ação de formação do livro ao palco

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FORMADOR: JORGE BRANCO GRUPO CONT’ARTE 2013/2014 DO LIVRO AO PALCO TÉCNICAS DE DRAMATIZAÇÃO DE TEXTOS PÁGINA WEB: www.contarte.org MAIL: [email protected]

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Page 1: Ação de formação do livro ao palco

FORMADOR: JORGE BRANCO

GRUPO CONT’ARTE

2013/2014

DO LIVRO AO PALCO TÉCNICAS DE DRAMATIZAÇÃO DE TEXTOS

PÁGINA WEB:

www.contarte.org

MAIL:

[email protected]

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AÇÃO DE FORMAÇÃO TÉCNICAS DE DRAMATIZAÇÃO DE TEXTOS

26/02/2014 Duração: 2.5 horas

Programa:

1ª Parte

A preparação para o palco:

- A importância da integração do elenco

- A respiração, relaxamento e concentração

- A voz (dicção, colocação, projeção, timbre e inflexão)

- Aquecimento físico e emotivo

2ª Parte

O texto narrativo/texto dramático:

- Características do texto dramático

- Do texto narrativo ao texto dramático. As didascálias.

- A técnica do improviso ao serviço do processo criativo

- Criatividade, capacidade de expressão e experimentação artística

A PREPARAÇÃO PARA O PALCO

O sucesso de um grupo de teatro depende, em grande parte, da boa relação entre os elementos do grupo e da

sua sintonia dentro e fora do palco. Os exercícios de integração do elenco são tão importantes como os exercícios de

respiração, concentração, aquecimento vocal, físico ou emotivo. No início de cada sessão de trabalho poderão fazer um

ou dois jogos/exercícios para unir e motivar o grupo. O trabalho pode ser divertido!

Cada sessão deve ter a seguinte estrutura, dedicando mais ou menos tempo a cada momento de acordo com as

necessidades do grupo.

1º Jogos/exercícios de integração do elenco e de aquecimento físico

Ex: Volleyball dos nomes / Barco / 3 duelos / Tiro ao coelho

2º Exercícios de respiração e relaxamento

Respiração diafragmática e extensão do corpo

3º Exercícios/jogos de concentração

Ex: 1,2 e 3 / Espelho / Ali babá e os 40 ladrões /Aliterações / Pum! Estás morto

4º Exercícios de aquecimento vocal

Ex: Hummmm / Ha ha ha ha ha / Mi mi mi mahhhh / Trava línguas / Leitura expressiva / Exercícios de colocação e

projeção de voz

5º Exercícios de “aquecimento” emotivo

Ex: Exercícios de blablação / Passeio de emoções / Espelho de emoções / Bong Bong bong

(Exemplos de emoções: Alegria, tristeza, paixão, fúria, medo, vergonha,…)

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CARACTERÍSTICAS DO TEXTO DRAMÁTICO

O texto dramático é escrito para ser representado. Deste modo, a técnica de elaboração de um texto dramático

apresenta diferenças significativas da técnica de escrita de um texto narrativo.

Estrutura externa do texto dramático Atos: grandes núcleos de ação que se distinguem, normalmente, por uma pausa na representação. Os atos dividem-se em cenas e/ou quadros; Cenas: começam e acabam com a entrada e a saída das personagens da ação. Texto principal e secundário Texto principal: falas das personagens (diálogos, monólogos e apartes); Texto secundário: didascálias (referência a atos e cenas e indicações relativas a nomes das personagens, gestos, atitudes, movimentação, guarda-roupa, cenário, luz, som). Estrutura interna do texto dramático Exposição: fase inicial em que se faz a apresentação das personagens e dos antecedentes da ação; Conflito: sucessão de acontecimentos que constituem a ação; Desenlace: parte final que contém o desfecho feliz ou infeliz da ação dramática. Caracterização direta e indireta Caracterização direta: caracterização feita através da enumeração direta dos traços de uma personagem, através de palavras da personagem sobre si própria, palavras de outras personagens ou indicações contidas nas didascálias; Caracterização indireta: caracterização deduzida pelo leitor ou pelo espectador através dos comportamentos e atitudes de uma personagem. Caracterização das personagens Retrato físico: descrição das características físicas de uma personagem; Retrato psicológico: descrição das características psicológicas de uma personagem (sentimentos, pensamentos, etc.); Retrato social: descrição das características que incidem em aspetos da sua vida social, profissão, classe social e relação com os outros. O espaço na obra dramática A mudança de espaço é visível pela mudança de cenários. Modos de expressão Diálogo: modo de discurso em que duas ou mais personagens conversam entre si; Monólogo: modo de discurso em que as personagens falam consigo mesmas; Aparte: modo de discurso em presença de outras personagens, com o intuito de ouvido pelo público ou por alguma personagem específica. Tipos de cómico Cómico de linguagem: o vocabulário e o tipo de discurso provocam o riso; Cómico de caráter: a maneira de ser da personagem e o modo de se apresentar provocam o riso; Cómico de situação: o que a personagem faz, as circunstâncias da sua atuação provocam o riso.

in Escola Virtual - Português

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DO TEXTO NARRATIVO AO TEXTO DRAMÁTICO

Passos para a elaboração de um texto dramático:

- Antes da escrita:

A ideia central (indutor): história existente, imagem, sentimento

Criar o enredo adotando uma visão externa

Transmissão e receção: duração, espaço, elenco

As ações falam mais alto (definir o conflito central como motor da ação)

- Escrever textos dramáticos:

O título: deve representar o trabalho e ser atrativo para o público. Começar com uma ou duas palavras chave

numa folha A4 e ir acrescentando outras fazendo várias combinações.

A sinopse (entre meia a uma página) como auxiliar de trabalho (filtro de ideias): resumo da história

(desenvolvimento do conflito), da localização (tempo e espaço), das personagens principais, do tema ou ideias

subjacentes à peça.

O guião (cerca de cinco páginas): informação pormenorizada de cada cena (unidade de ação) quanto a espaço e

tempo, entradas e saídas de personagens (devem ser sempre significativas para o interesse da peça), suas motivações e

ações mais importantes para o enredo. Não deve incluir ideias, ambiente ou temas subjacentes à peça que eram

incluídos na sinopse.

O guião é um auxiliar não só de memória da estrutura da peça como também uma ferramenta de revisão do

enredo ou de desbloqueio no processo criativo.

O diálogo: deve ser coerente com as personagens e surgir a partir das situações. Deve surgir como resultado de

algo que se passa dentro ou entre as personagens. Podemos tentar imaginar a peça em mímica e preencher com

diálogo os momentos que não podem ser expressos através de ações.

O TEXTO SECUNDÁRIO (DIDASCÁLIAS)

O texto secundário dá indicações ao encenador e aos atores sobre caracterização das personagens, marcação de

cena, emoções das personagens nos diálogos,… Aparece entre parênteses e em itálico para se distinguir do texto do

diálogo das personagens.

As mais comuns são as seguintes:

Caracterização das personagens – aparece, no início da obra, em forma de lista ordenada por entrada em cena.

Ambiente e marcação de cena – aparece, no início de cada ato, ao centro, descrevendo a cena e posição das

personagens e dos adereços.

Emoções ou marcações individuais – aparecem durante as “falas” das personagens entre parênteses e a itálico. Quando

são emoções, aparecem antes da(s) respetiva(s) frase(s).

Ex: JOÃO: Quem está aí? (Assustado) Olhem que eu não tenho medo! (Dirige-se à porta que está à direita média)

Nomes das personagens - aparecem em maiúsculas com alinhamento à esquerda ou ao centro.

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PLANTA-BAIXA E MARCAÇÃO DE CENA

No processo de encenação de um texto dramático é útil a elaboração de uma planta-baixa (esquema do palco)

para melhor visualizar as cenas. Desta forma poderão ser evitados erros comuns como a poluição da cena com adereços

sem significado ou a má marcação que tantas vezes resulta em cenas desequilibradas.

Depois de termos a planta-baixa podemos proceder à marcação de cena e dos atores.

MARCAÇÃO: Movimentação dos atores em cena, em função do texto da peça teatral: entradas, saídas, posturas, etc.

As áreas do palco denominam-se por:

Áreas baixas (de frente de palco): esquerda, centro e direita.

Áreas médias (entre o fundo e a frente do palco): esquerda, centro e direita.

Áreas altas (de fundo de palco): esquerda, centro e direita.

ESQUERDA

ALTA

CENTRO

ALTO

DIREITA

ALTA

ESQUERDA

MÉDIA

CENTRO MÉDIO

DIREITA MÉDIA

ESQUERDA

BAIXA

CENTRO BAIXO

DIREITA BAIXA

Cruzar – movimento de um ator que altera, tecnicamente, a posição dos que estão em palco.

É habitual identificar as posições dos atores em palco através de números começando da esquerda para a direita.

Neste caso seria: João (a 1) e Maria (a 2) estão na Esquerda Baixa, Carlos (a 3) no Centro Médio e Paula (a 4) na Direita

Alta. João cruza superior a Maria e fica a 2.

João Maria

Carlos

Paula

1 2

3

4

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O IMPROVISO AO SERVIÇO DO PROCESSO CRIATIVO

A prática do improviso pode servir o processo criativo ao recriar situações e personagens com uma maior

naturalidade. O registo dos exercícios de improviso em vídeo ou áudio pode servir de indutor à criação de um texto

dramático ou à resolução de problemas criativos.

REGRAS PARA EXERCÍCIOS DE IMPROVISO

Primeiro que tudo definir: Onde? Quem? O quê (situação/conflito)?

Improvisar a cena mantendo o foco de concentração nestes elementos e respeitando sempre as seguintes regras:

1ª Regra – Aceitar sempre, nunca negar

Esta é a regra mais importante da improvisação, pois deve-se sempre aceitar qualquer coisa que o parceiro diga ou faça

como um facto. Qualquer item, personagem ou ideia apresentada é agora, parte da cena. Isso pode ser alterado e

modificado, mas nunca negado.

2ª Regra – Ampliar

Esta é a segunda parte mais importante do processo de improvisação e flui naturalmente ao aceitar aquilo que o

parceiro diz. Deve-se aceitar a oferta e ampliar, adicionando mais informação e devolvendo depois ao outro.

3ª Regra – Evitar bloquear ou negar

A forma mais óbvia de bloqueio é a negação da oferta do parceiro mas há outras formas menos óbvias de bloqueio.

Uma das mais comuns é a falha em amplificar, adicionando informação e deixando o outro num “beco sem saída”. A

segunda mais comum é quando um participante não consegue pensar num bom comentário.

4ª Regra – Evitar fazer perguntas

Esta é a regra mais difícil de ser seguida, pois na vida real fazemos muitas perguntas, queremos informações precisas.

Mas, na improvisação, tentar ser específico pode ser um desastre.

5ª Regra – Não planear

É muito tentador tentar levar o parceiro a uma direção específica, mas isso quase nunca funciona e destrói a cena. Isso

leva ao bloqueio e interfere na espontaneidade.

6ª Regra – Não tentar ser engraçado

Quando se segue o processo, a graça simplesmente acontece. Deve-se ser espontâneo, acreditar no processo,

terminando assim mais engraçado, do que se tentasse ser cómico.

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CRIATIVIDADE, CAPACIDADE DE EXPRESSÃO E EXPERIMENTAÇÃO ARTÍSTICA

Na elaboração de textos dramáticos, como já foi referido, devemos atender aos recursos humanos e físicos

disponíveis antes de começarmos o trabalho criativo. Por vezes, quando a nossa base de trabalho é um texto narrativo

já existente, é necessário um esforço criativo adicional para fazermos face a alguns problemas de dramatização destes

textos.

Numa primeira leitura devemos identificar todas as cenas que são supérfluas para a transmissão da ideia central

que nos propusemos transmitir ao público e que causam dificuldades ao nível de cenários, adereços, personagens, etc.

Após identificadas as cenas optaremos por:

Eliminar – este processo é o caminho mais fácil. Só deve ser usado se não prejudicar o

enredo de modo a podermos centrar a nossa atenção na ideia principal. Por vezes, é

preferível eliminar do que usar narradores para descrever toda a cena que não

conseguimos reproduzir.

ou

Adaptar – este processo exige uma maior criatividade. Consiste em mantermos as cenas

usando recursos que facilitem a sua representação de acordo com os recursos

disponíveis.

Ex:

No texto original:

Era o dia do casamento da princesa. A igreja estava coberta de flores brancas e amarelas

e o sol brilhava nos vitrais coloridos. Estavam presentes 200 convidados vestidos a rigor.

De repente o sol desaparece e começa uma violenta trovoada.

Adaptação:

(Marcha nupcial. Luzes coloridas iluminam o palco (caso existam projetores).

Personagens: Princesa, príncipe e padre. Adereços: Um crucifixo (pode ser projetado no

fundo). Para a trovoada: Luzes baixam e som de trovões)

Devemos sempre experimentar soluções expressivas de diversa ordem de modo a podermos selecionar aquela

ou aquelas que mais convêm ao enredo ou ideia que queremos transmitir. Não há limites à criatividade neste campo.

Por exemplo, música, dança, poesia, fantoches, jograis, mímica,… podem ser usados de modo isolado ou combinados

com teatro declamado para enriquecer o espetáculo.

O mais importante é divertirmo-nos a divertir.

BOM TRABALHO!

O FORMADOR: JORGE BRANCO

ANO LETIVO 2013/2014

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Pedro e a "Amiga" Adolescência

Chegado a casa, atirou a mochila para o sofá da sala, como se de um pesado fardo

se tratasse. O dia na Escola tinha sido um verdadeiro xeque-mate ao aluno – Pedro Santiago

Pedrosa, de seu nome. A professora de Inglês, chamou-lhe a atenção por causa dos

trabalhos de casa. Isa, sua namorada, fez uma cena de ciúmes por causa da sua amiga

Raquel. E, se tudo isto não bastasse, chegou atrasado à aula de Português. Se há dias para

esquecer, este era, sem sombra para dúvidas, um desses dias.

À mãe, Inês Santiago Pedrosa, nada passou desapercebido. Ficou calada, pela

sapiência adquirida ao longo de muitos anos de experiência, pensa o fiel narrador deste

conto. O nosso herói - foi direito ao seu quarto: uma cocheira perfumada, tal era a

desarrumação que por ali proliferava: livros, posters, cê dês, t-shirts, patins, frascos de eau

de toilette, garrafas vazias, bicicleta de montanha, e muitos outros objetos de culto. Um

autêntico arsenal de uma guerra pessoal e necessária. A chamada “Crise” da Adolescência

bateu-lhe à porta. Sabia que tinha que estar à altura dos acontecimentos. A família e os

amigos eram aliados com que podia contar nos bons e nos maus momentos. Pedro sabia

que não estava só na ultrapassagem desta malfadada “Crise”.

Estendeu-se ao comprido na cama, como quem quer esquecer o mundo para

obviar os tormentos de uma fase que lhe dava água pela barba: uns pelos mal semeados

com muitas borbulhas à mistura, um feitio embirrante, e, por vezes, insuportável.

O quarto era o seu mundo. Dava para pensar, rir e chorar, consoante as mudanças

de humor: fechar-se como um túmulo, ou abrir-se ao mundo, como algo sem portas nem

janelas. Ai se aquelas paredes falassem!

- O jantar está na mesa!

Era a voz da mãe a chamar toda a família. Não era a primeira vez que não lhe

apetecia comer, e muito menos, encarar alguém. Como tardava em aparecer, a voz da mãe

fez-se ouvir novamente:

- O jantar está pronto, menino Pedro!

- Estamos todos à sua espera!

A muito custo, levantou-se e desceu as escadas para se sentar à mesa. Ó que

suplício! Bem se podiam esquecer dele, mas não. Pedro conhecia a mãe, e sabia que não

era pessoa para desistir.

Sentado à mesa, o nosso jovem, não dizia palavra, o que não passou desapercebido

à Carla, sua irmã mais velha e a toda a família. Aliás, comportamento que tendia a repetir-se

nos últimos tempos.

- O nosso (futuro) homem - está hoje igual a si próprio – está na “fase”.

- Está calada, mete-te na tua vida - retrucou Pedro.

- Está a atravessar um dos períodos mais interessantes da vida, mas parece que

carrega o mundo às costas - disse o pai, com veemência.

Foi ao jantar, que se prolongou mais tempo do que o habitual, que todos

aproveitaram para opinar sobre o comportamento do Pedro. Até o irmão mais novo não

deixou de dar o seu parecer. Pedro estava um homem, apesar do mau humor e da barba

mal semeada. A voz - era agora mais grave. Até o andar era diferente. Os traços do rosto

davam-lhe um ar de Brad Pitt. A pele tornara-se mais escura. Estava mais alto que o pai,

embora mais franzino. Os seus ideais e valores eram, agora, defendidos com tenacidade.

Amava o que lhe parecia justo e detestava a hipocrisia.

Os pais tinham consciência que Pedro estava a atravessar a crise da Adolescência.

- Será possível dizer bem desta fase? Perguntou Pedro.

Ouviu-se o som de um telemóvel, e logo o nosso jovem aproveitou para se

esgueirar para o quarto. Era a Isa, a pedir desculpa pela cena de ciúmes no átrio da Escola.

Adorava-a, mas não tirava da cabeça a Raquel. Vendo bem, pensou, a Isa tinha razão. Estava

tudo tão confuso na sua cabeça! Não queria ser assim, mas o instinto levava, por vezes, a

melhor sobre a razão. Conversou demoradamente com a namorada, até que a porta se

abriu, para mostrar o rosto de sua irmã Carla.

- O que queres daqui? Perguntou Pedro.

- Falar dos teus namoricos, seu mariola.

Pedro sempre gostara de conversar com a irmã, mas agora…

-Nada tenho a dizer...vai chatear outro.

-Vá lá maninho, fala-me das tuas aventuras e desventuras, sou a tua melhor amiga.

Falaram de namoricos, do professor de Matemática, das suas borbulhas, dos

cabelos louros da Isa, da chuva que não parava de cair, da SIDA e do vírus da gripe:

problemas de adolescentes. A mana mais velha, que já passara por tal, veio dar uma

ajudinha. A conversa durou até a mãe os interromper a lembrar que era tarde para o Pedro.

Começava as aulas, às 8 e meia da manhã.

- A minha vida é uma seca - respondeu Pedro.

- Ninguém está contente com a vida que tem - retrucou Carla.

- Boas noites, meus queridos - disse a mãe.

As ideias truncavam-se na sua mente e não o deixavam dormir. Finalmente,

adormeceu a pensar nos bons e maus momentos da vida.

Eu, vosso humilde narrador, confesso que ouvi o Pedro balbuciar, um momentinho

antes de adormecer:

- Boa noite, Adolescência! Texto adaptado