007, p.20). Seguidamente
serão desenvolvidos alguns destes modelos com mais detalhe.
MODELO DE SENSO-COMUM DA DOENÇA
Este modelo pretende evidenciar a importância das crenças individuais relacionadas
com a saúde nos comportamentos de adesão terapêutica, e a forma como cada pessoa
pode hierarquizar os critérios de gravidade e em face disso procurar ajuda médica ou
não em perante uma situação concreta de sintomatologia ou doença. Este aspecto das
crenças em saúde e do julgamento subjectivo que cada um faz, no limite por vezes pode
fazer a diferença entre a vida e a morte, isto é, perante uma situação de enfarte agudo do
miocárdio, a percepção de gravidade dos sintomas ou não, e a decisão de procurar ajuda
médica em tempo útil poderá determinar se a pessoa sobrevive (Figueiras, 2008, p.38).
A adesão aos regimes terapêuticos é maior quando as concepções de saúde e
doença do doente e do técnico de saúde são coincidentes. Este facto tem que ver com
a “negociação do diagnóstico”, isto é, perante um sintoma ou um conjunto de sintomas,
o doente relaciona-os com uma determinada causa ou rótulo segundo a sua crença. Por
exemplo: um doente que apresente tonturas pode relaciona-las com cansaço e acreditar
convictamente nisso apesar do médico lhe diagnosticar hipertensão. Este facto poderá
Fundamentação Teórica
63
comprometer a adesão ao regime terapêutico, Sullivan e Fahey citados por Figueiras,
(2008, p.40). Os indivíduos constroem esquemas mentais, ou modelos implícitos da
doença, sobre a forma como a doença pode afectar as funções corporais, o seu impacto
no quotidiano dos indivíduos, se e como se pode curar, e como proceder para
restabelecer o estado de saúde. Estes modelos determinam a resposta aos sintomas, à
adesão aos tratamentos e às recomendações dos profissionais de saúde; e
desenvolvem-se a partir da exposição a um conjunto de fontes de carácter social e
cultural, como por exemplo, a divulgação de notícias nos média, experiências pessoais
com a doença, experiências indirectas com familiares e amigos, informações de relatos
publicados em livros, filmes, documentários, ou informação retirada da internet. O
indivíduo é activo na construção das suas representações, e a informação é
integrada de acordo com esquemas mentais pré-existentes, produzindo assim um
modelo de senso comum da doença. Estes modelos têm uma estrutura semelhante quer
em indivíduos saudáveis ou doentes e têm implicações importantes para a adesão aos
regimes terapêuticos. Ainda segundo a mesma autora a estrutura do modelo de “Senso-
Comum da Doença” de Leventhal, et al. (1984) assenta em cinco componentes:
identidade, a duração (aguda ou crónica), as causas e as consequências da doença e a
percepção de controlo ou cura. A identidade refere-se ao rótulo (informação semântica),
ou sintomas de uma doença (percepção de sintomas associados a uma doença). Esta
componente vai determinar todas as outras representações. Os indivíduos relacionam
sintomas específicos com rótulos de doenças através de encaixes no protótipo pessoal
(representação mental) que têm da doença, assim, procuram um rótulo para os seus
sintomas e vice-versa, em função desse julgamento pessoal tomam comportamentos que
julgam ser adaptados à gravidade da situação. Perante uma situação concreta de
sintomatologia, cada um pode ou não procurar ajuda médica, em função da
hierarquização que estabeleceu da gravidade dos sintomas, Howard Leventhal citado
por (Figueiras, 2008, p. 38).
Os resultados da investigação também são consistentes no que se refere à percepção de
sintomas de uma determinada doença e à necessidade de tratamento, isto é, a presença
de sintomas verificou-se ser um factor que favorece a adesão terapêutica, pelo contrário
a ausência de sintomas é um factor desencorajador de adesão. Deste facto decorre
uma conclusão notável, a adesão a regimes terapêuticos de índole preventivo, como
sejam as doenças que se desenvolvem de forma assintomática como é o caso da
64
aterosclerose no EAM será baixa. Em resumo podemos afirmar que a percepção de
sintomas é um factor de adesão terapêutica, Horn, Fisher e Buick, citados por Figueira
(2008, p.40). Ainda segundo o mesmo autor o modelo de senso-comum da doença,
pretende notar e demonstrar que os profissionais de saúde devem ter em consideração e
trabalhar a percepção da doença e a percepção da necessidade de tratamento que o
doente tem sobre a sua situação concreta. Nesse sentido, Santos (2008, p.8), refere-se à
desmistificação de crenças erradas em relação saúde e às doenças, através de uma maior
e mais clara comunicação, reforço da confiança e da relação terapêutica como forma de
potenciar a eficácia dos cuidados de saúde. O mesmo autor refere que na verdade
estamos a afastar-nos desse objectivo, o tempo disponível para as consultas é cada vez
menor – “diminui-se o tempo da consulta e compensa-se com a prescrição de mais um
exame ou fármaco.”
MODELO DAS HIPÓTESES COGNITIVAS DA ADESÃO
Este modelo sustenta que a adesão aos regimes terapêuticos decorre da influência de
três variáveis: Satisfação, Compreensão e a Memória. Relativamente à componente
satisfação da pessoa doente, esta valoriza os aspectos afectivos e neste particular a
qualidade do apoio emocional dispensado, os aspectos comportamentais integram a
disponibilidade que os técnicos de saúde revelam para informar, esclarecer e ouvir.
Finalmente a competência profissional do técnico de saúde é um julgamento subjectivo
que o doente faz do contexto global do atendimento. Quanto à componente da
compreensão da informação dada, a pessoa necessita perceber o alcance dos seus
problemas de saúde, as suas consequências e os recursos terapêuticos ou de diagnóstico
a utilizar. A respeito do papel da memória na adesão ao regime terapêutico, este modelo
considera que as recordações da informação fornecida e sobretudo a qualidade da
relação terapêutica presente na comunicação, e o nível de envolvimento e empatia são
determinante para a vinculação aos cuidados recomendados (Camarneiro, 2002, p.28).
TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL
A teoria da aprendizagem social, teve origem em modelos comportamentais,
considerando simultaneamente a dinâmica psicossocial subjacente aos comportamentos
Fundamentação Teórica
65
de saúde e os métodos para promover a mudança ou modificação positiva desses
comportamentos. É constituída por quatro factores: o comportamento potencial, a
expectativa, o valor do reforço e a situação psicológica. O potencial para a adopção
de determinado comportamento, é função da expectativa de que o comportamento
a adoptar naquela situação, conduza a determinado reforço e no valor que esse
reforço tem para a pessoa. Relativamente ao fenómeno da adesão, o potencial para
aderir será tanto maior quanto a expectativa de que adoptar comportamentos de adesão
resulte na obtenção de reforços ou ganhos aos quais a pessoa atribua valor. Três
elementos desta teoria são particularmente relevantes na adopção de comportamentos de
adesão: o papel das expectativas, o processo de aprendizagem vicariante e a influência
motivadora do bom estado de saúde como resultado do comportamento de adesão ao
regime terapêutico. A pessoa é motivada para adoptar comportamentos cujo
resultado valoriza e que se sente capaz de desempenhar eficazmente. O
comportamento é influenciado por dois conjuntos de expectativas: as expectativas de
acção – resultado, que traduzem a crença pessoal de que uma acção conduz a
determinado resultado; e as expectativas de auto – eficácia, que reflectem até que ponto
as pessoas acreditam serem capazes de adoptar o comportamento desejado. Muitos dos
nossos comportamentos resultam dos modelos comportamentais a que somos expostos.
A partir da observação destes modelos aprendemos de forma vicariante a determinar
resultados comportamentais e a estabelecer expectativas de eficácia (Bennett e Murphy
citados por Machado, 2009, p.36).
De acordo com Ribeiro (2005, p.33), a família e o grupo de pares proporcionam fortes
influências de modelagem. Geralmente, a influência do modelo é tanto maior quanto
mais este se assemelha à pessoa e se pertence à mesma esfera social, ou superior como é
o caso do desporto e da comunicação social, em comparação com modelos de baixo
estatuto. No entanto, o facto de o resultado ser probabilístico (o comportamento de
adesão reduz o risco de complicações, mas não as elimina), de ser um resultado a longo
prazo (os efeitos do comportamento na saúde nem sempre são notórios e não são
imediatos) e de as compensações resultantes dos comportamentos prejudiciais à saúde
serem normalmente imediatas, exerce frequentemente uma influência maior sobre a
decisão de aderir ou não aderir.
66
5 – PAPEL DO ENFERMEIRO NA ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO
PROPOSTO À PESSOA COM HISTÓRIA DE EAM
O ICN estima que existam cerca de 12 milhões de enfermeiros em todo o mundo e
considera que todo este potencial, associado ao facto de os enfermeiros estarem
presentes em todos os contextos de prestação de cuidados de saúde, e ainda, sua
proximidade com os doentes, os coloca numa posição privilegiada para implementar
estratégias sustentadas de melhoria da adesão aos regimes terapêuticos, OMS
citada por Machado (2009, p.49). O “EUROACTION” é um programa de prevenção das
doenças cardiovasculares multidisciplinar, coordenado por enfermeiros, levado a efeito
em oito países europeus, onde se verificou a eficácia da intervenção de equipas
multidisciplinares que actuam junto dos doentes de forma individualizada e persistente
(Perdigão, 2008, p.6 e Santos, 2008, p.10). Este estudo que obteve excelentes resultados
é citado recorrentemente no âmbito da prevenção das doenças cardiovasculares e é
revelador do papel que os enfermeiros devem desempenhar neste âmbito.
O Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares, a
desenvolver num horizonte temporal de dez anos (2003-2013), assenta num conjunto de
orientações de prevenção dos principais factores de risco cardiovascular e na promoção
de estilos de vida saudável, sustentado em intervenções multidisciplinares e na melhoria
das práticas dos profissionais da área cardiovascular (DGS, 2007, p.12). Assim, através
de uma abordagem integrada, pretende enfatizar a educação para a saúde como a
educação terapêutica, enquanto processos de que visam contribuir para que mulheres e
homens sejam capazes de gerir a sua própria saúde de modo mais informado e, quando
for caso disso, sejam capazes de gerir o seu processo de doença de forma mais
autónoma (DGS, 2007, p.9). As dificuldades de adesão ao regime terapêutico nas
doenças cardiovasculares, é mais significativo nas questões que têm que ver com a
correcção de hábitos e de estilos de vida pouco saudáveis do que relativamente à toma
dos medicamentos (Santos, 2008, p. 8). Doentes que atribuem o seu enfarte à carga
hereditária ou à história familiar tendem a aderir menos a mudanças no seu estilo de
vida. Em geral os maus resultados no controlo da doença cardiovascular são
Fundamentação Teórica
67
atribuíveis à baixa adesão terapêutica. A chamada “cirurgia cognitiva” é um trabalho
de educação e transformação de estilos de vida que prejudicam a saúde e de crenças
erradas acerca das doenças cardiovasculares, que permite uma melhoria significativa da
adesão terapêutica. (Figueiras, 2008, p.39).
Reconhecido que é pela comunidade científica o papel dos enfermeiros no âmbito da
educação para a saúde, como atestam alguns estudos realizados nesse âmbito, os
enfermeiros têm a responsabilidade de fazer uso do conjunto de ferramentas que
possuem para levar tão longe quanto possível a melhoria dos indicadores de saúde
cardiovascular. Neste âmbito importa definir quais as melhores estratégias de modo a
dirigir os recursos no sentido de produzir mais e melhores resultados. Os enfermeiros ao
colocarem em prática as suas competências comunicacionais, sustentadas por teorias e
modelos teóricos que possuem, e através do seu papel pedagógico, contribuirão de
maneira ímpar para o sucesso da adesão aos protocolos terapêuticos e,
consequentemente, para uma melhor saúde pública (Camarneiro, 2002, p.25). No
mesmo sentido Correia (2008, p.8), atribui ao enfermeiro um “papel central” na
educação do doente pela relação privilegiada que mantém com ele, contudo este
processo deve ser objecto de planeamento e integrado na equipa multidisciplinar.
Apesar das condições excepcionais que o enfermeiro detém para que o faça com
qualidade e eficiência, deve possuir e desenvolver competências na área da pedagogia,
da psicologia e da comunicação. Deseja-se que esta relação seja de parceria e que se
desenvolva ao longo do tempo, porque o processo educativo é um trabalho
inacabado.
Na perspectiva de Franco (2007, p.21) a relação “enfermeiro – cliente”, através da
construção de uma “aliança terapêutica”, assim como, na continuidade dos cuidados em
função da qualidade da supervisão exercida, são factores decisivos no processo de
adesão da pessoa ao regime terapêutico, na medida em que são os profissionais de saúde
que mais tempo dedicam ao acompanhamento dos doentes no contexto dos cuidados de
saúde, podendo deste relacionamento obterem-se ganhos em saúde notáveis.
Camarneiro (2002, p.27), também se refere à importância das competências
comunicacionais do enfermeiro, no estabelecimento da relação terapêutica, como
estratégia de envolvimento e vinculação da pessoa ao regime terapêutico. Esta relação
terapêutica enfermeiro/doente e enfermeiro/família requer um nível de confiança
68
sustentada ao longo do tempo. Este caminho não está isento de dificuldades, poderá ser
necessário percorrer várias etapas até que o nível de envolvimento atinja a sua
maturidade. A finalidade desta relação é antes de mais garantir o envolvimento do
doente, de modo a que ele se convença que esta questão é importante para si mesmo,
deseje intervir nela e só após isso deve promover-se a autonomia capacitando-o para
fazer a gestão do processo de adesão terapêutico ao longo do tempo (Hesbeen, 2001,
p.69). O papel do enfermeiro na orientação da resposta das pessoas às situações de crise,
contribuindo para que as transições se processem no sentido do restabelecimento do
equilíbrio e do bem-estar, permite a construção de uma relação intensa de confiança que
facilita a compreensão contextualizada da condição de cada doente, os significados das
suas dificuldades adaptativas nos processos saúde/doença. Esse conhecimento profundo
da pessoa, das suas capacidades e do meio envolvente permite organizar intervenções
mais congruentes com as necessidades de cada um. As dificuldades na adesão ao regime
terapêutico enquadram-se muitas vezes nesta dificuldade adaptativa, Meleis citado por
Franco (2007, p.21).
A educação para a saúde é recurso de que os enfermeiros estão capacitados a
empregar e que permite à pessoa, enquanto agente intencional de
comportamentos, baseados nos valores, crenças e desejos individuais, construir o
seu projecto de saúde e tomar opções quanto à sua saúde de forma esclarecida. Os
cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos projectos de saúde
que cada pessoa vive e persegue prevenindo a doença e promovendo a adaptação
funcional aos défices, frequentemente através de processos de aprendizagem da pessoa
(OE, 2001, p.6). É em larga medida um processo consciente de transferência de
competências com largas repercussões na gestão da doença assumindo o doente o
papel de parceiro activo no planeamento dos objectivos (Correia, 2008, p.7). O
enfermeiro pode fazer uso de um conjunto de estratégias e habilidades comunicacionais
para envolver e vincular o doente ao conjunto de recomendações prescrito. Turk,
Meichenbaum e Camarneiro citados por Machado (2009, p.31), propõe estratégias que
os profissionais de saúde devem usar para melhorar os indicadores de adesão:
• Dar instruções claras sobre o regime terapêutico, de preferência por escrito –
ser claro e objectivo;
• Escutar a pessoa atentamente e esclarecer – demonstrar disponibilidade;
• Pedir-lhe para repetir o que tem de fazer;
Fundamentação Teórica
69
• Propor um regime terapêutico o mais simples possível, que tenha em
consideração a opinião da pessoa e objectivos realistas;
• Utilizar métodos que permitam monitorizar os comportamentos de adesão e
fazer levantamento das dificuldades;
• Telefonar se a pessoa faltar a uma consulta;
• Referir em todas as consultas, que devem ser tão frequentes quanto necessário,
a importância da adesão e reforçar os comportamentos positivos;
• Envolver a família ou pessoa significativa.
O ICN (2007, p.3) refere que o papel do enfermeiro na gestão da adesão do doente ao
regime terapêutico deve ser baseado no estabelecimento de objectivos realistas, através
do envolvimento, participação e reforço positivo dos esforços conseguidos pelo doente,
informação acerca das vantagens em prosseguir com o tratamento, efeitos adversos da
medicação, vantagem na correcção de estilos de vida incorrectos, esclarecimento acerca
dos aspectos fisiopatológicos do curso da doença e as consequências do incumprimento
do regime terapêutico. Atender às preferências do doente e simplificar o quanto possível
os regimes terapêuticos. Cooperar multidisciplinarmente com investigadores, farmacêu-
ticos, instituições comunitárias de solidariedade social, envolver as famílias e
associações de doentes em parceria de modo que possam contribuir para melhorar os
indicadores de adesão terapêutica. A “educação terapêutica” é um processo por fazes,
integrado nos cuidados ao doente crónico, compreendendo actividades de
sensibilização, informação, aprendizagem, apoio psicológico e social destinado a ajudar
o doente e a sua família a aceitar a doença e os tratamentos, colaboração nos cuidados,
assumindo responsabilidades de gestão e favorecendo a retoma às suas actividades
normais (Correia, 2008, p.7). Neste particular a OE (2001, p.6), refere-se ao papel dos
enfermeiros enquanto promotores de aprendizagem capazes de mobilizar os
recursos familiares e comunitários para lidar com os desafios de saúde. Educar um
doente é dar-lhe competências na gestão da sua doença, permitir-lhes ser independente,
autónomo na gestão da sua doença, capacitando-o a integrar-se social e
profissionalmente na sociedade. Para que um doente adira ao regime terapêutico é
necessário antes de mais, que ele sinta o problema com importância para si mesmo e
deseje intervir nele (Maia, 2008, p.43). A doença e a incapacidade, o bem-estar e o
sentido da vida são sempre culturalmente modulados pelas crenças e valores associados.
Neste contexto, a saúde é um projecto individual de cada ser humano, numa abertura
70
incessante ao sentido da vida. É perante este conceito de saúde que os cuidados de
enfermagem assumem particular importância, visando a educação para comportamentos
saudáveis, a promoção do auto-cuidado, e a adesão e gestão de regimes terapêuticos
(Vieira, 2007, p.84). A adesão aos regimes terapêuticos varia em função de um conjunto
de factores de ordem individual, das características da doença e da expressão da sua
sintomatologia sobre a qualidade de vida, assim como, da atenção e do investimento que
cada sistema de saúde dispensa para envolver os doentes e onde o enfermeiro tem uma
responsabilidade inquestionável.
Camarneiro (2002, p.29), propõe cinco estratégias a utilizar pelos enfermeiros para
assegurar que os doentes melhoram os comportamentos de adesão aos regimes
terapêuticos:
1 – Avaliar potenciais dificuldades no cumprimento das recomendações terapêuticas
(a) No momento da entrevista inicial deve perguntar-se ao paciente quais os
medicamentos que lhe foram prescritos, o que é que ele toma actualmente,
quando é que os toma, com que frequência se esquece de os tomar e porquê.
Alguns autores sustentam que as questões a dirigir ao doente neste âmbito
não devem ser directas, de modo a prevenir falta de realismo nas respostas
(Maia, 2008, p.44 e Perdigão, 2008, p.6). Nesse sentido, este último autor citado
propõe que sejam dirigidas três questões ao doente para verificar o nível de
adesão terapêutica: “Tem alguma dificuldade em tomar os comprimidos?”,
“Toma todos os comprimidos que lhe foram prescritos?”, “Toma todos os dias
os comprimidos prescritos?”, “Dá-se bem com o tratamento ou este causa-lhe
alguns efeitos desagradáveis?”.
(b) É necessário saber se há antecedentes de fraca adesão; se os pacientes vivem sob
tensão emocional; se têm horários irregulares ou complexos em regimes
farmacoterapêuticos longos.
(c) É importante assegurar ao utente de que a maioria das pessoas tem lapsos, por
razões várias, e que a sua informação será preciosa para desenvolver uma
prescrição fácil de seguir no domicílio.
2 – Iniciar os ensinos durante o internamento. Sempre que o enfermeiro administra um
medicamento, deve informar o doente e a família do fim a que se destina, duração do
tratamento e das consequências da sua suspensão intempestiva sem validação de um
técnico de saúde.
Fundamentação Teórica
71
3 – Conhecer a vida quotidiana do paciente e ajudar a:
(a) Ajustar o regime terapêutico à rotina de vida diária, para que o doente sinta o
menor constrangimento possível quando tem vários medicamentos para tomar.
(b) Simplificar esse regime se possível fazendo ajuste na distribuição das tomas ao
longo do dia.
(c) Ajudar a desenvolver estratégias para lhe recordar as tomas de medicamentos
nas horas certas, associando as tomas a determinados momentos do dia como
programas televisivos, etc.
4 – Promover a auto monitorização.
(a) A família pode e deve ser envolvida no ensino, mas apenas se o paciente o
desejar. Muitos doentes preferem administrar e gerir o seu regime terapêutico
sem envolver a família.
(b) Em presença de regimes terapêuticos complexos, poder-se-á fazer uma “check-
list” com o conjunto dos cuidados diários onde se pode assinalar o cumprimento
de cada um ao longo do dia.
(c) Esclarecer o doente acerca dos esquecimentos das tomas, advertindo para o
limite de segurança das dosagens diárias.
5 – Garantir o acompanhamento do doente ao longo do tempo. O espaçamento entre as
consultas de “follow-up” é um factor estatisticamente significativo na adesão ao regime
terapêutico como foi já referido.
(a) A criação de hábitos regulares de gestão correcta do regime terapêutico deve ser
iniciado precocemente, o primeiro mês é tido como muito sensível para a
educação quanto a comportamentos de adesão terapêutica.
(b) Deve-se visitar o doente no domicílio uma a duas vezes depois da alta, de modo
a aferir como é que ele está a fazer a gestão do seu regime terapêutico e se
necessário orientar e esclarecer quaisquer dúvidas que persistam.
Para Ximenes (2005, p.237) a utilização de modelos e teorias no campo da promoção da
saúde pode ser facilitador na compreensão das causas dos problemas de saúde, orientar
nas soluções que respondem às necessidades e interesses das pessoas envolvidas. Além
disso, pode contribuir para a promoção do conhecimento, reflexão e decisão no acto de
cuidar e agir, possibilitando maiores possibilidades no alcance dos objectivos
propostos, tanto para a promoção da saúde, quanto para a prevenção de doenças. Do
modelo de saúde de Nola Pender (2002) emergem alguns princípios com relevância para
72
o exercício profissional dos enfermeiros no que se refere a promoção da adesão aos
regimes terapêuticos:
As pessoas comprometem-se mais facilmente com comportamentos dos quais
prevêem benefícios;
As barreiras ou obstáculos percebidos dificultam todo o processo que conduz ao
comportamento desejado;
As pessoas comprometem-se e adoptam comportamentos de promoção da saúde,
mais facilmente se observam esse comportamento nas pessoas que lhe são
significativas e se estas o esperam de si e lhe prestam a ajuda e apoio
necessários;
A família, o grupo de pares, os prestadores de cuidados de saúde e o contexto
podem influenciar positiva ou negativamente a adopção de comportamentos de
promoção de saúde, ou de adesão ao regime terapêutico.
Assim no âmbito da promoção da adesão ao regime terapêutico da pessoa com
história de EAM a colheita de dados, ou avaliação inicial reveste-se de particular
importância, deve ser orientada de modo a obtermos o maior conhecimento possível
sobre a pessoa, e o contexto familiar e social onde ela se insere. Importa conhecer o seu
conceito de saúde e de doença, as suas crenças de saúde, a importância que atribui à
doença e ao tratamento, o seu passado de adesão, as suas crenças de auto-eficácia
relativamente ao regime terapêutico, as barreiras percebidas à adopção do
comportamento desejado, avaliar o seu conhecimento sobre a doença e sobre o regime
terapêutico, avaliar a sua capacidade para gerir o regime terapêutico. Conhecer o
sistema familiar, o papel da pessoa na família, a organização das actividades
domésticas. Obter informações sobre a actividade profissional da pessoa e as suas redes
sociais de apoio. Só com a realização de uma colheita de dados completa e detalhada
será possível identificar correctamente os problemas e planear as intervenções mais
adequadas a cada pessoa.
Hoje a adesão aos regimes terapêuticos já não é um exercício de aceitação passiva.
Pretende-se envolvimento e uma parceria activa entre doente e técnico de saúde,
onde numa atitude de compreensão, flexibilidade e consideração pelas preferências e
pelo estilo de vida do doente, se procura optimizar o regime terapêutico de modo a
melhorar os indicadores de saúde individuais (Camarneiro, 2002, p.30).
Metodologia
73
PARTE II – METODOLOGIA
A investigação científica é um processo sistemático de colheita de dados observáveis e
verificáveis, a partir do mundo empírico (o que nós conhecemos através dos nossos
sentidos), com vista a descrever, explicar, predizer ou controlar fenómenos, Seaman
citado por Fortin (1999, p.17). Todo o processo de investigação deve ser conduzido com
base num plano metodológico sólido previamente estabelecido, de modo a prever e
ultrapassar constrangimentos ao desenvolvimento do trabalho, prosseguir e assegurar
fiabilidade, rigor e controlo de todo o procedimento.
6 – DA PROBLEMÁTICA À INVESTIGAÇÃO
As doenças cardiovasculares são simultaneamente a primeira causa de internamento
hospitalar e de mortalidade, tendo contribuído no ano 2006 com 30% para o total de
óbitos ocorridos em Portugal (Cardoso, 2009, p.4). Ocorrem anualmente cerca de 12 mil
EAM, a taxa de mortalidade é de 11,4%. Acresce a este cenário, para muitos dos
sobreviventes de EAM, o espectro da invalidez, da dependência para a satisfação de
necessidades básicas, da diminuição da qualidade de vida, da perda do papel social e a
consequente disfunção familiar (Aguiar, 2009, p.7). O Programa Nacional de Prevenção
e Controlo das Doenças Cardiovasculares, prevê numa das suas orientações gerais o
envolvimento dos profissionais e dos serviços de saúde na melhoria das suas
práticas no acompanhamento dos doentes com factores de risco cardiovascular e
na promoção da educação terapêutica, enquanto processo que visa contribuir para
que mulheres e homens sejam capazes de gerir a sua própria saúde de modo mais
informado e, quando for caso disso, sejam capazes de gerir o seu processo de doença de
forma mais autónoma (DGS, 2007, p. 9). A adesão do doente com história de EAM ao
regime terapêutico proposto, é parte importante desta estratégia global para melhorar os
indicadores de saúde cardiovascular.
74
A adesão ao regime terapêutico é definida como o grau de concordância entre as
recomendações do prestador de cuidados de saúde e o comportamento do doente
relativamente ao regime terapêutico proposto (Chesney et al., citados por Delgado e
Lima, 2001, p.82) A adesão ao regime terapêutico é uma área de intervenção dos
enfermeiros e uma necessidade em cuidados de enfermagem, com particular relevância
no âmbito da gestão das doenças crónicas. Este foco de atenção dos enfermeiros, é
utilizado, para descrever necessidades de cuidados de enfermagem, da pessoa, família
ou comunidade, expressa nos diagnósticos de enfermagem “Adesão ao regime
terapêutico não demonstrada”, ou “Capacidade para gerir o regime terapêutico
Comprometida”, tendo por base a versão Beta 2 ou a versão 1 da CIPE respectivamente
(ICN, 2001 e 2005). A relação de proximidade com os doentes, a natureza da relação
dos cuidados, proporciona aos enfermeiros uma excelente oportunidade de monitorizar
a adesão, diagnosticar a não adesão, planear e implementar intervenções que
efectivamente ajudem as pessoas a integrar o regime terapêutico nos seus hábitos de
vida, dotando-as de conhecimentos e capacidades que lhes permitam realizar e manter
as mudanças necessárias, adaptando-se à sua nova condição de saúde (Machado, 2009,
p.2).
As conclusões da investigação no domínio da adesão terapêutica são claras, o problema
da deficiente adesão ao regime terapêutico está presente sempre que é requerida a
auto administração de medicamentos, independentemente do tipo e da gravidade
da doença em causa ou da acessibilidade aos recursos de saúde (OMS, 2004, p.11).
A deficiente adesão dos doentes aos regimes terapêuticos compromete os esforços dos
estados na melhoria dos indicadores de saúde das populações, aumenta a possibilidade
de se desenvolverem resistências às terapêuticas medicamentosas, constitui um
desperdício de recursos sem ganhos de saúde, aumenta o absentismo ao trabalho, reduz
a qualidade de vida das pessoas, acarreta desequilíbrios psíquicos e emocionais e
descredibiliza a confiança das pessoas nos serviços de saúde (ICN, 2007, p.1;
Henriques, 2006 p.14 e OMS 2004, p.13).
A OE numa tomada de posição sobre investigação em enfermagem refere-se à
necessidade de renovação contínua do corpo de conhecimentos próprio pela via da
investigação e define quatro eixos de investigação prioritários. O segundo desses eixos
refere-se à “educação para a Saúde na aprendizagem de capacidades”, concretamente
Metodologia
75
aspectos de saúde das populações relacionados com a dependência para o auto-cuidado
e a necessidade de cuidados continuados, estilos de vida, qualidade de vida e ambiente
(Ordem Enfermeiros, 2006, p.4).
No exercício das nossas responsabilidades na Unidade de Cuidados Intensivos
Cardíacos (UCIC) do Centro Hospitalar de Coimbra, Entidade Pública Empresarial
(CHC-EPE), constatamos que a insuficiente adesão ao regime terapêutico nos doentes
internados por EAM é um problema recorrente com repercussões graves sobre a saúde,
a sua qualidade de vida, morbilidade e mortalidade evitável, nesse sentido, interrogámo-
nos sobre o fenómeno em si mesmo e como dirigir as intervenções de enfermagem de
modo a potenciar a adesão ao regime terapêutico. Este estudo de investigação que
pretendemos concretizar, é como dissemos uma escolha que decorre da nossa vivência,
mas é também um problema partilhado pela equipa multidisciplinar, comprometida com
melhores cuidados e melhores indicadores de saúde para o doente coronário.
O facto dos trabalhos de investigação no âmbito da saúde interferirem com seres
humanos, geralmente doentes, deve estar presente na mente do investigador, impedindo-
o de iniciar trabalhos cujo âmbito fuja à sua capacidade de resposta profissional ou em
que se prevejam resultados irrelevantes (Martins, 2008, p.64). Os enfermeiros são
reconhecidamente uma parte importante dos recursos disponíveis para melhorar
os indicadores de adesão aos regimes terapêuticos, nesse sentido este estudo pretende
compreender melhor o seu papel nesse âmbito e as estratégias que mobilizam para
prosseguir esse objectivo, assim como a percepção que os doentes têm do trabalho dos
enfermeiros na influência sobre os seus comportamentos de adesão.
Considerados os factos e os elementos anteriormente enunciados, é o momento de
formular a questão de investigação. De acordo com Fortin (1999, p.58), deve ter-se em
consideração a actualidade da questão, o significado e a importância da mesma para a
disciplina, a exequibilidade do projecto, assim como, a sua operacionalização. Assim, a
questão formulada foi a seguinte: Qual o papel do enfermeiro no processo de adesão
ao regime terapêutico proposto à pessoa com história de EAM? A resposta a esta
questão determinará a orientação de todo o processo metodológico que a seguir será
descrito.
76
7 – DESENHO DO ESTUDO
O desenho de investigação é um plano lógico criado pelo investigador, que para além do
intuito de orientar no caminho para chegar à resposta das questões de investigação, tem
por objectivo controlar as potenciais fontes de enviesamento dos resultados. Os
principais elementos do desenho de investigação são o ambiente/meio onde é realizado
o estudo, selecção dos sujeitos, tamanho da amostra, tipo de estudo; estratégias
utilizadas para controlar as variáveis estranhas, os instrumentos de colheita de dados, e
o tratamento dos dados (Fortin, 1999, p.132).
7.1 – TIPO DE ESTUDO
Muitos fenómenos relevantes e de interesse para a enfermagem não se prestam a um
desenho experimental, decorrente da responsabilidade ética que não permite a
manipulação das variáveis independentes que ocorrem naturalmente (Haber e
Lobiondo-Wood, 2001, p.111). Ainda segundo o mesmo autor, o estudo descritivo
exploratório é utilizado para obter informações sobre as características dos sujeitos de
pesquisa, grupos, instituições ou situações, ou ainda, sobre a frequência de ocorrência
de um fenómeno particular quando se sabe pouco sobre o mesmo. Os tipos de variáveis
de interesse podem ser classificados como opiniões, atitudes ou factos. Estes estudos
fazem o levantamento de descrições detalhadas de fenómenos existentes e servem-se
desses dados para justificar condições e práticas actuais ou para introduzir inovações
tendo em vista melhorar os cuidados.
O estudo não experimental do tipo descritivo exploratório, enquadrar-se com o
âmbito do estudo que se pretendemos concretizar. A temática da deficiente adesão
ao regime terapêutico no doente com história de EAM carece ainda de aprofundamento,
de modo a expor as diferentes variáveis e a forma como concorrem para a incidência do
problema. Na verdade, existe um grande deficit de conhecimento acerca dos aspectos
com impacto positivo na adesão ao regime terapêutico na pessoa vítima de EAM e das
Metodologia
77
estratégias capazes de contrariar esta problemática particularmente no que se refere às
responsabilidades dos enfermeiros.
A investigação qualitativa realça os processos e significados que não podem ser
rigorosamente traduzidos em termos de quantidade, intensidade e frequência. Privilegia
o recurso ao testemunho dos sujeitos da investigação, pensamentos, percepções e
sentimentos experimentados para compreender os fenómenos que acontecem em
contexto natural (Ribeiro, 2008, p.65). Será utilizada neste estudo metodologia de
carácter quantitativo e qualitativo de modo a integrar o máximo de informação, que
permita melhorar o alcance e a objectividade das conclusões. Nesse sentido Fortin
(1999, p.324), refere-se ao uso da triangulação de métodos no estudo de conceitos
complexos, como é o caso da temática da adaptação e da promoção da saúde. Na
verdade a “Adesão ao Regime Terapêutico”, tema central deste estudo, decorre da
interacção de um conjunto complexo de variáveis e da integração no comportamento
dos doentes, de hábitos, opções de vida, atitudes e comportamentos, facto que vai ao
encontro da ideia expressa anteriormente por Fortin. Segundo a mesma autora, o uso
dos dois métodos é também uma forma de enriquecimento e complementaridade, em
regra os pontos fortes do método quantitativo são as fragilidades que o método
qualitativo revela.
7.2 – OBJECTIVOS DO ESTUDO
A concretização deste estudo pretende aprofundar o conhecimento no domínio da
adesão ao regime terapêutico proposto às pessoas com história de EAM, particularmente
no que se refere ao papel dos enfermeiros, de que modo desenvolvem o seu trabalho em
torno desta problemática, que estratégias utilizam, que consciência revelam das suas
responsabilidades, como é feita a articulação com a equipa multidisciplinar, que
percepções têm das dificuldades em torno do trabalho na promoção da adesão ao regime
terapêutico. O estudo integra também a percepção crítica dos doentes sobre a forma
como os enfermeiros desenvolvem o seu trabalho e os serviços de saúde em geral
respondem as suas solicitações no âmbito desta problemática. Para o efeito
estabelecemos um conjunto de objectivos que orientarão o desenvolvimento do estudo:
78
Perceber se os enfermeiros reconhecem a existência da problemática da
insuficiente adesão aos regimes terapêuticos e que relevância atribuem ao
fenómeno;
Compreender o entendimento que os enfermeiros têm do seu papel e das suas
responsabilidades no domínio da promoção da adesão ao regime terapêutico;
Identificar as estratégias que os enfermeiros utilizam para melhorar os
indicadores de adesão ao regime terapêutico proposto às pessoas com história de
EAM;
Identificar as principais razões referidas pelas pessoas com história de EAM
para não aderirem ao regime terapêutico proposto;
Conhecer a percepção das pessoas com história de EAM acerca do papel dos
enfermeiros, quanto à tomada de decisão no processo de adesão ao regime
terapêutico proposto;
Identificar quais os aspectos mais frequentemente negligenciados, no processo
de adesão ao regime terapêutico proposto às pessoas com história de EAM.
Conhecer as dificuldades percepcionadas em torno da promoção da adesão ao
regime terapêutico.
7.3 – POPULAÇÃO ALVO E AMOSTRA
A amostragem é o processo de selecção de uma parte da população, designada para
representar a totalidade da população alvo considerada (Haber e Lobiondo-Wood, 2001,
p.143). Nos estudos qualitativos é mais prudente ter uma amostra não probabilística mas
apropriada, do que ter uma amostra probabilística que não o seja. Os métodos
qualitativos dão grande importância ao saber e à experiência das pessoas
seleccionadas para o estudo. É fundamental que os participantes sejam capazes de
testemunhar sobre a sua experiência ou descrever o fenómeno que interessa ao
investigador, o que supõe capacidade para se exprimir e motivação para participar.
Metodologia
79
Assim, neste tipo de estudos é mais importante averiguar se a amostra é susceptível de
fornecer dados significativos, válidos e completos para a compreensão do fenómeno, do
que questionarmo-nos se os dados são ou não representativos da população de onde
provém a amostra. A construção de uma amostra probabilística é um aspecto
secundário na investigação qualitativa (Fortin, 1999, p.156). Ainda de acordo com o
mesmo autor, podem no entanto ser tomadas algumas precauções para salvaguardar a
“representatividade” do grupo de participantes, através da “técnica de amostragem
teórica” que assegure que estão representadas diferentes sensibilidades (idade dos
sujeitos, nível socioeconómico, e outros). Neste âmbito Guerra (2006, p.48), refere que
não se trata de interrogar indivíduos cujas respostas serão somadas, mas
informadores susceptíveis de comunicar as suas percepções da realidade através da
experiência vivida, não se procura nem a representatividade estatística, nem as
regularidades, mas antes uma representação social e a diversidade dos fenómenos.
Este estudo é dirigido a doentes com internamento anterior no serviço de cardiologia do
CHC-EPE, aos quais tenha sido diagnosticado EAM. A escolha desta instituição para a
concretização do estudo decorre da facilidade de acesso aos sujeitos objecto de
investigação. A amostra utilizada foi de carácter não probabilístico, seleccionada
por conveniência. Houve no entanto a preocupação de integrar participantes com
diferentes características sócio-demográficas. A amostra de doentes utilizada foi de
22 participantes. Complementarmente foi também utilizada uma amostra de
enfermeiros do serviço de cardiologia do CHC – EPE, que regularmente contactam no
seu exercício profissional com estes doentes. A amostra de enfermeiros utilizada
neste estudo foi de 18 participantes. Relativamente à amostra de enfermeiros incluída
no estudo foi tida em consideração a diversidade de anos de experiência profissional.
A definição do número de participantes a incluir num estudo qualitativo deve ser
determinado em função de alguns factores, nomeadamente, o estádio de conhecimento
do objecto, estatuto da pesquisa (exploratória, analítica, etc.), universo de análise e
ainda em função dos recursos de que o investigador dispõe (Guerra, 2006, p.47). Ainda
de acordo com a mesma autora, o critério da saturação empírica de dados, pode
também ajudar na definição do tamanho da amostra, este indica o momento a partir do
qual os dados fornecidos pelos participantes deixam de acrescentar informação
relevante, isto é, no confronto sucessivo com a informação já recolhida nenhum
80
conceito ou propriedade nova emerge dos testemunhos dos participantes. A autora
refere no entanto que este conceito é um critério de cientificidade duvidosa, de difícil
definição e pouco controlo científico. Neste âmbito, refere ainda que o critério da
saturação empírica de dados apenas necessita ser garantido quando for pretendida
a generalização dos resultados à população de onde provém a amostra (Guerra,
2006, p.40). Atendo ao exposto fixou-se a amostra referida anteriormente.
7.4 – INTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
No âmbito de um estudo de carácter exploratório descritivo, onde o investigador “visa
acumular a maior quantidade de informações possíveis, a fim de abarcar os diversos
aspectos do fenómeno”, devem ser escolhidos instrumentos de recolha de dados como a
observação, as entrevistas não estruturadas ou semi-estruturadas, questionários, o
material de registo e outros (Fortin, 1999, p.240). Não existe um método “gold
standard” para avaliar os comportamentos de adesão ao regime terapêutico, facto
que constitui uma das principais barreiras à investigação. Existem no entanto, em
teoria várias estratégias para a avaliação o grau de adesão ao regime terapêutico
prescrito, contudo, faltam instrumentos validados que permitam expor a real dimensão
do problema na sua dimensão qualitativa e na quantitativa para as diferentes entidades
patológicas (Maia, 2008, p. 42 e Correia, 2007, p. 44). Resumindo, uma abordagem que
combine vários métodos como o auto-relato e medidas objectivas razoáveis é o actual
estado da arte na medição da adesão ao regime terapêutico, (OMS, citada por Machado,
2009, p.27).
A escolha entre a entrevista e o questionário depende do objectivo do estudo, do nível
de conhecimentos do fenómeno e das variáveis em estudo, das características dos
sujeitos da investigação, assim como, do tempo de que se dispõe e do orçamento
disponível para concretizar a recolha de dados (Fortin, 1999, p.245).
Foram utilizados dois instrumentos de recolha de dados. Um guião de entrevista
dirigida a pessoas com história de EAM e com internamento anterior no Serviço de
Cardiologia do CHC-EPE, e ainda um questionário dirigido a enfermeiros do serviço
de cardiologia da referida instituição que no seu exercício profissional regular prestem
Metodologia
81
cuidados a estes doentes. A entrevista semi-estruturada é utilizada principalmente nos
estudos exploratórios, quando o investigador quer compreender a significação dada a
um acontecimento ou a um fenómeno na perspectiva dos participantes (Fortin, 1999,
p.247). A escolha da entrevista para recolha de dados junto dos doentes, pretende
também ultrapassar a limitação das dificuldades de compreensão e de expressão que
alguns doentes com baixo nível de formação evidenciavam. A utilização de duas fontes
de dados (doentes e enfermeiros) e ainda de dois instrumentos de colheita permitirá
fazer triangulação de dados e desse modo possibilitar a confrontação de percepções.
Entrevista semi-estruturada
A entrevista semi-estruturada, deve ser usada “(…)quando o pesquisador tem uma lista
de tópicos que devem ser cobertos.” (Polit, Beck e Hungler, 2004, p.252). Para o feito
deve utilizar-se um guião de entrevista que garanta uniformidade na condução da
entrevista, assim como, assegurar que todos os conteúdos temáticos pretendidos são
abordados, sem prejuízo da livre expressão dos participantes e do prosseguimento dos
objectivos da investigação. Quanto menor for a intervenção do investigador maior será a
riqueza do material recolhido, dado que a lógica e a racionalidade do informante
emergirá mais intacta e menos influenciada pelas perguntas (Guerra, 2006, p.51).
De modo a caracterizar o fenómeno da adesão ao regime terapêutico nas suas diferentes
componentes, e expor as percepções dos doentes com história anterior de EAM neste
processo, foi empregue uma entrevista semi-estruturada, composta por questões abertas
e questões fechadas. Os 22 doentes com diagnóstico de EAM foram seleccionados
para o estudo durante o internamento, embora só lhes tenha sido comunicado essa
intenção e pedida colaboração no momento da entrevista, pretendemos deste modo
privilegiar o testemunho autêntico. Esse é de resto um obstáculo à investigação no
âmbito da adesão ao regime terapêutico, como referem Delgado e Lima (2001, p.84),
“O desejo de agradar ou de evitar a desaprovação leva a que os doentes enviesem
frequentemente as suas respostas para se mostrarem a eles próprios e sobretudo aos
outros, como mais aderentes do que realmente são”. As entrevistas foram realizadas
cerca de 3 meses após a alta, no momento da consulta de “follow-up” de EAM,
assegurando assim um período razoável após o internamento. Pretende-se deste modo,
82
aferir a evolução de cada doente no âmbito da adesão ao regime terapêutico desde o
momento da alta, a percepção com que ficaram do papel dos enfermeiros nesse
processo, assim como, o balanço das tomadas de decisão que fizeram desde então
(Anexo I). As entrevistas decorreram num ambiente reservado de modo a prevenir
qualquer constrangimento do testemunho e salvaguardar privacidade da pessoa.
O guião da entrevista é composto por sete perguntas abertas e vinte seis perguntas
fechadas. Complementarmente foi também aplicada uma escala de Medida de Adesão
ao Tratamento Medicamentoso, desenvolvida por Delgado e Lima (2001) a partir da
escala de Morisky, Green e Levine (1986). Relativamente à orientação das questões do
guião da entrevista, a sua elaboração decorre dos objectivos que o estudo pretende
concretizar, da evidência científica disponível e ainda da nossa experiência com estes
doentes. O guião está estruturado em tês domínios principais: caracterização sócio
demográfica, antecedentes pessoais de saúde e finalmente a percepção global sobre o
processo de adesão ao regime terapêutico na pessoa com história de EAM.
Relativamente a este último domínio destacam-se as seguintes áreas temáticas:
(1) Percepção da condição de saúde individual – os aspectos relacionados com as
representações da doença, assente em crenças e valores e a percepção de ameaça
ou vulnerabilidade parece orientar as pessoas na tomada de decisão, na procura
de ajuda e favorecer a adesão ao regime terapêutico.
(2) Preparação para a alta no âmbito das responsabilidades dos enfermeiros – os
enfermeiros conjuntamente com os doentes desenvolve um trabalho de parceria
e são os grandes protagonistas do processo de adesão ao regime terapêutico. O
nível de envolvência e a qualidade do relacionamento que se estabelece durante
o internamento coloca os doentes numa posição privilegiada para avaliar o
desempenho dos enfermeiros. Neste âmbito, são explorados aspectos
relacionados com a qualidade da informação prestada e com as estratégias
implementadas pelos enfermeiros no âmbito da promoção da adesão ao regime
terapêutico.
(3) Dificuldades percepcionadas quanto ao suporte assistencial assegurado pelos
serviços de saúde – o regime terapêutico para a pessoa com história de EAM,
necessitam de orientação específica e cuidados de suporte regulares ao longo do
Metodologia
83
tempo. As vivencias do doente neste âmbito possibilitaram expor críticas e um
conjunto de deficiências da rede de cuidados de suporte a estes doentes.
O regime terapêutico medicamentoso é uma componente muito importante do conjunto
de cuidados prescrito ao doente com história de EAM no momento da alta. Nesse
sentido aplicamos uma escala de Medida de Adesão aos Tratamentos adaptada a partir
da escala de Morisky, Green e Levine (1986), da autoria de Delgado e Lima (2001,
p.81) traduzida, testada e validada em Portugal. Trata-se de uma escala do tipo likert,
que integra sete questões sobre a percepção do doente acerca do cumprimento do
regime terapêutico medicamentoso prescrito, que segundo os autores da mesma
demonstrou boas qualidades psicométricas e flexibilidade na sua aplicação em diversos
contextos clínicos. Algumas das vantagens referidas por estes autores acerca da
utilização deste instrumento de avaliação da adesão aos tratamentos medicamentosos
relativamente a outros que integram uma perspectiva dicotómica (sim/não), reside na
capacidade da escala em “captar e discriminar melhor as subtilezas das diversas
situações comportamentais dos sujeitos quanto à sua adesão aos tratamentos.” O nível
de adesão obtém-se pela soma dos valores de cada item, dividindo pelo número de itens.
O ponto de rotura a partir do qual o doente é considerado aderente é os 75% do
cumprimento do regime terapêutico proposto (Delgado e Lima, 2001, p.88).
Questionário
O questionário é um método de colheita de dados que requer facilidade na expressão
escrita por parte dos sujeitos da investigação, embora não permita obter informação tão
aprofundada como na entrevista. Este instrumento de colheita de dados possibilita ao
investigador um melhor controlo da informação a recolher, mais rigor e menor
probabilidade de enviesamento das respostas (Fortin, 1999, p.249). Ainda segundo o
mesmo autor, o questionário poderá suscitar maior segurança aos sujeitos inquiridos
quanto ao anonimato do seu testemunho. Estes factos fundamentaram a opção pela
utilização do questionário no levantamento de informação junto dos enfermeiros, acerca
do seu papel no âmbito da problemática da adesão ao regime terapêutico proposto à
pessoa com história de EAM (Anexo II). O questionário elaborado para a recolha de
informação junto dos enfermeiros participantes neste estudo, é composto por quatro
84
questões abertas e doze questões fechadas, que integram três domínios de informação
específicos: perspectiva sobre o seu papel e as suas responsabilidades neste domínio,
percepção quanto à dimensão da problemática, preparação que dispõe e finalmente o
modo como desenvolvem o seu trabalho e as estratégias que utilizam em torno da
promoção da adesão ao regime terapêutico.
7.5 – TRATAMENTO DOS DADOS
Foi utilizada metodologia quantitativa e de metodologia qualitativa para análise e
tratamento dos dados recolhidos. Os procedimentos estatísticos são usados para
estruturar, organizar e dar sentido aos dados recolhidos. A descrição e o resumo desses
dados são denominados estatística descritiva. A estatística inferencial compreende um
conjunto de técnicas, assentes na teoria das probabilidades, que permitem construir
proposições de carácter probabilístico acerca da população, partindo dos dados
observados na amostra utilizada, isto é, permitem com determinado grau de
probabilidade, generalizar à população certas conclusões, por comparação com os
resultados amostrais (Haber e Lobiondo-Wood, 2001, p.212). O uso de estatística
inferencial com amostras de conveniência é comum em pesquisa clínica, no entanto a
interpretação e generalização dos resultados deve restringir-se apenas à amostra
utilizada (Fortin, 1999, p.276 e Haber e Lobiondo-Wood, 2001, p.213). Atendendo ao
tamanho da amostra utilizada far-se-á recurso apenas à estatística descritiva. Serão
utilizadas medidas de tendência central (moda, média e a mediana) e de variabilidade
(distribuição de frequências) para caracterizar alguns aspectos quantitativos do estudo.
O registo áudio das entrevistas foi transcrito na íntegra e realizada análise de conteúdo
dos dados qualitativos. Existem vários paradigmas metodológicas para fazer análise de
conteúdo, será adoptada a proposta de Poirier e Valladon citados por Guerra (2006,
p.68), que estabelece a realização de 15 a 20 entrevistas que deverão ser transcritas
fielmente, com discurso inteligível e pontuação. Este processo compreende três etapas
sequenciais:
Metodologia
85
(a) Leitura das entrevistas. Deverá fazer-se uma leitura aprofundada, identificando
e assinalando aspectos do discurso importantes para a compreensão do
fenómeno objecto do estudo, temas novos que emergem dos testemunhos,
surpresas de associação e articulação entre factos, ideias que não possibilitem
apreensão imediata do seu significado e que mereçam análise posterior. As
margens do corpo das entrevistas deverão ser utilizadas para fazer resumos e
anotações dos aspectos relevantes, à esquerda a análise temática e à direita as
relações de problemática identificadas. O quadro conceptual elaborado
previamente e o guião de entrevista ajuda neste processo inicial de exploração e
identificação de factos relevantes para a compreensão do fenómeno.
(b) Construção das sinopses. As sinopses são sínteses dos discursos que contêm a
mensagem essencial da entrevista e são fiéis, inclusive na linguagem que os
entrevistados utilizaram. Com base na leitura inicial, constroem-se então as
sinopses das entrevistas. Utilizam-se para o efeito grelhas verticais cuja primeira
coluna apresenta as grandes temáticas do guião de entrevista e a segunda coluna
os excertos do discurso que aludem às referidas temáticas. As sinopses têm
como objectivo principal reduzir a quantidade de material a trabalhar
identificando o corpus central da entrevista, conhecer as diferentes componentes
da totalidade do discurso dos participantes, facilitar a comparação e ter
percepção da saturação das entrevistas.
(c) Análise descritiva: análise tipológica, categorial e de temática aprofundada.
Esta fase do tratamento da informação prevê a construção de tipologias, isto é,
deve então seleccionar-se e apresentar-se a informação agrupada por afinidades
e classifica-la segundo critérios pertinentes de modo a expor as relações entre as
variáveis. Na elaboração do relatório é comum ilustrar as tipologias por
semelhança com excertos da entrevista. Esta ilustração pretende fornecer uma
explicação ao leitor acerca da forma como se construíram as tipologias,
comprovando as opções feitas com a apresentação das fontes (discurso dos
sujeitos). A análise categorial consiste na identificação das variáveis cuja
dinâmica é potencialmente explicativa de um fenómeno que queremos explicar.
Trata-se de um domínio significativo ou classe que junta sob uma noção geral,
elementos do discurso. Para além da análise das tipologias e da análise
categorial, é frequente a realização de uma exploração suplementar para tratar
86
em profundidade os aspectos problemáticos centrais das entrevistas, faz-se então
uma análise de conteúdo temática com recurso à identificação e à contagem de
categorias e subcategorias.
(d) Análise interpretativa. As análises anteriores pretendem expor e descrever o
que foi dito pelos entrevistados de forma estruturada e organizada. De acordo
com os autores desta proposta de análise de conteúdo, compete ao investigador
nesta fase interpretar os vários domínios do fenómeno através da elaboração de
proposições teóricas potencialmente explicativas, sustentadas no referencial de
interrogações concebido previamente e no material empírico recolhido que
possibilitem a continuação do estudo do fenómeno posteriormente através de
outras metodologias (Bertaux citado por Guerra, 2006, p. 84). Esta etapa
comporta algum risco, exige um elevado nível de abstracção e exigência de
forma a cruzar e interpretar a diversidade de informação até aqui tratada de
forma parcelar. Trata-se de um exercício de pensamento crítico e de controlo,
relacionando o referencial teórico com o empirismo.
Em resumo, a análise de conteúdo é uma técnica que mediante uma série de
procedimentos organizados e sistemáticos possibilita descrever os fenómenos (nível
descritivo), descobrir as suas co-variações ou associações (nível correlacional que é de
grosso modo o objectivo da análise categorial) e ainda descobrir as relações de
causalidade e interpretação das diferentes dinâmicas do fenómeno em estudo (nível
interpretativo que é de grosso modo correspondente à análise tipológica) (Guerra, 2006,
p.69).
7.6 – ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA INVESTIGAÇÃO
A ética na investigação em enfermagem, refere-se ao modo como é conduzido todo
processo de pesquisa, nomeadamente, quanto à qualidade das técnicas para prosseguir
os objectivos da investigação, no que respeita ao cumprimento de obrigações
profissionais, morais e legais para com os sujeitos do estudo, o seu enquadramento com
Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE), com o seu Código
Metodologia
87
Deontológico e com os princípios éticos universais (da autonomia, da beneficência, de
não maleficência e da justiça), assim como, a validade e a pertinência dos resultados
para o desenvolvimento do conhecimento (Nunes, 2005, p.1).
O desenvolvimento do estudo foi sempre orientado na salvaguardar dos aspectos de
ordem ética e legal, nomeadamente a participação voluntária, o anonimato dos
participantes, confidencialidade dos dados e sua destruição depois de cumpridas a sua
finalidade. Foi também dirigido um requerimento ao Presidente do Conselho de
Administração do CHC, EPE solicitando autorização para a concretização do presente
estudo, que viria a ser diferida a 04 de Março de 2010 (Anexo III).
Complementarmente foi obtido consentimento informado, livre e esclarecido
previamente para o levantamento de dados, quer no que respeita à entrevista junto das
pessoas com história de EAM, assim como, na aplicação dos questionários aos
enfermeiros do Serviço de Cardiologia do CHC – EPE.
88
PARTE III – ESTUDO EMPÍRICO
A Investigação em Enfermagem é um processo sistemático, científico e rigoroso que
procura desenvolver o conhecimento da disciplina através de um quadro conceptual que
forneça referenciais para a prática baseada na evidência ciêntifica, clarifique a natureza
dos cuidados e oriente os seus valores, determine as esferas que lhe são próprias e os
seus alvos de intervenção em função daquilo que é a necessidade social dos cuidados de
enfermagem (OE, 2006, p.1).
Concluído o projecto de investigação, feita a reflexão sobre a forma de o
operacionalizar e realizadas as formalidades necessárias à autorização para aplicação
dos instrumentos de colheita de dados conferida por deliberação do Conselho de
Administração do Centro Hospitalar de Coimbra – EPE, a 04, de Março de 2010 (Anexo
III), ficaram reunidas as condições para se iniciar o levantamento de dados. Foi então
aplicado um pré-teste a quatro sujeitos participantes da população alvo dos doentes e
dos enfermeiros, que determinou a reformulação de algumas questões do Guião da
Entrevista e do Questionário apresentado no projecto inicial, de modo a melhorar a
sensibilidade dos instrumentos de colheita de dados. De acordo com o enunciado e
tendo por base Polit, Beck e Hungler (2004, p.255), os instrumentos elaborados para a
realização do estudo devem ser discutidos com alguns colaboradores e pré-testados
numa pequena amostra de participantes. Deste modo é possível aferir da clareza e da
imparcialidade das questões, assim como, prever se o instrumento de recolha de dados
permite gerar a informação desejada para os objectivos do estudo.
O levantamento de dados junto dos doentes desenvolveu-se de forma intermitente entre
Junho e Outubro de 2010, condicionado pelos constrangimentos de ser desenvolvido no
momento da consulta “follow up” de EAM, onde foi difícil conciliar a disponibilidade
dos utentes sem perturbar o andamento das consultas e de disponibilidade de instalações
que conferissem privacidade para a entrevista. Verificados os critérios de
admissibilidade dos utentes para estudo e salvaguardados os aspectos éticos, foram
realizadas e validadas vinte e duas entrevistas com recurso a registo áudio e posterior
transcrição escrita. A aplicação do questionário junto dos enfermeiros das valências da
Estudo Empírico
89
UCIC, enfermaria de cardiologia e sector de cardiologia de intervenção do CHC – EPE,
decorreu sem constrangimentos no período de Junho a Setembro de 2010. Foram
realizados dezoito questionários. Os dois instrumentos de colheita de dados utilizados
permitiram a obtenção de dados quantitativos e qualitativos. Os dados de natureza
qualitativa foram tratados com recurso à análise de conteúdo, de acordo com a proposta
metodológica de Poirier e Valladon (1983), enquanto os dados quantitativos foram
objecto de tratamento estatístico com recurso à aplicação informática Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.
8 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
No seguimento da metodologia prevista para o desenvolvimento do estudo tendo em
vista a resposta ao problema de investigação e aos objectivos estabelecidos, surge agora
o momento de apresentar e analisar os dados criticamente. A informação obtida decorre
de dois instrumentos de colheita de dados distintos, assim, de modo a conferir maior
alcance e sustentação à interpretação de resultados será feita triangulação de dados e de
métodos que permitam expor confrontação de percepções e resultados. Fazer-se-á
também recurso à apresentação de gráficos e tabelas que permitam tornar mais
expressiva a discussão dos dados. Seguidamente apresentamos uma breve caracte-
rização dos Sujeitos participantes no estudo.
8.1 – CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA E SÓCIO-DEMOGRÁFICA DOS SUJEITOS
PARTICIPANTES
O presente estudo foi dirigido a um conjunto de sujeitos participantes seleccionados por
conveniência a partir da população alvo de doentes e de enfermeiros, houve no entanto,
a preocupação de integrar doentes com diferentes características clínicas e sócio-
demográficas e enfermeiros com diferentes tempos de experiência profissional.
90
Amostra de doentes participantes
Foram incluídos neste estudo 22 doentes com história médica de EAM e internamento
anterior no Serviço de Cardiologia do CHC - EPE, dos quais 59,1% referiram ter tido
apenas um enfarte, enquanto 22,7%, 13,6% e 4,5% referiram ter tido respectivamente
dois e três ou mais EAM. A média de dias de internamento dos utentes seleccionados
para a amostra relativamente ao último episódio de internamento foi de apenas 4,59
dias.
Tabela 1 - Número de EAM diagnosticado vs Sexodos doentes inquiridos
SexoTotal
Masculino Feminino
Quantos Enfartes já teve?
Teve 1 EAM Count 11 2 13
% of Total 50,0% 9,1% 59,1%
Teve 2 EAM Count 4 1 5
% of Total 18,2% 4,5% 22,7%
Teve 3 ou mais EAM Count 4 0 4
% of Total 18,2% ,0% 18,2%
Total Count 19 3 22
% of Total 86,4% 13,6% 100,0%
Relativamente ao número de episódios de internamento no serviço, 63,6% dos doentes
inquiridos tiveram apenas um episódio de internamento, 18,2% haviam tido dois,
finalmente 13,6% e 4,5% referiram ter tido respectivamente três e quatro ou mais
episódios de internamento. A distribuição da amostra revela também que 86,4% dos
doentes eram do sexo masculino, contra apenas 13,6% da amostra do sexo feminino.
Tabela 2 – Episódios de internamento vs Sexodo doente inquirido
SexoTotal
Masculino Feminino
Quantas vezes jáesteve internado no
Serviço deCardiologia do CHC?
Apenas um Episódiode Internamento
Count 12 2 14
% of Total 54,5% 9,1% 63,6%
Dois Episódios deInternamento
Count 4 0 4
% of Total 18,2% ,0% 18,2%
Três Episódio deInternamento
Count 2 1 3
% of Total 9,1% 4,5% 13,6%
Quatro Episódios deInternamento ou mais
Count 1 0 1
% of Total 4,5% ,0% 4,5%
Total Count 19 3 22
% of Total 86,4% 13,6% 100,0%
Estudo Empírico
91
A distribuição da amostra quanto à faixa etária revela dominância dos indivíduos entre
os 50 aos 60 anos, seguido da idade compreendida entre os 60 e os 70 anos. A média de
idades foi de 58,77 anos. O doente mais jovem e o mais idoso da amostra tinham
respectivamente 34 anos e 80 anos. Embora a amostra utilizada seja de carácter não
probabilístico, esta reflecte aproximadamente a situação epidemiológica da doença
coronária isquémica verificada em Portugal, em que o sexo masculino apresenta a maior
taxa de prevalência da doença em todas as faixas etárias relativamente ao sexo
feminino, assim como no que respeita à incidência da doença que é mais marcada entre
os 50 e os 70 anos de idade (INE, 2010, p.1).
Relativamente ao estado civil dos Indivíduos que compõem a amostra podemos
constatar que 73,3% são Casados ou vivem em União de Facto, enquanto divorciados,
separados e viúvos representam respectivamente 13,6%, 4,5% e 4,5% da amostra.
Relativamente à situação familiar em que os Indivíduos da amostra estão inseridos,
13,6% vivem em ambiente de família alargada, 72,7% vivem em núcleo familiar
restrito, enquanto 13,6% vivem sozinhos. Quanto ao grau de habilitações literárias dos
doentes inquiridos a amostra está dispersa, integrando sujeitos com diferentes graus de
habilitações desde a condição de iletrado até ao grau de licenciado como ilustra o
gráfico 2.
Gráfico 1 – Número de EAM referido pelos doentes vs Idade por faixa etária
92
Gráfico 2 - Habilitações literárias dos doentes inquiridos
A amostra é maioritariamente constituída por pessoas profissionalmente activas,
distribuídas por diversas categorias profissionais de acordo com a Classificação
Nacional de Profissões (1994), Quadros Superiores com 9,1%, Especialistas das
Profissões Intelectuais com 18,18%, Agricultores e Trabalhadores Não Qualificados da
Agricultura e das Pescas com 13,64%, Operadores de Instalações e Máquinas e
Trabalhadores da Montagem com 9,09%, Pessoal dos Serviços e Vendedores com
18,18%, Pessoal Administrativo e Similares com 9,09% e outros.
Gráfico 3 – Categoria Profissional dos doentes inquiridos
Relativamente à situação financeira dos
“Suficiente para as N
Problemática”, enquanto que a
assumem ter uma “Situação Financeira C
cardiovascular está estritamente
todos os indivíduos tinham factores de risco.
incidência dos factores de risco cardiovascular
Amostra de enfermeiros participantes
Os enfermeiros participantes
eram do sexo feminino. Relativamente ao número de anos de experiência
amostraestádispersacomoevidenciaográfico
Gráfico 5 – Distribuição da e
0
5
10
15
20
25
21
N.º
de
do
en
tes
Gráfico 4 -
Relativamente à situação financeira dos doentes inquiridos apenas 27,3% refere ter o
para as Necessidades”, 13,06% admite que a situação financeira é “
Problemática”, enquanto que apenas 18,02% dos doentes da amostra
assumem ter uma “Situação Financeira Confortável”. A presença de factores de risco
cardiovascular está estritamente relacionada com a incidência do EAM, verificou
indivíduos tinham factores de risco. O Gráfico 4 traduz a distribuição
incidência dos factores de risco cardiovascular dos doentes inquiridos.
Amostra de enfermeiros participantes
Os enfermeiros participantes no estudo foram 18, sendo que 22,22% eram do sexo masculino e 77,78%
. Relativamente ao número de anos de experiência profissional, a distribuição da
estádispersacomoevidenciaográfico5.
Distribuição da experiencia profissional dos enfermeiros
9 913 12
22
6
- Distribuição da incidência de factores de risco nosdoentes inquiridos
Estudo Empírico
93
dos apenas 27,3% refere ter o
ecessidades”, 13,06% admite que a situação financeira é “Muito
da amostra seleccionada
A presença de factores de risco
incidência do EAM, verificou-se que
traduz a distribuição da
inquiridos.
do sexo masculino e 77,78%
profissional, a distribuição da
xperiencia profissional dos enfermeiros
17
Distribuição da incidência de factores de risco nos
94
8.2 – O INCUMPRIMENTO DO REGIME TERAPÊUTICO
Quando questionados os doentes relativamente ao cumprimento do regime terapêutico
proposto nos seguintes termos: “Tem cumprido as recomendações propostas pela
equipa de saúde?”. A percepção dominante evidência que a integração do regime
terapêutico nos hábitos de vida destes doentes é assumida de forma intermitente. Se
considerarmos os 75% do cumprimento do regime terapêutico proposto, como ponto de
ruptura acima do qual os doentes são considerados aderentes (Delgado e Lima, 2001,
p.81), constatamos que 36,37% são não aderentes (inclui os doentes que responderam
“Raramente”, “Por Vezes” e “Com Frequência”), os restantes 63,64% são aderentes
(inclui os doentes que responderam “Quase Sempre” e “Sempre”) (Gráfico 6).
Gráfico 6 – Percepção dos doentes quanto ao cumprimento do regime terapêuticoproposto pela equipa de saúde.
A percepção dos enfermeiros inquiridos sobre o nível de incumprimento do regime
terapêutico proposto ao doente com história de EAM (Gráfico 7), quando questionados
nos seguintes termos: “Da sua experiência qual é a sua percepção acerca da
frequência de incumprimento do regime terapêutico proposto ao doente com
história EAM?”. Os resultados indicam que a não adesão ao regime terapêutico é
“Frequente” – 50%, “Ocorre por Vezes” – 44,4% e “Muito Frequente” em 5,6%. A
percepção dos enfermeiros e dos doentes quanto à dimensão da incidência da
problemática exprime tendências diferentes como podemos constatar pelos gráficos 6 e
7.
Estudo Empírico
95
Gráfico7 – Percepção dos enfermeiros acerca do incumprimento do regime terapêutico
A dificuldade em estimar a dimensão do incumprimento dos regimes terapêuticos
através de um instrumento de recolha de dados capaz de gerar indicadores quantitativos
e qualitativos fiáveis é uma das limitações reconhecidas para a abordagem desta
problemática, como referem Machado (2009, p.1), Delgado e Lima (2001, p.81), Maia
(2008, p.42) e Correia (2007, p.44). Existe evidência de que os profissionais de saúde
tendem por um lado a subestimar o problema do incumprimento dos regimes
terapêuticos, considerando os doentes mais cumpridores do que eles na realidade são
(OMS, 2004, p.4 e ainda Turk e Meichenbaum citados por Joyce-Moniz e Marros, 2005,
p.197), por outro, a considerar a falta de adesão aos regimes terapêuticos como
decorrente de esquecimentos, o que nem sempre corresponde à verdade (Figueira, 2008,
p.41). Outra dificuldade refere-se à falta de autenticidade nos testemunhos dos doentes,
quando questionados acerca do cumprimento do regime terapêutico tendem a deixar
uma boa impressão acerca do seu desempenho para não desapontar os profissionais de
saúde Correia (2007, p.45) e Delgado e Lima (2001, p.84).
Os vários autores apresentam opiniões convergentes quanto à incidência do problema
do incumprimento do regime terapêutico prescrito nos doentes crónicos, estima-se que
seja na ordem dos 50% (Delgado e Lima, 2001, p.82; Franco, 2007, p.19; Maia, 2008,
p.42 e OMS, 2004, p.7). Neste âmbito, também é reconhecido que na fase inicial do
regime terapêutico os níveis de adesão tendem a ser elevados podendo chegar aos 90%,
sendo que, com o decorrer do processo particularmente com o desaparecimento dos
96
sintomas, o sentimento de ameaça desaparece facto que tende a tornar o ser humano
menos metódico no cumprimento do regime terapêutico, momento em que as taxas de
cumprimento baixam até aos 50% (Silva, 2010, p.140). Em Portugal não existe
indicadores globais da adesão aos regimes terapêuticos, existem apenas alguns
estudos parcelares, no entanto, é plausível pensar que a incidência do problema será
semelhante à generalidade dos estudos desenvolvidos em outros países (Delgado e
Lima, 2001, p.83).
A adesão ao regime terapêutico é um comportamento multidimensional complexo e
difícil de objectivar, o actual estado da arte recomenda que se utilizem instrumentos
de recolha de dados que combinem vários métodos como o auto-relato, controlo de
receituário, assiduidade às consultas, controlo laboratorial de marcadores bioquímicos e
outros (OMS, citada por Machado (2009, p.27). De modo a contornar estas dificuldades
e estimar de forma minimamente realista a dimensão do problema na amostra utilizada,
foram incluídas várias questões nos dois instrumentos de colheita de dados, que agora
possibilitam fazer triangulação de dados.
Apesar do esclarecimento prévio quanto aos propósitos da entrevista, foi notório em
alguns doentes o desejo de deixar uma boa impressão acerca do seu desempenho
quanto ao cumprimento do regime terapêutico, o que não era coerente com o
conjunto dos indicadores globais obtidos durante a entrevista. Um exemplo notório
deste facto foram os sujeitos relativos às entrevistas n.º 10,15 e 21, com história de
múltiplos EAM (três ou mais) que referiram cumprir o regime terapêutico “Quase
Sempre”. Esta dificuldade também é relatada por Delgado e Lima (2001, p.84), no
seguintes termos: “desejo de agradar ou de evitar a desaprovação, leva a que os
doentes enviesem frequentemente as suas respostas para se mostrarem a eles próprios e
sobretudo aos outros, como mais aderentes do que realmente são.”.
A dificuldade de investigar esta problemática baseada no auto-relato é também referida
por Joyce-Moniz e Barros, citados por Correia (2007, p.45), nos seguintes termos:
“muitos doentes não têm coragem para afirmar a sua não adesão ao tratamento, e só
por observação das suas atitudes de evitamento ou de recusa concreta desse tratamento
é que os cuidadores podem aperceber-se das suas verdadeiras significações.”.
Estudo Empírico
97
Os profissionais de saúde devem estar atentos ao discurso dos doentes, uma vez que é
através desse discurso que se compreendem as representações sobre as doenças e os
comportamentos de saúde (Helman citado por Correia, 2007, p.118). O nível de
conhecimento sobre o problema de saúde e a forma de tratamento demonstraram
favorecer a adesão ao regime terapêutico (Araújo e Garcia citados por Silva, 2010,
p.96). As significações sobre a doença conduzem os doentes às significações de
confronto com a doença, isto é, as primeiras implicam necessariamente as segundas e
são estas que vão regular a vivência da doença e a adesão eventual ao regime
terapêutico proposto (Joyce-Moniz e Barros, 2005, p.70). Neste sentido Figueiras (2008,
p.39) refere que:
“…os indivíduos actuam como cientistas «leigos» na construção das suas
representações de doença que podem constituir uma ameaça, por outro lado, estas
representações geram objectivos para a autogestão da situação e orientam os
procedimentos para a acção e para a avaliação dessa mesma acção.”
No seguimento das ideias anteriormente desenvolvidas é oportuno explorar a questão
que foi colocada aos utentes nos seguintes termos: “Como define EAM?”. O discurso
produzido pelos utentes acerca desta questão é diversificado quanto ao seu conteúdo
temático e encerra representações muito pessoais sobre a percepção da doença. Na
perspectiva de melhorar o alcance da sua compreensão irá proceder-se à sua análise
suportada no modelo do “Senso-Comum da Doença” de Leventhal, et al. (1984),
(Tabela 3). O referido modelo sugere que o estudo das representações sobre a doença
seja operacionalizado através de cinco atributos: a identidade da doença – sinais e
sintomas associados de acordo com o discurso produzido. As causas da doença e
formas de a prevenir; as consequências percepcionadas – decorrem das crenças sobre
os efeitos esperados, sequelas ou severidade da doença na vida destes utentes (ao nível
físico, psicológico e social). A duração e evolução no tempo do processo de doença
(reconhecimento do processo como agudo, crónico ou cíclico/episódico). A percepção
quanto à controlabilidade/cura da doença – refere-se às representações de confronto
com a doença, tratamento/recuperação ou adaptação ao processo, isto é, crença de que a
doença pode ser tratada ou não, e se as consequências da doença podem ser controladas
pelo próprio ou por outros (Figueiras, 2008, p.38).
98
Na perspectiva de Pereira (2000, p.5), a experiência de um EAM é semelhante à
confrontação com um acontecimento traumático, idêntico a qualquer situação de
perda ou crise vital na vida das pessoas. Esta experiência sintomática exuberante
poderá contribuir para a percepção de gravidade, essa consciência é notória nos seus
testemunhos, são inclusive usadas expressões de grande emotividade e dramatismo:
Situação muito grave.” - E3,7,12,17 e 19; “Podia ter morrido.” – E3; “É o fim da vida
de uma pessoa.” – E6; “Estive à beira da morte.” – E5; “Experiência terrível.” – E6 e
19; “É uma doença perigosa.” – E13,17 e 19, “Fiquei arrasado” – E7. A carga emotiva
Tabela 3 – Representações dos doentes sobre EAM
Categorias Aspectos verbalizadosUnidades deEnumeração
Frequência
Sinais eSintomas
“Dor muito forte”“Aperto no peito”“Dor que parece esmagar-nos”“Sensação de esmagamento nopeito”“Suores frios”“Mal-estar”“Vómitos”“Falta de ar”
E: 1,2,5,11,13,16,19,20, 21E: 3,4,7,10,15E: 19E: 21
E: 4,7,13,17E: 4,9E: 3,17,19E: 2,5,6,15,17
9511
4235
Percepção deGravidade
“Situação muito grave”“É o fim da vida de uma pessoa”“Coisa muito má”“É o limite”“Experiência terrível”“Estive à beira da morte”“Leva à morte”
“É uma doença perigosa”“Podia ter morrido”“Fiquei arrasado”
E: 3,7,12,17,19E: 6E: 2,21E: 6E: 6,19E: 5E: 12,15E: 13,17,19E: 3E: 7
5121212311
Identificaçãodas causas
“Gordura no sangue”“Sangue gordo”“Gordura acumulada nasartérias”“Sangue fraco”
“Excesso de gorduras”“Fumar”“Stress”“Tensão arterial alta”“Erros alimentares”“Medicamentos”“Herança genética”.“Diabetes”“Falta de sorte”
E: 17,18,21E: 11,22E: 18,10,13
E: 5E: 4,17E: 19,15,17,21E: 11,16,19,21E: 7,11,15,19E: 7,20,13,16,17,19E: 22E: 4E: 10,18,22,12E: 14
323
1244461141
Estudo Empírico
99
poderá também estar relacionada com a dimensão simbólica do órgão afectado, neste
caso o coração (Cainé, 2004, p.13).
Existe evidência científica de que a percepção de vulnerabilidade, a existência de
sintomas associados a uma doença e o seu nível de exuberância, favorece a motivação
na procura de tratamento e de adesão ao regime terapêutico (Figueira, 2008, p.40;
Rosentock, Beecker, Haynes, Taylor e Sacket citados por Pereira, 2000, p.73 e Cainé, 2004,
p.16). Neste sentido a OMS (2003, p.43), refere que o impacto da doença influencia o
indivíduo na percepção do risco e na prioridade colocada na adesão. Neste âmbito,
Becker e Rossenstock citados por Joyce-Moniz e Barros (2006, p.202), referem que as
significações de gravidade da doença fazem aumentar a adesão ao tratamento.
É oportuno notar neste âmbito que o EAM é uma manifestação aguda de um
problema crónico e assintomático – a doença aterosclerótica. A abordagem desta
problemática expõe assim dois momentos de expressão motivacional distintos, no
período imediato pós-EAM a experiência traumática recente favorecerá a percepção de
gravidade, vulnerabilidade e consequentemente de receptividade ao regime terapêutico.
Enquanto a longo prazo o carácter assintomático da evolução da doença e a diminuição
da percepção da ameaça tenderá a desmobilizar os doentes do cumprimento do regime
terapêutico. Os doentes incluídos no estudo foram entrevistados no momento da
consulta de “follow up”, cerca de três meses após a alta. É notório nos seus
testemunhos sobre a expressão sintomática do EAM, que essas experiências
vivenciadas ainda estão muito preservadas e esse facto poderá ser um elemento
favorecedor da adesão ao regime terapêutico. Neste âmbito, seria interessante
perceber a evolução dos indicadores de adesão após um período mais distante do evento
agudo de enfarte de miocárdio (ex. 5 anos).
De acordo com o modelo do “Senso-Comum da Doença” o indivíduo é activo na
construção das suas representações, e a informação é integrada de acordo com
esquemas mentais pré-existentes, a partir da exposição a um conjunto de fontes de
carácter social e cultural, como por exemplo, a divulgação de notícias nos meios e
comunicação social, experiências pessoais com a doença, experiências indirectas com
familiares e amigos, informações de relatos publicados em livros, filmes, documentários
ou informação retirada da internet. A orientação destas crenças determinará o
sentido do confronto com a doença (Figueiras, 2008, p.38). A identificação das causas
100
do EAM e o conhecimento sobre as formas de prevenção é imprescindível para o doente
agir contra os comportamentos e os aspectos do seu estilo de vida que favorecem a
recorrência de novo episódio de EAM. A maioria dos utentes inquiridos identificou
correctamente algumas das causas para o desenvolvimento da doença aterosclerótica,
foram no entanto encontradas representações erradas acerca das causas e da
percepção de controlabilidade/cura da doença em quatro testemunhos que a seguir se
transcrevem:
“(…) eu tenho o sangue fraco, a minha família é toda assim, os medicamentos não me valeram
de nada. Espero que não me volte a acontecer, não posso fazer nada.” – E5
“(…) levo uma vida como tantas outras pessoas, trabalhei muito e hoje vivo
confortavelmente…, sempre estimei a minha saúde, isto é falta de sorte não encontro outra
razão, tenho que ter paciência não há nada a fazer.” – E14
“Toda gente tem problemas de uma maneira ou de outra, depois de acontecer o mal diz-se que
foi por causa disto ou por causa daquilo, ninguém sabe ao certo! Antigamente não havia tantos
médicos nem se tomavam tantos medicamentos, temos que pensar pela nossa cabeça, o dinheiro
custa muito a ganhar.” – E9
“(…) os medicamentos que eu andava a tomar não deviam estar bem para mim, eu já me tinha
queixado à Sr.ª Dra. várias vezes, …algum tempo até deixei de os tomar, enfim aconteceu o pior
tive um EAM. Os medicamentos que agora me passaram são de confiança e eu ando tranquilo.
” – E22
Relativamente à duração e evolução no tempo do processo de doença, foi colocada uma
questão aos utentes no sentido de avaliar a sua percepção quanto ao carácter crónico da
doença, nos seguintes termos: “Na sua opinião os cuidados que lhe foram sugeridos pela
equipa de saúde durante o internamento são para cumprir por quanto tempo?”. A
maioria dos utentes inquiridos (59,09%), reconheceram o carácter crónico da
doença e portanto a necessidade de manter os cuidados de forma permanente “para o
resto da vida”, contudo uma percentagem significativa não demonstra consciência
quanto ao carácter crónico da doença, desses utentes, 31,82% acreditam que os
cuidados são para cumprir “apenas por algum tempo enquanto não se sentirem
melhor”, os restantes 9,09% referiram que os cuidados eram para prosseguir apenas
“enquanto tomassem medicamentos” (Gráfico 8).
Estudo Empírico
101
Gráfico 8 - Opiniões dos doentes acerca da duração do regime terapêutico
O regime terapêutico no EAM comporta uma componente medicamentosa e uma
componente não medicamentosa. A entrevista aos utentes incluía também a aplicação da
Escala de Medida de Adesão ao Tratamento Medicamentoso da autoria de Delgado e
Lima (2001, p.98), adaptada a partir da escala de Morisky, Green e Levine (1986). Os
resultados obtidos permitiram verificar que 84,29% dos utentes eram aderentes, contra
15,71% de utentes que se revelaram não aderentes. A utilidade da aplicação desta escala
de acordo Delgado e Lima (2001, p.95):
“(…) proporcionar, num segundo momento, através de uma atenção cuidada, a
compreensão dos problemas e dificuldades a uma adesão adequada e, em
consonância, possibilitar o delineamento de estratégias de actuação junto do
doente que resultem, por exemplo, num melhor ajustamento do regime terapêutico
possível ao estilo de vida de cada doente, ou levar à implementação de
apropriados programas de educação para a saúde, ou ainda, simplesmente
conduzir a uma alteração dos moldes da comunicação entre o profissional de
saúde e o doente.”.
Os indicadores de adesão ao regime terapêutico medicamentoso onde se verificou um
nível percentual elevado (84,29%), contrasta com os indicadores de adesão ao regime
terapêutico não medicamentoso que evidenciou um nível de adesão mais baixo. Neste
âmbito, Joyce-Moniz e Barros (2005, p.202), referem que os doentes com afecções
coronárias manifestam maiores dificuldades em aderir a regimes terapêuticos que
102
prevêem alterações no estilo de vida
medicamentoso prescrito.
Aspectos do regime terapêutico negligenciados
No que respeita aos aspectos do regime terapêutico p
EAM que os doentes manifestam maior dificuldade em cumprir
inquiridos referiram por nível de importância decrescente
tabágicos”, Redução de peso”, nos
medicação” e ainda a “Prática de exercício físico
No sentido de perceber em que medida as percepções dos enfermeiros acerca dos
aspectos do regime terapêutico mais negligenciados eram coincidentes
dos doentes, foi elaborada uma questão nos seguintes termos:
recomendações que lhe foram transmitidas qual/quais dos aspectos não tem sido
possível cumprir?”. Podemos constatar p
percepções revelam algumas coincidências particularmente
do peso, à dieta e ainda à prática de exer
dificuldade que existe associada à mudança de aspectos comportamentais com impacto
negativo na saúde e o desafio
problemática exige aos enfermeiros.
14
4
16
02468
1012141618
Gráfico 9 - Percepção dos enfermeiros acerca dos aspectos doregime terapêutico mais negligenciados pelos doentes.
N.º
de
En
ferm
eiro
sprevêem alterações no estilo de vida e mudanças comportamentais do que ao regime
Aspectos do regime terapêutico negligenciados
No que respeita aos aspectos do regime terapêutico proposto ao doente com história de
os doentes manifestam maior dificuldade em cumprir, os enfermeiros
inquiridos referiram por nível de importância decrescente respectivamente
, nos “Cuidados com a dieta”, nas “Tomas correctas
rática de exercício físico”, tal como evidência o gráfico
No sentido de perceber em que medida as percepções dos enfermeiros acerca dos
utico mais negligenciados eram coincidentes com a
dos doentes, foi elaborada uma questão nos seguintes termos: “Do conjunto das
recomendações que lhe foram transmitidas qual/quais dos aspectos não tem sido
Podemos constatar por comparação dos gráficos 9 e 10
percepções revelam algumas coincidências particularmente no que se refere à redução
à prática de exercício físico. Por outro lado exprimem a
dificuldade que existe associada à mudança de aspectos comportamentais com impacto
o na saúde e o desafio de persistência que o trabalho em torno desta
exige aos enfermeiros.
12
38
3 3 0
Percepção dos enfermeiros acerca dos aspectos doregime terapêutico mais negligenciados pelos doentes.
do que ao regime
roposto ao doente com história de
, os enfermeiros
respectivamente, Hábitos
correctas da
ráfico 9.
No sentido de perceber em que medida as percepções dos enfermeiros acerca dos
com a opinião
Do conjunto das
recomendações que lhe foram transmitidas qual/quais dos aspectos não tem sido
10, que as
no que se refere à redução
. Por outro lado exprimem a
dificuldade que existe associada à mudança de aspectos comportamentais com impacto
que o trabalho em torno desta
9
Percepção dos enfermeiros acerca dos aspectos do
Os regimes terapêuticos de orientação preventiva que prevêem alterações no estilo de
vida e mudanças comportamentais são tradicionalmente mais
Moniz e Barros, 2005, p.330).
melhor conhecimento da sua
desencadeantes e do risco, da lógica e dos benefícios do tratamento
adesão ao regime terapêutico é mais efectiva
multidisciplinar para a gestão desta problemática (Lunelli et al., 2009, p.368).
Como já foi referido anteriormente os
discurso dos doentes, uma vez que é através desse discurso que se compreendem as
representações sobre a doença
relativamente às dificuldades percepcionadas pelos enfe
incumprimento do regime terapêutico no doente com história de EAM, foi elaborada
uma pergunta aberta:
de EAM, manifestam explicitamente ou transparece das suas atit
cumprirem os regimes terapêuticos propostos
questionários validados
integrar a diversidade de aspectos/razões que os enfermeiros consideram estar
origem das situações de incumprimento do regime terapêutico proposto
categorias definidas para integrar a
“Problemas socioeconómicos
“Deficit de motivação
5 402468
1012141618
Gráfico 10
N.º
de
Do
ente
s
Os regimes terapêuticos de orientação preventiva que prevêem alterações no estilo de
vida e mudanças comportamentais são tradicionalmente mais negligenciados (Joyce
Moniz e Barros, 2005, p.330). Há evidência científica de que quando os doentes têm um
melhor conhecimento da sua doença, dos mecanismos fisiopatológicos, dos factores
e do risco, da lógica e dos benefícios do tratamento, entre
adesão ao regime terapêutico é mais efectiva, sobretudo quando existe um planeamento
multidisciplinar para a gestão desta problemática (Lunelli et al., 2009, p.368).
Como já foi referido anteriormente os profissionais de saúde devem estar atentos ao
discurso dos doentes, uma vez que é através desse discurso que se compreendem as
sobre a doença e os comportamentos de saúde
às dificuldades percepcionadas pelos enfermeiros, que estão na origem do
incumprimento do regime terapêutico no doente com história de EAM, foi elaborada
uma pergunta aberta: “Quais as razões que frequentemente os doentes com história
de EAM, manifestam explicitamente ou transparece das suas atit
cumprirem os regimes terapêuticos propostos?”. Da análise de conteúdo d
questionários validados, foi possível estabelecer cinco categorias diferentes para
integrar a diversidade de aspectos/razões que os enfermeiros consideram estar
origem das situações de incumprimento do regime terapêutico proposto
definidas para integrar a diversidade de testemunhos
socioeconómicos”, “Deficit de informação”, “Baixo nível de formação
eficit de motivação” e ainda “Deficit de apoio familiar e/ou institucional
4
129
17 17
3
Gráfico 10 - Aspectos do regime terapêutico que os doentesassumem ter dificuldade em cumprir
Estudo Empírico
103
Os regimes terapêuticos de orientação preventiva que prevêem alterações no estilo de
negligenciados (Joyce-
Há evidência científica de que quando os doentes têm um
patológicos, dos factores
, entre outros aspectos, a
, sobretudo quando existe um planeamento
multidisciplinar para a gestão desta problemática (Lunelli et al., 2009, p.368).
profissionais de saúde devem estar atentos ao
discurso dos doentes, uma vez que é através desse discurso que se compreendem as
e os comportamentos de saúde, nesse sentido
rmeiros, que estão na origem do
incumprimento do regime terapêutico no doente com história de EAM, foi elaborada
Quais as razões que frequentemente os doentes com história
de EAM, manifestam explicitamente ou transparece das suas atitudes para não
Da análise de conteúdo dos dezoito
, foi possível estabelecer cinco categorias diferentes para
integrar a diversidade de aspectos/razões que os enfermeiros consideram estar na
origem das situações de incumprimento do regime terapêutico proposto (Tabela 4). As
diversidade de testemunhos foram as seguintes:
aixo nível de formação”,
institucional”.
58
5
Aspectos do regime terapêutico que os doentes
104
Tabela 4 – Razões referidas pelos enfermeiros para o incumprimento doregime terapêutico
Categorias Expressões
ProblemasSocioeconómicos
“(…) problemas socioeconómicos (reformas baixas e/oudesemprego, rendimentos baixos) (…), elevados custos dosmedicamentos.” (Q1)“(…) razões de carácter socioeconómico”. (Q2)“(…) dificuldades económicas…”. (Q3)“ (…) o peso do preço dos medicamentos no orçamentofamiliar…”. (Q4)“(…) falta de capacidade financeira para adquirirmedicamentos.” (Q6)“(…) razões económicas que impedem a aquisição dosmedicamentos…”. (Q7)“(…) carências monetárias...”. (Q8)“(…) a questão monetária relativamente à aquisição damedicação é preponderante.” (Q9)“(…) preço da medicação…”. (Q13)“(…) causas socioeconómicas (famílias disfuncionais, baixosníveis de formação, dificuldades económicas.”(Q14)“…em relação à toma da medicação, normalmente é por razõesmonetárias que não o fazem correctamente.” (Q17)
Deficit deinformação
“(…) após um período longo com ausência de sintomas, osdoentes pensam ter ultrapassado o problema e já nãonecessitarem de cuidados, inclusive a toma dos medicamentos(…), muitos não têm consciência de que se trata de um problemacrónico…”. (Q1)“(…) desconhecimento do carácter crónico da doença…” . (Q2)“(…) desconhecimento quanto à situação crónica da doença,falta de consciência para as consequências do incumprimento doregime terapêutico (…), desmobilização demasiado precoce dodoente na continuidade dos cuidados…”. (Q3)“(…) falta de consciência do doente quanto ao carácter crónicoda doença e quanto à necessidade de tomar cuidados de formacontinuada ao longo da vida…”. (Q4)“(…) falta de noção do que é realmente um EAM.Desconhecimento dos factores de risco…”. (Q5)“…falta de cultura do medicamento – quando se sentem bem porvezes não tomam os medicamentos…”. (Q6)“(…) sentirem-se bem e abandonarem o tratamento.” (Q7)“(…) desconhecimento de alguns aspectos do regimeterapêutico.” (Q8)“(…) falta de informação durante o internamento na preparaçãopara a alta que por vezes sucede é factor de insucesso marcadona adesão ao regime terapêutico.” (Q9)“(…) falta de noção da gravidade da situação por já nãoapresentarem sintomatologia...”. (Q10)
Estudo Empírico
105
A comunidade e o suporte familiar podem desempenhar um papel positivo face ao
fenómeno da adesão ao regime terapêutico, constituindo um elemento integrador na
forma como o ser humano responde ao processo saúde/doença. Neste sentido os
serviços de saúde da comunidade devem ter também um papel activo na promoção e
supervisão do cumprimento dos regimes terapêuticos (Silva, 2010, p.44). Este aspecto é
da máxima relevância, a prevalência das doenças crónicas com regime terapêuticos de
longa duração está muito presente em faixas etárias avançadas onde o conhecimento
para fazer opções correctas e os recursos das pessoas são escassos ou necessitam de ser
orientados. De acordo com Trindade e Teixeira (2000, p.7), “A família é o grande
“(…) falta de informação e esclarecimento.” (Q11)“(…) dizem que os valores das análises estavam dentro danormalidade e a determinada altura deixam de cumprir cuidadosbásicos incluindo as tomas regulares da medicação. Algunsdoentes não têm noção de que se trata de um problema de saúdecrónico...”. (Q14)“(…) a característica própria da evolução da doençaarteriosclerótica ser silenciosa, não revelar sintomatologia criaum sentimento de excesso de confiança no doente…”. (Q18)
Baixo nível deformação
“(…) baixo nível educacional de alguns doentes…”. (Q7)“(…) baixos níveis de formação…”. (Q11)
Deficit demotivação
“(…) falta de motivação.” (Q2)“(…) falta de incentivo/motivação pessoal e de consciênciaacerca das consequências do incumprimento do regimeterapêutico.” (Q5)“(…) falta de força de vontade….” (Q8)“Falta de motivação”. (Q11)
Deficit de apoioFamiliar e/ouInstitucional
“(…) falta de suporte familiar…”. (Q2)“(…) suporte insuficiente dos serviços de saúde da área deresidência dos doentes, nomeadamente ao nível doscuidados de saúde primários…”. (Q2)“Pressão social e a influência do grupo em que o utenteestá inserido, particularmente nos hábitos tabágicos e noabuso de bebidas alcoólicas…”. (Q3)“(…) falta de suporte familiar e/ou dos serviços de saúdeda área de residência…”. (Q4)“(…) isolamento falta de apoio familiar ou domiciliário.”(Q6)“Falta de suporte familiar…”. (Q7)“Situações familiares disfuncionais, falta de apoio...”. (Q8)“(…) falta de suporte familiar.” (Q10)“A falta de suporte familiar e de acompanhamento maisincisivo dos serviços de saúde da área de residência...”.(Q12)
106
contexto onde a doença ocorre e a saúde é mantida. (…) os comportamentos de adesão
a tratamentos médicos são influenciados negativamente por situações de instabilidade,
conflito ou isolamento familiar.”.
Este processo de envolvimento da família, assenta sobretudo, na dinâmica dos
profissionais de saúde e no modo como eles encaram a sua necessidade. Porém, a pessoa
ao ser recolocada no centro dos cuidados, passa a ter ela própria a possibilidade de decidir
sobre esse mesmo envolvimento. Esta sua capacidade de decisão resulta de um conjunto de
circunstâncias de natureza pessoal, clínica e familiar mas também, da cultura organizacional
do internamento hospitalar (Cainé, 2004, p.9).
Também na perspectiva da OMS (2004, p.14) a melhoria dos indicadores de adesão aos
regimes terapêuticos deve basear-se numa abordagem integrada que compreenda acção
formativa e educacional, actuação sobre a situação socioeconómica, envolvimento da
família e da rede de suporte de cuidados na comunidade, em cooperação
multidisciplinar continuada, integrando práticas que a evidência científica demonstrou
produzir melhores resultados. Sublinhando a ideia de que haverá grandes dificuldades
num futuro próximo em dar resposta ao acréscimo de solicitações destes doentes
crónicos se não for feito um trabalho de envolvimento com a comunidade (famílias,
associações de doentes, instituições de solidariedade social, e outras) que apoie e
capacite para a auto-suficiência.
Relativamente ao deficit motivacional referido pelos enfermeiros como obstáculo à
melhoria dos indicadores de adesão no doente com história de EAM, importa recordar
que a adesão ao regime terapêutico prevê o envolvimento activo do doente,
consideração pelas suas preferências, negociação quanto à concordância do regime
terapêutico proposto, onde num processo de parceria doente e profissional de saúde
cooperam na prossecução dos objectivos (Camarneiro, 2002, p.26).
Quando questionados os doentes nos seguintes termos: “Durante o internamento na
preparação da alta foi consultado sobre a sua concordância com o regime
terapêutico de ambulatório, e as metas a alcançar em termos de correcção de
factores de risco cardiovascular e de mudanças no seu estilo de vida?”. Os
resultados mostram claramente que a negociação do regime terapêutico proposto ao
doente não está consolidada nos procedimentos da preparação para a alta, assim,
Estudo Empírico
107
cerca de 68,18% referem não terem sido consultados, enquanto 31,82% dos doentes
entrevistados assumem ter existido abordagem nesse sentido (Gráfico 11).
Gráfico11 – Percepção dos doentes quanto à sua participação na negociação do regimeterapêutico
De acordo com OMS (2004, p.19), os estudos evidenciam que o nível de envolvimento
dos doentes nas suas decisões terapêuticas está directamente relacionado e é
proporcional às taxas de adesão terapêutica. Ainda de acordo com o mesmo
organismo internacional, as mudanças no estilo de vida e a adopção de comportamentos
concordantes com as prescrições, devem ser negociados de modo a que se verifique um
nível óptimo de congruência entre os esforços que o doente está disposto a fazer e os
objectivos fixados pelo profissional de saúde. Os doentes devem ser estimulados a
expressar as suas opiniões sobre a doença e a sua concordância ou não com o regime
terapêutico proposto (Figueira, 2008, p.41). De acordo com Becker e Maiman citados
por André (2005, p.35), um indivíduo para cumprir uma determinada orientação
médica, necessita de ter um nível mínimo de motivação e de informação relevante, de
ter a percepção da sua vulnerabilidade e ainda de acreditar na eficácia da intervenção. A
tabela 5 permite aferir a percepção dos doentes sobre a sua participação em alguns dos
aspectos do processo de preparação para a alta. Cerca de 45,5% dos doentes refere não
terem sido consultados acerca da sua concordância com o regime terapêutico e
simultaneamente não ter havido um momento para exprimirem os problemas que os
impediam de ser mais rigorosos no cumprimento dos cuidados para prevenir no EAM.
Em sentido oposto a esta percepção, apenas cerca de 18,2% reconhece ter tido uma
participação satisfatória nestes dois componentes preparatórios para a alta.
108
Tabela 5 - Opiniões sobre a concordânciacom o regime terapêutico proposto vsOpiniões sobre exposição de problemasrelativos à prevenção de novo EAM.
Aquando do internamento por EAM
na Preparação para a alta foi
consultado sobre a sua concordân-
cia com o regime terapêutico de
ambulatório, e as metas a alcançar?
Total
Sim Não
Os enfermeiros durante o
internamento incentivaram-
no a expor os problemas que
o impediam de ser mais
rigoroso no cumprimento dos
cuidados globais para
prevenir novo EAM?
SimCount 4 4 8
% of Total 18,2% 18,2% 36,4%
NãoCount 1 10 11
% of Total 4,5% 45,5% 50,0%
Não SabeCount 2 1 3
% of Total 9,1% 4,5% 13,6%
TotalCount 7 15 22
% of Total 31,8% 68,2% 100,0%
Neste âmbito Culik e Carlino citados por Joyce-Moniz e Barros (2005, p.201)
sublinham a importância do envolvimento e participação activa do doente na
negociação de objectivos: “A possibilidade do cuidador conseguir o comprometimento
ou a promessa do doente de que tenciona aderir ao tratamento, é condição necessária
para que de facto o cumpra (…).”
Quanto ao deficit de informação referido pelos enfermeiros como obstáculo à melhoria
dos indicadores de adesão do regime terapêutico proposto à pessoa com história de
EAM, transcrevem-se a seguir alguns excertos que aludem a essa limitação:
“(…) a falta de informação durante o internamento na preparação para a alta que por vezes
sucede é factor de insucesso marcado na adesão ao regime terapêutico.” - E9
“(…) desconhecimento quanto à situação crónica da doença, falta de consciência para as
consequências do incumprimento do regime terapêutico (…), desmobilização precoce do
doente na continuidade dos cuidados…” - E3
“(…) falta de consciência do doente quanto ao carácter crónico da doença e quanto à
necessidade de tomar cuidados de forma continuada ao longo da vida…”. - E4
Há evidência científica disponível que sustenta os factos referidos anteriormente. O
nível de conhecimento do doente acerca do curso da doença, do alcance das suas
consequências, dos cuidados preventivos, é imprescindível para o envolvimento dos
Estudo Empírico
109
doentes com os objectivos dos tratamentos e para a sua capacitação para a auto-
suficiência na gestão da doença (OMS, 2004, p.35). Num estudo desenvolvido com
doentes diabéticos o nível de conhecimento acerca da doença demonstrou ser
potenciador do comportamento de adesão ao regime terapêutico (Sousa, 2003, p.5).
Também na perspectiva de Araújo e Garcia citados por Silva (2010, p.97), o nível de
informação dos doentes é imprescindível para envolver o doente na acção,
responsabilizar e potenciar o comportamento de adesão. O processo de informar passa
por penetrar no sistema complexo de crenças das pessoas sobre a saúde e saber
compreender e interpretar os valores que sustentam os seus próprios
comportamentos. É um equívoco acreditar que os doentes integram cópias da
informação transmitida pelos profissionais de saúde para seu uso próprio (Cainé, 2006,
p.45). Como se pode constatar pelos indicadores que a tabela 5 evidência, a exploração
das crenças e representações dos doentes sobre a doença, assim como, a negociação de
objectivos não está sistematizado no processo de preparação para alta, aspectos que
como foi referido são determinantes para o envolvimento e comprometimento do doente
com o regime terapêutico.
8.3 – ESTRATÉGIAS DESENVOLVIDAS PELOS ENFERMEIROS
A adesão ao regime terapêutico é um foco de atenção dos enfermeiros com particular
relevância no âmbito da gestão das doenças crónicas, expressa nos diagnósticos de
enfermagem “Adesão ao Regime Terapêutico Não Demonstrada, Capacidade para gerir o
regime terapêutico comprometida/Capacidade da família para gerir o regime
terapêutico comprometida”, de acordo com versão Beta 2 ou 2.0 da CIPE
respectivamente (ICN, 2001 e 2005). A proximidade dos enfermeiros com os doentes e
a natureza da relação dos cuidados, proporciona uma excelente oportunidade de
monitorizar a adesão, diagnosticar a não adesão, planear e implementar intervenções
que efectivamente ajudem as pessoas a integrar o regime terapêutico nos seus hábitos
diários, dotando-as de conhecimentos e capacidades que lhes permitam realizar e manter
as mudanças necessárias, adaptando-se à sua nova condição de saúde (Machado, 2009,
p.2). De acordo com Collière (1989, p.290):
110
“O campo de competência da enfermagem tem como finalidade mobilizar as
capacidades da pessoa, e dos que a cercam, com vista a compensar as limitações
ocasionadas pela doença e suplementá-las, se essas capacidades forem
insuficientes (...). O campo de competência de enfermagem situa-se na mobilização
e desenvolvimento das capacidades da pessoa, da familía, dos que a cercam, para
fazer face ao acontecimento, resolver a dificuldade, visando torná-la competente e
capaz de utilizar os recursos afectivos, físicos, sociais e económicos de que
dispõe”.
No sentido de perceber de que forma os enfermeiros orientam as suas intervenções no
âmbito da promoção da adesão ao regime terapêutico, foi elaborada uma questão nos
seguintes termos: “No âmbito do seu exercício profissional regular e tendo em vista
a prevenção da recorrência de novo episódio de EAM, de que estratégias faz uso
para envolver, educar, e motivar a pessoa com história de EAM para o
cumprimento do regime terapêutico proposto?”. Foram definidas seis categorias para
integrar a diversidade de estratégias referidas: “Educação para a saúde”, “Envolvimento
da Família ou Pessoa significativa”, “Negociação de objectivos”, “Mobilização de
recursos da comunidade”, “Estabelecimento de uma relação terapêutica” e ainda
“Sinalização e Referenciação dos casos problemáticos” (Tabela 6).
Tabela 6 – Estratégias desenvolvidas pelos enfermeiros na promoção da adesão aoregime terapêutico
Categorias Estratégias Utilizadas
Educação para a saúde
“(…) a informação/ensino relacionado com o estilo de vida,nomeadamente hábitos alimentares e/ou alcoólicos, exercíciofísico (andar a pé) e todo o conjunto do regime terapêuticoproposto.” (Q1)“(...) alerto para a importância do controlo factores de risco epara as vantagens de um estilo de vida saudável.” (Q2)“(…) essencialmente uma atitude pedagógica simples e directa,fazendo perceber os prós e os contras de prosseguir um estilode vida saudável.” (Q6)“Educação para a saúde com maior preponderância nosaspectos do estilo de vida que constituem risco acrescido paraa recorrência de novo EAM.” (Q7)“(…) correcção, desmistificação de conceitos errados acerca dadoença e do regime terapêutico a seguir por estes doentes.”(Q7)“A estratégia passa por explicar de forma sucinta em queconsiste o EAM e de que forma os factores de riscocardiovascular o propiciam.” (Q12)
Estudo Empírico
111
Envolvimento dafamília ou pessoa
significativa
“Solicito o envolvimento da família e/ou pessoas significativasresponsabilizando-as também pelo êxito da adesãoterapêutica.” (Q2)“(…) envolver a família e melhorar atitudes face à gestão doregime terapêutico.” (Q5)“Privilegio sempre o envolvimento da família em todo oprocesso de modo a responsabilizar todos no desafio deintroduzir alterações nos aspectos do estilo de vida que sãoincorrectos.” (Q9)“(…) o envolvimento da família é também ele um aspecto deprimordial importância para o êxito deste processo.” (Q13)
Negociação deobjectivos
“Faço uma avaliação socioeconómica, motivação,consciencialização quanto às possibilidades de êxito de cadadoente em concreto no cumprimento do regime terapêuticonegociando objectivos realistas.” (Q3)“(…) avaliação da condição socioeconómica do doente, donível de suporte social e de recursos de que dispõe ou pode vira dispor se necessitar para o cumprimento de objectivosmínimos que procuro acertar com o doente.” (Q4)“(…) sou também bastante incisiva nos aspectos quedependem única e exclusivamente da vontade do doentenomeadamente no que respeita aos hábitos tabágicos e de vidaproblemáticos que carecem muitas vezes de negociação para asua correcção.” (Q9)“Procuro conhecer o estilo de vida do doente, vida profissional,suporte familiar, motivação envolvimento do doente e assimpropor estratégias que garantam maiores possibilidades deêxito.” (Q13)
Sinalização eReferenciação dos
casos problemáticos
“(…) referenciação para consultas de apoio psicológico,desabituação tabágicos e/ou alcoólica. Sinalização de casossociais.” (Q2)“Informação acerca da disponibilidade de recursosinstitucionais nomeadamente, psicólogo, dietista, consulta dedesabituação tabágica, assistente social, etc.” (Q7)“(…) sinalizo os casos sociais, fazendo intervir a assistentesocial.” (Q3)“(…) mobilização de recursos institucionais tais comoassistente social, psicólogo, dietista no sentido de capacitar odoente para a autonomia na gestão do seu regime terapêutico.”(Q4)“(…) solicitar o apoio de outros recursos disponíveis (dietista,psicólogo, assistente social e outros) de modo a complementara preparação e a capacitação destes doentes para a gestãoautónoma e conscienciosa do regime terapêutico.” (Q10)
Mobilização derecursos dacomunidade
“(…) levantamento de necessidades de apoio e envolvimentoda família, instituições de solidariedade social e outrosserviços da comunidade.” (Q8).“(…) se oportuno poderei referenciar o doente para o centro desaúde da área de residência (ex: marcar uma consulta dedesabituação tabágica).” (Q13)
112
Estabelecimento deuma relação terapêutica
“Valorizo a promoção de uma relação empática, de inter-ajuda,segurança e confiança para que o doente fique receptivo a todaa informação/ensino relacionado com o estilo de vida.” (Q1)“(…) em primeiro lugar tento estabelecer uma relação deconfiança com o doente, faço sentir que estou disponível, quequero ajuda-lo a capacitar-se para lidar melhor com a doença.”(Q13)
Os testemunhos dos enfermeiros questionados revelam estratégias diversificadas que
decorrem da necessidade de personalizar, contextualizar e adaptar as formas de
intervenção ao quadro circunstancial de cada doente, tal como refere Amendoeira
(2006, p.26):
“O enfermeiro ao adoptar uma estratégia de intervenção centrada nas necessidaes
das pessoas distancia-se do trabalho estandartizado (tarefa), assume
essencialmente as caracteristicas de trabalhador técnico-intlectual. A utilização de
um “saber” adaptado à singularidade da situação-problema e das pessoas com
quem está em interacção (…)”.
No mesmo sentido pronunciam-se Trindade e Teixeira (2000, p.6), “Operar mudanças
efectivas no comportamento individual implica focalizar no indivíduo intervenções que
considerem a singularidade do sujeito e as variáveis psicológicas que sustentam os seus
comportamentos relacionados com a saúde”. A necessidade de personalizar as
intervenções, decorre também da diversidade das estratégias de coping que cada doente
implementa em função da forma como percepciona os riscos para a sua saúde. Também
a OE (2008, p.7) num documento orientador sobre a abordagem da problemática da
adesão ao regime terapêutico refere que o juízo clínico e a tomada de decisão por parte
dos enfermeiros são essenciais para os cuidados individualizados aos doentes e às
respectivas famílias e não podem ser substituídos por nenhum outro instrumento. Da
análise da diversidade de estratégias referidas percebe-se também que a visão dos
enfermeiros inquiridos para a melhoria dos indicadores de adesão ao regime
terapêutico passa por uma parceria de envolvimento e partilha de
responsabilidades de um conjunto alargado de entidades (serviços de saúde da
comunidade, instituições de solidariedade social, familia, e outros), pela intervenção
multidisciplinar, pela abordagem integrada do problema intervindo sobre várias
componentes (educativas, económicas e sociais, cognitivas, comportamentais, afectivas,
motivacionais e outras. A OE (2008, p.34) refere-se ao envolvimento multidisciplinar e
à partilha de responsabilidades na acção sobre esta problemática: “É necessária uma
Estudo Empírico
113
abordagem multidisciplinar para tratar as doenças crónicas e melhorar a adesão. A
família, a comunidade e as organizações de doentes são parceiros-chave na promoção
da adesão. Precisam de ser envolvidos de forma activa no plano de cuidados e nos
resultados esperados dos cuidados.” A importância da família na continuidade de
cuidados é referida por Cainé (2004, p.8) nos seguintes termos: “A política de altas
precoces progressivamente implementadas e a redução dos tempos de internamento tornou
mais visível a importância da continuidade dos cuidados e o papel do prestador de
cuidados no processo de reabilitação após a alta hospitalar.” Transcrevem-se
seguidamente algumas das estratégias referidas pelos enfermeiros que exprimem a
diversidade de formas de abordagem:
“Informação acerca da disponibilidade de recursos institucionais nomeadamente, psicólogo,
dietista, consulta de desabituação tabágica, assistente social, etc.” (Q7)
“(…) avaliação da condição socioeconómica do doente e do nível de suporte social de que
dispõe ou pode vir a dispor se necessitar para o cumprimento de objectivos mínimos.” (Q4)
“Solicito o envolvimento da família e/ou pessoas significativas responsabilizando-as também
pelo êxito da adesão terapêutica.” (Q2)
“(…) essencialmente uma atitude pedagógica simples e directa, fazendo perceber os prós e os
contras de prosseguir um estilo de vida saudável.” (Q6)
“(…) levantamento de necessidades de apoio e envolvimento da família, instituições de
solidariedade social e outros serviços da comunidade.” (Q8).
A qualidade do relacionamento enfermeiro/doente neste processo apela a um conjunto
de competências comunicacionais facilitadoras do estabelecimento de uma relação
terapêutica que possibilite sensibilizar o doente “de modo que ele sinta que o problema
é importante para si mesmo e deseje intervir nele”, como refere Maia (2008, p.43).
Neste âmbito, De Gueest et. al., OMS e Enriquez citados por Silva (2010, p.40), referem
que a qualidade da interacção entre o profissional de saúde e o doente, é talvez, o factor
mais importante na adesão. Aspectos relacionados com qualidade do relacionamento
com o doente, tais como: pouca clareza na linguagem, frieza, distanciamento emocional,
impaciência ou irritação no atendimento têm impacto negativo no envolvimento do
doente com o regime terapêutico prescrito (Joyce-Moniz e Barros, 2005, p.198). Os
enfermeiros inquiridos também revelam consciência da importância deste aspecto para o
êxito do processo, como evidenciam as duas transcrições que se seguem:
114
“(…) em primeiro lugar tento estabelecer uma relação de confiança com o doente, faço sentir
que estou disponível, que quero ajuda-lo a capacitar-se para lidar melhor com a doença.”
(Q13);“Valorizo a promoção de uma relação empática, de inter-ajuda, segurança e confiança
para que o doente fique receptivo a toda a informação/ensino relacionado com o estilo de
vida.” (Q1)
A mudança de comportamentos relacionados com a saúde é difícil e complexa
(Trindade e Teixeira, 2000, p.5), parte desta dificuldade reside na “Baixa Literacia
para a Saúde”, isto é, no deficit de competências cognitivas e sociais que determinam a
motivação e a capacidade dos indivíduos conseguirem o acesso, a compreensão e o uso
da informação de forma a que promovam e mantenham uma boa saúde (Carvalho,
2001). O aconselhamento é um processo de escuta activa individualizado e centrado no
cliente, pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os
interlocutores, visando o resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo
tenha a possibilidade de reconhecer-se como sujeito da sua própria saúde e
transformação (Ministério da Saúde Brasileiro, 1998, p.6). Este aconselhamento é um
recurso que no âmbito do exercício da enfermagem se designa de “Educação para
a Saúde”. A informação não é apenas facilitadora da tomada de decisão individual,
deve ser entendida num contexto mais vasto da educação para a saúde. Neste âmbito,
Keith Tones e Sylvia Tilford citadas por Carvalho (2001) referem o seguinte:
"Educação para a saúde é toda a actividade profissional conducente a
aprendizagens relacionadas com saúde e doença (...), produzindo mudanças no
conhecimento e compreensão e nas formas de pensar. Pode influenciar ou
clarificar valores, pode proporcionar mudanças de convicções e atitudes; pode
facilitar a aquisição de competências; pode conduzir ainda a mudanças de
comportamentos e estilos de vida."
A análise de conteúdo dos testemunhos dos Enfermeiros inquiridos quanto à
implementação deste recurso evidenciou quatro temáticas centrais (Tabela 7):
“Estilo de vida”, “Carácter crónico e assintomático da doença”, “Explicitação de
conceitos”, “Consciencialização para consequências do incumprimento do regime
terapêutico proposto”
Estudo Empírico
115
Tabela 7 – Estratégias de Abordagem no âmbito da Educação para a Saúde
Temáticas consideradasna Educação para
SaúdeEstratégias de Abordagem
Estilo de vida
“(…) a informação/ensino relacionado com o estilo de vida,nomeadamente hábitos alimentares e/ou alcoólicos, exercíciofísico (andar a pé) e todo o conjunto do regime terapêuticoproposto.” (Q1)“Alerto para a importância do controlo factores de risco e paraas vantagens de um estilo de vida saudável.” (Q2)“(…) uma atitude pedagógica simples e directa, fazendoperceber os prós e os contras de prosseguir um estilo de vidasaudável.” (Q6)“(…) diálogo aberto com o doente em que lhe explico osaspectos do estilo de vida que estão na origem da incidência deproblemas cardiovasculares.” (Q18)
Carácter crónico eassintomático da
doença
“Faço educação para a saúde sobre o carácter crónico dadoença e das suas consequências.” (Q2)“(…) explicitação de conceitos que tem que ver com o caráctercrónico da doença, consequências da reincidência do EAM,desmistificação de ideias erradas.” (Q8)“(…) a ideia de uma doença que evolui de formaassintomática, mas que se revela de forma grave, comconsequências muito sérias para a qualidade de vida do doenteé um aspecto central da informação a transmitir.” (Q10)“(…) sublinho a ideia de que se trata de uma doença crónica esilenciosa e que portanto os cuidados devem ser mantidos aolongo da vida.” (Q18)
Explicitação deconceitos
“(…) identificar e desmistificar conceitos errados acerca doEAM.” (Q5)“Ddesmistificando falsos conceitos acerca da doençacoronária.” (Q6)“(…) correcção, desmistificação de conceitos errados acerca dadoença e do regime terapêutico a seguir por estes doentes.”(Q7)“Explicitação de conceitos que tem que ver com o caráctercrónico da doença, consequências da reincidência do EAM,desmistificação de ideias erradas.” (Q8)“(…) conceitos errados sobre a doença coronária que podempropiciar a não adesão ao regime terapêutico.” (Q9)“(…) explicar o conceito de EAM, as suas consequências, osfactores de risco, a importância de optimizar o estilo de vida emanter a continuidade de cuidados.” (Q16)“(…) a estratégia passa por explicar de forma sucinta em queconsiste o EAM e de que forma os factores de riscocardiovascular o propiciam.” (Q12)
116
A educação para a saúde é um recurso que os enfermeiros estão capacitados a
empregar, em que os cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a
promoção dos projectos de saúde que cada pessoa vive e prossegue, prevenindo a
doença e promovendo a adaptação funcional aos défices, frequentemente através
de processos de aprendizagem da pessoa que é agente intencional de
comportamentos, baseados em valores, crenças e desejos individuais, podendo assim
construir o seu projecto de saúde e tomar opções quanto à sua saúde de forma mais
esclarecida (OE, 201, p.6). É em larga medida um processo consciente de transferência
de competências com largas repercussões na gestão da doença, onde o doente assume
um papel de parceiro activo (Correia, 2007, p.7). Esta transferência de informação e de
competências pretende influênciar as tomadas de decisão do doente, aspecto que
constitui um foco de atenção da enfermagem. A CIPE versão 1 (ICN, 2005, p. 84)
define o processo de tomada de decisão como:
“Cognição com as características específicas: Disposição para reter ou
abandonar acções tendo em conta o julgamento; capacidade de escolher entre
duas ou mais alternativas pela identificação da informação relevante, das
consequências potenciais de cada alternativa, dos recursos de suporte e das
contradições entre desejos, pesando e seleccionando as alternativas; fazer
escolhas que afectam o próprio ou terceiros”.
Consciencializaçãopara consequências do
incumprimento doregime terapêutico
proposto
“Sensibilizo os doentes para as consequências doincumprimento do regime terapêutico.” (Q3)“(…) envolver o doente e sensibiliza-lo para o alcance dasconsequências da recorrência de um novo episódio de EAM.”(Q4)“(…) essencialmente uma atitude pedagógica simples e directa,fazendo perceber os prós e os contras de prosseguir um estilode vida saudável.” (Q6)“(…) a ideia de uma doença que evolui de forma
assintomática, mas que se revela de forma grave, comconsequências muito sérias para a qualidade de vida do doenteé um aspecto central da informação a transmitir.” (Q16)“Dissuadir comportamentos de risco, incentivar o cumprimentodo regime terapêutico, dando ênfase aos seus benefícios e àssuas consequências.” (Q18)
Estudo Empírico
117
A consciêncialização e a capacitação do doente com informação que lhe permita ser
agente intencional de mudanças no interesse da sua saúde, é um pilar fundamental do
processo de adesão ao regime terapêutico. Como já foi referido anteriormente a forma
como é percebido o risco e os contornos do problema, orienta o doente para a forma
como ele vai desenvonver a confrontação – “estratégias de coping”. Esta enfase das
intervenções na educação para a saúde referidas pela generalidade dos Enfermeiros
inquiridos, parece reflectir a resposta ao deficit de informação percepcionado como
obstáculo à melhoria dos indicadores de adesão ao regime terapêutico nos doentes com
história de EAM (Tabela 4).
Em resumo, como referem a OMS (2004, p.14) e OE (2008, p. 34), não existe uma
estratégia global que garanta resultados efectivos para todos os doentes, contextos e
patologias. As medidas devem ser adaptadas a cada doente em particular em função da
sua motivação e envolvimento com os objectivos fixados, do apoio e orientação que
pode ser dispensada periodicamente pelos serviços de saúde, da disponibilidade de
suporte familiar ou comunitário, entre outras. Este processo é dinâmico e necessita ser
monitorizado continuamente, requer treino e preparação dos enfermeiros no
sentido de interpretar os comportamentos de saúde dos doentes e implementar
estratégias personalizadas que possibilitem maior alcance quanto ao envolvimento
destes com os regimes terapêuticos prescritos. As diferentes estratégias de intervenção
referidas pelos enfermeiros, reflectem a sua percepção quanto à complexidade dos
factores que concorrem para a incidência desta problemática, evidenciam que o doente
necessita de ser agente intencional do seu comportamento e para tal deve ser capacitado
com informação que o ajude a tomar decisões no interesse da sua saúde. Fica patente
também a ideia de que este deve ser um trabalho de parceria que envolva a equipa
multidisciplinar, as famílias e a comunidade de modo a proporcionar um suporte
alargado a estes doentes.
8.4 – PERCEPÇÃO DOS DOENTES SOBRE O PAPEL DOS ENFERMEIROS
Era objectivo deste estudo perceber qual a percepção dos doentes acerca do papel dos
enfermeiros, no processo de preparação para a alta em torno da promoção da adesão ao
118
regime terapêutico. Foi então formulada uma questão: “Durante o internamento por
EAM a equipa de enfermagem forneceu-lhe informação, conhecimentos e toda uma
preparação específica para autonomamente por si após a alta, tomar decisões e gerir a
sua saúde de forma mais informada. Como avalia a qualidade dessa informação?”. O
Gráfico 12, mostra que a distribuição de opiniões relativamente à qualidade da
informação e da preparação para a alta está dispersa. A percentagem de opiniões que
referem que a qualidade da informação é “Boa” e “Muito Boa” somadas perfazem 50%,
os restantes 50% da amostra inquirida revelaram não ter ficado satisfeitos com a
qualidade da informação prestada, com 36,36% a qualificarem a informação de
“Razoável” e 13,64% de “Insuficiente”.
O planeamento da alta permite ajudar o doente e a família a organizarem os cuidados
necessários à mudança do hospital para o domicílio. Integra procedimentos de
fornecimento e recolha de informação, tomada de decisão por escolha entre várias
alternativas, estabelecimento de objectivos de médio e longo prazo e planeamento de
actividades (Joyce-Moniz e Barros (2005, p.214). No âmbito do processo de preparação
para alta (Cainé, 2004, p.26), refere o seguinte:
“ Dizer que a preparação da alta hospitalar de um doente começa no momento
do seu internamento tem sido um conceito muito utilizado em particular pelos
enfermeiros, mas na maioria dos casos, essa realidade não tem passado do
Gráfico 12 – Percepção dos doentes acerca da qualidade da informação napreparação para alta
Estudo Empírico
119
nível do discurso. O processo de alta hospitalar reduz-se quase sempre a um
ritual burocrático de documentação da informação médica, acrescidas de
algumas informações verbais, momentâneas e pouco sistematizadas, ao cliente
e família.”
Poder-se-á encontrar algumas explicações possíveis para a insatisfação dos utentes com
a informação obtida durante o internamento na preparação para a alta. Desde logo, o
facto de o processo de preparação para a alta não ser feito de forma metódica pela
equipa de enfermagem (gráfico 13), isto é, não existe um planeamento sistemático de
todo processo que documente o planeamento e as intervenções realizadas neste âmbito e
por conseguinte poderá suceder que alguns doentes durante o curto período de
internamento (4 dias em média para os doentes incluídos na amostra) escapem à
abordagem dos enfermeiros. A turbulência de emoções e sentimentos que estes doentes
vivenciam num período de internamento tão curto, poderá condicionar a capacidade de
assimilação e integração da informação fornecida. Os testemunhos que a seguir se
transcrevem dão nota dessas dificuldades:
“(…) a enfermagem foi toda excepcional comigo(…), mas a respeito de informação e do meu
esclarecimento não me disseram nada (…). Só depois de ter sido operado e já mais liberto da
situação de pânico e medo que eu senti com aquele ambiente pesado e aparatoso é que me
esclareceram quanto aos cuidados (…), até lá foi a travessia do deserto.” – E6;
“(…) tive apenas três dias de internamento no serviço, pouco tempo para fazer uma
aprendizagem dos aspectos mais importantes para uma correcta gestão da minha situação de
saúde após a alta (…).” – E10;
“(…) eu não fiz muitas perguntas, embora estivesse preocupado com a minha situação e tivesse
dúvidas! Mais tarde em casa depois de ler algumas coisas na internet sobre o EAM, as suas
consequências e os cuidados preventivos, verifiquei que a informação que me deram foi
insuficiente (…).” – E17.
Também em termos de conteúdo da informação transmitida pela enfermagem dar nota da
perspectiva crítica do testemunho que a seguir se transcreve:
“(…) os enfermeiros fizeram o seu trabalho, porém a respeito de informação da minha
situação, cuidados a ter e como proceder no futuro, gravidade da situação, etc., a informação
da médica foi muito mais preventiva e esclarecedora do que a da parte dos enfermeiros.” – E8.
120
A responsabilidade maior da qualidade da comunicação cabe ao cuidador. É ele
que tem de fazer o maior movimento de descentração de si próprio, para apreender
a realidade do paciente, os seus níveis de significação conotados com a doença e com o
tratamento, e assim, comunicar com ele de acordo com essa realidade. Esta deficiência
na qualidade da comunicação com os doentes está muito presente nos serviços de saúde
(Joyce-Moniz e Barros, 2006, p.304). Neste âmbito, é desejável que o processo de
transmissão de informação se desenvolva centrado no doente, isto é, o profissional de
saúde age como fonte de recursos e como facilitador da aprendizagem. O doente deve
participar activamente no processo de decisão, a comunicação deve ser bilateral e a relação
deverá ser igualitária. O plano terapêutico não é imposto mas negociado em função das
necessidades e interesses dos utilizadores. O objectivo final é a tomada de decisão conjunta
sobre a melhor estratégia de abordagem do problema (Cainé, 2004, p.44).
Quando questionados os enfermeiros nos seguintes termos: “O ensino ao doente com
história anterior de EAM, quanto ao cumprimento do regime terapêutico é feito de
forma metódica e realizado registo da mesma de modo a assegurar a continuidade de
cuidados e garantir que todos os doentes são esclarecidos?” Apenas 22,22% dos
enfermeiros admitem fazer registo metódico das intervenções sobre a promoção da
adesão ao regime terapêutico na preparação para a alta, a maioria dos enfermeiros
inquiridos (77,78%) referiu não o fazer (Gráfico 13).
A falta de documentação e de sistematização das intervenções em torno da promoção da
adesão ao regime terapêutico, poderá estar relacionada com a percepção negativa que
uma percentagem significativa dos doentes referiu acerca da qualidade da informação
prestada pelos enfermeiros, aspecto do qual já se deu nota anteriormente. A OE num
documento temático intitulado: “Estabelecer Parcerias com os Indivíduos e as Famílias
para Promover a Adesão ao Tratamento”, refere que a CIPE:
“é uma terminologia que sustenta a padronização da documentação de
Enfermagem no momento de prestação de cuidados. A informação daí resultante
pode ser utilizada para o planeamento e gestão dos cuidados de Enfermagem,
previsões financeiras, análise dos ganhos em saúde dos doentes e desenvolvimento
de políticas.” (OE, 2009, p.7).
Neste sentido existe já um padrão de documentação de cuidados elaborado pela
OE disponível para utilização, especificamente dirigido para a problemática da
não adesão aos regimes terapêuticos em linguagem CIPE, que integra as
Estudo Empírico
121
componentes: física, mental e comportamental, sociocultural, espiritual e
ambiental (OE, 2009, p.46).
Gráfico 13 – Opinião dos enfermeiros quanto ao grau planeamento e dedocumentação do processo de preparação do doente para a alta
Esta dificuldade que persiste actualmente em produzir indicadores que reflictam o
impacto dos cuidados de enfermagem nos ganhos em saúde é referida por Jesus Citado
por Simões (2007, p.11) nos seguintes termos:
“Verifica-se que a visibilidade dos cuidados de enfermagem nas estatísticas, nos
indicadores e nos relatórios oficiais de saúde é, de algum modo, reduzida,
impossibilitando, portanto, a descrição e a verificação do impacto dos mesmos nos
ganhos em saúde das populações.”
A utilização de registos contribui para o planeamento, aplicação e avaliação dos
cuidados prestados, tornando-os individualizados, contínuos e progressivos, o valor
da enfermagem não é mais auto evidente pelo que deve ser demonstrado aos que não
tendo um conhecimento do trabalho meritório que esta desenvolve, têm poder para
alocar recursos e implementar políticas de saúde que por vezes condicionam o trabalho
dos enfermeiros. A visibilidade social do exercício profissional dos enfermeiros assume
particular importância numa área da saúde onde se sente, cada dia de uma forma mais
veemente, os esforços de contenção da despesa. Reduz-se no que se entende
122
dispensável, não se poupa no que é contributo relevante para os ganhos em saúde das
populações (Silva, citado por Simões, 2007, p.11).
Outro dado importante que os dados empíricos evidenciaram refere-se à forma como a
informação é fornecida aos doentes no processo de preparação para a alta e em
particular nos aspectos relacionados com a promoção da adesão ao regime terapêutico.
Todos enfermeiros inquiridos referiram não fornecer informação escrita aos
doentes sobre o regime terapêutico proposto, quando questionados nos seguintes
termos: “Fornece documentação escrita sobre as temáticas abordadas no âmbito do
regime terapêutico proposto aos doentes com história de EAM?”. O impacto do EAM é
reconhecido como sendo um evento traumático, idêntico a qualquer situação de "perda"
ou de "crise vital" na vida das pessoas, estes doentes desenvolvem um confronto
progressivo com a realidade e consequentemente com as suas implicações futuras
na vida diária (Pereira, 2000, p.15). Atendendo a que os regimes terapêuticos para o
doente com história de EAM integram em regra muita informação e a atenção dos
doentes neste período está muitas vezes dispersa com preocupações próprias do
momento de crise que atravessam, muita dessa informação poderá perder-se e decorrer
daí a insatisfação dos doentes quanto à qualidade da informação prestada pelos
enfermeiros durante o internamento.
Outro dado relevante refere-se à insuficiente valorização que a problemática da
adesão terapêutica parece merecer no âmbito das prioridades formativas da
equipa de enfermagem. Quando questionados os enfermeiros nos seguintes termos: ”A
problemática da adesão ao regime terapêutico no âmbito da pessoa com história de
EAM, já foi motivo de momentos formativos e de reflexão alargada no âmbito da
equipa de enfermagem, tendo em vista a optimização e uniformização de práticas?”. A
orientação das respostas evidência que a problemática da adesão ao regime terapêutico
não tem sido considerada uma prioridade na melhoria contínua de cuidados pela equipa
de enfermagem (Gráfico 14), a falta de orientação metódica já referida anteriormente
nas intervenções desenvolvidas pelos enfermeiros no âmbito da promoção da adesão ao
regime terapêutico poderá ser também o reflexo dessa lacuna de organização e
concepção cuidados de enfermagem verificado algumas das valências do Serviço de
Cardiologia do CHC.
Estudo Empírico
123
Cerca de 66,67% dos enfermeiros inquiridos referem nunca terem participado nenhum
momento formativo ou de reflexão alargado no âmbito da equipa de enfermagem onde
esta temática fosse objecto de reflexão.
Gráfico 14 – Opinião dos enfermeiros sobre momentos formativos e de reflexãoalargada na equipa de enfermagem sobre adesão ao regime terapêutico
Finalmente um último dado que também poderá ter contribuído para a insatisfação com
a qualidade da informação e da preparação para a alta dos doentes inquiridos, quando
questionados os enfermeiros nos seguintes termos: “Por sua iniciativa pessoal participou
em alguma acção de formação ou evento temático sobre problemática da “adesão ao
regime terapêutico” nos últimos três anos?”. Os resultados revelam que a maioria dos
enfermeiros inquiridos cerca de 72,22% (Gráfico 15), não frequentou qualquer acção de
formação relacionada com a problemática da adesão ao regime terapêutico nos últimos
três anos.
Gráfico 15 - Participação dos enfermeiros acções de formação/eventos temáticos
direccionadas para a problemática da adesão ao regime terapêutico
124
O Deficit de formação e treino específico na gestão de doenças crónicas e na promoção
da adesão aos regimes terapêuticos, são factores que comprometem a melhoria dos
indicadores de adesão (OMS, 2004, p.27 e ICN, 2007, p.2). O conjunto de insuficiências
metódicas no processo de preparação para a alta já sinalizadas anteriorme poderão estar
relacionadas com a insuficiência de formação contínua no âmbito desta problemática.
Relativamente ao desdobramento da questão já anteriormente analisada, agora colocada
noutra perspectiva: “Durante o internamento por EAM a equipa de enfermagem
forneceu-lhe informação, conhecimentos e toda uma preparação específica para
autonomamente por si após a alta, tomar decisões e gerir a sua saúde de forma mais
informada. Quais foram na sua opinião os aspectos mais importantes?”. Os aspectos que
os doentes valorizaram da intervenção dos enfermeiros distribuem-se por quatro
categorias temáticas: “Educação para a Saúde”, “Envolvimento de pessoas
significativas”, “Informação e Capacitação para a Autonomia na Gestão do Regime
Terapêutico” e ainda “Apoio e Disponibilidade no Atendimento” (Tabela 8).
Tabela 8 – Aspectos valorizados pelos doentes no âmbito da preparação conferidapelos enfermeiros
TEMÁTICASVALORIZADAS
OPINIÕES EXPRESSAS
Educação para aSaúde
“Elucidaram-me da gravidade da situação, falaram-me dos
cuidados que devia respeitar no futuro, foram muito atenciosos e
delicados comigo, fiquei esclarecido.” - E3
“(…) sensibilizaram-me e motivaram-me muito para deixar de
fumar, foram incansáveis nos esclarecimentos.” - E4
“(…) esclareceram-me e motivaram-me para corrigir muitas
coisas que eu reconheço que estão erradas no meu estilo de vida.”
- E12
“Os enfermeiros de um modo geral foram muito esclarecedores na
forma como explicitaram os cuidados preventivos no EAM, as
consequências e a gravidade deste problema.” - E14
“(…) a importância da cessação dos hábitos tabágicos, a
introdução de mudanças sucessivas no estilo de vida por forma a
torna-la mais saudável. - E17
“(...) a persistência sistemática que mantiveram ao longo do
internamento no reforço das ideias de prevenção foi determinante
para eu adquirir uma postura mais crítica no meu estilo de vida no
dia-a-dia.” - E20
Estudo Empírico
125
Envolvimento depessoas
significativas
“A sensibilização da minha esposa e do meu filho para os
contornos de gravidade do problema e os cuidados a prosseguir no
futuro (…)”. – E9
“(…) envolveram a minha família, mantiveram-na informada de
tudo o que foi acontecendo, estiveram disponíveis e apoiaram-me
muito durante o internamento.” – E16
“(…)a presença minha família durante o internamento
especialmente os meus filhos, possibilitou-me superar melhor
aquele incidente, mas também a consciência que eles adquiriram
da gravidade da situação permite que agora eles me apoiem mais
do que aquilo que vinham fazendo(…).” - E15
Informação eCapacitação para a
Autonomia naGestão do Regime
Terapêutico
“(…) muito ajudaram à consciencialização que hoje tenho para a
tomada de opções de vida saudáveis.” - E4
“(…) permitiu-me antes de mais tomar consciência da gravidade
da gravidade da situação, (…) entretanto já pude verificar da
utilidade dessa informação e de como muitos aspectos que eles
sublinharam são importantes e me prepararam melhor para o
regresso a casa.” - E15
“Adquiri uma melhor consciência para a protecção da minha
saúde, e sobretudo a ideia de que tenho uma doença crónica, que
vai necessitar de atenção continua”. - E17
“Apreendi muitas coisas que me permitirão estar mais atento para
proteger a minha saúde.” - E18
“(…) a criação de uma nova consciência em mim quanto à
necessidade de fazer opções correctas.”- E16
Apoio eDisponibilidade no
Atendimento
“(…) encontrei enfermeiros disponíveis para ajudar, prestáveis,
atentos ao que se passa connosco e às necessidades que temos.” -
E9
“(…) já tive três internamentos no serviço e os enfermeiros foram
sempre profissionais disponíveis para me esclarecer, eles
desempenham muito bem o seu papel (…)” - E13
“(…) os enfermeiros é que dão tudo ao doente, (…) são
indispensáveis, dão o carinho, estão atentos às necessidades do
doente 24 horas por dia, respondem prontamente, (…) mantêm
uma postura positiva de disponibilidade, encorajamento e estímulo
permanente.” - E14
“(…) a disponibilidade, a proximidade e a atenção da equipa de
enfermagem, que de uma forma empenhada me encorajaram e
apoiaram naquele momento de crise.” – E17
“Apoio e envolvimento permanente com as dificuldades que senti
durante o internamento (…), apreciei toda a atenção que me
dispensaram e a forma como o fizeram” – E18
“(…) estiveram disponíveis e apoiaram-me muito durante o
internamento.” - E20
126
O conjunto de testemunhos dos doentes acerca do papel dos enfermeiros evidencia
vários aspectos que se prendem com a sua visão holística dos cuidados, a relação de
proximidade que mantêm no apoio e suporte emocional, as habilidades comunicacionais
e pedagógicas, a perseverança que imprimem na sua abordagem, o trabalho de
mobilização de recursos e de capacitação para enfrentar a situação. Outra dimensão do
papel dos enfermeiros tem que ver com as estratégias que utilizam para sensibilizar os
doentes como seja a focalização no carácter crónico da doença e a consciencialização
quanto às consequências, o envolvimento de pessoas significativas, através de um
conjunto de iniciativas que pretendem preparar o doente e a família para a autonomia na
gestão do regime terapêutico. O conjunto das percepções referidas pelos doentes acerca
do papel dos enfermeiros neste âmbito, reflecte bem o protagonismo que lhes é
reconhecido na acção sobre esta problemática, tal como refere a OE (2009, p.10), “os
enfermeiros encontram-se numa posição priviligiada para diagnosticar, intervir e
avaliar resultados nas questões relacionadas com a adesão aos regimes terapêuticos”.
Em resumo, apesar da percepção dos doentes sobre o trabalho desenvolvido pelos
enfermeiros em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico constatar
insuficiências em termos de planeamento, sistematização e de organização
metodológica no processo de preparação para alta ao nível da qualidade da informação
fornecida, do envolvimento das suas famílias, de uma participação mais efectiva dos
doentes na negociação das mudanças comportamentais a prosseguir, da necessidade de
apoio multidisciplinar e/ou necessidade de referenciação, da falta de suporte escrito
sobre o regime terapêutico a prosseguir, apesar dessas limitações, os doentes
reconhecem aos enfermeiros mérito nas competências que possuem, nas estratégias
de abordagem que utilizam para os sensibilizar para a problemática, a persistência
com que desenvolvem esse trabalho, a forma como valorizam os seus problemas nesse
momento de crise e os capacitam para enfrentar os problemas e o regresso a casa.
Paralelamente a estas limitações identificadas pelos doentes, verificamos que os
enfermeiros não fazem registos regulares e sistemáticos sobre as intervenções que
desenvolvem com prejuízo para a continuidade dos cuidados, que existe um deficit de
formação específica pela parte dos enfermeiros e de uma cultura de melhoria contínua
de práticas na equipa de enfermagem neste âmbito, factos que poderão contribuir para a
falta de consistência verificada no processo de preparação para alta.
Estudo Empírico
127
8.5 – PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS SOBRE O SEU PAPEL
A noção de que o êxito da adesão ao regime terapêutico no doente com história de
EAM, deve ser uma responsabilidade partilhada e assumida pelos enfermeiros, mereceu
concordância de todos, quando questionados nos seguintes termos: “O enfermeiro é co-
responsável pelo êxito da adesão regime terapêutico no doente com história de EAM?”.
A distribuição das opiniões foi de 55,56% e 44,44% respectivamente para “Concordo
Muito” e “Concordo” com a afirmação.
Os enfermeiros têm uma actuação de complementaridade funcional relativamente aos
demais profissionais de saúde, mas dotada de idêntico nível de dignidade e autonomia
de exercício profissional, n.º 3 do artigo 8.º do REPE. Neste sentido, também era
objectivo do estudo perceber o entendimento que os enfermeiros têm do seu papel, das
suas responsabilidades e naturalmente que competências reconhecem possuir que os
capacitam para um maior alcance no êxito das suas intervenções em torno da promoção
da adesão ao regime terapêutico no doente com história de EAM. Assim foi formulada
uma questão nos seguintes termos: “Qual a sua opinião acerca do papel do
enfermeiro no âmbito da adesão ao regime terapêutico proposto à pessoa com
história de EAM?”. Uma análise global às opiniões expressas pelos enfermeiros,
mostra que estes têm consciência de que se encontram numa posição privilegiada para
agir sobre esta problemática e ainda de que assumem essa responsabilidade com
naturalidade como são reveladores os excertos que a seguir transcritos:
“Os enfermeiros têm consciência de que muito do êxito que estes doentes venham a alcançar no
cumprimento do regime terapêutico proposto depende do investimento da enfermagem.” – E5,
“(…) muitos dos doentes internados não dispõe de outra fonte de informação que a
proporcionada pela enfermagem (…), é notório o reconhecimento por parte da equipa
multidisciplinar de saúde que a enfermagem está especialmente capacitada para educar estes
doentes para a adesão ao regime terapêutico” - E7
“O enfermeiro é elemento da equipa de saúde mais próximo do doente, e por conseguinte o que
dispensa mais tempo e atenção aos aspectos que influenciam a adesão ao regime terapêutico
(…)” – E12
“(…) a componente educativa cabe-nos quase em exclusivo, pela preparação e pelas
competências que possuímos, pelo acolhimento, receptividade e aceitação que as nossas
informações têm junto dos doentes.” - E6
A partir das opiniões expressas pelos enfermeiros acerca do seu papel em torno da
promoção da adesão ao regime terapêutico, foi possível agrupar os conteúdos por
128
categorias de competências identificadas, como estruturado na tabela 9. A competência
profissional pode ser definida como “a capacidade de mobilizar,articular, colocar em
acção, valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e
eficaz de actividades requeridas pela natureza do trabalho.” As competências
identificadas foram ao nível da componente “Diagnóstica”, “Pedagógica”, “Educativa”,
“Comunicacional e de persuasão”, “Liderança e coordenação”, de “Visão holística” e de
“Relacionamento interpessoal”.
Tabela 9 – Competências reconhecidas pelos enfermeiros para o desenvolvimento do
trabalho em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico
COMPETÊNCIAS
Diagnóstico
“(…) é um dos profissionais de saúde responsáveis por
diagnosticar e sinalizar as situações, compreender os
obstáculos que impedem o doente de melhorar o nível de
envolvimento com as recomendações propostas.” – E13
“Tem um papel fundamental no diagnóstico e sinalização
dos doentes que revelam dificuldade de adesão ao regime
terapêutico (…).” – E17
Pedagógicas
“(…) o conjunto de competências pedagógicas que fazem
uso são um importante recurso para melhorar os níveis de
adesão destes doentes.” (E8)
“(…) o enfermeiro dispõe de um conjunto de habilidades
e competências pedagógicas (…).” – E11
Educativas
“(…) a enfermagem está especialmente capacitada para
educar estes doentes para a adesão ao regime
terapêutico.” - E7
“(…) o enfermeiro é provavelmente a pessoa mais
habilitada para realizar ensinos sobre a importância da
adesão ao regime terapêutico, educar e motivar a pessoa
para adoptar estratégias de prevenção.” – E12
Comunicacionais e de
Persuasão
“(…) pode exercer grande capacidade de persuasão, no
sentido de orientar e sensibilizar o doente (…).” – E4
“(…) pelo acolhimento, receptividade e aceitação que as
nossas informações têm junto dos doentes.” – E6
Visão Holística
“(…) a sua sensibilidade para uma visão holística do
doente e desse modo uma melhor avaliação quanto às
possibilidades de êxito no cumprimento do regime
terapêutico proposto.” – E2
“(…) donde decorre um conhecimento profundo do seu
meio socioeconómico e cultural, das suas aptidões e das
suas limitações (...).” – E9
Estudo Empírico
129
“O enfermeiro é elemento da equipa de saúde mais
próximo do doente, e por conseguinte o que dispensa
mais tempo e atenção aos aspectos que influenciam a
adesão ao regime terapêutico (...).” – E12
Liderança/Coordenação
“Os enfermeiros têm consciência de que o êxito que estes
doentes venham a alcançar no cumprimento do regime
terapêutico proposto depende do investimento da
enfermagem.” – E5
“Cabe ao enfermeiro um papel crucial de elo de ligação,
entre o doente e a equipa multidisciplinar, no
envolvimento da família ou pessoa significativa, o doente
e a assistente social, a dietista, o psicólogo, a equipa de
saúde da área de residência no desenvolvimento de
estratégias que materializem a melhoria dos níveis de
adesão.” – E9
“(…) é o elemento da equipa de saúde multidisciplinar
melhor posicionado para coordenar todo o tipo de
intervenções ao nível desta problemática (…).” – E13
“O enfermeiro é frequentemente o único profissional da
equipa multidisciplinar que procura reunir dados e
informação (…).” – E15
Relação interpessoal
“(…) nível de empatia, envolvimento e confiança que se
estabelece durante o internamento com o doente.” – E3
“(…) estabelece uma relação de confiança e empatia
mais marcada.” – E12
“(…) pelo conhecimento acerca do ambiente
socioeconómico e hábitos de vida, assim como, pelo
nível de envolvimento que estabelecem com o doente.” –
E16
“(…) é com o enfermeiro que o doente se sente à vontade
para manifestar os seus problemas e os seus anseios (...).”
– E18
A adesão aos regimes terapêuticos enquadra-se numa componente comportamental
complexa e multidimensional. “A Pessoa é um ser social e agente intencional de
comportamentos baseados nos valores, nas crenças e nos desejos da natureza
individual, o que torna cada pessoa num ser único (…). Os comportamentos da pessoa
são influenciados pelo ambiente no qual ela vive e se desenvolve.” Ordem dos
Enfermeiros (2001, p.5). O respeito pela singularidade de cada ser humano e o
reconhecimento por parte do mesmo, dos conhecimentos e dos contributos que os
profissionais de saúde lhe podem oferecer, orientam-no para a adesão ao regime
terapêutico. Constata-se também que a disponibilidade e a forma como a relação
acontece melhoram também adesão dos doentes (Silva, 2010, p.103). A perspectiva de
130
Perroud (2008,141), sobre o uso de competências em contexto de trabalho parece
sustentar diversidade de estratégias que os enfermeiros utilizam em torno da promoção
da adesão ao regime terapêutico:
“- Identificar os obstáculos a serem superados ou os problemas a serem resolvidos
para realizar satisfazer uma necessidade;
- Considerar diversas estratégias realistas (do ponto de vista do tempo, dos
recursos e das informações disponíveis);
- Planejar e implementar a estratégia adoptada, mobilizando outros atores,em
caso de necessidade, e procedendo por etapas;
- Coordenar essa implementação conforme os acontecimentos, ajustando ou
modulando a estratégia prevista;
- Se necessário, reavaliar a situação e mudar radicalmente a estratégia;
- Respeitar, durante o processo, alguns princípios legais ou éticos cuja aplicação
nunca é simples (equidade, respeito pelas liberdades, esfera íntima, etc);
- Cooperar com outros profissionais sempre que for necessário, ou simplesmente
mais eficaz ou equitativo;
- Durante ou após a acção, extrair alguns ensinamentos para serem usados na
próxima vez, documentar as operações e as decisões para conservar as
características que podem ser utilizadas para a sua justificação, partilha ou
reutilização”.
Em resumo, o conjunto de competências enunciadas pelos enfermeiros reflecte por um
lado a sua preparação e simultaneamente a consciência da complexidade que a
abordagem desta problemática integra. O diagnóstico e sinalização dos casos
problemáticos facilitado por uma relação de confiança, de proximidade e de
envolvimento com a singularidade doente. A identificação e compreensão dos
obstáculos à adesão terapêutica através de uma visão holística do doente inserido num
contexto social, cultural e económico específico. A articulação com a equipa
multidisciplinar, coordenando e dinamizando o trabalho de educação e persuasão,
fazendo uso de habilidades comunicacionais e pedagógicas. A mobilização de recursos
para intervir sobre os obstáculos percepcionados e a capacitação do doente para a
autonomia na gestão do regime terapêutico. Finalmente referência á consciência que os
enfermeiros têm da sua imprescindibilidade para o êxito que estes doentes venham a
alcançar no cumprimento do regime terapêutico.
Estudo Empírico
131
8.6 – LIMITAÇÕES PERCEPCIONADAS EM TORNO DA ADESÃO AO REGIME
TERAPÊUTICO
Os instrumentos de colheita de dados tinham a pretensão de identificar obstáculos e
limitações ao trabalho dos enfermeiros em torno da promoção da adesão ao regime
terapêutico do doente com história de EAM, assim como, a identificação de
insuficiências em termos suporte no seguimento destes doentes ao longo do tempo pelos
serviços de saúde. Neste âmbito foi formulada uma questão aos enfermeiros nos
seguintes termos: “Os serviços de saúde dispõem de mecanismos de articulação entre si
(cuidados de saúde diferenciados/ cuidados saúde primários) e dos recursos necessários
para responder às solicitações destes doentes de modo melhorar os indicadores de
adesão ao regime terapêutico?”. As opiniões revelaram alguma dispersão, no entanto
prevalece claramente a ideia da insuficiência de recursos e de mecanismos de
articulação entre os cuidados de saúde diferenciados/cuidados de saúde primários
no suporte às necessidades destes doentes. A percentagens dos enfermeiros que
“Discordam ou “Discordam Muito” da afirmação somadas perfaz cerca de 66,67%
(Gráfico 16).
Gráfico 16 – Opinião dos enfermeiros sobre a articulação entre os serviços de
saúde e recursos disponíveis para o trabalho em torno da promoção da adesão ao
regime terapêutico
A percepção da maioria dos enfermeiros está em sintonia com a perspectiva da OMS
(2004, p.33), segundo aquele organismo internacional as características dos sistemas de
saúde e o papel dos seus profissionais têm em si mesmos constrangimentos à
132
abordagem desta problemática, faltam ferramentas clínicas que ajudem os profissionais de
saúde a avaliar e a intervir sobre os problemas, persistem dificuldades no cuidado e atenção às
solicitações dos doentes crónicos e outras.
A análise dos testemunhos dos enfermeiros permitiu também identificar opiniões que
exprimem constrangimentos e limitações com as quais estes profissionais são
confrontados no desenvolvimento do seu trabalho em torno da promoção da adesão ao
regime terapêutico no doente com história de EAM, como evidenciam as transcrições a
seguir apresentadas:
“(…) falta melhorar o nível de comunicação com a equipa multidisciplinar de modo a
aproveitar melhor as sinergias que podem ser geradas e canalizadas para a promoção da
adesão aos regimes terapêuticos.” – Q16
“A insuficiente valorização do impacto deste problema na saúde destes doentes por parte dos
decisores, têm impedido que os enfermeiros desenvolvam mais o seu trabalho nesta área de
intervenção.” – Q10
“(…) a insuficiente valorização que os decisores atribuem aos ganhos em saúde que os
enfermeiros podem obter neste âmbito.” – Q12
“O planeamento da alta deveria ser mais metódico, o internamento por vezes é muito curto
deixando pouca margem para trabalhar a motivação destes doentes em torno da adesão ao
regime terapêutico.” – Q3
No que se refere aos condicionalismos em torno do trabalho de equipa, Graça citada por
Cainé (2004, p.27), refere que um dos mais sérios obstáculos é o desconhecimento
por parte dos profissionais, da natureza da função e do nível de competências de
cada um, associada à existência de estereótipos na relação de uns com os outros. No
conceito de trabalho em equipa uma das ideias claras é o da "relação igualitária ", não
subordinada e não hierárquica. Às razões enunciadas anteriormente não será alheia a
constatação dos enfermeiros de que o trabalho em torno da promoção da adesão aos
regimes terapêuticos e os ganhos em saúde tem merecido pouca valorização por parte
dos decisores. Como já foi referido anteriormente verificou-se que o processo de
preparação para a alta desenvolvido pelos enfermeiros incluídos neste estudo, carece de
melhor documentação e sistematização, no entanto, seria oportuno referir dois outros
aspectos que nos parecem concorrer para o problema. Por um lado a demora média de
internamento que para os doentes incluídos neste estudo foi de apenas 4 dias com as
consequências que daí decorrem, por outro, a decisão da alta médica assente em
critérios exclusivamente clínicos. Neste âmbito Cainé (2004, p.28) refere, a ausência de
Estudo Empírico
133
qualquer partilha de decisão impede, e muitas vezes não respeita nem valoriza, a
tomada de decisão dos enfermeiros em relação à preparação da alta de
enfermagem, ignorando aspectos como a dependência do doente para o auto cuidado, a
não demonstração de comportamentos de procura de saúde ou a incapacidade no
desempenho do papel do cuidador informal. O mesmo autor refere que a actual política
de altas precoces tende a originar doentes com maior grau de dependência física,
emocional e maiores défices cognitivos sobre a sua condição de saúde e modos de lidar com
ela.
A existência de profissionais de refrência no seguimento dos doentes ao longo do
tempo, é reconhecido como um aspecto organizacional positivo para a melhoria dos
comportamentos de adesão (OMS, 2004, p.23). Também a frequência com que
acontecem as consultas, a disponibilidade e a qualidade da relação que se estabelece
com os doentes demonstrou favorecer a adesão ao regime terapêutico (Silva, 2010,
p.103). Neste âmbito foram questionados os utentes acerca da sua perspectiva quanto à
utilidade da criação de uma consulta de enfermagem regular, nos seguintes termos: “Vê
utilidade para si, da existência de uma consulta de enfermagem de seguimento periódico
neste hospital depois de ter sofrido EAM?”.
Gráfico 17 - Opinião dos doentes sobre a criação de uma consulta de enfermagem de
“follow-up” para o EAM.
No mesmo sentido foram também questionados os enfermeiros: “Concorda com a
participação de um enfermeiro na consulta de “follow-up” do doente com história
anterior de EAM?”.
134
Gráfico 18 - Opinião dos enfermeiros sobre a criação de uma consulta de enfermagem de
“follow-up” para o EAM.
Os gráficos 17 e 18 , mostram claramente que doentes e enfermeiros são fovoráveis à
criação de uma consulta de enfermagem de “follow-up” no EAM, com 72,73% e
83,33% de opiniões favoráveis respectivamente. De modo a perceber de que forma estes
dois importantes parceiros do processo de adesão ao regime terapêutico, vêm a utilidade
deste recurso de apoio e acompanhamento após episódio de EAM questionaram-se
enfermeiros e utentes. Relativamente às razões enunciadas pelos enfermeiros destacam-
se os argumentos relacionados com a:
1 – Continuidade das estratégias de abordagem dos problemas, iniciadas durante
o internamento e avaliação da sua eficácia;
2 – Monitorização da integração dos regimes terapêuticos pelos doentes;
3 – Rentabilização da qualidade do relacionamento mantido com os utentes
durante o internamento e do conjunto de competências de que os enfermeiros
dispõem para influenciar as opções dos utentes na obtenção de ganhos em saúde;
4 – Desenvolvimento de competências no âmbito desta problemática decorrente
da experiência obtida pelo seguimento destes doentes;
5 – Visibilidade para a enfermagem numa área que garante ganhos em saúde e
está insuficientemente explorada.
Seguidamente transcrevem-se alguns excertos dos argumentos expressas pelos
enfermeiros em torno da criação de uma consulta de enfermagem de “follow-up” no
EAM:
Estudo Empírico
135
“A consulta possibilitaria dar continuidade ao trabalho iniciado durante o internamento, a
adesão ao regime terapêutico é um processo de continuidade que necessita de informação,
suporte, orientação ao longo do tempo. Essa consulta possibilitaria também um maior
desenvolvimento de competências dos enfermeiros neste âmbito, pelo trabalho de
continuidade.” – E7; “Adquirir mais experiência na gestão destes doentes e melhorar as
práticas (…).” – E8; “Era um espaço de grande visibilidade para a enfermagem pela garantia
de ganhos em saúde, particularmente importante porque se trata de uma doença de evolução
assintomática (…).” – E4,
“A consulta de enfermagem neste âmbito era também uma oportunidade para avaliar as
estratégias desenvolvidas durante o internamento, a qualidade da informação prestada, a
mobilização de novos recursos que capacitem o doente para a auto-suficiência na gestão do seu
regime terapêutico.” – E9, “ (…) desde logo a continuidade de um trabalho iniciado no
internamento de informação e capacitação para a gestão da doença e do regime terapêutico ao
longo do tempo. Os enfermeiros detêm um conjunto de competências pedagógicas
imprescindíveis na prevenção secundária do EAM (…).” – E12;
“É reconhecido aos enfermeiros importantes competências pedagógicas, facilidade e qualidade
no relacionamento com os doentes, neste âmbito os enfermeiros poderiam gerar importantes
benefícios para a saúde dos doentes e para a economia de recursos na saúde. Estas consultas
deveriam suceder-se com uma regularidade de 1.º mês, 3.º mês, 6.º mês e um ano (…).” – E17
Os utentes que se pernunciaram favoravelmente à criação de uma consulta de
enfermagem de “Follow-up” no EAM, também referiram vários argumentos, alguns
deles concordantes com os referidos pelos enfermeiros. Os aspectos mais notórios dos
seus testemunhos relacionam-se com:
1 – Reconhecimento de competências de que os enfermeiros dispõe, que
facilitam a preparação e a capacitação dos doentes para a autonomia na gestão
do regime terapêutico;
2 – Disponibilidade dos enfermeiros para acolher e valorizar as preocupações
dos doentes;
3 – Vantagens do processo de continuidade do trabalho iniciado durante o
internamento;
5 – Vantagens da multidisciplinariedade.
Seguidamente transcrevem-se alguns excertos dos argumentos expressas pelos utentes
em torno da criação de uma consulta de enfermagem de “follow-up” no EAM:
136
“A maneira de estar do enfermeiro e do médico, a forma de abordagem é diferente, um não
dispensa o outro…, por exemplo, o apoio psicológico muito importante após um EAM, eu vejo o
enfermeiro a investir muito mais nisso que o médico, ficar dois meses por vezes mais sem
trabalhar, isso afecta psicologicamente, a consulta de enfermagem poderia ser um balão de
oxigénio para algumas pessoas na forma como se devem posicionar perante as dificuldades”. –
E8; “Talvez nessa consulta se pudesse obter a valorização dos problemas, orientação e
esclarecimento que não encontramos no centro de saúde.” – E9; “Penso que seria uma forma
de complementaridade…, os enfermeiros focam os aspectos do cuidado na melhoria do estilo de
vida de uma forma metódica, centrada nas possibilidades que temos de melhorar…, se
assegurado por enfermeiros que já conhecemos do internamento então os proveitos poderiam
melhores, haveria uma maior sintonia.” – E17;
“(…) penso que o relacionamento com os enfermeiros é mais aberto, há maior proximidade…,
facilmente nos sentimos à vontade para esclarecer dúvidas, eles são mais sensíveis aos
problemas e antecipam muitas vezes aquilo de que nós necessitamos. A experiência que tive no
internamento permitiu-me ver como os enfermeiros estão mais voltados para os doentes (…),
seria mais uma oportunidade para as pessoas encontrarem respostas para algumas dúvidas.” –
E19; “Penso que o trabalho dos enfermeiros com os doentes é mais informal e isso é mais
libertador para o doente se sentir à vontade para falar…, acho que poderia ser bom, pelo
menos as pessoas dispunham de mais uma alternativa às vezes precisamos de uma segunda
opinião.” – E20
No sentido de aferir a acessibilidade e a satisfação com o suporte proporcionados pelos
serviços de saúde após o EAM, foi dirigida uma questãos aos doentes inquiridos nos
seguintes termos: “Após o EAM notou da parte dos serviços de saúde e dos seus
profissionais, mais atenção e disponibilidade e/ou facilidade de acesso, para se poder
informar e esclarecer no sentido de tomar as opções mais convenientes no interesse da
sua saúde?”. A opinião generalizada dos doentes inquiridos, cerca de 77,27% foi no
sentido de que os serviços de saúde e os seus profissionais não estão a prestar o
acompanhamento e o suporte que os doentes julgam necessário após um evento crítico
de saúde como é o EAM. A percepção dos doentes e dos enfermeiros concoradante
quanto à capacidae dos serviços fazerem um acompanhamento que posibilite responder
às solicitações destes doentes e simultãneamente possibilite moniturizar o processo de
integração dos regimes terapêuticos, diagnosticar e intervir sobre os obstáculos.
Estudo Empírico
137
No sentido da questão anterior, mas agora direccionada especificamente para o suporte
proporcionado pelos enfermeiros dos serviços de saúde da comunidade, foi dirigida uma
questão nos seguintes termos: “A equipa se enfermagem do centro de saúde da sua área
de residência após ter tido conhecimento do EAM que sofreu, proporcionou-lhe alguma
atenção acrescida na perspectiva de o esclarecer e orientar na tomada de opções de vida
saudáveis de modo a prevenir a recorrência do EAM?”. O sentido das opiniões quanto
ao suporte da equipa da enfermagem dos serviços de saúde da comunidade, é também
de manifesta insatisfação com 86,36% dos doentes a considerarem esse suporte
insuficiente.
Foi também solicitado aos doentes que se pronunciassem sobre as dificuldades que tem
encontrado no suporte proporcionado pelos serviços de saúde da comunidade. Algumas
das ideias que prevalecem referem-se à percepção de que os seus problemas não são
convenientemente valorizados, persiste inércia nas tomadas de decisão, oferta de
cuidados insuficiente, deficit na valorização e no investimento desta problemática pelos
profissionais, dificuldades de comunicação e ainda aparente falta de confiança nos
serviços. Transcrevem-se a seguir alguns excertos das entrevistas que evidenciam
percepção de insuficiências e dificuldades:
“(…) até ao momento as dificuldades são as mesmas de sempre. Só aqui neste hospital é que
dão a atenção conveniente a problemas desta gravidade. Aquilo que eu noto é que o meu centro
de saúde tem dificuldade em dar importância ao que realmente a merece, ouvir as pessoas e
tomar decisões atempadas e competentes, enquanto assim não for vejo pouca utilidade para
mim do meu centro de saúde.” – E17; “(…) a minha opinião é de que as coisas funcionam mal
e quando precisamos de apoio é muito difícil consegui-lo (…).” – E7; “(…) por mais do que
uma ocasião aquilo que tenho notado é falta de sensibilidade, não valorizam os nossos
problemas, uma ocasião já questionam a oportunidade de eu me dirigir à urgência, o médico
reagiu exaltado (…).” – E8;
“Acho que lhes falta experiência embora até sejam atenciosos, parecem mal preparados. Já
passei por situações reveladoras de uma enorme falta de sensibilidade, é frustrante (…).” – E6;
“(…) o meu médico de família só passa papéis, não se interessa pelos doentes, não dá grande
atenção aos nossos problemas.” – E22; “Da parte do meu médico de família ele não se esforça
minimamente, eu também não conto com ele, não paga a pena esperar vários dias por uma
consulta e depois ele não me dar mais do que dois minutos de atenção…., raramente vou ao
centro de saúde.” – E10.
138
As características dos sistemas de saúde e o papel dos seus profissionais têm em si
mesmos constrangimentos à abordagem da problemática da adesão ao regime
terapêutico, persistem limitações com a capacidade de educar os doentes e assegurar o
“followup”; os serviços de saúde mantêm horários desfasados das necessidades dos
doentes, pouca oferta de consultas, profissionais de saúde sobrecarregados de trabalho,
sem incentivos e sem “feed-back” do seu desempenho, deficiências na qualidade do
relacionamento com os utentes e na atenção que dispensam às solicitações, deficit de
formação e treino específico na gestão de doenças crónicas, entre outras (OMS, 2004,
p.33). As dificuldades percepcionadas e relatadas pelos doentes inquiridos relativamente
à forma como os serviços de saúde respondem às suas solicitações, enquadra-se no
conjunto das insuficiências referidas pela OMS. Transcrevem-se a seguir alguns
excertos dos testemunhos dos doentes, que dão nota dessas insuficiências:
“(…) o meu médico de família só passa papéis, não se interessa pelos doentes, não dá
grande atenção aos nossos problema (…). Sempre que tenho necessidade de ir lá, quase
sempre venho desiludido com o atendimento. Precisávamos de um “médico moderno”,
que valoriza-se as nossas preocupações, que cumprisse com os seus deveres.” – E22;
“Eu frequento pouco o centro de saúde (…), vejo os enfermeiros muito ocupados com
os idosos (…). Não notei mais atenção, ninguém me abordou da parte da enfermagem
quando fui à consulta. (…) quando precisamos de alguma coisa urgente é desesperante,
não há ninguém disponível para nos ajudar.” – E12; “Os serviços de saúde da nossa
área de residência se funcionassem bem era uma boa ajuda (…), mas infelizmente eu
não posso perder um dia de trabalho para ir medir a TA ou para pedir um
esclarecimento, os profissionais estão lá mas não respondem aos nossos problemas.” –
E7; “(…) não posso contar com o centro de saúde, não tenho médico de família, para
passar os medicamentos tem que ser o médico da empresa, o centro de saúde é uma
confusão, não vale a pena ir lá (…).” – E6; “(…) aquilo que me parece ser a regra é a
indiferença e a enorme falta de sensibilidade quando necessitamos de apoio,
orientação, esclarecimentos para aspectos básicos da nossa saúde.” – E9;“(…) o meu
cento de saúde não investe muito nos seus doentes, para conseguir uma consulta é
muito difícil e depois a atenção que nos dão na consulta é mínima.” – E3.
A generalidade das opiniões é bastante crítica com os serviços de saúde da comunidade,
embora em menor número existem também opiniões positivas acerca do atendimento e
do apoio dispensados por aqueles serviços, como são reveladores os excertos que a
Estudo Empírico
139
seguir se trnanscrevem: “(…) abordam-me sempre, reforçam quanto á necessidade de ser
cumpridor no conjunto dos cuidados, sinto-me apoiado, têm feito um bom trabalho. Não tenho
queixas a fazer.” – E16; “(…) os enfermeiros do meu centro de saúde são realmente
competentes, quando souberam que tinha estado internado quiseram saber o que se tinha
passado, em que é que podiam ajudar…, falaram comigo de uma forma interessada,
preveniram-me que me deveria manter atento e ser mais rigoroso nos cuidados com a diabetes,
frequentar mais o centro de saúde (…).” – E20
Em resumo, as percepções dos enfermeiros e dos doentes inquiridos são concordantes
quanto à persistência de insuficiências no seguimento destes doentes ao longo do tempo
e em particular no que se refere ao apoio dispensado pelos serviços de saúde na
comunidade. Neste âmbito os doentes destacam a insuficiente valorização dos seus
problemas, percepção de inércia nas tomadas de decisão, limitações quanto à oferta de
cuidados, insuficiente investimento dos profissionais na valorização desta problemática,
dificuldades de comunicação e ainda aparente falta de confiança nos serviços.
Pela parte dos enfermeiros também foram referidas algumas limitações ao
desenvolvimento do seu trabalho em torno da adesão ao regime terapêutico,
nomeadamente: dificuldade de comunicação com a equipa multidisciplinar, deficiências
no processo de planeamento da alta, insuficiente percepção do impacto desta
problemática sobre a saúde dos doentes por parte dos decisores hierárquicos e a esse
aspecto estritamente associado a insuficiente valorização dos ganhos em saúde
conseguidos pelos enfermeiros. Relacionam-se também com estas limitações, outras já
anteriormente referidas e analisadas nomedamente, a falta de documentação e de
sistematização das intervenções em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico
durante o episódio de internamento por EAM, falta de suporte escrito com a instruções
sobre o regime terapêutico no momento da alta e ainda a constatação de uma falta de
cultura de melhoria continua de práticas neste âmbito, a maioria dos enfermeiros
inquiridos nunca frequentou ações de formação ou eventos temáticos relacionadas com
a problemática da adesão aos regimes terapêuticos. Finalmente a referência à criação de
uma consulta de enfermagem de “Fullow up” especificamente para o seguimento destes
doentes, foi referida argumentação diversificada por parte de enfermeiros e doentes
favorável à sua criação.
140
CONCLUSÃO
As percepções dos enfermeiros e dos doentes quanto à incidência do incumprimento do
regime terapêutico não medicamentoso embora apresentem tendências diferentes, são
concordantes quanto ao reconhecimento da existência do problema. Estimou-se que
63,64% dos doentes aderiram ao regime terapêutico proposto, enquanto que 36,37% se
revelaram não aderentes. Pela parte dos enfermeiros a percepção de incumprimento do
regime terapêutico no doente com história de EAM, traduziu-se em “Frequente” – 50%,
“Ocorre por Vezes” – 44,4% e “Muito Frequente” em 5,6%. Embora as amostras sejam
de carácter não probabilístico, o incumprimento do regime terapêutico percepcionado
pelos doentes está abaixo do referido pela generalidade dos autores para os doentes
crónicos, estimado em torno dos 50% (Delgado e Lima, 2001, p.82; Franco, 2007, p.19;
Maia, 2008, p.42 e OMS, 2004, p.7). Relativamente à percepção dos enfermeiros o
valor encontrado está de acordo com o referido na literatura.
A adesão percepcionada pelos doentes para o cumprimento do regime terapêutico
medicamentoso pela aplicação da “Escala de Medida de Adesão ao Tratamento
Medicamentoso” de Delgado e Lima (2001), foi de 84,29% de doentes aderentes. O
nível de adesão verificado para o regime terapêutico medicamentoso é superior ao
verificado para o regime terapêutico não medicamentoso, este facto está de acordo com
o referido por Joyce-Moniz e Barros (2005, p.330) para as afecções coronárias.
A análise das representações dos doentes sobre EAM, baseado no Modelo do “Senso
Comum da Doença” de Leventhal, et. al. (1984), permitiu constatar que os doentes
ainda têm bem presente a sintomatologia exuberante própria de um evento de EAM e
simultaneamente a consciência da gravidade da situação. Foram usadas expressões de
grande emotividade e dramatismo (“Podia ter morrido.”, “É o fim da vida de uma
pessoa.”, “Experiência terrível.”, “Fiquei arrasado”, “É o limite”). O impacto da
doença influencia o indivíduo na percepção do risco e na prioridade colocada na adesão,
nesse sentido os indicadores de adesão ao regime terapêutico não medicamentoso
percepcionados pelos doentes participantes no estudo (63,64%), poderão estar
relacionado com a experiência recente do evento de EAM. O EAM é uma manifestação
aguda de um problema crónico e assintomático – a doença aterosclerótica. A abordagem
141
desta problemática expõe assim dois momentos de expressão motivacional distintos, no
período imediato pós-EAM a experiência traumática recente favorecerá a percepção de
gravidade, vulnerabilidade e consequentemente de receptividade ao regime terapêutico.
Enquanto a longo prazo o carácter assintomático da evolução da doença e a diminuição
da percepção da ameaça tenderá a desmobilizar os doentes do cumprimento do regime
terapêutico, neste sentido será previsível que a longo prazo os níveis de adesão nestes
doentes baixem consideravelmente. Outro aspecto de salientar refere-se à representação
errada das causas e da percepção de controlabilidade/ cura da doença verificada em
quatro doentes. Neste âmbito Figueiras (2008, p.38), refere que a orientação das crenças
determinará o sentido do confronto com a doença, neste caso a consequência é o
desenvolvimento de estratégias de cooping disfuncional.
Relativamente às causas responsáveis pelo incumprimento do regime terapêutico no
doente com história de EAM, os enfermeiros referiram uma grande diversidade de
aspectos que foram agrupados em seis categorias: “Problemas socioeconómicos”,
“Deficit de informação”, “Baixo nível de formação”, “Deficit de motivação” e ainda
“Deficit de apoio familiar e/ou institucional”. A percepção expressa pelos enfermeiros
inquiridos vai no sentido do reconhecimento de que se trata de uma problemática
complexa de causa multi-factorial, esse é também o entendimento da OMS (2004, p.27),
ICN (2007, p.2) e OE (2009, p.10).
A adesão ao regime terapêutico é reconhecida como uma área de intervenção dos
enfermeiros, concretamente na necessidade de cuidados de enfermagem, da pessoa,
família ou comunidade, expressa nos diagnósticos de enfermagem: “Adesão ao Regime
Terapêutico Não Demonstrada ou Adesão ao Regime Terapêutico Comprometida” de
acordo com a versão Beta 2 ou versão 2 da CIPE respectivamente (ICN, 2001 e 2005),
neste âmbito as conclusões deste estudo quanto às estratégias implementadas pelos
enfermeiros, permitiu identificar seis domínios de intervenção: “Educação para a
saúde”, “Envolvimento da Família ou Pessoa significativa”, “Negociação de
objectivos”, “Mobilização de recursos da comunidade”, “Estabelecimento de uma
relação terapêutica” e ainda “Sinalização e Referenciação dos casos problemáticos”. As
estratégias diversificadas referidas pelos enfermeiros decorrem da necessidade de
personalizar, contextualizar e adaptar as formas de intervenção ao quadro circunstancial
de cada doente respeitando a sua individualidade. Por outro lado, expressam a
142
consciência de que este trabalho deve ser desenvolvido numa lógica de parceria
alargada que inclua a equipa multidisciplinar, os doentes e suas as famílias, assim como
as entidades comunitárias (serviços de saúde, instituições de solidariedade social e a
comunidade). A consciencialização e a capacitação do doente com informação que lhe
permita ser agente intencional de mudanças comportamentais e de estilos de vida no
interesse da sua saúde, é um pilar fundamental do processo de adesão ao regime
terapêutico, nesse sentido no que diz respeito ao domínio de intervenção da “Educação
para a Saúde” referida pelos enfermeiros foram identificadas quatro temáticas
específicas: “Estilo de vida”, “Carácter crónico e assintomático da doença”,
“Explicitação de conceitos”, “Consciencialização para consequências do incumprimento
do regime terapêutico proposto”.
Como já foi referido, os enfermeiros inquiridos neste estudo reconhecem a dimensão e a
complexidade que a abordagem da problemática da adesão ao regime terapêutico no
doente com história de EAM encerra. Os seus testemunhos permitiram também perceber
que se encontram numa posição privilegiada para intervir e no âmbito da equipa
multidisciplinar são os profissionais que mais tempo e atenção dedicam ao problema e
portanto acreditam que o êxito deste processo muito depende da sua persistência e
envolvimento. Neste âmbito, era objectivo do estudo compreender melhor o papel do
enfermeiro e identificar as competências que estes reconhecem possuir e que os
capacitam para um maior alcance nas suas intervenções em trono da promoção da
adesão ao regime terapêutico. As competências identificadas foram ao nível da
componente: “Diagnóstica”, “Pedagógica”, “Educativa”, “Comunicacional e de
persuasão”, “Liderança e coordenação”, de “Visão holística” e de “Relacionamento
interpessoal”.
A perspectiva dos doentes sobre o papel desenvolvido pelos enfermeiros durante o
episódio de internamento por EAM, no âmbito da promoção da adesão ao regime
terapêutico evidência duas perspectivas distintas, por um lado, reconhecem aos
enfermeiros mérito nas competências que possuem, nas estratégias de abordagem que
utilizam para os sensibilizar e motivar, a persistência com que desenvolvem esse
trabalho, a forma diligente como valorizam os seus problemas nesse momento de crise e
os capacitam para enfrentar a situação e o regresso a casa, por outro lado, verificou-se
que esse trabalho era deficitário quanto à qualidade da informação fornecida, quanto à
143
participação do doente na negociação do regime terapêutico proposto, quanto ao
envolvimento das famílias na preparação para alta, no que se refere à falta de
documentação escrita no momento da alta sobre o conjunto de cuidados a prosseguir e
finalmente no plano da sistematização e de organização metodológica do processo de
preparação para a alta em que se verificou que alguns doentes não foram objecto dessa
preparação.
As percepções dos enfermeiros e dos doentes inquiridos são concordantes quanto à
persistência de insuficiências no seguimento destes doentes ao longo do tempo, em
particular no que se refere ao apoio dispensado pelos serviços de saúde na comunidade.
Neste âmbito, os doentes destacam a insuficiente valorização dos seus problemas,
percepção de inércia nas tomadas de decisão, insuficiente preparação dos profissionais,
limitações quanto à oferta de cuidados, insuficiente investimento dos profissionais na
valorização desta problemática, dificuldades de comunicação e ainda aparente falta de
confiança nos serviços. Pela parte dos enfermeiros também foram referidas limitações
ao desenvolvimento do trabalho em torno da adesão ao regime terapêutico,
nomeadamente: dificuldade de comunicação com a equipa multidisciplinar no
planeamento da alta, insuficiente percepção do impacto desta problemática sobre a
saúde dos doentes por parte dos decisores hierarquicos e a esse aspecto associado a
insuficiente valorização dos ganhos em saúde conseguidos pelos enfermeiros neste
âmbito. Constatou-se também um deficit de formação específica por parte da
generalidade dos enfermeiros e a falta de uma cultura de melhoria contínua de práticas
no trabalho em torno da promoção da adesão ao regime terapêutico.
Finalmente a referência à criação de uma consulta de enfermagem de “Fullow up”,
especificamente para o seguimento ao longo do tempo dos doentes após o episódio de
EAM. Foi referida argumentação diversificada por parte dos enfermeiros e dos doentes,
sendo que a maioria dos sujeitos participantes foi favorável à criação da consulta.
Relativamente à argumentação dos doentes destaca-se: o reconhecimento de
competências de que os enfermeiros dispõe que facilitam a preparação e a capacitação
dos doentes para a autonomia na gestão do regime terapêutico, a disponibilidade dos
enfermeiros para acolher e valorizar as preocupações dos doentes, as vantagens do
processo de continuidade do trabalho iniciado durante o internamento e da
multidisciplinariedade. Relativamente à argumentação dos enfermeiros destaca-se:
144
Continuidade das estratégias de abordagem dos problemas, iniciadas durante o
internamento e a avaliação da sua eficácia, monitorização da integração dos regimes
terapêuticos pelos doentes nos seus hábitos de vida, rentabilização da qualidade do
relacionamento mantido com os utentes durante o internamento e do conjunto de
competências de que os enfermeiros dispõem para influenciar as opções dos utentes na
obtenção de ganhos em saúde, desenvolvimento de competências no âmbito desta
problemática decorrente da experiência obtida pelo seguimento destes doentes e ainda a
visibilidade para a enfermagem numa área que garante ganhos em saúde e está
insuficientemente explorada.
Limitações do estudo
Existemtrês factosquenanossaperspectivapoderão ter condicionado aqualidadedosdados recolhidose
por conseguinte as próprias conclusões deste estudo. Desde logo o facto de desempenhar o papel de
investigador e simultaneamente fazer parte da equipa de saúde e do ambiente onde os doentes
experienciaram aspectos de relevância para os objectivos deste estudo. Consideração que se aplica
também aos dados obetidos junto dos enfermeiros. Por outro lado, o ambiente em que foi feito o
levantamento de dados, no momento da consulta de “follow up”, período em que os doentes ainda se
sentemvinculados àinstiuição, esteaspectopoderá tercondicionadoaorientação eo alcancedasopiniões
expressas pelos doentes, apesar do consentimento informado referir expressamente a garantia de
anonimato eosobjectivosdo estudo. Finalmenteno quese refere à falta de experiência eminvestigação e
asconsequênciasquedaídecorremnatomadadedecisõesaolongodetodooprocessode investigação.
Sugestão
A adesão ao regime terapêutico no doente vítima de EAM é um fenómeno comportamental complexo e
de difícil caracterização pela envolvência multifactorial que concorre para a sua expressão, nesse sentido,
este estudo centrado no papel do enfermeiro e na sua percepção acerca dos contornos desta problemática
acrescenta um modesto contributo para a sua compreensão. O desenvolvimento de um um estudo de
carácter multidisciplinar possibilitaria chegar a conclusões mais esclarecedoras acerca das insuficiências
que ainda se verificam no acompanhamento destes doentes e da forma como organizar uma oferta de
cuidadosmultidisciplinaresmaiseficiente.
145
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154
Anexo I
Guião da Entrevista aos Doentes
1
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Jorge Miguel Dias Henriques
GUIÃO DE ENTREVISTA - DOENTES
ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA COM HISTÓRIA
DE EAM – O PAPEL DO ENFERMEIRO
Coimbra, Janeiro de 2010
2
ENTREVISTA NÚMERO _____
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Sr. Utente.
Durante o último internamento por EAM (Enfarte Agudo do Miocárdio) no Serviço de
Cardiologia/UCIC do Centro Hospitalar de Coimbra, EPE, a equipa de enfermagem
integrada no conjunto da equipa de saúde multidisciplinar, fez-lhe um conjunto de
recomendações e esclarecimentos quanto ao regime terapêutico a seguir, de modo a
prepara-lo e capacita-lo melhor para prevenir a recorrência de novo episódio de EAM e
gerir a sua saúde de forma mais informada.
Esta entrevista pretende compreender melhor o papel dos enfermeiros, na promoção da
adesão ao regime terapêutico proposto às pessoas com história de EAM (Enfarte Agudo
do Miocárdio), para tal é imprescindível a sua colaboração. De modo a facilitar o
tratamento dos dados solicito a sua autorização para a gravação áudio da entrevista.
Serão salvaguardados todos os aspectos de ordem ética e legal, nomeadamente
anonimato, confidencialidade dos dados e a sua destruição depois de comprida a sua
finalidade. A sua participação é facultativa, podendo a qualquer momento cancelar o seu
consentimento. Grato pela sua atenção, fico à sua disponibilidade para qualquer
esclarecimento adicional sobre a natureza e âmbito deste estudo.
Se entende estar esclarecido e aceita participar, pedia-lhe o favor de assinar este
documento.
______________________________________________________________________
Muito Obrigado!
Enf.º Jorge Henriques
(Contacto móvel: 914635786 / e-mail: [email protected])
3
DADOS PESSOAIS
1. Idade: _________ anos
2. Sexo: Masculino Feminino
3. Diga-me por favor, qual o seu estado civil:
Solteiro
Casado ou em União de facto
Divorciado
Viúvo
ESCOLARIDADE
4. Qual o seu grau de habilitações literárias?
Não sabe ler nem escrever
Sabe ler e escrever mas não tem nenhum diploma
Sabe ler e escrever mas não tem a 4ª classe
4ª Classe
Ciclo Preparatório ou equivalente
5º ano antigo, 9º ano actual ou equivalente
7º ano antigo, 11º ano actual ou equivalente
12º ano
Ensino Profissional
Ensino superior
CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONÓMICA
5. Qual a sua profissão?
______________________________________________________________________
6. Qual é a sua situação profissional?
Tem um trabalho remunerado
Está reformado/a /pensionista
Ocupa-se das tarefas do lar
3.1 Agregado Familiar:
Vive sozinho(a)
Família Restrita
Instituição Social
4
Vive de rendimentos
Está desempregado/a
Está de baixa
É estudante
7. Como é que se sente em relação à sua situação financeira?
Confortável
Tenho o suficiente para as necessidades
Tenho algumas dificuldades
É muito problemática
ANTECEDENTES PESSOAIS DE SAÚDE
8. Quantos Enfartes já teve? ______
8.1.Quantas vezes já esteve internada no serviço de cardiologia/UCIC do CHC?
______________________________________________________________________
9. Tinha factores de risco cardiovascular previamente à ocorrência do EAM?
Sim (se respondeu sim, passar para a pergunta 9.1)
Não
Não sei
Não responde
9.1. Qual ou quais os factores de risco cardiovascular que tinha previamente à
ocorrência do EAM.
HTA (hipertensão arterial)
Diabetes Mellitus
Hábitos tabágicos
Stresse
Obesidade
Dislipidémia
História Familiar
Vida sedentária
5
10. Durante o internamento aquando do EAM, foi informado (a) acerca das
consequências do mesmo e dos cuidados a prosseguir de modo a prevenir a sua
recorrência.
Sim
Sim, mas de forma insuficiente
Não
Não sabe
Não responde
10.1 Ficou esclarecido relativamente à informação que a equipa de enfermagem lhe
prestou?
Sim
Sim, mas de forma insuficiente
Não
Não sabe
Não responde
10.2 Em que medida a equipa de enfermagem foi determinante para o seu
esclarecimento?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
11. Como define o EAM?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
11.1 Na sua opinião os cuidados que lhe foram sugeridos pela equipa de saúde durante
o internamento são para cumprir por quanto tempo?
Apenas por algum tempo, enquanto não se sentir bem
Para toda a sua vida
Enquanto tomar medicamentos
PERCEPÇÃO GLOBAL SOBRE O PROCESSO DE ADESÃO AO REGIME
6
12. A sua família mais próxima tem conhecimento dos cuidados para prevenir a
recorrência de novo EAM?
Sim
Sim, mas de forma insuficiente
Não
Não sabe
Não responde
13. Costuma partilhar as suas preocupações quanto à sua saúde, com os seus familiares
mais próximos ou pessoas significativas para si?
Sim
Não
Não sabe
Não responde
14. Tem cumprido as recomendações propostas pela equipa de saúde?
(Assinale a sua opção com um (X) sobre o número)
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
6 5 4 3 2 1
15. Do conjunto das recomendações que lhe foram transmitidas qual/quais dos aspectos
não tem sido possível cumprir? (Pode indicar mais do que uma opção).
Controlo da diabetes Mellitus
Cessação tabágica
Redução do Peso
Controlo da TA (tensão arterial)
Cuidados com a dieta
Exercício físico
Abuso de Bebidas alcoólicas
Toma correcta da medicação
Redução do Stresse
Frequentar as consultas regularmente
7
16. Os enfermeiros durante o internamento incentivaram-no a expor os problemas que o
impediam de ser mais rigoroso no cumprimento dos cuidados globais para prevenir
novo EAM?
Sim
Não
Não sabe
Não responde
16.1. Quais as razões que o impediram de cumprir as recomendações propostas?
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
17. Aquando do internamento por EAM na preparação da alta foi consultado sobre a sua
concordância com o regime terapêutico de ambulatório, e as metas a alcançar em termos
de correcção de factores de risco cardiovascular e mudanças no seu estilo de vida?
Sim
Sim, mas de forma insuficiente
Não
Não sabe
Não responde
18. Durante o internamento por EAM a equipa de enfermagem forneceu-lhe
informação, conhecimentos e toda uma preparação específica para autonomamente por
si após a alta, tomar decisões e gerir a sua saúde de forma mais informada.
Como avalia a qualidade dessa informação?
18.1.Quais foram na sua opinião os aspectos mais importantes?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Má Insuficiente Razoável Boa Muito Boa
8
19. Qual a importância que atribui ao cumprimento das recomendações propostas pela
equipa de saúde durante o internamento, no sentido de prevenir a ocorrência de um
novo EAM?
(Assinale a sua opção com um (X) sobre o número)
Acho muitoimportante
Achoimportante
IndiferenteAcho poucoimportante
Não achoimportante
5 4 3 2 1
20. Após o EAM notou da parte dos serviços de saúde e dos seus profissionais, mais
atenção e disponibilidade e/ou facilidade de acesso, para se poder informar e esclarecer
no sentido de tomar as opções mais convenientes no interesse da sua saúde?
Sim
Não (se respondeu não, passar para a pergunta 20.1)
20.1 – Quais as principais dificuldades que tem encontrado?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
21. A equipa se enfermagem do centro de saúde da sua área de residência após ter tido
conhecimento do EAM que sofreu, proporcionou-lhe alguma atenção acrescida na
perspectiva de o esclarecer e orientar na tomada de opções de vida saudáveis de modo a
prevenir a recorrência do EAM?
Sim (se respondeu sim, passar para a pergunta 22.1)
Não
Não sabe
Não responde
21.1. Enuncie os aspectos que lhe têm sido mais úteis nesse apoio proporcionado pela
equipa de enfermagem do centro de saúde?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
22. Vê utilidade para si, da existência de uma consulta de enfermagem de seguimentoperiódico neste hospital depois de ter sofrido EAM?
Sim (Passe há questão 22.1) Não Não tem Opinião
9
22.1. Que benefícios lhe poderia trazer essa consulta de enfermagem?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
23. Relativamente ao atendimento proporcionado pelos enfermeiros durante o
internamento no serviço de Cardiologia/UCIC do CHC, qual a sua opinião acerca de
cada um dos seguintes itens.
Sempre Quasesempre
Porvezes
Nunca
1.Sentiu que os enfermeiros demonstraramser profissionais preparados para responderas suas necessidades e solicitações?
4 3 2 1
2.Os enfermeiros procuraram saber secompreendeu bem e se necessário voltavama repetir a informação?
4 3 2 1
3.Os enfermeiros preocupavam-se em dar-lhe informação escrita sobre os assuntosque informam ou explicam (panfletos,livros, ou mesmo escrever em papel coisasque são importantes para si)?
4 3 2 1
4.Sentiu disponibilidade dos enfermeiros noatendimento? 4 3 2 1
5.Sentiu que os enfermeiros davamimportância aos seus problemas? 4 3 2 1
6.Sentiu que os enfermeiros o colocavam àvontade para pôr as suas dúvidas? 4 3 2 1
7.Os enfermeiros procuraram explicar-lheas coisas de forma compreensível? 4 3 2 1
8.Sentiu que os enfermeiros sepreocuparam em fazer os ensinosnecessários para você após a altaautonomamente fazer as melhores opçõesno interesse da sua saúde?
4 3 2 1
9.Os enfermeiros preocuparam-se emtransmitir-lhe informação sobre a formacomo podia utilizar os serviços de saúdedisponíveis (apoio psicológico, assistentesocial, serviços de saúde da área deresidência, etc)?
4 3 2 1
10.Relativamente à informação, osenfermeiros preocupavam-se em envolveros seus familiares ou as pessoas maispróximas (explicando a sua situação ecomo podiam ajudar quando necessita-se)?
4 3 2 1
10
24. Relativamente à medicação que lhe foi prescrita no momento da alta, para cadaquestão enunciada assinale a sua opção com uma (X) sobre o número:
1. Alguma vez se esqueceu de tomar os medicamentos para a sua doença?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
2. Alguma vez foi descuidado com as horas da toma dos medicamentos para a suadoença?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
3. Alguma vez deixou de tomar os medicamentos para a sua doença por se ter sentidomelhor?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
4. Alguma vez deixou de tomar os medicamentos para a sua doença, por sua iniciativa,após se ter sentido pior?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
5. Alguma vez tomou mais um ou vários comprimidos para a sua doença, por suainiciativa, após se ter sentido pior?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
6. Alguma vez interrompeu a terapêutica para a sua doença por ter deixado acabar osmedicamentos?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
7. Alguma vez deixou de tomar os medicamentos para a sua doença por alguma outrarazão que não seja a indicação do médico?
Sempre Quase sempre Com frequência Por vezes Raramente Nunca
1 2 3 4 5 6
Obrigado pela sua colaboração!
(Preencha este espaço apenas se pretender informações das conclusões deste estudo:
Nome: _______________________________________
Contacto/Morada: ____________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Escala de Medida de Adesão aos Tratamentos (Delgado e Lima, 2001)
Anexo II
Questionário para Enfermeiros
1
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA
Jorge Miguel Dias Henriques
QUESTIONÁRIO PARA ENFERMEIROS
“ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO PROPOSTO À PESSOA COM HISTÓRIA
DE EAM – O PAPEL DO ENFERMEIRO”
Coimbra, Janeiro de 2010
2
QUESTIONÁRIO NÚMERO______
APRESENTAÇÃO
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Caro colega.
O regime terapêutico proposto ao doente após Enfarte Agudo do miocárdio (EAM)
comporta em regra um conjunto de cuidados abrangente, contudo, nem sempre o doente
possui os recursos, a informação correcta que lhe permite tomar as melhores opções no
interesse da sua saúde, está motivado ou o sistema de saúde e os seus profissionais
podem dispensar a atenção que cada situação mereceria. O incumprimento dos regimes
terapêuticos na pessoa com história de EAM, está relacionado com forte possibilidade
de recorrência de novos episódios de EAM, morbilidade e mortalidade evitável.
Este questionário pretende compreender melhor o papel dos enfermeiros na adesão ao
regime terapêutico proposto à pessoa com história de EAM, para tal é imprescindível a
sua colaboração.
Serão salvaguardados todos os aspectos de ordem ética e legal, nomeadamente
anonimato, confidencialidade dos dados e sua destruição depois de cumpridas a sua
finalidade.
A sua participação é facultativa, podendo a qualquer momento cancelar o seuconsentimento.
Jorge Miguel Dias Henriques, aluno do Cursode Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica
Coimbra, Março de 2010
3
DADOS PESSOAIS
1. Sexo: Masculino Feminino
ACTIVIDADE PROFISSIONAL
2. Anos de experiência profissional: ______ anos
3. O enfermeiro é co-responsável pelo êxito da adesão regime terapêutico no doente
com história de EAM?
(Assinale com um circulo à volta do número)
Concordo muito ConcordoNão concordonem discordo Discordo Discordo Muito
5 4 3 2 1
4. Os serviços de saúde dispõem de mecanismos de articulação entre si (cuidados de
saúde diferenciados/ cuidados saúde primários) e dos recursos necessários para
responder às solicitações destes doentes de modo melhorar os indicadores de adesão ao
regime terapêutico?
(Assinale com um circulo à volta do número)
Concordo muito ConcordoNão concordonem discordo Discordo Discordo Muito
5 4 3 2 1
5. Da sua experiência qual é a sua percepção acerca da frequência de incumprimento do
regime terapêutico proposto ao doente com história EAM?
(Assinale com um circulo à volta do número)
Muito Frequente Frequente Às vezes Raramente Nunca5 4 3 2 1
4
6. Quais os aspectos do regime terapêutico global proposto à pessoa com história de
EAM, que mais frequentemente não são cumpridos. Assinale com (X) apenas quatro.
7. Durante o internamento da pessoa com história de EAM realiza entrevista para o
levantamento e registo dos factores de risco cardiovascular?
Sim
Não
Não sei
Não responde
8. O ensino ao doente com história anterior de EAM, quanto ao cumprimento do regime
terapêutico, é feito de forma metódica e realizado registo da mesma de modo a
assegurar a continuidade de cuidados e garantir que todos os doentes são esclarecidos?
Sim
Não
Não sei
Não responde
9. Fornece documentação escrita sobre as temáticas abordadas no âmbito do regime
terapêutico proposto aos doentes com história de EAM?
Sim
Não
Não responde
Redução do Peso
Controlo da TA
Cessação dos hábitos tabágicos
Cuidados com a dieta
Moderação no consumo de álcool
Praticar exercício físico
Reduzir do Stress
Controlar a diabetes
Frequentar as consultas regularmente
Tomar correctamente a medicação
5
10. A problemática da adesão ao regime terapêutico no âmbito da pessoa com história
de EAM, já foi motivo de momentos formativos e de reflexão alargada no âmbito da
equipa de enfermagem, tendo em vista a optimização e uniformização de práticas?
Sim
Não
Não sei
Não responde
11. Por sua iniciativa participou em alguma acção de formação ou evento temático sobre
problemática da “adesão ao regime terapêutico” nos últimos três anos?
Sim
Não
Não sei
Não responde
12. Concorda com a participação de um enfermeiro na consulta de “follow-up” do
doente com história anterior de EAM?
Sim (se respondeu sim, passar para a pergunta 12.1)
Não
Não Tem Opinião
Não responde
12.1 Justifique.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________
6
13. Quais as razões que frequentemente os doentes com história de EAM, manifestam
explicitamente ou transparece das suas atitudes para não cumprirem os regimes
terapêuticos propostos?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
14. No âmbito do seu exercício profissional regular e tendo em vista a prevenção da
recorrência de novo episódio de EAM, de que estratégias faz uso para envolver, educar,
e motivar a pessoa com história de EAM (Enfarte Agudo do Miocárdio) para o
cumprimento do regime terapêutico proposto?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
15. Qual a sua opinião acerca do papel do enfermeiro no âmbito da adesão ao regime
terapêutico proposto à pessoa com história de EAM?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Obrigado pela sua colaboração!
Preencha este espaço apenas se pretender informações das conclusões deste estudo:
Nome : _____________________________________________________________
Contacto/Morada: ____________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Anexo III
Autorização diferida pelo Conselho de Administração do CHC,
EPE para realização deste estudo
Anexo IV
Exemplo de uma entrevista transcrita
1
EXEMPLAR DE UMA ENTREVISTA TRANSCRITA
Entrevista N.º 7
1 – Idade47 anos.2 – SexoMasculino.3 - Estado civilCasado3.1 - Agregado FamiliarFamília Restrita.4 - Qual o seu grau de habilitações literárias?5º ano antigo, 9º ano actual ou equivalente.5 - Qual a sua profissão?Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem6 - Qual é a sua situação profissional?Trabalho remunerado.7 - Como é que se sente em relação à sua situação financeira?Suficiente para as necessidades.8 - Quantos Enfartes já teve?Teve 1 EAM.8.1 - Quantas vezes já esteve internada no serviço de cardiologia/UCIC do CHC?Apenas um episódio de internamento.8.2 - Número de dias de internamento4 dias.9 - Tinha factores de risco cardiovascular previamente à ocorrência do EAM?Sim.9.1 - Qual ou quais os factores de risco cardiovascular que tinha previamente àocorrência do EAM?Hipertensão arterial, sedentarismo, hábitos tabágicos, dislipidémia e história familiar.10 - Durante o internamento aquando do EAM, foi informado acerca dasconsequências do mesmo e dos cuidados a prosseguir de modo a prevenir a suarecorrência?Sim, mas de forma insuficiente.10.1 - Ficou esclarecido relativamente à informação que a equipa de enfermagemlhe prestou?Sim, mas de forma insuficiente.10.2 - Em que medida a equipa de enfermagem foi determinante para o seuesclarecimento?“…eu não fiz muitas perguntas, embora eu estivesse preocupado com a minha situaçãoe tivesse dúvidas! …ainda assim, alguns enfermeiros foram-me esclarecendo durante ointernamento por sua iniciativa. Mais tarde depois de ler algumas coisas sobre o EAMna internet, as suas consequências e os cuidados para impedir de ter um novo EAM,verifiquei que a informação que me deram foi insuficiente, penso que poderia ter havidomaior profundidade na informação que me deram. Durante o internamento reconheçotambém que a minha situação de pânico e medo me impediram de ser mais apelativo, ointernamento é muito curto e eu tive dificuldade em reter alguns esclarecimentos. Otempo internamento decorre com uma carga emocional pesada, ainda que nos tentem
2
abstrair desdramatizando e focalizando o pensamento no futuro, porque é disso que setrata…, aconteceu e a partir só o futuro importa. Passa por sermos mais conscientes emais críticos com a nossa saúde e as opções que fazemos tantas vezes por impulso, otrabalho dos enfermeiros foi muito em torno destas questões, são profissionais quevalorizam muito mais estes aspectos que quaisquer outros. É notório que os enfermeirosacreditam que é este caminho, cabe a cada um de nós dar o seu melhor no interesse dasua saúde.”
11 - Como define o EAM?“…na minha opinião o enfarte é por causa do sangue gordo, são artérias que entopempor causa das gorduras e da falta de cuidados que por vezes temos com a nossasaúde…faço erros alimentares muitas vezes, mas não estava à espera disto, fiqueiarrasado. Eu já tinha ouvido falar de EAM mas não mais do que isso, depois daexperiência que tive já li imensas coisas sobre este tipo de problema, é uma doença que“morde pela cala” e isso não ajuda no dia-a-dia quando temos que fazer as maisvariadas opções, o que não doi em regra esquecemos com o passar do tempo. Eu sentía-me bem e longe de pensar que alguma vez viesse a ter um problema tão sério quantoeste, mas haverá boas razões para tudo o que aconteceu certamente. O ritmo da vidadeixa-nos pouco tempo para pensar naquilo que de mais importante temos a nossasaúde. ”11.1 - Na sua opinião os cuidados que lhe foram sugeridos pela equipa de saúdedurante o internamento são para cumprir por quanto tempo?Apenas por algum tempo, enquanto não se sentir bem.12 - A sua família mais próxima tem conhecimento dos cuidados para prevenir arecorrência de novo EAM?sim, mas de forma insuficiente.13 - Costuma partilhar as suas preocupações quanto à sua saúde, com os seusfamiliares mais próximos ou pessoas significativas para si?Sim.14 - Tem cumprido as recomendações propostas pela equipa de saúde?Por vezes.15 - Do conjunto das recomendações que lhe foram transmitidas qual/quais dosaspectos não tem sido possível cumprir?Stresse, cuidados com a dieta, hábitos tabágicos e exercicío físico.16 - Os enfermeiros durante o internamento incentivaram-no a expor os problemasque o impediam de ser mais rigoroso no cumprimento dos cuidados globais paraprevenir novo EAM?“…sim embora não tivessem perguntado de forma aberta o que é que estava disposto afazer, e de que meios ou recursos dispunha para ser mais cumpridor, foi notória aintenção dos enfermeiros em perceber das minhas motivações. Também falaram com omeu filho, e ele tem tido um papel importante na forma como me incentiva e alerta paraser mais cuidadoso. Acho que era importante saber que possibilidades cada um tem paracumprir os tratamentos e fazer uma alimentação saudável…há pessoas que vivem comdificuldades, os medicamentos são caros, mas há alguns que nos podem ficar maisbaratos e dizem que fazem o mesmo efeito….é a minha opinião.”.16.1 - Quais as razões que o impediram de cumprir as recomendações propostas?
“A minha vida profissional é muito intensa e a disponibilidade que tenho que manterpara família absorve-me muito tempo…, por vezes também falta motivação, faltaconsciência para as consequências deste tipo de problemas…, ainda não estou de todopreparado para imprimir uma mudança de fundo no que toca a uma vida mais regrada,
3
praticar exerxício, deixar de fumar defenitivamente de fumar, mas eu vou fazê-lo.Ninguém me pode substituir neste tipo de cuidados, tem que ser por mim mesmo equanto mais tarde pior.”.17 - Aquando do internamento por EAM na preparação da alta foi consultadosobre a sua concordância com o regime terapêutico de ambulatório, e as metas aalcançar em termos de correcção de factores de risco cardiovascular e mudançasno seu estilo de vida?Sim, mas de forma insuficiente18 - Durante o internamento por EAM a equipa de enfermagem forneceu-lheinformação, conhecimentos e toda uma preparação específica paraautonomamente por si após a alta, tomar decisões e gerir a sua saúde de formamais informada. Como avalia a qualidade dessa informação?Razoável18.1 Quais foram na sua opinião os aspectos mais importantes?“…os enfermeiros fizeram-me uma entrevista, quiseram inteirar-se da vida que eutinha, que conhecimento tinha da gravidade da minha situação, se já fazia cuidados nodia-a-dia. Eu tenho consciência que por aquilo que já aconteceu na minha família com omeu pai e com o meu irmão tenho que fazer muito cuidado. É importante percebermos aforma como podemos fazer melhores escolhas, saber aquilo que está errado e porquê…otrabalho dos enfermeiros foi muito bom. Agora houve uma coisa eu notei, algunsenfermeiros davam muita atenção e reforçavam muitas vezes estes cuidados, outroshouve que não foram tão persistentes, alguns nem tão pouco abordaram esse tipo decoisas. Este trabalho de esclarecimento dos enfermeiros faz-nos refelectir muito sobre ovalor da saúde e como preservá-la”19 - Qual a importância que atribui ao cumprimento das recomendações propostaspela equipa de saúde durante o internamento, no sentido de prevenir a ocorrênciade um novo EAM?Acho muito importante.20 - Após o EAM notou da parte dos serviços de saúde e dos seus profissionais,mais atenção e disponibilidade e/ou facilidade de acesso, para se poder informar eesclarecer no sentido de tomar as opções mais convenientes no interesse da suasaúde?Não.20.1 - Quais as principais dificuldades que tem encontrado?“…a minha opinião é de que as coisas funcionam mal e quando precisamos de apoio émuito difícil consegui-lo…, em duas ocasião que necessitei de falar com o cardiologistapor causa da toma da medicação nunca consegui falar com ele, telefonei,reencaminharam a chamada internamente no hospital, tentei várias vezes nuncaconsegui. ..gastei 11 euros em telemóvel. Ninguém me pediu o número do processo.Tinha também que alterar a data de uma consulta, também não consegui portelefone…tive que vir cá ao Hospital de propósito para resolver. Relativamente ao meumédico de família, depois ter tido conhecimento do que sucedeu comigo ele temmanifestado preocupação comigo e tem seguido com atenção a minha situação,medicamentos, necessidade de baixa, etc…”.21 - A equipa se enfermagem do centro de saúde da sua área de residência após tertido conhecimento do EAM que sofreu, proporcionou-lhe alguma atençãoacrescida na perspectiva de o esclarecer e orientar na tomada de opções de vidasaudáveis de modo a prevenir a recorrência do EAM?Não.
4
21.1 - Enuncie os aspectos que lhe têm sido mais úteis nesse apoio proporcionadopela equipa de enfermagem do centro de saúde?“…eu fui lá duas ou três vezes, precisava que a enfermeira me visse a TA, mas nuncame atenderam, era tanta gente, tive que ir à farmácia, falta envolvimento,disponibilidade, sensibilidade…há um bocado de tudo. Os serviços de saúde da nossaárea de residência se funcionassem bem era uma boa ajuda…eu não posso perder umdia de trabalho para ir medir a TA ou para pedir um esclarecimento…, as pessoas estãolá mas não respondem aos nossos problemas. Isto é frustante, a utilidade destes serviçosde proximidade assim deixa-nos a pensar se valerá a pena mantê-los abertos. A lógicade funcionamento dos serviços deveria ser de todo em função dos doentes,possibilitando todo tipo de facilidades no acesso, bem não é isto que temos!”22 - Vê utilidade para si, da existência de uma consulta de enfermagem deseguimento periódico neste hospital depois de ter sofrido EAM?Sim.22.1 - Que benefícios lhe poderia trazer essa consulta de enfermagem?“Na minha opinião podia ser positiva para alguns doentes com EAM, repare por vezessubsistem dúvidas que o médico não esclarece convenientemente ou o doente não tem o“à vontade para expor”, por vezes tem ideias erradas é necessário tempo para explanarem profundidade esses assuntos, talvez na consulta médica não haja espaço paraisso…para reforçar algumas ideias que por vezes são de difícil compreensão, ajudar aorientar melhor o estilo de vida de alguns doentes. Alguns doentes beneficiariam comessa consulta, outros talvez não fosse tão importante. A maneira de estar do enfermeiroe do médico, a forma de abordagem é diferente, um não dispensa o outro…por exemploo apoio psicológico muito importante após um EAM, eu vejo o enfermeiro a investirmuito mais nisso que o médico, ficar dois meses sem trabalhar, isso afectapsicologicamente, a consulta de enfermagem poderia ser um balão de oxigénio paraalgumas pessoas na forma como se devem posicionar perante as dificuldades.Informação é poder e nem toda a gente toma decisões em consciência quanto as suasconsequências para saúde, por vezes as pessoas necessitam de ser trabalhadas quanto àssuas convições e isso os enfermeiros fazen-no bem.”