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Ana Teresa Martins do Rosário Adaptação cultural da Sensory Processing Measure (SPM), forma Casa Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia Ocupacional, na Especialidade de Integração Sensorial Orientador: Professora Doutora Isabel Ferreira, Professor Adjunto, Terapeuta Ocupacional Junho, 2012

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Ana Teresa Martins do Rosário

    

Adaptação cultural da Sensory Processing Measure

(SPM), forma Casa    

Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia Ocupacional,

na Especialidade de Integração Sensorial     

Orientador: Professora Doutora Isabel Ferreira, Professor Adjunto, Terapeuta Ocupacional

Junho, 2012

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Resumo

Em Terapia Ocupacional, uma boa avaliação é fundamental para obter resultados credíveis e,

consequentemente, delinear uma boa intervenção. Só com instrumentos de avaliação padronizados é

possível avaliar com precisão e conquistar credibilidade científica para a profissão. Este estudo tem

como objetivo fazer a tradução e a adaptação cultural da SPM – forma Casa para a língua

portuguesa, a fim de atingir equivalências a nível conceptual e linguístico. Este instrumento visa

avaliar os comportamentos e as caraterísticas relacionadas com o processamento sensorial, a praxis

e a participação social em crianças entre os 5 e os 12 anos, do ensino regular, em casa. Para tal, foi

utilizado um processo de adaptação dividido em seis fases: Tradução; Versão de Consenso;

Retroversão; Painel de Peritos; Pré-teste; e Versão Final. No painel de peritos, foi utilizada uma

amostra de terapeutas ocupacionais (n=15), entre os 27 e os 49 anos, a trabalhar na área de Pediatria

e com pelo menos 1 ano de experiência em Integração Sensorial. Para o pré-teste, foi utilizada uma

amostra de pais/cuidadores (n=30), entre os 26 e os 51 anos, tendo no mínimo o 4º ano de

escolaridade. O painel de peritos apresentou sugestões relativamente a alguns itens que, depois de

analisados, foram sujeitos a alteração. A versão de consenso foi a Pré-teste, onde apenas 12% dos

pais/cuidadores consideraram algum item difícil, não tendo sido feita nenhuma alteração a esta

versão do instrumento. Conclui-se, assim, que o instrumento de avaliação se encontra adaptado

culturalmente e com linguagem adequada e terminologia compreendida pelos pais/cuidadores.

Palavras Chave: Adaptação cultural; SPM – forma Casa; Avaliação;

Abstract

In occupational therapy, a good assessment is fundamental to get credible results and consequently

to outline a good intervention. Only with standardized assessment tools is possible to accurately

assess and gain scientific credibility to the profession. This study aims to translate and perform a

cross-cultural adaptation of SPM – Home Form to the Portuguese language, in order to achieve

linguistic and conceptual level equivalencies. This instrument aims to assess the behaviors and

characteristics related to the sensory processing, praxis and social participation, in children between

5 and 12 years, in regular education, at home. To this end, it was used an adaptation process divided

into six stages: Initial translation; Synthesis of the translations; Back translation; Expert Committee;

Pre-test; and the Final version. In the expert committee was used a sample of occupational

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therapists (n = 15), between 27 and 49 years old, working in Pediatrics and with at least 1 years of

experience in Sensory Integration. For the pre-test it was used a sample of parents (n = 30), between

26 and 51 years old, having at least the 4th year of schooling. The expert committee made some

suggestions related to some items which, after analyzed, were subject to changes. The consensus

version was subjected to Pre-test, where only 12% of parents felt difficulties in some item, and so,

not changes were made, and this version of the instrument was considered the final. It is concluded,

therefore, that the rating instrument is culturally adapted and with proper language and terminology,

understood by parents.

Key Words: Cross-cultural adaptation; SPM – home form; Assessment.

Introdução

A avaliação em Terapia Ocupacional é um processo de angariação de informação acerca dos

indivíduos e dos seus ambientes (Cristiansen & Baum, 1992, citado por College of Occupational

Therapists of Ontario, 2007). Foca-se na procura daquilo que o cliente quer e necessita fazer, em

determinar o que este consegue fazer e o que já fez e em identificar quais os fatores que funcionam

como suporte ou barreira à sua saúde e participação.

Durante o processo de avaliação, é utilizado um conjunto de procedimentos que incluem a

aplicação de avaliações padronizadas e não padronizadas de desenvolvimento, avaliações

funcionais e de capacidades específicas; entrevistas; e observações da criança durante atividades

apropriadas à sua idade e em diferentes contextos (Stewart, 2000, citado por Mulligan & Neistadt,

2003), realização de observações em sala de aula, análise de material realizado em sala de aula e a

revisão de registos médicos ou educacionais.

Numa avaliação de Terapia Ocupacional em crianças, uma das maiores fontes de informação

são os pais ou principais cuidadores, que são quem melhor as conhece. Mulligan e Neistadt (2003)

afirmaram que, durante a avaliação, os pais ou principais cuidadores têm como funções específicas:

serem os entrevistados ou os que facultam a informação; serem suporte e auxilio da criança e do

terapeuta; darem oportunidade de análise de aspetos do funcionamento familiar e da qualidade das

interações entre os membros da família; e colaborarem na troca de informações e na resolução de

problemas durante o processo de avaliação, através da tomada de decisões.

Como transmissores de informação, os pais ou principais cuidadores, muitas vezes, dão a

conhecer a história médica da criança e podem completar ferramentas de avaliação como: um

questionário sobre o seu perfil sensorial, escalas de avaliação de comportamento ou avaliações

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funcionais. Assim, a partir da perspetiva da família, obter-se-ão informações sobre os pontos fortes

e fracos da criança, o que ela gosta e não gosta, as atividades típicas e os vários ambientes da

criança, pois as preocupações, prioridades, esperanças e sonhos para ela e para a família são fontes

essenciais de informações para o desenvolvimento do seu perfil ocupacional e para a determinação

das áreas importantes para a futura avaliação e intervenção. Para alcançar essas informações,

instrumentos de avaliação focados essencialmente no funcionamento familiar podem ser

preenchidos por membros da família, e também podem ser feitas observações informais do

ambiente doméstico, bem como das interações típicas, papéis, influências culturais e hábitos das

famílias (Mulligan & Neistadt, 2003).

Os instrumentos de avaliação são recursos essenciais para os profissionais da área da saúde.

Alguns autores referem que sem eles não é possível avaliar com precisão, provar a eficácia de

tratamentos ou mesmo conquistar credibilidade científica para a profissão. Esses instrumentos de

avaliação podem ser de critério formal e informal, estruturados e não-estruturados e padronizados e

não padronizados (American Occupational Therapy Association, 2008).

As avaliações padronizadas baseiam-se em procedimentos estabelecidos e geralmente têm

níveis elevados de fiabilidade e validade. Quando os terapeutas ocupacionais usam esse tipo de

avaliações, em conformidade com os procedimentos estabelecidos, podem ter certeza de que as

informações que obtêm são fiáveis e válidas. Obter essas informações sobre os clientes proporciona

um alto nível de suporte que pode justificar a necessidade dos serviços da Terapia Ocupacional.

Avaliações padronizadas também fornecem padrões e medições precisas de resultados que podem

ser usados para documentar o progresso do cliente ao longo da intervenção, considerando-se

cientificamente mais objetivo e preciso (Gutman, Mortera, Hinojosa & Kramer, 2007).

A criação de um instrumento de medida é um processo complexo, que requer um número

elevado de recursos e a mobilização de capacidades e de conhecimentos de naturezas diferentes,

para além de ter um elevado grau de exigência a nível metodológico. Daí que a adaptação cultural e

linguística de instrumentos, previamente desenvolvidos e validados, constitua uma boa alternativa

para a recolha de informação sobre o estado e resultados de saúde (Ferreira, 1996). No entanto, a

falta de rigor na tradução de instrumentos de avaliação pode afetar negativamente a generalização

dos resultados na cultura para a qual o instrumento foi traduzido (Su & Parham, 2002).

O processo de adaptação de um instrumento de avaliação decorre em seis fases, de acordo

com as normas estipuladas por Beaton, Bombardier, Guillemin e Ferraz (2000):

1. Tradução – devem ser feitas no mínimo duas traduções (T1/T2) da versão original do

instrumento para a língua pretendida, de modo a que as duas versões possam ser

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comparadas a fim de se verificar possíveis divergências entre ambas. As traduções

devem ser realizadas por dois tradutores bilingues, sendo que a língua para a qual se

pretende adaptar o instrumento corresponda à sua língua de origem, com o objetivo de

refletir, o mais rigorosamente possível, nuances da linguagem (Hendricson, 1989, citado

por Beaton et al, 2000). Um dos tradutores deverá estar familiarizado com os conceitos

expostos no instrumento, permitindo que a sua tradução (T1) contenha maior

equivalência do ponto de vista clínico. O segundo tradutor não deverá possuir

informação sobre os conceitos a traduzir e, de preferência não apresentar formação na

área da saúde. Contrariamente à tradução T1, a T2 irá detetar melhor os diferentes

significados dos conceitos, não sendo influenciada pelos objetivos académicos e

possuindo, assim, uma linguagem mais aproximada daquela que é utilizada pela

população à qual a adaptação do instrumento se destina (Guillemin, 1993, citado por

Beaton et al., 2000). Sempre que possível, cada uma das traduções deverá ser

acompanhada de um relatório no qual os tradutores descrevem comentários

complementares ao conteúdo da tradução, ambiguidades encontradas e o processo que

guiou a sua tomada de decisão (Beaton et al. 2000).

2. Versão de Consenso – após a realização das duas traduções, os tradutores conjuntamente

com um terceiro observador deverão realizar uma síntese dos resultados, utilizando a T1,

a T2 e a versão original, de forma a obter uma versão de consenso (T 1-2) da tradução.

Esta será acompanhada por um relatório que descreverá o processo de síntese efetuado,

as dúvidas surgidas e as suas resoluções.

3. Retroversão – a partir da versão de consenso (T 1-2), um técnico, cuja língua materna é

o inglês, sem conhecimento da versão original, faz uma nova tradução para a língua

original do instrumento. Segue-se uma comparação com a versão original a fim de

perceber se existem inconsistências grosseiras e/ou erros conceptuais e, caso existam,

terão de se efetuar alterações na versão de consenso e uma nova retroversão. Contudo a

concordância entre estas duas versões não garante que estejamos perante uma versão

final traduzida (Leplege, 1994, citado por Beaton et al. 2000).

4. Painel de Peritos – A criação de um bom painel de peritos é essencial para uma boa

adaptação cultural, daí que a sua escolha tenha de ser criteriosa, respeitando alguns

critérios. O papel do painel de peritos é, através da consulta da versão original e da

versão de consenso (T 1-2), desenvolver uma versão pré-final do instrumento para a sua

utilização em testes posteriores. Têm como objetivos: analisar a redação dos itens, das

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perguntas e das notas introdutórias e/ou explicativas do instrumento, quanto à sua

clareza e compreensibilidade; As decisões têm de ser tomadas tendo em vista conseguir

a equivalência entre as duas versões em quatro áreas: Equivalência Semântica,

Equivalência Idiomática, Equivalência Experiencial e Equivalência Conceptual.

O consenso deve ser alcançado nos itens e, se necessário, os processos de tradução e

retroversão devem ser repetidos para obter outra forma de redação do item que funcione

melhor. A presença de todos os elementos constituintes permite que as questões

levantadas encontrem uma resposta naquele momento (Beaton et al. 2000).

É recomendado que os peritos se certifiquem se o questionário final é compreendido

por o equivalente a uma pessoa com 12 anos de idade (deve rondar o 6 º de

escolaridade). Após essa análise deverá ser feito um relatório que sintetize todas as

alterações realizadas na versão pré-final.

5. Pré-teste - A versão pré-final será ainda sujeita a um pré-teste, que tem como objetivo

produzir uma versão final do instrumento que seja clara e aceitável para todas as pessoas

que o irão utilizar. Os sujeitos terão de preencher um questionário de opinião onde darão

o seu parecer em relação ao significado de cada um dos itens e a eventuais dificuldades

de interpretação dos mesmos, assim como propor sugestões.

6. Versão Final - após a análise dos questionários resultantes do pré-teste, poderão

introduzir-se modificações, de forma a obter uma versão final da tradução e adaptação

do instrumento de avaliação.

Literatura acerca de questionários sobre a história sensorial foi publicada nas décadas de 70

e 80. Esses questionários continuam ainda hoje a ser utilizados em Terapia Ocupacional para avaliar

crianças com suspeita ou desordens de integração sensorial, como complemento a testes formais,

observações e entrevistas (Parham & Mailloux, 1996, citado por Johnson-Ecker & Parham, 2000).

Estes instrumentos são geralmente questionários dirigidos aos pais ou principais cuidadores e

contêm itens que questionam sobre as respostas da criança a experiências sensoriais no contexto do

quotidiano como a Sensory Processing Measure (SPM).

A SPM é a união de dois testes, o Evaluation of Sensory Processing (ESP) desenvolvido por

Parham e Ecker (2002) e o School Assessment of Sensory Integration (SASI), criado por Miller,

Kuhaneck, Henry, Glennon e Um, no prelo.

O ESP, antecessor da SPM - forma Casa, é um questionário passado aos cuidadores sobre o

funcionamento sensorial da criança em casa e na comunidade. Foi desenvolvido no início dos anos

90, como projeto para juntar itens sensoriais (679 itens), publicados e não publicados, utilizados por

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Terapeutas Ocupacionais (LaCroix, 1993, citado por Ecker, Glennon, Henry, Kuhaneck & Parham,

2007). Os itens encontrados foram sujeitos a uma análise de validade de conteúdo e reduzidos para

200. Um posterior estudo de Johnson-Ecker e Parham (2000, citado, por Ecker et al., 2007) em que

foram entrevistados pais, levou a uma revisão e eliminação de alguns itens passando estes para 192.

Foram efetuados vários estudos de confiabilidade sobre essa versão, usando escalas baseadas em

sistemas sensoriais. Os Alphas de Cronbach foram de .83 ou acima em todas as escalas, exceto nos

sistemas gustativo e olfativo. A versão mais recente do ESP inclui 149 itens. Este conjunto de itens

foi submetido a uma análise fatorial, com uma amostra de 231 crianças entre os 2 e os 5 anos e de

233 crianças entre os 6 e os 10 anos. Todos os participantes estavam a receber Terapia Ocupacional

devido a desordens do processamento sensorial. O modelo fatorial que melhor se adaptou à

informação recolhida consistia em fatores de sistemas sensoriais em que os sistemas propriocetivo e

vestibular estão combinados num só. Uma estrutura fatorial alternativa, composta por

vulnerabilidades no processamento sensorial (ex. hipo vs híper-responsividade), não se mostrou

adequada ao sistema de dados.

Em 2005, os projetos do ESP e do SASI fundiram-se num único teste, a SPM. Ambos os

grupos de autores queriam ter uma máxima utilidade clínica para as suas medidas e perceberam que

isso poderia ser alcançado juntando o ESP e o SASI num sistema de avaliação integrado que

abrangesse os dois ambientes, a casa e a escola.

A SPM está baseada na teoria da integração sensorial. Esta teoria pressupõe que o

processamento e a integração dos imputes sensoriais é um processo crítico neurocomportamental

que afeta fortemente o desenvolvimento. Refere também que uma criança com comprometimento

do processamento sensorial pode ser incapaz de aprender de forma eficiente ou funcional, até

determinado nível, as atividades diárias. Dificuldades ao nível do processamento sensorial muitas

vezes contribuem para a não integração das funções superiores, tais como a participação social e a

praxis (capacidade de planear e organizar o movimento).

A teoria da integração sensorial descreve os princípios para a avaliação da função sensorial,

muitos dos quais incorporados na SPM. Em particular, há três dimensões de medida que estão na

estrutura da própria SPM:

- Avaliação dos sistemas sensoriais: os resultados da escala SPM fornecem índices

normativamente referenciados das funções dos sistemas auditivo, visual, tátil,

propriocetivo e vestibular, bem como as funções integrativas da praxis e participação

social;

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- Avaliação das vulnerabilidades da integração sensorial: as respostas aos itens da SPM

fornecem informações clínicas descritivas sobre o processamento das vulnerabilidades

dentro de cada sistema sensorial, incluindo hipo e hiper-responsividade, procura sensorial,

e problemas de perceção;

- Avaliação através dos múltiplos ambientes: as três formas da SPM permitem ao

utilizador comparar e contrastar o funcionamento das crianças em casa, na escola e na

comunidade.

A SPM permite obter uma imagem completa do funcionamento sensorial das crianças em

casa, na escola ou na comunidade, reconhecendo que, muitas vezes, as desordens de processamento

sensorial se manifestam de formas diferentes em diferentes ambientes. Este conjunto de três escalas

avalia o processamento sensorial, a praxis e a participação social em crianças, entre os 5 e os 12

anos de idade, com desenvolvimento normal, que se encontrem a frequentar o Jardim de Infância ou

o Ensino Básico. Cada item é cotado em termos da frequência com que o comportamento ocorre,

numa escala de Likert de 1 a 4, em que as opções são Nunca, Ocasionalmente, Frequentemente e

Sempre.

A SPM - forma Casa é constituída por 75 itens e tem de ser preenchida por um dos pais ou

cuidadores da criança. Apresenta 8 resultados estandardizados e normativamente referenciados:

Participação Social (PS), Visão (VIS), Audição (AUD), Toque (TOQ), Conhecimento do Corpo

(COR), Equilíbrio e Movimento (EQM), Planeamento de Ideias (PLI) e Total dos Sistemas

Sensoriais (TSS). A pontuação de cada escala classifica o funcionamento das crianças em três tipos

de interpretação: Típico, Alguns Problemas ou Disfunção Definitiva. Este questionário demora

cerca de 15 a 20 minutos a ser preenchido.

A amostra padronizada da SPM consistiu em 1051 crianças, na faixa etária entre os 5 e os 12

anos. Todas as crianças da amostra foram avaliadas com a SPM - forma Casa (preenchida por um

dos pais ou cuidadores da criança) e com a SPM - forma Sala de Aula (preenchida pelo professor

titular da turma).

As crianças foram recrutadas a partir de salas de aula do ensino regular (desde o jardim de

infância até ao sexto ano). Colaboraram na recolha de dados para este estudo 76 coordenadores em

todo os Estados Unidos da América.

Nenhuma das crianças do estudo estava matriculada, a tempo integral, em programas de

educação especial ou escolas especiais para alunos com dificuldades de aprendizagem, problemas

emocionais ou comportamentais. No entanto, não foi feita qualquer tentativa para excluir crianças,

do ensino regular, que apresentassem dificuldades escolares ou de comportamento.

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Para a amostra ser considerada demograficamente representativa, a sua padronização teve de

refletir a percentagem de problemas existentes na população em geral. Foi testada a Fiabilidade e a

Validade do teste. A Fiabilidade foi testada através da consistência interna, com recurso ao Alpha

de Cronbach, do teste-reteste e dos intervalos de confidencialidade. A Validade foi testada através

da validade de conteúdo, da validade de construto, da análise fatorial, da correlação entre escalas,

da correlação item-escala, da validade da escala de classificação, da validade de convergência, da

validade de relação entre critérios, da deteção de desordens do processamento sensorial e da deteção

dos diferentes funcionamentos entre os ambientes casa e escola.

A SPM foi desenvolvida por terapeutas ocupacionais, no entanto a informação recolhida é

pertinente e de grande valor para outros profissionais de saúde. Pode ser administrada por si só,

como um instrumento de rastreio, mas os resultados não devem ser utilizados para tomar decisões

de diagnóstico ou tratamento sem primeiro reunir o maior número possível de informações acerca

da criança. A SPM pode ser utilizada como triagem ou despiste de diagnóstico, estando assim

adaptada à terminologia da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) (Organização

Mundial de Saúde, 2003) e do enquadramento da prática da Terapia Ocupacional (AOTA, 2008).

Para que este tipo de instrumentos possa ser usado com confiança na população portuguesa,

é necessário criar uma versão que tenha em conta as caraterísticas desta população. Assim, o

objetivo deste trabalho é a tradução e adaptação cultural da SPM - forma Casa para a realidade

portuguesa, a fim de atingir as equivalências conceptuais e linguísticas.

Metodologia

Realizou-se um estudo metodológico, no qual se pretendeu fazer a adaptação linguística e

cultural da SPM – forma Casa traduzida para a Língua Portuguesa. Fortin (2009) refere que o

estudo metodológico difere dos outros métodos de investigação, pois não inclui todas as etapas do

processo da investigação. Visa estabelecer e analisar as qualidades psicométricas dos novos

instrumentos de medida, de escalas traduzidas numa outra língua ou de escalas utilizadas em

populações diferentes daquelas para as quais o instrumento foi concebido, permitindo aos

investigadores utilizá-los com toda a confiança.

Participantes

O painel de peritos foi constituído por Terapeutas Ocupacionais (n=15) a trabalhar na área

de Pediatria com conhecimentos da teoria de Integração Sensorial e que utilizam esta intervenção na

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sua prática profissional. Como se verifica na Tabela 1, 46.7% dos peritos encontram-se na faixa

etária entre os 27 e os 30 anos de idade, 20.0% entre os 31-34 anos, 13.3% acima dos 47anos e

6.7% entre os 35 e os 38 anos, 39 e 42 anos e os 43 e os 46 anos. Neste painel, 60.0% dos peritos

apresentam entre 4 a 7 anos de experiência em Pediatria, 20.0% acima dos 17 anos, 13.3% entre os

8 e os 11 anos e 6.7% entre os 12 e os 16 anos. Relativamente à experiência em Integração

Sensorial, 46.7% dos peritos apresentam entre 1 a 5 anos, 40.0% entre 6 a 10 anos e 13.3% acima

dos 11 anos. Têm como base pelo menos uma das seguintes formações: Pós-graduação em

Integração Sensorial, Curso de Certificação de Integração Sensorial (WPS), Curso de Observações

Clínicas, Curso de Blending IS-TND ou Doutoramento em estudos da Criança.

Tabela 1. Caraterização do Painel de Peritos

Painel de Peritos Frequência (n)

Percentagem % Idade

27-30 7 46.7% 31-34 3 20.0% 35-38 1 6.7% 39-42 1 6.7% 43-46 1 6.7% >47 2 13.3%

Anos de experiência em Pediatria 4-7 9 60.0% 8-11 2 13.3%

12-16 1 6.7% >17 3 20.0%

Anos de experiência em IS 1-5 7 46.7% 6-10 6 40.0% >11 2 13.3%

Para a realização do pré-teste utilizou-se uma amostra constituída por pais/cuidadores

(n=30). Dos pais/cuidadores, 33.3% têm como grau de relação ser pai da criança e 66.7% ser mãe.

As suas idades variam entre os 26 e os 51, sendo que 10.0% têm idades compreendidas entre os 26

e os 31 anos, 23.3% entre os 32 anos e os 36 anos, 46.7%, a maioria, entre os 37 anos e os 41 anos,

e 10.0% entre os 42 anos e os 46 anos e superior a 47 anos. Têm como grau de escolaridade o 2º

ciclo 3.3% dos pais/cuidadores, o 3º ciclo 23.3%, o ensino secundário 40.0% e o ensino superior

33.3%. Como se pode ainda verificar na tabela 2, 66.7% são casados, 23.3% são divorciados, 3.3%

são solteiros e 6.7% estão em união de facto.

Tabela 2. Caraterização dos pais/cuidadores

Pais/Cuidadores

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Frequência (n)

Percentagem (%)

Relação com a criança Mãe 20 66.7% Pai 10 33.3%

Idade 26-31 3 10.0% 32-36 7 23.3% 37-41 14 46.7% 42-46 3 10.0% >47 3 10.0%

Escolaridade 2º ciclo 1 3.3% 3º ciclo 7 23.3% Ensino Secundário 12 40.0% Ensino Superior 10 33.3%

Estado Civil Casado 20 66.7% Divorciado 7 23.3% União de Facto 1 3.3% Solteiro 2 6.7%

Na amostra constituída relativamente ao grupo de crianças, como se pode verificar na tabela 3,

53.3% são do sexo masculino e 46.7% são do sexo feminino. As suas idades variam entre os 5 e os

12 anos, sendo que 33.3% têm entre os 5anos e os 6 anos, 33.3% têm entre os 7 anos e os 8 anos,

16.7% têm entre os 9 anos e os 10 anos e 16.7% têm entre os 11anos e os 12 anos de idade. A

maioria das crianças encontra-se a frequentar o Pré-escolar ou 1º ano de escolaridade (46.7%),

26.7% frequentam o 2º ano ou 3º ano, 10.0% frequentam o 4º ano ou o 5º ano e 16.7% estão a

frequentar o 6º ano ou 7º ano. Do grupo de crianças que fizeram parte do estudo, 96.7% são de raça

branca e 3.3% de outra raça.

Tabela 3. Caraterização das crianças com desenvolvimento normal

Crianças com desenvolvimento normal

Frequência

(n) Percentagem (%)

Sexo Feminino 14 46.7% Masculino 16 53.3% 5-6 10 33.3%

Idade 7-8 10 33.3% 9-10 5 16.7% 11-12 5 16.7%

Escolaridade Pré-escolar / 1ºano 14 46.7% 2ºano / 3º ano 8 26.7% 4ºano / 5ºano 3 10.0% 6ºano / 7º ano 5 16.7%

Raça Branca 29 96.7% Outra 1 3.3%

Instrumento

Primeiramente, foi elaborada uma grelha com a qual se pretendeu recolher o parecer do

painel de peritos relativamente à versão traduzida da SPM – forma Casa para que, se necessário,

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proceder a alterações, de modo a atingir a equivalência semântica e cultural relativamente ao

instrumento original. A grelha era constituída pela caraterização do perito, onde se pretendia obter a

idade, os anos de experiência em Pediatria, os anos de experiência em Integração Sensorial e a

Formação realizada na área; pelo grau de acordo do perito relativamente à tradução das instruções e

dos itens, efetuada numa escala de Likert de 1 a 5, em que as opções são Concorda sem reservas

com o modo como o item está formulado, Concorda na generalidade com a forma como o item está

formulado, mas propõe alterações, Não concorda com a forma como o item está formulado e

propõe alterações, Discorda totalmente com a formulação do item e Sem opinião; e por críticas,

sugestões e conclusões propostas pelos peritos.

Posteriormente, na fase de pré-teste, elaborou-se um instrumento destinado a pais ou

cuidadores, no qual constaram os itens da SPM. A cada item foi acrescida uma pergunta referente à

compreensão do mesmo, baseada numa escala dicotómica (fácil ou difícil) e no fim de cada sub-

escala foi colocado um espaço onde era possível propor sugestões aos itens que foram apreciados

como difíceis, para uma reformulação dos mesmos. Essas sugestões ao questionário tinham como

objetivo avaliar a clareza, a compreensão, a relevância cultural e o ajuste das palavras utilizadas na

versão traduzida da SPM. Foi também anexado um pequeno questionário demográfico, com o qual

se pretendeu recolher informação adicional acerca das pessoas que preencheram as escalas e acerca

das crianças, tais como a relação dos pais/cuidador com a criança, a sua idade, o sexo, a sua

escolaridade e o estado civil e também o sexo da criança, idade, escolaridade e a sua raça/etnia.

Procedimentos

Para o desenvolvimento da versão portuguesa da SPM – forma Casa foi necessário solicitar

autorização à editora WPS, portadora dos direitos de autor. Esse pedido foi feito através da

Associação para a Promoção, Divulgação, Formação e Investigação em Integração Sensorial – 7

Senses.

O processo de adaptação do Instrumento de Avaliação SPM para a população portuguesa

decorreu em várias fases, de acordo com as normas estipuladas por Beaton et al. (2000):

Foram utilizadas duas traduções já existentes. Uma (T1) foi realizada por Ferreira (2009),

Terapeuta Ocupacional com especialização em Integração Sensorial e a outra (T2) por Fernandes e

Begedas (2010), também Terapeutas Ocupacionais com especialização em Integração Sensorial e

por uma tradutora.

Com as duas traduções já existentes, o grupo de tradutores conjuntamente com o

investigador realizaram uma síntese dos resultados, utilizando a T1, a T2 e a versão original, de

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forma a obter uma versão de consenso (T 1-2) da tradução. Esta foi acompanhada por um relatório

que descreve o processo de síntese efetuado, as dúvidas surgidas e as suas resoluções.

A partir da versão de consenso (T 1-2), foi pedido a uma técnica, cuja língua materna é o

inglês, e que não tinha conhecimento da versão original, para fazer uma nova tradução para a língua

original do instrumento. Seguidamente, fez-se uma comparação com a versão original a fim de

perceber se existiam inconsistências grosseiras e/ou erros conceptuais. Existiam algumas diferenças

em relação ao instrumento original, nomeadamente no termo “distressed”, que não foi traduzido em

nenhum dos itens.

A escolha do painel de peritos foi rigorosa, respeitando os critérios anteriormente

apresentados nos participantes. O questionário foi enviado para os 15 peritos via email e a sua

receção foi via email também. O papel do painel de peritos é, através da consulta da versão original

e da versão de consenso (T 1-2), desenvolver uma versão pré-final do instrumento para a sua

utilização em testes posteriores. Têm como objetivo, analisar a redação dos itens, das perguntas e

das notas introdutórias e/ou explicativas do instrumento, quanto à sua clareza e compreensão. Foi

feita uma análise das respostas dadas pelos peritos item a item quanto ao grau de acordo com a

formulação das instruções e dos itens e das sugestões dadas. Após essa análise foi ainda feito um

relatório que sintetizou todas as alterações realizadas na versão de consenso final.

Foi necessário reformular a versão pré-final enviada aos peritos tendo por base a frequência

das sugestões dos peritos, a pertinência e relevância das suas sugestões, a opinião da autora e a

correspondência de termos com a responsável pela adaptação cultural da SPM – Forma Escola.

Após ter sido reformulada a versão pré-final foi pedido de novo ao técnico responsável pela

antiga retroversão que fizesse uma nova. Essa nova retroversão foi enviada para a editora para que

fosse dado parecer para a continuação do estudo, parecer esse que foi favorável.

A versão pré-final efetuada foi ainda sujeita a um pré-teste, que teve como objetivo produzir

uma versão final do instrumento clara e aceitável para todas as pessoas que o irão utilizar. Foi

aplicada a 30 pais/cuidadores de crianças dos 5 aos 12 anos. Os sujeitos desta amostra preencheram

um questionário de opinião onde deram o seu parecer em relação ao significado de cada um dos

itens e a eventuais dificuldades de interpretação dos mesmos, assim como tiveram oportunidade de

propor sugestões. Se fosse necessário, introduzir-se-iam modificações no instrumento, de forma a

obter a versão final da tradução e adaptação cultural. Tiveram de preencher também um

questionário demográfico.

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Após a análise dos questionários resultantes do pré-teste, verificou-se se seria necessário

introduzir modificações, de forma a obter a versão final da tradução e adaptação da SPM – forma

Casa para a língua portuguesa.

Para que a amostra fosse representativa, foi necessário distribuir questionários por diferentes

pontos do país. Para tal pediu-se a colaboração de colegas Terapeutas Ocupacionais de norte a sul

que tinham contacto com crianças dentro da faixa etária pretendida e que se disponibilizaram a

contribuir na recolha da amostra. Os questionários foram distribuídos via correio. Após terem sido

preenchidos foram recolhidos também via correio.

As caraterísticas da amostra foram descritas através de estatística descritiva simples, que tem

como objetivo destacar o conjunto dos dados brutos retirados de uma amostra, de maneira a que

sejam compreendidos (Fortin, 2009). Para as variáveis com escalas nominal e ordinal procedeu-se à

análise de frequências, enquanto que para as escalas intervalares analisou-se a média, o desvio

padrão, o mínimo e o máximo. A análise dos dados foi efetuada com o programa estatístico

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

Resultados

Os peritos concordaram com a tradução apresentada, sem ser necessário fazer qualquer

alteração nos itens 3, 5 e 6 das Instruções, no item 5 da sub-escala da Participação Social, nos itens

13 e 21 da sub-escala da Visão, nos itens 23 e 24 da sub-escala da Audição, nos itens 33 e 35 da

sub-escala do Tato, nos itens 41 e 45 da sub-escala do Paladar e Olfato, nos itens 56, 57 e 65 da

sub-escala do Equilíbrio e Movimento e no item 72 da sub-escala Planeamento e Ideias.

Em alguns dos itens, o grau de concordância dos peritos não foi total, surgindo uma ou duas

sugestões não consideradas relevantes e que não mudariam o sentido, daí que se tenha mantido a

tradução apresentada. Nas Instruções, esses itens foram o 1, 2 e 4, que tiveram uma concordância

por parte dos peritos de 86.7%, 93.3% e 86.7% respetivamente; Na sub-escala Participação Social,

nos itens 3, 4 e 10, os peritos concordaram em 80.0%; Na sub-escala Visão, nos itens 17 e 20, os

peritos concordaram em 86.7% e 93.3% respetivamente; Na sub-escala Audição, nos itens 25, 27 e

28, os peritos concordaram em 80.0%, 86.7% e 66.7% respectivamente; Na sub-escala Tato, nos

itens 30, 38, 39 e 40, os peritos concordaram em 86.7%; Na sub-escala Consciência do Corpo, nos

itens 46, 47, 49 e 52, os peritos concordaram em 86.7% e no último em 73.3%; Na sub-escala

Equilíbrio e Movimento, nos itens 60, 61 e 66, os peritos concordaram em 93.3%; e na sub-escala

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de Planeamento e Ideias, nos itens 69, 71, 73 e 75, os peritos concordaram em 86.7%, 80.0%,

66.7% e 86.7%, respetivamente.

Nos itens 8 e 9 das Instruções, bem como em todos os restantes itens do instrumento onde,

no original, a palavra “distressed” aparece (itens 14, 29, 32, 34, 44 e 63), a palavra “incómodo”,

“aflita”, “angustiada” ou “perturbada” foi alterada para “aflita/perturbada”, por sugestão da

autora e por concordância com a responsável pela adaptação cultural da SPM - forma Escola.

Para uma melhor análise por parte do painel de peritos, dividiram-se as Instruções em 10

itens. No item 7, foi sugerido pela maioria dos peritos alterar a ordem da frase de modo a ficar mais

clara, passando de “Tente da melhor forma responder a todas as perguntas” para “ Tente responder

da melhor forma a todas as perguntas”. No item 9, 20.0% dos peritos sugeriram que se alterasse um

dos exemplos das expressões não verbais “empurrar qualquer coisa que esteja no seu caminho”

para “empurrar qualquer coisa”, o que também estava em concordância com as sugestões feitas

pela responsável pela adaptação cultural da SPM – forma Escola. No item 10, 33.3% dos peritos

sugeriram que se indicasse a localização do espaço que se destina aos comentários sobre o

comportamento ou funcionamento da criança, ficando a instrução “Pode utilizar o espaço acima

destinado para adicionar comentários sobre o comportamento ou funcionamento da criança”. O grau

de acordo dos peritos em relação às Instruções encontra-se apresentado na Tabela 4.

Tabela 4. Grau de acordo dos peritos quanto às Instruções

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Instruções 1 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 2 Freq 14 1 0 0 0 15 % 93.3% 6.7% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 3 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 4 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 5 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 6 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 7 Freq 10 4 1 0 0 15 % 66.7% 26.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Instruções 8 Freq 8 7 0 0 0 15 % 53.3% 46.7% .0% .0% .0% 100.0%

Instruções 9 Freq 8 6 1 0 0 15 % 53.3% 40.0% 6.7% .0% .0% 100.0%

Instruções 10 Freq 9 5 1 0 0 15 % 60.0% 33.3% 6.7% .0% .0% 100.0%

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Na sub-escala Participação Social, no item 1, 40.0% de peritos que concordaram na

generalidade com a tradução, foram unânimes na sua opinião, propondo que se alterasse o que se

encontra entre parênteses, “sem discutir e/ou argumentar”, por “sem muita argumentação”. No

item 2, foi retirada a palavra “cuidadores” por se achar que estes já estariam incluídos nos “adultos

importantes” e substituiu-se “adultos importantes” por “adultos significativos” porque em

Terapia Ocupacional a palavra mais correcta para a tradução é “significativos”. No item 6, 53.3%

dos peritos sugeriram que se substituísse “Procura os outros” por “Junta-se aos outros”, por ficar

mais próximo do original. No item 7, um dos peritos sugeriu que se acrescentasse uma vírgula, de

modo a separar o complemento de tempo, ficando o item “Durante as refeições, toma parte da

conversa e interage de um modo adequado?”. No item 8, dos 46.7% de peritos que não

concordaram sem reservas com o item em causa, 57.1% acharam que se devia substituir "Participar

adequadamente em atividades familiares" por "Participar adequadamente em saídas familiares".

Ainda no item 8, um dos peritos sugeriu acrescentar aos exemplos dados o “centro comercial”, por

ser um exemplo que está mais próximo da nossa cultura. Dois dos peritos (13.3%) sugeriram

substituir, no item 9, a palavra “reuniões” por “acontecimentos, eventos ou encontros”. Tentando

fazer uma maior aproximação ao instrumento original optou-se pela palavra “encontros”, ficando o

item “Participa adequadamente em encontros familiares, tais como férias, casamentos ou

aniversários?”. O grau de acordo dos peritos em relação à sub-escala Participação Social encontra-

se apresentado na Tabela 5.

Tabela 5. Grau de acordo dos peritos quanto à Participação Social

Concorda sem

reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Participação Social 1 Freq 9 6 0 0 0 15 % 60.0% 40.0% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 2 Freq 10 5 0 0 0 15 % 66.7% 33.3% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 3 Freq 12 3 0 0 0 15 % 80.0% 20.0% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 4 Freq 12 2 0 0 1 15 % 80.0% 13.3% .0% .0% 6.7% 100.0%

Participação Social 5 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 6 Freq 7 5 2 0 1 15 % 46.7% 33.3% 13.3% .0% 6.7% 100.0%

Participação Social 7 Freq 12 3 0 0 0 15 % 80.0% 20.0% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 8 Freq 8 6 1 0 0 15 % 53.3% 40.0% 6.7% .0% .0% 100.0%

Participação Social 9 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Participação Social 10 Freq 12 3 0 0 0 15 % 80.0% 20.% .0% .0% .0% 100.0%

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Na sub-escala Visão, no item 11, dos 40% de peritos que não concordaram sem reservas,

66.7% sugeriram que os exemplos deveriam ser alterados por não estarem em concordância com o

original, tendo estes sido alterados para “Parece incomodada com a luz, especialmente luz intensa

(pisca, chora ou fecha os olhos)?”. No item 12, 40.0% dos peritos não concordaram sem reservas

com a tradução apresentada, sugerindo alterar “problemas ” por “dificuldade” e “quando está no

meio dos outros” por “quando está no meio de outras coisas”, ficando o item “Tem dificuldade

em encontrar um objeto quando está no meio de outras coisas?”. Tanto no item 15 como no item

18, foram feitas sugestões pertinentes por parte dos peritos, alterando o conteúdo do item. No

primeiro, 53.3% dos peritos sugeriram “Tem dificuldade em controlar o movimento dos olhos

enquanto segue um objecto (ex. uma bola)” e no segundo, 20.0% sugeriram “Anda em direção a

objetos ou pessoas como se não estivessem lá?”. No item 16, 33.3% dos peritos sugeriram a

alteração do item de “reconhecer objetos similares ou diferentes” para “reconhecer semelhanças

ou diferenças entre objetos”. No item 19, 40.0% dos peritos sugeriram retirar “olhando para a

luz”, o que também foi sugerido pela autora, ficando o item “Gosta de ligar e desligar interruptores

repetidamente?”. O grau de acordo dos peritos em relação à sub-escala Visão encontra-se

apresentado na Tabela 6

Tabela 6. Grau de acordo dos peritos quanto à Visão

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Visão 11 Freq 9 4 2 0 0 15 % 60.0% 26.7% 13.3% .0% .0% 100.0%

Visão 12 Freq 9 5 1 0 0 15 % 60.0% 33.3% 6.7% .0% .0% 100.0%

Visão 13 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Visão 14 Freq 3 10 1 1 0 15 % 20.0% 66.7% 6.7% 6.7% .0% 100.0%

Visão 15 Freq 7 6 1 1 0 15 % 46.7% 40.0% 6.7% 6.7% .0% 100.0%

Visão 16 Freq 10 1 3 1 0 15 % 66.7% 6.7% 20.0% 6.7% .0% 100.0%

Visão 17 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Visão 18 Freq 12 1 2 0 0 15 % 80.0% 6.7% 13.3% .0% .0% 100.0%

Visão 19 Freq 8 4 2 1 0 15 % 53.3% 26.7% 13.3% 6.7% .0% 100.0%

Visão 20 Freq 14 1 0 0 0 15 % 93.3% 6.7% .0% .0% .0% 100.0%

Visão 21 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

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Na sub-escala Audição, tanto no item 22 como no 26, foram feitas sugestões pertinentes por

parte dos peritos. No item 22, questionaram o facto de a “normalidade” poder não ser igual para

todas as pessoas, e sugeriram que se substituísse “normais” por “comuns”, ficando o item “ Parece

incomodada com sons domésticos comuns, tais como o aspirador, secador de cabelo ou o

autoclismo?”. No item 26, os peritos sugeriram substituir as palavras “causam medo a” por

“incomodam”, tendo o item sido alterado para “Parece assustada com sons que usualmente não

incomodam outras crianças da mesma idade?” (Tabela 7).

Tabela 7. Grau de acordo dos peritos quanto à Audição

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Audição 22 Freq 13 1 1 0 0 15 % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Audição 23 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Audição 24 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Audição 25 Freq 12 3 0 0 0 15 % 80.0% 20.0% .0% .0% .0% 100.0%

Audição 26 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Audição 27 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Audição 28 Freq 10 4 1 0 0 15 % 66.7% 26.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Audição 29 Freq 13 1 1 0 0 15 % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

O termo da Sub-escala “Tato” foi sujeito a alteração, por concordância com a responsável

pela adaptação cultural da SPM – forma Escola, elegendo-se este termo em vez de “Toque”. Tanto

no item 31 como no 37, 46.7% e 33.3% dos peritos, respectivamente, sugeriram alterações, de

modo a ficar mais próximo do original, ficando o primeiro item “Parece não ter uma perceção

normal de ser tocada?” e o segundo “Tem uma tolerância invulgarmente alta à dor? (ex. cai e não

chora ou vai contra os objetos e não nota). No item 36, foi sugerido acrescentar aos exemplos “ou

outras coisas que sujem” em vez de “etc.”, complementando assim os exemplos dados (Tabela 8).

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Tabela 8. Grau de acordo quanto ao Tato

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Tato 30 Freq 13 1 1 0 0 15 % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Tato 31 Freq 8 6 1 0 0 15 % 53.3% 40.0% 6.7% .0% .0% 100.0%

Tato 32 Freq 7 4 4 0 0 15 % 46.7% 26.7% 26.7% .0% .0% 100.0%

Tato 33 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Tato 34 Freq 10 4 1 0 0 15 % 66.7% 26.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Tato 35 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Tato 36 Freq 11 3 1 0 0 15 % 73.3% 20.0% 6.7% .0% .0% 100.0%

Tato 37 Freq 9 4 2 0 0 15 % 60.0% 26.7% 13.3% .0% .0% 100.0%

Tato 38 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Tato 39 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Tato 40 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Na sub-escala Paladar e Olfato, no item 42, 20.0% dos peritos sugeriram substituir “Cerra a

boca” por “Dá-lhe vómitos” e 26.7% substituir “sopa de espinafres” por “espinafres cozidos”,

ficando o item “Dá-lhe vómitos quando tem à frente uma comida que não aprecia tal como

espinafres cozidos”. No item 43, 26.7% dos peritos sugeriram as palavras “não comestíveis” em

vez de “não alimentares”, ficando o item “Gosta de cheirar os objectos não comestíveis e

pessoas?” (Tabela 9).

Tabela 9. Grau de acordo dos peritos quanto ao Paladar e Olfato

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Paladar e Olfato 41 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Paladar e Olfato 42 Freq 8 4 1 2 0 15 % 53.3% 26.7% 6.7% 13.3% .0% 100.0%

Paladar e Olfato 43 Freq 9 6 0 0 0 15 % 60.0% 40.0% .0% .0% .0% 100.0%

Paladar e Olfato 44 Freq 13 1 1 0 0 15 % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0%

Paladar e Olfato 45 Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

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Na sub-escala Consciência do Corpo, no item 48, 40.0% dos peritos sugeriram a sua

alteração, de modo a aproximar-se mais do original, ficando “Parece insegura de como deve baixar

ou levantar o corpo durante movimentos tais como sentar ou subir para cima de um banco ou

cadeira?”. No item 50, sugeriram substituir “e carregar” por “ou carregar”, por serem meros

exemplos e não terem intenção de ser as únicas coisas onde as crianças podem ou não demonstrar

excessiva força. No item 51, 26.7% dos peritos fizeram sugestões pertinentes que levaram à

alteração do conteúdo do item, ficando “Salta muitas vezes?”. No item 53, 26.7% dos peritos

sugeriram a alteração de “Bate contra” por “Choca ou empurra as outras crianças?”. No item 54,

20.0% dos peritos sugeriram substituir “Morde brinquedos” por “Mastiga brinquedos”, por ser

mais fiel ao original. Segundo a autora, a tradução poderia ser “morder” ou “mastigar”, mas

“mastigar” é um termo mais abrangente. No item 55, 40.0% dos peritos sugeriram retirar o “Por

vezes”, por já ser uma forma de graduação da frequência com que o comportamento acontece. O

grau de acordo dos peritos em relação à sub-escala Consciência do Corpo encontra-se apresentado

na Tabela 10.

Tabela 10. Grau de acordo dos peritos quanto à Consciência do Corpo

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Consciência do Corpo 46 Freq 13 2 0 0 0 15 % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

Consciência do Corpo 47  Freq 13 2 0 0 0 15   % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 48  Freq 9 3 3 0 0 15

  % 60.0% 20.0% 20.0% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 49  Freq 13 2 0 0 0 15

  % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 50  Freq 10 4 1 0 0 15

  % 66.7% 26.7% 6.7% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 51  Freq 11 3 1 0 0 15

  % 73.3% 20.0% 6.7% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 52  Freq 11 2 1 0 1 15

  % 73.3% 13.3% 6.7% .0% 6.7% 100.0% Consciência do Corpo 53  Freq 11 4 0 0 0 15

  % 73.3% 26.7% .0% .0% .0% 100.0% Consciência do Corpo 54  Freq 11 3 0 1 0 15

  % 73.3% 20.0% .0% 6.7% .0% 100.0% Consciência do Corpo 55  Freq 9 4 1 1 0 15

% 60.0% 26.7% 6.7% 6.7% .0% 100.0%

Na sub-escala Equilíbrio e Movimento, nos itens 58, 63 e 65, 40.0%, 26.7% e 13.3% dos

peritos, respetivamente, sugeriram alterações de modo a haver mais aproximação ao original: no

item 58, substituir “Não gosta de” por “Evita”; no item 63, alterar para “Mostra-se

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aflita/perturbada quando a sua cabeça é inclinada e retirada da posição vertical?”; e no item 65

alterar para ”Parece ter medo de andar de elevador ou escadas rolantes?”. No item 59, os peritos

sugeriram retirar o “Por vezes”, por já ser uma forma de graduação da frequência com que o

comportamento acontece. 53.3% dos peritos sugeriram a alteração do item 64 para “Tem

dificuldades de coordenação e parece desajeitada?” (Tabela 11).

Tabela 11. Grau de acordo quanto ao Equilíbrio e Movimento

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Equilíbrio e Movimento 56  Freq 15 0 0 0 0 15 % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0%

Equilíbrio e Movimento 57  Freq 15 0 0 0 0 15   % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 58  Freq 9 5 0 1 0 15

  % 60.0% 33.3% .0% 6.7% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 59  Freq 12 2 1 0 0 15

  % 80.0% 13.3% 6.7% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 60  Freq 14 1 0 0 0 15

  % 93.3% 6.7% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 61  Freq 14 1 0 0 0 15

  % 93.3% 6.7% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 62  Freq 15 0 0 0 0 15

  % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 63  Freq 11 2 2 0 0 15

  % 73.3% 13.3% 13.3% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 64  Freq 7 8 0 0 0 15

  % 46.7% 53.3% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 65  Freq 13 2 0 0 0 15

% 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0% Equilíbrio e Movimento 66  Freq 14 1 0 0 0 15

% 93.3% 6.7% .0% .0% .0% 100.0%

O termo da Sub-escala Planeamento e Ideias foi sujeito a alteração, por sugestão de um dos

peritos e por acordo com a responsável pela adaptação cultural da SPM – forma Escola, elegendo-se

este termo em vez de “Planeamento de Ideias”. Nos itens 67 e 68, 46.7% e 53.3% dos peritos,

respetivamente, fizeram sugestões pertinentes que levaram à alteração do conteúdo do item, ficando

este “Tem dificuldade em perceber como transportar vários objetos ao mesmo tempo?” No item 70,

26.7% dos peritos sugeriram a sua alteração para “Tem dificuldade em desempenhar as tarefas na

sequência certa tal como vestir-se ou pôr a mesa?”, de modo a ficar mais próximo do original. No

item 74, foi sugerido por 13.3% dos peritos alterar a ordem da frase de modo a ficar mais correcto,

passando de “Tem dificuldade em ter ideias novas para jogos ou atividades?” para “Tem dificuldade

em ter ideias para jogos ou atividades novas?” (Tabela 12).

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Tabela 12. Grau de acordo dos peritos quanto ao Planeamento e Ideias

Concorda

sem reservas Concorda na generalidade

Não concorda

Discorda totalmente

Sem Opinião

Total

Planeamento e Ideias 67  Freq 8 6 1 0 0 15 % 53.3% 40.0% 6.7% .0% .0% 100.0%

Planeamento e Ideias 68  Freq 7 4 4 0 0 15   % 46.7% 26.7% 26.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 69  Freq 13 1 1 0 0 15

  % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 70  Freq 11 3 1 0 0 15

  % 73.3% 20.0% 6.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 71  Freq 12 2 1 0 0 15

  % 80.0% 13.3% 6.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 72  Freq 15 0 0 0 0 15

  % 100.0% .0% .0% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 73  Freq 10 4 1 0 0 15

  % 66.7% 26.7% 6.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 74  Freq 13 1 1 0 0 15

  % 86.7% 6.7% 6.7% .0% .0% 100.0% Planeamento e Ideias 75  Freq 13 2 0 0 0 15

  % 86.7% 13.3% .0% .0% .0% 100.0%

A retroversão, depois de efetuada, foi enviada para a autora da versão original da SPM –

forma Casa, que deu o seu parecer favorável, pelo que não houve necessidade de proceder a

quaisquer alterações.

No pré-teste, 12 % dos itens foram considerados difíceis, como se pode observar na tabela

13. Foram os seguintes: 4 e 10 da sub-escala Participação Social; 11 da sub-escala Visão; 38 da

sub-escala Tato; 56, 60 e 61 da sub-escala Equilíbrio e Movimento; e 67 e 75 da sub-escala

Planeamento e Ideias. Pediu-se aos pais que quando considerassem um item difícil que fizessem

sugestões no espaço destinado a esse fim, mas apenas um deles o fez, não se tendo no entanto

efetuado qualquer alteração.

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Tabela 13. Resultados do Pré-teste

Fácil Difícil Total Participação Social 4 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Participação Social 10 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Visão 11 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Tato 38 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Equilíbrio e Movimento 56 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Equilíbrio e Movimento 60 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Equilíbrio e Movimento 61 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Planeamento e Ideias 67 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0% Planeamento e Ideias 71 Freq 29 1 30

% 96.7% 3.3% 100.0%

Discussão

Na tradução e adaptação cultural de um instrumento de avaliação, a ser usado num outro

país, cultura ou língua, os itens não devem ser só traduzidos linguisticamente, mas devem ser

adaptados culturalmente para manter a validade de conteúdo, utilizando-se para isso um único

método, a fim de encontrar uma equivalência entre a versão original e as adaptadas (Beaton et al.

2000).

Com o presente estudo, procurámos realizar a tradução e adaptação cultural da SPM – forma

Casa para a realidade portuguesa, a fim de atingir as equivalências conceptuais e linguísticas. Para

tal, as decisões tiveram de ser tomadas tendo em vista conseguir essas equivalências entre as duas

versões em quatro áreas: Equivalência Semântica, Equivalência Idiomática, Equivalência

Experiencial e Equivalência Conceptual (Beaton et al. 2000). Esta última não foi avaliada devido ao

facto de os conceitos teóricos utilizados estarem fundamentados pela Teoria da Integração

Sensorial.

Para a obtenção dos resultados apresentados, foram definidos critérios de tomada de decisão,

tendo em conta o grau de acordo do painel de peritos e as sugestões propostas para a alteração dos

itens. Esses critérios foram: a opinião da autora; a concordância com a responsável pela adaptação

cultural da SPM – forma Escola; a pertinência e/ou relevância das sugestões; e a frequência das

mesmas. Os resultados obtidos indicam que essas sugestões incidiram em aspectos relacionados

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com a estrutura da língua portuguesa, na organização dos elementos da frase de forma a tornar os

itens mais claros e perceptíveis (item 7 das Instruções “ Tente responder da melhor forma a todas as

perguntas”). A aproximação à cultura portuguesa foi outro aspecto tido em conta, de forma a que os

comportamentos inquiridos fizessem parte do quotidiano dos pais/cuidadores (item 8 da sub-escala

Participação Social “Participa adequadamente em saídas familiares, tais como jantar fora, ir ao

parque, museu, cinema ou centro comercial?”). Em instrumentos que avaliem os contextos da vida

diária e as relações sociais, que podem ser diferentes de cultura para cultura, é necessário ter em

atenção a frase ou termos da versão original, mas encontrar outra expressão que tenha o mesmo

significado na cultura a adoptar (Su & Parham, 2002). De referir, no entanto que, neste estudo essa

adaptação à cultura não impediu que a proximidade com o original fosse um critério seguido

permanentemente pelos peritos.

Segundo os resultados obtidos no pré-teste, constatou-se que os pais/cuidadores perceberam

o conteúdo da maioria dos itens, tendo em conta a baixa percentagem de itens considerados difíceis

(12%). Apesar de 9 itens terem sido considerados difíceis, apenas um dos pais/cuidadores fez

sugestão de alteração, que não foi aceite pelo facto de: o instrumento original não apresentar

exemplos no item em causa; nenhum dos peritos achar necessário adicionar exemplos; e nenhum

dos outros pais/cuidadores terem feito essa sugestão.

Conclusão

Considera-se que o objectivo definido para este estudo foi alcançado uma vez que, através

da metodologia definida, desenvolveu-se uma versão Portuguesa da SPM – forma Casa, traduzida e

adaptada culturalmente, com linguagem adequada e terminologia compreendida pelos

pais/cuidadores, o que é importante devido à falta de instrumentos de avaliação estandardizados na

área de Integração Sensorial com tradução para língua portuguesa.

A existência deste tipo de documentos possibilita avaliar crianças com suspeita ou desordens

de Integração Sensorial, como complemento a teste formais, tendo os pais/cuidadores como uma

das fontes de informação. Sem estes instrumentos não é possível realizar uma avaliação completa, o

que condicionará a obtenção de resultados credíveis e limitará a delineação de uma boa intervenção.

Como limitação a este estudo, refere-se o facto de alguns dos terapeutas ocupacionais

solicitados a integrar o painel de peritos, não terem demonstrado interesse em fazê-lo, o que reduziu

o número de participantes com critérios de inclusão na amostra pretendida. Outra limitação

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encontrada tem a ver com a escassez de tempo, não tendo sido, por isso, possível a realização do

estudo das propriedades psicométricas da SPM – forma Casa.

Assim, considera-se importante que uma nova investigação seja levada a cabo, de forma a

fazer-se o estudo das propriedades psicométricas para que o instrumento de avaliação seja validado

e pronto a ser utilizado por Terapeutas Ocupacionais a trabalhar na área de Integração Sensorial.

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