acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

37
p Relatório de Estágio ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES DE REPARAÇÃO AMBIENTAL E MAPEAMENTOS DO USO DO SOLO EM PROPRIEDADES RURAIS NA EMPRESA JOBIM GEORREFERENCIAMENTO E SOLUÇÕES AMBIENTAIS, SÃO GABRIEL, RS Acadêmico Cássio Strassburger de Oliveira CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL São Gabriel, RS, Brasil Dezembro, 2011.

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Relatório de Estágio

ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES DE REPARAÇÃO AMBIENTAL E MAPEAMENTOS DO USO DO SOLO EM PROPRIEDADES RURAIS NA EMPRESA

JOBIM GEORREFERENCIAMENTO E SOLUÇÕES AMBIENTAIS, SÃO GABRIEL, RS

Acadêmico Cássio Strassburger de Oliveira

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

São Gabriel, RS, Brasil Dezembro, 2011.

Page 2: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e
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Resumo

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler

(FEPAM) é o órgão responsável pelo licenciamento ambiental no Rio Grande

do Sul, emitindo licenças à diversas atividades. Muitas vezes essas práticas

são ignoradas por negligência ou por desinformação de produtores rurais,

acarretando em algum tipo de infração ambiental. Além disso, para o pedido de

licença prévia, instalação ou operação, ou mesmo, a regularização de licença

existente, o órgão ambiental solicita ao proprietário o georreferenciamento da

área, ou um mapa de uso e ocupação do solo, no qual são demonstradas as

áreas ocupadas por Áreas de Preservação Permanente (APPs), cursos d’água,

lavouras, etc. Esses mapas também são solicitados em casos onde houve

degradação de áreas e servem para se ter uma noção do dano ocorrido. A

empresa Jobim Georreferenciamentos e Soluções Ambientais realiza trabalhos

nas áreas de georreferenciamento e reparação de áreas degradadas, na qual

se realizou o estágio curricular exigido pelo curso de Engenharia Florestal da

Universidade Federal do Pampa. Durante o período do estágio foi possível

acompanhar a elaboração de mapas temáticos e trabalhar em planos de

reparação ambiental. Na produção de mapas temáticos foi utilizado software

com plataforma CAD, onde foi realizada a vetorização da mata nativa,

aguadas, áreas de lavoura, estradas e cercas de propriedade rural utilizando

imagens do Google Earth®. Com a edição desses vetores, foi possível

identificar e quantificar cada um dos temas da propriedade. Quanto aos planos

de reparação, foi observado que os mesmos são solicitados ao responsável

técnico da empresa, após notificação dos órgãos ambientais competentes.

Nesses casos algum tipo de degradação ocorreu ou houve realização de

atividade com ausência de licenciamento ambiental. As infrações cometidas

pelos produtores e sua respectiva pena estão previstas na Lei 9.605/98 – Lei

dos Crimes Ambientais.

Palavras-chave: mapa de uso do solo, licenciamento, plano de reparação.

Page 4: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Abstract

The State Foundation of Environmental Protection Henrique Luiz

Roessler (FEPAM) is the organization responsible for environmental licensing in

Rio Grande do Sul, issuing various licenses to various activities. Often these

practices are ignored by the negligence or misinformation of farmers, resulting

in some kind environmental violations. Besides, for the previous, installation or

operation license, or even the existing license regulation, the environmental

agency asks the owner the georeferencing of the area, or a land use and soil

map which is the demonstrated the areas occupied by the Permanent

Preservation Areas (APPs), watercourses, fields, etc. These maps are also

required in cases where there was degradation of areas, and serve to get an

idea of the damage occurred. The Jobim Georeferencing and Environmental

Solutions Company perform work in Georeferencing and Recovery of Degraded

Areas, where this work was performed as completion Forest Engineering

course at Federal University of Pampa. During the period of probation was

possible to follow the elaboration of thematic maps and on the environmental

remediation plans working . On the thematic maps production it was used CAD

software platform, where it was realized the native forest, watered, crop areas,

roads, fences, farm vectorization using Google Earth® images With this vector

editing, it was possible to identify and quantify each subject property. As for

recovery plans, it was observed that they are requested to technical company

manager, after notification of environmental agencies. In these cases, some

kind of degradation had occurred or was carrying the activity with no lack of

appropriate environmental licensing. The violations committed by their

producers and their sentences are provided for in Law 9605/98 - Environmental

Crimes Law.

Key words: map of land use, licensing, remediation plan.

Page 5: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Lista de Siglas

.csv – comma-separated values

APP – Área de Proteção Permanente

CAD –

CONAMA –

DEFAP – Departamento e Áreas Protegidas

FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler

g – grama

GPS – Sistema de Posicionamento Global

ha – hectare

IBAMA

INCRA –

kg – quilograma

TAC – Termo de Ajustamento de Conduta

UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa

Page 6: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Lista de Quadros

QUADRO 1 - Quadro de áreas da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS. ..... 25

QUADRO 2 - Áreas de soja cultivadas na fazenda Santa Zélia, São Gabriel,

RS. ................................................................................................................... 25

QUADRO 3 – Áreas de arroz irrigado plantado na Fazenda Santa Zélia, São

Gabriel, RS. ...................................................................................................... 26

QUADRO 4 – Espécies a serem introduzidas com a execução do plano de

reparação. ........................................................................................................ 33

Quadro 5 - Cronograma de execução. ............................................................. 34

Page 7: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Lista de Figuras

FIGURA 1 - Visualização da área a ser mapeada através de imagem oriunda

do software Google Earth (2011). .................................................................... 22

FIGURA 2 – Sobreposição do perímetro na imagem do Google Earth (2011)

por meio do software TOPO EVN. ................................................................... 22

FIGURA 3 – Mapa de uso do solo em sua forma final e com as devidas

convenções. Fonte: autor ................................................................................. 24

FIGURA 4 – Fotos adaptadas do Inquérito Civil, onde são mostradas uma

árvore cortada (a) e os palanques (b) (São Gabriel, 2011). FONTE: Empresa 28

FIGURA 5 - Corte das árvores nativas e a consequente formação de clareiras.

São Gabriel, 2011. FONTE: Empresa .............................................................. 31

FIGURA 6 – Local onde haverá a reposição das árvores nativas cortadas. São

Gabriel, 2011. Google Earth. ............................................................................ 31

FIGURA 7 – Disposição das mudas a serem plantadas. FONTE: Empresa .... 33

FIGURA 8 – Arroio para retirada de água (esquerda) e área sem cultivo (direita)

devido a falta de licença para irrigação, São Gabriel, 2008. FONTE: Empresa 35

FIGURA 9 – a. morte das mudas em decorrência do aumento do nível do rio; b

replantio de mudas; c. avanço do Rio Vacacaí e d. isolamento da área. São

Gabriel, RS. FONTE: Empresa ........................................................................ 38

Page 8: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................ 16

2. Revisão Bibliográfica ........................................................................................... 17

2.1. Mapeamento de uso do solo ......................................................................... 17

2.2. Legislação ambiental .................................................................................... 18

3. Atividades desenvolvidas ..................................................................................... 20

3.1. Elaboração de mapas de uso do solo de propriedade rural .......................... 21

3.1.1. Material e Métodos ................................................................................ 21

3.1.2. Resultados observados ......................................................................... 23

3.1.3. Conclusão ............................................................................................. 26

3.2. Perícia Ambiental e Plano de Reparação Ambiental ..................................... 27

3.2.1. Material e Método .................................................................................. 27

3.2.2. Resultados observados ......................................................................... 29

3.2.3. Conclusão ............................................................................................. 39

3.3. Outras atividades acompanhadas na empresa ............................................. 39

4. Conclusão Geral .................................................................................................. 39

5. Avaliação do estágio ............................................................................................ 40

6. Referências bibliográficas .................................................................................... 41

7. ANEXO ................................................................................................................ 44

Page 9: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

1. Introdução

O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de

qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou

degradadora do meio ambiente (IBAMA, 2010), sendo que esta atividade esta

sob responsabilidade, no Rio Grande do Sul, da Fundação Estadual de

Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler. Além das licenças, esse órgão

também é responsável pelo Termo de Ajustamento de Conduta – TAC

(MOURA, 2006). Tanto para a realização do licenciamento, como para a

submissão de um plano de reparação ambiental, é necessário o

georreferenciamento do local. Além deste, muitas vezes é solicitada a análise

do uso e cobertura do solo. Para isso é possível, mediante informações de

Sensoriamento Remoto, efetuar o planejamento e administração da ocupação

ordenada e racional do meio físico, além de possibilitar avaliar e monitorar a

preservação de áreas de vegetação natural. Através da interpretação de

imagens de satélite obtém-se, de forma rápida, um mapa temático atualizado e

preciso das diferentes estruturas espaciais resultantes do processo de

ocupação e uso do solo (RODRIGUES, 2000).

A empresa Jobim Georreferenciamento e Soluções Ambientais, fundada

em dezembro de 2002 no município de São Gabriel, RS, trabalha com a

prestação de serviços nos seguimentos de Topografia, Geoprocessamento,

Licenciamento Ambiental, entre outros, atendendo além do município onde se

localiza, a fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Este trabalho teve como objetivo principal o aprimoramento dos

conhecimentos práticos e técnicos na área de Engenharia Florestal e de outros

cursos correlacionados, os quais ligados ao meio urbano e rural, através do

desenvolvimento de tarefas do cotidiano dentro de empresa privada de

consultoria ambiental.

O presente relatório de estágio mostrará as atividades realizadas

durante o período de estágio curricular na empresa Jobim Planejamentos e

Soluções Ambientais, realizado no período de 08 de setembro a 08 de

novembro de 2011. Nesta oportunidade, foi proporcionada a experiência de

estar em uma empresa de prestação de serviços nas áreas de consultoria

Page 10: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

ambiental e georreferenciamento, onde foi possível acompanhar o processo de

produção de mapas temáticos e elaboração de planos de reparação ambiental.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Mapeamento de uso do solo

O acompanhamento e avaliação dos impactos do uso do solo sobre os

ambientes naturais é de fundamental importância para o planejamento das

áreas afetadas. Sabe-se que a crescente urbanização e o acelerado

crescimento populacional acompanhado pelo desenvolvimento cada vez maior

das técnicas agrícolas leva ao uso acentuado do solo pela agricultura (ALVES,

2007).

É necessário que a atuação do homem no meio ambiente seja planejada

e ações mitigadoras sejam implementadas, portanto é de grande importância a

construção de mapas de uso do solo, dentre outros, através do uso das

imagens de satélite e ferramentas de sensoriamento remoto que portam-se

como fonte de dados espaço temporais permitindo a avaliação da forma como

tem se dado o uso do solo em determinada região. (ALVES, 2007)

O desenvolvimento de um sistema para classificar dados sobre uso da

terra, obtidos a partir da utilização de técnicas de sensoriamento remoto, tem

sido muito discutido. Para essa avaliação, o Sistema de Informação Geográfica

(SIG) é um sistema de informação baseado em software e hardware que

permite capturar, modelar, manipular, recuperar, consultar, analisar e

apresentar dados geograficamente referenciados (AMATA, 2011).

Mapa Temático é a representação de elementos específicos (temas) do espaço

geográfico, como características do solo, da vegetação, aspectos econômicos,

entre outros. Segundo AMATA (2011) o uso do solo nada mais é que a forma

de como o solo está sendo utilizado pelo homem. Portanto, o mapeamento da

propriedade quanto ao uso e ocupação do solo tem por finalidade o

conhecimento detalhado da propriedade com mapeamento de todos os

Page 11: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

elementos existentes, o cruzamento dos elementos existentes com a legislação

ambiental vigente e o conhecimento do potencial de área útil da propriedade

para gestão do seu negócio (PLANGEO, 2011).

De acordo com AMATA (2011), as etapas essenciais para a elaboração

de mapas de utilização da terra são: aquisição de fotografias aéreas e/ou

imagens de satélite; definição da escala do mapa; definição dos elementos que

permitam a identificação do tipo de utilização da terra nas fotografias aéreas

e/ou imagens de satélite e elaboração da classificação em que devem ser

colocados os eventos observados nas fotografias e/ou imagens.

2.2. Legislação ambiental

A competência federal para realizar o licenciamento ambiental cabe ao

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA) conforme a Resolução CONAMA 237/97. No Rio Grande do Sul, esta

atividade está sob a responsabilidade da Secretaria Estadual do Meio

Ambiente (Lei Estadual 11.362, de 29/07/99), sendo realizado pela FEPAM,

podendo estar vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA (Lei

Estadual 9.077, de 04/06/90), com o Departamento Estadual de Florestas e

Áreas Protegidas (DEFAP), com o Departamento de Recursos Hídricos (DRH)

e com a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. O que não significa que

durante o procedimento não haja participação de outros órgãos que também

podem ser considerados “ambientais”, mas não licenciadores do uso dos

recursos ambientais (FEPAM, 2006).

A licença ambiental é meio pelo qual o órgão ambiental competente

estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que

deverão ser obedecidas pelo empreendedor para localizar, instalar, ampliar e

operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais

considerados efetiva ou potencialmente poluidoras (FOGLIATII et al., 2004).

Importante notar que, devido à natureza autorizativa da licença ambiental, essa

possui caráter precário. Exemplo disso é a possibilidade legal de a licença ser

Page 12: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

cassada caso as condições estabelecidas pelo órgão ambiental não sejam

cumpridas (Tribunal de Contas da União, 2007).

As licenças não são exigidas para todo e qualquer empreendimento. A

Lei 6.938/81 determina a necessidade de licenciamento para as atividades

utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva e potencialmente

poluidoras, bem como as capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental (Tribunal de Contas da União, 2007).

Um fator que aumentou o interesse dos empreendedores em verificar a

necessidade de licenciamento foi a possibilidade de incorrer nas penalidades

previstas na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) quando na existência de

atividades não regularizadas (Tribunal de Contas da União, 2007).

Para permitir a regularização de empreendimentos, foi estabelecido pelo

art. 79-A da Lei de Crimes Ambientais (introduzido pela MP 2.163-41, de 23 de

agosto de 2001) o instrumento denominado Termo de Compromisso. É

importante observar que o Termo de Compromisso não tem por finalidade

aceitar o empreendimento irregular. Ao contrário, serve exclusivamente para

permitir que as pessoas responsáveis por empreendimentos irregulares

promovam correções necessárias às suas atividades, mediante o atendimento

das exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes (Tribunal

de Contas da União, 2007).

A perícia ambiental é um meio de prova utilizado em processos judiciais,

sujeito à mesma regulamentação prevista pelo Código do Processo Civil, mas

que irá atender a demandas específicas advindas das questões ambientais,

onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido ou risco de sua ocorrência

(CUNHA & GUERRA, 2010). Essa perícia normalmente ocorre para a

verificação quando na existência de atividades sem o devido licenciamento

ambiental e, acaba, com o indivíduo sendo enquadrado, principalmente, na Lei

dos Crimes Ambientais e caracterizado como “devedor ambiental” (LEITE,

2003).

Quando comprovada a responsabilidade civil por danos ambientais,

cabe àquele causador do prejuízo o dever de reparar o dano integralmente,

como maneira de ressarcir ou compensar a perda sofrida. A base jurídica para

a exigência da reparação do dano encontra-se no art. 225, § 3º da Constituição

Federal de 1988 e nos artigos 4º, inciso VII e 14, §1º, ambos da Lei nº 6.938 de

Page 13: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

1981. Por meio destes dispositivos legais, foi estabelecida a obrigação do

degradador de recuperar e/ou indenizar os prejuízos ambientais causados,

demonstrando que a recomposição do dano deve ser buscada em primeiro

lugar, e somente optar pela indenização quando a reparação não for possível.

Além disso, estes dispositivos estabeleceram a responsabilidade objetiva do

degradador ambiental, ou seja, independentemente de culpa e pelo simples

fato da atividade (LEITE, 2003).

No Brasil, existem os projetos de restauração, denominados planos de

recuperação de áreas degradadas (PRAD), os quais vêm sendo utilizados tanto

na restauração quanto na compensação ambiental. Fora os casos de

mineração, para os demais empreendimentos, o referido dispositivo legal

estipulou um prazo máximo de cento e oitenta dias (após a publicação do

Decreto) para a entrega de plano de recuperação de área degradada ao órgão

ambiental competente. Além disso, é mencionado que o objetivo da

recuperação deve ser o retorno do sítio afetado a uma forma de utilização

(LEITE, 2003).

Por meio da implementação das técnicas de restauração ambiental, pode

ser buscado o restabelecimento da funcionalidade do ambiente que sofreu

alguma forma de degradação, respeitando a sua heterogeneidade. O dano

somente poderá ser considerado como ressarcido integralmente quando a

finalidade assegurada pela norma violada exista novamente, por exemplo,

quando a água volte a ser salubre, o ar volte a ter qualidade, a paisagem não

esteja comprometida, ou o equilíbrio ecológico reapareça (LEITE, 2003).

3. Atividades desenvolvidas

Durante o período de estágio, foi possível acompanhar o trabalho de

profissionais das áreas de georreferenciamento e reparação de áreas

degradadas, de forma a colocar em prática os conhecimentos adquiridos em

sala de aula. A seguir serão descritas as atividades desenvolvidas na empresa

Page 14: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Jobim Georreferenciamentos e Soluções Ambientais, no município de São

Gabriel.

3.1. Elaboração de mapas de uso do solo de propriedade rural

3.1.1. Material e Métodos

Foram confeccionados alguns mapas temáticos para caracterização do

uso e ocupação do solo. Estes mapas descrevem, além do limite da

propriedade, seus cursos d’água e demais recursos hídricos, as estradas,

acessos, assim como, analisa a cobertura florestal, em termos de áreas

florestadas e áreas não florestadas.

O mapa que será descrito foi confeccionado sobre um conjunto de

pontos (coordenadas) coletados para fins de certificação do imóvel rural. Esses

tiveram origem em levantamento utilizando receptores GPS (Sistema de

Posicionamento Global) dos modelos Leica GX1230 e Leica 900CS. Estes

equipamentos atendem as normas de precisão exigidas para o mapeamento

de propriedades rurais para diversas finalidades. Os pontos coletados a campo

são transferidos, via cartão de memória, para o computador, sendo

processados pelo software Leica Geo Office e, então, exportados no formato

de arquivo *.csv para o software TOPO EVN.

Com os pontos inseridos no TOPO EVN, é traçado o perímetro da

propriedade e, com as coordenadas geográficas do perímetro, efetua-se o

download da imagem de alta resolução espacial disponível no software Google

Earth®, abrangendo a propriedade rural a ser mapeada. Como exemplo, foi

mapeada a Fazenda Santa Zélia (FIGURA 1), situada no município de São

Gabriel, RS, entre as coordenadas geográficas 30°37'33,12" e 30°34'37,72" de

latitude sul em relação ao Equador e 54°13'17,38” e 54°9'44,14" de longitude

oeste em relação ao Meridiano de Greenwich.

Page 15: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Para realizar o georreferenciamento da imagem, foi feito uso de pontos

de controle dentro do ambiente do TOPO EVN, passíveis de identificação na

imagem e nos pontos coletados a campo (FIGURA 2).

FIGURA 1 - Visualização da área a ser mapeada através de imagem oriunda do

software Google Earth (2011).

FIGURA 2 – Sobreposição do perímetro na imagem do Google Earth (2011) por meio

do software TOPO EVN.

Através de observação visual, caracterizou-se o uso/ocupação do solo

da área com relação aos seguintes atributos:

Page 16: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

• Estradas internas

• Áreas de lavoura (soja e arroz irrigado)

• Cerca interna

• Área de Preservação Permanente - APP (mato nativo)

• Aguadas (bebedouros para o gado e represas)

A edição vetorial consiste em definir as cores das linhas, pontos e

polígonos, bem como no preenchimento com uso de hachuras utilizadas nos

aplicativos Computer Aided Design (CAD) para caracterizar os atributos

definidos. O software TOPO EVN, por ser uma plataforma CAD, permite a

adequada delimitação dos temas observados por meio da edição vetorial dos

dados, através da ferramenta “polilinha”. Esta por sua vez, permite o correto

fechamento de poligonais necessários para delimitar os temas, calcular suas

respectivas áreas e inserir hachuras. Com isso, utiliza-se dos elementos como

pontos, linhas e áreas (ou polígonos) para definir as classes temáticas.

Após a vetorização, foram inseridas as hachuras correspondentes a

cada uso do solo, seguido do cálculo das áreas de gleba de lavoura, tanto de

arroz irrigado como de soja, das aguadas e da mata nativa. Esse cálculo é

realizado automaticamente pelo software quando a polilinha forma um polígono

fechado.

Por fim, foram inseridas as convenções exigidas pelo Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, demonstradas na FIGURA 3, para

o entendimento do respectivo mapa temático, além da adequação da escala

para posterior impressão do mapa final (ANEXO A).

3.1.2. Resultados observados

O mapeamento de áreas com algum tipo de atividade antrópica tem se

tornado prática obrigatória para diversos processos como certificação,

licenciamento, memoriais descritivos, etc. Com esse objetivo, ferramentas de

geotecnologias, como Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, aliados à

Page 17: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Topografia, com visitas a campo, tornam-se indispensáveis para a precisão de

medições e compreensão do ambiente local.

Esse mapeamento, é muitas vezes solicitado pelo produtor com o intuito

de fazer a certificação ou, como foi acompanhado, para se conhecer a

delimitação das diversas atividades e ocupações dentro da propriedade.

O mapa de uso e ocupação do solo mostra as classes de vegetação,

bem como tipifica o uso do solo, servindo de subsídio para um planejamento

ambiental e territorial ordenado (DIAS et al., 2002). Como mostrado na

FIGURA 3, o mapa tende a ajudar o proprietário no melhor planejamento das

atividades a serem realizadas nas áreas, ocupadas ou não, especialmente

aqueles que se utilizam da rotação de culturas.

FIGURA 3 – Mapa de uso do solo em sua forma final e com as devidas convenções.

Fonte: autor

A expressão “uso da terra” pode ser entendida como a forma pela qual o

espaço está sendo ocupado pelo homem, sendo assim, o uso do mapeamento

e georreferenciamento é uma importante maneira de avaliar a forma se este

espaço está sendo explorado de forma organizada e produtiva conforme cada

região. Portanto, além da delimitação dos temas de interesse, é feita a

quantificação da área ocupada por cada tema.

Page 18: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

A fazenda foi subdividida em diversas áreas a fim de facilitar a

localização, e até o planejamento, sendo possível acompanhar o tamanho

dessas no Quadro 1.

QUADRO 1 - Quadro de áreas da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.

GLEBAS ÁREA (HA) PERÍMETRO (M)

A 271,0238 7111,3 B 59,4495 3814,08 C 145,0000 6766,9 D 100,0000 4619,78 E 103,0237 4265,59 F 162,6125 6303,79 G 542,2603 12286,25 H 323,9267 8986,41

TOTAL 1707,2965 54154,1

Nos quadros 2 e 3 é possível visualizar a extensão de área utilizada

para o plantio de culturas anuais. Esse dimensionamento de cada gleba é

interessante para se calcular um possível rendimento em cima da área

cultivada, assim como realizar um melhor planejamento na hora da colheita,

principalmente quanto à disposição de funcionários e equipamentos. A

quantificação da área utilizada para fins agrícolas também é importante na

solicitação de empréstimos junto aos bancos.

QUADRO 2 - Áreas de soja cultivadas na fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.

GLEBA ÁREA (ha) GLEBA ÁREA (ha) S1 28,0283 S25 2,0532 S2 36,6415 S26 89,6437 S3 7,4491 S27 5,0406 S4 7,9174 S28 6,1098 S5 7,1566 S29 32,4575 S6 13,1978 S30 2,0687 S7 14,0543 S31 7,9006 S8 10,1595 S32 6,8293 S9 2,9263 S33 19,4388

S10 1,2264 S34 6,9669 S11 1,6204 S35 5,533 S12 1,3900 S36 12,0000 S13 11,5489 S37 28,8937 S14 13,8716 S38 41,3468

Page 19: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

S15 5,2175 S39 24,0263 S16 16,3739 S40 5,6066 S17 10,2879 S41 3,1627 S18 2,4456 S42 12,3364 S19 6,5237 S43 3,6911 S20 7,2341 S44 11,8023 S21 21,4958 S45 39,2249 S22 3,7497 S46 39,8614 S23 26,7981 S47 3,9144 S24 8,2702 TOTAL 675,4933

QUADRO 3 – Áreas de arroz irrigado plantado na Fazenda Santa Zélia, São Gabriel, RS.

GLEBA ÁREA (ha) ÁREA (qq) GLEBA ÁREA (ha) ÁREA (qq) A1 5,6026 3,22 A9 12,4270 7,13 A2 1,0264 0,59 A10 1,3595 0,78 A3 2,3752 1,36 A11 13,9407 8,00 A4 1,0339 0,59 A12 15,6994 9,01 A5 12,9501 7,43 A13 5,5330 3,18 A6 2,7650 1,59 A14 5,9105 3,39 A7 5,8373 3,35 A15 12,0339 6,91 A8 9,8121 5,63 TOTAL 108,3066 62,16

Com relação aos recursos hídricos encontrados na fazendo, esses

totalizaram 35,54 hectares, entre açudes, bebedouros e represas espalhados

pela propriedade. Já a mata nativa, que neste caso, engloba a APP e outras

áreas de vegetação nativa perfaz 93,08 ha.

3.1.3. Conclusão

Analisar o uso/ocupação do solo através de informações de maneira

rápida, como em imagens de satélite, é uma forma que permite seu

planejamento e exploração de forma organizada e produtiva, conforme cada

região. Portanto, tendo em vista o trabalho realizado na confecção dos mapas,

é possível afirmar que essa prática auxilia no entendimento de como a

propriedade rural é explorada e nos processos de licenciamento, outorga de

água e averbação da reserva legal.

Page 20: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

3.2. Perícia Ambiental e Plano de Reparação Ambiental

3.2.1. Material e Método

A licença ambiental é um dos instrumentos exigidos para a implantação

de atividades causadoras de impactos ambientais. Trata-se de um instrumento

prévio de controle ambiental para o exercício legal de atividades modificadoras

do meio ambiente, dentre as quais se incluem aquelas listadas em algumas

resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, destacando

as resoluções nº 237, de 19 de dezembro de 1997, e nº 1, de 23 de janeiro de

1986. A primeira dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos

e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. E a segunda, sobre

critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental..

Porém, um grande número de produtores rurais não faz o requerimento

das licenças necessárias para atividades que consideram “simples” ou que já o

fazem a muito tempo. Como exemplo dessas atividades, e que foram

conferidas durante o período de estágio, são queimadas, abertura de valos

para irrigação e corte de árvores nativas.

Como exemplo dessas atividades, ocorrido após a instauração de

processo judicial, foi feita a avaliação, dos documentos disponibilizados pela

empresa, onde ocorreu o corte ilegal de árvores nativas e houve negligência

por parte do acusado, sendo que o mesmo recuperou a área anos após o início

do processo. Com a denúncia do corte, inicialmente instaurou-se inquérito para

averiguar a ocorrência de degradação ambiental, causada pelo corte seletivo

de árvores nativas em APP às margens do rio Ibirocai, no município de São

Gabriel, RS, sem licença ou autorização do órgão ambiental competente,

baseado em informações encaminhadas à polícia ambiental.

Após, foi constatado o corte de 52 árvores de espécies nativas

(FIGURA 4a) na APP às margens do rio. As árvores cortadas eram

transformadas em tramas, palanques e listões (FIGURA 4b) para serem

Page 21: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

utilizados na construção de mangueiras para a atividade campeira da própria

Estância Taleira. Com a constatação, foi lavrado o Boletim de Atendimento, o

Boletim de Ocorrência e o Auto de Infração Florestal.

FIGURA 4 – Fotos adaptadas do Inquérito Civil, onde são mostradas uma árvore

cortada (a) e os palanques (b) (São Gabriel, 2011). FONTE: Empresa

Dispositivos Legais Infringidos:

o Lei Federal nº 9.605, de 12 Fev. 1998, Art. 38 e 39;

Lei dos Crimes Ambientais, onde o Art., 38 cita “Destruir ou danificar

floresta considerada de preservação permanente” e o Art. 39 “Cortar árvores

em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da

autoridade competente”.

o Decreto Federal nº 3.179, de 21 Set. 1999, Art. 25 e 26;

O decreto dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O Art. 25 cita “Destruir ou

danificar floresta considerada de preservação permanente” e o Art. 26, “Cortar

árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão

da autoridade competente”.

Como observação, este decreto foi revogado pelo Decreto nº 6.514, de

2008, o qual “dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas

e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”.

o Lei Estadual nº 9.519, de 21 Jan. 1992, Art. 6º.

a b

Page 22: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Esta lei institui o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul,

contendo o Art. 6º o seguinte texto:

“As florestas nativas e demais formas de vegetação natural de seu

interior são consideradas bens de interesse comum, sendo proibido o

corte e a destruição parcial ou total dessas formações sem

autorização prévia do órgão florestal competente.”

Como agravante, foi enquadrado em dois itens do Art. 15 da Lei dos

Crimes Ambientais: “concorrendo para danos em propriedade alheia” e “no

interior do espaço territorial especialmente protegido”. Como atenuante por

“colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle

ambiental”, foi enquadrado no Art. 14 na mesma lei citada acima.

Como documento comprovante das obrigações que o “devedor

ambiental” terá de realizar a fim de reduzir/recuperar o dano causado, é

celebrado o Termo Compromisso de Ajustamento de Conduta. Neste, está

expresso o tempo que o infrator possui para implantar o projeto de reparação e

a quantidade mínima de mudas a serem plantadas no local, que são,

respectivamente, de um ano e 260 mudas de igual espécie das que foram

cortadas, ou quaisquer outras espécies nativas aprovadas pelo órgão

ambiental competente.

3.2.2. Resultados observados

3.2.2.1. Planos de Reparação Ambiental

A empresa forneceu diversos planos de reparação ambiental para o

estagiário, sendo possível identificar as situações mais corriqueiras de danos,

assim como acompanhar a implantação e acompanhamento do plano de

reparação.

Após a notificação do infrator, o responsável técnico faz a avaliação do

local, que consiste basicamente em observações visuais e o registro por

Page 23: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

fotografias. Como infrações mais corriqueiras, destacaram-se o plantio de

culturas anuais (por exemplo, o arroz) em região de mata ciliar, desrespeito, ou

até mesmo, inexistência de Área de Preservação Permanente (APP), corte/

desmatamento de árvores/vegetação nativa e falta de licença de operação

como irrigante (abertura de valos para irrigação) junto a Fundação Estadual de

Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler, RS - FEPAM. Estas ocorrem

principalmente por negligência ou pela desinformação dos indivíduos.

Porém, houve casos em que o solicitante fora advertido apenas para

realizar a simples adequação de manutenção das áreas de APP, pois esta era

insuficiente ou não estava cercada quando da presença de atividade pecuária

no local.

Como forma de reparação aquelas áreas em que houve desmatamento,

ou a simples retirada de um número pequeno de árvores nativas, foi

determinado, nos casos avaliados, o plantio de 20 a 500 mudas de espécies

nativas ocorrentes no local, como forma de compensação, mas principalmente,

como forma de reposição. No caso de abertura de valos destinados à irrigação,

mas que não poderiam ser utilizados, foi determinado o seu fechamento ou que

fosse implantada uma vegetação a fim de evitar a ação dos processos

erosivos.

Porém, houve casos em que, mesmo se determinando a revegetação do

local, devido a fatores, como enchentes e/ou morte das mudas plantadas,

ocorrentes nos quatro anos (que abrangeram da implantação à manutenção

das práticas de reparação) foi-se determinado que a compensação fosse

financeira. Em outros casos, quando constatado que a regeneração natural era

significativa, determinou-se apenas o monitoramento daquela área. Em todos

os casos, quando da existência de animais na área, além da reparação, era

necessário realizar o cercamento do local.

Como exemplo de acompanhamento de um plano de reparação, cita-se

um Plano de Reparação Ambiental (que ainda não foi implantado), com

objetivo de atender o terceiro parágrafo do termo de ajustamento e conduta,

mencionado acima, firmado entre a promotoria e o devedor ambiental. Os itens

citados abaixo são os mesmos constantes nos planos avaliados, podendo

haver diferença conforme o profissional técnico responsável pela formulação do

mesmo.

Page 24: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Identificação, Avaliação e Quantificação da área objeto do plano:

• Identificação: visa atender a reparação da mata ciliar do rio

onde ocorreu corte sem autorização de 52 árvores de espécies nativas.

• Avaliação do dano: o corte das árvores não foi raso e sim

aleatório (FIGURA 5), o que facilitará a implantação das mudas para

reparação inicial da área, onde mudas implantadas juntamente com as

emergidas formam um dossel abundante.

FIGURA 5 - Corte das árvores nativas e a consequente formação de clareiras. São

Gabriel, 2011. FONTE: Empresa

• Reparação natural da área: nessas áreas, como mostra a

imagem de satélite (FIGURA 6), a vegetação ciliar do arroio é

abundante, não trazendo riscos de assoreamento.

FIGURA 6 – Local onde haverá a reposição das árvores nativas cortadas. São Gabriel,

2011. Google Earth.

Page 25: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

• Área do projeto: a área será de dois hectares, localizada

dentro da área onde ocorreu o dano.

Descrição técnica de conservação

• Isolamento de área: como a propriedade trabalha com

bovinocultura, será necessário o isolamento da área, o que facilitará o

desenvolvimento das espécies nativas do local.

• Época de plantio: deverá ser realizado nos meses

chuvosos, ou seja, maio a setembro.

• Adubação: serão usados 200 Kg/ha ou 180 g/cova da

formulação 05.25.25.

• Espaçamento e distribuição das mudas: dentro da área em

reparação serão formados blocos de implantação entre blocos de

revegetação natural. Nesses blocos, a vegetação será distribuída a cada

5 m na linha e entrelinha (FIGURA 7).

• Plantio e manejo das espécies da flora: objetivando

recuperar as margens do rio, serão utilizadas espécies vegetais

pioneiras, secundárias e clímax, na proporção de 40%, 34% e 26%,

respectivamente (FIGURA 7). O plantio deve ser heterogêneo,

combinando várias espécies de diferentes grupos sucessionais e não

plantar mais de 10% da mesma espécie.

Page 26: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

FIGURA 7 – Disposição das mudas a serem plantadas. FONTE: Empresa

QUADRO 4 – Espécies a serem introduzidas com a execução do plano

de reparação. Nome

comum Nome. Cientifico G. E. C. UM. Nº

P. Salso Salix humboldtiana Willd. Pioneira Higrófitas 26

Corticeira Erythrina crista-galli L. Pioneira Higrófitas 26 Pitangueira Eugenia uniflora L. Pioneira Mesófilas 26

Branquilho Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs. Pioneira Higrófitas 26

Subtotal 104 Angico Parapiptadenia rigida Benth. Secundária Mesófilas 26 Açoita-cavalo

Luehea divaricata Mart. Secundária Mesófilas 21

Cerejeira Eugenia involucrata DC. ( Secundária Mesófilas 21 Guajuvira Patagonula americana L. Secundária Mesófilas 21 Subtotal 88 Cambota Matayba elaeagnoides Radlk. Clímax Mesófilas 21 Sarandi-

mata- ollho

Pouteria salicifolia Spreng. Clímax Higrófitas 26

Tarumã Vitex megapotamica Spreng. Clímax Mesófilas 21 Subtotal 68

Total geral 260 G. E. – grupo ecológico; C. UM. – condição de umidade; Nº P. – número de plantas. Fonte: Flora Digital RS (2011); Tropicos (2011)

• Quantificação do número de mudas: como na área já

ocorreu uma implantação de mudas após a ocorrência da autuação, sem

comunicação ao órgão competente, serão implantadas as 260 mudas,

que irão enriquecer o dossel já estabelecido. O plantio será executado

no primeiro ano, e para os três próximos anos do plantio, uma avaliação

Page 27: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

da necessidade de reintrodução de espécies vegetais para compor a

reparação da mata ciliar será feita.

• Estaqueamento das mudas: as mudas serão tutoradas com

estacas de taquara (abundante na região).

• Definição das metas e prazos: o plano tem previsão de

quatro (04) anos para a completa execução (Quadro 5).

Quadro 5 - Cronograma de execução.

J F M A M J J A S O N D 1º ANO

Preparo das covas X Adubação X

Plantio de mudas X Controle de formigas X X X X X X

2º, 3º e 4º ANOS Avaliação da sobrevivência das mudas X X

Replantio X X Monitoramento de formigas X X X X X X X X X X

• Determinação de parâmetros do cronograma de

monitoramento: para a eficiência da restauração ambiental deverá ser

estabelecido um cronograma de monitoramento nos meses de abril e

maio para os próximos quatro anos seguintes, onde será realizada uma

avaliação das necessidades de preservação permanente estar completa

de acordo com o estabelecimento pelas normas que as regulam.

Em anexo a este plano o órgão ambiental solicita:

• Cópia do boletim de ocorrência ambiental;

• Cópia do boletim de atendimento;

• Cópia do auto de infração;

• Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do

profissional habilitado.

Page 28: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

3.2.2.1. Laudo de medidas executadas

Além do Plano de Reparação Ambiental, em função de alguma

degradação ou de uma atividade sem a autorização do órgão ambiental

responsável, há, ainda, a necessidade de acompanhamento das práticas

implantadas pelo plano. Normalmente, é feito pelo mesmo técnico responsável

pela implantação do projeto de reparação. O órgão ambiental solicita uma

avalição anual das práticas implantadas, com interesse de avaliar se essas

foram suficientes nos primeiros anos, ou se deverá se estender durante os

quatro anos (período máximo de acompanhamento e reparação da área).

Dentre as situações acompanhadas de maior reincidência, estão: a

abertura de valos para irrigação, tanto de arroz como de outras culturas, sem a

licença de operação e a supressão de mata nativa e/ou APP para fins

agrosilvipastoris. Porém, as duas situações citadas acima ocorrem, muitas

vezes, de maneira concomitante, como na Figura 8 ( Avaliar o cumprimento da

implantação do Plano de Reparação Ambiental encaminhado ao Departamento

e Áreas Protegidas – DEFAP e avaliação da necessidade de plantio de mudas

nativas.

FIGURA 8 – Arroio para retirada de água (esquerda) e área sem cultivo (direita) devido

a falta de licença para irrigação, São Gabriel, 2008. FONTE: Empresa

Na Figura 8 pode-se observar uma propriedade de uso agrícola que,

devido à falta de Licença de Operação como irrigante junto a FEPAM, não

podia fazer uso da várzea. Além disso, houve corte de vegetação nativa a fim

Page 29: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

de aumentar a área de cultivo, o que acarretou em um Plano de Reparação

Ambiental. Devido a pouca influência do corte de árvores sobre a mata ciliar

previram-se vistorias para os próximos anos para avaliar a necessidade de

implantação ou não de espécies arbóreas nativas, sendo constatado em

vistoria inicial que a mata ciliar estava preservada e maneira abundante, não

trazendo riscos ao ambiente. Portanto, a mesma não necessita de plantio de

espécies nativas. Portanto, o Laudo de Medidas Executadas não visa apenas

avaliar o cumprimento da implantação de um Plano de Reparação Ambiental

que foi encaminhado ao Departamento e Áreas Protegidas – DEFAP, mas

também averiguar se há necessidade de plantio de mudas nativas quando da

existência de revegetação natural.

Segue abaixo, os itens constantes em um Laudo de Medidas

Executadas, o que mais uma vez, pode variar de acordo com o profissional

técnico.

Objetivo: avaliar o cumprimento da implantação do Plano de Reparação

Ambiental encaminhado ao Departamento e Áreas Protegidas - DEFAP.

Localização: Granja da Esperança – Distrito de Catuçaba - Município e

Comarca de São Gabriel, no Estado do Rio Grande do Sul.

Metodologia: Vistoria ao local.

Medidas executadas: o termo de Compromisso Ambiental firmado entre

o devedor e a Secretaria do Meio Ambiente tem por principais itens a serem

observados, os seguintes:

1. Plantio de mudas - Em 2008 foram plantadas 120 mudas

de diversas espécies nativas

2. Áreas de Preservação Permanente – As áreas mantidas

cercadas e sem uso por ocasião da implantação do Plano de Reparação

Ambiental estão preservadas, apresentando abundante material de porte

rasteiro.

Page 30: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

Medidas a serem executadas

Replantio - Deverá ser realizado o replantio de 90 mudas para

adequação ao Termo de compromisso Ambiental. As FIGURAS 9a e 9b

mostram, respectivamente, uma das mudas mortas pela estiagem e uma

replantada. A FIGURA 9c demonstra o avanço do Rio sobre a barranca,

resultado de constantes enchentes e pelo fato da área objeto estar em

uma curva acentuada.

Ação do Rio Vacacaí sobre a Barranca – O avanço observado é

visível, mas não permanente e chegará o momento que a trajetória do

Rio minimizará o dano a sua margem e permitirá a reparação da área

em questão. Devemos observar que o local de implantação das mudas é

plano e próximo a barranca do Rio Vacacaí, que pelas suas

características sofre constantes ações de enchentes e estiagens

prolongadas, como foi a ocorrida em 2009.

Espécie adaptada – Observou-se que no local a espécie nativa

Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger (espinilho) tem grande

adaptação e é nativa do local, podendo servir como espécie pioneira

para a reparação da área.

O proprietário (responsável técnico por este laudo) sugeriu que o

Departamento de Florestas e Áreas Protegidas – DEFAP manifestasse

sua opinião, quanto ao transplante de mudas de espinilho nos meses de

maio-junho para realizar a cobertura da área.

Anexos:

• Fotos com visão geral das mudas, avanço do Rio Vacacaí

e da APP (FIGURA 9);

• Anotação de Responsabilidade Técnica.

Page 31: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

FIGURA 9 – a. morte das mudas em decorrência do aumento do nível do rio; b replantio

de mudas; c. avanço do Rio Vacacaí e d. isolamento da área. São Gabriel, RS. FONTE: Empresa

Portanto, o Laudo de Medidas Executadas, é um documento emitido ao

órgão ambiental, sobre o estado em que se encontra o local e até que ponto o

plano de reparação está contribuindo para a melhoria do local. Além de

demonstrar como se encontra a área, muitas vezes traz recomendações não

apenas para o produtor ou devedor ambiental, mas também para o próprio

órgão ambiental. Como exemplo, para o primeiro é mostrada a quantidade de

mudas necessárias para o replantio, assim como os tratos culturais; para o

segundo, é realizado um diagnóstico a respeito das condições do local,

mostrando os avanços da reparação com a implantação do plano,

recomendando apenas o isolamento para o reestabelecimento via regeneração

natural ou, em alguns casos, comprovando que não existem condições de se

realizar uma revegetação, seja por secas ou inundações frequentes, seja por

outro motivo ambiental.

a b

d c

Page 32: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

3.2.3. Conclusão

Através do acompanhamento dos planos de reparação solicitados pelos

produtores ou devedores ambientais, foi possível observar que são poucos os

casos de grande degradação, sendo estes, muita vezes, apenas o corte de

vegetação nativa ou de outra atividade que necessite de licenciamento

ambiental, sendo este, na maioria das vezes, ignorado.

3.3. Outras atividades acompanhadas na empresa

Foi possível vivenciar o cotidiano da empresa nos seguintes aspectos:

• Interação com clientes;

• Contato com órgãos ambientais;

• Relação entre serviços e valores cobrados;

• Importância do conhecimento técnico; independentemente se

teórico ou prático.

4. Conclusão Geral

Durante o período de estágio na empresa Jobim Georreferenciamentos

e Soluções Ambientais foi possível acompanhar a dinâmica de uma empresa

de consultoria, com sua respectiva rotina e trabalhos executados. Por esta

empresa realizar serviços de georreferenciamento, certificação, licenciamento,

memoriais descritivos, entre outros serviços, no município de São Gabriel, RS e

em municípios vizinhos, apresentou-se uma grande variedade de serviços

pedidos por diversos produtores rurais.

Por fim, dentre as atividades acompanhadas, a elaboração mapas

temáticos e plano de reparação, mesmo tendo sido abordados em separado no

presente relatório, são utilizados de maneira conjunta quando solicitados por

Page 33: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

órgãos como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz

Roessler – RS e o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas- RS..

5. Avaliação do estágio

O estágio realizado na empresa Jobim Georreferenciamentos e

Soluções Ambientais possibilitou o aperfeiçoamento de alguns conhecimentos

adquiridos durante a graduação em Engenharia Florestal, enfatizando a

elaboração de mapas temáticos em plataforma CAD e a avaliação e

elaboração de planos de reparação ambiental. Com isso, o estágio nessa

empresa é aconselhável aqueles colegas que possuem interesse,

principalmente, na área de georreferenciamento.

No que tange a orientação do estágio, o auxílio prestado pelos

professores mostrou-se de grande importância, com esclarecimentos da parte

técnica utilizada pela empresa, e na orientação final para a elaboração do

relatório. Como recomendação à Universidade Federal do Pampa – Campus

São Gabriel, visto que ainda possui poucas opções de empresas conveniadas

para estágio, curriculares ou não, direcionados ao curso de Engenharia

Florestal, seria uma maior aproximação das empresas do setor florestal.

Por fim, como principais lições a serem usufruídas nas vidas pessoal e

profissional, seriam a relação intrapessoal e adaptação ao ambiente

empresarial.

Page 34: acompanhamento de atividades de reparação ambiental e

6. Referências bibliográficas

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Ribeirão Santa Juliana no Triângulo Mineiro – MG. Anais XIII Simpósio

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13 dez. 2011.

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especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio

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penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio

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Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Disponível em: <http://www.tropicos.

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7. ANEXO A – Mapa de uso do solo da Fazenda Santa Zélia, São Gabriel,

RS.