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Adalgisa Campos

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  • conjunto discreto sobre fi gura e ao em desenho

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASINSTITUTO DE ARTES

    ADALGISA MARIA CAVEZZALE DE CAMPOS

    CONJUNTO DISCRETO - SOBRE FIGURA E AO EM DESENHO

    DISSERTAO APRESENTADA AO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP PARA A OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM ARTES.

    ORIENTADORA: PROFA. DRA. LUISE WEISS

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL DA DISSERTAO DEFENDIDA PELO ALUNO E ORIENTADA PELA PROFa. DRa.. LUISE WEISS

    ______________________

    ASSINATURA DA ORIENTADORA

    CAMPINAS, 2012

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  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP

    Informaes para Biblioteca Digital

    Ttulo em ingls: Discrete Ensemble - on figure and action in drawing. Palavras-chave em ingls (Keywords): Art Drawing Performance. rea de Concentrao: Artes Visuais Titulao: Mestre em Artes Banca examinadora: Luise Weiss [Orientador] Paulo Mugayar Khl Luiz Armando Bagolin Lygia Arcury Eluf Claudio Mubarac. Data da Defesa: 11-04-2012 Programa de Ps-Graduao: Artes

    Campos, Adalgisa Maria Cavezzale de. C157c Conjunto Discreto - sobre figura e ao em desenho/

    Adalgisa Maria Cavezzale de Campos Campinas, SP: [s.n.], 2012.

    Orientador: Luise Weiss. Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de

    Campinas, Instituto de Artes.

    1. Arte. 2. Desenho. 3. performance. I. Weiss, Luise. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. III. Ttulo.

    (em/ia)

    IV

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  • Vhomologao versao III.indd 5 12/06/2012 16:28:14

  • VI

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  • A Paulo e Antonio, pela medida de tudo e por todo o resto.

    VII

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  • VIII

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  • agradecimentosA Luise Weiss por sua generosidade inspiradora. A Maria Carolina Costa Coutinho, amiga, companheira de tantos trabalhos e revisora cuidadosa e perspicaz. A Marcia Pastore pela fundamental ajuda na diagramao. A Paulo Penna pelo apoio, incentivo e disponibilidade constantes.

    A Mirian Ehrenberger pelo registro do Rito #2. A Sylvia Furegatti e aos artistas do Pparalelo, pelo convite que possibilitou a realizao e o registro do Rito #3. A Thase Nardim, Ludmila Castanheira e Rodrigo Emanoel Fernandes, organizadores do XI Festival de Apartamento, por tornarem possvel realizar Rito #4 e a Estela Miazzi e Jaime Lauriano, que o registraram em vdeo.

    IX

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  • Xhomologao versao III.indd 10 12/06/2012 16:28:15

  • resumoEsta dissertao teve por fi nalidade investigar modalidades de funcionamento do desenhar, particularmente o fi gurar e o agir, conjugando prtica artstica e refl exo, baseando-se na experincia e no pensamento em desenho.

    Atravs da observao destes dois funcionamentos - fi gurar e agir - e trs de suas manifestaes no conjunto do trabalho - Medies, Estruturas e Acontecimentos - buscou-se isolar aspectos que digam respeito a essas interaes.

    Na ltima parte do texto, apresenta-se o Conjunto Discreto, um grupo de trabalhos que, constituindo a exposio a ser apresentada na Galeria do IA, pretende declinar possibilidades de interao entre estes dois funcionamentos.

    Palavras-chave: Arte, Desenho, Performance, Figura, Ao.

    XI

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  • XII

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  • abstractThe purpose of this study was to investigate the operating procedures of drawing, particularly action and fi gure, through artistic practice and refl ection. It was based on drawing experience and thought.

    By observing these two runs action and fi guration - and three of their manifestations throughout the work - Measurements, Structures and Events - we tried to isolate aspects that relate to these interactions.

    In the last part of the text the Discrete Essemble is presented. It is a group of works that constitute the exhibition to be presented, and that intends to decline possibilities for interaction between these two runs.

    Key-words: Art, Drawing, Performance, Figure, Action.

    XIII

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  • XIV

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  • sumrio introduo 3 sobre o texto 5

    I. funcionamentos 7

    fi gurar 9 agir 11

    II. manifestaes 13

    medies 15 estruturas 25 acontecimentos 33

    III. interaes 41

    fi gurar em medies 43 circunscrio 43 grandeza 49 lugar de memria 55 materialidade 61

    fi gurar em estruturas 71 identidade 71 inscrio 77 modelo 87 mecanismo 95

    fi gurar em acontecimentos 101 imaterialidade 101 no representao 107

    agir em medies 111 operao 111 interao 117

    agir em estruturas 123 gesto 123 reiterao 131

    agir em acontecimentos 137 presena 137 partilha 145

    IV. conjunto discreto 155

    nove quartos 1:1 157 nove quartos em ciclo contnuo 159 estruturas germinantes 163 formaes 177 rito #4 179

    V. perspectivas 181

    notas 182

    referncias bibliogrfi cas 184

    crditos das imagens 188

    XV

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  • 16

    XVI

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  • 1medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    conjunto discreto sobre fi gura e ao em desenho

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  • 3medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    introduo O fi gurar e o agir pelo desenho tm comparecido em meus trabalhos dos ltimos anos1 de modos diversos, segundo gradientes variveis, alternando-se, justapondo-se, por vezes convocados intuitivamente, por outras programaticamente, afetando e determinando um conjunto de produes que se estende bem alm do perodo de vigncia deste mestrado.Parto, nesta pesquisa, do desejo de observar como fi gurar e agir ocorreram e de que modo se constituram em trabalhos que me conduziram at aqui, a fi m de refl etir sobre suas presenas em minha produo atual.

    O esforo de entendimento prope-se a objetivos irrealizveis: por um lado, nem tudo o que plasticamente ocorre na obra pode ser verbalmente expresso; por outro, a curta distncia que me separa da minha produo limita e restringe necessariamente o alcance da observao. Meu desejo que dissertao seja fonte de estmulo e base para a construo de meus trabalhos futuros e que as vivncias e refl exes, acumuladas e desenvolvidas durante os ltimos anos, possam ser partilhadas nesta empreitada.

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  • 5medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    sobre o texto Anlogo ao que se deu no mbito da prpria pesquisa, o texto parte de uma tentativa de defi nio dos dois funcionamentos que estruturam o trabalho (cap. I), segue buscando caracterizar os trs grupos de trabalhos que so as manifestaes dos funcionamentos (cap. II) e procede ento combinatria entre aqueles funcionamentos e esses grupos, (cap. III), enumerando e ilustrando alguns aspectos de trabalhos, ligados a essas combinaes.

    No captulo II foram introduzidas referncias aos meus trabalhos anteriores nos quais identifi quei afi nidades com as manifestaes abordadas.

    No captulo III, por sua vez, foram intercaladas inseres referentes a leituras feitas no perodo do mestrado e a obras de outros artistas que, de diversas maneiras, alimentaram a refl exo terica e prtica de que se constitui esta produo.

    Tais referncias buscam apor-se ao corpo do texto principal sem com ele se fundirem, de modo a explicitar correspondncias e ensejar relaes entre elas mesmas e delas com a produo atual.

    O captulo IV descreve o conjunto de trabalhos que constitui a exposio a ser apresentada na Galeria do Instituto de Artes, em abril prximo.

    Uma breve concluso sobre o processo de pesquisa e suas consequncias traada, fi nalmente, no captulo V.

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  • 7medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    I. funcionamentos: fi gurar, agir Os trabalhos aqui apresentados so frutos de uma ao ou atitude que resulta na produo de uma marca indicial, tendo o desenho como seu principal modo de operao. A marca, se no semelhante a algo percebido na realidade sensvel, constituda a partir da percepo de um aspecto da realidade e a ele se refere, formando, em sua individualidade, uma fi gura.

    Agir e fi gurar so, portanto, partes indissociveis do mecanismo pelo qual os trabalhos so construdos, funcionamentos que se manifestam em graus variados, alternando-se ou sobrepondo-se, nestes diferentes grupos.

    Cabe agora precisar a qual sentido refi ro-me ao utilizar as palavras fi gurar e agir, dentre as possveis acepes desses dois termos de to amplo alcance.

    FIGURAR AGIR

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  • 8Rito #2, 2010. Performance, giz e cal sobre solo, nanquim sobre papel.

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  • 9medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    fi gurar

    O fi gurar a que fao meno no texto a produo de imagens desenhadas que se referem realidade sensvel e nela operam ativamente, reconstruindo-a ao analis-la, modifi cando-a ao retrat-la, travando com ela uma relao biunvoca. Este fi gurar confi rma e prenuncia o objeto a que se refere: descrevendo o mundo, prope-se tambm a projet-lo (AUERBACH, 2004).

    FIGURAR

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  • 10Formao, 2011. Vdeo.

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  • 11

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    agir

    O agir diz respeito a movimentos corporais ou atitudes, engendradores do desenho, presentes explicita e intencionalmente como assunto ou resultado, protagonistas da obra.

    AGIR

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  • 12

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  • 13

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    II. manifestaes: medies, estruturas e acontecimentos

    Figurar e agir, ainda que em graus variados, estruturam esse conjunto de produes e se manifestam em trs grandes grupos de trabalhos que, no texto, agrupei sob as denominaes de Medies, Estruturas e Acontecimentos.

    Acontecimentos so intimamente ligados ao, enquanto Medies e Estruturas dizem respeito prioritariamente fi gura referindo-se a imagens constitudas a partir da realidade sensvel por meio da alternncia ou sobreposio da observao e da memria. Medies e Estruturas diferenciam-se, no entanto, nas escolhas que pressupem, assim como no tipo de reposta que oferecem: as Medies dizem respeito a espaos e objetos especfi cos e referem-se a aos espaos e objetos por identidade de propores e forma; Estruturas partem da observao de grupos ou classes de objetos e referem-se a suas caractersticas gerais, representando alguns de seus aspectos genricos.

    Apesar dos funcionamentos serem aqui apresentados como categorias estanques, uma observao aprofundada mostra que eles nem sempre se opem. A interpenetrao do fi gurar e do agir poder ser observada no captulo seguinte, que aborda as Interaes.

    As origens de cada um dos trs grupos remontam a trabalhos feitos h vrios anos, embora poca eles no tenham sido produzidos baseados nessas categorias. Pareceu-me importante inserir breves descries dos trabalhos anteriores neste captulo, de modo a fornecer uma viso da ocorrncia de Medies, Estruturas e Acontecimentos num perodo mais abrangente que o da vigncia do mestrado.

    medies

    estruturasacontecim

    entos

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  • 14Coleo de medies, 1999-2012. Planta arquitetnica.

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  • 15

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    medies

    medies

    Os trabalhos envolvendo Medies comearam a ser produzidos em 1999 com a constituio de uma coleo de medidas: caladas, corredores, trilhos, vestbulos, atelis, dormitrios, elevador, chuveiro, mesa, lmpada, envelope, copos, discos, tomadas, mveis e folhas de papel. Os desenhos mantm com seus referentes uma relao explcita de escala sempre que no indicada no ttulo, a escala desses desenhos a real (1:1).

    As medidas so tomadas por meio de diversos procedimentos: estimativas, rgua, fi ta mtrica, palmos, medio indireta, contagem de ladrilhos ou qualquer outro mtodo que me permita registrar com maior ou menor acuidade forma, proporo e dimenso, formando um banco de dados que, imaterial, potencialmente se desdobra em subconjuntos, listas e mltiplos objetos.

    Os espaos so registrados, geralmente, pela forma e dimenses dos limites e linhas do solo em alguns casos, so representados pelas paredes ou por aspectos arquitetnicos como portas, janelas ou colunas. Os objetos so descritos sem detalhes, por formas geomtricas simples: retngulos, quadrados e crculos.

    Os itens repertoriados so notados de diversos modos, desenhados a lpis sobre papel, fi ta adesiva ou betume sobre o cho ou digitalmente, impressos em edies de lbuns reunindo famlias de medies reproduzidas em tamanho reduzido, costurados em tecido e corda.

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  • 16Sem ttulo (Coleo de medies), 2011. Fotografi a digital.

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  • 17Sem ttulo (Coleo de medies), 2011. Fotografi a digital.

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  • 18Lottumstrasse (Coleo de medies), 2000. Anotaes de levantamento.

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  • 19Martiniano de Carvalho (Coleo de medies), 2011. Anotaes de levantamento.

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  • 20

    stralsund, 1999

    Propus aos organizadores de um festival de vero na cidade alem de Stralsund que me descrevessem verbalmente (por escrito ou conversas telefnicas, nunca por imagens) um espao de exposio na cidade. Ao longo de um ms, instalada num ateli em Berlim e trabalhando a partir das descries fornecidas, elaborei equivalentes do espao descrito. Ao fi m do processo, os equivalentes foram levados ao local em Stralsund para um perodo de exposio no qual sobrepus representao e espao real.

    As quatro primeiras camadas foram realizadas em tecido de algodo cortado em tiras e costurado mquina a partir das sucessivas descries que me foram enviadas, sem que eu tivesse qualquer contato direto com o local. Os ttulos fazem referncia aos elementos selecionados em cada descrio: Fairly big, At least 7x10, 50x50, 8,30x11,40 (N.S.L.O.), Desenho do solo.

    A camada nmero 5, nica concebida e executada no local, foi feita de corda de pesca amarrada. Suas linhas acompanharam as linhas reais das pranchas do solo e os limites efetivos do espao.

    A deciso de confeccionar as camadas em tecido permitiu transportar facilmente o trabalho de uma cidade a outra e resultou num objeto cujas partes eram materialmente independentes de um suporte. A utilizao dos recursos limitados da mquina de costura, por outro lado, manteve a representao num campo de no iluso.

    A representao do lugar elegeu, dentre outros aspectos possveis, as dimenses e formas do espao construdo, que se tornou suporte de sua prpria representao. Imagem e espao partilharam seus funcionamentos e o funcionamento se tornou o ponto de identifi cao entre os dois. Essa identidade exigia do observador que ele experimentasse o espao percorrendo o trabalho, engajando-se corporalmente.

    Espao e representao, 1999.Garage Festival, Stralsund, Alemanha.Dimenses totais: 10m x 13,50m.

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  • 21

    rampe003, 2001-2010

    Desenho em tecido de algodo preto das quatro fachadas da galeria, em escala real, comissionado por ocasio da exposio de encerramento das atividades da galeria berlinense.

    Nesta primeira exposio, somente a fachada frontal foi mostrada desdobrada. As peas restantes permaneceram dobradas e expostas nas vitrines do edifcio, juntamente com desenhos preparatrios.

    Transferidas para So Paulo, as seis peas foram suspensas numa estrutura metlica e expostas numa confi gurao que reproduz a posio original relativa de cada fachada.

    Em 2010, quatro das peas voltam a ser expostas no CCSP, suspensas por estruturas metlicas mas, desta vez, reunidas num s plano.

    Rampe003, 2001.Galeria Rampe003, Berlim, Alemanha.

    Rampe003, 2001.Programa de Exposies, Centro Cultural So Paulo.

    Rampe003, 2010.20 anos do Programa de Exposies, Centro Cultural So Paulo.

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  • 22

    solos, 2002

    Partindo da coleo de medies, inseri tantos itens da coleo quantos coubessem, em escala real, na rea de 80m2 destinada exposio de cada participante do programa de exposies.

    Solos, 2002.Pao das Artes, So Paulo, Brasil.Dimenses totais: 10m x 13,50m.

    workplaces, 2003

    Desenho com tinta, em escala real no cho da galeria, cinco atelis em que havia trabalhado at aquela data.

    A cor de cada desenho se refere minha memria de cada espao.

    Workplaces, 2003.Or Gallery, Vancouver, Canad.

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  • 23

    dep. emp., 2002

    Coleo de oito desenhos de quartos de empregada extrados de folhetos de publicidade para lanamentos imobilirios.

    Seis deles foram desenhados, em escala real, com manta asfltica diretamente sobre o cho do espao expositivo.

    Os oito desenhos foram reproduzidos num lbum impresso a laser sobre papel, em escala 1:20, com tiragem ilimitada.

    Dep.Emp., 2002.Galpo15, So Paulo.Manta asfltica sobre solo.Dimenses: 1,50m x 15m.

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  • 24Sem ttulo, 2011. Fotografi a digital.

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  • 25

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    estruturas

    estruturas

    Os desenhos de Estruturas vm sendo produzidos desde 2006, embora esse modo de funcionamento da imagem em meus trabalhos possa ser encontrado em desenhos bem anteriores.

    Estruturas so desenhos sobre papel, geralmente de pequenas dimenses e feitos com pincel, bico de pena, grafi te ou lpis de cor, tratando de formas/funcionamentos/operaes no especfi cos, relativos a grupos ou classes de objetos, procedendo a uma aproximao progressiva de aspectos comuns a essas formas na reiterao de gestos.

    Estruturas estabelecem com o objeto ao qual se referem um modo particular de relao: no sendo necessariamente semelhantes a esses referentes quanto a seu aspecto (cor, proporo, dimenso e forma), entretm com objetos uma analogia de funcionamento, de modo operacional ou ainda de forma de construo.

    Estruturas so produzidas em grupos ou famlias, em geral em pequenas dimenses, utilizando tintas, pincis, penas ou lpis.

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  • 26Sem ttulo, 2011. Fotografi a digital.

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  • 27Sem ttulo, 2011. Fotografi a digital.

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  • 28

    caderno de memrias, 1995-1997

    Num pequeno caderno, desenhei uma srie de imagens de memria com carvo, grafi te, lpis de cor, aquarela e seguindo uma nica regra: desenhar o que no est ali. Reconstru e compreend, pelo afastamento, coisas, lugares e pessoas dos quais me lembro mas que se encontravam distantes no tempo ou no espao. Torno visvel o que um dia j foi quase invisvel, banal.

    Essa srie de imagens foi produzida num caderno entre 1995 e 1998, nos primeiros tempos de uma estadia de seis anos na Frana. Em 1997, para o Salo do Efmero de Fontenay-sous-bois, elaborei a partir dessas imagens um trabalho que foi instalado por algumas semanas sobre um muro do parque municipal.

    Identifi co neste conjunto alguns aspectos da minha produo posterior de fi guras, sejam elas estruturas ou medies: ao no simular as coisas, reconstituindo efeitos semelhantes aos evocados pela memria dos objetos, aquelas imagens buscavam descrever esses efeitos por meio de relaes de equivalncia. Nesse contexto, o uso da escala foi decisivo e permanece ainda hoje central na constituio das medies.

    Caderno de memrias, 1995.Carvo sobre papel, 10 x 15 cm.

    Sem ttulo, 1997.Salon de lphemre de Fontenay-sous-Bois, Frana.Impresso a laser e fotocpia coladas sobre muro.

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  • 29

    objetos, 2000-2002

    Srie de pequenos objetos feitos de materiais cotidianos e de coisas diminutas encontradas na gaveta da escrivaninha ou na cesta de costura caixas de fsforos, embalagens de remdio ou de artigos de armarinho, grampos de papel, arame, velas derretidas, linha de costura, alfi netes construdos com gestos simples e repetitivos: enrolar, perfurar, enovelar, derreter, preencher.

    Resultado de uma situao de trabalho em espao reduzido e de restries materiais, os objetos constituram igualmente uma refl exo sobre a representao, na medida em que empregaram materiais que, agenciados, adquirem carga simblica e passam a representar relaes entre coisas do mundo.

    Caderno de memrias, 1995.Carvo sobre papel, 10 x 15 cm.

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  • 30

    desenhos, 2001-2002

    Nestas sries de desenhos, a fi gurao privilegia relaes entre partes em detrimento da semelhana aparente com objetos visveis.

    2x, 2002.Lpis de cor sobre papel pautado, 21 x29,7 cm.

    Dois, 2001.Lpis de cor sobre papel, 21 x29,7 cm.

    Dois, 2001.Lpis de cor sobre papel, 21 x29,7 cm.

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  • 31

    Sem ttulo, 2001.Lpis de cor sobre papel pautado, 21 x 15 cm.

    Duplo, 2001.Lpis de cor sobre papel pautado, 21 x 15 cm.

    Intocveis, 2001.Lpis de cor sobre papel pautado, 21 x 15 cm.

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  • 32Rito #2, 2010.

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  • 33

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    acontecimentos

    acontecimentos

    Os Acontecimentos tornam pblico o processo de produo de uma Estrutura ou a construo de uma Medio, os gestos e atitudes envolvidos, o tempo decorrido em sua execuo. Podem corresponder a uma performance em pblico ou ao seu registro que, uma vez publicado, passa a constituir o trabalho. Em suas diversas formas, tm em comum serem movimentos corporais ou atitudes geradoras do desenho, presentes como assunto ou resultado, participando explicitamente da obra.

    Os Acontecimentos originam-se em trabalhos realizados por volta de 2000, os Urban Drawings2 e Walkfi elds3. A construo de cada desenho dessas duas sries de trabalhos, tendo acontecido em espao pblico, deu-se ao mesmo tempo em que o produto da ao, o desenho em si, era revelado. O fazer tornou-se to ou mais importante que o desenho fi nal.

    Os Ritos, realizados a partir de 2010, envolvem o desenhar Medies e Estruturas em presena do outro, explicitando procedimentos e mecanismos de produo de imagens e trazendo para primeiro plano o fazer.

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  • 34Rito #3, 2011.

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  • 35Rito #4 2012.

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  • 36

    um projeto para o edisonhof, 2000

    O projeto para o ptio berlinense de Edisonhof consistiu na execuo de um grande desenho, em escala natural, de uma parcela daquele solo. A parcela desenhada confi gurava um quadrado de 10m de lado interceptando completamente a rea ao longo da fachada principal do ICBRA (Instituto de Cultura Brasileira) ali localizado.

    O desenho, comissionado pelo Instituto, foi realizado em nanquim sobre 57 folhas de acetato medindo 100 x 140cm e representava o estado do solo naquele local, destinado quela altura a uma iminente reforma. Os 57 desenhos registraram sistematicamente, atravs de recursos grfi cos elementares e em escala real, as linhas visveis na parcela de solo escolhida (contornos e recortes do solo, contornos e confi gurao dos diferentes tipos de pavimentao, pedras, rachaduras, manchas, buracos, contornos e linhas internas de tampas de instalaes hidrulicas e de gs, bueiros, sinalizaes de vagas de estacionamento, etc.).

    Uma segunda etapa do projeto, nunca realizada, previa a posterior transferncia do desenho, por serigrafi a, para painis de borracha que cobririam temporariamente o solo do ptio aps a reforma e poderiam ser pisoteados pelos passantes.

    Um projeto para o Edisonhof, 2000.Berlim, Alemanha. Nanquim sobre acetato, 100 m2.

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  • 37

    urban drawings, 2000-2001

    (com Sabine Felber)

    O desenho em fi ta adesiva traz momentaneamente tona linhas latentes no cho de lugares urbanos de passagem, linhas que o transeunte v sem enxergar durante breves e apressadas travessias.

    O vdeo registra o uso do espao, os percursos de seus usurios e as consequncias da interveno: mnimas interferncias na percepo e no uso de um espao cotidiano, rudo num espao mudo, tomada de conscincia instantnea e efmera de uma forma preexistente, oculta.

    A memria dessas aes se acumula no decorrer do projeto a longo prazo. Uma coleo se constitui sob a forma de croquis, levantamentos e registros audiovisuais.

    Foram realizadas, at o momento, nove intervenes em Paris e Berlim.

    Urban Drawings, 2000.Desenho de Adalgisa Campos, Vdeo de Sabine Felber.

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  • 38

    walkfi elds, 2000-2001

    Num espao pblico, represento as formas do solo desenhando sobre elas com fi ta adesiva de marcao. Feito o desenho, uma performer responde com movimentos s linhas coladas no cho. Ao fi m da ao, as linhas so retiradas.

    Walkfi eld #1 foi realizado no vero de 2000, na cidade alem de Stralsund, durante o Garage Festival. Desenhei sobre um quadrado de aproximadamente 8m de lado, interceptando os trilhos desativados no cais do porto da cidade. As linhas de fi ta adesiva reproduziam a localizao de linhas escolhidas por mim naquele trecho de cho. Aps a concluso do desenho, Svea Gustavs e Ulf Jacobson executaram uma performance em que ela, caminhando sobre os trilhos, atravessava o quadrado reagindo com movimentos presena das linhas amarelas, enquanto ele respondia com sons de percusso aos seus movimentos. Atravessado o quadrado, Svea prosseguia seu caminho sobre os trilhos at desaparecer atrs de um armazm.

    Cerca de um ano depois, Walkfi eld #2 foi feito numa calada de Paris. Desta vez, desenho e movimento aconteceram concomitantemente: numa extremidade da calada eu comecei marcando o cho com fi ta adesiva, avanando progressivamente. Alguns minutos depois, Sophie Couineau iniciou seus movimentos, respondendo s linhas desenhadas e avanando comigo, distncia.

    Nos dois trabalhos o fazer tornou-se to ou mais importante que o desenho fi nal. Sobretudo na ao parisiense essa construo e a resposta da outra performer determinou a durao, no mais fazendo parte da preparao, mas coincidindo com a prpria existncia da obra. O contato com o pblico, frequentadores, passantes, curiosos e habitantes ensejou a interao das pessoas durante a construo: assim como respondia com linhas s formas do cho, reagia presena e interferncia (intencional ou no)

    das pessoas cujo caminho eu cruzava ao construir o trabalho. Esse contato, se no havia sido previsto como parte integrante da obra, abriu caminho para diversas produes em que a caracterstica de construo em pblico passou a constitu-lo com mais vigor e crescente protagonismo.

    Walkfi eld #2 (com Sophie Couineau), 2001.Boulevard de la Villette, Paris. Vdeo: Sabine Felber.

    Walkfi eld #1 (com Svea Gustavs), 2000.Stralsund, Alemanha. Vdeo: Sabine Felber.

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  • 39

    publicao de arquivo, 2004-2009

    Realizado entre 2004 e 2009, o projeto aborda a apropriao, modifi cao e publicao de um arquivo pessoal, conjunto de documentos e objetos que pertenceram a meu pai, dos quais tomei conhecimento cerca de vinte anos aps sua morte. O arquivo compreendia um conjunto de documentos ofi ciais, algumas fotografi as, agendas, livros, numerosos escritos em cadernos e folhas soltas (os Dirios Esparsos) e papis como apostilas, dirios de classe, holerites, canhotos de cheque, cartes de Natal entre muitos outros.

    O projeto incluiu diversas aes sobre o arquivo:

    Triagem dos documentos e objetos;

    Ordenao cronolgica e transcrio dos Dirios Esparsos;

    Leitura Pblica de Dirios Esparsos, realizada por Maria Carolina;

    Registro de Formatos, a lpis em folha de sulfi te;

    Modifi cao de Objetos: tingimento, recobrimento, apagamento ou desenho sobre os documentos do arquivo;

    Publicao dos processos de trabalho sobre o arquivo: transferncia temporria do ateli para espaos pblicos de exposio;

    Publicao dos objetos produzidos: transcries, objetos modifi cados, documentos, etc.

    O projeto foi encerrado ao fi m da leitura pblica dos dirios, em maio de 2009, e resultou em cerca de 2000 registros de formato, 600 objetos modifi cados, 260 pginas de transcrio de dirios esparsos, 14 horas de leituras, registros fotogrfi cos e vdeos, alm de diversas exposies reunindo Objetos Modifi cados.

    Publicao de Arquivo, 2004-2009.Performance de encerramento (com Maria Carolina).Estdio Risco, So Paulo.Maio de 2009.

    Publicao de Arquivo: Objeto Modifi cado, 2006.Grafi te sobre documento.Dimenses: 20,5 x 31 cm.

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  • 40

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  • 41

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    medies

    estruturasacontecim

    entos

    III. interaes: fi gurar e agir em medies, estruturas e acontecimentos

    Buscarei, a seguir, observar como cada um dos funcionamentos fi gurar e agir manifestam-se nos trs conjuntos Medies, Estruturas e Acontecimentos tentando isolar aspectos desses trabalhos que digam respeito s interaes.

    Alternadamente, introduzirei referncias a leituras feitas ao longo do mestrado e a obras de outros artistas que, de diversas maneiras, alimentaram a refl exo terica e prtica que constituram a produo desse perodo.

    FIGURAR AGIR

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  • 42Coleo de medies: solos, 1999-2012. Desenho digital.

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  • 43

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    medies

    fi gurar em medies: circunscrio

    Medies circunscrevem espaos, determinando regies que equivalem em forma ou em extenso s ocupadas pelos objetos ou espaos originais.

    Medies ocupam no mundo um espao equivalente aos seus referentes. Materialmente diversas e espacialmente distantes dos objetos que as originaram, Medies se constituem, como eles, de espao. Neste sentido, a relao de equivalncia entre os desenhos e seus referentes plena e diretamente apreensvel.

    Circunscrever o fi nito, o palpvel, o mensurvel o primeiro passo para atribuir-lhe valor relativo a comparao entre espaos ou objetos est presente desde minhas primeiras experincias com a coleo de formas.

    FIGURAR

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  • 44Coleo de medies: elementos verticais, 1999-2012. Desenho digital.

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  • 45

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    Coleo de medies: domsticas, 2003. Desenho digital e texto.

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    circunscrio: nicforo o patriarca

    Em seus escritos em defesa da causa iconodoula, Nicforo o Patriarca4 (758-828) menciona circunscrio e inscri-o como funcionamentos possveis da linha na imagem. A distino entre a linha que inscreve e a que circuns-creve, segundo ele, seria imprescindvel para se compre-ender a relao estabelecida entre o cone e seu objeto, o sagrado.

    Quanto circunscrio, eis, dizemos, no que ela consiste: o que circunscrito o no lugar, em seu comeo temporal ou em sua compreenso. (...) De modo que h circunscrio quando h permetro e determinao de um objeto englobado e de' -nido, ou ainda quando h limitao do que tem comeo e movimento, ou ainda quando h com-preenso do que pensado e conhecido. Aquilo que no se cerca de nenhuma dessas maneiras incircunscritvel.5

    (...) A circunscrio compreende tudo o que diz res-peito aos sentidos e manifestao. Quanto ins-crio, ela diz respeito sobretudo ao pensamento.6

    Nossa Senhora Entronizada com o Menino.

    Constantinopla, circa 1280.

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  • 47Dep. Emp. , 2002. Desenho digital.

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  • 48Trs patamares e um elevador (estudo para Rito #2), 2010. Desenho digital.

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  • 49

    medies

    estruturasacontecim

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    medies

    fi gurar em medies: grandeza

    Traduzidos em grandezas quantifi cveis, espaos e objetos tornam-se mveis, transferveis, recombinveis e sobreponveis, reprodutveis em diversos suportes. Despem-se, em certa medida, de aspectos subjetivos para se reduzirem a dados abstratos.

    Por outro lado, a reduo da realidade dos espaos a algumas categorias de dados torna o conjunto homogneo em sua grande diversidade. Uma escada em So Paulo pode somar-se a um vestbulo em So Simo e a uma calada em Pissinguaba. Dessa recombinao advm novos sentidos, dentre eles o de conformar novos espaos a partir dos compilados. Suas caractersticas tornam-se quantidades: podem somar-se, subtrair-se e multiplicar-se. As superfcies se intersectam ou se contm, originando novas superfcies. As medies reconfi guram distncias, constituindo e reconstituindo lugares.

    FIGURAR

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  • 50

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  • 51Dois patamares, 2011. Desenhos digitais.

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  • 52

    o teatro de giulio camillo

    O famoso Teatro da Memria de Giulio Camillo7 era uma estrutura em madeira, em forma de teatro vitruvia-no e utilizvel por uma ou duas pessoas por vez, no qual se encontraria todo o conhecimento existente no mundo, representado em imagens dispostas nos espaos corres-pondentes s galerias do teatro e fartamente documen-tado em manuscritos organizados em escaninhos, acom-panhando cada imagem. A sabedoria universal reunida por esse dispositivo fabuloso ' cava disponvel observa-o do seleto visitante que, colocando-se no lugar corres-pondente ao palco do teatro, percorria e relacionava as inmeras subdivises do conhecimento que compunham a edi' cao, construindo em seu percurso fsico no teatro o percurso de seu conhecimento do mundo.

    Se na tradio da Arte da Memria imagens e lugares so as unidades mnimas e comuns a todos os sistemas de memorizao, no Teatro da Memria de Giulio Camillo essas duas instncias se combinam concretamente numa construo real, material, geomtrica, que pode ser aden-trada e percorrida. No teatro, lugares, imagens e aes so engrenagens de uma mquina de conhecimento do mundo, movida pelo estabelecimento de um percurso em seu interior. Ditadas pelos desejos de cada visitante, li-nhas de pensamento conduzem deslocamentos, recombi-nam ' guras, construindo sentidos mutveis.

    Athanasius Kircher.Teatro da Memria de Giulio Camillo.

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  • 53Solos (desenho preparatrio), 2002. Desenho digital.

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  • 54Martiniano (Coleo de medies), 2008. Anotaes de levantamento. Caneta e lpis sobre papel.

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  • 55

    medies

    estruturasacontecim

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    medies

    fi gurar em medies: lugar de memria

    Cada Medio, produzida em escala real, evoca imagens e aes ligadas quele espao em minha memria. As imagens e suas combinaes defi nem lugares e estabelecem relaes entre eles, onde essas sensaes e aes so reconvocadas. Os lugares e objetos representados nas medies so ativados como lugar de memria, num sentido prximo ao encontrado nos dispositivos de Giulio Camillo 8. Tal como no Teatro de Camillo, as Medies tornam partilhveis, objetivando informaes, memrias e experincias pessoais. Ao faz-lo, abrem a possibilidade de desdobramento, no campo social, da experincia pessoal.

    FIGURAR

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  • 56 Weinmasterstr. Azul Lavanda (Coleo de medies), 2000. Anotaes de levantamento. Caneta sobre papel.

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  • 57Weinmasterstrasse: 2 palmos + 4 dedos (Coleo de medies), 2000. Anotaes de levantamento.

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  • 58

    memria: simnides

    A origem da tradio mnemotcnica greco-latina reme-te lenda de Simnides9, poeta grego que, convidado a se apresentar num banquete, recita versos em honra de Castor e Polux, o que teria irritado o an' trio que, ao ' m da apresentao, recusa-se a pagar o preo combi-nado.

    Avisado de que dois jovens o chamavam na entrada do edifcio, Simnides retira-se bem a tempo de escapar in-clume ao desabamento do prdio, acidente que vitima-ria todos os presentes.

    Como nico sobrevivente da tragdia, Simnides en-to convidado a identi' car os corpos das vtimas, o que consegue fazer graas lembrana de seus nomes e das posies que ocupavam mesa.

    Estabelecem-se desse modo as bases do sistema tradicio-nal em que se funda a Arte da Memria: armazenagem e agenciamento de informao a partir da associao entre nomes (associados a imagens) e lugares.

    Segundo Frances Yates:

    A memria arti' cial fundamenta-se em lugares e imagens (Constat igitur arti$ ciosa memoria ex lo-cis et imaginibus), de' nio bsica que ser seguida no transcorrer do tempo. Um locus um lugar fa-cilmente apreendido pela memria, como uma casa, um intercolnio, um canto, um arco, etc. Imagens so formas, signos distintivos, smbolos (formae, notae, simulacra) daquilo de que queremos nos lembrar. Por exemplo, se queremos nos lembrar do gnero de um cavalo, um leo, uma guia, precisamos colocar suas imagens em lugares (loci) de' nidos.10

    Ramon Llull.Breviculum, sc. XIV.

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  • 59Banheira Gal. Glicrio (Coleo de medies), 2011. Anotaes de levantamento.

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  • 60Estudo para Rito #4: Maison du Brsil - Cit Universitaire de Paris (detalhe da planta do pavimento tipo). Projeto de Le Corbusier e Lucio Costa, 1959.

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  • 61

    medies

    estruturasacontecim

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    medies

    fi gurar em medies: materialidade

    Como elementos da coleo, as Medies, traduzidas em grandezas quantifi cveis, so essencialmente imateriais. A passagem do estado de conjunto de dados para o de objeto implica em escolha material.

    O uso de fi ta adesiva de marcao, giz, betume, tecido, grafi te ou lpis de cor acrescenta sentidos em cada objeto produzido, determinando suas possibilidades de funcionamento, interferindo nesse funcionamento. Assim, se uma medio costurada em tecido a torna transportvel e sobreponvel a outros espaos, uma outra construda em betume aderir ao cho de forma indelvel, fundindo o espao representado ao real. Os materiais escolhidos para cada ocorrncia das medies condicionam profundamente sua signifi cao.

    FIGURAR

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  • 62Estudo para Rito #4, 2012. Desenho a caneta.

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  • 63Rito #4, 2012.

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  • 64Medies: vestbulos, coluna, 2010. Desenho digital.

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  • 65Medies: vestbulos, coluna, 2010. Lpis de cor sobre papel. Dimenses totais: 1,40 m x 3,00 m.

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  • 67Trs vestbulos, 2010. Lpis de cor sobre papel. Dimenses totais: 1,50 x 1,40 m.

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    material: louise bourgeois

    Estou envolvida numa espcie de espiral, um mo-vimento em espiral de motivao. O material em si, pedra ou madeira, no me interessa como tal. um meio, no um ' m. Voc no faz escultura porque gosta de madeira. Isso absurdo. Voc faz escultura porque a madeira lhe permite expressar algo que outro material no permite.11

    Louise BourgeoisOde la Bivre (det.), tecido aplicado, 2002.

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  • 69

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  • 70Estrutura de crescimento, 2010. Grafi te sobre papel. 31 x 41 cm.

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    estruturas

    fi gurar em estruturas: identidade

    Estruturas referem-se a coisas do mundo e a relaes entre coisas, buscando estabelecer analogia entre a presena de uma marca no papel e a existncia de um aspecto do referente.

    Se nas Medies forma, dimenso e, por vezes, escala coincidem com as do referente, nas Estruturas essas trs constituintes da imagem no conservam necessariamente uma relao de identidade com o objeto a que se referem.

    Nas Estruturas, a identidade passa pelo entendimento de relaes no referente e pela elaborao de equivalentes em funcionamento no desenho. Assim, embora descritivas, as Estruturas so abstratas, no sentido de surgirem do pensamento conceitual a respeito da coisa desenhada e no da reproduo de aspectos sensveis, aparentes, da coisa.

    FIGURAR

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  • 72Estrutura de crescimento: formigueiro, 2010. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

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  • 73Estrutura de crescimento, 2010. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

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    henri matisse: tema e variaes

    Quando aborda uma forma pelo desenho, Matisse opera por aproximaes sucessivas, de modo a somar, a cada nova tentativa, aspectos negligenciados no desenho anterior, construindo um mapa do conhecimento sobre o tal objeto (alga, 6 or, um rosto) em que os aspectos no necessariamente se acumulam num desenho ' nal, mas se distribuem em mltiplas fases da produo dessas imagens. O desenho de Matisse parece ter papel central no entendimento profundo da essncia de um objeto representado.

    As sries de Temas e variaes e os guaches recortados dos ltimos anos da vida de Matisse so a materializao desse processo, em que a representao do peculiar ou do particular cede espao para a cristalizao do essencial em cada forma.12

    Henri Matisse.Anphitrite, 1947.Gouache sobre papel recortado.

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  • 75Estrutura umbilical, 2011. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

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  • 76Rito #2 - Estrutura germinante, 2010. Nanquim sobre caderno sanfonado. Dimenses da pgina: 18 x 19,5 cm.

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  • 77

    medies

    estruturasacontecim

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    estruturas

    fi gurar em estruturas: inscrio

    Em Nicforo encontro, mais uma vez, linhas que ecoam modos de operao em desenho. Ao defi nir inscrio que ele ape circunscrio como aquela que torna presente a forma visvel e corporal daquilo que inscrevemos13 conservando, entretanto, forma e temporalidade por diferenciar-se em essncia do modelo a que se refere, o Patriarca sublinha a possibilidade de um duplo funcionamento da imagem: a inscrio, sendo baseada na semelhana, diz respeito aparncia mas, ao mesmo tempo, manifesta-se como sendo de natureza fundamentalmente diferente do seu referente.

    As Estruturas, inscritas, constituem um novo corpo feito de linha, mancha e cor, ocupando espao no suporte e estabelecendo relaes com seu referente.

    FIGURAR

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  • 79Rito #4 - Estrutura germinante (detalhes), 2012. Aquarela sobre sobre caderno sanfonado. Dimenses da pgina: 18 x 19,5 cm.

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  • 81Rito #4 - Estrutura germinante (detalhes), 2012. Aquarela sobre sobre caderno sanfonado. Dimenses da pgina: 18 x 19,5 cm.

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  • 82Estrutura germinante (RIto #3), 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 15,5 x 23,0 cm.

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  • 83Estrutura germinante (RIto #3), 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 15,5 x 23,0 cm.

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  • 84

    nicforo: inscrio

    (...) A inscrio, efetivamente, para comear pelo mais simples, se entende de duas maneiras. H a inscrio que, deitada nos caracteres das letras como as que vemos aqui em srie ordenada e for-mando slabas, se exprime nos discursos escritos. H a que aparece dotada de forma visvel e im-pressa em rplicas feitas imitao de um mode-lo. esta o objeto de nossa pesquisa. A primeira espcie de inscrio prope a relao de discursos sucessivos por meio de enunciados orais. A outra faz entrever nas aparncias a mimtica das pesso-as que constituem seus modelos.14

    (...) a inscrio gr' ca torna presente a forma vi-svel e corporal daquilo que inscrevemos, seu con-torno, sua forma sensvel da qual ela a impresso semelhante.(...) Desse modo, estando a inscrio em relao de semelhana com o arqutipo, a inscrio inscrio do arqutipo. assim que a formulamos. Mas sendo separada do modelo, esta inscrio tem sua existncia prpria em sua tem-poralidade prpria.15

    homologao versao III.indd 84 12/06/2012 16:30:10

  • 85Estrutura germinante (RIto #3), 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 15,5 x 23,0 cm.

    homologao versao III.indd 85 12/06/2012 16:30:11

  • 86Estrutura, 2011. Acrlica e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

    homologao versao III.indd 86 12/06/2012 16:30:13

  • 87

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    estruturas

    fi gurar em estruturas: modelo

    As Estruturas so exerccios de refl exo sobre relaes entre partes. Nelas, elementos grfi cos produzem foras que operam em analogia com os organismos ou mecanismos aos quais se referem.

    No campo de liberdade que a folha branca, permito-me experimentar essas relaes e meditar sobre suas possibilidades. O desenho deixa de ser descritivo para tornar-se projetivo. Passa a elaborar modelos de relaes entre partes, colocando em jogo, materialmente, elementos de um mecanismo analgico.

    Trazidos ao mundo sensvel, os desenhos-mecanismos ressoam nesse mundo, nele interferindo, ativamente.

    maneira de amuletos ou imagens rituais, as Estruturas, a uma s vez, refl etem o mundo e agem sobre ele.

    FIGURAR

    homologao versao III.indd 87 12/06/2012 16:30:14

  • 88Estrutura, 2011. Acrlica e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

    homologao versao III.indd 88 12/06/2012 16:30:15

  • 89Estrutura, 2011. Acrlica e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

    homologao versao III.indd 89 12/06/2012 16:30:16

  • 90Estrutura: interferncia, 2011. Grafi te e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 29,7 x 42 cm.

    homologao versao III.indd 90 12/06/2012 16:30:18

  • 91Estrutura: interferncia, 2011. Grafi te e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 29,7 x 42 cm.

    homologao versao III.indd 91 12/06/2012 16:30:20

  • 92

    paul klee: arte e criao

    Em seu Credo Criativo16, Paul Klee escreve sobre a re-lao entre obra de arte e a Criao e sobre como, pela resoluo de problemas formais para alm dessa resoluo atinge-se uma zona do conhecimento que supera os sen-tidos, a percepo material do mundo.

    A arte assemelha-se Criao. Cada obra de arte um exemplo, assim como o elemento terrestre um exemplo do csmico. A libertao dos elemen-tos, seu agrupamento em subdivises menores, o desmembramento e a reconstruo em um todo sob diversos aspectos ao mesmo tempo, a polifonia pictrica, a obteno da estabilidade atravs de um equilbrio de movimento, todas estas so com-plicadas questes formais, cruciais para se domi-nar o problema da forma, mas ainda no so arte em uma esfera mais elevada. Nesta esfera mais elevada, por detrs da pluralidade de sentidos, h um mistrio derradeiro, e a luz do intelecto, lasti-mavelmente, se apaga.17

    Paul Klee.Balano dos mundos, 1914/17.Bico de pena sobre papel.

    homologao versao III.indd 92 12/06/2012 16:30:23

  • 93Estrutura: mecanismo, 2011. Grafi te e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 32,5 x 45 cm.

    homologao versao III.indd 93 12/06/2012 16:30:24

  • 94Estrutura: iridescncia, 2011. Nanquim e grafi te sobre papel. Dimenses: 21,0 x 14,5 cm.

    homologao versao III.indd 94 12/06/2012 16:30:26

  • 95

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    estruturas

    fi gurar em estruturas: mecanismo

    Nas Estruturas, a lida com materiais movimenta foras e potencializa relaes, estabelecendo analogias com coisas do mundo. A representao no se d apenas no nvel da imagem produzida, mas tambm comparece no funcionamento dos materiais constituintes dessas imagens, operando em paralelo a seus referentes. O gesto que desloca o nanquim pela folha, a conexo, pelo pincel, entre duas reas cobertas por tinta lquida, o atrito que agrega grafi te a uma superfcie do desenho deixam sobre o suporte indcios de operaes de construo, estabelecendo analogias funcionais.

    FIGURAR

    homologao versao III.indd 95 12/06/2012 16:30:27

  • 96Estrutura: iridescncia, 2011. Nanquim e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 21,0 x 14,5 cm.

    homologao versao III.indd 96 12/06/2012 16:30:28

  • 97Estrutura: iridescncia, 2011. Nanquim e lpis de cor sobre papel. Dimenses: 21,0 x 14,5 cm.

    homologao versao III.indd 97 12/06/2012 16:30:29

  • 98

    tradio hermtica: estrelas e talisms

    No imaginrio da tradio hermtica imagens, objetos e rituais renem e transmitem conhecimentos do mundo, mas tambm interferem em seu funcionamento e con-' gurao atravs de agenciamentos geomtricos, equi-valncias, organizaes de foras materiais e imateriais, sendo explcita e declaradamente considerados como ca-pazes de modi' car a realidade qual se referem.

    As imagens das estrelas so intermedirias entre as ideias do mundo sobreceleste e do mundo sub-celeste dos elementos. Ao manipular ou utilizar as imagens das estrelas, manipulam-se formas que esto mais prximas da realidade do que os obje-tos do mundo inferior, que dependem, todos, das in6 uncias estelares. Pode-se atuar no mundo in-ferior, podem-se alterar as in6 uncias estelares so-bre ele, caso se saiba como ordenar e manipular as imagens das estrelas. De fato, as imagens estelares so as sombras das ideias, sombras da realidade que esto dela mais prximas do que as sombras fsicas do mundo inferior. 18

    Essa relao de correspondncia entre dois mundos, o in-ferior e o supraceleste, quando aplicada construo de um objeto segundo procedimentos e atitudes muito preci-sas rituais d origem aos talisms.

    O talism um objeto sobre o qual se imprime uma imagem supostamente tornada mgica, ou que tem poder mgico, por ter sido feita de acordo com cer-tas regras mgicas. Normalmente embora isso no ocorra sempre , as imagens de talisms so imagens das estrelas, por exemplo, uma imagem de Vnus como deusa do planeta Vnus, ou uma ima-gem de Apolo como deus do planeta Sol.19

    Livro dos orculos em versos emparelhados.

    Alemanha Central, sculo XIV.

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  • 99Estrutura: iridescncia, 2011. Nanquim e grafi te sobre papel. Dimenses: 21,0 x 14,5 cm.

    homologao versao III.indd 99 12/06/2012 16:30:30

  • 100Rito #2, 2010.

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  • 101

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    acontecimentos

    fi gurar em acontecimentos: imaterialidade

    Nos Acontecimentos, o foco se situa no processo de construo. O produto desse processo pode desaparecer ao fi m da ao, ou converter-se num objeto que, a posteriori, passa a existir como objeto autnomo. Nesse ltimo caso, embora evoque a ao que o produziu, o objeto no a representa, sendo to somente um produto dela e no sua imagem.

    Os Acontecimentos podem ser registrados em vdeos, relatos escritos ou fotografi as mas os registros constituiro um novo trabalho e no se substituiro ao Acontecimento.

    FIGURAR

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  • 102Rito #2, 2010.

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  • 103Rito #2, 2010.

    homologao versao III.indd 103 12/06/2012 16:30:37

  • 104

    lygia clark: caminhando

    Objetos Relacionais e Caminhando so dois momentos do trabalho de Lygia Clark que delineiam uma trajet-ria rumo desmaterializao da obra e dissoluo da ideia de autoria. Lygia escreve:

    O objeto relacional tem especi' cidades fsicas. Formalmente ele no tem analogia com o cor-po (no ilustrativo), mas cria com ele relaes atravs de textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade e movimento (deslocamento do mate-rial diversi' cado que o preenche): ele cria formas cujas texturas e metamorfoses contnuas engen-dram ritmos corolrios aos ritmos sensuais que experimentamos na vida. No momento em que o sujeito manipula, criando relaes de cheios e vazios, atravs de massas que 6 uem num processo incessante, a identidade com seu ncleo psictico desencadeia-se na identidade processual do plas-mar-se.20

    Quando um artista usa um objeto da vida cotidia-na (ready made), pensa dar a esse objeto um po-der potico. Meu Caminhando muito diferente. Em seu caso, no h necessidade de objeto: o ato que engendra a poesia.21

    Lygia ClarkCaminhando, 1963

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  • 105Rito #2, 2010.

    homologao versao III.indd 105 12/06/2012 16:30:41

  • 106Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 106 12/06/2012 16:30:44

  • 107

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    acontecimentos

    fi gurar em acontecimentos: no representao

    Acontecimentos no representam fazeres. Os procedimentos partilhados no so metafricos: no se referem a outros procedimentos ou situaes. Acontecimentos apresentam mecanismos de produo de forma, colocando-os em funcionamento, em tempo real.

    Acontecimentos so indcios das intenes e possibilidades que os constituem.

    FIGURAR

    homologao versao III.indd 107 12/06/2012 16:30:44

  • 108Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 108 12/06/2012 16:30:45

  • 109Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 109 12/06/2012 16:30:45

  • 110Campo de Sementes (Coleo de medies), 2008. Fotografi a.

    homologao versao III.indd 110 12/06/2012 16:30:45

  • 111

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    medies

    agir em medies: operao

    A transformao de uma Medio em objeto construdo in loco implica, em sua escala e materialidade, numa necessria nfase no fazer. Diferentes materiais implicam em aes diversas no que se refere a construo: o gesto de traar a lpis difere da operao da mquina de costura ou da lida com o betume. Por outro lado, a construo de objetos de grandes dimenses, muitas vezes diretamente sobre parcelas do espao pblico, implica em partilhar a ao, ainda que eu no considerasse, nas primeiras experincias, que essa fase preliminar se inclusse na existncia do trabalho propriamente dita. A ao ligada construo da obra s foi alada condio de elemento constituinte do trabalho a partir do conjunto de vdeos feitos em parceria com Sabine Felber, os Urban Drawings22, em 2000-01 e nos Walkfi eld23 do mesmo perodo. Nos trabalhos, a existncia do objeto coincide com o tempo de sua fatura, aps a qual tudo desaparece, restando o registro das aes: construo, dana (no caso dos Walkfi elds) ou interao do pblico com o desenho (como nos Urban Drawings).

    AGIR

    homologao versao III.indd 111 12/06/2012 16:30:46

  • 112Campo de Sementes (Coleo de medies), 2008. Anotaes de levantamento.

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  • 113Campo de Sementes (Coleo de medies), 2009. Grafi te sobre papel milimetrado. Dimenses: 42 x 56 cm.

    homologao versao III.indd 113 12/06/2012 16:30:48

  • 114

    sol lewitt: wall drawings

    Os Wall Drawings de Sol Lewitt, com suas instrues verbais e sua efemeridade foram, sem dvida, referncia no estudo das relaes entre fazer e objeto. Ao registrar por escrito as instrues para a realizao de um traba-lho que podem ser seguidas por outras pessoas, Lewitt problematiza a questo do gesto como indcio da subjeti-vidade e como marca autoral, ao mesmo tempo em que tensiona a materialidade da obra.

    Sol Lewitt.Wall markings, 1968.Tinta sobre papel.

    homologao versao III.indd 114 12/06/2012 16:30:50

  • 115Campo de Sementes, 2008-10. Desenho digital.

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  • 116Rito #2 (implantao), 2010. Desenho digital.

    homologao versao III.indd 116 12/06/2012 16:30:52

  • 117

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    medies

    agir em medies: interao

    No objeto construdo e atuando como campo de interao com o observador identifi co um ltimo aspecto ligado s Medies levadas escala real: grandes dimenses e estreita relao com o espao em que se inserem propem a quem visita essas peas uma atitude de engajamento fsico.Para que as perceba em seu conjunto o observador deve deslocar-se no espao expositivo. As Medies, uma vez instaladas no espao real, tensionam o lugar e nele sugerem novos percursos, abrindo-se a dilogos com os visitantes.

    AGIR

    homologao versao III.indd 117 12/06/2012 16:30:52

  • 118

    homologao versao III.indd 118 12/06/2012 16:30:52

  • 119Quarto preenchido com seixos (estudo para Rito #4), 2012. Desenhos digitais.

    homologao versao III.indd 119 12/06/2012 16:30:53

  • 120

    erich auerbach: a viso fi gural

    A relao da obra com as coisas do mundo que, ao invs de anular, ressalta a existncia concreta da imagem no presente, estabelecendo um caminho de mo dupla entre duas coisas (uma signi' cando a outra, e essa outra sig-ni' cando a primeira) de' nida como Figural por Erich Auerbach. No eplogo de Mimesis, seu volume sobre a representao na literatura ocidental, ele escreve:

    Para a viso [' gural na produo literria da antiguidade tardia e da Idade Mdia crist], um acontecimento terreno signi' ca, sem prejuzo da sua fora real concreta aqui e agora, no somente a si prprio, mas tambm um outro acontecimen-to, que repete prenunciadora ou con' rmativa-mente; e a conexo entre os acontecimentos no vista preponderantemente como desenvolvimento temporal ou causal, mas como unidade dentro do plano divino, cujos membros e re6 exos so todos os acontecimentos; a sua mtua e imediata cone-xo terrestre de menor importncia e o conheci-mento da mesma , por vezes, totalmente irrele-vante para a sua interpretao. 24

    homologao versao III.indd 120 12/06/2012 16:30:53

  • 121Workplaces (implantao), 2003. Desenho digital.

    homologao versao III.indd 121 12/06/2012 16:30:53

  • 122Estrutura: balaio, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

    homologao versao III.indd 122 12/06/2012 16:30:53

  • 123

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    estruturas

    agir em estruturas: gesto

    Nas Estruturas, o gesto que constri permanece visvel na forma engendrada. Gesto e imagem relacionam-se estreitamente: o desenho ndice de movimentos e atitudes. O movimento corporal que gera a marca e que atravs do desenho registrado no suporte desenhado busca aproximar-se dos funcionamentos, fl uxos, relaes entre partes do objeto representado. Ritmos respiratrios, tenses musculares, distribuio de pesos imprimem no suporte estados corporais registrados no s como tais, mas como instrumentos de investigao de funcionamentos do mundo. Os desenhos de Estruturas se referem s coisas, mas tambm a atitudes corporais gestos face s coisas.

    A proeminncia do gesto nesses desenhos tem, sem dvida, origem em meu contato com o ensino do desenho por Silvio Dworecki, de quem fui aluna no incio dos anos 90. A nfase no aspecto indicial do desenho nos ensinamentos de Dworecki estabeleceu uma referncia duradoura em minha produo.

    AGIR

    homologao versao III.indd 123 12/06/2012 16:30:55

  • 124Estrutura, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

    homologao versao III.indd 124 12/06/2012 16:30:55

  • 125Estrutura, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 41 cm.

    homologao versao III.indd 125 12/06/2012 16:30:56

  • 126Estrutura, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 20,5 x 31 cm.

    homologao versao III.indd 126 12/06/2012 16:30:57

  • 127Estrutura, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 20,5 x 31 cm.

    homologao versao III.indd 127 12/06/2012 16:30:59

  • 128

    eva hesse: gesto construtor

    O trabalho de Eva Hesse traz tona questes relativas no originalidade deste gesto: em Hesse, as aes que constroem o objeto se desvelam em seus prprios resul-tados e em sua banalidade: pender, retorcer e recobrir, tecer, traar crculos. Seu trabalho se estrutura pela ten-so entre a repetio do gesto e a sutil variedade de suas marcas.

    Eva Hesse.Sem ttulo, 1966.tinta sobre papel quadriculado.

    homologao versao III.indd 128 12/06/2012 16:31:01

  • 129Estrutura, 2009. Grafi te sobre papel. Dimenses: 20,5 x 31 cm.

    homologao versao III.indd 129 12/06/2012 16:31:09

  • 130Estruturas no ateli, 2009. Fotografi a.

    homologao versao III.indd 130 12/06/2012 16:31:12

  • 131

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    estruturas

    agir em estruturas: reiterao

    Nas Estruturas o fazer repetitivo, reiterado, insistente, gera formas irms, ligeiramente diferentes. A reiterao do gesto est presente na constituio dos grupos de desenhos, mas tambm comparece na construo interna de cada desenho, no qual o gesto que forma a pincelada repetido, procura do entendimento sensorial e racional de suas caractersticas e da percepo de suas relaes com o aspecto que ele pretende representar. A produo de uma famlia de Estruturas cessa quando essa busca parece se esgotar.

    O entendimento do desenho como forma de construo de conhecimento, tentativa de defi nio por aproximaes sucessivas de aspectos da realidade sensvel chave na compreenso desse modo de agir por repetio e reiterao. A possibilidade de construo da obra pela soma de partes, sucessivamente produzidas e parcialmente sobrepostas foi sugerida pela observao de diversos autores, especialmente os desenhos de Henri Matisse e os poemas de Francis Ponge.

    AGIR

    homologao versao III.indd 131 12/06/2012 16:31:15

  • 132Estruturas no ateli, 2009. Fotografi a.

    homologao versao III.indd 132 12/06/2012 16:31:15

  • 133Estruturas no ateli, 2010. Fotografi a.

    homologao versao III.indd 133 12/06/2012 16:31:17

  • 134

    francis ponge: reiterao e incompletude

    Em sua obra, Ponge aprofunda procedimentos inaugurados em O Partido das Coisas, no qual se prope nomear qualidades das coisas do mundo. Se no Partido ele consagra um poema em prosa a cada coisa, em Le Savon, Comment une Figue de Paroles et Pourquoi, no Caderno do Pinhal ou em A Mesa, o poeta apresenta como fruto de seu trabalho um vasto conjunto de aproximaes a um mesmo ponto, tentativas, erros, rasuras, correes, achados e desvios que, somados pela leitura sucessiva, resultam numa trama complexa signi' cando, em sua espessura e sempre provisoriamente, o objeto em questo.

    (...) Mesa, tu me s agora urgente

    Sim, esboando-te que quero agora deleitar-me.

    Mas difcil para mim colocar-te em abismo pois no posso dispensar teu apoio.

    Indispensvel para teu esboo.

    No posso, portanto, colocar-te em abismo, no posso esboar-te: posso apenas des' gurar-te (rasgar tua superfcie) com meu estilete imprimir-te um ritmo. Fazer de ti um tampo harmnico.25

    Et je dsespre bien entendu den tout dire26

    Francis Ponge.Le mur, la table, 1970.fac-smile da folha 35 do manuscrito de La table.

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  • 135Estruturas, 2009. Tinta sobre papel. Dimenses: 30 x 40 cm.

    homologao versao III.indd 135 12/06/2012 16:31:19

  • 136Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 136 12/06/2012 16:31:27

  • 137

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    acontecimentos

    agir em acontecimentos: presena

    Se um desenho sempre indcio do tempo dedicado a constru-lo, Acontecimentos almejam revelar minha presena, como agente.

    O confronto entre intenes e possibilidades, em jogo em todo processo humano de construo, se desvela nos Acontecimentos ao longo do tempo e em funo da minha presena. Atenta quele confronto fundador, opero escolhas, elejo gestos, modifi co caminhos pressupostos, abrao imprevistos, percebo possibilidades e revejo intenes.

    O fazer publicado d a ver procedimentos, atitudes, ritmos, posturas e movimentos, revelando o momento em que tomam forma ao se inscreverem no suporte do desenho.

    AGIR

    homologao versao III.indd 137 12/06/2012 16:31:29

  • 138Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 138 12/06/2012 16:31:29

  • 139Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 139 12/06/2012 16:31:33

  • 140Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 140 12/06/2012 16:31:37

  • 141Rito #3, 2011.

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  • 142

    paul zumthor: presena

    Paul Zumthor, ao se referir s especi' cidades da poesia transmitida pela voz escreve:

    No se trata aqui nem de representao nem de recusa da representao, mas de presena. E toda presena provoca, com a ausncia que a precedeu, uma ruptura, engendrando um rit-mo particular na durao coletiva e na histria dos indivduos. Na escanso deste ritmo esto engajados os mltiplos movimentos do corpo, sendo aqueles que produzem a fonia no mais que uma parte indissocivel das outras. A este propsito, falo de gesto, de maneira bem geral. 27

    Trisha Brown.Its a Draw, 2002.Vdeo, aprox. 20 min por desenho.

    homologao versao III.indd 142 12/06/2012 16:31:45

  • 143Rito #3, 2011.

    homologao versao III.indd 143 12/06/2012 16:31:51

  • 144Rito #4, 2012.

    homologao versao III.indd 144 12/06/2012 16:31:55

  • 145

    medies

    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

    agir em acontecimentos: partilha

    Revelar fazeres supe dispor-se entrega e ao dilogo. Acontecimentos tratam de compartilhamento. Partilham o processo de produo de uma fi gura Estrutura ou Medio, os gestos e atitudes que envolvem sua construo, o tempo decorrido em sua execuo. Buscam explicitar procedimentos e gestos de forma imediata, no mediada. Ao serem desvelados, fazeres so oferecidos a quem os presencia.

    Esse partilhar distingue-se nitidamente da interatividade. Acontecimentos no so interativos: a apropriao da possibilidade de construo no pressupe atuao direta do outro. Parto do princpio de que presenciar a construo de uma imagem instrumentaliza e empodera para outras construes, sem que seja necessrio ocupar o lugar de autor.

    acontecimentos

    AGIR

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  • 146Rito #4, 2012.

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  • 147Rito #4, 2012.

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  • 148Rito #4, 2012.

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  • 149Rito #4, 2012.

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  • 150Rito #4, 2012.

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  • 151Rito #4, 2012.

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    lygia clark: bichos

    Em Do Ritual, Lygia Clark justape seus trabalhos neoconcretos produo expressionista abstrata, sua contempornea, e observa suas implicaes no que toca o papel do outro na obra:

    Na arte neoconcreta, h outra espcie de revalorizao do gesto expressivo. que o gesto no o gesto do artista quando cria, mas sim o prprio dilogo da obra com o espectador. O que este gesto acrescenta de grande importncia, pois ele faz com que o homem comum se aperceba imediatamente da vivncia do seu sentido interior. A obra cria uma espcie de exerccio para desenvolver esse sentido expressivo dentro dele. Seria uma espcie de orao somada participao integral dele no prprio ritual religioso. (...) Pollock tem o ritual dele mas que s serve para ele se expressar, ao passo que os Bichos oferecem ao espectador este ritual como experincia primeira. 28

    Lygia Clark.Bicho-fl or, 1960-63.

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  • 153Rito #4, 2012.

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    medies

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    IV. conjunto discretoEm matemtica, um conjunto considerado discreto se todos os seus pontos forem isolados, em oposio ao que acontece num conjunto contnuo. Meu trabalho dos ltimos anos se organiza em torno de prticas heterogneas que, descontnuas, alimentam-se reciprocamente. Frutos da articulao dessas prticas, Medies, Estruturas e Acontecimentos compem, no contexto de meus trabalhos recentes, um Conjunto Discreto.

    A exposio a ser apresentada em abril, na galeria do Instituto de Artes da UNICAMP, reunir um Conjunto Discreto composto de cinco trabalhos que declinam relaes entre agir e fi gurar:

    Nove quartos 1:1, desenho no cho da galeria;Nove quartos em ciclo contnuo, vdeo de animao;Estruturas germinantes, desenhos dispostos na parede da galeria;Formaes, vdeo;Rito #4: subtrao de quartos no festival de apartamento, registro em vdeo da performance.

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    estruturasacontecim

    entosFIGURAR AGIR

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  • 156Nove quartos 1:1 (estudo para Conjunto Discreto), 2011-12. Desenho digital.

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    medies

    FIGURAR

    nove quartos 1:1Em Nove quartos 1:1 as medies dos contornos do piso de nove dormitrios que ocupei ao longo da vida sero desenhadas sobre o solo da galeria, em escala real.

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  • 158Nove quartos em ciclo contnuo, 2011-12. Desenhos digitais preparatrios do vdeo.

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    medies

    AGIR

    nove quartos em ciclo contnuo A animao Nove quartos em ciclo contnuo traz as mesmas nove formas de cmodos se metamorfoseando ininterruptamente, numa ordem e num ritmo que correspondem ordem de aparecimento e durao desses espaos na minha vida.

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  • 160Estudo para Nove quartos, 2011-12. Desenho digital.

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  • 161Storyboard para Nove quartos em ciclo contnuo, 2011-12. Desenho digital.

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  • 162 Estudo para instalao das Estruturas germinantes na galeria do IA, 2012. Desenho digital.

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    estruturasFIGURAR

    estruturas germinantesAs Estruturas germinantes vm sendo realizadas nos ltimos dois anos, mas relacionam-se estreitamente com famlias de imagens surgidas j em 2006, em meio aos objetos modifi cados do projeto Publicao de Arquivo.

    Nesses desenhos, a observao da expanso por brotamento nas formas vegetais enseja movimentos corporais ritmados que, partindo de uma mesma regio do papel, se expandem em direo s bordas.

    Nos desenhos executados com tinta lquida e pincel, os movimentos marcam reas que, conectadas, criam um sistema de vasos comunicantes pigmentando mais ou menos determinada rea, de acordo com a densidade de tinta que nela se deposita.

    Nos trabalhos a grafi te, a concentrao de traos na zona central cria uma densidade anloga espessura do tronco em relao ao caule e as folhas. O sentido de construo das linhas, por sua vez, retraa o caminho do desenvolvimento de organismos e os fl uxos de energia de mecanismos.

    As Estruturas germinantes sero dispostas em conjuntos, reunidas em famlias, sobre as paredes da galeria.

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  • 164Estruturas germinantes, 2011. Acrlica sobre papel. Dimenses: 24 x 32 cm.

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  • 165Estruturas germinantes, 2011. Acrlica sobre papel. Dimenses: 24 x 32 cm.

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  • 166Estruturas germinantes, 2011. Acrlica sobre papel. Dimenses: 21,0 x 29,7 cm.

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  • 167Estruturas germinantes, 2011. Acrlica sobre papel. 21,0 x 29,7 cm.

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  • 168Estruturas germinantes, 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

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  • 169Estruturas germinantes, 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

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  • 170Estruturas germinantes, 2011. Grafi te sobre papel. Dimenses: 31 x 37 cm.

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  • 171Estrutura germinante, 2011. Grafi te sobre papel. Dimenses: 29 x 42 cm.

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  • 172Estruturas germinantes, 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 14,5 x 21,0 cm.

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  • 173Estruturas germinantes, 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 14,5 x 21,0 cm.

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  • 174

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  • 175Estruturas germinantes, 2011. Aquarela sobre papel. Dimenses: 14,5 x 21,0 cm.

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    medies

    estruturasacontecim

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    estruturasAGIR

    formaes Formaes um vdeo realizado em 2011 em que se v, num plano fechado, minha mo traando, sucessivamente, diversos desenhos de uma famlia de estruturas germinantes sobre folhas de papel. A edio de imagens permite justapor as diversas aproximaes do mesmo tema, salientando o que em cada imagem produzida difere e coincide, expondo assim a modifi cao de gesto e trao durante a realizao do conjunto. O gesto de concluso de um desenho d imediatamente lugar ao incio do processo de elaborao do prximo: o vdeo fi nal a soma das construes, sem que se apresente, em nenhum momento, o conjunto dos resultados.

    Formaes, 2011. Vdeo.

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  • 178Rito #4, 2012.

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    medies

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    acontecimentos

    FIGURAR

    rito #4: subtrao de quartos no festival de apartamentoEm Rito #4 parto das dimenses de um quarto, elemento da coleo de medies. Pelo deslocamento de seixos no cho, espao representado e real se subtraem, formando um novo lugar de onde desenho uma estrutura germinante, imagem recorrente em minha produo.

    1. No cho de um cmodo da casa, desenho um retngulo de 15m2, correspondente rea do quarto que ocupei de 1994 a 1996. O retngulo formado por seixos que vou empurrando com os ps e mos;

    2. Partindo do centro da forma de seixos recm-construda, empurro os seixos em direo s paredes do cmodo do apartamento, deslocando a superfcie inicial e abrindo um espao central e uma passagem de acesso porta do cmodo. A rea liberada equivale diferena entre o cmodo do apartamento e o quarto que ali foi representado;

    3. Sentada no espao central, desenho sobre papel uma estrutura germinante que disponho no cho ao sair da sala.

    Rito #4 foi realizado em fevereiro de 2012 e ser apresentado na exposio por meio de um registro em vdeo.

    AGIR

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    medies

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    V. perspectivasRiqussima oportunidade de busca de informao e de interlocuo, esta pesquisa possibilitou-me igualmente refl etir e experimentar, desenhando e escrevendo, ao longo de quase dois anos, com uma intensidade da qual raramente pude dispor at o momento.

    O pensamento e a prtica sobre e pelo desenho permitiram-me por prova a intuio inicial sobre a alternncia de ao e fi gura na estruturao de meu trabalho. Permitiram, entretanto, mais do que isso ao exporem aos meus olhos o quanto os dois eixos fi gurar e agir coexistem, confundem-se e so interdependentes.

    As leituras que efetuei no perodo do mestrado, to variadas e para mim to estimulantes, indicaram a possibilidade de que a sobreposio e interdependncia se estendam a outras prticas e outros pensamentos. Essa constatao tornou mais estimulantes as descobertas e mais numerosas as possibilidades de ao futura.

    Encerro esse ciclo com a sensao de que as questes iniciais foram ultrapassadas por outras questes. Partindo de um modelo bastante restrito, ao e fi gura em desenho, chego a uma situao bem mais complexa um Conjunto Discreto de elementos em que estes funcionamentos operam em graus variados. Possibilidades se abrem e novos problemas surgem penso que, em arte, problemas so motores.

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  • 182

    1. Os trabalhos abordados neste texto foram produzidos a partir de 1995, embora os Conjuntos Discretos, apresentados no captulo

    IV, datem de 2010 em diante. Incluir imagens e refl exes sobre obras que datam de mais de 15 anos pareceu-me pertinente para

    demonstrar os caminhos percorridos e as diversas formas assumidas pelo agir e pelo fi gurar nesse conjunto, ao longo do tempo.

    2. Sobre os Urban Drawings, ver p. 53.

    3. Sobre os Walkfi elds, ver p. 54.

    4. Sobre Nicphore e seus escritos: Nicephore, Discours contre les iconoclastes, 1989.

    5. Id., ibid., p. 167-68. (Trad. minha a partir da traduo francesa)

    6. Id., ibid., p. 170. (Trad. minha a partir da traduo francesa)

    7. Sobre o teatro de Camillo: Yates, A arte da memria, p. 171-218.

    8. Vide nota n 7.

    9. Sobre a lenda de Simnides: YATES, op. cit., p. 17-18.

    10. Id., ibid., p. 23.

    11. Bourgeois, Louise Bourgeois: Desconstruo do Pai, Reconstruo do Pai, p. 161.

    12. Sobre as guaches recortadas de Matisse: Cowart, Henri Matisse: Paper Cut-Outs.

    13. Nicphore, op. cit., p. 169.

    14. Id., ibid., p. 167.

    15. Id., ibid., p. 169-70.

    16. Klee, Credo Criativo, cap. 7, in: Chipp, Teorias da arte moderna.

    17. Id., ibid., p. 187.

    18. Yates, op. cit., p. 273.

    19. Id., ibid., p. 199.

    notas

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    20.Clark, Lygia Clark, p. 319.

    21. Id., p. 152.

    22. Vide nota n 2.

    23. Vide nota n 3.

    24. Auerbach, Mimesis: a representao da realidade na literatura ocidental, p. 500-501.

    25. Ponge, A Mesa, p. 297.

    26. Id., Comment une fi gue de paroles et pourquoi, 1997, p. 109.

    27. Zumthor, Escritura e nomadismo: entrevistas e ensaios, p. 146

    28. Clark ,op. cit, p. 122.

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