acesso a dados do sistema de justiça criminal: problemas, questões culturais e perspectivas...

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Acesso a Dados do Acesso a Dados do Sistema de Justiça Sistema de Justiça Criminal: problemas, Criminal: problemas, questões culturais e questões culturais e perspectivas perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança Pública do Centro de Estudos Econômicos e Sociais da Fundação João Pinheiro www.fjp.mg.gov.br/produtos/cees/ nesp 3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

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Page 1: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

Acesso a Dados do Sistema Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: de Justiça Criminal:

problemas, questões problemas, questões culturais e perspectivasculturais e perspectivas

Eduardo Cerqueira BatitucciEduardo Cerqueira Batitucci

NESP – Núcleo de Estudos em Segurança Pública do Centro de Estudos Econômicos e

Sociais da Fundação João Pinheiro

www.fjp.mg.gov.br/produtos/cees/nesp

3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Page 2: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

01

1) Desenvolvimento e Características do Sistema

de Justiça Criminal Brasileiro

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02

• Origem conflituosa na definição e constituição do campo da segurança pública no Brasil

• Incapacidade histórica de construção da questão como uma questão de Políticas Públicas

• Incapacidade de interlocução frente ao campo da Segurança Pública

• Incapacidade de construção do campo social de produção da Segurança Pública como um espaço inclusivo: participação de vários atores

1.1 Perspectivas Culturais

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1.2 Crise de Legitimidade1.2 Crise de Legitimidade

• Se não há interlocução, não há produção de consensos

•Mudança dos parâmetros de avaliação da atividade das organizações de segurança pública:

•A questão dos Direitos Humanos e os problemas culturais associados

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1.3 Crise Cognitiva1.3 Crise Cognitiva

• Novos personagens, novas exigências, velhas ferramentas: estagnação ou lentidão no desenvolvimento doutrinário

• Polícia Ostensiva

• Polícia Judiciária e investigação criminal

• Judiciário e o arcabouço legal

• Sistema Prisional

Page 6: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

1.4 Crise Sistêmica 1.4 Crise Sistêmica

Polícia Ostensiva

Polícia Judiciária

Ministério Público

Judiciário

Sistema Prisional

05

Page 7: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

1.5 Imaturidade do 1.5 Imaturidade do Debate Debate PúblicoPúblico

• Pouca capacidade de construção de interlocutores internos e externos ao sistema

• Indefinição doutrinária

• Falta de domínio social da questão e conseqüente indefinição ou radicalização política

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Page 8: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

1.6 Pouca capacidade de definição 1.6 Pouca capacidade de definição e implementação de e implementação de Políticas Políticas PúblicasPúblicas

• Ausência de Diagnóstico

• Ausência de Prioridades

• Ausência de Instrumentos

• Constrangimentos organizacionais, culturais, legais e sociais

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Page 9: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

2) A Questão dos Indicadores de Segurança Pública no Brasil

O que existe e o que esses indicadores mostram ?

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Page 10: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

2.1 Dados e sistemas Nacionais, Regionais e Locais: os dilemas de agregação

• Responsabilidades repartidas, problemas ampliados: federal, estadual, local

• Ciclo completo de nada: incompatibilidade como regra sistêmica

• Ausência de Diálogo cultural, simbólico, doutrinário e operacional

09

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• Registros administrativos e a realidade: Crime X Percepção do Crime:

• BO’s, Taxas de Criminalidade e Medo do Crime

• IP’s e informações qualitativas

• Judiciário e MP: formação de culpa, discurso jurídico vazio e valores estereotipados

• Ausência de “inteligência” Criminológica

2.2 Os registros e o que eles dizem

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Page 12: Acesso a Dados do Sistema de Justiça Criminal: problemas, questões culturais e perspectivas Eduardo Cerqueira Batitucci NESP – Núcleo de Estudos em Segurança

2.3 Exemplos:

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2.3 Exemplos:

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LOCAL DA OCORRÊNCIA DO HOMICÍDIO CONFORME INFORMAÇÕES DO INQUÉRITO POLICIAL

Via Pública 44 30,14Bar ou imediações do bar 23 15,75Residencia de vítima e indiciado 22 15,07Residencia da vítima ou imediações 20 13,70Residencia do indiciado ou imediações 14 9,59Local de trabalho de indiciado ou vítima 6 4,11Estabelecimento comercial 2 1,37Lazer 1 0,68Outro 13 8,90Sem Informação 1 0,68Total 146 100,00

Nº %Local da Ocorrência

Fonte: Processos arquivados no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e Dados da Pesquisa

RELAÇÃO ENTRE RÉUS E VÍTIMAS SEGUNDO DEPOIMENTO DO RÉU NAS DIVERSAS FASES DO PROCESSO

Relação entre Réus e Vítimas Nº %Conhecido 44 30,14Desconhecido 31 21,23Parente 14 9,59Relação de vizinhança 8 5,48Cônjuge/companheiro(a)/amasiado(a) 8 5,48Relação de trabalho/comercial/financeira 6 4,11Relação vinculada ao tráfico ou ao uso de drogas 1 0,68Ex-parceiro em relação amorosa 1 0,68Outro 4 2,74Sem Informação 29 19,86Total 146 100,00

Fonte: Processos arquivados no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e Dados da Pesquisa

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2.3 Exemplos:

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Abertura do Inquérito Policial

Interrogatório do Indiciado

1º Documento do Judiciário

Encerramento do Inquérito

PolicialDenúncia

Tempo Médio Decorrido em Dias

a partir do Fato2,48 22,12 278,45 304,45 403,07

Interrogatório do Réu

Sentença de 1ª Fase

Libelo Acusatório

Audiência de Juri

Acordão Final (2ª

Instância)

Tempo Médio Decorrido em Dias

a partir do Fato465,46 911,88 1180,36 1611,29 1840,28

Fonte: Dados da Pesquisa “Fluxo do crime de Homicídio no Sistema de Justiça Criminal de Minas Gerais”, Fundação João Pinheiro – financiada pela FAPEMIG – 2006.

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2.3 Exemplos:

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Processo 024_90_6696281:

No dia 17/01/1990 o réu fulano (detetive da PC) matou beltrano com tiros após ter sido agredido pelo mesmo e seus amigos. No dia do crime, réu e vítima combinaram um acerto de contas e a PMMG teria sido acionada para prender o réu, que estava armado. Também estava no local um delegado da PC, que não teria prestado atendimento à vítima e seus amigos, quando eles pediram para deter o réu até a chegada da PM. O delegado alega estar dentro da farmácia que havia no local na hora dos disparos, e que após o fato partiu em procura do réu. Como não encontrou, foi para casa telefonou para a delegacia, determinando buscas. Nesse tempo, segundo relato da PM, o réu teria sido preso e, ele, Delegado, teria dado fuga ao réu, o que ele nega. O Promotor requer, juntamente com a denúncia, a prisão preventiva do Delegado, e o juiz decide esperar o depoimento do mesmo para decidir sobre a prisão. Os assistentes da Promotoria oficiam ao juiz reafirmando a necessidade da prisão, já que o réu vinha “intimidando” os moradores do bairro. Pedem também a prisão do réu Detetive reafirmando sua má-índole e contando que o mesmo havia retirado à força a namorada menor de casa, obrigando-a a viver com ele. No dia 12/08/1994 (mais de 4 anos depois), o juiz oficia ao Desembargador Corregedor explicando a situação: antes da sentença, uma escrivã recebe uma denuncia anônima falando que o réu Detetive iria desaparecer com o processo. Ela relatou ao juiz, que mandou xerocar o mesmo e guardar. Após a sentença o processo desaparece mesmo, e depois de 06 meses de busca, as copias xerox são restauradas como autos originais. Daí o detetive dá o depoimento, e o juiz resolve oficiar ao corregedor para ambos, por fim, concordaram em decretar a sua prisão...

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2.3 Exemplos:

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“... (Defensor Público no texto de suas alegações finais) Se o acusado já se envolveu em outras ocorrências policiais, isso se deve à influencia do meio em que vive, uma Favela. (...) O local é uma Favela. Não será, dada vênia, a prisão de um habitante daquele meio de pessoas pobres e miseráveis, sofridas até, que virá diminuir ou acabar com as desavenças ali ocorridas” (processo 024_90_6915897 )

“... (Delegado em resposta a solicitações do Promotor insatisfeito com os resultados do Inquérito Policial) como é sabido e a experiência nos tem demonstrado, os acusados ou indiciados em tais crimes, quando chamados a prestarem conta de suas ações, procuram safarem-se de suas responsabilidades criminais, prestando declarações fictícias ou falsas, no intuito de defenderem-se a qualquer custo... (...) Meritíssimo Juiz; Em que pese o esforço desta unidade especializada, em esclarecer a duvidadas levantadas pelo ilustre Dr. Promotor, em sua quota de folhas 77/78, lamentavelmente, em vão, devido à persistência dos envolvidos em manterem suas afirmativas anteriores, não contribuindo para os esclarecimentos em torno da verdade dos fatos...” (processo 024_90_6767991 )

“... (Juiz, em sentença de pronúncia) O que se vê dos depoimentos é que a vítima, mulher homossexual, “sapatão”, conhecida como “Rodrigo”, era amasiada com fulana, que trabalhava para sustentá-la. (...) Fulano, ou “Tieta” esclarece, ainda, que no dia do fato estava comemorando seu noivado com uma pessoa por nome de “Moniqui”, Cleuza e Lorram, também conhecido por “Rime”. Reunião de “bichas” e “lésbicas” comemorando um inusitado noivado (...)” . (processo 024_90_6907852 )

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3. Algumas Questões 3. Algumas Questões para Reflexãopara Reflexão

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3.1 Construção do Debate Público3.1 Construção do Debate Público

• Construção de Interlocutores qualificados

• Redefinição do Campo Social da Segurança Pública:

• Redefinição Sistêmica• Redefinição Doutrinária• Redefinição Técnica e Tecnológica

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3.2 Construção da Legitimidade3.2 Construção da Legitimidade

• Adequação Cognitiva e Axiológica

• Adequação Sistêmica

• Adequação Operacional

• Adequação Informacional

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3.3 Pré - Requisitos Institucionais3.3 Pré - Requisitos Institucionais

• Perspectiva Dialógica, compromisso com valores da Cidadania e independência ideológica e mercadológica

• Para os atores do SJC:

•Consenso Sistêmico

• Consenso Axiológico

• Controle social

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3.4 Desenvolvimento de Políticas 3.4 Desenvolvimento de Políticas PúblicasPúblicas

• Investimento na produção de Diagnósticos

• Definição colegiada das Políticas

• Monitoramento e Avaliação

• Controle social

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