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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PARACATU, ESTADO DE MINAS GERAIS. A humanidade está numa encruzilhada: deve decidir se quer continuar a viver neste planeta ou se aceita caminhar ao encontro do pior. (...) Ou damos espaço a um novo paradigma civilizatório que nos poderá salvar ou enfrentaremos a escuridão. (Leonardo Boff, Jornal do Brasil, 22/03/2002) Faço e ninguém me responde esta perguntinha à-toa: como pode o peixe vivo morrer dentro da Lagoa? (Carlos Drummond de Andrade, 1973) AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO POR DANO AMBIENTAL E À SAÚDE PÚBLICA DECORRENTE DE CARGA CONTÍNUA SOBRE O MEIO AMBIENTE COM PEDIDO DE CAUTELA LIMINAR Não existe tratamento eficiente para a intoxicação crônica por arsênio!!! A única alternativa eficiente é a inativação da fonte poluidora da água, alimentos e atmosfera. FOLHA N. 1

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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PARACATU, ESTADO DE MINAS GERAIS.

A humanidade está numa encruzilhada: deve decidir se quer continuar a viver neste planeta ou se aceita caminhar ao encontro do pior. (...) Ou damos espaço a um novo paradigma civilizatório que nos poderá salvar ou enfrentaremos a escuridão.

(Leonardo Boff, Jornal do Brasil, 22/03/2002)

Faço e ninguém me responde esta perguntinha à-toa: como pode o peixe vivo morrer dentro da Lagoa?

(Carlos Drummond de Andrade, 1973)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO POR DANO AMBIENTAL E À SAÚDE PÚBLICA DECORRENTE DE CARGA CONTÍNUA SOBRE O MEIO AMBIENTE COM PEDIDO DE CAUTELA LIMINAR

Não existe tratamento eficiente para a intoxicação crônica por arsênio!!! A única alternativa eficiente é a inativação da fonte

poluidora da água, alimentos e atmosfera.

FOLHA N. 1

A tutela jurídica preventiva é a mais genuína forma de proteção jurídica no contexto do Estado Democrático de Direito. Ela decorre do princípio da prevenção geral como diretriz inserida no princípio democrático (art. 1º da CF/88).Por intermédio da tutela jurídica preventiva poderá, entre outras alternativas, ser atacado diretamente o ilícito, evitando-se a sua prática, continuidade ou repetição. Com isto, evita-se o dano que é objeto da tutela jurídica repressiva, no caso, a ressarcitória.Ocorre que muitos danos, especialmente os de dimensão coletiva (aqueles que afetam o ambiente, a saúde do consumidor, a criança e o adolescente, o idoso, a saúde pública etc.) não são possíveis de reparação in natura. Portanto, só restaria nesses casos uma tutela repressiva do tipo compensatória ou do tipo punitiva, que é espécie de tutela jurídica apequenada que não responde ao direito a uma tutela jurídica genuinamente adequada, na sua condição de garantia fundamental do Estado Democrático de Direito (arts. 1º, 3º e 5º, XXXV da CF/88).Esse impõe atuação preventiva, na defesa do Direito Coletivo, de todos os operadores, evitando-se, sempre que possível, a consumação de danos em grande parte irreparáveis in natura. (Grifei)

DIREITO MATERIAL COLETIVO – Superação da Summa Divisio. Direito Público e Direito Privado por uma nova Summa Divisio constitucionalizada. GREGÓRIO ASSAGRA DE ALMEIDA – Mestre e Doutor PUC/SP – DelRey Edit., Belo Horizonte, 2008. p.458/459.

1 AUTORA

FUNDAÇÃO ACANGAÚ PARA CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTADO DE ECOSSISTEMAS NATURAIS, com sede na Reserva do Acangaú, Zona Rural, Caixa Postal 123, Paracatu, Minas Gerais, inscrita no CNPJ sob o nº 65.144.412/0001-40, representada por seu Presidente SÉRGIO ULHOA DANI, qualificado no instrumento público de mandato do Tabelionato do 1º Ofício de Notas de Paracatu, representada por HEITOR CAMPOS BOTELHO, brasileiro, casado, advogado, inscrito na OAB/MG sob o nº 784-A, com escritório na Rua Manoel Caetano, 251, nesta cidade.

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2 RÉS

1) RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. – RPM / KINROSS GOLD CORPORATION, Unidade de Paracatu, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 20.346.524/0001-46, com sede na Mina Morro do Ouro, Estrada do Machado, sem número, neste município de Paracatu – MG, representada pelo Diretor-Geral ou quem por ela responder neste município de Paracatu – MG;

2) MUNICÍPIO DE PARACATU, pessoa jurídica de direito público interno, com sede à Av. Olegário Maciel, 166, Centro, Paracatu – MG, representada pelo prefeito municipal, VASCO PRAÇA FILHO;

3 INTERVENIENTE NECESSÁRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, representado pela Promotoria de Justiça da Comarca de Paracatu, com sede à Av. Olegário Maciel, 193, Centro, Paracatu – MG.

4 LEGITIMIDADE ATIVA

Em atendimento às exigências contidas na Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985, artigo 5º, inciso V, letras “a” e “b”) ocorre no presente caso a pertinência temática para efeito de legitimidade ativa da autora, o que significa que há nexo material entre os fins institucionais por ela defendidos e a tutela pretendida nesta ação1.

Doutrinariamente, temos a lição de Pedro da Silva Dinamarco2 asseverando que a pertinência temática consiste

1 É o "vínculo de afinidade temática entre o legitimado e o objeto litigioso". DIDIER JUNIOR, Fredie; ZANETI JUNIOR, Hermes. Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo. Volume 4. 1.ed. Salvador: Editora Podivm, 2007, p.212.

2 DINAMARCO, Pedro da Silva. Ação Civil Público. São Paulo: Editora SRS, 2008, p.244.

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na "proteção específica daquele bem que é objeto da ação civil pública ajuizada pela associação, ou com ela compatível". Nas palavras de Motauri Ciocchetti de Souza3, tal pertinência representa a "harmonização entre as finalidades institucionais das associações civis ou órgãos públicos legitimados e o objeto a ser tutelado na ação civil pública".

No direito brasileiro, é exigido somente o nexo entre a finalidade ou os objetivos institucionais da entidade que posiciona-se no polo ativo e o objeto da demanda, como uma forma de limitar o elenco de legitimados ativos, tendo em vista que a tutela coletiva representava, quando de sua criação no Brasil, uma quebra de paradigmas, ou para tentar adequar a legitimidade da tutela coletiva ao conceito geral de legitimidade ad causam do Processo Civil tradicional, como uma espécie de adaptação do novo às regras gerais previstas nos artigos 6° do Código de Processo Civil4 e 76 do Código Civil de 19165.

Atualmente, a doutrina e a jurisprudência, já livres dos grilhões desse ideal de pureza, têm flexibilizado a análise deste requisito de admissibilidade da legitimidade ativa, em contemplação aos princípios da máxima efetividade dos direitos individuais e coletivos e ao direito ao amplo acesso à Justiça.

Assim sendo, a autora, conforme estatuto acostado, preenche os requisitos legais para figurar no polo ativo da presente demanda. [DOC 01 e 02]

3 SOUZA, Motauri Ciocchetti. Ação Civil Pública e Inquérito Civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.46.

4 Artigo 6°. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.

5 Artigo 76. Para propor, ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo interesse econômico ou moral.

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5 LEGITIMIDADE PASSIVA

5.1 DO MUNICÍPIO DE PARACATU

Além do imperativo constitucional inserto nos artigos 23, incisos VI, VII e IX, e 225, §§ 1º a 3º da Carta Magna, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981, artigo 14, § 1º) consagra como um de seus objetivos a imposição de obrigação ao poluidor e ao predador, “independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.

No mesmo sentido, referida lei preconiza que as pessoas jurídicas de direito público interno, podem ser responsabilizadas pelas lesões que, por ação ou omissão, causarem ao meio ambiente (artigo 3º, inciso IV), confirmando a primariedade do consagrado Poder de Polícia Administrativa que possui (CTN, Lei nº 5.172/1966, artigo 78).

De fato, não é só como agente poluidor que o ente público se expõe ao controle do Poder Judiciário, mas também quando se omite no dever constitucional de proteger o meio ambiente (ex vi a inércia da municipalidade quanto à instalação de sistemas e processos produtivos altamente poluidores).

As pessoas que moram na região – e não só nas proximidades da área explorada pela mineradora – estão correndo risco de morte, pois a potencialidade lesiva do rejeito químico produzido – ARSÊNIO – é altamente tóxico e letal.

A legislação brasileira vigente responsabiliza, de forma objetiva, penal e administrativamente, o poluidor, independentemente de culpa, obrigando-o, ainda, a reparar os danos causados.

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No que concerne à responsabilidade da Administração por danos ao meio ambiente, esta poderá ocorrer por ação, omissão, por fato de outrem, bem como daquela decorrente do poder de polícia administrativa – ou de sua ineficácia – tudo em razão do livre arbítrio concedido pelo poder discricionário exercido Poder Público, o que o torna capaz para figurar no polo passivo da presente ação. [DOC 03]

5.2 DA RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. RPM / KINROSS GOLD CORPORATION

Considerando os esclarecimentos constantes nos artigos 170, incisos III e VI, e 225, §§ 2º e 3º da Carta Magna, e já citada Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (artigo 14, § 1º), como bem observado quando da análise da legitimidade passiva do Município de Paracatu, temos que a Lei nº 7.805/89, em seu artigo 19, prevê, ainda, que “o titular de autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente”, ao passo que em seus artigos 18 e 20 também salienta a possibilidade de suspensão temporária ou definitiva das atividades de lavra em razão de danos ambientais causados, bem como a necessidade de se prever solução técnica adequada – aprovada pelo órgão ambiental competente – quando se tratar de beneficiamento de minérios em lagos, rios e quaisquer correntes de água.

Importante demonstrar a seriedade com que a legislação infraconstitucional tratou a matéria, inclusive com previsão de responsabilidade civil objetiva.

Por ser uma atividade capaz de causar impacto de tal proporção no meio ambiente é que a legislação ambiental pátria condiciona o exercício da extração mineral ao preenchimento de tantos requisitos.

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Ao comentar sobre a exploração mineral nas áreas de preservação permanente, Paulo Affonso Leme Machado, em sua obra “Direito Ambiental Brasileiro”, p. 640, 11ª Edição, ensina que:

O exercício de algumas atividades de mineração – como a extração de areia ou a exploração de jazida em encostas – poderá configurar atentado à vegetação de preservação permanente. Os abusos têm-se multiplicado por excessiva tolerância da Administração Pública, com conseqüências gravosas para os cursos d'água, que se vêem assoreados, e para os mananciais, que são afetados na quantidade e na qualidade. Cumpre salientar que acerca da vegetação de preservação permanente, máxime quando há induvidosa mensuração, no art. 2º da Lei 4.771/65, não cabe outra decisão ao Departamento Nacional da Produção Mineral-DNPM, ao IBAMA e aos órgãos ambientais estaduais a não ser cumprir as normas, sem nenhuma margem de discricionariedade. (Grifo nosso)

Ademais, será cabalmente demonstrado que a empresa ré – totalmente controlada pela multinacional KINROSS GOLD CORPORATION, sediada em Toronto, CANADÁ, também com atuação nos Estados Unidos, Chile, Equador e Rússia – promove a alteração adversa das características do meio ambiente, degradando a qualidade ambiental pelo resultado de atividades que direta ou indiretamente têm a potencialidade de prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, ou criar condições adversas às atividades sociais e econômicas desta. [DOC 04]

6 DOS BENEFICIÁRIOS

Os beneficiários da presente ação civil pública ambiental, a princípio, são todas as pessoas detentoras do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida (CF, artigo 225, caput), merecedoras da defesa coletiva de seus direitos difusos (Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/1990, artigo 81, inciso I), enquanto pessoas indeterminadas, porém, ligadas pela mesma circunstância de fato, como adiante será demonstrado. [DOC 05]

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A palavra saúde também deve ser compreendida de forma abrangente, não se referindo somente à ausência de doenças, mas sim ao completo bem-estar físico, mental e social de um indivíduo. Nesse sentido, é a orientação que se extrai da disposição contida no artigo 3º da Lei nº 8.080/90, onde se consigna que 'a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente , o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais' (grifo nosso).Assim o termo 'saúde' engloba uma série condições que devem estar apropriadas para o bem estar completo do ser humano, incluindo o meio ambiente equilibrado. (Grifo nosso)

A relação entre meio ambiente e saúde e a importância dos princípios da prevenção e da precaução (02/2005). Paulo Roberto Cunha, Advogado e especialista em Direito Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP). Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6484>. Acessado em: 05 Ago. 2009.

7 DO FATO

A mineração de ouro a céu aberto nos limites urbanos da cidade de Paracatu é fato público, notório, visível a olho nu. [DOC 06 e 07]

A expansão da mina, denominada III Etapa de Expansão também é fato público e notório, amplamente divulgado na mídia local e debatido pela sociedade, inclusive em audiências públicas.

A construção de uma nova barragem de rejeitos é fato anunciado e em processo de licenciamento pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), com julgamento previsto para o próximo dia 20 de agosto de 2009.

A barragem será construída a montante dos cursos d'água localizados no complexo hídrico da Serra da Anta, expondo o meio-ambiente aos riscos inerentes de um depósito de ARSÊNIO (vulgarmente conhecido como arsênico), veneno tão poderoso que um grama (1 g) é suficiente para matar sete pessoas adultas.

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No mais recente “relatório único” da Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - Noroeste (SUPRAMNOR)6, a palavra "arsênio" aparece escondida, citada apenas duas vezes no rol de diversos outros parâmetros secundários que serão "auto-monitorados" pela mineradora transnacional, ora ré na presente ação. [DOC 08]

O relatório não discute o milhão de toneladas de arsênio inorgânico que serão liberadas para o meio ambiente urbano de Paracatu e seu entorno, em decorrência da expansão da mineração, e especificamente despejadas no Vale do Machadinho, a

6 Protocolo nº 320065/2009 da SUPRAMNOR. Disponível em: <http://200.198.22.171/down.asp?x_caminho=reunioes/sistema/arquivos/material/&x_nome=ITEM_5.1_-_PU_-_Rio_P._Minera%E7%E3o_S.A.pdf> Acessado em: 10 ago. 2009. Cópia impressa acostada aos documentos anexos

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verdadeira caixa d’água potável de milhares de paracatuenses.

Quem lê o relatório da SUPRAMNOR não pode sequer imaginar que exista um problema desse, como se 1 milhão de toneladas de ARSÊNIO não fossem um problema gigantesco. Na verdade, deve ser a maior quantidade de ARSÊNIO jamais liberada por uma mina de ouro no mundo, dentro de uma cidade de 90 mil habitantes. E o relatório estrategicamente, ou simplesmente, ou vergonhosamente, conseguiu esconder 1 milhão de toneladas de arsênio das pessoas que decidirão sobre sua aprovação ou rejeição, na reunião do COPAM do dia 20 de agosto de 2009, selando o destino de vida ou morte de milhares de pessoas.

Em certo ponto, o relatório afirma:

Os critérios de projeto dependem da classificação da barragem relativa às potenciais conseqüências incrementais de sua ruptura (potenciais perdas de vida e danos sócio-econômicos, financeiros e ambientais). De acordo com as Diretrizes da CDA, as barragens da Bacia do Eustáquio deveriam ser classificadas como tendo conseqüências de ruptura de “Alta” (algumas fatalidades, grandes danos) a “Muito Alta” (grande número de fatalidades, danos extremos). A integridade da barragem deve ser mantida sob todas as cargas esperadas, condições de percolação e outras condições como deformações e erosão (PCA, fl. 357). - sic. (Grifo nosso).

No restante do relatório, nada permite supor que critérios seriam adequados a tais riscos ou que critérios foram observados para efeito da execução dos

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projetos quando da instalação da nova barragem.

Porém, importante ressaltar que as diretrizes mencionadas no referido relatório referem-se as normas internacionais da Associação Canadense de Barragens (CDA) publicadas em 1999, mais restritivas que as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e compatíveis com os critérios de projetos de grandes barragens do Comitê Internacional de Grandes Barragens (ICOLD).

Impressionante mesmo são os próprios relatores da SUPRAMNOR reconhecerem que o "desmate causará a alteração e extinção de cursos d’água, modificando negativamente a qualidade ambiental local e alterando o microclima local e da cidade de Paracatu, com perda da biodiversidade." (Grifei). [DOC 08]

8 DOS RISCOS

A autora é detentora de conhecimento e expertise suficientes para avaliar que a mineradora, como empresa que necessita repassar lucros para seus acionistas no estrangeiro, procurará a relação custo/benefício que melhor atenda aos propósitos comerciais.

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Não existe clareza alguma no mencionado processo de licenciamento da famigerada barragem que permita à população exposta ao risco – em sua maioria composta de pessoas menos esclarecidas – conhecer da extensão dos perigos a que já está sujeita, sendo iminente a possibilidade de tais riscos se converterem em possibilidades concretas de danos ao meio ambiente e à saúde pública em proporções inimagináveis. Tampouco consta neste processo informações que permitam aos órgãos municipais locais se articularem na defesa dos recursos hídricos. [DOC 09 a 15]

A autora já pediu ao governo municipal providências em relação às doenças que podem ser causadas pelo ARSÊNIO e apresentou razões de verossimilhança com atividades mineradoras em outros países. [DOC 16]

A configuração de envenenamento crônico por ARSÊNIO é recorrente em várias partes do Brasil e do mundo.

Uma pesquisa realizada pelo engenheiro geólogo Ricardo Perobelli Borba revelou sinais de contaminação por arsênio no solo e na água utilizada por moradores do Quadrilátero Ferrífero, que abrange as cidades de Ouro Preto, Santa Bárbara, Nova Lima e outras cidades históricas, em Minas Gerais.

Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/novembro2002/unihoje_ju198pag10a.html> Acessado em: 30 jan. 2008.

Os casos de contaminação por arsênio na cidade mineira de Santa Bárbara serviram de exemplo na conferência. A professora mostrou fotos de pessoas portadoras de arsenicose. Ela expôs três graus da doença: melanose, queratose e queratose Maligna. “A queratose é muito comum dar nas palmas das mãos e nas solas dos pés”, explicou.

Em seguida, a palestrante apresentou a

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distribuição mundial das áreas com problemas de arsênio. Bangladesh, Taiwan, Mongólia, Estados Unidos e Argentina são as áreas de maior quantidade de contaminação. De acordo com a professora, a arsenopirita, a realgar e a enargita são fontes naturais da substância. A liberação do arsênio no meio ambiente pode ocorrer através da intervenção do homem ou de forma natural.

Disponível em: <http://www.unicap.br/assecom/boletim/boletim2006/maio/ultimasnoticias/boletim_19.05.2006.htm > Acessado em: 30 jan. 2008.

Da análise dos documentos acostados à presente peça exordial, temos que os danos ambientais já causados, bem como os riscos de contaminação por ARSÊNIO e suas graves consequências para população imediata e mediata, são de inteiro conhecimento tanto da parte causadora – RPM/KINROSS – quanto da que arcará – Município de Paracatu – com o suporte às mazelas sociais geradas pela primeira.

8.1 Quando, como e por que o arsênio acumula no organismo e causa doenças e morte

O ARSÊNIO é um elemento tóxico semelhante a metal presente em algumas rochas da crosta terrestre. Em função das intempéries naturais ou de algumas atividades humanas sobre essas rochas, como a mineração, o arsênio se desprende para diversos compartimentos ambientais.

O metabolismo de alguns seres vivos é capaz de absorver e transformar as formas inorgânicas tóxicas do ARSÊNIO em compostos orgânicos, menos tóxicos. Algumas espécies de plantas e animais acumulam mais ARSÊNIO que outras. Abelhas são muito sensíveis ao arsênio. Elas podem acumular

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quantidades muito maiores de arsênio que outros insetos. Certos microorganismos, como fungos (p.ex., Penicillium brevicaule) e bactérias presentes em plantas e no solo podem reduzir o ARSÊNIO a uma forma ALTAMENTE TÓXICA, a trimetilarsina.

O ARSÊNIO tende a ser levado dos continentes para o mar, onde boa parte é transformada em arsênio orgânico, num processo que dura centenas, milhares ou milhões de anos e tende a dispersar o elemento. Concentrações anormais de ARSÊNIO livre no ambiente denotam a liberação de ARSÊNIO NOVO por uma fonte ativa: atividades geológicas naturais localizadas, como vulcanismo e fontes hidrotermais, e atividades humanas , como a MINERAÇÃO .

8.2 A mineração de rocha dura libera ARSÊNIO novo para o ambiente

A principal fonte de liberação de ARSÊNIO novo para o ambiente é a mineração de rocha dura, e especialmente a mineração de ouro, porque o ouro ocorre na natureza juntamente com o arsênio. As fontes de liberação de ARSÊNIO para a biosfera associadas à mineração de OURO incluem:

• Solos e rochas não aproveitadas;

• Água residual de locais com concentração de minério;

• Oxidação de alguns tipos de minérios de ouro para a remoção de enxofre e óxidos de enxofre; e

• A lixiviação aumentada por bactérias.

As concentrações de ARSÊNIO nas proximidades das operações de mineração de ouro estão elevadas em materiais abióticos e na biota.

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Mineradores e crianças em idade escolar nas vizinhanças das atividades de mineração de ouro apresentam níveis elevados de ARSÊNIO na urina. Nas populações analisadas, cerca de 20% das pessoas apresentaram concentrações elevadas de ARSÊNIO na urina associadas aos efeitos adversos futuros, como foi constatado em uma revisão feita em 2004 por RONALD EISLER7, sob a forma de uma variedade de problemas de saúde, incluindo excesso de mortalidade por CÂNCER de pulmão, estômago e trato respiratório .

Dispensável qualquer especialidade médica para concluir que quanto maior a quantidade de arsênio e chumbo no ambiente, maior é a absorção desses elementos e maiores são os efeitos danosos à saúde (ver CHIANG e cols., 2008)8. Ainda assim, em 2003, o pesquisador YÁÑEZ9 e seus colaboradores demonstraram mais um prejuízo às futuras gerações: encontraram uma frequência de dano ao DNA aumentada em crianças que vivem em locais onde as concentrações de ARSÊNIO e chumbo estão aumentadas na camada superficial dos solos e na poeira doméstica . 10 - 11

7 Eisler, R. 2004. Arsenic hazards to humans, plants, and animals from gold mining. Reviews in Environmental Contamination and Toxicology. 180:133-65. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/9049510_Arsenic_hazards_to_humans_plants_and_animals_from_gold_mining>.

8 Chiang WF, Yang HJ, Lung SC, Huang S, Chiu CY, Liu IL, Tsai CL, Kuo CY. 2008. A comparison of elementary schoolchildren's exposure to arsenic and lead. Journal of Environmental Science and Health C Environmental Carcinogenesis and Ecotoxicological Reviews. 26(3):237-55. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18781537?log$=activity>.

9 Yáñez L, García-Nieto E, Rojas E, Carrizales L, Mejía J, Calderón J, Razo I, Díaz-Barriga F. 2003. DNA damage in blood cells from children exposed to arsenic and lead in a mining area. Environmental Research 93(3):231-40. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14615232>.

10. Raie, RM. 1996. Regional variation in As, Cu, HG, and Se and interactionbetween them. Ecotoxicology and Environmental Safety 35:248-252.

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Critérios para a proteção da saúde humana e dos recursos naturais contra o arsênio foram listados e discutidos no trabalho de RONALD EISLER (2004). MUITOS DESSES CRITÉRIOS NÃO PROTEGEM ADEQUADAMENTE AS ESPÉCIES SENSÍVEIS DE PLANTAS E ANIMAIS E, POR ÓBVIO, TAMPOUCO A ESPÉCIE HUMANA!!!

8.3 Efeitos imediatos e a longo prazo da exposição ao ARSÊNIO

As formas inorgânicas do ARSÊNIO, como o trióxido de arsênio, são venenos clássicos para plantas, animais e para o ser humano. Em dose alta, ARSÊNIO mata imediatamente como um agente neurotóxico; em doses baixas por longos períodos, mata como um agente cancerígeno.

Arsênio é um elemento pouco usual, no sentido de que existem dados epidemiológicos humanos de qualidade científica aceitável para a avaliação dos riscos à saúde associados à exposição de longo prazo ao arsênio, o qual tem uma relação causal com os riscos aumentados de câncer de pele, pulmão, bexiga e rins, bem como outras alterações da pele, como hiperceratose e alterações da pigmentação. Esses efeitos têm sido claramente demonstrados em um número de estudos epidemiológicos de diferentes desenhos. Altos riscos e relações de exposição-dose têm sido observados para cada um desses pontos terminais. [WHO, 200112]

Um grama (1g) de ARSÊNIO inorgânico NÃO TEM CHEIRO NEM GOSTO e pode matar rapidamente até 10 pessoas. Após um período de adaptação, alguns seres humanos adultos saudáveis podem tolerar até 0,5 g de arsênio/dia, por algum tempo. Entretanto, a adaptação e a tolerância não são completas nem duradouras. Elas são

11. Marafante E, Bertolero F, Edel J, Pietra R & Sabbioni E. 1982.Intracellular interaction and biotransformation of arsenite in rats andrabbits. Science of the Total Environment 24:27-39.

12 WHO, 2001. United Nations Synthesis Report on Arsenic in Drinking-Water. Disponível em: <http://www.who.int/water_sanitation_health/dwq/arsenic3/en/>.

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funções da constituição genética, do estado fisiológico e do estado nutricional, envolvendo fatores ambientais como, por exemplo, a disponibilidade de selênio em quantidade adequada no ambiente e na dieta.

Organismos mal-nutridos utilizam mais o ARSÊNIO que organismos sadios, e de uma forma diferente. Uma das reações do corpo humano ao arsênio é o aumento da produção das células sanguíneas. A longo prazo, entretanto, a adaptação e a aparente tolerância ao ARSÊNIO podem acarretar em surgimento de câncer, doenças vasculares e diabetes, entre outras doenças.

8.1.3 – Absorção, metabolismo, eliminação e acumulação de ARSÊNIO no organismo

As vias oral e respiratória respondem por 90% da absorção de ARSÊNIO. A absorção pela pele também pode ocorrer. As taxas de absorção variam de 25 a 40% para o trato respiratório e até a 80% para o trato digestivo. Essas taxas podem sofrer variações sob influência de fatores como a idade do indivíduo e a composição mineral dos alimentos e da atmosfera.

Uma vez absorvido, o ARSÊNIO distribui-se rapidamente por todos os tecidos do corpo onde pode ser metabolizado em graus variáveis e é eliminado principalmente pelos rins. Um relatório da FAO/WHO estabelece PROVISORIAMENTE como tolerável uma quantidade máxima absorvida de ARSÊNIO inorgânico de 0,002 mg/kg de peso corporal/dia. Entretanto, como o ARSÊNIO é uma SUBSTÂNCIA CANCERÍGENA, não se pode falar em dose segura de exposição a este veneno!!!

Mesmo expostas a doses consideradas toleráveis, durante longos períodos, pessoas saudáveis e especialmente pessoas com função renal comprometida ou idosos (que geralmente

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manifestam algum grau de comprometimento da função renal) acumulam ARSÊNIO em quantidades tóxicas.

O acúmulo de ARSÊNIO acontece mesmo em pessoas saudáveis, em decorrência de exposições crônicas a doses consideradas baixas, normais ou toleráveis, sem que as pessoas apresentem sinais clínicos de intoxicação, e pode ser agravado por diversas condições fisiológicas, patológicas e ambientais.

Cada órgão tem um valor diferente de saturação, que se reflete em padrões variáveis de acúmulo. As MAIORES CONCENTRAÇÕES do elemento podem ser encontradas nos OSSOS, PULMÃO e PELE.

Foto 1: Criança de Paracatu - MG apresentando sinais de contamição por ARSÊNIO com alterações de pele.

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Foto 2: A mesma criança da Foto 1, indicando os efeitos do ARSÊNIO na pele, principalmente nos membros superiores e inferiores.

Estudos científicos realizados em humanos e animais comprovam que o ARSÊNIO se acumula no organismo com o passar do tempo (Figura 1).

Figura 1. Gráfico do acúmulo de arsênio no corpo humano durante a vida. Esse gráfico foi elaborado a partir das concentrações médias obtidas por Raie (1996) em material de autópsia de pacientes de Glasgow sem sinal clínico de arsenicose, que morreram por causas externas, como acidentes. Observe que mesmo nessas condições de acumulação sub-clínica, a quantidade acumulada encontra-se acima do valor provisoriamente considerado tolerável pela WHO (i.e. = 0,002 mg/kg). O aspecto do gráfico é compatível com o modelo experimental animal de Marafante e colaboradores (1982).

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Como já salientado, quanto maior a duração e a intensidade da exposição ao ARSÊNIO, maiores serão os efeitos danosos à saúde humana ao longo prazo, como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes, doenças de pele etc.

A partir dos dados disponíveis na literatura científica mundial, foi possível construir o gráfico da Figura 2, que ilustra um modelo de acúmulo de arsênio em uma população cronicamente exposta a doses crescentes de arsênio.

Figura 2. Gráfico ilustrativo do modelo de acúmulo de arsênio em uma população cronicamente exposta a doses crescentes do metalóide tóxico. As curvas A-D correspondem às curvas teóricas de acúmulo após exposição crônica às seguintes doses crescentes de arsênio (em microgramas/dia): A, 12 ug/dia; B, 15 ug/dia; C, 20 ug/dia; D, 38 ug/dia. Observe o padrão exponencial de acúmulo, i.e., pequenos acréscimos na dose diária causam grandes aumentos na concentração corporal de arsênio, e

consequentemente o deslocamento da curva de acúmulo para cima. As curvas B-D não se verificariam na realidade de uma população cronicamente exposta, porque a maioria dos pacientes morreria quando o acúmulo de arsênio alcançasse a dose letal.

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Foto 3: As imagens acima e ao lado mostram cidadãos de Bangladesh com graves ferimentos, decorrentes da intoxicação por Arsênio, que por sua vez gerou o aparecimento de diversos tipos de neoplasias (cânceres) naquela região.

Foto 4: Imagens oriundas do artigo "A Geologia Médica do Arsênio – Parte II: O Caso de Bangladesh", disponível em: <http://rascunho-geo.blogspot.com/2009/05/artigo-geologia-medica-do-arsenio-parte_22.html>.

Para um homem de 70kg a do letal seria alcançada a partir da curva A (exposição crônica a 12 ug/dia, resultando em uma concentração de ARSÊNIO de até 1 mg/kg de peso corporal), dependendo da capacidade de tolerância individual ao arsênio.

Além da dose diária, a capacidade de tolerância individual e a mortalidade decorrentes da exposição crônica ao ARSÊNIO são determinantes do tipo de curva de acumulação verificado na realidade. Os dados usados para construir este modelo foram obtidos da literatura já mencionada em notas de rodapé acima.

CONCLUSÕES:

Altas concentrações de ARSÊNIO livre no ambiente são claramente decorrentes de atividades humanas, como a mineração;

O ARSÊNIO é absorvido principalmente por via oral (água, alimentos, objetos contaminados) e respiratória (poeira, gases);

ARSÊNIO é veneno tanto em doses altas quanto em doses baixas. Em doses altas, a morte é imediata; em doses baixas o arsênio causa câncer e outras doenças ao longo prazo. Como o ARSÊNIO é uma substância cancerígena, não existe dose segura para exposição ao arsênio;

Mesmo em doses consideradas toleráveis e durante exposição crônica ao arsênio na água, alimentos e atmosfera, o ARSÊNIO se acumula no organismo humano saudável, causando ou agravando efeitos danosos à saúde;

Mesmo quando as populações expostas cronicamente ao ARSÊNIO não apresentam nenhum sinal clínico de intoxicação, ainda assim elas estão sujeitas ao risco de desenvolver câncer relacionado ao ARSÊNIO. Por isso, elas necessitam de acompanhamento prolongado.

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8.4 DAS PROVIDÊNCIAS EM RELAÇÃO AOS RISCOS

Diante do potencial lesivo de uma nova barragem de rejeitos tóxicos capaz de, nos prováveis trinta anos de operação, acumular ARSÊNIO suficiente para matar toda a população humana do Planeta Terra, sobra para as potenciais vítimas desse genocídio, em tese não levado em conta pelas autoridades, prevenir-se para fugir diante de perigo concreto de dano caracterizado pelo aumento da presença de tóxicos

nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, solo, fauna e flora, na área de influência da bacia de acumulação e ventos dominantes. [DOC 06 e 10]

9 DO PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Como ensina o doutrinador Édis MIRALÉ13, o princípio da prevenção se caracteriza pela "prioridade que deve ser dada às medidas que evitem o nascimento de atentados ao ambiente, de molde a reduzir ou eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar sua qualidade." (Grifei).

13 MIRALÉ, Edis. Princípios Fundamentais do Direito do Ambiente. Revista dos Tribunais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, outubro de 1998, nº 756.

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Já consta exposto na presente inicial que a Constituição Federal obriga todo e qualquer empreendedor a proteger o meio ambiente no curso de sua atividade econômica – e até mesmo depois de encerrada, razão pela qual se conclui que o princípio da prevenção impõe o equilíbrio entre o desenvolvimento sócio-econômico e a preservação ambiental, para salvaguarda aos interesses difusos da população direta e indiretamente envolvida.

Sustentando-se em tal princípio, é possível permitir a instalação de uma determinada atividade ou empreendimento ao passo que se impede que ele cause danos futuros, isto por meio de medidas mitigadoras ou de caráter preventivo a que estará obrigada, no presente caso, a mineradora ré.

Ninguém prefere o dano à sua prevenção; negar o direito à prevenção do dano é admitir que o cidadão é obrigado a suportar o dano, tendo apenas direito à indenização. Ou o que é pior, é criar um sistema de tutelas onde impera a 'monetização' dos direitos, incompatível, como é óbvio, com os direitos com conteúdo não patrimonial. O artigo 5o, XXXV, da Constituição da República, garante o direito à tutela inibitória, pois o direito de acesso à justiça tem como corolário o direito à adequada tutela jurisdicional, e esse, por sua vez, o direito à tutela preventiva, direito ineliminável em um ordenamento jurídico que pretenda tutelar de forma efetiva os direitos.

Revista de Direito Processual Civil, edição n. 2. Curitiba: Genesis Editora, 1996.

10 DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O princípio da prevenção tem aplicação contra os riscos já conhecidos, seja porque já experimentados, seja porque existem técnicas capazes de prever a sua provável ocorrência.

Diferencia-se do princípio da precaução, na medida em que esse tem como finalidade evitar um risco desconhecido, ou pelo menos incerto, eis que a ciência ainda não chegou a uma conclusão definitiva sobre os danos que podem resultar da atividade ou empreendimento potencialmente poluidor. [DOC 18]

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Em que pese a recente preocupação no país com a aplicação do princípio da precaução, pode-se dizer que a Alemanha aborda o referido princípio desde 1970, na Declaração de Wingspread, juntamente com o princípio da cooperação e do poluidor-pagador. Assim, o doutrinador alemão Kloespfer afirma que "a política ambiental não se esgota na defesa contra ameaçadores perigos e na correção de danos existentes. Uma política ambiental preventiva reclama que as bases naturais sejam protegidas e utilizadas com cuidado, parciosamente." (apud DERANI, 1997, p. 165).A Declaração de Wingspread aborda o Princípio da Precaução da seguinte maneira: "Quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidos cientificamente." (www.fgaia.org.br/texts/t-precau.html, tradução de Lúcia A. Melin). (Grifo nosso)No direito positivo brasileiro, o princípio da precaução tem seu fundamento na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31/08/1981), mais precisamente no artigo 4, I e IV, da referida lei, que expressa a necessidade de haver um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a utilização, de forma racional, dos recursos naturais, inserindo também a avaliação do impacto ambiental.Salienta-se, que o referido princípio foi expressamente incorporado em nosso ordenamento jurídico, no artigo 225, § 1o, V, da Constituição Federal, e também através da Lei de Crimes Ambientais (lei 9.605/1998, art. 54, § 3o). (Grifei)

O princípio da precaução no Direito Ambiental - Elaborado em 07.2004. Silvana Brendler Colombo - Advogada, especialista em direito ambiental e mestranda em direito pela UCS-Universidade de Caxias do Sul. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=5879 >. Acessado em: 04 ago. 2009.

[DOC 19]

11 DOS FUNDAMENTOS DO PEDIDO

A matéria invocada está inserta na ordem dos direitos coletivos e individuais a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como posto na Constituição, já abundantemente citada.

A Constituição também obriga os particulares na

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efetivação de tais garantias, quando os notifica para cumprimento da função social da propriedade e do respeito ao meio ambiente.

Desta sorte, tanto o poder público tem direito a informações claras e precisas que permitam administrar as questões socioambientais, com ênfase na saúde ambiental, como os particulares e a coletividade tem o direito de terem acesso a tais informações e as interpretarem conforme seus sentimentos ou esclarecimentos que os gestores lhes derem.

Antidemocrático, anticidadania e iníquo é admitir o automonitoramento sem que haja divulgação pública de potencial lesivo também de alcance público, e sem que a administração pública alcance as informações que lhe servem para planejamento, gestão, prevenção e precaução.

12 DO ÔNUS DA PROVA

Pelo princípio constitucional da prevenção, norteador de todo o Direito Ambiental, que se fundamenta nas características de irreversibilidade e de difícil quantificação e reparação dos danos ambientais, que pode ser expressa na velha máxima de que “prevenir é melhor do que remediar”, não se deve autorizar um empreendimento – ou parte dele – sem que se tenha certeza absoluta da não ocorrência de degradação ambiental.

Em virtude da natureza difusa do interesse ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a supremacia do interesse público sobre o particular condiciona que a busca da certeza da não ocorrência dos danos recaia sobre o empreendedor e não sobre a coletividade, isto é, ocorre à inversão do ônus da prova, devendo as rés suportarem tal incumbência a fim de provar a não ocorrência de possíveis danos ou irregularidades aqui apontadas.

Neste contexto, a única conclusão coerente é a de que a

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Constituição Federal, diante das exigências sociais vigentes, terminou impondo a responsabilidade objetiva ao agente causador do dano ambiental, com a necessária inversão do ônus da prova para o lado do poluidor/degradador, já que a opção pela responsabilidade subjetiva tornaria impraticável a perseguição da reparação na generalidade dos casos, representando o esvaziamento do conteúdo normativo do dispositivo constitucional citado.

13 DO PEDIDO PRINCIPAL PARA O FAZER E O NÃO-FAZER

Para que o direito fundamental ao meio ambiente e as normas que lhe conferem proteção possam ser efetivamente respeitados, é necessário uma ação que i) ordene um não-fazer ao particular para impedir a violação da norma de proteção e o direito fundamental ambiental; ii) ordene um fazer ao particular quando a norma de proteção lhe exige uma conduta positiva; iii) ordene um fazer ao Poder Público quando a norma de proteção dirigida contra o particular requer uma ação concreta; iv) ordene um fazer ao Poder Público para que a prestação que lhe foi imposta pela norma seja cumprida; v) ordene ao particular um não-fazer quando o licenciamento contraria o estudo de impacto ambiental sem a devida fundamentação, ressentindo-se de vício de desvio de poder; viii) ordene ao particular um não-fazer quando o licenciamento se fundou em estudo de impacto ambiental incompleto, contraditório ou ancorado em informações ou fatos falsos ou inadequadamente explicitados. (Grifei)

Princípio da prevenção - Elaborado em 01.2007. - Carlos Fernando Silva Ramos - juiz de Direito substituto do Estado do Amapá, mestrando em Direito Ambiental e Políticas Públicas pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9574>. Acessado em: 04 ago. 2009.

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13.1 Município de Paracatu

13.1.1 Obrigações de fazer

13.1.1.1 Elaborar no prazo de 60 (sessenta) dias o plano de gestão específica dos recursos hídricos e atividades minerárias referentes à ré RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. - RPM / KINROSS GOLD CORPORATION em relação à nova barragem;

13.1.1.2 Estender o plano de gestão específica citado no item anterior à totalidade da planta de processamento, tanques específicos, água efluente e rejeitos, principalmente em relação à dispersão da poeira fugitiva, gases e águas superficiais e subterrâneas da área da mineração sobre a área urbana e áreas de produção agropecuária;

13.1.1.3 Promover o estudo epidemiológico clínico-laboratorial e atuarial da população de Paracatu em relação ao envenenamento crônico por ARSÊNIO e outras substâncias e suas consequências para a saúde pública como câncer e outras doenças, conforme documento anexado [DOC 12, 16, 18];

13.1.1.4 Manter ativa a gestão específica e acompanhamento epidemiológico enquanto durarem as atividades de mineração e mais após o fechamento da mina, de forma constante e por prazo indeterminado, devendo fazer dotações orçamentárias para garantir a permanência dos programas de vigilância e monitoramento contínuos;

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13.1.1.5 Dar publicidade, através de mídia local, regional e da internet, do plano de gestão específica citado no item “a”, dos dados coletados ou fornecidos pela ré RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. - RPM / KINROSS GOLD CORPORATION, e dos resultados do estudo epidemiológico, para conhecimento da coletividade.

13.2 RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. / Kinross Gold Corporation

13.2.1 Obrigações de fazer

13.2.1.1 Realizar em conjunto com a Prefeitura Municipal de Paracatu, órgão executivo do Município de Paracatu, independentemente dos estudos ambientais já realizados – podendo estes serem aproveitados no que atenderem –, os levantamentos de cenários e índices de presença ou contaminação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos, solo, flora e fauna, na área de influência da nova barragem de rejeitos e dos ventos dominantes;

13.2.1.2 Manter os cenários e índices atualizados periodicamente, conforme os mais atualizados conhecimentos científicos e técnicos, inclusive mediante contratação de profissionais com competência científica e técnica reconhecida pelos pares, conforme comprovado através de currículo. ;

13.2.1.3 Publicar simultaneamente com as publicações da Prefeitura municipal, sua concordância ou discordância, fundamentadas;

13.2.1.4 Apresentar em Juízo, com cópia para a co-ré, todos os estudos que já estejam aprovados – ou vierem a ser aprovados – pelos órgãos competentes para licenciamento e fiscalização da operação da mina e barragens;

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13.2.2 Obrigação de não fazer

13.2.2.1 Não iniciar qualquer obra da nova barragem (exceto sondagens e coletas de amostras), nem desfigurar o cenário, antes que os levantamentos exigidos estejam prontos e publicados.

14 DO PEDIDO DE CAUTELA LIMINAR

Considerando que a tutela efetiva da prevenção e da precaução tem dependência absoluta da configuração do cenário antes do início de qualquer obra, a concessão da CAUTELA LIMINAR é imprescindível para evitar maiores danos ao meio ambiente e à saúde da coletividade, conforme exaustivamente exposto na presente peça vestibular.

O artigo 12 da Lei nº 7.347/1985, que contempla um procedimento especial, estabelece que é permitido ao Juiz o poder de conceder, sem justificação prévia, MEDIDA LIMINAR, onde lhe é permitido ainda cominar multa para o descumprimento (artigo 12, parágrafo 2º), cuja exigência, no entanto, fica condicionada ao trânsito em julgado da decisão final.

Trata-se de verdadeira medida antecipatória do provimento do mérito, tal qual nas liminares de procedimento especial, e não mera providência cautelar, perfeitamente possível, compatível e autorizada por lei, podendo ser concedida nos próprios autos da ação civil pública (cf. RTJ - JESP 113/312).

Para tanto, bastam a presença do fumus boni juris e do periculum in mora, além da caracterização de possíveis danos irreparáveis ou de difícil reparação ao meio ambiente, às pessoas ou que mereçam a imediata ação do Poder Judiciário.

O fumus boni juris está materializado na prova

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demonstrada da ocorrência de deposição de ARSÊNIO no sistema de barragem existente, além de dispersão no ar pela própria movimentação do material durante seu beneficiamento, bem como na ausência de demonstração confiável de que a atividade exercida pelo empreendedor não causará malefícios à saúde da coletividade, tampouco danos irreparáveis ao meio ambiente. O que indica o nexo de causalidade com as possíveis lesões ambientais e à saúde pública, através da falta de adequada avaliação prévia e controle efetivo por parte da municipalidade.

Já o periculum in mora traduz-se no risco de se implantar a teoria do fato consumado, concernente no fato de que se aguardar o julgamento final da presente ação, a atividade mineradora terá tomado proporções incontroláveis, aumentando a degradação ambiental já constatada – e irreparável – em localidade onde se situa bacia hidrográfica altamente relevante não só para o abastecimento público dos munícipes paracatuenses, como para manutenção em condições de preservação de todo o ecossistema da região.

O perigo da demora em uma situação como esta equivale, nas palavras emprestadas do Promotor Jacson Correa14, a:

Além do respaldo à própria ilegalidade, a um verdadeiro estímulo à destruição da natureza, permitindo também que persistam as reiteradas agressões à saúde humana, provocando por si só a irreparabilidade do dano face a impossibilidade de mensurá-lo concreta suficientemente, uma vez que o meio ambiente sadio, e por conta disso toda a natureza representam um patrimônio que pertence a todos, indistintamente.

Portanto, além de cabível, a concessão da liminar mostra-se verdadeira medida de justiça social. Já sua denegação, de certo, representaria a submissão do interesse público ao interesse privado e a sujeição da dignidade humana ao poder

14 Revista de Direito Ambiental. n.1. Ed. Revista dos Tribunais. p.277.

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econômico. Privilegiar-se-ia o Capital em face do ser humano e da vida, e suas futuras gerações, o que seria além de injurídico, também moralmente inconcebível.

Ademais, a defesa do meio ambiente é regida por princípios próprios, entre os quais encontra-se o princípio da precaução ou também denominado de princípio da cautela, da prudência, o qual exige, quando exista perigo grave ou irreversível ao meio ambiente, que não se imponha a certeza instrumental como meio de postergar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente. A certeza exigida pelo princípio da precaução dirige-se justamente para o lado oposto, isto é, para a afirmação da inexistência de prejuízo ao meio ambiente, a fim de que qualquer tipo de intervenção possa ser admitida.

Ensina Paulo de Bessa Antunes15 que o “princípio da prudência ou da cautela é aquele que determina que não se produzam intervenções no meio ambiente antes de ter a certeza de que estas não serão adversas”.

Desta feita, requer seja deferida liminar, sem oitiva das partes, impondo a ré RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. - RPM / KINROSS GOLD CORPORATION a obrigação de NÃO INICIAR QUALQUER OBRA (EXCETO SONDAGENS E COLETAS DE AMOSTRAS) DA NOVA BARRAGEM, NEM DESFIGURAR O CENÁRIO, ANTES QUE OS LEVANTAMENTOS ESTEJAM PRONTOS E PUBLICADOS, cominada a multa de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) diários em caso de descumprimento.

15 DOS PEDIDOS

A autora requer:

15 Direito Ambiental. Ed. Lumen Juris, 1996. p.25.

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15.1 seja determinada à ré RIO PARACATU MINERAÇÃO S.A. - RPM / KINROSS GOLD CORPORATION o cumprimento do disposto no item 12.2.1, letra “d” – entrega de documentos – no prazo de 15 (quinze) dias contados da data de recebimento desta inicial;

15.2 a notificação do Ministério Público Estadual para figurar como interveniente na presente ação;

15.3 o deferimento da liminar e expedição da ordem;

15.4 a citação das rés para, querendo, contestarem a presente ação;

15.5 a nomeação de perito do juízo e admissão de assistentes técnicos;

15.6 a condenação das rés no pedido principal constante das obrigações contidas no item 12;

15.7 a cominação de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a cada uma das rés, isoladamente, por dia de atraso quanto ao cumprimento, ou seja, por dia de inadimplemento, a qualquer tempo, das obrigações do pedido principal.

16 DO VALOR DA CAUSA

A saúde e a vida humana são de valor inestimável, mas é possível sugerir, com base em estudos16, um valor

16 Estudos que estabelecem valores de referência da ordem de U$ 2.300.000,00 (dois milhões e trezentos mil dólares) por pessoa, que, multiplicado pelo valor médio atual da moeda norte americana (U$ 1,00 = R$ 1,80), equivale a R$ 4.140.000,00 (quatro milhões e cento e quarenta mil reais) per capita:

(1) Avaliação Econômica de Impactos de Projetos sobre a Vida Humana: Uma Análise Crítica da Teoria do Capital Humano - Claude A. M. J. Cohen (1) - Giovani V. Machado (2) - Maurício T. Tolmasquim (3). Disponível em: <http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/ii_en/mesa2/3.pdf>. Acessado em: 05 ago. 2009.

(2) Ackerman F., Heinzerling L. (2002) The $6.1 Million Question. Working Paper

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econômico médio de R$ 4.140.000,00 (quatro milhões e cento e quarenta mil reais) por pessoa afetada pelo risco sistêmico, sendo que para o caso em questão estima-se que o grupo de risco sistêmico comporte 9.000 pessoas, temos o cálculo de R$ 4.140.000,00 x 9.000 = R$ 37.260.000.000,00 (trinta e sete bilhões e duzentos e sessenta milhões de reais) para 10% (dez por cento) da população de Paracatu, em mais trinta anos de mineração a céu aberto na cidade e seu entorno, dados confirmados pela Environmental Protection Agency17, agência de proteção ambiental do governo americano, que estudou a fundo os custos sociais da contaminação ambiental por arsênio18.

Contudo, para efeitos processuais, dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que pede e espera deferimento.

Paracatu, 18 de agosto de 2009.

HEITOR CAMPOS BOTELHO

OAB/MG 784-A

No. 01-06, Global Development and Environment Institute. Tufts University, Medford MA 02155, USA. Disponível em: <http://ase.tufts.edu/gdae/publications/Working_Papers/0106%20revised6_1Million%20Question.pdf>. Acessado em: 06 ago. 2009.

17 Statement Of Phil Coleman - Environmental Protection Agency - Aging Initiative Public Listening Session - Pittsburgh, Pennsylvania - April 23, 2003 - Phil Coleman – Chair - Pennsylvania Chapter of the Sierra Club. Disponível em: <http://www.epa.gov/aging/listening/2003/pitt_coleman.htm>. Acessado em: 05 ago. 2009.

18The Benefits and Costs of the Clean Air Act, 1970 to 1990 (EPA, 1997); Arsenic in Drinking Water Rule: Economic Analysis, December 2000 (EPA 815-R-00-026).

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RELAÇÃO DE DOCUMENTOS ANEXOS:

• 01 – ESTATUTO DA FUNDAÇÃO ACANGAÚ

• 02 a 05 – TRANSCRIÇÃO DE LEGISLAÇÃO PERTINENTE

• 06 – IMAGENS DE SATÉLITE E AÉREAS DA ÁREA DE MINERAÇÃO E DO MUNICÍPIO

• 07 – MATÉRIA DO JORNAL “ESTADO DE MINAS”, DE 13/07/2008

• 08 – RELATÓRIO SUPRAMNOR

• 09 – EVIDÊNCIAS DE CONTAMINAÇÃO

• 10 – LEVANTAMENTO PLANIMÉTRICO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ENTRE RIBEIROS

• 11 – CASO BUCKHORN

• 12 – SAÚDE AMBIENTAL

• 13 – ARSENOPIRITA

• 14 – ARSÊNIO NA ÁGUA

• 15 – POLUIÇÃO DO SOLO

• 16 – REQUERIMENTO AO MUNICÍPIO

• 17 – TESE DE DOUTORADO

• 18 – MANIFESTO DE PARACATU

• 19 – EXEMPLO DE MONITORAMENTO

• 20 – CD-ROM CONTENDO O FILME DOCUMENTÁRIO “OURO DE SANGUE”, também disponível para ser assistido na internet em Inglês no sítio <http://www.bloodstainedgold.blogspot.com/> e em Português no sítio <http://www.ourodesangue.blogspot.com/>,

• ALÉM DE ARQUIVOS ELETRÔNICOS DOS DOCUMENTOS AQUI ACOSTADOS

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