acerca da tolerância

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  • 8/18/2019 Acerca Da Tolerância

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    Acerca da Tolerância

    “Acerca da Tolerância” constituiu o tema desenvolvido no Seminário I (1º Semestre) do Curso de

    Licenciatura em Filosofa na !niversidade dos A"ores#

    $ o%&ectivo 'eral era o de atendendo so%re a si'nifca"o etimol'ico*conce+tual do termo e

    +ers+ectivando*o na sua conte,tuali-a"o .istrica +rivile'iar*se a sua +ro%lemati-a"o /ticacontem+orânea#

    0este +lano verifcamos ue a no"o de tolerância tem sido cada ve- mais 2reuentemente

    utili-ada com a conseuente eroso do seu sentido .avendo +or isso necessidade de defni*lo

    com maior e,i'3ncia# 4ara tal torna*se a%solutamente necessário esta%elecer limites +ara a sua

    evoca"o o%&ectiva e ri'orosa#

    Sentido etimológico de tolerância

    “Tolerância” +rov/m do latim tolerantia ue +or sua ve- vem de tolero tolerare#

     Tolero tolerare si'nifca “su+ortar” “so2rer” “manter” “+ersistir” “resistir” e “com%ater”#

     Tolerantia “corres+onde 5 ca+acidade de +ersistir nas nossas o+ini6es na vontade su+ortando a

    diversidade”#

    Conceptualização histórica

    “Tolerância” teve ori'inariamente um sentido ne'ativo consistindo na atitude de su+ortar o ue

    se considera errado ou desa'radável#

    A t7tulo de e,em+lo verifcamos ue na Anti'uidade com C7cero a tolerância no se re+ortava a

    uma realidade 27sica mas evocava uma dimenso moral * “a +aci3ncia direcionada a ualuer

    coisa ne'ativa”8 na Idade 9/dia com Tomás de Auino a tolerância era considerada a+enas

    como uma atitude de transi"o +ara o acesso dese&ável a valores su+eriores8 no :enascimentocom 0icolau de Cusa / +ers+ectivada como uma atitude interior +ro2unda8 fnalmente na

    9odernidade com ;s+inosa a tolerância / entendida como a atitude de su+ortar as di2erentes

    cren"as reli'iosas#

    < a+enas com Loc=e &á no s/c# >?II ue a tolerância 'an.a uma conota"o +ositiva como

    “resist3ncia ao ue / adverso”# A tolerância / +ers+ectivada num +lano reli'ioso na e,orta"o

    ao res+eito +or todas as reli'i6es tendo em vista uma coe,ist3ncia +ac7fca das sociedades#

    Afrma*se ento a 2/ como mat/ria de consci3ncia sin'ular na e,i'3ncia da se+ara"o entre

    ;stado e I're&a#

    ;sta nova conota"o +ositiva da “tolerância” / acentuada +or Stuart 9ill no s/c# >I> ue atrav/s

    da advocacia da li%erdade considera ue a tolerância como condi"o +ara o +luralismo de

    ideias motor do desenvolvimento das sociedades# @i- este autor ue / +orue os indiv7duos so

    ou deveriam ser so%eranos de si mesmo e +orue so todos di2erentes ue a tolerância deve

    ser uma e,i'3ncia numa sociedade %em re'ulada#

    ###

  • 8/18/2019 Acerca Da Tolerância

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    Problematização Contemporânea

    Actualmente assiste*se a uma crescente +luralidade de sentidos de “tolerância” os uais

    e,em+lifcamos evocando al'uns di2erentes autores* @avid Beds na “Introduction” a Toleration D An ;lusive ?irtue(1EE) considera ue a

    “tolerância” / “uma virtude +erce+tual +orue 2a- um com+reender o outro”8

    * Go.n Borton em “Toleration as a virtue” (1EE) di- ue “a tolerância +ressu+6e uma actividade

    intelectual deli%erada”

    * Fernando Savater +or sua ve- “ H uel en'a'ement conduit la tol/rance” em La tol/rance

    lJindiKerance lJintol/ra%le (MM1) considera ue “a tolerância / uma norma +ara viver em

    democracia”#

    * Fran"oise B/ritier em $ ;u o outro e a tolerância (1EEN) real"a ue a “tolerância” /

    mediadora essencial entre o eu e o outro8

    * Gulie Saada*Oendron em La Tol/rance (1EEE) cu&a o+inio assenta so%re uma conce+"o de

    ideia de .omem isto / “tolerância” im+lica o res+eito +elo outro e no a aceita"o das suas

    o+ini6es#

    Assim ao tentarmos com+reender a “tolerância” constatamos ue se trata de um conceito no

    s +ro%lemático mas tam%/m +arado,al na medida em ue / a%solutamente necessário de

    modo a +ossi%ilitar a coe,ist3ncia +ac7fca entre as +essoas numa ualuer comunidade mas

    tam%/m de defni"o im+oss7vel na medida em ue a no"o de “tolerância” tem de aceitar a

    +r+ria “intolerância” afnal no +odemos tolerar a intolerânciaP

    A tolerância s su%siste entre limites# A tolerância s e,iste +ara al/m do a%solutismo no

    recon.ecimento de ue nin'u/m +ossui uma verdade a%soluta e +ara au/m do indi2erentismo

    na afrma"o da .i+ocrisia de uma neutralidade /tica#

    ###

     

    Conceito de Tolerância

    0este +onto do tra%al.o o o%&ectivo / o de defnir a tolerância todavia a tolerância / +or si s

    um conceito di27cil de defnir#

    Com vista a 2acilitar a tare2a / necessário ter em aten"o a sua rai- etimol'ica# Assim verifca*

    se ue o termo tolerância vem do termo latino Tolerantia ue si'nifca a ca+acidade de +ersistir

    nas nossas o+ini6es su+ortando a diversidade# Tolerantia vem de Tolero Tolerare ue se tradu-

    +or su+ortar so2rer e com%ater entre outros termos ue +ossuem o mesmo si'nifcado#$ conceito de tolerância está relacionado com o conceito de li%erdade na medida em ue / +ela

    li%erdade ue o +luralismo se e,+ressa# $ ue si'nifca ue / a li%erdade ue +ermite a

    e,ist3ncia de várias o+ini6es#

    A tolerância direciona*se +ara a diversidade de o+inio ou se&a direciona*se +ara as o+ini6es

    contrárias 5s ue se ado+ta# @a7 afrmar*se ue a tolerância re+orta*se +ara o ne'ativo +ara o

    contrário# @esta 2orma a tolerância situa*se num +lano em ue o +luralismo / im+rescind7vel# <

    +elo +luralismo ue se transmite os valores ue se ado+ta e ao diri'ir a tolerância a outras

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    o+ini6es diri&o*a tam%/m a outros valores# 4ortanto “+luralismo e conQitos de valores c.amam

    +or tolerância”# $ +luralismo e,i'e a tolerância e esta +or sua ve- +ro+orciona o +r+rio

    +luralismo#

    A tolerância +ode ser caracteri-ada como um valor uando / ado+tada como norma como 2orma

    de a'ir# A +artir dos valores e cren"as selecionadas a tolerância / condu-ida a valores o+ostos#

    Assim a tolerância tem como +onto de +artida determinados valores enuanto ue o +onto dec.e'ada a+esar de serem considerados o+ostos aos ado+tados / tam%/m valores# Contudo

    no +odemos identifcar a tolerância com o indi2erentismo isto / com o tolerar tudo# A

    tolerância como valor tem ue ser associada a uma atitude critica a uma atitude de reQe,o# @a

    reQe,o resultará o o%&ecto da tolerância#

    $ conceito de tolerância +ode tam%/m ser considerado como “uma +osi"o ue se con2orta com

    a no afrma"o de nen.uma verdade”R ou se&a a tolerância no +ossui uma verdade

    determinada# ;la transmite uma o+inio no / a%solutista o mesmo / di-er ue ela no tem

    uma verdade ue +retende im+or# Assim a tolerância no +retende eliminar a di2eren"a at/

    +orue / +ela +r+ria di2eren"a ue ela e,iste# @esta 2orma / necessário com+reende*la como

    um meio*termo entre o a%solutismo e o indi2erentismo#

    A tolerância / uma actividade intelectual deli%erada uma ve- ue +ara evitar uma “ueda” no

    indi2erentismo reQecte so%re o seu o%&ecto &ustifca*o# A tolerância / um com+romisso racional#

    ;la re+ousa na li%erdade de consci3ncia conseuentemente +arte de uma verdade moral ou

    se&a a +artir de uma verdade direciona*se a tolerância +ara a diversidade#

    $ 2acto da tolerância 2undamentar*se na consci3ncia na verdade do indiv7duo remete*nos +ara

    a /tica das convic"6es de 4aul :icoeur# ;sta consiste no 2acto de ue a verdade do indiv7duo ser

    uma inter+reta"o uma +ers+ectiva de um determinado acontecimento ou assunto# Assim a

    verdade em causa +ossui +arte o%&ectiva de verdade e uma +arte su%&ectiva de o+inativo# A

    verdade do indiv7duo corres+onde a um meio*termo entre a e+isteme e a do,a este meio*termo

    tem o nome de atesta"o# Conclui*se ue a atesta"o / uma verdade no e+isteme ou se&a / a

    verdade do indiv7duo mas no a verdade o%&ectiva# < a +artir desta verdade individual ue oindiv7duo seleciona os o%&ectos da sua tolerância#

    4ara al/m da tolerância sur'ir como meio*termo entre o a%solutismo e o indi2erentismo ela /

    tam%/m o mediador na rela"o entre o eu e o outro# A “no"o de tolerância (sur'e) como

    mediador essencial entre esses dois +los”RU uma ve- ue +ermite a a+ro,ima"o entre eles ou

    se&a a +artir da tolerância esta%elece*se uma rela"o entre o eu e o outro# 4odemos assim

    afrmar ue “a tolerância / vista +ara ser es+ecifcamente uma virtude social isto / uma virtude

    ue no s +ro+6e mas tam%/m +romove a coeso social da comunidade”RV#

    < na rela"o entre o eu e o outro ue a tolerância se mani2esta# @este modo “a tolerância

    confrma*se com o res+eito +ela di2eren"a como recon.ecimento do outro ue s / “outro” +ela

    di2eren"a”R#

    < im+ortante re2erir ue a tolerância somente se diri'e 5 o+inio do outro e no ao +r+rio outro#Ao outro se diri'e o res+eito isto / o res+eito destina*se 5 +essoa enuanto ue a tolerância /

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    condu-ida 5 o+inio#

    “Toleramos as o+ini6es do outro mas res+eita*se a sua +essoa tanto ue ela / distinta das suas

    o+ini6es# 4odemos +ortanto res+eitar a sua +essoa sem tolerar as suas o+ini6es”RN#

    A tolerância / ento a atitude ue está “associada com o “com+reender” o outro”RW a

    tolerância uando vista como uma virtude +erce+tual +ermite uma +essoa com+reender a outra#

    Com+reender a outra como “o su&eito de certas cren"as ou como o a'ente de uma ac"o+articular”RE#

    A com+reenso do outro / +oss7vel +orue a tolerância como uma “virtude +erce+tual envolve

    uma trans2er3ncia de aten"6es em ve- de um &ul'amento”R1M ou se&a +ela tolerância .á uma

    tomada de consci3ncia da realidade +oss7vel a ser tolerada#

    4odemos res+eitar a li%erdade ue cada +essoa tem de +ossuir determinada o+inio +or/m o

    conteXdo da mesma o+inio +ode no ser o%&ecto de tolerância# < necessário a e,ist3ncia de

    crit/rios de limites de 2orma a sa%er uais as o+ini6es ue +odem ou no ser o%&ectos de

    tolerância#

    $s limites so 2undamentais +ara a +r+ria tolerância uma ve- ue eles visam +ara al/m de

    evitar uma tolerância 2ormal conservar a e,ist3ncia da tolerância# A tolerância no +ode a%arcar

    al'o ue l.e +ossa su+rimir# A tolerância s deve de%ru"ar*se so%re valores ue no destroem os

    seus +r+rios valores# A tolerância s +ode e,+ressar mediante os valores ue no a aniuilam#

    $ mesmo / di-er ue no deve e,istir tolerância uando em causa está os valores de uem

    mani2esta tolerância#

    @e 2orma a evitar uma destrui"o dos valores / necessário esta%elecer “uma comunidade de

     &u7-os morais”R11# ;sta consiste numa deli%era"o con&unta uanto aos +rinc7+ios re'uladores#

    @esta 2orma a tolerância seria mani2estada se'undo valores comuns se'undo valores

    +artil.ados +or vários mem%ros#

    Conclui*se ue a tolerância s e,iste ao resistir 5 adversidade uma ve- ue e,i'e a +ersist3ncia

    na nossa vontade nos nossos valores#

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    A Tolerância como meio termo entre indiferentismo e absolutismo

     Tal como Gean 9arc Tri'eaud nos di- em Gustice et Tolerance o +ro%lema da tolerância no +ode

    ser .o&e a%ordado nos mesmos termos ue outros tem+os# Actualmente uest6es como o

    terrorismo a%orto eutanásia clona'em dro'as entre outros nos o%ri'a a e,aminar

    criticamente auilo ue entendemos +or tolerância +ois todas as rela"6es entre os .omens

    entre o Yeu e os outrosZ se +autem +or auilo ue c.amamos de tolerância# ;la constituie2ectivamente a condi"o m7nima e 2undamental +ara a e,ist3ncia de rela"6es +ac7fcas entre as

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    +essoas e os vários +ovos de culturas di2erentes o ue muitas ve-es tem condu-ido 5 sua

    e,alta"o como valor ue deve ser res+eitado em todas as circunstâncias# 9as ual o seu

    verdadeiro sentido Será a tolerância um valor su+remo Será ue a tolerância se e,erce +ara

    com a intolerância como se tiv/ssemos ue ter +aci3ncia +ara com os intolerantes Será a+enas

    a Yaceita"o da di2eren"aZ 0o terá ela limites ;is várias uest6es de 'rande com+le,idade

    uando +rocuramos res+onder# 4or isso di- Dnos @avid Bed na sua o%ra an ilusive virtue ue atolerância / um conceito +ro%lemático e +arado,al uando tentamos defni*lo na medida em

    ue e,i'e ue se determine o seu +olo de ori'em o seu o%&ecto e o seu destinatário#

    Actualmente uando +er'untamos +elo si'nifcado de tolerância a res+osta / %via e sim+les

    ser tolerante / aceitar a di2eren"a# Isto / no seu sentido mais am+lo tradu-*se +ela Yaceita"o

    da di2eren"aZ# @este modo verifcamos ue na sua ace+"o comum a tolerância a2asta*se

    dauilo ue desi'namos +or Ya%solutismoZ o ual elimina toda a di2eren"a# 0o entanto uando

    uestionamos se devemos tolerar tudo a res+osta &á no / to %via +ois uem tudo tolera

    nada tolera / a+enas indi2erente a tudo# 4or isso o termo

    tolerância deverá manter uma euidistância ao ue c.amamos de indi2erentismo +ois no /

    sinnimo de indi2eren"a e s se cum+rirá enuanto tal se no resvalar +ara uma

    Y+ermissividade a%solutaZ# @esta 2eita a tolerância constitui o meio termo entre o a%solutismo e

    o indi2erentismo# @esde &á verifcamos dois as+ectos 2undamentais ue a tolerância enuanto

    Yaceita"o da di2eren"aZ testemun.a a ine,ist3ncia de uma verdade a%soluta e a e,ist3ncia de

    um +luralismo de ac"6es e modos de +ensar ue di2erem de .omem +ara .omem# ;videnciamos

    claramente ue actualmente somos tolerantes +or no +ossuirmos uma verdade a%soluta e +or

    sermos di2erentes uns dos outros +orue somos livres e / +ela nossa li%erdade ue afrmamos e

    reali-amos o nosso modo de ser a nossa sin'ularidade ue nos constitui8 Y/ +orue as +essoas

    so di2erentes entre si ue t3m ue ser tolerantes +ara coe,istirem +acifcamenteZR# A

    tolerância / assim 2ruto de um +luralismo e e,i'3ncia do e,erc7cio da li%erdade / +orue somos

    livres ue somos di2erentes / +or sermos di2erentes ue devemos ser tolerantes#

    a) A Tolerância como mediadora Yentre o eu e os outrosZ

     Tal como anteriormente re2erimos / +ela tolerância ue se +autem as rela"6es +ac7fcas entre o

    eu e o outro ela / e2ectivamente necessária +ara a coe,ist3ncia +ac7fca entre os .omens ue

    +or sua ve- so di2erentes entre si mas tam%/m indis+ensável +ara afrmar a identidade de

    cada .omem# Fran"oise B/rita'e di- em Yo

    ;u o outro e a TolerânciaZ ue a tolerância / mediadora entre dois +los distintos o eu e o

    outro8 a Tolerância constitui o canal de comunica"o entre o eu e o outro e / +or ela ue am%os

    se identifcam como sendo di2erentes entre si# 4or conse'uinte a tolerância im+lica o res+eito

    +ela di2eren"a isto / im+lica o recon.ecimento do outro ue s / outro +or ser di2erente# 0este

    sentido res+eitar o outro e recon.ec3*lo no si'nifca ue devemos aceitar o conteXdo das suas

    o+ini6es como sendo verdadeiras isto / a tolerância e,i'e res+eito +elo outro mas no aadeso e aceita"o das suas afrma"6es8 vivemos com o outro e +odemos ou no tolerar as suas

    afrma"6es e o+ini6es# @este modo e tal como nos di- 9ic.el :enaud Yao n7vel das rela"6es

    entre as +essoas o 2undamento da tolerância no reside no dever de aceita"o das afrma"6es

    do outro +orue as consideramos como válidas verdadeiras ou +ertinentes mas +orue se

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    enra7-am na sua li%erdade (###) / o res+eito +ela +essoa do outro ue su%&a- 5 tolerânciaZR +or

    sua ve- o res+eito consiste em +resumir na adeso do outro um elemento de li%erdade e / +ela

    sua li%erdade ue o outro adere 5s suas +r+rias convic"6es o ual res+eito atrav/s da

    tolerância# 0este conte,to ser*se tolerante no / de maneira nen.uma ser*se indi2erente +ois

    Ya tolerância s está autenticamente +resente uando no reina o indi2erentismo +ois no seio

    deste no .á nem tolerância nem intolerância +orue nem se uer .á um encontro deconvic"6esZRU# @e 2acto tem ue .aver um encontro de convic"6es +ara ue o e,erc7cio da

    tolerância +ossa ser 2eito / +orue acredito nauilo ue afrmo ue +osso res+eitar no outro

    uma convic"o di2erente no entanto isto no si'nifca ue considere como válidas as suas

    afrma"6es e ao mesmo tem+o as min.as desta 2eita verifcamos claramente ue Ya

    verdadeira tolerância / a e,+resso de uma atitude de res+eito 2ace 5 adeso livre de uma outra

    +essoa 5 sua +r+ria convic"oZRV e no na aceita"o e adeso desta +or ns#

    %) A Tolerância como virtude

    ?erifcamos assim ue a tolerância no se redu- 5 2rmula sim+lista de aceita"o da di2eren"a

    +ois nesta +ers+ectiva constitu7a*se em mera indi2eren"a# ;la no nos im+6e a o%ri'atoriedade

    de aceitarmos a di2eren"a +rota'oni-ada +elo outro a+enas e,i'e o recon.ecimento e o res+eito

    +ela adeso livre do outro 5 sua +r+ria convic"o# 4or isso a tolerância de nen.uma 2orma

    +oderá vi'orar como um valor ue deva ser res+eitado o%ri'atoriamente +ois arrastar7amos

    +ara o ue desi'namos indi2erentismo e eliminaria os demais valores ue consideramos

    2undamentais +ara a e,ist3ncia da nossa .umanidade# A tolerância +ers+ectivada como valor

    levar7amos a uma +ermissividade total isto / tudo seria +ermitido em o%edi3ncia ao valor de

    tolerância o ue de certa 2orma condu-iria 5 sua +r+ria destrui"o# 0este conte,to a

    tolerância mais no / do ue o meio termo entre indi2erentismo e a%solutismo / uma virtude

    uma dis+osi"o ue nos +ermite acol.er a di2eren"a recon.ecendo*a e res+eitando*a sem

    a%dicarmos dauilo ue consideramos ser os nossos verdadeiros valores e o ue consideramos

    se aceitável se'undo estes mesmos valores# < uma dis+osi"o ue e,i'e tomadas de decis6esfrmes e tam%/m estimula o diálo'o entre o eu e o outro +ressu+ondo uma actividade

    deli%erativa +ara tomar uma determinada ac"o ou deciso tendo sem+re em conta os nossos

    valores su+eriores e contri%uindo +ara o sur'imento e no elimina"o de novos valores# @esta

    2eita tal como nos di- @avid Bed em An elusive virtue a tolerância deve distin'uir*se de um

    com+romisso +ra'mático assim como de uma moral indi2erente#

    ?erifcamos assim claramente ue a tolerância +ressu+6e a e,ist3ncia de limites +ois sem

    limites tornar*se*ia cXm+lice do mal# Al/m do mais evidenciámos ue na sua +rática nem tudo

    toleramos# 4or e,em+lo no toleramos a mentira no toleramos a viol3ncia relativamente a

    uma +essoa nem o terrorismo nem o .omic7dio nem o a%uso se,ual em crian"as e at/ mesmo

    em adultos no entanto com tanto no tolerar nem +or isso +odemo*nos afrmar como sendo

    intolerantes# Assim sendo determinar os limites da tolerância im+lica um entendimento comumrelativamente ao ue se considera intolerável como tam%/m im+lica uma conce+"o

    antro+ol'ica +r/via#

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    Sentido de Tolerância adoptado 

    Se'undo a o+inio da Prof.ª r.ª !.ª do C"u Patrão #e$es no arti'o “Tolerância ;ntre o

    a%solutismo e o indi2erentismo morais” a tolerância / .o&e cada ve- e mais do ue nunca a

    salva"o +ara a or'ani-a"o das sociedades e +ara a +a- internacional# @everá ter lu'ar entre o

    a%solutismo e o indi2erentismo de modo a ue no +erca sentido e[ou se su+rima# A

    'lo%ali-a"o e o +luralismo +or ns +artil.ado %em como todo o ti+o de rela"6es entre o Yeu e o

    outroZ / a +rova real de ue .á uma necessidade a ser tra%al.ada D a aceita"o da di2eren"a +or

    meio de uma educa"o e,i'ente +ara com ns +r+rios#

    Assim sendo di- a autora 2u'imos ao a%solutismo +orue interessa uma aceita"o do outromas ainda .á ue ter cuidado em no aceitar tudo de uma 2orma do'mática e com

    +ermissividade a%soluta correndo o risco de se resvalar +ara o cam+o da indi2eren"a moral# “A

    tolerância s o / verdadeiramente na conQu3ncia de tr3s as+ectos distintos a desa+rova"o em

    rela"o a al'o ca+acidade de interven"o nessa realidade alterando*a e a%sten"o de o 2a-er

    em nome de valores tidos +or +re+onderantes#”R1 Ser*se tolerante / encontrar um meio*termo

    ue +ermita o relacionamento +ac7fco entre as di2erentes +essoas e ue s se cum+rirá se

    estas +or isso f-erem# A tolerância / +roduto do Y2a-er*seZ do .omem ao lon'o da sua

    a+rendi-a'em vivencial do seu +rocesso de +ersonali-a"o# Considerando ue a verdade

    a%soluta ten.a +erdido sentido e ue no .a&a uem a +ossua a Xnica atitude +oss7vel a ter /

    ser*se tolerante +ara ue .a&a uma afrma"o da identidade do eu do outro e de am%os# Afnal

    s o res+eito +ela di2eren"a / ue 2a- com ue se recon.e"a o outro como sendo YoutroZ

    di2erente de mim# ;sta virtude D a tolerância D im+lica e e,+rime uma tend3ncia ou dis+osi"o

    ue nos +ermite acol.er a di2eren"a sem a%dicar dos nossos valores e dei,a a +orta a%erta +ara

    o acol.imento de novas ideias#

    Considerando a o+inio de %ean&!arc Trigeaud' em Gustice et Tol/rance +ela ual o autor

    de2ende o re+ensar da tolerância ac.a ue esta 2oi a%usada e ue caiu em e,tremismos de

    intolerância concreta di- ue tem ue .aver limites +ara o anti'o modelo ainda em uso do “vive

    e dei,a viver”# @i- o autor ue a tolerância necessária / auela em ue devemos ter uma

    +ostura 'enericamente tolerante e ue na tolerância e,clu7da ter aten"o aos conteXdos no

    ser tolerante +ara tudo# $ maior +ro%lema da tolerância / ser vista como uma 2orma 2ormal einada+tada 5 conce+"o actual +ois &á no dá res+ostas 5s necessidades do mundo de .o&e# @e

    uma 2orma am+la a tolerância / a 2orma de e,+rimir o+ini6es e +ortanto temos ue esta%elecer

    limites e arran&ar crit/rios e +ara ue tal se&a +oss7vel na sua %ase terá ue estar sem+re a

    conce+"o da ideia de .omem s ela le'itima a tolerância 2undamentando a de2esa do valor em

    causa# 0um +rimeiro limite esta conce+"o da ideia de .omem / auela ue +rocura

    [

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    co'nitivamente a verdade da +essoa .umana e esse limite +ode a2astar a verdade inca+a- de

     &ustifcar mas no tem ue &ustifcar sem+re a verdade de al'uma 2orma so% o risco de se cair

    no do'matismo# 0um se'undo limite terá ue se ter +resente a ideia ou ima'em conce+tual ue

    se tem do .omem ao lon'o do tem+o#

    !m outro autor escol.ido terá sido %ulie Saada&(endron# A autora na introdu"o da sua o%ra La Tol/rance e cremos ue um +ouco em com+lemento do autor anterior 2a- men"o 5 conce+"o

    de ideia de .omem do ue o constitui na sua dimenso .umana# @i- a autora ue a tolerância

    tem a ver com a conce+"o moral do .omem ue .á um com+romisso entre a nossa conce+"o

    moral com a conce+"o de .omem# S assim sa%eremos o ue / admiss7vel ou no nos

     &ul'amentos ue +ossamos 2a-er# $u se&a consoante a ideia ue temos do ser .umano como

    semel.ante e como +essoa ue / maior ou menor o res+eito a dar*l.e e Gulie Saada*Oendron

    re2ere*se 5s +essoas no 5s suas atitudes ue +ara ela sero sem+re discut7veis# 4odemos

    res+eitar o outro sem contudo aceitar as suas o+ini6es so coisas distintas# Tolerar ideias no

    im+lica ue se tolere a +essoa e vice*versa# “?iver com” / uma atitude muito mais e,i'ente do

    ue tolerar e uando se “vive com” res+eita*se a+esar de no termos ue tolerar as o+ini6es#

    A tolerância no / neutralidade de valores o%ri'a a uma racionali-a"o de valores o ue /

    tolerado no constitui de 2orma al'uma um direito# $ +ermitir no uer di-er ue se tolere e

    uem tolera no uer di-er ue +ermita# $ ue / tolerado está numa -ona de sil3ncio do direito

    toleramos o ue no temos direito de decidir está no sil3ncio da lei#

    )rançoise *"ritier tam%/m 2oca a im+ortância da tolerância como mediadora essencial entre

    dois +los o eu e o outro e como um meio termo dinâmico ue a+resenta actividade entre eles#

    ;ste meio termo ue está entre o a%solutismo e o indi2erentismo &á no / estático e,iste uma

    media"o +ro,imidade e tra%al.o ou interactividade entre os +los# 0o sim+les meio*termo

    t7n.amos duas atitudes a'ora temos com a media"o duas +essoas e +ortanto torna*se

    com+letamente di2erente +orue entre duas +essoas .á como ue um canal esta%elecido entreelas esta o+inio está tam%/m em consonância com Gulie Saada*Oendron &á ue esta autora

    tam%/m nos elucidou so%re a im+ortância do res+eito entre +essoas e no atitudes#

    4ara Fran"oise B/ritier a “revolta da consci3ncia” / no 2undo uma consci3ncia moral actuante /

    a 2orma de se mostrar a criticidade e o +ensamento activo# @i- a autora ue so% a condi"o “(\)

    de ue .a&a uma tomada de consci3ncia individual e colectiva uma vontade +ol7tica

    internacional e o a+er2ei"oamento de sistemas educativos ue ensinem a no odiar 2undando*

    se em +articular na consci3ncia Yes+ontâneaZ do &usto e do in&usto na crian"a” ue +oderiam

    ser estas coordenadas a via%ili-arem uma .i+ot/tica /tica universal# A o+inio +ode*nos +arecer

    uma mistura de %oa vontade com in'enuidade mas cremos ue s atrav/s desta revolu"o

    individual e tam%/m colectiva da consci3ncia de 2orma a sensi%ili-ar o meio +ol7tico ue /

    uem no 2undo decide a ordem social ue as mudan"as a n7vel ensino +ossam criar e recriarnovos valores mais atentos e +ertinentes na sociedade#

     %usti+cação da escolha

     Tivemos o cuidado de escol.er os autores a nosso ver mais marcantes no ue res+eita 5 de2esa

    da im+ortância da consci3ncia moral como condi"o a+od7ctica de +ro'resso +ara o

    con.ecimento[recon.ecimento e enaltecimento do ser .umano como +essoa sin'ular e

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    conseuentemente como +ertencente a uma comunidade# Tentaremos e,+licar numa terceira

    +arte do tra%al.o como / necessário o recon.ecimento +ela im+ortância do outro em toda a sua

    alteridade o res+eito +or si +r+rio e dentro duma sociedade e ue tal s será +oss7vel atrav/s

    do +at.os individual ue envolve deli%era"o e dedica"o a valores (ue so tam%/m virtudes)

    mais altos D ao altru7smo ao %em e a uma ascese ue inde+endentemente de ualuer moral

    social ou /tica individual se mani2esta sem+re da mel.or 2orma desde ue .a&a a inten"o +urae mediada de os +raticar#