adesão ao padrão alimentar mediterrânico de crianças e
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Adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico de Crianças e Adolescentes com
Diabetes Mellitus Tipo 1
Adherence to the Mediterranean Dietary Pattern by Children and
Adolescents with Type 1 Diabetes Mellitus
Maria Alexandra Galhardo Delgado Rosa
Orientada por: Ana Lopes Pereira
Trabalho de Investigação
1.º Ciclo em Ciências da Nutrição
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Porto, 2019
i
Resumo
Introdução: A Alimentação é um pilar na gestão da Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1)
em crianças e adolescentes. O Padrão Alimentar Mediterrânico (PAM) é um dos
modelos alimentares mais saudáveis da atualidade. Denota-se um gradual
afastamento deste padrão alimentar por parte da população mais jovem.
Objetivo: Avaliar e caracterizar a adesão ao PAM por crianças e adolescentes com
DM1. Relacionar a adoção de hábitos alimentares específicos associados à DM1
com a adesão ao PAM e outras variáveis estudadas.
Metodologia: Participaram no estudo 65 crianças e adolescentes com DM1, utentes
da APDP. Recolheram-se dados sociodemográficos e metabólicos; e aplicou-se um
questionário (Índice KIDMED), assim como 3 perguntas inerentes a hábitos
alimentares específicos.
Resultados: Os participantes revelaram uma idade média de 13 anos, 6 anos de
evolução da diabetes e 7,96% de Hemoglobina A1c. A maioria da amostra (90,8%)
exprimiu uma forte adesão ao PAM, tendo a restante revelado moderada adesão
(9,2%). A forte adesão esteve associada a idades menores que 12 anos (p=0,004),
a menos anos de diabetes (p=0,067) e a terapêutica insulínica com SPSCI
(p=0,081). Foi revelada rara propensão para adoção de três hábitos alimentares
específicos associados à diabetes em simultâneo. A associação com as variáveis
estudadas foi semelhante aos resultados obtidos na adesão ao PAM.
Conclusões: A forte adesão ao PAM por crianças e adolescentes com DM1 revelam
que estes fazem escolhas alimentares promotoras de saúde, contribuindo para o
controlo da DM1. No entanto, justifica-se repensar em estratégias de intervenção
nutricional para com os adolescentes.
ii
Palavras-Chave
Diabetes Mellitus Tipo 1; Crianças e Adolescentes; Padrão Alimentar
Mediterrânico; Índice KIDMED.
iii
Abstract
Introduction: Diet is a cornerstone in the management of Type 1 Diabetes Mellitus
(T1DM) in youth. The Mediterranean Dietary Pattern (MDP) is currently one of the
healthiest dietary models. There is a gradual abandonment from this diet by the
younger population.
Objective: To evaluate and characterize adherence to MDP by children and
adolescents with T1DM. To correlate the adoption of specific dietary habits
associated with T1DM with the adherence to MDP and other variables studied.
Methods: 65 children and adolescents with T1DM, attendants of APDP, participated
in the study. Sociodemographic and metabolic data were collected, and a
questionnaire (KIDMED Index) was applied, together with three questions related to
specific dietary habits.
Results: Participants had a mean age of 13 years, 6 years of diabetes evolution and
7.96% of hemoglobin A1c. The majority of the sample (90.8%) expressed a strong
adherence to MDP, with the remaining showing moderate adherence
(9.2%). Strong adherence was associated with ages below 12 years (p = 0.004),
less years of diabetes (p = 0.067), and insulin therapy with SCII (p = 0.081). The
propensity to simultaneously adopt the three specific dietary habits was rare. The
association of these habits with the variables studied was similar to the results
obtained in relation to the adherence to MDP.
Conclusions: The strong adherence to the MDP by children and adolescents with
T1DM reveals that they adopt health-promoting dietary habits, contributing to the
control of T1DM. However, it is relevant to rethink strategies of nutritional
intervention to adolescents.
iv
Keywords
Type 1 Diabetes Mellitus; Children and Adolescents; Mediterranean Dietary
Pattern; KIDMED Índex.
v
Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos
DM1 – Diabetes Mellitus Tipo 1
DM2 – Diabetes Mellitus Tipo 2
PAM – Padrão Alimentar Mediterrânico
IMC – Índice de Massa Corporal
OMS – Organização Mundial de Saúde
HbA1c – Hemoglobina A1c/ Hemoglobina Glicada/ Hemoglobina Glicosilada
APDP – Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal
CESA – Comissão de Ética pela Saúde da APDP
KIDMED – Mediterranean Diet Quality Index in children and adolescents
SPSS – Statistical Package for Social Sciences
SPSCI – Sistema de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina
MADI – Múltiplas Administrações Diárias de Insulina
ADA – American Diabetes Association
vi
Sumário
Resumo em Português........................................................................................i
Palavras-Chave em Português...........................................................................ii
Resumo em Inglês.............................................................................................iii
Palavras-Chave em Inglês.................................................................................iv
Lista de abreviaturas, siglas e acrónimos..........................................................v
Introdução..........................................................................................................1
Objetivos............................................................................................................4
Metologia...........................................................................................................4
Resultados.........................................................................................................7
Discussão e Conclusões..................................................................................12
Agradecimentos...............................................................................................16
Referências......................................................................................................17
Índice dos Anexos............................................................................................19
Anexos.............................................................................................................20
1
Introdução
A Diabetes está em expansão no mundo (1,2). O termo Diabetes Mellitus aplica-se a
um grupo de condições metabólicas que ocorrem quando o pâncreas não produz
insulina suficiente, ou quando o organismo não consegue utilizar eficientemente a
insulina produzida, resultando em condições de hiperglicemia crónica (1). As formas
mais comuns incluem a Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1), a Diabetes Mellitus Tipo 2
(DM2) e a Diabetes Gestacional (1-3).
A DM1 é caracterizada pela destruição crónica autoimune das células
pancreáticas, começando por uma deficiência parcial de insulina (período de
remissão), até à sua ausência definitiva (2-4). Embora as causas da DM1 não sejam
totalmente conhecidas, sabe-se que a sua etiologia é multifatorial (1,4).
As pessoas com DM1 requerem terapêutica insulínica diária para regular a glicose
presente no sangue (1-3). Esta patologia é mais frequente em crianças e
adolescentes, apesar de poder surgir em qualquer idade (1-4). As pessoas com DM1
podem viver vidas saudáveis e gratificantes, se assegurarem o fornecimento
adequado de insulina diariamente, monitorizarem regularmente a glicose
sanguínea, e adotarem um estilo de vida e um padrão alimentar saudável (3,5).
A alimentação é um pilar fundamental na gestão diária da Diabetes, que permite
assegurar o normal crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes
(2,3,5-8). A literatura indica que não existe um padrão alimentar único recomendado
para as pessoas com diabetes (9), mas que este deve estar assente em princípios
2
de alimentação saudável, adequado às necessidades individuais, ao contexto
cultural, e às preferências pessoais e familiares (2,5,9,10).
O Padrão Alimentar Mediterrânico (PAM) é considerado um dos modelos
alimentares mais saudáveis da atualidade (11-13). Estudos recentes apontam que a
adesão ao PAM tem efeitos anti-inflamatórios e protetores da saúde cardiovascular,
e promove a melhoria de marcadores de risco metabólico, nomeadamente o
perímetro da cintura, a pressão arterial, o perfil lipídico, o peso corporal, os níveis
de glicose sanguínea (hemoglobina A1c) e a resistência à insulina (11,14-19).
O PAM é composto por uma base de alimentos comuns que prevalecem nos países
mediterrânicos (11,15,20,21). É caracterizado pelo elevado consumo de produtos
vegetais, nomeadamente fruta e hortícolas, cereais, frutos oleaginosos,
leguminosas e azeite como principal fonte de gordura. Outras características do
PAM incluem: ingestão regular, mas moderada, de produtos lácteos (leite, iogurte
e queijo); baixa a moderada ingestão de peixe, ovos e carne de aves; baixa ingestão
de carne vermelha, produtos de charcutaria e produtos açucarados; e o destaque
da água como bebida de eleição (7,11,13-22). O PAM combina ingredientes de
agricultura local com pouco a nenhum processamento, respeita a sazonalidade dos
produtos e integra a atividade física regular e moderada como parte do seu estilo
de vida (7,11,13-15,18,20-22). Quanto aos nutrientes, o PAM é caracterizado pela elevada
ingestão de hidratos de carbono de baixo índice glicémico, ácidos gordos
monoinsaturados, fibra, antioxidantes e polifenóis, bem como elevado consumo de
proteína de origem vegetal e por uma proporção equilibrada entre os ácidos gordos
essenciais ω-6 e ω-3 (15,18-22).
3
Durante as últimas décadas, tem-se verificado um gradual afastamento dos hábitos
alimentares tradicionais dos países mediterrânicos, principalmente por parte da
população mais jovem (11,13,16,18). São as crianças e adolescentes que apresentam
um maior abandono desses padrões alimentares tradicionais mediterrânicos e uma
crescente aproximação ao padrão alimentar ocidental (11,22). Como resultado desta
tendência, os casos de obesidade infantil, e de outras comorbidades associadas
são cada vez mais comuns (17,18,22). Diversos fatores associados à modernização
da sociedade contribuíram para esta mudança do paradigma alimentar, tais como:
a adoção de estilos de vida cada vez mais sedentários; o menor tempo e atenção
dedicados à alimentação, resultando num aumento do consumo de produtos
processados; o consumo em quantidades inadequadas de alimentos de origem
animal (especialmente carne e derivados); a ingestão excessiva de açúcares
refinados; e o aumento substancial da ingestão de alimentos com elevada
densidade energética, ricos em sal e gordura saturada (13,17,18).
Em Portugal, a terapêutica nutricional associada à DM1 inclui a recomendação de
adesão ao PAM (7). Como tal, o objetivo geral deste estudo consistiu na avaliação
da adesão de crianças e adolescentes com DM1 ao PAM, e na verificação se a
amostra seguiria as tendências do mesmo grupo etário na população em geral.
Objetivos
▪ Avaliar e caracterizar a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico (PAM) de
crianças e adolescentes com Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1);
4
▪ Avaliar a relação entre a adesão ao PAM com o género, a idade, o Índice de
Massa Corporal (IMC) segundo os percentis definidos pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) (23), o controlo glicémico (% HbA1c) e o tipo de terapêutica
insulínica adotado por essas crianças e adolescentes com DM1;
▪ Relacionar a adoção de hábitos alimentares específicos associados à DM1 com
a adesão ao PAM, assim como com as variáveis descritas no ponto anterior.
Metodologia
População e Amostra
Participaram no estudo um total de 65 crianças e adolescentes com Diabetes
Mellitus Tipo 1, utentes da Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP),
com idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos. A população em estudo foi
selecionada por conveniência e convidada a participar voluntariamente de acordo
com os critérios de inclusão: ser criança ou adolescente com Diabetes Mellitus Tipo
1, seguido(a) na APDP e com um diagnóstico de Diabetes há mais de 6 meses e
ter compreensão, assim como o(s) cuidador(es), dos procedimentos inerentes ao
estudo com consentimento informado.
Recolha da Informação
Os dados foram recolhidos entre os dias 26/03 e 07/06 de 2019, no Departamento
de Crianças e Jovens da APDP. Primeiramente, foi efetuado um pedido de
autorização de realização do estudo transversal à Comissão de Ética pela Saúde
da APDP (CESA), assim como ao diretor clínico da Associação – nos Anexos A e
B. Foi entregue aos participantes e cuidador(es) um consentimento informado de
autorização na recolha de dados – no Anexo C.
De seguida, as crianças e adolescentes responderam a um questionário no qual
constava a seguinte informação: data; informação sociodemográfica (sexo e idade);
5
o Índice KIDMED e 3 perguntas adicionais sobre hábitos alimentares específicos
associados à DM1 (1,2). A aplicação dos questionários foi direta, sendo que para
crianças até aos 12 anos de idade, foram os cuidadores a responder às questões.
No caso dos adolescentes (dos 12 aos 18 anos), as respostas foram dadas pelos
próprios na presença dos cuidadores. Em ambos os casos, o investigador esteve
sempre presente para esclarecimento de dúvidas. – nos Anexos D e E.
Dos questionários constava também informação a preencher pelo investigador,
relativa aos anos de evolução da diabetes, ao IMC de acordo com os percentis
definidos pela OMS e ao controlo glicémico dos últimos 2 a 3 meses (percentagem
de Hemoglobina A1c) do participante. Esta informação foi recolhida após a
aplicação do questionário, através do acesso ao sistema informático de rede da
APDP (APDPSoft®), disponível para todos os profissionais de saúde da Associação.
Este sistema permite aceder à ficha clínica de cada utente, na qual estão
disponibilizados os seus dados sociodemográficos, antropométricos e bioquímicos,
previamente recolhidos em triagem, em análises clínicas e em consultas de
seguimento na APDP. Este sistema assegura que os dados são devidamente
guardados e protegidos, funcionando apenas como instrumento de trabalho e
coordenação entre os profissionais de saúde da APDP.
Questionário para avaliar a adesão ao PAM
O questionário utilizado para avaliar a adesão ao PAM, foi uma adaptação do Índice
KIDMED (Mediterranean Diet Quality Index in children and adolescents),
desenvolvido por Serra-Majem et al (12). Este questionário é constituído por um total
de 16 questões com respostas sim/não. Foi pedido a cada participante para
preencher com uma cruz (x) em caso de resposta positiva e para deixar em branco
6
em caso de resposta negativa. As questões do KIDMED com uma conotação
negativa relativamente às características do PAM recebem o valor de -1, enquanto
que as com conotação positiva recebem o valor de +1. As somas dos valores das
respostas dadas são classificadas de acordo com 3 Categorias: 1) Pontuação 8,
forte adesão ao PAM; 2) Pontuação entre 4 e 7, adesão moderada; e 3) Pontuação
3, fraca adesão (12,13,16,18). Não fazendo parte do PAM, o consumo de bebidas
açucaradas ou com adoçantes, ou o consumo de alimentos “aptos para diabéticos”
(sem açúcar, mas habitualmente muito processados, ricos em gordura e com
aditivos pouco saudáveis) são hábitos alimentares negativos associados a ter DM1.
Por esta razão, foi decidido incluir 3 perguntas no questionário referentes a estes
hábitos específicos. A cada resposta afirmativa foi atribuído valor o negativo de -1.
Análise Estatística
Os dados foram analisados através do software estatístico IBM SPSS Statistics
25 e do programa Microsoft Excel 16.26 2019. Realizou-se o teste não
paramétrico de Mann-Whitney para verificar se os dois grupos de adesão ao PAM
diferiam em termos das variáveis contínuas usadas. Para as variáveis nominais
realizou-se o Teste Exato de Fisher, assim como quando se compararam hábitos
alimentares específicos da Diabetes com a adesão ao PAM. Foi também efetuado
o cruzamento de todas as variáveis com a classificação obtida no KIDMED, para
analisar de forma descritiva as características dos indivíduos com adesão forte e
moderada. Devido ao tamanho da amostra num dos grupos de adesão ao PAM ser
muito pequena, não estavam garantidos os pressupostos do teste do Qui-Quadrado
para relacionar os Percentis do IMC com a adesão ao PAM. Foram relacionados
de forma descritiva os hábitos alimentares específicos associados à diabetes com
as várias variáveis em estudo. O nível de significância considerado foi de p < 0,05.
7
Resultados
Caracterização da amostra
A amostra foi constituída por 65 participantes, entre os 3 e os 18 anos, com
diagnóstico de DM1 há mais de 6 meses. Como se pode verificar na Tabela 1, os
indivíduos tinham uma idade média de aproximadamente 13 anos e uma média de
6 anos de evolução da doença (entre um mínimo de 1 e um máximo de 18 anos).
O controlo glicémico (percentagem de Hemoglobina A1c) foi em média de 7,96%,
com valor mínimo de 6,3% e máximo de 12,3%.
Tabela 1 - Caracterização da Amostra de acordo com Idade, Anos de Evolução da Diabetes e
Controlo Glicémico (% HbA1c)
O Índice de Massa Corporal (IMC) é apresentado em percentis, por ser a medida
mais correta para estimar o crescimento de indivíduos em idade pediátrica (24). Os
pontos de corte dos percentis adotados foram os definidos pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) (23, 25). Da amostra total (n=65), 53 dos indivíduos
apresentaram-se normoponderais (Percentil P15-P85: 81,5%); enquanto 6
possuíam excesso de peso (Percentil P85-P97, 9,2%); 5 apresentaram obesidade
(Percentil >P97: 7,7%) e 1 revelou baixo peso (Percentil ≤P3: 1,5%).
Relativamente à distribuição do género da amostra, 43 participantes eram do sexo
masculino (66,2%) e 22 eram do sexo feminino (33,8%). No que respeita à
terapêutica insulínica adotada, 36 indivíduos (55,4%) usavam o Sistema de
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Idade 65 3 18 12,57 3,84
Anos de Evolução da Diabetes 65 1 18 5,98 4,26
Controlo Glicémico (%HbA1c) 65 6,30 12,30 7,96 1,31
8
Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (SPSCI), enquanto 29 (44,6%)
recorriam à terapêutica com Múltiplas Administrações Diárias de Insulina (MADI).
Avaliação da Adesão ao PAM
As respostas obtidas ao Índice KIDMED revelaram uma forte adesão (90,8%) ao
PAM. Do total da amostra apenas 6 indivíduos apresentaram uma adesão
moderada (9,2%). A Tabela no Anexo F apresenta uma descrição detalhada das
respostas dos participantes aos 16 itens que constituem o Índice KIDMED.
Observa-se que a grande maioria dos indivíduos consome uma a duas peças de
fruta todos os dias (95,4% e 72,3% respetivamente). Relativamente ao consumo de
produtos hortícolas, 89,2% da amostra consome uma vez por dia, mas apenas
46,2% consome mais do que uma vez. O consumo regular de peixe é parte do
padrão alimentar de 69,2% da amostra, enquanto que apenas 4,6% dos
participantes se referiram ao consumo frequente de ‘fast-food’ (mais que uma vez
por semana). A maioria da população estudada consome leguminosas pelo menos
uma vez por semana (70,8%), enquanto que massa, arroz ou cereais (estes ao
pequeno almoço) são consumidos quase todos os dias por 92,3% da amostra. A
maioria da amostra consome pouco frequentemente frutas oleaginosas (73,8%),
mas faz uma elevada utilização de azeite (90,8%). A grande maioria da amostra
toma o pequeno almoço (95,4%), incluindo laticínios (86,2%), mas apenas 38,5%
consome 2 iogurtes ou 40g de queijo diariamente. Poucos são os casos de
consumo de produtos confecionados e de pastelaria ao pequeno almoço (6,2%), e
raros os de consumo de doces ou guloseimas várias vezes por dia (1,5%).
9
Caracterização da adesão ao PAM de acordo com as variáveis estudadas
Através do teste de Mann-Whitney compararam-se os grupos com adesão
moderada e com forte adesão ao PAM relativamente à Idade, Anos de Evolução da
Diabetes, Percentil e Controlo Glicémico (% HbA1c).
Neste estudo houve mais participantes com idade igual ou inferior a 12 anos com
forte adesão ao PAM (média 12,2 anos) do que com adesão moderada (média de
16,7 anos) (teste de Mann-Whitney, p=0,004, Figura 1A; tabela no Anexo G). Não
se encontraram diferenças estatisticamente significativas para as restantes
variáveis. No entanto, pode-se observar uma tendência para forte adesão ao PAM
nos pacientes com menos anos de evolução da diabetes (5,5 versus 10,8 anos na
adesão moderada) (teste de Mann-Whitney, p=0,067, Figura 1B; tabela no Anexo
G) e uma tendência para uma relação entre forte adesão a terapêutica insulínica
com SPSCI (24 versus 1 participante com adesão moderada) (teste exato de
Fisher, p=0,081, Figura 1C, tabela no Anexo G).
(B) (A)
Idad
e (
An
os)
Adesão Moderada Forte Adesão Adesão Moderada Forte Adesão
Evo
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0
5
10
15
20
0
5
10
15
20
40,7%
10
Figura 1 – Caracterização da adesão ao PAM de acordo com (A) Idade; (B) Anos de
Evolução da Diabetes; (C) Terapêutica Insulínica (MADI/SPSCI)
Relação entre Hábitos Alimentares Específicos e as variáveis estudadas
Numa análise qualitativa da amostra (Tabela 2), verificou-se que a maioria da
população (86,2%) não consome bebidas açucaradas (exceto para tratamento de
hipoglicemias). O mesmo não se pode concluir para o consumo de bebidas sem
açúcar (com adoçantes) ou de produtos “aptos para diabéticos”, já que cerca de
metade afirma consumi-los regularmente. Não se verificaram diferenças
significativas nestes hábitos alimentares específicos entre os participantes com
adesão moderada ou forte ao PAM (Teste de Mann-Whitney, p=0,250).
Tabela 2 - Respostas relativas a Hábitos Alimentares Específicos associados à diabetes
Diabetes Não Sim
n % n %
(-1) Excluindo para o tratamento de hipoglicemias, consomes
bebidas açucaradas regularmente (2 a 3 vezes por semana) 56 86,2% 9 13,8%
(-1) Consomes bebidas sem açúcar (com adoçantes)
regularmente (2 a 3 vezes por semana) 38 58,5% 27 41,5%
(-1) Consomes produtos “aptos para diabéticos” (sem açúcar)
com regularidade (2 a 3 vezes por semana) 37 56,9% 28 43,1%
% In
div
ídu
os
(C) MADI SPSCI
Adesão Moderada
Forte Adesão
0%
20%
40%
60%
80%
83,3%
40,7%
16,7%
59,3%
11
Uma análise qualitativa dos hábitos alimentares específicos permitiu verificar que
apenas uma minoria da amostra respondeu afirmativamente a todas as 3
perguntas, mostrando rara propensão para o consumo simultâneo de bebidas
açucaradas, bebidas com adoçantes e produtos “aptos para diabéticos”. De modo
geral, a Figura 2 sugere que quanto menor o consumo destes alimentos, menor é
a idade e o tempo de evolução da diabetes; assim como maior é o número de
indivíduos normoponderais e com um bom controlo glicémico.
Figura 2 – Relação entre os Hábitos Alimentares específicos associados à Diabetes com as
variáveis estudadas: (A) Género; (B) Idade; (C) Evolução da Diabetes; (D) Terapêutica
Insulínica; (E) Percentil de IMC; (F) Controlo Glicémico
12
A exploração dos dados permite verificar que a maior parte dos indivíduos que não
consomem quaisquer dos alimentos mencionados pertencem ao género feminino
(11 em 22 indivíduos, 50%, Figura 2A), têm menos de 12 anos de idade (16 em 30,
53%, Figura 2B), têm menos de 12 anos de evolução da diabetes (23 em 58
indivíduos, 39,6%, Figura 2C), recorrem a terapêutica com SPSCI (16 em 36, 44%,
Figura 2D), têm um percentil normal (19 em 50 indivíduos, Figura 2E) e têm um
bom controlo glicémico (14 em 28 indivíduos, 50%, Figura 2F).
Discussão e Conclusões
A amostra do presente estudo é indicativa da idade precoce a que a DM1 é
diagnosticada (1-4). O valor de HbA1c variou de 6,3% a 12,3%, com um valor médio
de 7,96%, o que, segundo as recomendações da American Diabetes Association
(ADA) de 2019, está acima do objetivo para crianças e adolescentes (<7,5%) (26).
Relativamente aos Percentis de IMC de acordo com a OMS (23), verifica-se que a
maioria dos indivíduos se apresentavam normoponderais (77%).
Uma larga maioria da amostra (90,8%) exprimiu uma forte adesão ao PAM, tendo
a restante amostra revelado apenas moderada adesão. Estes dados são um forte
indicativo de que a população estudada se esforça por fazer escolhas alimentares
adequadas e promotoras de saúde, contribuindo para o controlo da DM1. Apesar
da mudança do paradigma alimentar observada nos países mediterrânicos (11,22),
estes resultados vêm demonstrar como as características mediterrânicas
prevalecem na alimentação e no estilo de vida adotado pelas crianças e
adolescentes portugueses com DM1. A educação alimentar recebida pela amostra
13
estudada pode estar na origem destes resultados animadores (8,9) e como tal, vêm
confirmar o programa intensivo de acompanhamento nutricional proporcionado aos
utentes da APDP. Mesmo que haja algum enviesamento nas respostas induzidas
pelo âmbito do presente estudo, estes resultados provam que a população
abrangida adquire conhecimentos acerca do que é um padrão alimentar saudável
e favorável ao tratamento da diabetes.
A ausência de estudos relativos à adesão ao PAM por crianças e adolescentes com
DM1 em Portugal, não permitem a comparação com outros resultados para este
grupo. No entanto, dados nacionais recentes apontam que 31% da população
portuguesa apresenta uma baixa adesão ao PAM, 50% uma adesão moderada e
18% uma adesão elevada ao mesmo (27). Estes mesmos dados indicam uma
ingestão alimentar por parte das crianças e adolescentes portugueses diferente à
obtida no presente estudo: baixo consumo diário de frutas e hortícolas, elevado
consumo de doces, bolos, bolachas e refrigerantes, e uma baixa ingestão de azeite
(27-29). Já em concordância com os resultados obtidos neste estudo, verifica-se uma
elevada ingestão de laticínios e de cereais por parte deste grupo etário na
população em geral (27). Estes resultados permitem concluir que as crianças e
adolescentes com DM1 têm de facto uma alimentação mais saudável e mais de
acordo com o PAM do que os seus pares na população portuguesa em geral.
Estudos realizados em países europeus também demonstram que as crianças e
adolescentes com DM1 apresentam hábitos alimentares mais saudáveis do que os
seus pares sem diabetes (7,9), bem como uma forte adesão ao PAM, tanto em países
mediterrânicos como não mediterrânicos (16). Relativamente à adesão ao PAM por
crianças e adolescentes sem diabetes, os resultados são mais variados (22). Fora
14
da Europa, estudos recentes apontam para uma fraca adesão ao PAM assim como
para a adoção de hábitos alimentares pouco saudáveis por parte das crianças e
adolescentes com DM1, nomeadamente nos Estados Unidos da América (6,16,30,31).
No presente estudo conclui-se que uma maior adesão ao PAM está associada a
uma menor idade, assim como a menos anos de evolução da diabetes. Este
resultado pode ser explicado pela preocupação de um maior rigor no controlo da
diabetes (e por isso na adoção de uma alimentação saudável) nos primeiros anos
após o diagnóstico, e pelo maior acompanhamento dos cuidadores e educadores
em idades mais precoces. Este resultado está de acordo com conclusões de
estudos anteriores (16). No entanto, estes mesmos resultados revelam um
decréscimo de adesão ao PAM por parte dos adolescentes quando comparados
com as crianças, o que aponta para a importância de reavaliar a abordagem de
educação alimentar aplicada a este grupo da população. Verificou-se também uma
tendência para maior adesão ao PAM por parte de indivíduos com terapêutica
insulínica com SPSCI, o que pode indicar maior atenção e rigor no controlo da
diabetes induzida pela utilização deste dispositivo (32).
Relativamente a hábitos alimentares específicos associados à DM1, verificou-se
que a maioria da amostra não consumia bebidas açucaradas, mas que cerca de
metade consumia bebidas com adoçantes e produtos “aptos para diabéticos”, sem,
no entanto, haver diferença estatística entre adesão moderada ou forte ao PAM.
Conclui-se que a maioria cumpre parcialmente com as mais recentes
recomendações da ADA, as quais apontam para a limitação do consumo de
bebidas açucaradas e com adoçantes por pessoas com diabetes (9). No entanto, os
resultados revelam a importância de continuar a promover a educação neste
sentido, em particular no que respeita ao consumo de bebidas com adoçantes.
15
Verifica-se ainda que o consumo destes produtos tende a ocorrer menos em
crianças mais jovens, com menos anos de diabetes e com terapêutica com SPSCI,
o que corresponde ao mesmo padrão acima descrito relativamente à adesão ao
PAM. Finalmente, os indivíduos que menos adotação destes hábitos alimentares
específicos, apresentam uma maior percentagem normoponderal e de um melhor
controlo glicémico, o que aponta para possível efeito negativo dos mesmos.
Este estudo não permitiu traçar conclusões acerca das causas-efeitos dos hábitos
alimentares com outras variáveis, mas apenas estabelecer algumas relações entre
estes. Outra limitação sentida foi o facto de o tamanho da amostra ser reduzido, o
que limitou a análise estatística dos resultados. Por esta razão, conclui-se que seria
interessante realizar mais estudos em amostras mais alargadas, seguidas por
outras instituições e recorrendo a metodologias semelhantes. Desta forma, seria
possível aumentar o poder estatístico da análise e como tal, avaliar quais as
variáveis determinantes na adoção do PAM: se a Diabetes em si mesma, se a
educação para o seu controlo, ou se a influência de outros fatores.
O presente estudo permite concluir que em geral existe uma forte adesão ao PAM
por crianças e adolescentes com DM1 seguidos na APDP, e que estes apresentam
uma conduta alimentar favorável ao controlo da diabetes. No entanto, é de realçar
que os hábitos alimentares dos adolescentes, quer em termos de adesão ao PAM,
quer em termos do consumo de produtos alimentares específicos, justificam
repensar novas estratégias de intervenção nutricional.
16
Agradecimentos
Gostaria de prestar o meu profundo agradecimento a todos aqueles que me
acompanharam e me apoiaram durante o meu percurso académico e estágio
curricular, e que contribuíram para a realização deste trabalho complementar.
À minha orientadora Doutora Ana Lopes Pereira por me ter acolhido e
acompanhado durante o meu estágio na APDP, por todos os conselhos, críticas e
opiniões, e pela simpatia, disponibilidade e paciência sempre presentes.
Ao Diretor Clínico da APDP, Doutor João Filipe Raposo, pelo voto de confiança,
amizade e oportunidades proporcionadas.
A toda a equipa de Nutrição da APDP, por todo o apoio, profissionalismo e
aconselhamento.
Ao Departamento de Crianças e Jovens da APDP, pelo acolhimento e carinho.
Aos participantes neste estudo e aos seus familiares, que foram imprescindíveis
para a concretização do mesmo.
À Professora Cristina Lobo, pela ajuda na análise estatística dos dados.
Às minhas amigas e colegas de curso, pelo companheirismo, força e incentivo em
momentos mais difíceis.
Aos meus pais, pelo seu apoio incondicional e ajuda preciosa na superação de
obstáculos ao longo desta caminhada.
Ao meu irmão, por me conhecer melhor que ninguém.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, tornaram possível a finalização deste
trabalho.
A todos o meu sincero e profundo agradecimento.
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Referências
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18
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Índice de Anexos
Anexo A – Autorização da Comissão de Ética para a Saúde da APDP..........20
Anexo B – Autorização do Diretor Clínico da APDP........................................21
Anexo C – Consentimento Informado..............................................................22
Anexo D – Informação Sociodemográfica e a recolher pelo investigador.......24
Anexo E – Índice KIDMED e perguntas de hábitos alimentares específicos
associados à Diabetes.....................................................................................25
Anexo F – Tabela das respostas ao Índice KIDMED.......................................26
Anexo G – Tabela com a caracterização da adesão ao PAM de acordo com as
variáveis estudadas..........................................................................................27
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Anexo F - Tabela das respostas ao Índice KIDMED
KIDMED Não Sim
n % n %
(+1) Consomes uma fruta ou sumo de fruta
todos os dias. 3 4,6% 62 95,4%
(+1) Consomes uma segunda fruta todos os
dias. 18 27,7% 47 72,3%
(+1) Consomes produtos hortícolas frescos
ou cozinhados regularmente, pelo menos
uma vez por dia.
7 10,8% 58 89,2%
(+1) Consomes produtos hortícolas frescos
ou cozinhados regularmente, mais de uma
vez por dia.
35 53,8% 30 46,2%
(+1) Consomes peixe regularmente (pelo
menos, 2 a 3 vezes por semana). 20 30,8% 45 69,2%
(-1) Frequentas, mais de uma vez por
semana, restaurantes de “fast-food”
(hambúrguer).
62 95,4% 3 4,6%
(+1) Consomes leguminosas, mais de uma
vez por semana. 19 29,2% 46 70,8%
(+1) Consomes massa ou arroz, quase todos
os dias (5 ou mais vezes por semana). 5 7,7% 60 92,3%
(+1) Consomes cereais ou produtos
derivados de cereais (pão, etc.) ao pequeno-
almoço.
5 7,7% 60 92,3%
(+1) Consomes frutos oleaginosos (nozes,
amêndoas, etc.) regularmente (pelo menos, 2
a 3 vezes por semana).
48 73,8% 17 26,2%
(+1) Usas azeite em casa. 6 9,2% 59 90,8%
(+1) Costumas tomar o pequeno-almoço. 3 4,6% 62 95,4%
(+1) Consomes laticínios (leite, iogurte, etc.)
ao pequeno-almoço. 9 13,8% 56 86,2%
(-1) Consomes produtos confecionados ou
pastelaria ao pequeno-almoço. 61 93,8% 4 6,2%
(+1) Consomes 2 iogurtes e/ou queijo (40g)
diariamente 40 61,5% 25 38,5%
(-1) Consomes doces ou guloseimas várias
vezes por dia. 64 98,5% 1 1,5%
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Anexo G - Tabela com a caracterização da adesão ao PAM de acordo com as
variáveis estudadas
* Teste de Mann-Whitney; **Teste exato de Fisher
Kidmed
Total Adesão
moderada Forte adesão p
Género
Feminino 22 (33,8%) 1 (16,7%) 21 (35,6%) 0,655
Masculino 43 (66,2%) 5 (83,3%) 38 (64,4%)
Idade (anos), Média (Sd) 12,6 (3,8) 16,7 (1,2) 12,2 (3,8) 0,004*
Evolução da Diabetes
(anos), Média (Sd)
6,0 (4,3) 10,8 (7,0) 5,5 (3,6) 0,067*
Percentil IMC
Baixo peso 1 (1,5%) 1 (16,7%) 0 (0,0%)
-
Normoponderal 53 (81,5%) 5 (83,3%) 48 (81,4%)
Excesso de peso 6 (9,2%) 0 (0,0%) 6 (10,2%)
Obesidade 5 (7,7%) 0 (0,0%) 5 (8,5%)
Administração Insulina
Caneta 29 (44,6%) 5 (83,3%) 24 (40,7%) 0,081
SPSCI 36 (55,4%) 1 (16,7%) 35 (59,3%)
%HbA1c 8,0 (1,3) 8,9 (1,9) 7,9 (1,2) 0,126*
Total diabetes -1,0 (0,9) -1,3 (0,5) -0,9 (0,9) 0,250*
Terapêutica Insulínica
MADI