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Ações Prioritárias 2ª Edição

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Aes Prioritrias

2 Edio

COMISSO DE POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL

Criada por decreto presidencial em 26/02/1997 e revogada pelo decreto presidencial de 03/02/2004

MINISTRIO DO MEIO AMBIENTESOCIEDADE CIVIL

Jos Carlos Carvalho Ministro do Meio Ambiente (Presidente da CPDS)

Regina Elena Crespo Gualda SuplenteRubens Harry Born Vitae Civilis Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz - Frum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

Muriel Saragoussi Suplente

Joo Luiz da Silva Ferreira Coordenador-Executivo da Fundao Movimento Onda Azul

Guilherme Fiza Suplente

Fernando Almeida Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel

Beatriz de Bulhes Mossri Suplente

Gustavo Alberto Bouchardet da Fonseca Departamento de Zoologia da UFMG

Roberto Brando Cavalcanti Suplente

Aspsia Camargo Fundao Getlio Vargas

MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, ORAMENTO E GESTO

Jos Paulo Silveira Secretrio de Planejamento e Investimentos Estratgicos

Ariel Garces Pares Suplente

MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES

Everton Vieira Vargas Diretor-Geral do Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais

Luiz Alberto Figueiredo Machado Suplente

MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

Carlos Amrico Pacheco Secretrio-Executivo

Luiz Carlos Joels Suplente

PRESIDNCIA DA REPBLICA

Eduardo Piragibe Graeff Assessor-Chefe da Assessoria Especial do Gabinete do Presidente da Repblica

Cludia de Borba Maciel Suplente

EX-MEMBROS DA CPDS (1997-2001)

Alexandrina Sobreira

Antnio Jos Guerreiro

Archimedes de Castro Faria Filho

Edmundo Sussumu Fujita

Flix de Bulhes

Ione Egler

Ktia Drager Maia

Laudo Bernardes - Presidente

Lindolpho de Carvalho Dias

Luis Felipe de Seixas Corra

Paulo Rogrio Gonalves

Roberto Cavalcanti de Albuquerque

Sebastio do Rego Barros Neto

Srgio Moreira - Presidente

Vilmar Evangelista Faria (in memoriam)

SECRETARIA-EXECUTIVA/2002

Maria do Carmo de Lima Bezerra

Marcia Maria Facchina

Luiz Dario Gutierrez

ISBN: 85-87166-42-5

Impresso no Brasil

Agenda 21 brasileira : aes prioritrias / Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da

Agenda 21 Nacional. 2. ed. Braslia : Ministrio do Meio Ambiente, 2004.

158 p. ; 21 cm.

1. Agenda 21. 2. Agenda 21 Brasileira. 3. Desenvolvimento Sustentvel. 4.

Planejamento Participativo. 5. Meio Ambiente. 6. Poltica de Meio Ambiente. I. Brasil.

Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional.

CDU 502.3(81)

COMISSO DE POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E DA AGENDA 21 BRASILEIRA

Criada por decreto presidencial em 03/02/2004

MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE - PresidnciaSOCIEDADE CIVIL

Entidade representativa da juventude

MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, ORAMENTOUnio Nacional dos Estudantes

E GESTO - Vice-presidncia

Organizao de direitos humanos

CASA CIVIL DA PRESIDNCIA DA REPBLICAOrganizao no-governamental Terra de

Direitos

MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

Comunidades indgenas

MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORESCOIAB

MINISTRIO DAS CIDADESComunidades tradicionais

Associao Comunitria So Jorge Miguel

MINISTRIO DA EDUCAORestinga Seca

MINISTRIO DA FAZENDAOrganizao de direitos do consumidor

Associao Cidade Verde/RO

MINISTRIO DA CULTURA

Conselho Empresarial Brasileiro para o

MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGODesenvolvimento Sustentvel CEBDS

MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRRIOFrum de Reforma Urbana

COHRE Amricas

MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E

ABASTECIMENTOEntidades empresariais

Confederao da Agricultura e Pecuria do

MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONALBrasil - CNA

Confederao Nacional da Indstria - CNI

MINISTRIO DA SADE

Organizaes da comunidade cientfica

MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDSTRIAAcademia Brasileira de Cincias

E COMRCIO EXTERIORSociedade Brasileira para o Progresso da Cincia - SBPC

ASSOCIAO NACIONAL DE MUNICPIOS E MEIOFrum Brasileiro de ONGs e Movimentos

AMBIENTE - ANAMMASociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

Vitae Civilis

ASSOCIAO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DEProjeto Sade e Alegria

MEIO AMBIENTE - ABEMAInstituto Terra Azul

Centrais sindicais

Confederao Geral dos Trabalhadores-CGT

Central nica dos Trabalhadores - CUT

Central Fora Sindical

SECRETARIA-EXECUTIVA

Equipe da Agenda 21

Pedro Ivo de Souza Batista - Coordenador

Antonio Carlo Brando, Ary da Silva Martini, Karla Matos, Kelly Anne Campos Aranha, Leonardo Cabral, Luciana Chuke Pureza, Luis Dario Gutierrez, Marcia Facchina, Michelle Silva Milhomem, Patricia Kranz, Raquel Monti Henkin.

Apresentao

Nesta segunda edio do documento Agenda 21 Brasileira - Aes Prioritrias reafirmamos o compromisso assumido pelo pas na Rio 92 e referendado na Conferncia de Joanesburgo em2002.

Acreditamos que a Agenda 21 um forte instrumento que permite definir e implementar polticas pblicas com base em um planejamento participativo voltado para as prioridades do desenvolvimento sustentvel.

Integrao e participao so palavras-chave na Agenda 21 sem as quais nos perdemos na retrica, nas intenes. No caso da Agenda 21 Brasileira sabemos que implement-la um desafio que implica uma srie de mudanas nos padres vigentes e nos hbitos culturais arraigados nos diferentes setores de nossa sociedade.

Entendemos que a implementao da Agenda 21 Brasileira pressupe vontade e determinao poltica e uma nova concepo do poder, que passa a ser entendido como um patrimnio da sociedade. Nesse sentido, estamos colocando em prtica, diferentes aes que visam contribuir para avanarmos no caminho da sustentabilidade.

Inicialmente a Agenda 21 passou de ao a programa no Plano Plurianual de Governo, PPA 2004-2007, uma vez que seu escopo envolve problemas estruturais amplos, que demandam maior consenso, e solues integradas, de mdio e longo prazos. Questes estratgicas como a economia da poupana na sociedade do conhecimento; incluso social para uma sociedade solidria; estratgia para a sustentabilidade urbana e rural; recursos naturais estratgicos e governana e tica para a promoo da sustentabilidade s podero ser tratadas a partir de responsabilidades efetivas e compartilhadas entre governo e sociedade. O Programa Agenda 21 no PPA 2004-2007 est estruturado em trs aes: implementar a Agenda 21 Brasileira, promover a elaborao e implementao de Agendas 21 Locais e formao continuada em Agenda 21.

A viabilizao dessas aes continuar a contar, como na fase de elaborao da Agenda 21 Brasileira, com a Comisso de Polticas para o Desenvolvimento Sustentvel e Agenda 21 Nacional - CPDS. Para garantir a transversalidade e integrao das aes foi necessrio reestruturar e subsidiar a atuao tcnica e administrativa da CPDS, de forma a assegurar a construo de consensos e acordos sobre as estratgias que a Agenda prope. essencial ainda privilegiar os programas prioritrios do atual governo, definir a periodicidade e os procedimentos necessrios atualizao e revalidao da consulta feita sociedade brasileira e adequar as propostas de polticas pblicas de acordo aos novos arranjos polticos, econmicos, sociais e ambientais do pas, como orientam o Programa de Governo e as atuais diretrizes do Ministrio do Meio Ambiente: transversalidade de aes na poltica ambiental, desenvolvimento sustentvel, participao e controle social e fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Assim, a nova composio da CPDS foi publicada por decreto presidencial em fevereiro ltimo, mantendo a paridade entre governo e sociedade civil, que passa a contar com 34 membros e, portanto, com ampla parceria necessria a implementao das trs aes definidas no PPA. ACPDS presidida pelo Ministrio do Meio Ambiente, que tambm exerce a secretaria-executiva da Comisso, enquanto que o Ministrio do Planejamento assume a vice-presidncia.

Durante a Semana do Meio Ambiente de 2004 a nova CPDS tomar posse, o que dar nova dinmica e legitimidade aos trabalhos da Coordenao da Agenda 21 do MMA e, conseqentemente, novo impulso aos processos de implementao da Agenda 21 Brasileira e de apoio construo e implementao de Agendas 21 locais.

Marina Silva

Ministra do Meio Ambiente

Presidente da CPDSSumrio

Lista de siglasi

Introduo12

1 - O desenvolvimento e a sustentabilidade ampliada e progressiva17

2 - Contexto internacional e o cenrio atual do pas27

3 - Plataforma das 21 aes prioritrias33

A economia da poupana na sociedade do conhecimento33

Objetivo 1

Produo e consumo sustentveis contra a cultura do desperdcio33

Objetivo 2

Ecoeficincia e responsabilidade social das empresas34

Objetivo 3

Retomada do planejamento estratgico, infra-estrutura e integrao regional36

Objetivo 4

Energia renovvel e a biomassa39

Objetivo 5

Informao e conhecimento para o desenvolvimento sustentvel40

Incluso social para uma sociedade solidria43

Objetivo 6

Educao permanente para o trabalho e a vida43

Objetivo 7

Promover a sade e evitar a doena, democratizando o SUS46

Objetivo 8

Incluso social e distribuio de renda48

Objetivo 9

Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a sade51

Estratgia para a sustentabilidade urbana e rural53

Objetivo 10

Gesto do espao urbano e a autoridade metropolitana53

Objetivo 11

Desenvolvimento sustentvel do Brasil rural55

Objetivo 12

Promoo da agricultura sustentvel57

Objetivo 13

Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentvel62

Objetivo 14

Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentvel63

Recursos naturais estratgicos: gua, biodiversidade e florestas66

Objetivo 15

Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da gua nas bacias hidrogrficas66

Objetivo 16

Poltica florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade68

Governana e tica para a promoo da sustentabilidade73

Objetivo 17

Descentralizao e o pacto federativo: parcerias, consrcios e o poder local73

Objetivo 18

Modernizao do Estado: gesto ambiental e instrumentos econmicos76

Objetivo 19

Relaes internacionais e governana global para o desenvolvimento sustentvel77

Objetivo 20

Cultura cvica e novas identidades na sociedade da comunicao80

Objetivo 21

Pedagogia da sustentabilidade: tica e solidariedade84

4 - Meios de implementao: mecanismos institucionais e instrumentos86

5 - Conflitos de interesses e o desenvolvimento sustentvel110

6 - Do Rio a Joanesburgo: os avanos da ltima dcada no Brasil116

7- Um novo pacto social: a concretizao da Agenda 21125

Lista de siglas

ADA: Agncia de Desenvolvimento da Amaznia

ADENE: Agncia de Desenvolvimento do Nordeste

ADECO: Agncia de Desenvolvimento do Centro-Oeste

ANATEL: Agncia Nacional de Telecomunicaes

ANEEL: Agncia Nacional de Energia Eltrica

ANA: Agncia Nacional de guas

ANP: Agncia Nacional do Petrleo

APA: reas de Proteo Ambiental

BB: Banco do Brasil

BAP: Bacia do Alto Paraguai

BASA: Banco da Amaznia

BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD: Banco Internacional de Reconstruo e Desenvolvimento

BNB: Banco do Nordeste

BNDS: Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico

BRDES: Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul

CADIN: Cadastro Informativo de Crditos no-Quitados

CAP: Conselho de Administrao Porturia

CEF: Caixa Econmica Federal

CDB: Conveno sobre Diversidade Biolgica

CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPDS: Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional

CNDRS: Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel

C&T: Cincia e Tecnologia

CUT: Central nica de Trabalhadores

CONTAG: Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

CNUMAD: Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

DLIS: Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

FINAM: Fundos de Investimento da Amaznia

FINOR: Fundos de Investimento do Nordeste

FIEMG: Fundo de Investimento do Estado de Minas Gerais

FUNRES: Fundo para Recuperao Econmica do Estado de Esprito Santo

FCO: Fundo de Desenvolvimento Regional do Centro-Oeste

FNE: Fundo de Desenvolvimento Regional do Nordeste

FNO: Fundo de Desenvolvimento Regional do Norte

FMI: Fundo Monetrio Internacional

GEF: Global Environmental Facility

IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

ICMS: Imposto Sobre Circulao de Mercadorias

IDH: ndices de Desenvolvimento Humano

INPE: Instituto de Pesquisas Espaciais

IPEA: Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas

ISER: Instituto Superior de Estudos da Religio

IR: Imposto de Renda

INCRA: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IRPJ: Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurdicas

IUCN: Unio Mundial para a Natureza

LDO: Lei de Diretrizes Oramentrias

MMA: Ministrio do Meio Ambiente

NAFTA: Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte

MERCOSUL: Mercado Comum do Cone Sul

ONG: Organizao No Governamental

OGMO: rgo Gestor de Mo de Obra

OSCIP: Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

OCDE: Organizao de Cooperao para o Desenvolvimento Econmico

OMC: Organizao Mundial do Comrcio

OGM: Organismo Geneticamente Modificado

PDA: Plano de Desenvolvimento dos Assentamentos

PPA: Plano Plurianual

PND: Plano Nacional de Desenvolvimento

PIB: Produto Interno Bruto

PRONAF: Programa Nacional de Agricultura Familiar

PRONEA: Programa Nacional de Educao Ambiental

PNEA: Poltica Nacional de Educao Ambiental

PR-LCOOL: Programa Nacional do lcool

PIB: Produto Interno Bruto

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar

PNUD: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

SNRH: Sistema Nacional de Recursos Hdricos

SEBRAE: Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

SESI: Servio Social da Indstria

SENAI: Servio Nacional de Apoio a Indstria

SENAC: Servio Nacional de Apoio ao Comrcio

SESC: Servio Social do Comrcio

SEICT: Sistema Nacional de Informao em Cincia e Tecnologia

SLA: Sistema de Licenciamento Ambiental

SNUC: Sistema Nacional de Unidades de Conservao

SPL: Sistemas Produtivos Locais

SUS: Sistema nico de Sade

TCA: Tratado de Cooperao Amaznica

UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais

Introduo

Democracia participativa e as lies aprendidas

O avano das prticas democrticas no Brasil, que teve como ponto de partida a Constituio Federal de 1988, tem estimulado diferentes formas de participao nas polticas pblicas dos segmentos organizados da sociedade civil.

O planejamento governamental deve ser um processo de negociao permanente entre o Estado e as instituies da sociedade. Observa-se que muitas instituies dos trs nveis de governo esto transformando seu modelo de atuao com o objetivo de mobilizar os recursos latentes das comunidades locais e regionais, para incorpor-los na formulao e na execuo de programas e projetos de desenvolvimento.

Negociar assumir as diferenas e reconhecer nos conflitos de interesse a essncia da experincia e dos compromissos democrticos. As lutas, os conflitos e as dissidncias so formas pelas quais a liberdade se converte em liberdades pblicas, concretas. Desse modo, o compromisso democrtico impe a todas as etapas do processo de planejamento o fortalecimento de estruturas participativas e a negao de procedimentos autoritrios, que inibem a criatividade e o esprito crtico.

Entretanto, a democracia participativa, mesmo sendo um grande avano na legitimao do processo de tomada de deciso do setor pblico, no pode nem deve ser considerada substituta da democracia representativa que precisa ser fortalecida e instrumentalizada. Em ltima instncia, na prpria democracia representativa que os segmentos no organizados da sociedade civil encontram espao de interlocuo e de expresso. no Congresso Nacional que so votadas as leis do pas, decisivas para a implementao do desenvolvimento sustentvel.

No h a menor dvida de que o processo de elaborao da Agenda 21 Brasileira a mais ampla experincia de planejamento participativo desenvolvida no pas no perodo posterior Constituio Federal de 1988, embora haja o registro de encontros de grande consulta e participao, entre os quais destacam-se: Relatrio Rio-92, Projeto ridas, Agenda Positiva da Amaznia e Conferncia Nacional de Cincia e Tecnologia.

O significado dessa experincia se revela pela abrangncia do pblico-alvo (de pequenas comunidades rurais s organizaes empresariais mais expressivas na formao do PIB brasileiro), pela amplitude geogrfica (localidades, estados, micro e macrorregies) e pela abertura temtica favorecida pelo conceito de sustentabilidade ampliada e progressiva.

Os resultados dessa experincia de planejamento participativo so relevantes, tanto em termos da mobilizao dos grupos sociais que sero afetados pelas polticas de desenvolvimento sustentvel, quanto em termos do volume de informaes coletadas, processadas, analisadas e avaliadas na construo da Agenda 21 Brasileira. Essas informaes sero essenciais para a formulao de processos de planejamento em diferentes nveis setoriais e espaciais.

Um processo de planejamento participativo com o porte do realizado durante a construo da Agenda 21, que continuar na fase seguinte, da implementao das aes, no pode limitar-se consolidao de um documento sem conseqncias prticas para as polticas, programas e projetos de desenvolvimento sustentvel indispensveis promoo das mudanas demandadas pela sociedade brasileira.

Concluda to valiosa experincia, merecem destaque algumas lies positivas para futuras experincias de planejamento no pas, tanto no que se refere eficcia operacional como pedagogia social:

o processo organizado, sistematizado e recorrente de participao nas decises ser o meio de evitar que os programas e projetos se transformem em exerccio de voluntarismo tecnocrtico, ou em mobilizao de esperanas desencontradas e dispersas quanto aos objetivos de mdio e longo prazo, ou, at mesmo, em diretrizes isoladas de governo de uma nica gesto administrativa;

a pedagogia social da participao leva setores da comunidade, tcnicos e lderes empresariais a se mobilizar para a execuo de programas e projetos de desenvolvimento sustentvel, o que atrai novas vontades, interesses e capitais intangveis, todos indispensveis aos processos de mudana. Como conseqncia prtica, so definidas as solues mais prximas da realidade e dos meios que as organizaes e as comunidades dispem;

os inevitveis conflitos dos programas e projetos, em torno de cada tema ou regio, no sero obstculos intransponveis ao avano de solues adequadas; ao contrrio, por meio da ao dialgica, da discusso e do debate, da negociao e da barganha, dos pactos e das coalizes, ser possvel garantir a canalizao positiva desses conflitos de interesses na direo de solues criativas e equnimes;

as diferentes comunidades tendem a se envolver no processo de concepo e de implementao de cada programa ou projeto de desenvolvimento sustentvel de forma diferente, em funo de suas caractersticas econmicas, sociais e culturais. importante observar como se comportam no processo de participao, o que nem sempre ocorre de forma espontnea. s vezes torna-se necessrio induzir o processo naquelas situaes onde as comunidades no dispem de recursos de mobilizao (especialmente sobre seus direitos de cidado) e de familiaridade com modelos de ao coletiva organizada, sem que se comprometa a autonomia poltico-institucional dessas comunidades;

as polticas de desenvolvimento sustentvel, promotoras do bem-estar social so o caminho que os trs nveis de governo devem utilizar para o reencontro e a articulao com os segmentos da sociedade civil nos seus processos de planejamento e de tomada de deciso; esses programas e projetos tm elevado contedo redistributivo e passam a ter especial importncia no contexto socioeconmico do pas, quando se tenta atenuar o elevado grau de desigualdades sociais e de desequilbrios regionais que podero atingir situao politicamente intolervel.

Definio de prioridades e gesto de conflitos

A Agenda 21 Brasileira no est estruturada apenas como um conjunto hierarquizado e interdependente de recomendaes gerais, camuflando as tenses e os conflitos econmicos e poltico-institucionais que, com grande probabilidade, iro emergir quando de sua implementao.

As polticas de desenvolvimento sustentvel nem sempre so jogos de soma positiva, apenas com ganhadores. Ao contrrio, durante a consulta nacional com freqncia surgiram conflitos e tenses polticas e sociais, contrapondo os objetivos restritos do crescimento econmico s exigncias mais amplas da sustentabilidade. Nesses casos, para que o processo de implementao se viabilize em torno das estratgias e aes propostas, recomenda-se maior nitidez nas negociaes de mdio e longo prazo, para aliviar as presses de curto prazo onde predomine o clculo econmico imediato. o princpio da progressividade atuando em favor do desenvolvimento sustentvel.

Experincias histricas de explorao predatria dos diferentes biomas ilustram os desafios da sustentabilidade, dentro do atual padro de acumulao e de crescimento econmico do pas. Da mesma forma, o processo produtivo, gerador de impactos negativos, o mesmo que produz os benefcios do crescimento do emprego, da renda e da arrecadao tributria, trazendo tona os inmeros conflitos de interesses entre diferentes atores sociais, e entre instituies pblicas e organizaes privadas.

O desconhecimento dessa realidade na formulao e na execuo das polticas de desenvolvimento sustentvel pode transform-las em letra morta, mesmo que, no longo prazo, a concepo de sustentabilidade ampliada seja um jogo de soma positiva.

A Agenda 21 Brasileira procura, pois, estabelecer equilbrio negociado entre os objetivos e as estratgias das polticas ambientais e de desenvolvimento econmico e social, para consolid-los num processo de desenvolvimento sustentvel. Esse esclarecimento indispensvel uma vez que os planos de desenvolvimento no Brasil tendem, em geral, a listar objetivos e diretrizes potencialmente conflitivos sem explicitar para o poder pblico os valores e preferncias envolvidos.

A ausncia de negociao no processo de planejamento leva os conflitos entre objetivos a solues casusticas, que refletem, em ltima instncia, a presso de grupos de interesse. Historicamente, as polticas, programas e projetos de desenvolvimento socioambiental tm demonstrado menor poder de barganha.

Aes prioritrias da Agenda 21: possibilidades e restries

A Agenda 21 Brasileira uma proposta realista e exeqvel de desenvolvimento sustentvel, desde que se leve em considerao s restries econmicas, poltico-institucionais e culturais que limitam sua implementao. Para que essas propostas estratgicas possam ser executadas com maior eficcia e velocidade ser indispensvel que:

o nvel de conscincia ambiental e de educao para a sustentabilidade avance;

o conjunto do empresariado se posicione de forma proativa quanto s suas responsabilidades sociais e ambientais;

a sociedade seja mais participativa e que tome maior nmero de iniciativas prprias em favor da sustentabilidade;

a estrutura do sistema poltico nacional apresente maior grau de abertura para as polticas de reduo das desigualdades e de eliminao da pobreza absoluta;

o sistema de planejamento governamental disponha de recursos humanos qualificados, com capacidade gerencial, distribudos de modo adequado nas diversas instituies pblicas responsveis;

as fontes possveis de recursos financeiros sejam identificadas em favor de programas inovadores estruturantes e de alta visibilidade.

As aes prioritrias da Agenda 21 Brasileira ressaltam o seu carter afirmativo, condizente com a legitimidade que adquiriu em virtude de ampla consulta e participao nacional. Esse compromisso poltico com os conceitos e as estratgias propostas poder contribuir, de forma significativa, para que sejam mais facilmente superadas as restries sua implantao.

Para evitar a impresso de que se est propondo sociedade uma mirade de utopias, a Agenda 21 Brasileira apresenta experincias bem-sucedidas de polticas, programas e projetos de desenvolvimento sustentvel implementados em diferentes setores e regies do pas, em anos recentes, que so prova concreta de que o desenvolvimento sustentvel est a caminho.

A Agenda 21 Brasileira sugere que, para tornar realidade tantos e diversos objetivos, sejam ampliados os instrumentos de interveno, por meio de negociao entre as instituies pblicas e privadas, ou de mecanismos efetivos de mercado, ou ainda com as conhecidas estruturas regulatrias de comando e controle. Entretanto, preciso entender que esta Agenda no se resume a um conjunto de polticas imediatas, de curto prazo. Ela deve introduzir, em relao s questes mais delicadas, compromissos graduais de mdio ou de longo prazos, com tempo e condies para que as empresas e os agentes sociais se adaptem nova realidade e sejam capazes de superar, paulatinamente, os obstculos sua execuo.

Por fim, preciso ressaltar, uma vez mais, que a Agenda 21 Brasileira no um plano de governo, mas um compromisso da sociedade em termos de escolha de cenrios futuros. Praticar a Agenda 21 pressupe a tomada de conscincia individual dos cidados sobre o papel ambiental, econmico, social e poltico que desempenham em sua comunidade. Exige, portanto, a integrao de toda a sociedade na construo desse futuro que desejamos ver realizado. Uma nova parceria, que induz a sociedade a compartilhar responsabilidades e decises junto com os governos, permite maior sinergia em torno de um projeto nacional de desenvolvimento sustentvel, ampliando as chances de implementao bem-sucedida.

A CPDS

1 - O desenvolvimento e a sustentabilidade ampliada e progressiva

O conceito de desenvolvimento sustentvel est em construo. Seu ponto de partida foi o compromisso poltico, em nvel internacional, com um modelo de desenvolvimento em novas bases, que compatibilizasse as necessidades de crescimento com a reduo da pobreza e a conservao ambiental. Esse desafio implica assumir que os princpios e premissas que devem orientar a sua implementao so ainda experimentais e dependem, antes de tudo, de um processo social em que os atores pactuam gradativa e sucessivamente novos consensos em torno de uma Agenda possvel, rumo ao futuro que se deseja sustentvel.

Pelo menos quatro dimenses complementam a questo econmica, a partir dos enunciados do Relatrio Brundtland e aparecem ora isoladas, ora de forma combinada nas dinmicas do processo de construo social do desenvolvimento sustentvel.

A dimenso tica, onde se destaca o reconhecimento de que no almejado equilbrio ecolgico est em jogo mais que um padro duradouro de organizao da sociedade; est em jogo a vida dos seres e da prpria espcie humana (geraes futuras);

dimenso temporal, que determina a necessidade de planejar a longo prazo, rompendo com a lgica imediatista, e estabelece o princpio da precauo (adotado em vrias convenes internacionais de que o Brasil signatrio e que tem, internamente, fora de lei, com a ratificao pelo Congresso);

a dimenso social, que expressa o consenso de que s uma sociedade sustentvel - menos desigual e com pluralismo poltico - pode produzir o desenvolvimento sustentvel;

a dimenso prtica, que reconhece necessria a mudana de hbitos de produo de consumo e de comportamentos.

A base conceitual da Agenda 21 aponta, em sntese, para a importncia de se construir um programa de transio que contemple as questes centrais - reduzir a degradao do meio ambiente e, simultaneamente, a pobreza e as desigualdades - e contribua para a sustentabilidade progressiva.

Progressividade no significa adiar decises e aes vitais para a sustentabilidade, e sim, retirar, paulatinamente, a legitimidade de mecanismos e instrumentos que contribuem para que a economia e a sociedade permaneam em bases insustentveis.

Para isso, preciso romper o crculo vicioso da produo, que alm de prejudicial ao meio ambiente, exclui dos benefcios que gera grande parte da sociedade. preciso, portanto, promover um crculo virtuoso, em que a produo obedea a critrios de conservao ambiental duradouros e de aperfeioamento progressivo nos padres de distribuio de renda.

A Agenda 21 Brasileira consagrou o conceito de sustentabilidade ampliada e progressiva. A sustentabilidade ampliada preconiza a idia da sustentabilidade permeando todas as dimenses da vida: a econmica, a social, a territorial, a cientfica e tecnolgica, a poltica e a cultural; j a sustentabilidade progressiva significa que no se deve aguar os conflitos a ponto de torn-los inegociveis, e sim, fragment-los em fatias menos complexas, tornando-os administrveis no tempo e no espao.

Globalizao solidria e a Agenda 21

A Agenda 21 Brasileira tem compromisso com um novo paradigma de desenvolvimento que vem se delineando h dcadas, na passagem da sociedade industrial para a sociedade da informao, do conhecimento e dos servios. Esse modelo, de contorno ainda pouco definido, envolve questes polmicas e posies de princpios to amplos quanto to controvertida globalizao', formalmente inaugurada em 1991 com o fim da Guerra Fria.

Favorecida pela nova tecnologia das comunicaes e pela reduo dos fretes que estimularam as transaes nos mais diversos nveis, a chamada globalizao vem se construindo em torno de uma ordem mundial hierrquica e desregulada, de alta competio que, em geral, dita as prprias regras.

Essa ordem ou desordem, na qual imperam o capital especulativo e os parasos fiscais, tem sido concentradora da renda e da riqueza, da informao e da tecnologia, mas generosa em distribuir pelo mundo, especialmente com a sua periferia, a violncia, o desemprego crescente e as zonas de pobreza, alm das estruturas de privilgios que favorecem, mesmo na periferia, seus prprios parceiros.

De igual gravidade a imposio artificial de modos de vida e hbitos de consumo perdulrios que destroem a cultura tradicional pela via das comunicaes, exacerbando o individualismo e o consumismo que, por sua natureza, no tm condies de atender maioria da populao mundial.

Como lidar com o volume crescente de resduos perigosos em funo do aumento vertiginoso de produtos descartveis? Como encontrar soluo para a destruio das culturas tradicionais que, bem ou mal, protegiam o ser humano das incertezas da vida com modestas mas eficientes economias familiares de subsistncia e de apoio social? Como conviver com a alimentao industrializada que institucionaliza a obesidade e a indstria do regime' em todos os pases do mundo?

Esses so alguns exemplos clssicos de insustentabilidade que demonstram a irracionalidade dos padres de consumo vigentes na sociedade, que contrastam com as carncias da maioria excluda e com as impossibilidades de uma civilizao mais solidria.

O desafio , portanto, mudar a natureza e a direo do modelo de desenvolvimento dominante no mundo, aproveitando de outra maneira potencialidades humanas, sociais e cientficas; defender uma globalizao solidria, baseada em valores comuns e em objetivos partilhados de integrao e de expanso, incorporando os pases em desenvolvimento e os marginalizados que, de outra forma, estariam excludos, de antemo, da partilha das conquistas do todo da comunidade internacional.

esse o esforo que o Brasil vem buscando empreendendo nos foros internacionais e internamente, quando ao concluir a sua Agenda 21 que prev aes e meios de implementao capazes de promover as mudanas desejadas pela sociedade brasileira.

No extremo oposto da globalizao assimtrica, situa-se o esforo bem-sucedido das Naes Unidas em definir, no ciclo de conferncias realizadas nas duas ltimas dcadas, uma agenda global para a humanidade. Essa agenda elegeu como princpios norteadores do consenso os temas: mudana de padres de produo e consumo, direitos humanos, incluso das mulheres e das crianas e, em especial, o combate pobreza e promoo dos direitos sociais.

Nesse amplo painel, destacou-se o desenvolvimento sustentvel como idia/fora propulsora de um novo desenvolvimento, que aproximasse ambientalistas e desenvolvimentistas, e a cooperao internacional entre os dois plos simblicos', o Norte e o Sul. Tendo sido concebida na primeira reunio do ciclo das grandes conferncias internacionais, realizadas pelas Naes Unidas, a Agenda 21 foi tambm o documento mais abrangente, irradiando o desenvolvimento sustentvel e o princpio da parceria para os encontros seguintes.

A partir da ltima rodada de encontros internacionais iniciados no Rio de Janeiro e os subseqentes em Viena, no Cairo, em Copenhague, em Pequim e Istambul, finalizados com a Declarao do Milleniun, o mundo no mais o mesmo, tem direo e sabe para onde ir. Coube a cada pas definir a sua prpria Agenda Nacional, com os mesmos mtodos participativos, os mesmos valores e princpios que nortearam o pacto global em torno do novo desenvolvimento, inspirado nos princpios da Carta da Terra, da governana global, da sustentabilidade e da eqidade e, sobretudo, na soberania e na responsabilidade comum, mas diferenciada, dos pases que compem a comunidade internacional.

O reencontro com o desenvolvimento: um consenso nacional

consenso nacional que se deve retomar, com determinao, um processo de desenvolvimento acelerado que, h vinte anos, tem sido insuficiente para garantir ao pas os patamares necessrios de emprego e renda. Tambm consenso que a retomada desse desenvolvimento deve se pautar pelo paradigma do desenvolvimento sustentvel.

Hoje a sociedade brasileira acredita no ser possvel governar em clima de populismo fiscal', no qual as promessas ultrapassam, de forma exagerada, as possibilidades de receita e gasto. A to esperada retomada do desenvolvimento somente poder ocorrer medida que certo nmero de novos requisitos, convergentes, seja atendido. Isso significa que a concepo do desenvolvimento tornou-se mais complexa e que as diferentes dimenses que o compem comportam-se de maneira interdependente.

Ao contrrio do que ocorreu no passado, quando o termo desenvolvimento praticamente se confundia com o crescimento econmico, hoje a mesma palavra designa um conjunto de variveis, novas e interdependentes, que transcendem a economia em seu sentido estrito. As dimenses social, ambiental, poltico-institucional, cientfico-tecnolgica e cultural impregnam o paradigma de tal sorte que fica difcil at mesmo distingui-las ou precisar entre elas a mais relevante. Esse o sentido mais profundo da dimenso holstica no novo paradigma de desenvolvimento sustentvel.

No resta dvida de que energia e esforos foram canalizados contra a desordem financeira e em favor da estabilizao da economia que, alm de ter enfrentado uma ordem internacional conturbada e uma retrao de investimentos encontrou, principalmente nos grupos domsticos dependentes da correo monetria, resistncia inusitada.

Finda essa primeira etapa, com diminuio da taxa de inflao, fato indito na histria republicana, e consolidao de doloroso ajuste em clima de negociao democrtica, anseio de todos retomar o crescimento, tnica de nosso passado recente, mas que se limitou a 8% na dcada de 1990; crescimento esse pouco significativo quando se leva em considerao a necessidade de gerar mais empregos e menos desperdcio no pas.

O desenvolvimento tem sido para ns, brasileiros, vocao histrica, um encontro marcado com o destino. Por conta de muitas dcadas bem-sucedidas, de crescimento quase ininterrupto a taxas, em mdia, muito altas, o Brasil projetou sua liderana industrial entre os pases de passado colonial e do ento denominado Terceiro Mundo.

Essa posio privilegiada garantiu populao altos ndices de mobilidade social em termos comparados. Os mecanismos de recompensa gerados pela mobilidade neutralizaram, em boa parte, os efeitos perversos da concentrao da renda e da desigualdade social que, por vrias dcadas, passaram despercebidos para a maioria da sociedade brasileira.

Desenvolvimento e poupana interna

preciso conceder especial ateno ao crescimento do mercado interno que, sem diminuir o esforo de exportao, gerador e distribuidor de riquezas, pode reduzir a dependncia excessiva do capital externo e ampliar a capacidade de poupana do pas, contribuindo para o equilbrio da balana de pagamentos. Ao mesmo tempo, fundamental tambm cuidar da pauta de importaes, combatendo o consumo suprfluo.

O aumento da produtividade que vem ocorrendo em dimenses expressivas fator decisivo que permitir maior ousadia nas polticas de distribuio de renda e de erradicao da misria absoluta, por meio da expanso do mercado interno e do nvel e qualidade do emprego, todos pr-requisitos indispensveis ao fortalecimento democrtico e construo da cidadania.

Na nova sociedade, cenrio da Agenda 21, o capital produtivo e o financeiro precisam caminhar de mos dadas com o capital natural, o humano e o social, tendo em vista a reduo do estoque de recursos naturais no ltimo sculo e suas conseqncias ecolgicas de mdio e longo prazos. Da mesma forma, o capital humano o motor de um sistema que se retroalimenta, com velocidade inusitada, de informao, comunicao, servios e conhecimento.

Desenvolvimento sustentado e desenvolvimento sustentvel

O desenvolvimento conquistado nos ltimos dez anos precisa vigorar, daqui para frente, em clima previsvel de crescimento com estabilidade, consolidado pelo controle da dvida, a responsabilidade fiscal e o equilbrio oramentrio e financeiro. A esse conjunto de medidas restritivas, indispensveis para se atingir novo patamar de crescimento, designou-se o termo j em desuso de desenvolvimento sustentado' que, freqentemente, se confunde com desenvolvimento sustentvel'.

O desenvolvimento sustentvel deve ser entendido como um conjunto de mudanas estruturais articuladas, que internalizam a dimenso da sustentabilidade nos diversos nveis, dentro do novo modelo da sociedade da informao e do conhecimento; alm disso, oferece e apresenta uma perspectiva mais abrangente do que o desenvolvimento sustentado, que apenas uma dimenso relevante da macroeconomia e pr-condio para a continuidade do crescimento.

A incluso social e o empreendedorismo

Existe um consenso nacional quanto importncia que deve ser atribuda reduo das desigualdades e ao combate pobreza nos prximos anos. 30% da populao brasileira vivem na linha da pobreza. Portanto, necessrio o desenvolvimento de polticas compatveis com as necessidades e demandas desse segmento.

Polticas deliberadas de incluso social devem estar voltadas para as origens e os focos da desigualdade e da pobreza, e para a melhoria da qualidade das polticas sociais. Rompendo a tradio de hegemonia da grande propriedade e do grande capital, o novo modelo de desenvolvimento advoga o fortalecimento do empreendedorismo na economia brasileira, e o tratamento particularizado para a agricultura familiar e os micro, pequenos e mdios produtores e empresrios rurais e urbanos que, dentro de certos limites, j vem ocorrendo.

Os mecanismos de incluso devem ser concretizados por meio da flexibilizao e ampliao do sistema oficial de crdito, e da desburocratizao dos procedimentos de legalizao que tanto oneram o "custo Brasil".

A nova dimenso regional do desenvolvimento

Para tornar efetiva a diminuio da pobreza, precisamos incorporar ao desenvolvimento nacional as chamadas regies perifricas'. Uma nova concepo de desenvolvimento regional vem sendo amadurecida nos ltimos anos, exigindo modelo inovador para as agncias regionais de desenvolvimento, em contraposio ao estilo at ento vigente. Devemos de forma mais audaciosa e persistente combater as razes pelas quais fracassaram as polticas de integrao regional.

O modelo que comea a entrar em vigor deve ser concebido no mais para as grandes regies como um todo (Nordeste, Amaznia, etc.) e sim para as mesorregies ou microrregies menores, capazes de produzir diagnsticos precisos sobre suas condies reais e suas oportunidades de alavancar o desenvolvimento.

Valorizao do capital humano, do conhecimento e da qualidade de vida

O capital humano a grande ncora do desenvolvimento na sociedade de servios, alimentada pelo conhecimento, a informao, a comunicao que se configuram como peas-chave na economia e na sociedade do sculo XXI. No mundo ps-moderno, um pas ou uma comunidade equivalem sua densidade educacional, cultural e cientfico-tecnolgica, capazes de gerar servios, informaes, conhecimentos e bens tangveis e intangveis, que criem as condies necessrias para inovar, criar, inventar.

O Brasil tem graves carncias educacionais, incompatveis com o seu patamar de desenvolvimento. No entanto, com esforo prprio, e sempre em parceria com as experincias internacionais de vanguarda, possvel avanar no terreno da capacitao, da formao intensiva de recursos humanos que permitam a melhor qualificao gerencial do pas e a retomada do desenvolvimento em patamares superiores de inovao, cincia e tecnologia.

Devemos registrar tambm o grande potencial pouco aproveitado na produo cultural, especialmente, a indstria da comunicao, como televiso e cinema. Legislao, financiamento e polticas destinadas a esse fim no devem ser apenas o reconhecimento de que na rea cultural decide-se o destino e a identidade dos pases em uma economia cada vez mais globalizada, como tambm que nessa rea que se abrem oportunidades inditas de fortalecimento da indstria cultural brasileira de projeo latino-americana e internacional.

Natureza e identidade nacional: smbolo de um compromisso

A nova ordem em construo tem como um de seus fundamentos a adoo de um pacto natural que estabelea o equilbrio ecolgico entre a ao do homem e a proteo da natureza. Pesquisas de entidades governamentais e no-governamentais indicam a preocupao crescente dos brasileiros com o destino de seus recursos naturais, cujo alcance simblico transcende a questo ambiental, projetando-se como uma dimenso relevante da identidade nacional.

Conservar o patrimnio natural herdado de nossos antepassados - sem dvida, o maior do planeta - compromisso de honra, que representa nossa identidade e nossas razes, renovado na Conferncia de 1992. Os sete grandes biomas do pas antes de serem patrimnios da humanidade', so riquezas brasileiras, valorizadas pela populao e que precisam ser preservadas para as geraes futuras.

O poder da governana e do capital social

No sculo XXI emerge o poder transformador do capital social que, em ltima instncia, significa capacidade de gerar aes e resolver problemas a baixo custo, a partir da arte de associar'. inegvel que o Brasil da ltima dcada operou, sob esse aspecto, uma verdadeira revoluo social de carter participativo, aumentando o nmero de conselhos que se introduziram em todas as esferas de polticas pblicas, inclusive no oramento. Estenderam-se as parcerias que, no entanto, ainda padecem de lentido nos trs nveis de governo. Foram ainda aperfeioados os mecanismos de cooperao e de controle social do Governo.

Da mesma forma, ampliou-se o nmero e a fora do terceiro setor como parceiro privilegiado da esfera governamental e das empresas e como expresso de uma sociedade autnoma. No entanto, muito nos resta ainda a ser feito, em virtude de uma forte tradio clientelista e corporativa em detrimento de nossa capacidade associativa.

No domnio mais amplo do que se denomina hoje governana, h tambm conquistas importantes, como a descentralizao poltica e administrativa, o avano dos consrcios e do princpio da responsabilidade fiscal. Um dos mecanismos de governana mais poderosos reside hoje na cooperao (ao invs da competio) entre os trs poderes. Cabe uma referncia especial ao Ministrio Pblico e ao seu papel indutor de mudanas nas prticas polticas em favor dos compromissos da Constituio de 1988.

No entanto, tambm na rea da governana que se concentram nossos mais graves problemas gerenciais que dificultam o caminho da sustentabilidade. As dificuldades se devem ao enfraquecimento do aparelho estatal e obsolescncia de uma cultura organizacional centralista e corporativa. Talvez por esta razo tenhamos avanado tanto na formulao e construo do consenso em torno de novas polticas, mas to pouco em sua concretizao, que no dispe de instrumentos adequados.

Finalmente, cabe investir com vigor na informao para a deciso, visto que nosso processo decisrio contm imperfeies, superposies e incongruncias resultantes da precariedade das anlises, dados e levantamentos necessrios para tomar a deciso mais apropriada. Tais informaes iro permitir melhor acompanhamento das aes pblicas relevantes, em especial as relativas Agenda 21 Brasileira.

tica do respeito vida: solidariedade global e pacto natural

A vulnerabilidade da populao e do meio ambiente e o potencial de impacto das atividades humanas, apoiadas no fluxo financeiro internacional e no desenvolvimento de tecnologias, exigem a edificao de nova tica, capaz de contribuir para a perenizao da vida. Nessa perspectiva, o desenvolvimento sustentvel uma proposta que tem em seu horizonte a modernidade tica e no apenas a modernidade tcnica, o que significa incorporar ao mundo da necessidade' o novo compromisso com a promoo da vida.

O conceito de sustentabilidade remete a uma reforma radical nas noes de eficcia e de racionalidade econmica e nos obriga a considerar outras dimenses culturais, ticas e simblicas uma vez que a atividade econmica no se desenvolver sustentavelmente se a natureza, que lhe abastece de recursos materiais e energticos, estiver gravemente comprometida.

Questionar a tica do resultado' como fim ltimo a ser obtido pelas sociedades prioridade mxima que exige o fortalecimento dos valores morais em todos os domnios da vida social, na famlia, na escola, nas empresas e, sobretudo, na poltica.

Nesse contexto, essencial fortalecer os fruns globais multilaterais para defender com vigor uma ordem global tica, solidria, pacfica e justa, que reduza os profundos desequilbrios e desigualdades entre as naes e que seja capaz de pautar-se por valores humanos de diversidade cultural e tnica e de cooperao inspirada no respeito aos direitos humanos, tendo em vista o aperfeioamento democrtico.

inevitvel constatar que existe hoje, no Brasil e no mundo, generalizada desconfiana da poltica, fruto das desiluses que decorrem da decadncia da velha sociedade industrial e da ausncia de solidariedade e tica no trato do interesse pblico. Existem de fato, expectativas difusas em favor de grandes mudanas ticas, culturais, econmicas e sociais, adiadas at ento.

O individualismo exacerbado, o poder e a influncia do dinheiro, as desigualdades crescentes, nacionais e mundiais, a extenso da violncia como estilo de vida, impregnando os meios de comunicao e influenciando jovens e crianas, esto em descompasso com o horizonte de possibilidades abertas pelas descobertas cientficas, pela revoluo tecnolgica e pelas novas oportunidades que se descortinam com o aumento da produtividade e do tempo de lazer.

Parceiros e cmplices do desenvolvimento sustentvel

Nesse longo percurso que a construo do desenvolvimento sustentvel, cabe um papel especial s mulheres, ciosas de igualdade de gnero e de justia social. Aos jovens e s crianas, destinam-se as grandes mudanas que, sintetizadas pela Comisso, refletem o consenso geral do que desejamos ver projetado para o futuro.

Referncia deve ser feita s populaes tradicionais, (caboclos, pescadores, quilombolas, entre outros), aos povos indgenas, a todos os que sobreviveram s devastaes ambientais e culturais do sculo XX, preservando a sabedoria dos valores recebidos que so patrimnio inestimvel hoje e para o futuro.

Aos ambientalistas e aos movimentos sociais que, incansveis, militam em favor das causas mais difceis da sustentabilidade, da eqidade e da justia, denunciando fatos ignorados, erros polticos e cumplicidades equivocadas, em favor dos que no tm voz, nem motivao ou conhecimento.

Nenhuma transformao importante poder ocorrer sem a arte de identificar oportunidades, de inovar e de realizar dos empresrios brasileiros, que cedo, compreenderam o sentido histrico da Conferncia de 1992.

Aos pequenos produtores e empresrios, que batalham pela sobrevivncia em situaes adversas; aos trabalhadores rurais em sua longa luta pela posse da terra, que lhes d e a ns, sustento; aos trabalhadores urbanos, de tradio sindical e associativa, mas afetados pela automao e desemprego.

Ao poder local que anima e preside "as boas prticas do desenvolvimento sustentvel" e aos governos federal e estaduais que simbolizam, junto com o municpio, a federao inovadora que o Brasil vem construindo, sempre em busca do fortalecimento da identidade e da integrao nacional.

criatividade da cincia, da cultura e do conhecimento, representada pela comunidade cientfica e cultural e por sua contribuio notvel, tanto na rea de pesquisas e estudos, quanto no plano prtico, o da execuo de projetos, como parceiros do desenvolvimento sustentvel.

A incorporao de novos atores a marca registrada da Agenda 21, que identifica ampla gama de segmentos antes excludos do desenvolvimento. A sustentabilidade da Agenda 21 plural nos seus objetivos e nos seus protagonistas.

Finalmente, a sustentabilidade exige uma dimenso comunicativa, possibilitada pela rede de organizaes no-governamentais e pela mdia, que contribuem para disseminar as novas prticas de desenvolvimento sustentvel.

2 - Contexto internacional e o cenrio atual do pas

A Agenda 21 Brasileira deve estar em sintonia com as grandes transformaes econmicas, sociais e tecnolgicas no mundo e no Brasil, ocorridas nas ltimas dcadas, para melhor qualificar o contexto contemporneo em que iro se inserir as polticas de desenvolvimento sustentvel no nosso pas. Merecem especial nfase por causa de suas implicaes para a sustentabilidade:

o processo de globalizao econmica e financeira, com suas presses diretas e indiretas sobre a base dos recursos naturais dos pases em desenvolvimento e sua propenso a amplificar as assimetrias sociais e espaciais de desenvolvimento;

a consolidao da terceira revoluo cientfica e tecnolgica, com profundas mudanas nas caractersticas de novos produtos, de novos processos tecnolgicos e de novas tcnicas de gesto;

a redefinio do papel do estado nas economias de mercado, com o risco de se minimizarem a concepo e a implementao de polticas ativas de desenvolvimento sustentvel;

o novo padro demogrfico do Brasil e suas conseqncias econmicas e sociais;

a nfase no conhecimento como um fator de produo e a importncia de investimentos na criao do conhecimento e nas atividades de pesquisa e desenvolvimento, como forma de gerar maior grau de liberdade para a conquista da sustentabilidade;

as novas responsabilidades assumidas pelas organizaes no-governamentais quanto s questes sociais e ambientais.

Globalizao econmica e financeira e a terceira revoluo industrial

Nas trs ltimas dcadas ocorreu um avano do processo de globalizao econmica e financeira. As barreiras econmicas caram significativamente devido s sucessivas rodadas de negociaes do comrcio internacional e aos acordos de integrao regional (OMC, Nafta, Mercosul). Avanos tecnolgicos nos sistemas de comunicao e de transporte reduziram custos de acessibilidade e estimularam fortemente a expanso do comrcio.

Uma revoluo nos negcios econmicos internacionais ocorreu na medida que as empresas multinacionais e os investimentos externos diretos tiveram um impacto profundo em quase todos os aspectos da economia mundial. A desregulamentao financeira e a criao de novos instrumentos financeiros, tais como os derivativos, alm dos avanos tecnolgicos nas comunicaes, contriburam para a formao de um sistema financeiro internacional mais integrado.

Atualmente, em muitos aspectos, as transaes financeiras internacionais superaram as transaes de bens e servios: US$ 1,5 trilhes de compras e vendas de ativos financeiros contra apenas US$ 25 bilhes de comrcio, por dia. Como muitos desses fluxos financeiros so de curto prazo, altamente volteis e especulativos, as finanas internacionais tornaram-se a dimenso mais instvel da economia capitalista globalizada.

A forma de insero das economias em desenvolvimento nesse processo de globalizao coloca duas questes fundamentais para a construo da Agenda 21: a) os impactos sobre a intensidade e o modo de explorao de recursos naturais, renovveis e no-renovveis, para atender s exigncias da nova diviso internacional do trabalho; b) a possibilidade de que venha a se aprofundar a reproduo das desigualdades sociais e os desequilbrios regionais de desenvolvimento. Esses impactos so particularmente intensos nas micro e pequenas empresas brasileiras.

A consolidao da terceira revoluo industrial provocou profundas mudanas na produo, nos processos tecnolgicos e nas tcnicas de gesto, com implicaes fundamentais para as estruturas de mercado e modelos da organizao empresarial e suas tendncias locacionais. Nessas mudanas destacam-se as seguintes tendncias:

maior intensidade de informaes, em vez da intensidade em materiais e energia que predominam nos sistemas produtivos tradicionais;

maior flexibilidade nos processos de produo, onde eficincia e produtividade no esto necessariamente vinculadas s economias de escala na produo em massa;

nova eficincia organizacional, com maior nfase configurao de sistemas do que automao.

A reduo do tempo e do espao, resultante dos impactos multifacetados da terceira revoluo cientfica e tecnolgica, ampliou os fluxos de comrcio internacional que, conjugados com a maior abertura externa das economias nacionais, impuseram a necessidade de reestruturao das empresas e das organizaes para enfrentar os desafios da integrao competitiva.

Cenrio atual do Brasil

Em todos os pases da Amrica Latina, assiste-se, atualmente, a uma profunda mudana no papel do Estado na economia, em sua trplice funo alocativa, distributiva e de estabilizao. Durante quase todo o perodo do ps-guerra, os estados nacionais exerceram papel insubstituvel na promoo do crescimento econmico, na formulao e na implementao de polticas sociais compensatrias, assim como no esforo de conteno dos processos inflacionrios em cada pas latino-americano.

No resta dvida de que a reforma do Estado tem se constitudo em um vigoroso evento portador de mudanas no Brasil. Em funo dos processos de privatizaes iniciados na ltima dcada, das concesses de servios pblicos, autorizadas a partir dos trs ltimos anos, das desregulamentaes adotadas particularmente nas relaes de comrcio internacional e da integrao na unio alfandegria do Mercosul, a economia brasileira passou a dispor de melhores condies institucionais e oportunidades econmicas para configurar um ciclo de expanso, neste incio de sculo XXI. A economia brasileira tornou-se, pois, mais aberta, menos regulamentada, mais privatizada e, portanto, mais propensa ao crescimento sustentado.

No caso especfico do processo de privatizao, o impacto das vendas das empresas estatais, em primeira instncia, de natureza macroeconmica, com os recursos obtidos sendo dirigidos para a reduo do desequilbrio das contas pblicas e para financiar o dficit em conta corrente quando houver significativa participao do capital estrangeiro nesse processo. O segundo e mais duradouro impacto , fundamentalmente, de natureza microeconmica e se realiza pela reestruturao organizacional das empresas privatizadas e pelos investimentos de modernizao para sua competitividade dinmica.

preciso enfatizar, contudo, que o Brasil ainda dever contar com o papel do Estado, ao longo dos prximos anos, no apenas para garantir a oferta dos servios pblicos tradicionais, mas tambm para:

coordenar o processo de desenvolvimento nacional, por meio de mecanismos de interveno indireta e de planejamento indicativo;

promover melhor distribuio da renda e da riqueza, por meio de polticas sociais compensatrias;

articular programas de gerao de emprego e renda;

conceber e executar um conjunto de polticas econmicas que mantenham a consistncia macroeconmica;

regulamentar a operao de setores estratgicos (energia eltrica, telecomunicaes e petrleo) para o crescimento econmico, a sustentabilidade ambiental e a eqidade social;

atenuar os desequilbrios regionais de desenvolvimento;

apoiar, tcnica e financeiramente, segmentos seletivos da economia brasileira (pequenas e mdias empresas, pequenos produtores rurais, exportaes) para ampliar sua capacidade competitiva ou estabilizar sua renda.

Nos ltimos vinte anos ocorreram mudanas substanciais no padro demogrfico do Brasil que tero conseqncias gerais e profundas no seu processo de desenvolvimento econmico e social, e conseqncias especficas na dinmica de mercados de diversos bens e servios.

No final da dcada de 1960, tem incio um processo rpido e generalizado de declnio da fecundidade. Limitado inicialmente aos grupos sociais urbanos de renda mais elevada das regies desenvolvidas, esse processo se estendeu a todas as classes sociais e nas diversas regies, levando desacelerao do ritmo de crescimento populacional. Alm do mais, importantes mudanas de valores e de comportamentos se refletiram na estrutura e configurao da famlia brasileira, a exemplo do papel da mulher na sociedade e as repercusses sobre sua crescente participao no mercado de trabalho.

O novo padro demogrfico se caracteriza, pois, por mudanas na estrutura etria, com maior participao relativa dos idosos e menor participao relativa do contingente com menos de 15 anos. Projeta-se que, em meados deste sculo, a populao brasileira dever se estacionar em torno de 250 milhes de habitantes, em funo do declnio ainda maior da taxa de fecundidade.

Os relatrios de desenvolvimento humano da Organizao das Naes Unidas tm destacado que so inmeras as conseqncias desse novo padro demogrfico para o novo ciclo de crescimento econmico, para as polticas sociais do Brasil e, conseqentemente, para as estratgias empresariais de marketing.

Primeiro, a populao em idade escolar a ser atendida nos diferentes nveis de ensino vem crescendo em ritmo cada vez menor, e assim dever continuar. Recursos que vinham sendo utilizados para a expanso da capacidade de atendimento do sistema educacional brasileiro podero ser realocados em programas de qualidade nesse mesmo sistema.

Segundo, a expanso mais lenta da populao jovem, alm de diminuir a presso sobre o mercado de trabalho, oferece, tambm, condies mais favorveis para uma melhor preparao tcnica das pessoas antes de seu ingresso no mercado de trabalho ou no prprio local de trabalho, melhorando-se, assim, as caractersticas de qualidade da mo-de-obra, necessria para um ciclo de expanso intensivo em informao e conhecimento.

Terceiro, como as pessoas idosas pertencero a famlias cada vez menores (tendncia a famlias com apenas dois filhos), podero ter menor amparo dos filhos e parentes. Portanto, o sistema de sade, pblico e privado, dever se preparar para atender adequadamente a essa parcela crescente da populao, que apresenta um quadro de morbidade bem especfico e de tratamento mais caro.

Finalmente, o aumento da relao entre idosos e pessoas em idade ativa, nas prximas dcadas, dever acentuar significativamente o grave desequilbrio no sistema previdencirio brasileiro.

A atual fase de transio demogrfica brasileira apresenta um perodo crucial e de grandes oportunidades sob os mais diferentes aspectos. O caso da previdncia oficial ilustrativo e evidencia um desequilbrio atuarial crnico, desde as mudanas ocorridas na Constituio de 1988, contribuindo para a formao do dficit do setor pblico consolidado no Brasil.

Esse dficit poder se tornar crnico e superar 3% do PIB nos primeiros anos deste sculo, se as reformas institucionais no avanarem. Essas reformas, ao abrirem espao para a ampliao da previdncia complementar pelos fundos privados, podero provocar a emergncia de uma importante fonte de poupana privada no pas, alm de responder de forma mais eficaz s necessidades da populao idosa nas prximas dcadas.

Assim, a reduo na proporo de jovens na populao total e as novas demandas geradas pelo aumento absoluto e da proporo dos idosos, sob muitos aspectos, podem se transformar numa oportunidade para formulao de estratgias de mercados do setor privado (diferenciao e diversificao dos produtos de consumo, planos de sade, previdncia complementar, medicina geritrica) e num desafio para a reestruturao dos gastos pblicos, envolvendo o redimensionamento, para cima ou para baixo, de programas de assistncia maternidade, de creches, de qualificao da mo-de-obra, de sade da terceira idade e de qualidade total no ensino fundamental.

Da mesma forma, mudanas de valores e de comportamento na estrutura da famlia brasileira, maior participao das mulheres na composio do oramento domstico e controle sobre o nmero preferencial de filhos certamente iro transformar as relaes de mercado.

Uma escolha entre os futuros possveis

As novas idias que procuram explicar por que alguns pases e regies crescem e se desenvolvem mais rapidamente do que os demais, enfatizam o conhecimento e o investimento em atividades de pesquisa e desenvolvimento como fatores fundamentais. Pessoas qualificadas so indispensveis para a criao de novas idias, produtos e processos tecnolgicos e para operar e manter equipamentos mais complexos, com eficincia.

O capital humano e as habilidades de um pas ou regio determinam o seu crescimento econmico no longo prazo e suas chances de transformar esse crescimento em processos de desenvolvimento. Com a globalizao econmica e financeira, tornou-se evidente que os diferenciais de competitividade dependem, em grande parte, da quantidade de recursos que cada nvel de governo e o setor produtivo nacional esto propensos a alocar em conhecimento e pesquisa e na eficcia de sua utilizao.

Entre as muitas megatendncias mundiais, importante lembrar as novas responsabilidades que vm sendo assumidas pelas organizaes empresariais quanto s condies sociais e ambientais nas regies e pases em que se localizam para a promoo do seu crescimento. O crescimento econmico desejvel porque ele traz mais empregos, mais renda, mais bens e servios populao. Quanto mais rpido o ritmo do crescimento, maiores as chances de incluir um nmero maior de famlias nos padres civilizados de consumo privado e pblico.

O crescimento econmico , no entanto, uma condio necessria, mas no suficiente para o desenvolvimento sustentvel.

Assim, a sociedade brasileira ter que realizar uma escolha entre os futuros possveis, a partir das tendncias e oportunidades no seu ambiente interno e externo. Mantidas as atuais caractersticas do padro de crescimento econmico e de acumulao de capital no pas, o cenrio tendencial de evoluo dos indicadores de desenvolvimento sustentvel poder vir a ser de crescente deteriorao, uma vez que:

a crise fiscal e financeira dos trs nveis de governo um fator impeditivo da maior eficcia dos rgos pblicos que formulam, implementam e controlam as polticas de desenvolvimento sustentvel;

existem componentes autnomos nos processos de decises descentralizadas de produo e de consumo nas diversas regies do pas, decorrentes de fatores econmicos e culturais, que continuam resultando em deteriorao do seu capital natural e em reforo dos mecanismos sociais de reproduo da pobreza;

lento o avano dos programas de educao ambiental que poderiam contribuir para alterar o quadro atual de deteriorao ambiental;

a ausncia de um efetivo sistema nacional de planejamento no pas dificulta a insero das questes de desenvolvimento sustentvel na agenda de prioridades do Governo Federal;

ainda pouco expressivo o volume de recursos pblicos e privados que vm sendo alocados no desenvolvimento cientfico e tecnolgico para enfrentar as questes de desenvolvimento sustentvel no Brasil.

As chances de execuo de polticas de desenvolvimento sustentvel no Brasil dependem, em grande parte, da alterao desse quadro. A Agenda 21 Brasileira se apresenta como uma alternativa de futuro possvel e desejvel definida por ampla parcela dos atores sociais brasileiros envolvidos em seu processo de construo.

3 - Plataforma das 21 aes prioritrias

A economia da poupana na sociedade do conhecimento

Objetivo 1

Produo e consumo sustentveis contra a cultura do desperdcio

Vivemos vinte e quatro horas por dia na cultura do desperdcio, decorrente tanto dos novos hbitos, quanto de velhas prticas de uma sociedade tradicional acostumada fartura dos recursos naturais e a hbitos ingnuos de generosidade e esbanjamento.

Exigir conteno e sobriedade de nossas elites, a incluindo a alta classe mdia, to importante quanto superar o paradoxo que envolve os mais pobres: muitas vezes, falta comida na mesa, mas mesmo na pobreza, o desperdcio continua. A soluo para esse e outros problemas semelhantes mudar os padres de consumo e combater a cultura do desperdcio.

O gasto desnecessrio com embalagens, a poluio por objetos descartveis e a gerao de quantidades exageradas de lixo esto entre as conseqncias perniciosas dos modelos de consumo adotados no Brasil, copiados de pases mais desenvolvidos, mas tambm herdado da sociedade colonial e escravista.

Existem dois aspectos distintos a serem tratados no combate ao desperdcio. A mudana dos padres de consumo, que , em ltima instncia, uma mudana de cultura e a destinao dos resduos.

O combate ao desperdcio ainda durante o processo produtivo, pela adoo de tecnologias menos intensivas em energia e que requeiram menos matrias-primas. A construo civil um segmento que tem muito a contribuir, como, por exemplo, buscando alternativas para o desperdcio praticado nos canteiros de obras.

No preciso, porm, esperar pelas mudanas culturais, naturalmente lentas. dever das autoridades e dos meios de comunicao, manter a populao consciente das conseqncias do desperdcio e no apelar economia apenas em situao de crise, como aconteceu em 2001, durante a escassez de hidreletricidade.

A cultura da poupana deve ser construda pela boa informao.Uma populao consciente forar as empresas a mudar seus mtodos e processos, e at mesmo seu marketing, como j pode ser observado com a valorizao do chamado consumo sustentvel.

Aes e recomendaes

Desencadear uma campanha nacional contra o desperdcio envolvendo os trs nveis de governo, as empresas, a mdia, o terceiro setor e as lideranas comunitrias para tomada de conscincia e mudana de hbitos.

Mobilizar os meios de comunicao - televiso, rdio e jornal - para serem usados em seu papel relevante de pedagogia social. Enquanto concesso de interesse pblico, devem em seus horrios obrigatrios de veiculao de informao de interesse social, produzir campanhas voluntrias de esclarecimento, gerando notcias capazes de conscientizar a opinio pblica sobre a necessria mudana de comportamentos.

Iniciar com uma campanha contra o desperdcio de gua e energia, que deve adquirir feio especfica e diferenciada para as diferentes regies brasileiras, bem como para os diferentes setores produtivos.

Promover a cultura da poupana para a produo de bens e servios, pblicos e privados, evitando a superposio de aes, a irracionalidade dos procedimentos e os gastos suprfluos.

Estimular a simplificao das embalagens e restringir a produo de descartveis garantindo ao consumidor a disponibilidade de produtos em embalagens retornveis e/ou reaproveitveis.

Definir uma legislao de resduos slidos, com claras definies de obrigaes e responsabilidades para os diferentes atores sociais, com base no reaproveitamento e na reduo da gerao de lixo.

Divulgar experincias inovadoras para que, em nvel local, se adotem formas criativas de destinao dos resduos. Divulgar catlogos de tecnologias apropriadas e disponibiliz-las, aos municpios brasileiros, para evitar investimento em caras e inadequadas usinas de lixo, freqentemente desativadas.

Estimular o combate ao desperdcio na construo civil pela adoo de tecnologias adequadas que promovam a segurana do trabalhador.

Objetivo 2

Ecoeficincia e responsabilidade social das empresas

No Brasil foi surpreendente a assimilao dos desafios e compromissos registrados na Conferncia de 1992, pelos empresrios. Criou-se uma posio proativa de resolver problemas e encontrar solues, seja adotando novas tecnologias menos poluidoras, seja aperfeioando o modelo de gesto empresarial.

O esprito prtico desse empresariado assimilou a idia de que a ecoeficincia e o meio ambiente, ao invs de atrapalhar a atividade produtiva, em realidade contribui para a criao de resultados positivos. Preparar as empresas brasileiras para competir internacionalmente em condies ideais de ecoeficincia e responsabilidade social condio necessria expanso e internacionalizao de seus negcios em ambiente competitivo com os padres hoje vigentes.

O comprometimento das empresas com a sustentabilidade inicia-se pelo cumprimento das exigncias da legislao ambiental, passando por programas internos de conscientizao e de adoo de normas voluntrias, os quais, por serem endgenos e espontneos, tendem a ser mais eficiente e, portanto, devem ser estimulados. Tais compromissos contribuem para melhorar a imagem da empresa, alm de aumentar a produtividade e a competitividade, com a incorporao de novos instrumentos de gesto e novas tecnologias, mais avanadas.

preciso ter em mente que a ecoeficincia nas empresas tem como principal ponto de referncia as multinacionais e as estatais ou ex-estatais, cujos tamanho e importncia justificam a adoo de prticas exemplares que divulgam e do prestgio nacional e internacional.

As micro, pequenas e mdias empresas encontram dificuldades para enfrentar o desafio da ecoeficincia. No entanto, por serem agentes multiplicadores, precisam encontrar solues tecnolgicas e gerenciais acessveis. Nesse sentido, a promoo do arranjo de sistemas produtivos locais com competitividade sistmica tem se mostrado uma prtica exitosa em vrias regies do pas.

O maior desafio da gesto ambiental levar em conta a diversidade de situaes que as empresas enfrentam, em funo do tipo de atividade que exercem e do tipo de impacto que produzem.

Aes e recomendaes

Criar condies para que as empresas brasileiras adotem os princpios de ecoeficincia e de responsabilidade social, que aumentam a eficincia pela incorporao de valores ticos e culturais ao processo de deciso.

Promover parcerias entre empresas de diferentes portes como forma de disseminar o acesso aos padres de qualidade dos mercados nacional e internacional. As parcerias implicam cooperao tecnolgica e transferncia de tecnologia, para a produo mais limpa.

Promover parcerias entre as grandes, mdias e pequenas empresas para a difuso do conceito de ecoeficincia, como sinnimo de aumento da rentabilidade, para a reduo de gastos de energia, gua e outros recursos e insumos de produo.

Incentivar a ecoeficincia empresarial por meio dos mecanismos de certificao, em complementao aos instrumentos tradicionais de comando e controle. Cada empresa deve ser, voluntariamente, um agente de controle ambiental.

Estimular a criao de centros de produo mais limpa e de energia renovvel.

Adotar os procedimentos adequados para minimizar efeitos adversos na sade e no meio ambiente com a utilizao de: i) desenvolvimento de padres mais seguros de embalagem e rotulagem; ii) considerao dos conceitos de ciclo de vida dos produtos pelo uso de sistemas de gesto ambiental, tcnicas de produo mais limpa e sistema de gerenciamento de resduos; e iii) desenvolvimento de procedimentos voluntrios de auto-avaliao, monitoramento e relatrios de desempenho e medidas corretivas.

Promover a recuperao do passivo ambiental das empresas por meio de termos de ajuste de conduta, nos quais fiquem claramente estabelecidos os compromissos sobre as tcnicas de recuperao, os investimentos alocados e os cronogramas de execuo.

Facilitar o acesso a financiamentos s micro e pequenas empresas pelos bancos oficiais e agncias de fomento de carter nacional, regional e local, para a busca criativa de novas solues tcnicas e gerenciais visando produo sustentvel.

Prover a capacitao, a conscientizao e a educao dos empregados, para que eles se tornem agentes promotores da ecoeficincia em suas empresas.

Difundir amplamente a Conveno Quadro de Mudana do Clima e o Protocolo de Quioto, especialmente o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, para que, as micro, pequenas e mdias empresas possam se beneficiar com recursos de projetos de reduo de emisses de gases de efeito estufa e de seqestro de carbono.

Promover parcerias entre as universidades, institutos de pesquisas, rgos governamentais, sociedade civil e as empresas.

Integrar as empresas brasileiras ao internacional pelo desenvolvimento sustentvel, criando oportunidades de negcios favorveis ao seu crescimento e sua inovao.

Objetivo 3

Retomada do planejamento estratgico, infra-estrutura e integrao regional

O papel da infra-estrutura na promoo do desenvolvimento sustentvel o de criar as pr-condies para o desenvolvimento econmico e prover bens e servios essenciais melhoria da qualidade de vida da populao, viabilizando maior incluso nos circuitos de produo, cidadania e consumo, para proporcionar acesso equnime s oportunidades no espao nacional e internacional.

Deve ser indutora da integrao nacional e regional e facilitadora da reduo das desigualdades regionais e sociais, sendo este um dos objetivos centrais do desenvolvimento sustentvel.

Cabe ao Estado promover a integrao e criar condies de coordenao das aes pblicas, governamentais e no-governamentais que garantam a ao sistmica entre os diferentes setores da infra-estrutura, por meio da definio de estratgias integradoras das aes, do ponto de vista econmico-social e de utilizao dos recursos naturais, nas decises que envolvam a expanso e a modernizao dos servios, planejamento, operao e fiscalizao.

No campo da infra-estrutura existe uma ausncia de viso sistmica decorrente da falta de um projeto nacional de desenvolvimento sustentvel. O sistema est hoje pautado, sobretudo, pelo crescimento do mercado onde este se encontra, o que significa que a relao entre produo de servios e desenvolvimento sustentvel, que segue outra lgica, pode estar ameaada.

Muitas das questes da infra-estrutura requerem uma coordenao supra-setorial para captar externalidades, articular sinergias, coibir interaes perversas e dar soluo comum a problemas de financiamento, planejamento, tecnologia, montagem de sistemas de informao para gesto, controle, fiscalizao e o uso mais adequado e sustentvel dos recursos naturais.

Os nveis do avano institucional e do marco regulatrio so muito diferentes, dependendo do setor de infra-estrutura considerado, sendo mais avanado nos setores de energia e comunicaes, e ainda embrionrio no setor de transportes de carga e urbanos. Em conseqncia, so muitos os vazios institucionais e as disfunes que precisam ser corrigidos.

A regulao exige estudos prvios, j realizados nos setores de energia e comunicaes, e que orientaram a regulao setorial, mas ainda no realizados, inteiramente, nos setores de transportes de carga e urbanos.

No plano da gesto, o desempenho dos diversos rgos bem varivel. A tendncia geral tem sido a da terceirizao dos servios. O grande problema que essa terceirizao no se tem feito acompanhar por reformas administrativo-institucionais para um gerenciamento eficiente dos servios contratados, de forma que sua eficincia no est garantida.

Do ponto de vista ambiental, tm-se verificado avanos no trato das questes, mas a postura dos rgos tem sido mais reativa do que proativa.

Aes e recomendaes

Integrar o planejamento regional como parte explcita do planejamento para o desenvolvimento sustentvel do pas, visando reduo das desigualdades regionais e intra-regionais, e integrando programas e projetos, s diretrizes e aos parmetros de mbito nacional.

Planejar a infra-estrutura de forma integrada, dentro das diretrizes que compatibilizem a vocao exportadora com os interesses do mercado interno, em funo da promoo do desenvolvimento sustentvel orientado para a integrao nacional.

Efetuar uma avaliao crtica das polticas regionais, inclusive dos incentivos fiscais, em execuo no Brasil, com o objetivo de adapt-las a planos coerentes de desenvolvimento sustentvel dentro de uma lgica microrregional ou mesorregional.

Implantar projetos de infra-estrutura levando em conta as especificidades - potencialidades e fragilidades - do territrio, evitando impactos ambientais negativos mediante adoo de alternativas tecnologicamente mais sustentveis.

Reforar o papel do planejamento de longo prazo da infra-estrutura, indicando as instncias executivas responsveis por planejamento, regulao, etc.

Instituir mecanismos que garantam transparncia na contabilidade ambiental de projetos de infra-estrutura, pela apropriao de seus custos diretos e indiretos, correntes e de capital, passados e futuros, neles incluindo os passivos ambientais.

Priorizar o aumento da eficincia e da conservao de energia, a promoo da intermodalidade no transporte, o planejamento integrado do transporte interestadual e urbano.

Promover a universalizao do acesso a energia e comunicao como forma de aplicao do princpio da sustentabilidade na promoo da infra-estrutura.

Incorporar a dimenso ambiental nos processos de elaborao de planos e projetos, em especial nos macroeixos de integrao e desenvolvimento, no s como restries, mas tambm como oportunidades de investimentos.

Definir com maior clareza o papel das agncias reguladoras e aperfeioar seu poder arbitral e seus processos de regulao, permitindo inclusive a participao dos cidados no processo de acompanhamento e controle, garantindo a transparncia das aes e dos custos envolvidos, bem como da relao entre o pblico e o privado.

Implementar a interligao entre os macroeixos de integrao e de desenvolvimento de forma a fortalecer seu papel indutor de desenvolvimento e impedir a fragmentao econmica, social e poltica do espao nacional.

Respeitar, na reformulao do sistema institucional de incentivos fiscais, o princpio constitucional da subsidiariedade, as questes federativas e as atribuies regionais, estaduais e municipais.

Criar um frum nacional com ampla participao das agncias regionais de desenvolvimento, entidades de desenvolvimento regional, rgos municipais, estaduais, federais e representantes da sociedade civil, para discutir e avaliar a forma de adequar os fundos regionais para serem gerenciados pelas novas agncias.

Criar um suporte de infra-estrutura e instrumentos de atrao locacional em cidades de mdio porte, evitando a repetio de experincias negativas e de erros de planejamento urbano observados no desenvolvimento das metrpoles.

Elaborar um plano diretor nacional de transporte de passageiros a longa distncia, para a viabilidade de programas e projetos de criao e desenvolvimento dos transportes ferrovirio e martimo de passageiros, bem como programas destinados segurana rodoviria e reduo de acidentes.

Objetivo 4

Energia renovvel e a biomassa

A energia o fator essencial de promoo do desenvolvimento. pela capacidade de gerar e consumir energia que se mede o nvel de progresso tcnico de uma civilizao. Nos ltimos duzentos anos, o desenvolvimento industrial teve como fonte de energia bsica o carvo e o petrleo, altamente poluentes e no-renovveis e que so hoje os grandes responsveis pelo efeito estufa.

No resta dvida de que precisamos construir urgentemente alternativas ao uso do petrleo. Caminhamos para um modelo energtico diversificado, mais limpo e renovvel. O Brasil tem uma matriz energtica eminentemente limpa, no que diz respeito eletricidade: mais de 95% dela provm de fontes hdricas. No entanto, como se viu em 2001, essa configurao deixa o pas vulnervel, dependente das condies meteorolgicas.

preciso considerar que a participao das fontes renovveis na oferta interna de energia, embora decrescente, ainda permanece alta, tendo passado de 62%, em 1990, para 58% em 2000. Para que no haja retrocesso na matriz energtica do pas, preciso investir nas energias renovveis, pensando sempre no atendimento das necessidades regionais e na promoo do seu desenvolvimento sustentvel.

O Brasil tem a valiosa experincia do Pr-lcool, nico programa bem-sucedido, no mundo, de substituio em larga escala dos derivados de petrleo. O biodiesel e as misturas de combustveis, que usam derivados de soja, podem diversificar e tornar mais limpa a matriz energtica brasileira. Tambm o dend, o babau, a mamona e diversas espcies nativas so fontes potenciais de combustvel. A energia de biomassa a partir de bagao de cana, rejeitos de serrarias e lenha, em combusto direta ou em gaseificao, so fontes renovveis de energia e permitem dar um uso econmico a rejeitos que muitas vezes so simplesmente incinerados.

Algumas regies do Brasil apresentam grande potencial para a produo de energia elica e diversas empresas vm investindo no ramo. O uso de energia solar est se expandindo, seja a fotovoltaica seja a solar trmica. Esse crescimento deve continuar considerando o potencial que existe no Brasil e sua capacidade de atender a demandas descentralizadas. Uma fonte no-renovvel, abundante em nosso pas, o gs natural, que vem contribuindo cada vez mais para a composio da matriz energtica brasileira.

O desafio que se apresenta integrar todas essas opes para garantir, de modo sustentvel, o suprimento de energia necessrio. No basta, porm, aumentar o suprimento energtico em bases cada vez mais limpas. preciso aumentar a eficincia no seu uso e na sua conservao.

Aes e recomendaes

Tratar como prioridade o incentivo ao uso eficiente e conservao de energia, que podem apresentar resultados mais rpidos, mais baratos e mais racionais que o aumento da oferta. O racionamento imposto pela escassez de chuvas no ano de 2001 mostrou que a sociedade e as empresas esto dispostas a cooperar.

Retomar a funo de planejamento de curto, mdio e longo prazos, para o setor energtico, por meio de um debate amplo, permanente e transparente sobre os planos de expanso para o futuro, inclusive introduzindo nas discusses a busca de alternativas sustentveis atual estratgia de consumo e uso de energia.

Desenvolver e incorporar tecnologias de fontes renovveis de energia, considerando sempre as disponibilidades e as necessidades regionais.

Reestruturar o Pr-lcool e desvincul-lo dos interesses do velho setor sucro-alcooleiro, propiciando sua reconverso.

Prover recursos financeiros e humanos para a pesquisa e desenvolvimento de opes para produo de energia renovvel.

Priorizar o uso de fontes alternativas renovveis, notadamente no meio rural e nas localidades urbanas isoladas, promovendo a universalizao do acesso ao uso de energia eltrica.

Objetivo 5

Informao e conhecimento para o desenvolvimento sustentvel

O conhecimento e a tecnologia tm sido o alicerce de todas as civilizaes e culturas. O que diferencia a nossa poca das demais a quantidade e a qualidade das inovaes geradas, o ritmo com que se propagam, e a forma como a sociedade as assimila no campo da cincia, da tecnologia, da cultura e dos servios. Com o volume de conhecimento multiplicado por milhes de vezes desde a Grcia Antiga, especialmente nas ltimas dcadas, o seu valor cada vez maior.

Conhecimento poder, entendido no como forma de dominao, mas como possibilidade de fazer. Levando em conta a universalidade do saber, prioridade mxima inserir o Brasil na linha de frente da produo cientfica e tecnolgica de atualidade mundial. Isso significa tambm ocupar nichos competitivos associados a oportunidades e vocaes nacionais ou regionais.

O Brasil tem obtido resultados expressivos nas reas cientfica e cultural, e merecido especial destaque dentre os demais pases em desenvolvimento. No entanto, o que chama a ateno o fato de que produzimos mais cincia do que somos capazes de transform-la em inovao tecnolgica, ou seja, publicamos mais estudos cientficos de nvel internacional do que registramos patentes.

Isso se deve, em boa parte, a pouca tradio das empresas brasileiras que, no ciclo ureo do desenvolvimento nacional, no necessitaram de esforo tecnolgico para assegurar sua competitividade, garantida pela mo-de-obra barata, pelos subsdios estatais e pela explorao predatria dos recursos naturais. O pas limitou-se a absorver ou, em alguns casos, a aperfeioar as inovaes geradas nas economias desenvolvidas.

Outro problema estrutural refere-se aos baixos nveis mdios de educao dos trabalhadores brasileiros, em parte compensada pela elevada qualificao da produo cientfica, mas que funciona desvinculada das necessidades do processo produtivo. Para superar tais impasses, entrando na era da globalizao tecnolgica, preciso consolidar ilhas nacionais de competncia que nos permitam competir com outros pases de maneira crescente.

fundamental, para o xito da promoo do desenvolvimento sustentvel, que a educao para a cincia e a tecnologia perpasse todos os nveis do ensino. O conhecimento cientfico e tecnolgico parte integrante do conhecimento do cotidiano e da formao de cidados. Privar algum de conhecimento cientfico e tecnolgico significa excluir um cidado de um processo de amadurecimento essencial para sua evoluo pessoal e sua insero no mercado de trabalho.

Especial ateno deve ser dada ao chamado conhecimento tradicional, a partir do qual possvel desenvolver pesquisas importantes, especialmente nas reas relacionadas biologia e medicina.

Aes e recomendaes

Prover incentivos, inclusive financeiros, para as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento sustentvel, especialmente nas reas em que o Brasil j tem investido e em outras que possui vocao natural conferida por sua base de recursos naturais.

Promover a alfabetizao cientfica e tecnolgica em todos os nveis do ensino, estimulando, inclusive por meio da mdia, a curiosidade e o desejo de saber sempre mais.

Assegurar a adequada formao e capacitao de recursos humanos em cincia, tecnologia e inovao para o desenvolvimento sustentvel, considerando as especificidades e necessidades regionais.

Democratizar a distribuio dos recursos humanos em cincia e tecnologia no espao regional brasileiro e envolver diretamente os centros de pesquisas e as universidades, assim como os fundos setoriais, na promoo e na execuo dos planos de desenvolvimento sustentvel regionais, mesorregionais e microrregionais.

Prover recursos financeiros e materiais para a manuteno de pesquisadores e cientistas no Brasil.

Fortalecer os mecanismos de educao para a cincia e tecnologia e de disseminao da informao cientfica e tecnolgica para o desenvolvimento sustentvel, promovendo integrao entre os produtores do conhecimento e seus usurios.

Incorporar, nas avaliaes de projetos e outras iniciativas de C&T, os conceitos e as diretrizes do desenvolvimento sustentvel, em adio aos j utilizados, tais como qualidade, relevncia e mrito.

Promover a gerao e a disseminao de conhecimentos sobre a utilizao sustentvel dos recursos naturais renovveis e no-renovveis.

Estimular a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias e prticas de produo agrcola sustentveis, buscando associar aumento de produtividade com formas de produo apoiadas em tcnicas que contemplem a conservao e a reconstituio da diversidade biolgica.

Fortalecer o desenvolvimento tecnolgico e apoiar a utilizao de fontes energticas alternativas que sejam ambientalmente seguras e limpas, de forma a ampliar sua participao na matriz energtica brasileira.

Buscar maior integrao entre os setores pblico e privado nos investimentos de P&D, buscando assegurar o uso desses recursos para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas e poupadoras de recursos naturais.