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    2. DOUTRINA NACIONAL

    2.1. AO MONITRIA PRIMEIRAS IMPRESSESAPS A LEI N 11.232/05 *

    RODRIGO MAZZEIProfessor da Universidade Federal do Esprito Santo UFES

    Professor do Instituto Capixaba de Estudos ICEVice-Presidente do Instituto dos Advogados do Estado do Esprito Santo IAEES

    Mestrando pela PUC SPAdvogado em Vitria-ES e Braslia-DF

    HERMES ZANETI JNIORProfessor de Processo Civil (graduao e ps-graduao) da UFES

    Mestre e Doutor pela UFRGSMembro do Ministrio Pblico-ES

    SUMRIO: 1. O perfil da ao monitria com base na Lei n 9.079/95. 2. Brevecomparativo. 3. Alterao centrada no art. 1.102-C. 4. Novo trnsito executrio (LivroI, Ttulo VIII, Captulo X, do reformadoCdigo de Processo Civil). 5. Impugnao nafasepropriamenteexecutiva: novo perfil (art. 475-L). 6. Execuo contra a FazendaPblica. Ttulo executivo obtido em ao monitria (cabimento dos embargos execuo: art. 741 do CPC). 7. Ao Monitria e a formao de ttulo para entregade coisa fungvel ou de determinado bem mvel (parte final do art. 1.102-C). 8.Referncias bibliogrficas.

    1. O perfil da ao monitria com base na Lei n 9.079/95

    Durante quase dez anos de vigncia da Lei n 9.079, de 14.07.1995, que introduziu osarts. 1.102-A, 1.102-B e 1.102-C no Cdigo de Processo Civil, houve intensa discussono mbito da ao monitria, sendo o debate doutrinrio, diante da economia dolegislador na disposio da matria, relevante para a fixao dos contornos da figura

    jurdica em comento.

    ____________________________* Os autores do presente texto so responsveis pelos comentrios ao art. 1.102-c do CPC, em obra coletiva.(OLIVEIRA, 2006), cujo foco a Lei n 11.232/05.

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    Em resenha, com o advento da ao monitria, o credor munido de prova escritamas sem eficcia executiva tem a possibilidade de ajuizar demanda de rito bemsingular, visando obter, de forma abreviada, bilhete de trnsito para adentrar na faseexecutiva, da a doutrina, a exemplo de Dinamarco (2003, p. 740), inclu-la entre oschamados processos diferenciados (tutela diferenciada em busca da maior efetividade

    processual).1Para tanto, na parte inicial da ao monitria, o ato judicante liminarpossui natureza mpar em nosso sistema processual. Com efeito, a deciso judicialliminar2, ao determinar a expedio de mandado injuntivo3, fica, em parte, como seem condio suspensiva, na medida em que seu efeito total (e final) depende de atofuturo do ru da ao monitria4, que poder: reconhecer o direito do credor (ficando

    1Vale lembrar que ao monitria est em total sintonia com as recentes reformas constitucionais da EC

    45/05, principalmente a busca pela durao razovel do processo (art. 5, LXXXVIII, CF/88).2O conceito de deciso liminarque utilizamos puramente topolgico, isto , no incio do processo, no seulimiar. No sentido, com boa pesquisa doutrinria, conra-se Neto (2002, p. 7-16). Assim, a expresso nopode ser utilizada como sinnimo de tutela de urgncia, at porque a ltima gnero da tutela de urgncialiminar, isto deferida no incio do processo. Segundo Lamy (2004, p. 39): A tutela jurisdicional ternatureza urgente quando cuidar de situaes em que determinado pronunciamento jurisdicional necessitarser proferido em curto perodo de tempo, atravs de cognio sumria, por meio de tcnicas antecipatriasou assecuratrias, dada a possibilidade de dano ao direito material envolvido.

    3A deciso que determina a expedio do mandado injuntivo, pela sua natureza muito prpria, no seencaixa com exatido em nenhum dos conceitos do art. 162 do Cdigo de Processo Civil (que tambm foialterado pela Lei n 11.232/05, em seu 1, conra-se: Art. 162. Os atos do juiz consistiro em sentenas,decises interlocutrias e despachos. 1. Sentena o ato do juiz que implica alguma das situaes previs-tas nos arts. 267 e 269 desta Lei. 2. Deciso interlocutria o ato pelo qual o juiz, no curso do processo,resolve questo incidente. 3o. So despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, deofcio ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei no estabelece outra forma. 4. Os atos meramente

    ordinatrios, como a juntada e a vista obrigatria, independem de despacho, devendo ser praticados deofcio pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessrios). H grande discusso sobre a natureza jurdicada deciso liminarque agasalha a ao monitria brasileira. Entendendo se tratar de sentena,Cruz e Tucci(2001, p. 47) arma que a positiva deciso liminarem sede de ao monitria tem [...] natureza de umaccertamento com attitudine al giudicato, em tudo idntico quele contido em uma sentena denitiva decondenao emitida ao nal de um processo comum de cognio (vide ainda, na mesma obra, p. 91, emque o autor ratica a fala inicial). Com posio assemelhada, Bermudes (1996, p. 214) entende que se cuidade [...] sentena condenatria condicional (ainda que com a forma de despacho ou deciso interlocutria)e Nery Jr. (1996, p. 229-230). Com outro raciocnio, repudiando a idia de equiparao da deciso liminarmonitria s sentenas condenatrias, Talamini (2001, p. 94) leciona: Todos os provimentos emitidos nocurso do processo e que no afastam sua continuidade excluem-se da categoria de sentena- e isso por for-a do nico critrio classicatrio existente. A denio da essncia (da ontologia) da sentena, enm,se d exclusivamente atravs do parmetro estabelecido em lei. com base nele que se pode armar que adeciso concessiva do mandado no sentena. Colhe-se posio, ainda, no sentido de que no se trata denenhum tipo de ato judicial decisrio, identicando o ato judicial que determina a expedio do mandadoinjuntivo com simples despacho. Nessa linha, Santos (2000, p. 51): O juiz no sentencia, nada decide, nosentido estrito do termo, porque a transformao do mandado em ttulo executivo, que, na verdade, nada

    mais do que o prprio ttulo injuncional, vazado em prova escrita, adquirindo executividade, ca restritaa atividade processual das partes.

    4Bem fundamentado, conra-se Macedo (1999, p. 119).

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    isento do pagamento de custas e honorrios em caso de pronto pagamento 2 doart. 1.102-C do Cdigo de Processo Civil); no apresentar defesa (embargos), no seopondo ao mandado monitrio; apresentar defesa (embargos).

    A deciso (de recepo da ao monitria) no resultar em mandado executivo,obviamente, se houver o adimplemento judicial pelo ru da obrigao reclamadaque, inclusive, recebe o prmio da iseno do pagamento de custas e honorrios. Deoutro giro, a oposio vencedora dos embargos monitria ter o condo de tornarsem efeito a deciso primitiva (que determinou a expedio do mandado injuntivo),o que, em conseqncia, neutraliza a converso em mandado executivo. De formadiversa, caso no haja pelo ru o reconhecimento do direito do credor ou no seobtenha resultado favorvel ao requerido na apresentao dos embargos, segundo os

    regramentos da Lei n 9.079/95, a deciso inicial se aperfeioaria, com a constituio,de pleno direito, dettulo executivo, atravs da converso do mandado injuntivo emexecutivo, prosseguindo-se os atos processuais no desenho contido no Livro II, TtuloII, Captulos II e IV, do Cdigo de Processo Civil (capute pargrafo terceiro do art.1.102-C).

    Com outras palavras, se o devedor no apresentar embargos ou, o fazendo, venhaocorrer a rejeio judicial da sua defesa, a pretrita deciso que aceitou a aomonitria, determinando a expedio de mandado injuntivo, consolida-seno planoda formao de um ttulo executivo judicial deixando para trs qualquer condio

    , seguindo-se (na formatao anterior ao texto da Lei n11.232/05) ao rumo picadodo Livro II, Ttulo II, Captulos II e IV, do Cdigo de Processo Civil. Sem dvida,como se pode perceber, ao monitria encarta-se no sistema processual como tutela

    diferenciada, sendo importante observar que existem particularidades que no podemser renegadas, sob pena de se vulgarizara dita vlvula legal5.

    2. Breve comparativo

    Antes de qualquer aferio mais aguda, faz-se prudente o confronto analtico entre oquadro legal anterior e o posterior Lei n 11.232/05, que, como curial, imprimiunova redao ao art. 1.102-C. Vejamos:

    5Infelizmente no foi absorvida pela jurisprudncia a arquitetura mpar da ao monitria como tutela dife-renciada, o que conspirou, ainda que involuntariamente, para resultado muito aqum do esperado no uso dagura. Prximo, com viso na problemtica, Paulo Hoffman (Monitria efetiva ou cobrana especial? Umaproposta para que o processo monitrio atinja seus objetivos), arma que pontos capitais da ao monitriamerecem ser revisitados (Repro n. 117, p. 176 et. seq.).

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    Redao anterior do art. 1.102-C do CPC(Lei n 9.079/95)

    Nova redao do art. 1.102-Cdo CPC (Lei n 11.232/05)

    Art. 1.102.c - No prazo previsto no artigoanterior, poder o ru oferecer embargos, quesuspendero a eficcia do mandado inicial. Seos embargos no forem opostos, constituir-se-, de pleno direito, o ttulo executivo

    judicial, convertendo-se o mandado inicialem mandado executivo e prosseguindo-se na

    forma prevista no Livro II, Ttulo II, CaptulosII e IV.

    1oCumprindo o ru o mandado, ficar isentode custas e honorrios advocatcios. 2o Os embargos independem de prviasegurana do juzo e sero processados nos

    prprios autos, pelo procedimento ordinrio. 3oRejeitados os embargos, constituir-se-,de pleno direito, o ttulo executivo judicial,intimando-se o devedor e prosseguindo-se naforma prevista no Livro II, Ttulo II, Captulos

    II e IV.

    Art. 1.102-C. No prazoprevisto no art. 1.102-B, poder o ru oferecerembargos, que suspendero aeficcia do mandado inicial.Se os embargos no foremopostos, constituir-se-, de

    pleno direito, o ttulo executivojudicial, convertendo-se omandado inicial em mandadoexecutivo e prosseguindo-sena forma do Livro I, TtuloVIII, Captulo X, desta Lei.

    1o - sem alterao.

    2o sem alterao

    3o Rejeitados os embargos,constituir-se-, de plenodireito, o ttulo executivo

    judicial, intimando-se odevedor e prosseguindo-sena forma prevista no Livro I,

    Ttulo VIII, Captulo X, desta

    Lei.

    3. Alterao centrada no art. 1.102-C

    Pela manuteno intacta dos arts. 1.102-A e 1.102-B, a reforma legislativa deflagradapela Lei n 11.232/05 no alterou a ao monitria na sua parte inicial, mantendo-seas mesmas regulaes para fins de obteno do ttulo executivo judicial.6 Como a

    6Em cochilo do legislador, j que poderia ter resolvido discusses doutrinria, no houve a incluso dottulo obtido na ao monitria no rol dos ttulos executivos judiciais. A leitura do art. 465-N (que revogouo art. 584 do CPC), segundo perl impostos pela Lei n 11.232/05, demonstra tal esquecimento, conra-se: Art. 475-N. So ttulos executivos judiciais: I a sentena proferida no processo civil que reconheaa existncia de obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II a sentena penal con-

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    reforma atingiu apenas parte do art. 1.102-C, v-se que a empreitada do legisladorse voltou parte executiva, ou seja, para relao processual posterior converso domandado monitrio em executivo, uma vez que, com a Lei n 11.232/05, permutou-seo caminho executrio do Livro II, Ttulo II, Captulos II e IV do Cdigo de ProcessoCivil (previsto na Lei n 9.079/95), pela trilha doLivro I, Ttulo VIII, Captulo X,introduzida pelo novel legislativo.

    4. Novo trnsito executrio (Livro I, Ttulo VIII, Captulo X, do reformadoCdigo de Processo Civil)

    Nos termos da parte final do caput do art. 1.102-C e do seu 3, qualquer que sejao motivo, ocorrendo a converso do mandado monitrio em executivo, devero ser

    seguidas na execuo com ttulo obtido em ao monitria as mesmas regras atinentesao cumprimento da sentena, na conformidade do Livro I, Ttulo VIII, Captulo X doCdigo de Processo Civil alterado pela Lei n 11.232/05.

    5. Impugnao na fasepropriamenteexecutiva: novo perfil (art. 475-L)

    No sistema anterior, havia grande discusso se a parte passiva da ao monitriapoderia opor embargos execuo. Em sntese, fixaram-se duas indagaes:

    a) O ru regularmente citado da ao monitria que, deixando passar o prazo inalbis, no apresentou embargos monitrios, teria a possibilidade de opor embargos execuo?

    b) O requerido da ao monitria que fez resistncia ao mandado injuntivo, atravs da

    defesa do caputdo art. 1.102-C, poderia opor embargos execuo?No suficiente o debate sobre a viabilidade dos embargos com ao de defesaincidental execuo iniciadana ao monitria, mesmo para aqueles que respondiam

    positivamente as questes acima, no havia posio uniforme quanto ao mbito dasmatrias que poderiam ser suscitadas no corpo dos embargos execuo. Seriahiptese de cognio plena (art. 745, CPC) ou de cognio limitada (art. 741, CPC)?7

    denatria transitada em julgado; III a sentena homologatria de conciliao ou de transao, ainda queinclua matria no posta em juzo; IV a sentena arbitral; V o acordo extrajudicial, de qualquer natureza,homologado judicialmente; VI a sentena estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justia; VII o formal e a certido de partilha, exclusivamente em relao ao inventariante, aos herdeiros e aos suces-sores a ttulo singular ou universal. Pargrafo nico. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial(art. 475-J) incluir a ordem de citao do devedor, no juzo cvel, para liquidao ou execuo, conforme ocaso. A omisso ora denunciada j foi motivo de crtica anterior, ainda sobre a gide do art. 584 do CPC,consoante reclame de Macedo (1999, p.115-116).

    7 A questo, bem intrincada, desaava discusses de grande profundidade nos Tribunais. Em exempli-cao, pode-se tirar o recente julgamento (10/01/2006) da 17 Cmara Cvel do Tribunal de Justia doRio Grande do Sul, na apelao n 70013641477, em que a Desembargadora Elaine Harzheim Macedo

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    funcionou como relatora. Da transcrio de parte do voto condutor, extraem-se os fundamentos que do asfronteiras da discusso: Cuida-se de embargos execuo baseada em ttulo executivo judicial obtido comfundamento no art. 1.102b do CPC. Vale dizer, o ttulo judicial que ampara a execuo no revestido dasmesmas caractersticas daqueles arrolados no art. 584 do estatuto processual, pois foi alcanado a partir deduas premissas bsicas: a verossimilhana de crdito documentado (no caso, cheque prescrito), conformeart. 1.102a, qual soma-se o silncio da parte demandada, conforme art. 1.102c, caput, 2 parte, ambosdo CPC. da natureza da ao monitria a obteno de ttulo executivo judicial, absolutamente apto paraautorizar a expropriao patrimonial, independentemente da ao sumria que o instrumentaliza. At a,nenhuma discusso surge, especialmente nos limites do caso concreto, mostrando-se claro e objetivo osistema processual no sentido de tutelar crditos verossmeis, aos quais o devedor no se ope na forma dalei, situao essa que se ajusta hiptese dos autos relativamente ao monitria, autos em apenso. Ape-nas com uma advertncia: o ttulo executivo o mandado judicial de . 9 dos autos, pois a ao monitriano se reveste de sentena. O que o estatuto processual no responde com preciso, permitindo, portanto,a maior e mais ampla interveno do intrprete, se essa forma sumria de obteno do ttulo executivo,

    j esgotada a pretenso monitria (que meramente a formao do ttulo), autoriza, em sede de execuo,a discusso plenria ou a discusso sumria da dvida (conceito de direito material e no processual). Adistino bipartida, assim, reconhecida desde o nascedouro de nosso cdigo, atravs de embargos sum-rios (art. 741 do CPC) e embargos plenrios (art. 745 do CPC), veio contemplada para atender a taxativapreviso dos ttulos judiciais (formados em aes de cognio plenria) arrolados no art. 584 e dos ttulosextrajudiciais (formados sem participao da atuao jurisdicional) do art. 585 do codex procedimental,tendo, portanto, inspirao e previso casustica divorciada da hiptese contemplada pelo art. 1.102b, ab-solutamente inovadora no ordenamento jurdico ptrio. A questo, por natureza controvertida, por certono encontra unanimidade nos respectivos enfrentamentos, seja na doutrina, seja na jurisprudncia. Aexemplo, o 9 Grupo Cvel deste Tribunal decidiu em maioria simples, situao anloga para permitir oamplo debate nos embargos execuo, autorizando a discusso de causas extintivas da obrigao ante-riores formao do ttulo mesmo o devedor no tendo se valido dos embargos monitria do art. 1.102c,caput, 1 parte, a saber: EMBARGOS INFRINGENTES. EXECUCAO. TITULO DECORRENTE DEMONITORIA ONDE NAO OFERTADA OPOSICAO PRELIMINAR. EMBARGOS. LIMITES. ART.745, DO CPC. 1. EM EXECUCAO DECORRENTE DE DEMANDA MONITORIA ONDE, NA PRI-MEIRO FASE, INERTE O DEVEDOR, ADMITEM-SE EMBARGOS COM DISCUSSAO PLENARIA(ART. 745, CPC). 2. INEXISTENCIA DE COISA JULGADA MATERIAL. 3. SE PARA A RELACAO

    A MONITORIA, ADMITE-SE QUESTIONAMENTO POSTERIOR ACERCA DA CLDD E EFICACIADO TITULO QUE A APARELHA, COM MAIS RAZAO PARA COM RELACAO A ESTA, QUE EMINUS, DIVERSO NAO SE HA DE CONSIDERAR. 4. CONCILIACAO DE CERTEZA JURIDICA EATE MESMO DE CELERIDADE E EFETIVIDADE DA JURISDICAO, INFORMAM O CABIMENTODE EMBARGOS PLENARIOS NA EXECUCAO DA MONITORIA CONTRA A QUAL NAO OFER-TADA OPOSICAO PRELIMINAR. EMBARGOS INFRINGENTES ACOLHIDOS, POR MAIORIA.(Embargos Infringentes N 598306942, Nono Grupo de Cmaras Cveis, Tribunal de Justia do RS, Rela-tor: Demtrio Xavier Lopes Neto, Julgado em 20/11/1998). Embora as respeitveis posies em contrrio,tem-se que, entre uma soluo alimentada por princpios processuais de natureza formal, onde prevaleamas regras procedimentais, e um processo que atenda princpios de ampla defesa e contraditrio, sem quecom isso a parte adversa se veja prejudicada (o debate, mesmo plenrio, em sede de embargos, igualmentecarece de garantia de juzo e se serve do mesmo procedimento dos embargos sumrios), opta-se por essasegunda corrente, admitindo-se, quando o ttulo executivo judicial tiver por amparo o art. 1.102b do CPCagregado pelo silncio do demandado (art. 1.102c caput, 2 parte), agora em sede de embargos execuo,a discusso mais ampla, de modo que se atenda, tanto quanto possvel, a justia material do caso concreto,aplicando-se analogicamente no o art. 741, mas o art. 745 do CPC, at porque nenhum deles veio forma-do para regular esse tipo de ttulo executivo, irrelevante a adoo do procedimento executrio que o art.1.102c, caput, na sua parte nal determina (alis, ao determinar a aplicao dos captulos II e IV do TtuloII do Livro II, o texto legal est apenas referindo a aplicao dos arts. 621 a 631, tratando-se de entrega decoisa certa, e dos arts. 646 a 731, se for obrigao de pagar quantia certa, nada referindo sobre o Ttulo III,esse sim destinado aos embargos).

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    Pois bem, pensamos agora, como pensvamos antes, que no estar vedado ao ru daao monitria apresentar resistncia no mbito da execuo do ttulo judicial.

    Contudo, a discusso acerca dos limites da cognio parece se esvaziar, diante do novopanorama legal, trazido pela aplicao na ao monitria das regras do Livro I, TtuloVIII, Captulo X, pois, ao contrrio do regramento anterior, no ter o suposto devedora possibilidade de opor embargos execuo, devendo apresentar a nova impugnao

    prevista no art. 475-L, que prev rol taxativo das matrias a serem argidas pela partepassiva do ttulo executivo, a saber:

    Art. 475-L. A impugnaosomentepoder versar sobre:I falta ou nulidade da citao, se o processo correu revelia;

    II inexigibilidade do ttulo;

    III penhora incorreta ou avaliao errnea;

    IV ilegitimidade das partes;

    V excesso de execuo;

    VI qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da

    obrigao, como pagamento, novao, compensao, transao

    ou prescrio, desde que superveniente sentena.

    1. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo,

    considera-se tambm inexigvel o ttulo judicial fundado em lei

    ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo

    Tribunal Federal, ou fundado em aplicao ou interpretao dalei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como

    incompatveis com a Constituio Federal.

    2. Quando o executado alegar que o exeqente, em excesso

    de execuo, pleiteia quantia superior resultante da sentena,

    cumprir-lhe- declarar de imediato o valor que entende correto,

    sob pena de rejeio liminar dessa impugnao.

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    Ademais, pelo disposto no caput do art. 475-M, ao contrrio dos embargos execuo, o instituto traado no art. 475-L no possui efeito suspensivo automtico8-9,devendo a suspenso ser pleiteada pelo interessado (leia-se: executado) no bojo desua impugnao, apontando, nessa pea, que h fundamentao relevantee que, emadio ftica, existe risco de intenso dano, com difcil (seno impossvel) reparao,caso a execuo prossiga. So dois, portanto, requisitos independentes, sendo obtido oefeito suspensivo apenas se houver a soma de ambos no caso concreto. Vale, s claras,a transcrio da norma em tela:

    Art. 475-M. A impugnao no ter efeito suspensivo,podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantesseus fundamentos e o prosseguimento da execuo seja

    manifestamente suscetvel de causar ao executado grave danode difcil ou incerta reparao. 1. Ainda que atribudo efeito suspensivo impugnao, lcito ao exeqente requerer o prosseguimento da execuo,oferecendo e prestando cauo suficiente e idnea, arbitrada

    pelo juiz e prestada nos prprios autos. 2. Deferido efeito suspensivo, a impugnao ser instruda

    8Segue-se aqui uma tendncia j presente, em certa medida, no mbito dos recursos, em que o efeito sus-pensivo pode ser automticoouprovocado. No efeito suspensivo automtico (tambm chamado delegal por decorrer simplesmente da lei), os critrios objetivos so fechados, estando estes previamente traadosa exausto pelo legislador, sem a necessidade de integrao (e aferio) de outros dados que no a apresen-tao sadia do recurso. Assim, o efeito suspensivo ser automaticamente alcanado se a interposio recur-sal estiver hgida e moldada ao desenho previsto na legislao processual (por exemplo, haver efeito sus-pensivo legal nas apelaes que no so abrangidas pelo rol do art. 520 do CPC, situao no afetada pelaLei n 11.276/06 que, alterando o art. 518, dispe sobre a admissibilidade do recurso, e no sobre os efeitos,

    propriamente dito, do apelo). No efeito suspensivo provocado, diferentemente, no basta apenas a robustainterposio do recurso para se alcanar o efeito suspensivo. Com efeito, alm do aviamento do recurso, ointeressado compelido a fazer o requerimento no sentido e ainda demonstrar que esto satisfeitos - no casoconcreto - os critrios para a suspensodos atos de execuo(sentido amplo da expresso) desencadeadospela deciso judicial. No caso dos recursos, o efeito suspensivo provocadose justica pela demonstrao dorecorrente de bom grau de probabilidade no xito da sua postulao recursal, sendo necessria a suspensodo ato decisrio recorrido pelos efeitos danosos (de difcil reparao) que podem advir da dico judicanteguerreada (basta lembrar do disposto no art. 558 do CPC e no art. 43 da Lei 9.099/95). Trabalha-se noefeito suspensivo provocadocom critrios objetivos abertos, sendo necessrio o preenchimento destes paraa respectiva concesso. Sobre o tema, entre vrios, conra-se: Mazzei (2001, p. 128-134); Bermudes (In:MAZZEI 2001, p. 169-73) e Ferreira (2000). Em adaptao, para o efeito suspensivo provocadono espectroda impugnao do art. 475-L, dever aquele indicado como devedor, em razo do art. 475-M, apresentarpedido expresso ao magistrado, apontando de forma clara os motivos que sustentam sua impugnao detmalto grau de probabilidade vencedora no julgamento do incidente, sendo fundamental a suspenso imediata(ainda que parcial) do prosseguimento da execuo, diante da possibilidade de se causar ao executado gra-ve dano de difcil ou incerta reparao. A no concesso do efeito suspensivo provocado, previsto no art.475-M, desaa, a nosso sentir, agravo de instrumento, podendo, em casos extremados, a parte executada se

    valer de mandado de segurana.9Contra, Assis (2006, p. 348-349) sustenta que como no h exigncia de pedido no art. 475-M, poder o

    juiz conceder efeito suspensivo ex offcio.

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    e decidida nos prprios autos e, caso contrrio, em autosapartados. 3. A deciso que resolver a impugnao recorrvel medianteagravo de instrumento, salvo quando importar extino daexecuo, caso em que caber apelao.

    Saliente-se que, preenchidos todosos requisitos para que a impugnaocarregue o predicado dasuspensividade, no h para o julgador liberdade para negaro pedido porque, ainda que o art. 475-M traga conceitos objetivos abertos (isto ,conceitos jurdicos indeterminados), representados pela vagueza proposital dasexpresses relevantes fundamentose grave dano de difcil ou incerta reparao, aconduta legislativa no outorgoupoder discricionrio ao julgador. No mesmo sentido,com propriedade, Assis (2006, p. 349) pontifica acerca do art. 475-M:

    Nenhum dos requisitos mencionados, isoladamente, autorizaa medida excepcional da suspenso. Impe-se a conjugaode ambos no caso concreto. No entanto, uma vez atendidostais pressupostos, nenhuma discrio dada ao juiz, devendosuspender a execuo. O inverso tambm se mostra verdadeiro.

    No se caracterizando os pressupostos, ou existindo to-s umdeles, dever o juiz negar efeito suspensivo impugnao.

    Costuma-se dizer que o ato judicial, nesses caso, e pode serdiscricionrio. Perante os conceitos jurdicos indeterminados, naverdade, a atividade do juiz no se afigura como discricionriano sentido e exata e preciso do termo, mas vinculada nicaresoluo correta que lhe cabe tomar em razo do seu ofcio:

    ou bem se verificam os elementos de incidncia, hipteses emque se suspender a execuo; ou se no se verificarem taiselementos, caso em que a lei probe suspender a marcha daexecuo.10

    Da exposio, conclui-se que:

    a)no se cogita mais em manejo de embargos execuo quando houver ttuloexecutivo proveniente de ao monitria11, sendo caso de utilizao da figura previstano art. 475-L (impugnao), que possui rol blindado de matrias que podem serargidas (com cognio horizontal limitada);

    10 O autor faz referncia, em nota de rodap, ao seguinte trabalho da professora Wambier (2000, p.239.263). Sobre correo no preenchimento de conceitos indeterminados e clusulas gerais, (inclusive emsede de recurso de ndole especial), conra-se Mazzei (DIDIER JUNIOR; MAZZEI, 2006, p. 39-57).

    11Haver apenas, em exceo, os casos de execuo com ttulo obtido no ventre de ao monitria contraa Fazenda Pblica, uma vez que, nessa situao especial, o art. 741 do CPC poder ser invocado pela deve-dora (adiante examinaremos a questo).

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    b) sendo assim, no subsiste frente ao rigor da lgica, a defesa doutrinria de queessa impugnao, como meio de defesa, tenha cognio irrestrita como nos embargosde ttulo executivo extrajudicial;c) a impugnao no possui efeito suspensivo automtico, cabendo ao devedorprovocar a sua concesso, atravs de requerimento expresso, em modulao aodisposto no art. 475-M .

    6. A execuo contra a Fazenda Pblica. Ttulo executivo obtido em aomonitria (cabimento dos embargos execuo: art. 741 do CPC)

    O caput do art. 1.102-C e o seu 3 no indicam para o credor da ao monitria,depois de constitudo o ttulo judicial, a possibilidade de caminho executivo diverso

    ao traado no Livro I, Ttulo VIII, Captulo X, do Cdigo de Processo Civil, criandoa (falsa) impresso de que no h qualquer tipo de exceo. No entanto, examemais detido da Lei n 11.232/05 informa que os dispositivos constantes na alteraolegislativa merecem ser interpretados dentro da totalidade do contexto sistemtico dareforma processual.

    Com o alerta acima lanado, tem-se que apesar da regra geral do art. 475-L, na situaoespecialssima de ao monitria contra a Fazenda Pblica12, persistir no sistema

    12Parte-se aqui, bem verdade, do entendimento que se consolidou do cabimento da ao monitria contraa Fazenda Pblica, conforme precedentes mltiplos do Superior Tribunal de Justia. No sentido, colocandouma p de cal na discusso, ao nal de 2005, decidiu-se em sede de embargos de divergncia (EREsp.345752/MG): PROCESSUAL CIVIL. AO MONITRIA CONTRA A FAZENDA PBLICA. CA-BIMENTO. 1. No procedimento monitrio distinguem-se trs espcies de atividades, distribudas em fasesdistintas: uma, a expedio de mandado para pagamento (ou, se for o caso, para entrega da coisa) no prazode quinze dias (art. 1.102b). Cumprindo a obrigao nesse prazo, o demandado car isento de qualquernus processual (art. 1.102c, 1). Nessa fase, a atividade jurisdicional no tem propriamente natureza con-tenciosa, consistindo, na prtica, numa espcie de convocao para que o devedor cumpra sua prestao.Nada impede que tal convocao possa ser feita Fazenda, que, como todos os demais devedores, tem odever de cumprir suas obrigaes espontaneamente, no prazo e na forma devidos, independentemente deexecuo forada. No ser a eventual interveno judicial que eliminar, por si s, a faculdade que, emverdade, um dever da Administrao de cumprir suas obrigaes espontaneamente, independentementede precatrio. Se o raciocnio contrrio fosse levado em conta, a Fazenda Pblica estaria tambm impedidade ajuizar ao de consignao em pagamento. 2. A segunda fase, ou atividade, a cognitiva, que se instalacaso o demandado oferea embargos, como prev o art. 1.102c do CPC. Se isso ocorrer, estar-se- prati-cando atividade prpria de qualquer processo de conhecimento, que redundar numa sentena, acolhendoou rejeitando os embargos, conrmando ou no a existncia da relao creditcia. Tambm aqui no hqualquer peculiaridade que incompatibilize a adoo do procedimento contra a Fazenda, inclusive porque,se for o caso, poder haver reexame necessrio. 3. E a terceira fase a executiva propriamente dita, quesegue o procedimento padro do Cdigo, que, em se tratando da Fazenda e no sendo o caso de dispensade precatrio (CF, art. 100, 3), o dos artigos 730 e 731, sem qualquer diculdade. 4. No procedemas objees segundo as quais, no havendo embargos, constituir-se-ia ttulo executivo judicial contra aFazenda Pblica, (a) consagrando contra ela efeitos da revelia a que no se sujeita, e (b) eliminando ree-xame necessrio, a que tem direito. Com efeito, (a) tambm na ao cognitiva comum (de rito ordinrioou sumrio) a Fazenda pode ser revel e nem por isso h impedimento constituio do ttulo, ainda maisquando, como ocorre na ao monitria, a obrigao tem suporte em documento escrito; e (b) o reexame

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    processual a possibilidade de oposio de embargos execuo para atacar execuoe/ou ttulo executivo judicial, em atendimento redao conferida pela prpria Lein 11.232/05 para o art. 741 do Cdigo de Processo Civil. A posio vencedora docabimento da ao monitria contra a Fazenda Pblica, luz da Lei n 9.079/95,sustentou para a admisso da tutela diferenciada que no h embarao que

    prejudique a Fazenda, como r de demanda monitria, pois, nos termos do (revogado)art. 1.102-C, to logo convertido o mandado injuntivo em executivo, o credor estaria

    jungido a observar a [...] forma do Livro II, Ttulo II, Captulo II e IV (execuostricto sensu).

    Essa justificativa encontra-se (ao menos formalmente) abalada, haja vista que suamotivao estava encartada no art. 1.102-C e seu respectivo 3 que, justamente,

    foram modificados no detalhe pela Lei n 11.232/05. No novo panorama legal, aexecuo do ttulo obtido na ao monitria segue a via traada pelo novo captulo(cumprimento da sentena), conforme Livro I, Ttulo VIII, Captulo X, do Cdigo deProcesso Civil. Ocorre que, mesmo com a alterao do art. 1.102-C, e, via de talante,a ao monitria no seguir mais o gabarito do Livro II, Ttulo II, Captulo II e IV, perfeitamente possvel interpretarem-se as nuances da Lei n 11.232/05 para, com

    base na posio favorvel da Fazenda Pblica, afirmar que vivel o ajuizamentoda ao monitria no particular, desde que se unifique a interpretao do sistema ese apliquem os novos regramentos frente s exigncias constitucionais. No mister, essencial transcrever a redao do art. 741 do Cdigo de Processo Civil, deflagrada

    pela Lei n 11.232/05:

    Art. 741.Na execuo contra a Fazenda Pblica, os embargoss podero versar sobre:I falta ou nulidade da citao, se o processo correu revelia;II inexigibilidade do ttulo;III ilegitimidade das partes;IV - cumulao indevida de execues;V excesso de execuo;VI qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva daobrigao, como pagamento, novao, compensao, transaoou prescrio, desde que superveniente sentena;VII - incompetncia do juzo da execuo, bem como suspeio

    necessrio no exigncia constitucional e nem constitui prerrogativa de carter absoluto em favor daFazenda, nada impedindo que a lei o dispense, como alis o faz em vrias situaes. 5. Registre-se que osbices colocados adoo da ao monitria contra a Fazenda poderiam, com muito maior razo, ser opos-tos em relao execuo, contra ela, de ttulo extrajudicial. E o STJ consagrou em smula que cabvelexecuo por ttulo extrajudicial contra a Fazenda Pblica (Smula 279). Precedente da 1 Seo: RESP434571/SP, relator p/acrdo Min. Luiz Fux, julgado em 08.06.2005. 6. Embargos de divergncia a quese d provimento. (STJ, Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, 1 Seo, j. 09/11/2005, DJ 05.12.2005,p. 207). Conra, tambm, fundamentado: (STJ, REsp. 603.859/RJ, 1 Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, j.01.06.2004, DJ 28.06.2004, p. 205).

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    ou impedimento do juiz.Pargrafo nico. Para efeito do disposto no inciso II do caputdeste artigo, considera-se tambm inexigvel o ttulo judicialfundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais

    pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicaoou interpretao da lei ou ato normativo tidas pelo SupremoTribunal Federal como incompatveis com a ConstituioFederal.

    A alterao legislativa no implicou a mudana apenas de um dispositivo (art. 741),tendo efeito mais amplo, haja vista que ocorreu a reformulao do Livro II, TtuloIII, Captulo II, do Cdigo de Processo Civil, fixando-se os embargos execuodo art. 741 (e disposies seguintes) como ferramental do microssistema do PoderPblico em juzo. Com efeito, no se pode negar que o art. 741, nada obstante suaposio geogrfica estar centrada no Cdigo de Processo Civil, norma que compeo chamado micromodelo processual do Estado, consoante a locuo de Silva (2004,

    p. 79), em que h a amplificao dos meios de defesa para a Fazenda Pblica, sob ajustificativa da necessidade de proteo do patrimnio e interesse pblico13, quebrandoa isonomia processual, ainda que no seu aspecto ideolgico.

    O art. 475-L absolutamente incompatvel com o micromodelo processual do Estado,pois sua concepo est firmada em vrias normas, que aduzem medidas de apoio emprol do credor, que no se coadunam com a execuo contra a Fazenda Pblica. Basta

    13Quer dizer, em pontuao mais precisa, interesse pblico secundrio, conforme classicao de RenatoAlessi, que ser coincidente ou no com o interesse pblico primrio, do povo. A distino oportuna,consoante versa a doutrina italiana os interesses pblicos primrios so os interesses da coletividade comoum todo, do povo compreendido como ente losco e ltimo depositrio dos poderes estatais (todo poderemana do povo, na dico do art. 1, pargrafo nico da CF/88). Secundrios, por outro lado, seriam osinteresses em que o Estado, em razo de sua congurao como pessoa jurdica, se apresenta em relao aosoutros sujeitos de direito, independente da condio de zelador de direitos de terceiros, da coletividade. Osinteresses secundrios so resguardada a sua legtima funo - a atuao pela administrao dos interessespblicos primrios. Contudo, como no caso em tela, a identicao entre uns e outros nem sempre direta.Seguindo a linha do pensamento de Alessi, expe Mello (2005, p. 57) essa diferena, armando-a sobre adoutrina de Picardi e Carnelutti, hoje moeda corrente na Itlia: Esta distino a que se acaba de aludir, en-tre interesses pblicos propriamente ditos isto , interesses primrios do Estado e interesses secundrios(que so os ltimos a que se aludiu) de trnsito corrente e moente da doutrina italiana, e a um ponto talque, hoje, poucos doutrinadores daquele pas se ocupam em explic-los, limitando-se a fazer-lhe meno,como referncia a algo bvio, de conhecimento geral. Este discrmen, contudo, exposto com exemplarclareza por Renato Alessi (1960, p. 197 e notas de rodap 3 e 4), colacionando lies de Carnelutti e Picardi,ao elucidar que os interesses secundrios do Estado s podem ser por ele buscados quando coincidentescom os interesses primrios, isto , com os interesses pblicos propriamente ditos. Justamente por isso,os interesses secundrios no so atendveis a no ser quando coincidem, se identicam no mnimo teleo-logicamente, com os interesses primrios, estes sim, nicos que devem ser perseguidos por aqueles que osencarnam e representam. Como foi dito: Percebe-se, pois, que a Administrao no pode proceder com amesma desenvoltura e liberdade com que agem os particulares, ocupados na defesa das prprias convenin-cias, sob pena de trair sua misso prpria e sua prpria razo de existir. (MELLO, 2005, p. 57).

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    lembrar que o art. 475-J fala sobre constrio de bens, possibilidade inadmissvelem execues contra a Fazenda Pblica, e o art. 475-M fixa, como regra, a falta desuspensividade da impugnao do devedor (o que no ocorre com os embargos execuo, sendo inconcebvel tal posio absolutamente favorvel ao credor nasexecues contra o Poder Pblico). Dessa forma, tratando-se de execuo contra aFazenda Pblica, tendo como vetor ttulo executivo resultante de ao monitria,utilizam-se pela natureza especial da relao os embargos do art. 741 do Cdigode Processo Civil, como instrumento processual adequado para a defesa dos interessesdo executado, dada a falta de simetria estrutural do art. 485-L para a situao, ecomo perfeita possibilidade de adaptabilidadeda primeira norma (art. 741) para amisso.14

    Caso a execuo decorrente da ao monitria seja de valor inferior, para efeito do 3 do art. 100 da Carta Constitucional, no vislumbramos bice intransponvel paraque credor legitimado venha a se valer da via extraordinria da Lei 10.259/01 (quedispe sobre os Juizados Especiais Cveis e Criminais no mbito da Justia Federal),fazendo-se a requisio judicial do montante devido, nos termos do art. 17, 1, dodiploma em referncia. O mais importante , pois, perceber que a execuo do ttulomonitrio (aperfeioado em executivo) deve respeitar os meandros do micromodeloprocessual do Estado, no sendo praticvel o uso de normas gerais, como o caso,especificamente, do art. 475-L.

    7. Ao Monitria e a formao de ttulo para entrega de coisa fungvel ou dedeterminado bem mvel (parte final do art. 1.102-C)

    Em arremate final, deve-se anotar que a nova redao do art. 1.102-C acabou porafastar os arts. 621 a 628 (execuo para entrega de coisa certa) e os arts. 629 a621 (execuo para entrega de coisa incerta) no que tange s duas ltimas hiptesesde cabimento da ao monitria, segundo a estampa da parte final do art. 1.102-A(entrega de coisa fungvel ouentrega de determinado bem mvel).15O art. 1.102-C,ao eliminar do espectro da ao monitria o tecido do Livro II, Ttulo II, Captulos IIe IV do Cdigo de Processo Civil, rejeitou, no seu traado, a formao de processoexecutivo previsto nos ditos compartimentos, a saber: execuo para entrega de coisa

    14Sobre oprincpio da adaptabilidade, pouco conhecido, mas essencial instrumentalidade processual e operabilidade material, conra-se: Oliveira (1999) e Didier Jnior (2001), para quem: Em sntese: adapta-se o processo ao seu objeto, tanto no plano pr-jurdico, legislativo, abstrato, com a construo de proce-dimentos compatveis com o direito material, como no plano do caso concreto, processual, permitindo-seao magistrado, desde que previamente (em homenagem ao princpio da tipicidade), alterar o procedimentoconforme s exigncias.

    15Art. 1.102-A - A ao monitria compete a quem pretender, com base em prova escrita sem ecciade ttulo executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungvelou de determinado bemmvel (grifo nosso).

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    (Captulo II); execuo por quantia certa contra devedor solvente(Captulo IV).

    Desse modo, os arts. 621 a 628 (execuo para entrega de coisa certa) e os arts. 629a 621 (execuo para entrega de coisa incerta) perderam o vnculo com a redao doart. 1.102-A, razo pela qual, tratando-se de ao monitria, a projeo para a entregade coisa fungvel ou entrega de determinado bem mvel, aps a Lei n 11.232/05,dever observar os ditames dos arts. 461 e 461-A do Cdigo de Processo Civil.

    A concluso intuitiva reforada pela letra legal do caput do art. 475-I, quejustamente se localiza no novo ambiente legal vinculado ao monitria (Livro I,Ttulo VIII, Captulo X Cumprimento da sentena). Seno vejamos: Art. 475-I.O cumprimento da sentena far-se- conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou,

    tratando-se de obrigao por quantia certa, por execuo, nos termos dos demaisartigos deste Captulo (grifo nosso)16. Desse modo, o art. 475-I faz a devida recepodo art. 1.102-A em toda sua completude.

    De toda sorte, a alterao em tela demonstra que no houve qualquer inteno dolegislador em permitir que a parte passiva da ao monitria venha a se utilizar dosembargos execuo, em oposio executiva, s hipteses do leque legal do art. 1.102-A do Cdigo de Processo Civil: (a) pagamento em soma em dinheiro, (b) entrega decoisa fungvel, e (c) entrega de determinado bem mvel.

    16 Dispositivo na ntegra: Art. 475-I. O cumprimento da sentena far-se- conforme os arts. 461 e 461-Adesta lei ou, tratando-se de obrigao por quantia certa, por execuo, nos termos dos demais artigos desteCaptulo. 1. denitiva a execuo da sentena transitada em julgado e provisria quando se tratar de sentenaimpugnada mediante recurso ao qual no foi atribudo efeito suspensivo. 2. Quando na sentena houver uma parte lquida e outra ilquida, ao credor lcito promover simultane-amente a execuo daquela e, em autos apartados, a liquidao desta.

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