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1 ACREDITAR COM O CONCÍLIO | 1. O que é um Concílio? | É a expressão de uma dimensão da natureza da Igreja: os Bispos, Sucessores dos Apóstolos, unidos ao Santo Padre, Sucessor de Pedro, são pelo seu ministério e magistério a garantia da promoção e defesa da fé da Igreja, recebida dos Apóstolos. O Colégio Episcopal reunido com o Santo Padre é um exercício extraordinário do magistério apostólico. Ao longo dos séculos aconteceu em momentos particularmente importantes na vida da Igreja: necessidade de esclarecimento dogmático da fé da Igreja; quando a Igreja enfrentou situações históricas complicadas como convulsões sociais, grandes cismas como o de Constantinopla e a reforma protestante; a necessidade de enfrentar derivas culturais como o modernismo. Esta reunião magna dos Bispos de todo o mundo só é válida como órgão supremo de Magistério, se for convocada pelo Papa e em comunhão com ele. Circunstâncias houve em que os concílios foram convocados pelos imperadores cristãos, mas só foram válidos depois da aprovação do Sumo Pontífice, Sucessor de Pedro. O Concílio é a principal expressão da sinodalidade da Igreja. João XXIII afirma: “Os Concílios Ecuménicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração solene da união de Cristo com a Sua Igreja, e por isso, levam à difusão universal da Igreja, à recta ordenação da vida espiritual, familiar e social, ao reforço das energias espirituais, em permanente elevação para os bens verdadeiros e eternos” 1 . | 2. Motivos que levaram João XXIII a convocar o Concílio | 2.1. Confessa que foi uma surpresa do Espírito: “Foi uma surpresa; uma irradiação de luz sobrenatural; uma grande suavidade nos olhos e no coração. Mas, ao mesmo tempo, um fervor, um grande 1 Papa João XXIII, Discurso na Inauguração do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962, in Concílio Ecuménico Vaticano II, Documentos Conciliares, pg. XXXIV, ed. Gráfica de Coimbra 1

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ACREDITAR COM O CONCÍLIO

| 1. O que é um Concílio? |

É a expressão de uma dimensão da natureza da Igreja: os Bispos,

Sucessores dos Apóstolos, unidos ao Santo Padre, Sucessor de Pedro, são pelo seu

ministério e magistério a garantia da promoção e defesa da fé da Igreja, recebida

dos Apóstolos.

O Colégio Episcopal reunido com o Santo Padre é um exercício extraordinário

do magistério apostólico. Ao longo dos séculos aconteceu em momentos

particularmente importantes na vida da Igreja: necessidade de esclarecimento

dogmático da fé da Igreja; quando a Igreja enfrentou situações históricas

complicadas como convulsões sociais, grandes cismas como o de Constantinopla e

a reforma protestante; a necessidade de enfrentar derivas culturais como o

modernismo.

Esta reunião magna dos Bispos de todo o mundo só é válida como órgão

supremo de Magistério, se for convocada pelo Papa e em comunhão com ele.

Circunstâncias houve em que os concílios foram convocados pelos imperadores

cristãos, mas só foram válidos depois da aprovação do Sumo Pontífice, Sucessor de

Pedro.

O Concílio é a principal expressão da sinodalidade da Igreja. João XXIII

afirma: “Os Concílios Ecuménicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração

solene da união de Cristo com a Sua Igreja, e por isso, levam à difusão universal da

Igreja, à recta ordenação da vida espiritual, familiar e social, ao reforço das

energias espirituais, em permanente elevação para os bens verdadeiros e

eternos”1.

| 2. Motivos que levaram João XXIII a convocar o Concílio |

2.1. Confessa que foi uma surpresa do Espírito:

“Foi uma surpresa; uma irradiação de luz sobrenatural; uma grande

suavidade nos olhos e no coração. Mas, ao mesmo tempo, um fervor, um grande

1 Papa João XXIII, Discurso na Inauguração do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962, in Concílio Ecuménico Vaticano II, Documentos Conciliares, pg. XXXIV, ed. Gráfica de Coimbra

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fervor que de despertou, de repente, em todo o mundo, na expectativa da

celebração do Concílio”2.

2.2. Reconhece uma diferença em relação aos Concílios anteriores:

“A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou

outro ponto da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino

dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, pois este supõe-se sempre bem

presente e familiar ao nosso espírito”3.

2.3. Procura-se a renovação da Igreja, numa sociedade que mudou:

“A Igreja tem consciência, hoje, da grave crise que aflige a sociedade

humana. E quando a comunidade dos homens entra numa ordem nova, pesam

sobre a Igreja, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas como nas épocas

mais trágicas da sua história. Trata-se, na verdade, de pôr o mundo moderno em

contacto com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho, um mundo que se

exalta com suas conquistas no campo da técnica e da ciência, mas que carrega

também as consequências de uma ordem temporal que alguns quiseram

reorganizar prescindindo de Deus. Por isso, a sociedade moderna se caracteriza por

um grande progresso material a que não corresponde igual progresso no campo

moral. Daí, enfraquecer-se o anseio pelos valores do espírito e crescer o impulso

para a procura quase exclusiva dos prazeres terrenos, que o avanço da técnica

coloca tão comodamente ao alcance de todos; e mais ainda, um facto inteiramente

novo e desconcertante: a existência do ateísmo militante, operando no plano

mundial”4.

2.4. A Igreja é chamada a não cair no desânimo e dar o seu

contributo para a transformação da sociedade:

“Perante este duplo espetáculo: um mundo que revela um grave estado de

indigência espiritual e a Igreja de Cristo, tão cheia de vitalidade, Nós, logo que

subimos ao supremo pontificado, apesar da nossa indignidade e por um desígnio da

Providência, sentimos o urgente dever de apelar aos nossos filhos para darem à

Igreja a possibilidade de contribuir mais eficazmente na solução dos problemas dos

nossos dias. Por este motivo, acolhendo como vinda do alto uma voz íntima do

2 Ibidem, pg. XXXV 3 Ibidem, pg. XXXIX 4 Constituição Apostólica Humanae Salutis, pela qual é convocado o Concílio Ecuménico Vaticano II, in Concílio Ecuménico Vaticano II, Documentos Conciliares, nº 3, pg. XXI-XXII, ed. Gráfica de Coimbra

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Nosso espírito, julgamos ter chegado o tempo de oferecermos à Igreja católica e ao

mundo o dom de um novo Concílio Ecumênico”5.

2.5. A evangelização deste mundo moderno supõe que a doutrina de

sempre seja apresentada de uma maneira nova:

“Uma é a substância da antiga doutrina do «depositum fidei» e outra é a

formulação que a reveste; e é isto que se deve – com paciência, se necessário – ter

em conta, medindo tudo nas formas e proporções do magistério de carácter

prevalentemente pastoral”6

5 Ibidem, nº 6, pg. XXIII-XXIV 6 Papa João XXIII, Discurso na Inauguração do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962, in Concílio Ecuménico Vaticano II, Documentos Conciliares, pg. XXXIX, ed. Gráfica de Coimbra