acesso aberto à informação científica - políticas e iniciativas governamentais

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Inf.Inf., Londrina, v. 14, n. 2, p. 100-116, jul./dez. 2009 100 ACESSO ABERTO À INFORMAÇÃO CIENTÍFICA: POLÍTICAS E INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS 1 ACCESO ABIERTO A LA INFORMACIÓN CIENTÍFICA: POLÍTICAS E INICIATIVAS GOBERNAMENTALES Terezinha Elisabeth da Silva – [email protected] Doutora em Multimeios pela Unicamp. Professora Adjunto da Universidade Estadual de Londrina Adriana Rosecler Alcará – [email protected] Doutoranda em Avaliação em Psicologia Educacional pela Universidade São Francisco. Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina. Professora Assistente da Universidade Estadual de Londrina Resumo Trata das políticas de acesso aberto à informação científica e das propostas de ação com ênfase para as iniciativas governamentais em diferentes países. Descreve as recomendações da Unesco e da IFLA. Identifica as principais iniciativas, ações e recomendações internacionais. Finaliza evi- denciando peculiaridades de áreas e de formas de tratamento da questão nas políticas já estabe- lecidas. Palavras-chave Acesso Aberto. Informação científica. Políticas de Informação. 1 INTRODUÇÃO Desde que na década de 1990 vieram à tona as primeiras iniciativas formais e organizadas – em associações, alianças, coalizões – em torno do acesso aberto, não param de crescer os tra- balhos e esforços dessas organizações em prol da “filosofia aberta” (COSTA, 2007). Entretanto, é sabido que, se nas organizações não-governamentais – em especial aquelas que integram pes- quisadores – o movimento recebe adesões imediatas, no âmbito governamental o que se percebe é uma demora no estabelecimento de infraestrutura física, administrativa e, principalmente, legal que propicie a efetiva aplicação das recomendações emanadas de vários encontros e eventos em nível mundial. 1 Versão modificada de comunicação oral apresentada no IX Enancib, em 2008.

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Trata das políticas de acesso aberto à informação científica e das propostas de ação com ênfasepara as iniciativas governamentais em diferentes países. Descreve as recomendações da Unescoe da IFLA. Identifica as principais iniciativas, ações e recomendações internacionais. Finaliza evidenciando peculiaridades de áreas e de formas de tratamento da questão nas políticas já estabelecidas.

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  • I n f . I n f . , L ond r i n a , v . 1 4 , n . 2 , p . 1 0 0 - 11 6 , j u l . / d e z . 2 0 09 100

    ACESSO ABERTO INFORMAO CIENTFICA:

    POLTICAS E INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS1

    ACCESO ABIERTO A LA INFORMACIN CIENTFICA: POLTICAS E INICIATIVAS GOBERNAMENTALES

    Terezinha Elisabeth da Silva [email protected] Doutora em Multimeios pela Unicamp.

    Professora Adjunto da Universidade Estadual de Londrina

    Adriana Rosecler Alcar [email protected] Doutoranda em Avaliao em Psicologia Educacional pela Universidade So Francisco.

    Mestre em Educao pela Universidade Estadual de Londrina. Professora Assistente da Universidade Estadual de Londrina

    Resumo

    Trata das polticas de acesso aberto informao cientfica e das propostas de ao com nfase para as iniciativas governamentais em diferentes pases. Descreve as recomendaes da Unesco e da IFLA. Identifica as principais iniciativas, aes e recomendaes internacionais. Finaliza evi-denciando peculiaridades de reas e de formas de tratamento da questo nas polticas j estabe-lecidas.

    Palavras-chave

    Acesso Aberto. Informao cientfica. Polticas de Informao.

    1 INTRODUO

    Desde que na dcada de 1990 vieram tona as primeiras iniciativas formais e organizadas

    em associaes, alianas, coalizes em torno do acesso aberto, no param de crescer os tra-

    balhos e esforos dessas organizaes em prol da filosofia aberta (COSTA, 2007). Entretanto,

    sabido que, se nas organizaes no-governamentais em especial aquelas que integram pes-

    quisadores o movimento recebe adeses imediatas, no mbito governamental o que se percebe

    uma demora no estabelecimento de infraestrutura fsica, administrativa e, principalmente, legal

    que propicie a efetiva aplicao das recomendaes emanadas de vrios encontros e eventos em

    nvel mundial.

    1 Verso modificada de comunicao oral apresentada no IX Enancib, em 2008.

  • Acesso aberto informo cientfica: polticas... Terezinha E. da Silva, Adriana R. Alcar

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    Criada em 1999, na Conveno de Santa F (EUA), a Open Archives Initiative (OAI), de-

    fine os princpios bsicos do acesso aberto produo cientfica. A partir desse marco, importan-

    tes declaraes de apoio ao acesso aberto promoveram a disseminao dessa filosofia, como por

    exemplo, as declaraes de Budapeste, Bethesda e Berlin.

    A Budapeste Open Access Initiative (BOAI)2 foi criada em fevereiro de 2002, a partir da re-

    unio promovida pelo Open Society Institute (OSI), da Soros Fundation, com o propsito de anali-

    sar como as iniciativas isoladas poderiam trabalhar conjuntamente e como o OSI e as demais fun-

    daes poderiam utilizar de forma mais efetiva seus recursos para contribuir com o acesso aberto.

    A declarao recomenda duas estratgias auto-arquivamento e o acesso aberto aos peridicos.

    Em abril de 2003 ocorre uma reunio no Howard Hughes Medical Institute, da qual origina

    a Bethesda Statement on Open Access Publishing,3 com o objetivo de estimular a discusso do

    acesso aberto na comunidade de pesquisadores da rea biomdica, e ainda de delinear princpios

    para obter apoio formal das agncias de financiamento, sociedades cientficas, editores, bibliote-

    crios e pesquisadores para publicao dos resultados das pesquisas cientficas.

    A Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities,4 de

    outubro de 2003, foi estabelecida por representantes de importantes instituies cientficas euro-

    pias, entre elas a Sociedade Max Planck (Alemanha)5 e o Centre National de la Recherche Sci-

    entifique (CNRS), da Frana. Baseada e de acordo com as declaraes de Budapeste e Bethes-

    da, a Declarao de Berlin recomenda, dentre outras coisas, o incentivo aos pesquisadores para

    que publiquem seus trabalhos dentro da filosofia do acesso aberto. Refora tambm a ne-

    cessidade de avaliao da produo disponvel em acesso aberto, visando assegurar os padres

    de qualidade.

    Essas iniciativas fizeram com que o movimento de acesso aberto informao cientfica

    ganhasse propores mundiais e recebesse apoio de diferentes organizaes que tm o objetivo

    de conscientizar universidades, pesquisadores e demais produtores de informao cientfica a

    inserirem-se nessa nova filosofia.

    Observa-se que as iniciativas em favor do acesso aberto encontram um ponto nevrlgico e

    de difcil soluo: as polticas de informao. A inteno deste artigo verificar o andamento das

    iniciativas polticas em nvel internacional a partir de duas fontes cronolgicas que listam eventos

    acerca do movimento de acesso aberto: 1) a Timeline of the Open Access Movement, de Peter

    Suber; 2) Le libre accs linformation scientifique et technique, mantido pelo INIST/CNRS. Des-

    sas duas fontes foram destacadas as iniciativas mais significativas, principalmente as governa-

    mentais, que foram sistematizadas por pases. Cada um desses agrupamentos foi detalhado e

    2 http://www.soros.org/openaccess/read.shtml 3 http://www.earlham.edu/~peters/fos/bethesda.htm 4 http://oa.mpg.de/openaccess-berlin/berlindeclaration.html 5 http://www.mpg.de

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    descrito a partir outras fontes que forneceram mais informaes a respeito das iniciativas mencio-

    nadas.

    importante destacar a variao terminolgica concernente s iniciativas de acesso aber-

    to. Muitas vezes, acesso aberto (open access), arquivos abertos (open archives) e acesso livre

    (free access) informao aparecem como sinnimos; tecnicamente no so. Entretanto, como

    no sero tratadas de questes relativas interoperabilidade, coleta de metadados, dispo-

    nibilidade de textos integrais e acesso e uso de informaes, ao longo deste texto ser utilizada a

    expresso acesso aberto para representar aqueles trs aspectos, fundamentais na implementa-

    o de sistemas de compartilhamento de informao que aderem filosofia aberta.

    Os resultados aqui apresentados agregam-se a outras pesquisas do projeto de pesquisa

    Gesto da Informao da Produo Intelectual da Universidade Estadual de Londrina, de-

    senvolvido no Departamento de Cincia da Informao dessa Universidade, financiado, em parte,

    com recursos do CNPq.

    2 UNESCO E IFLA: INCIATIVAS SUPRANACIONAIS

    Desde o final da dcada de 1990 a UNESCO se integrou defesa do acesso aberto por in-

    termdio de declaraes, programas e financiamentos especficos para a implantao de aes.

    Em 1999, na Conferncia Mundial do International Council of Science (ICSU) de Budapeste, foi

    signatria da Declaration of Science and the Use of Science Knowledge,6 que contem 46 itens de

    consideraes e recomendaes em torno da relao entre comunidade cientfica e sociedade e a

    importncia da informao e do conhecimento cientfico nessa relao.

    A UNESCO e a IFLA tornaram pblico, em 2006, o IFLA/UNESCO Internet Manifesto Gui-

    delines, como meio de implementao das recomendaes do IFLA Internet Manifesto (2002). Em

    2007 a UNESCO assina a Declarao de Cronenberg (Kronberg Declaration on the Future of

    Knowledge Acquisition and Sharing).7

    Publicado pela UNESCO em abril de 2008, o livro Open access to knowledge and informa-

    tion: scholarly literature and digital library initiatives; the South Asian scenario,8 de Anup Kumar

    Das, mostra o cenrio das iniciativas de acesso aberto no sul da sia, listando e descrevendo pe-

    ridicos de acesso aberto, coleta de metadados, repositrios institucionais. Segundo o prembulo,

    o livro pode ser considerado como fonte oficial para o desenvolvimento de acesso aberto na re-

    gio (JOSIAH, 2008), e, por conseguinte, para regies com caractersticas similares e pases

    emergentes de modo geral.

    6 http://www.unesco.org/science/wcs/eng/declaration_e.htm 7 http://portal.unesco.org/ci/en/files/25109/11860402019Kronberg_Declaration.pdf/Kronberg%2BDeclaration.pdf 8 http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001585/158585e.pdf

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    Como iniciativa da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA),

    ressaltamos a Declarao da IFLA sobre o acesso aberto literatura acadmica e documentao

    de pesquisa, publicada em dezembro de 2003. O documento evidencia que o amplo acesso aber-

    to literatura cientfica imprescindvel para a compreenso do nosso mundo e para a identi-

    ficao de solues aos desafios globais e, particularmente, para a reduo da desigualdade de

    acesso informao. Alerta que o acesso aberto garante a integridade do sistema de comunica-

    o cientfica, j que assegura que todos os resultados de pesquisa estaro disponveis perma-

    nentemente para o irrestrito exame e, quando relevantes, elaborao ou refutao (IFLA, 2003).

    O documento da IFLA destaca ainda o reconhecimento do papel desempenhado por todos

    os atores autores, editores, bibliotecas e instituies envolvidos no processo de registro e dis-

    seminao da pesquisa e define a adoo dos seguintes princpios do acesso aberto: a) o reco-

    nhecimento e a defesa dos direitos autorais, em especial dos direitos de atribuio e integridade;

    b) a adoo do processo de reviso por pares, visando assegurar a qualidade da literatura aca-

    dmica, independente da forma de publicao; c) a oposio censura governamental, comercial

    ou institucional das publicaes originadas de pesquisas e bolsas de estudos; d) a disponibiliza-

    o em formato de domnio pblico de toda a literatura acadmica e documentos de pesquisa a-

    ps a expirao do copyright determinado pela lei; e) a implementao de medidas para superar a

    desigualdade de acesso informao; f) o apoio s iniciativas que promovem o desenvolvimento

    de modelos de publicao de acesso aberto sustentveis; e g) a implementao de mecanismos

    legais, contratuais e tcnicos para assegurar a preservao e a disponibilidade perptua, usabili-

    dade e autenticidade de toda a literatura acadmica e documentao de pesquisa (IFLA, 2003).

    3 ESTADOS UNIDOS

    Peter Suber (2006) pontua as dez principais iniciativas relativas ao acesso aberto nos Es-

    tados Unidos, destacando, dentre elas, os j histricos ArXiv, The Public Library of Science

    (PLoS), a liderana do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Hewlett-Packard no de-

    senvolvimento do DSpace. Fundamentais tambm na defesa do acesso aberto so algumas orga-

    nizaes cujas aes definiram os rumos das polticas pblicas (governamentais) nos Estados

    Unidos e mesmo em nvel mundial. Neste caso, no se pode omitir a atuao da Scholarly Publi-

    shing and Academic Resources Coalition (SPARC), da Alliance for Taxpayer Access (ATA), do

    Open Access Working Group (OAWG) e do Public Knowledge (PK).

    Ainda que emanadas de organizaes no-governamentais, as derivaes dessas inicia-

    tivas foram fundamentais para que o governo americano se sensibilizasse para a importncia do

    acesso aberto. Suber (2006) pontua que a lio que os Estados Unidos podem dar aos outros

    pases que os governos que considerarem a obrigatoriedade do acesso aberto s pesquisas

    financiadas por verbas pblicas enfrentaro muitos lobbies dos editores e precisam se organizar,

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    informar e buscar embasamento na defesa do acesso aberto de forma a responder as objees e

    assim educar quem elabora as polticas a respeito.

    A iniciativa de maior visibilidade nos Estados Unidos foi a definio e o estabelecimento

    formal de uma poltica governamental de obrigatoriedade de depsito no repositrio de acesso

    aberto, PubMed Central (PMC), de todo resultado de pesquisa financiada pelo National Institute of

    Health (NIH).9 A lei que determina o procedimento foi assinada pelo presidente George W. Bush

    em 26 de dezembro de 2007. Tramitou por trs anos, desde que, em 2004, o Congresso Ameri-

    cano solicitou que o NIH desenvolvesse uma poltica de obrigatoriedade de depsito em reposit-

    rios de acesso aberto.

    Os 561 peridicos listados no site do NIH10 resultam de esforos de representantes de v-

    rios segmentos da sociedade americana, como os 25 prmios Nobel que foram signatrios de

    uma carta aberta ao Congresso Americano em favor do acesso aberto aos resultados de pesqui-

    sas financiadas pelo NIH.11 O NIH possui hoje os meios para promover o acesso s pesquisas

    financiadas pelos contribuintes, por intermdio da Biblioteca Nacional de Medicina. A partir da

    aprovao da proposta pelo Congresso, os financiados pelo NIH ficam obrigados a fornecer Bi-

    blioteca uma cpia eletrnica da verso final de seus trabalhos aceitos para publicao em peri-

    dicos cientficos, aps a reviso pelos pares (AN OPEN..., 2005).

    A Association of Research Library (ARL) que congrega 124 bibliotecas de instituies de

    pesquisa americanas , juntamente com outras organizaes no-governamentais, engajou-se na

    busca de abertura de acesso para a informao produzida no mbito governamental, por interm-

    dio do Federal Depository Library Program e do incentivo liberdade de informao e ao acesso

    s pesquisas financiadas pelos fundos pblicos (ASSOCIATION OF RESEARCH LIBRARY,

    2009).

    Criada em 2004 no seio do SPARC e inspirada pelos princpios da BOAI, a Alliance for

    Taxpayer Access (ATA), agrega 97 instituies representativas de associaes cientficas, de

    pesquisadores e cidados americanos que se uniram em favor do acesso aberto e irrestrito aos

    resultados de pesquisas financiadas pelos rgos governamentais, uma vez que as barreiras cria-

    das pelas assinaturas limitam o acesso do contribuinte americano s pesquisas financiadas com

    fundos pblicos (ALLIANCE FOR TAXPAYER ACCESS, 2009). O acesso do contribuinte (taxpa-

    yer access) a essas pesquisas deve ser livre de qualquer custo, porque elas so, de fato, financi-

    adas pelos contribuintes (taxpayer-funded).

    9 http://www.nih.gov 10 http://publicaccess.nih.gov/journal_list.txt 11 Em maio de 2008, ms do incio efetivo da poltica de obrigatoriedade, j havia 355 peridicos listados no site do NIH.

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    No mbito da National Science Foundation (NSF),12 o Office of Cyberinfrastructure, vem

    realizando, desde 2005, vrios encontros de seu Comit Consultivo, com o objetivo de discutir a

    situao da infraestrutura para pesquisa em cincia e tecnologia nos Estados Unidos, incluindo o

    acesso informao e a gesto dos conjuntos de dados digitais. As aes do incluem: a) promo-

    o da interoperabilidade entre conjuntos de dados de vrias organizaes; b) preveno de pro-

    teo e preservao adequadas em longo prazo, estabelecendo confiabilidade desses dados; c)

    propiciar bom desempenho, promover confiabilidade e mobilidade de dados por intermdio de

    ferramentas, tecnologias e servios compartilhados; e) abrigar preferncias especficas geradas

    pelas comunidades. tambm objetivo da NSF desenvolver polticas que enfatizem o acesso a-

    berto e a gesto eficaz desses conjuntos de dados digitais, de acordo com as necessidades das

    reas de cincia e tecnologia (NATIONAL SCIENCE FOUNDATION, 2009).

    4 COMISSO EUROPEIA

    As aes desenvolvidas pela Comisso Europia em favor da filosofia aberta tm sido to

    intensas quanto os trabalhos nos Estados Unidos. Desde o incio dos anos 2000 vrios segmentos

    da CE vm realizando estudos que resultam em relatrios densos e significativos sobre o mono-

    plio das editoras comerciais, o custo crescente das publicaes e o fechamento do sistema.

    Exemplares so as iniciativas do European Bureau of Library, Information and Documenta-

    tion Associations (EBLIDA)13 e do European Research Consortium for Informatics and Mathemat-

    ics (ERCIM),14 com a publicao, respectivamente, de Statement Towards an Effective Scientific

    Publishing System for European Research (2005) e Statement on Open Access (2006), em favor

    do acesso aberto. Ambos os documentos rejeitam o modelo tradicional (comercial) de publicao

    e clamam por mudanas e por polticas que tornem acessveis os resultados de pesquisa por meio

    do depsito em repositrios digitais

    Em maro de 2006 o Study on the economic and thecnical evolution of the scientific publi-

    cation markets in Europe, aponta para os prejuzos que resulta para o sistema de informao em

    cincia e tecnologia, o modelo dominante de publicao cientfica, baseado nos oligoplios das

    editoras comerciais. O relatrio estabelece como uma das aes necessrias, a adoo, na Eu-

    ropa, de poltica de obrigatoriedade de acesso do pblico o mais rpido possvel aps a publica-

    o aos resultados das pesquisas financiadas por verbas oriundas dos cofres pblicos. Reco-

    menda ainda que os pases-membro e as instituies e associaes cientficas da Comunidade

    Europeia devem estudar a viabilidade dessa poltica e da implementao de repositrios digitais

    (EUROPEAN COMMISSION, 2006).

    12 http://www.nsf.gov 13 http://www.sub.uni-goettingen.de/frankfurtgroup/openaccess/eblida.pdf 14 http://www.ercim.org/publication/Ercim_News/enw64/ercim-oa.html

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    O Digital Repository Infrastructure Vision for European Research (DRIVER),15 lanado em

    2006, resultado desse estudo citado. Inspirado no DAREnet16 da Holanda, esse grande projeto,

    esforo conjunto da Comisso Europeia e nove instituies de pesquisa, tem o objetivo de auxiliar

    os pases da Comunidade Europeia a implementar seus repositrios digitais para promover o de-

    senvolvimento de infraestrutura de conhecimento adequada para as pesquisas da Comunidade.

    H outro importante documento, tornado pblico em fevereiro de 2007, em que a Comis-

    so Europeia declara seu compromisso com o acesso, a disseminao e a preservao de conte-

    dos digitais, enfatizando a necessidade de iniciativas que levem disseminao ampla da infor-

    mao cientfica. Prope tambm algumas aes como: a) acesso a resultados de pesquisa fi-

    nanciados pela Comunidade; b) financiamento de projetos e infraestrutura de pesquisa especi-

    almente repositrios; c) alimentao de futuros debates; d) coordenao poltica e debate poltico

    com os interessados (COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES, 2007).

    No mbito da Comunidade Europeia, vrias aes foram e vm sendo desenvolvidas. Em

    consequncia, h uma srie de declaraes em favor do acesso aberto s publicaes cientficas

    como as emanadas do prprio Parlamento Europeu. As polticas oficialmente estabelecidas den-

    tro da prpria estrutura da Comunidade so tambm cada vez mais frequentes por exemplo,

    pelo Scientific Council of the European Research Council ou o European Research Council e no

    mbito dos estados-membro do bloco.

    5 REINO UNIDO

    As discusses em torno do acesso aberto sempre estiveram presentes na agenda da co-

    munidade cientfica do Reino Unido, de onde partiram vrias iniciativas e resultados representati-

    vos das aes em prol da filosofia aberta. So exemplos disso o software EPrints, de 2000, de-

    senvolvido na Universidade de Southampton, os projetos RoMEO (Rights MEtadata for Open ar-

    chiving) e SHERPA (Securing a Hybrid Environment for Research Preservation and Access), am-

    bos criados em 2002 pelo Joint Information Systems Committee (JISC). Trabalhando com progra-

    mas de pesquisa e inovao sobre o uso de tecnologias de informao no ensino, aprendizagem

    e pesquisa, o Committee uma organizao fundamental para o desenvolvimento do acesso a-

    berto no Reino Unido, porque prope aes e d suporte s iniciativas nacionais.17

    Em razo do trabalho do JISC, outras atuaes tornaram-se factveis no Reino Unido. A-

    lm disso, ele prov os rgos legislativos e executivos, de dados resultantes de investigaes,

    subsidiando assim futuras leis e polticas oficiais regulatrias.

    15 http://www.driver-repository.eu/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1 16 http:// www.narcis.info 17 http://www.jisc.ac.uk/whatwedo.aspx

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    Em dezembro de 2003 o Science and Technology Committee do Parlamento Britnico

    (House of Commons) divulga a futura realizao de uma enquete sobre preos e acessibilidade de

    publicaes cientficas, cujo relatrio final, denominado Scientific publications: free for all? apre-

    senta 82 itens, entre evidncias sobre a situao do sistema de publicaes cientficas no Reino

    Unido e recomendaes em torno da necessidade de estabelecimento de modelos mais eficazes

    de acesso do contribuinte a essas informaes (HOUSE OF COMMONS, 2003). Na sequncia,

    um grupo de sete pesquisadores e professores das Universidades de Southampton e Loughbo-

    rough e do eScience, assinaram e tornaram pblicas as Recommendations for UK Open-Access

    Provision Policy: to UK Government Science and Technology Committee,18 em que argumentam,

    discutem aquele relatrio e propem linhas de ao em nvel governamental.

    H, efetivamente, a partir desses fatos, uma srie de declaraes, recomendaes e reco-

    nhecimento, pelos rgos governamentais do Reino Unido, da necessidade de abertura de acesso

    aos resultados de pesquisa como:

    A Scottish Declaration of Open Access (2004);

    As posies indicadas pelo documento assinado por cinco dos oito Research Councils

    UK (RCUK) (2006);

    Em 2006 o Wellcome Trust solicita que os pesquisadores por ela financiados deposi-

    tem seus trabalhos no PubMed Central (MATSUBAYASHI et al., 2006; WELLCOME

    TRUST, 2008);

    Em janeiro de 2007 o UK PubMed Central foi oficialmente indicado pelo grupo funda-

    dor um misto de organizaes governamentais e no-governamentais , como o re-

    positrio de acesso aberto, e obrigatrio, das pesquisas financiadas por elas. O repo-

    sitrio abriga quase dois milhes de artigos em textos completos, segundo dados de

    dezembro de 2009 (UK PUBMED CENTRAL, 2009).

    6 ALEMANHA

    Ocorreu na Alemanha, em 2003, uma das principais manifestaes da iniciativa de acesso

    aberto. A Declarao de Berlin, elaborada e tornada pblica em reunio promovida pela Socie-

    dade Max Planck, teve como signatrias vrias organizaes internacionais e um marco impor-

    tante para o movimento em defesa da abertura da informao cientfica.

    A iniciativa alem mais importante ocorre na Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG)

    (Fundao Alem de Pesquisa), rgo governamental que promove e financia pesquisas no m-

    bito das universidades e institutos de pesquisa do pas. Signatria da Declarao de Berlin, em

    18 http://users.ecs.soton.ac.uk/harnad/Temp/UKSTC.htm

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    I n f . I n f . , L ond r i n a , v . 1 4 , n . 2 , p . 1 0 0 - 11 6 , j u l . / d e z . 2 0 09 108

    2006 a DFG adotou uma poltica que recomenda aos pesquisadores que os resultados de pesqui-

    sas financiadas pela Fundao sejam publicados em meio digital com acesso aberto. O texto da

    poltica no obriga, apenas recomenda que os pesquisadores depositem, em repositrios espec-

    ficos, trabalhos j publicados em meios convencionais, ou publiquem em peridicos cientficos de

    acesso aberto (DEUTSCHE FORSCHUNGSGEMEINSCHAFT, 2006). Em 2007, entretanto, aes

    mais especficas foram realizadas por um programa de financiamento voltado para a expanso e

    aprimoramento de peridicos cientficos que adotassem a poltica de acesso aberto da DFG

    (SUBER, 2007).

    Tambm em 2007 a associao civil Netzwerk Freies Wissen, aproveitando-se de reunio

    do G8 em Munique, tornou pblico o documento For better development and just access to kno-

    wledge in all forms, em que aponta as inquietaes do grupo com questes relativas s restries

    de acesso a: informaes, produtos da biodiversidade, remdios, cincia, softwares. Demonstra

    tambm preocupao com as restries de uso e cpia de contedos digitais (FOR BETTER...,

    2009).

    No mbito do Parlamento Alemo (Bundesrat) h uma lei em tramitao e uma comunica-

    o, de 2007, favorvel posio da Comisso Europeia sobre a disseminao da informao

    cientfica, alm de apelo em prol do acesso aberto, rpido e o mais livre possvel a essa informa-

    o (LE LIBRE..., 2009).

    7 FRANA

    Na Frana, as iniciativas em favor do acesso livre remontam ao final da dcada de 1990, a

    exemplo do portal Revues.org,19 que rene revistas da rea de Cincias Sociais e Humanas, co-

    ordenado pelo Centre pour l'dition lectronique Ouverte (CLEO).20 Na sequencia, em 2001, o

    Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS)21 lana o repositrio multidisciplinar Hyper

    Articles en Ligne (HAL).22

    Por ser a maior e mais importante instituio de pesquisa do pas, o CNRS, por intermdio

    de seus departamentos, laboratrios e institutos, tem papel essencial nos caminhos do acesso

    aberto na Frana. Vrias iniciativas dispersas e isoladas foram descontinuadas at que o CNRS

    anunciou, no incio de 2005, a poltica oficial do rgo e a criao do Directorate for Scientific In-

    formation (DIS), medidas que evidenciam o interesse do CNRS em relao s questes do acesso

    aberto e a posio estratgica da instituio para a comunidade francesa. Ainda nesse ano, o

    CNRS, o Institut National de la Sant e de la Recherche Medicale (INSERM), o Institut National de

    Recherche Agronomique (INRA) e o Institut National de Recherche en Informatique et en Automa-

    19 http://www.revues.org/ 20 http://cleo.cnrs.fr/ 21 http://www.cnrs.fr/ 22 http://hal.archives-ouvertes.fr/

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    I n f . I n f . , L ond r i n a , v . 1 4 , n . 2 , p . 1 0 0 - 11 6 , j u l . / d e z . 2 0 09 109

    tique (INRIA) anunciaram uma poltica conjunta por intermdio da implantao de repositrios de

    resultados de pesquisas. Esses repositrios de acesso aberto contemplariam os requisitos tcni-

    cos de interoperabilidade, de modo a proporcionar maior visibilidade aos trabalhos dos pesquisa-

    dores (GRUTTEMEIER, 2006; JOLY, 2007).

    Em novembro de 2007 a Agence Nationale de la Recherche (ANR) publica uma nota re-

    querendo que todas as todas as publicaes existentes e futuras resultantes de pesquisas

    financiadas pela agncia sejam depositadas no repositrio HAL, respeitadas as regras de proprie-

    dade intelectual literria, artstica e intelectual e as regras de confidencialidade relativas s

    pesquisas (AGENCE NACIONAL DE RECHERCHE, 2007).

    8 AUSTRLIA

    Na Austrlia, a iniciativa que merece destaque a Declarao de Acesso Aberto, de res-

    ponsabilidade do Australian Research Information Infrastructure Committee (ARIIC), lanada em

    dezembro de 2004. O Committee tem o objetivo de promover o desenvolvimento de infraestrutura

    de informaes coerentes para o ensino superior australiano, por meio de sistemas de publicao

    e comunicao acadmica, visando a disseminao dos resultados de pesquisa, bem como a pre-

    servao dessas informaes.

    No que se refere ao acesso aberto, o ARIIC reconhece que as comunicaes digitais pro-

    piciam oportunidades mais eficientes e efetivas para o desenvolvimento de sistemas de publica-

    es acadmicas. Alm disso, salienta que o acesso aberto aos resultados de pesquisa reala o

    perfil das universidades e programas de pesquisas nacionais, contribuindo para o avano do co-

    nhecimento; mantm a qualidade e autoridade da publicao acadmica, sendo que a integridade

    do registro erudito de importncia crtica para qualquer evoluo e possibilita a construo de

    comunidades informadas, colaborando para a excluso das desvantagens sociais e econmicas

    (AUSTRALIAN RESEARCH..., 2004).

    De acordo com as intenes da Declarao, o ARIIC se prope a desenvolver aes para:

    construir infraestrutura para o avano do acesso aberto, como por exemplo, repositrios institucio-

    nais; estimular a conscientizao em relao aos princpios e prticas do acesso aberto; imple-

    mentar polticas pblicas que assegurem os direitos autorais no uso da informao com fins edu-

    cacionais e de pesquisa; e cooperar com o governo australiano no sentido de melhorar o acesso

    s informaes, maximizando a informao de domnio pblico (AUSTRALIAN RESEARCH...,

    2004).

    Outras organizaes australianas envolvidas com aes e iniciativas para o acesso aberto

    que podemos destacar so: a Australian National University, a Australian Government Productivity

    Commission, o Australian Research Council, o Australia's Department of Education, Science and

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    Training, o Australian Group of Eight e o Australian Partnership for Sustainable Repositories

    (SUBER, 2007).

    9 CANAD

    No que se refere s polticas de acesso aberto no Canad, salientamos a iniciativa do Ca-

    nadian Institutes of Health Research (CIRH), que em setembro de 2007, lana a poltica de acesso

    aos resultados das pesquisas. O objetivo dessa poltica melhorar o acesso s produes de

    pesquisas subsidiadas pelo CIRH e aumentar a difuso de seus resultados. De acordo com o

    CIRH, o acesso aberto possibilita o alcance de um pblico muito mais amplo, aumentando poten-

    cialmente o impacto das pesquisas, bem como a aplicao de seus resultados (CANADIAN

    INSTITUTES..., 2007).

    Vrias outras organizaes canadenses propuseram iniciativas de apoio ao acesso aberto

    informao, dentre elas, destacamos: National Library of Canadian, Canadian Library Associa-

    tion, Library and Archives Canada, Canada's Athabasca University, AlouetteCanada, Canadian

    Breast Cancer Research Alliance, Canada's Social Science and Humanities Research Council

    (SUBER, 2007).

    10 PORTUGAL

    Em Portugal a Declarao de Estoril sobre o Acesso Informao,23 lanada durante o 8

    Congresso Nacional de Bibliotecrios, Arquivistas e Documentalistas, em maio de 2004, no Esto-

    ril, reconhece e apoia as definies, objetivos e princpios do acesso aberto, tal como definidos na

    Declarao de Budapest Open Access Initiative e na Declarao de Berlim sobre o Acesso ao

    Conhecimento nas Cincias e Humanidades. Vale tambm ressaltar que na declarao os profis-

    sionais fazem uma recomendao ao governo portugus quanto obrigatoriedade da disponibili-

    zao, por meio do acesso livre, dos resultados das pesquisas financiadas com o dinheiro pblico.

    Alm disso, solicitam s universidades, laboratrios, centros de pesquisa, sociedades cientficas e

    demais organizaes que produzem, financiam ou editam literatura cientfica em Portugal, que

    elaborem polticas visando a promoo do acesso aberto (DECLARAO..., 2004).

    Outra iniciativa de Portugal o Compromisso do Minho: Compromisso sobre o Acesso Li-

    vre Informao Cientfica em Pases Lusfonos,24 proposto na 2 Conferncia sobre Acesso Li-

    vre ao Conhecimento, realizada em novembro de 2006, em Portugal. Os proponentes desse do-

    cumento comprometem-se a solicitar s instituies acadmicas e cientficas o envolvimento no

    que se refere s iniciativas no mbito do acesso aberto que visam: contribuir para aumentar o im-

    23 http://www.apbad.pt/Downloads/DeclaracaoEstoril.pdf 24 http://www.ibict.br/alemplus/arquivos/compromisso.pdf

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    pacto global da produo cientfica originada nos pases lusfonos por meio do acesso aberto,

    canalizar os esforos de pesquisa e desenvolvimento nos pases lusfonos para uma ao inte-

    grada no que tange s iniciativas de acesso aberto, bem como, sensibilizar as instituies gover-

    namentais e as agncias de financiamento para iniciativas que promovam o acesso aberto

    (COMPROMISSO..., 2006).

    De mais a mais, visando operacionalizar as propostas contidas no Compromisso do Minho,

    seus idealizadores decidiram formar um Grupo de Trabalho, com trs grandes linhas de ao: a)

    sensibilizao poltica; b) cooperao em pesquisa e desenvolvimento; e c) disseminao de in-

    formao sobre o acesso livre na comunidade lusfona.

    11 OUTRAS INICIATIVAS: CHINA, RSSIA, NDIA, BLGICA, FRICA DO SUL

    Alm das diversas iniciativas dos pases mencionados no decorrer deste trabalho, pode-

    mos ainda citar a China, a Rssia, a ndia, a Blgica e a frica do Sul que tambm vm tornando

    pblicas algumas propostas e aes.

    A China, em outubro de 2006, anunciou alguns planos para promover o acesso aberto

    informao. De acordo com o ministro de Cincia e Tecnologia desse pas poca, mais de 80%

    dos dados referentes pesquisa da China em cincia pura como matemtica terica, fsica e

    qumica estariam livremente disponveis na Internet naquele ano. O Ministro afirmava ainda que

    at 2010, a China pretende estabelecer 40 centros de dados cientficos, cobrindo 300 bases de

    dados referentes a meio ambiente, agricultura, sade humana, cincia pura, engenharia e infor-

    maes de tecnologia. Todas essas bases estaro disponveis por meio de um portal de acesso

    livre promovido pelo Ministrio de Cincia e Tecnologia (JIA, 2006).

    Na Rssia, o Central Economics and Mathematics Institute of Russian Academy of Scien-

    ces decretou que todos os seus pesquisadores devero depositar os resultados de suas pesqui-

    sas em repositrio institucional de livre acesso (CEMI..., 2008).

    De acordo com dados do Registry of Open Access Repository Material Archiving Policies

    (ROARMAP),25na ndia, a Bharathidasan University, a partir de novembro de 2006, tornou obriga-

    trio o envio da produo cientfica de seus pesquisadores para o repositrio institucional da uni-

    versidade. A Bharathidasan University acredita que o repositrio aumentar a citao de suas

    publicaes e impulsionar a colaborao na pesquisa interdisciplinar. O ROARMAP registra tam-

    bm as aes da Madurai Kamaraj University, do National Institute of Technology e do Council of

    Scientific & Industrial Research.

    Alm dessas iniciativas Suber (2007) lista, no Timeline of the Open Access Movement, ou-

    tras organizaes que manifestaram apoio ao acesso aberto informao cientfica na ndia, co-

    25 http://www.eprints.org/openaccess/policysignup

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    mo por exemplo, a Working Group on Libraries for India's National Knowledge Commission e a

    India's National Centre for Science Information.

    Em relao Blgica, os dados do ROARMAP, indicam que a Research Foundation Flan-

    ders, segue a Declarao de Berlim (2003) para a promoo de acesso aberto informao cien-

    tfica e exige que os pesquisadores que recebem subsdios para os seus estudos devem depositar

    sua produo cientfica em um banco de dados de acesso aberto ao pblico, visando um maior

    impacto e valorizao de seus trabalhos. Outra o Open Marine Archive (OMA), coodernado pelo

    Flanders Marine Institute, que disponibiliza o acesso aberto coleo digital dos trabalhos dos

    investigadores marinhos, com o objetivo de aumentar a visibilidade, distribuio e uso dos resulta-

    dos das pesquisas, bem como, melhorar a comunicao cientfica.

    Na frica do Sul podemos destacar duas iniciativas, ocorridas em 2006. A primeira diz

    respeito a um relatrio elaborado pela Academy of Science of South Africa, em maro de 2006,

    que recomenda o uso dos dois modelos de acesso aberto informao - golden road (via dou-

    rada) e green road (via verde). A segunda iniciativa ocorreu em abril de 2006, quando o Commit-

    tee on Data for Science and Technology (CODATA) publicou o relatrio do workshop in-

    ternacional, realizado em setembro de 2005, em Pretria, sobre as estratgias para o acesso

    permanente s informaes cientficas na frica do Sul, com enfoque na sade e informaes

    ambientais para o desenvolvimento sustentvel. Esse relatrio alerta para a urgncia de as insti-

    tuies africanas aderirem ao acesso aberto, promovendo o compartilhamento de dados

    (ARNOLD; ANDERSON; UHLIR, 2006; SUBER, 2007).

    12 CONSIDERAES FINAIS

    Os resultados desta pesquisa indicam que o movimento de acesso livre informao cien-

    tfica preocupao oficialmente registrada em vrios pases, embora com diferentes graus de

    desenvolvimento e diferentes formas de ao.

    Uma das diferenas diz respeito s prprias determinaes das polticas, pois algumas o-

    brigam pesquisadores e instituies pblicas de pesquisa a disponibilizarem, em acesso aberto,

    aos resultados de sua produo, enquanto outras apenas sugerem o envolvimento e a participa-

    o desses pesquisadores e instituies no movimento. Termos e expresses com significados

    prximos fazem diferena considervel na prtica das polticas. Por exemplo, um texto que ape-

    nas solicite (request, solliciter) o depsito considerado, neste caso, depsito voluntrio estar

    sempre sujeito vontade do pesquisador; outro que obrigue (mandate, demander), embora le-

    vante polmica e possa ser considerado autoritrio, resultar em aes mais efetivas.

    Este estudo evidencia ainda a presena de organizaes no-governamentais e organis-

    mos de governos que no atuam diretamente no mbito legislativo na liderana do movimento,

    impulsionando, inclusive a participao de rgos governamentais na oficializao de polticas e

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    regulamentao de leis, como o caso do IBICT no Brasil. por iniciativa do IBICT que est em

    tramitao por longo tempo, verdade um projeto de Lei (PL 1120/2007) que dispe sobre o

    processo de disseminao da produo tcnico-cientfica pelas instituies de ensino superior e

    pesquisa no Brasil, demonstrando a liderana e capacidade desse Instituto em elaborar e coorde-

    nar programas e aes de incentivo para que as instituies de ensino e pesquisa de todo o pas

    disponibilizem, por meio do acesso aberto, sua produo cientfica.

    importante destacar que, em muitos pases, as primeiras iniciativas oficiais partiram de

    instituies de pesquisa na rea mdica. provvel que isto se deva ao fato de ser esta uma das

    reas pioneiras na organizao e compartilhamento de recursos de informao em meio eletr-

    nico. Alm disso, os resultados das pesquisas da rea mdica tm, em sua maioria, grande visibi-

    lidade em razo da funo social.

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    Title Open Access to Scientific Information: governmental policies and initiatives

    Abstract

    This article discusses policies concerning the open access to scientific information and also presents some strategies emphasizing the governmental initiatives in different countries. It de-scribes Unesco's and IFLA's recommendations and identifies the main international initiatives, ac-tions and recommendations. Finally are demonstrated some peculiarities related to the areas and to the different possibilities to handle with the issues covered by the policies that are already estab-lished.

    Keywords

    Open Access. Scientific Information. Information Policies.

    Titulo

    Acceso abierto a la informacin cientfica: polticas e iniciativas gobernamentales

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    Resumen

    El artculo discute polticas referentes al acceso abierto a la informacin cientfica y tambin pre-senta algunas estrategias que acentan las iniciativas gobernamentales en diversos pases. Des-cribe las recomendaciones de la Unesco y de la IFLA. Se identifican las principales iniciativas, las acciones y las recomendaciones internacionales. Finalmente se demuestran algunas particulari-dades relacionadas con las reas y con las diversas posibilidades para dirigir con las ediciones cubiertas por las polticas que ya se establecieron.

    Palabras Clave

    Acceso abierto. Informacin cientfica. Polticas de informacin.

    Recebido em: 26.12.2009

    Aceito em: 10.02.2010