aÇÃo civil pÚblica aÇÃo civil coletiva · 2017-06-26 · pelo art. 82 do cdc, obedece ao...

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Ministério Público Federal Procuradoria da República no Amazonas EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA_ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM AÇÃO CIVIL COLETIVA ASSUNTO: VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO DOS SUBTENENTES E SARGENTOS DA POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS. O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, com suporte no art. 129, XI, da Constituição Federal; art. 5º, III, alínea "e", e art. 6º, XII, ambos da Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), art. 82, I, da Lei n.º 8.078/90; bem como do art. 796, caput, do CPC, vem, perante V.Ex.ª, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA cumulada com AÇÃO CIVIL COLETIVA (COM PEDIDO LIMINAR) Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública federal, representado neste Estado por seu Superintendente de Negócios, Acao Civil Publica - Subtenentes e Sargentos da PM - MPF.doc - bpca 1

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M i n i s t é r i o P ú b l i c o F e d e r a lProcuradoria da República no Amazonas

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA_ VARA DA SEÇÃOJUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUMULADA COM AÇÃO CIVIL COLETIVAASSUNTO: VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO DOS SUBTENENTES E SARGENTOS DA

POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS.

O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, peloProcurador da República signatário, com suporte no art. 129, XI, da ConstituiçãoFederal; art. 5º, III, alínea "e", e art. 6º, XII, ambos da Lei Complementar nº 75/93 (LeiOrgânica do Ministério Público da União), art. 82, I, da Lei n.º 8.078/90; bem como doart. 796, caput, do CPC, vem, perante V.Ex.ª, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA cumulada com

AÇÃO CIVIL COLETIVA(COM PEDIDO LIMINAR)

Em face de

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL , empresa públicafederal, representado neste Estado por seu Superintendente de Negócios,

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passível de ser citada na Avenida Ramos Ferreira, 596 – 5º, Andar, Centro,Manaus/AM;

SASSE – COMPANHIA NACIONAL DESEGUROS GERAIS, pessoa jurídica de direito privado constituídasob a forma de sociedade anônima, podendo ser citada na pessoa de seurepresentante estadual, Sr. Luís Botelho de Lima, na Avenida Sete deSetembro, 1251/103 – Parte – Centro, Manaus/AM;

PLANECON – PLANEJAMENTO,EMPREENDIMENTO E CONSTRUÇÃO LTDA. ,pessoa jurídica de direito privado, podendo ser citada na pessoa de seuPresidente, na sede da Empresa, sito à Rua Chaves Ribeiro, 50, Bairro de SãoRaimundo, Manaus/AM;

GEORGE ANTISTHENES LINS DEALBUQUERQUE, Engenheiro Civil registrado no CREA/AM/RRsob o n.º 1821-D/AM/RR, podendo ser citado na Rua Chaves Ribeiro, 50,Bairro de São Raimundo, Manaus/AM;

WELLINGTON LINS DE ALBUQUERQUE,Engenheiro Civil registrado no CREA/AM/RR sob o n.º 116943-D/SP,podendo ser citado na Rua Chaves Ribeiro, 50, Bairro de São Raimundo,Manaus/AM;

URBAM – EMPRESA MUNICIPAL DEURBANIZAÇÃO , empresa pública municipal, podendo ser citada napessoa de sua Diretora Presidente Maria Auxiliadora Dias Carvalho, na RuaFloriano Peixoto, 134, Edifício Garagem – Centro, Manaus/AM;

I. DO OBJETO DAS AÇÕES

a) Objeto da ação civil pública

1. A presente Ação Civil Pública visa obter provimentojurisdicional em defesa dos moradores do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos daPolícia Militar do Amazonas, localizado na Rua Noel Nutells s/n, Parque da Laranjeiras,Manaus/AM, na recuperação de seus imóveis vez que as unidades habitacionais dosusomencionado Conjunto não foram construídas em conformidade com o projetooriginal, oferecendo riscos de ordens diversas, inclusive de saúde face às precáriascondições hidro-sanitárias, causando assim constante perigo de vida aos moradores.

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b) Objeto da ação civil coletiva

2. A presente Ação Civil Coletiva tem por objeto oressarcimento de dano material e moral causado aos moradores do Conjunto Residencial dosSubtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas, diante da depreciação de seusimóveis causados pela baixa qualidade dos serviços prestados e da privação psicológicaocasionada pela falta de condição de habitabilidade dos imóveis, imposta aos mutuários e suasrespectivas famílias, por aproximadamente 9 anos.

II. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDE RAL

3. O Ministério Público, como Instituição essencial à Justiça,conforme art. 127 da CF/88, tem como função precípua a defesa da ordem jurídica, do regimedemocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Desta feita, a ConstituiçãoFederal, em seu art. 129, estabelece como mecanismo de atuação do MP a propositura de açãocivil pública em defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos.

4. Por seu turno, o Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º.8.078/90, em seu artigo 82, confere legitimidade ao Ministério Público para ajuizar toda equalquer ação coletiva na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,estes entendidos como aqueles oriundos de uma base comum (art. 81, parágrafo único, incisoIII, da lei retrocitada).

5. A Lei Complementar n.º 75/93, explicitou as prerrogativasinerentes ao Ministério Público Federal, em seu art. 6º., abaixo transcrito:

“Art. 6º. Compete ao Ministério Público daUnião:

[...]

XII – promover a ação civil coletiva para adefesa de direitos individuais homogêneos

d)outros interesses individuais indisponíveis,homogêneos, sociais, difusos e coletivos;

XIV – promover outras ações necessárias aoexercício de suas funções institucionais, emdefesa da ordem jurídica, do regime democráticoe dos interesses sociais e individuaisindisponíveis”

6. No presente caso, o MPF vem a Juízo defender os interessesdos mutuários da Caixa Econômica Federal frente a esta instituição, por conseguintesegurados da SASSE – Companhia de Seguros Gerais S/A, em específico aos moradores doConjunto Habitacional dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas, que seencontram em situação perigosa em face dos diversos vícios de construção que ocasionammúltiplas situações de risco, inclusive de iminente ruína, a qualquer tempo, de parte estruturalde todas as unidades habitacionais em que se encontram alojados.Acao Civil Publica - Subtenentes e Sargentos da PM - MPF.doc - bpca 3

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7. O liame existente entre os moradores, substituídos napresente lide pelo Ministério Público Federal, e os requeridos baseia-se na relação deconsumo concretizada em face da construção do imóvel pela empresa Planecon –Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., financiado pela Caixa EconômicaFederal, sendo posteriormente seus apartamentos re-financiados individualmente aosadquirentes, mutuários substituídos na presente lide. Desta feita, ao assinar o contrato demútuo com a CEF, automaticamente o adquirente, por força da normatização desta instituiçãofinanceira, encontra-se segurado pela SASSE, Companhia Geral de Seguros S/A, no caso depossíveis danos físicos ao imóvel.

8. Estabelece o art. 3 º., da Lei n.º 8.078/90, verbis:

“Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física oujurídica, pública ou privada, nacional ouestrangeira, bem como os entesdespersonalizados, que desenvolvem atividadesde produção, montagem, criação, construção,transformação, importação, exportação,distribuição comercialização de produtos ouprestação de serviços.

§1º. Omissis

§2º. Serviço é qualquer atividade fornecida nomercado de consumo, mediante remuneração,inclusive as de natureza bancária, financeira,de crédito e securitária , salvo as decorrentesdas relações de caráter trabalhista”

9. A jurisprudência pátria tem-se firmado no entendimento dalegitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de ações visando a defesa deinteresses individuais homogêneos em relações de consumo, bem como da legitimidade deinstituições financeiras para figurarem no pólo passivo como fornecedoras, conforme ojulgado do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, abaixo transcrito:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVILPÚBLICA, LEGITIMIDADE, MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL, REBATE DE COBERTURA DO PROAGRO.

1. O Banco Central do Brasil é Administrador doPROAGRO, sendo que seus recursos são eridos eliberados pela autarquia. Nessa qualidade, oBACEN é parte legítima para figurar no pólopassivo da relação processual.

2. Omissis;

3. O Ministério Público Federal é partelegítima, como substituto processual, parapromover a Ação Civil Pública, relativamente adefesa dos direitos e interesses difusos,coletivos e individuais homogêneos, estesúltimos restritos a danos decorrentes de

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relações de consumo (artigo 81, parágrafoúnico, inciso III e 91 da Lei n.º 8.078/90). Em

casos excepcionais, mesmo na ausência deautorização legal, o Ministério Público Federalpode atuar como substituto processual, nadefesa de interesses individuais homogêneos quetenham significação social relevante (art. 127,da Constituição Federal).

4. O Ministério Público Federal temlegitimidade para a propositura da presenteAção Civil Pública, como substituto processualdos produtores, titulares de interessesindividual homogêneo, na qualidade deconsumidores do Serviço Securitário doPROAGRO.”( TRF3, AC 03007950-9/94, Decisão05/12/1995, DJ 31/01/96)

10. Nesse aspecto, mister se faz colacionar a lição de NelsonNery Júnior, abaixo transcrita:

“Como é função institucional do MinistérioPúblico a defesa dos interesses sociais(art. 127, caput, CF), essa atribuição dadapelo art. 82 do CDC, obedece ao disposto noart. 129, n. IX, da CF, pois a defesacoletiva do consumidor, no que tange aqualquer espécie de seus direitos (difusos,coletivos ou individuais homogêneos ) é, exvi , de interesse social.

(...)há evidente e indisputável interessesocial no ajuizamento de ações coletivas.Consulta aos interesses de toda asociedade, o fato de ajuizar-se uma demandaapenas, cujo objetivo seja solucionarconflitos coletivos (coletivos strictosensu ou individuais homogêneos ) oudifusos. Assim, a simples circunstância dea lei haver criado uma ação coletiva , oseu exercício já é de interesse social,independentemente do direito material neladiscutido.(...) Pode o Ministério Públicoajuizar qualquer demanda coletiva , nadefesa de qualquer direito que possa quepossa ser defendido por meio de açãocoletiva (difuso, coletivo ou individualhomogêneo)” (O Ministério Público e asAções Coletivas, in MILARÉ, Édis. AçãoCivil Pública. Lei 7.347/85 –

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Reminiscências e Reflexões após dez anos deaplicação. São Paulo : RT, 1995)

11. No presente caso, as Ações Civis Pública e Coletiva têmcomo escopo a defesa dos interesses individuais homogêneos dos consumidores, mutuários daCaixa Econômica Federal, que se encontram a mercê de terem seus imóveis totalmentedeteriorados, sem que qualquer providência de fato tenha sido tomada por parte dos réus emtermos de reparação do sinistro e cobertura das despesas de desalojamento. Sem o presentemecanismo, como adiante explicitar-se-á, corre-se o risco de se ter desabrigada umacoletividade de mutuários, agravando-se os danos materiais e morais suportados pelosmesmos há cinco anos.

12. Assim, comprovada está a legitimidade ativa do parquetpara a propositura da presente Ação Civil Pública cumulada com Ação Civil Coletiva, sendocompetente a Justiça Federal para processar e julgar o feito, eis que a questão toca a CaixaEconômica Federal, empresa pública federal, por força do art. 109, inciso I, da Carta Magna.

III) RESUMO FÁTICO

a) Histórico da situação

13. O Conjunto dos Subtenentes e Sargentos teve seu projetoaprovado pela Caixa Econômica Federal e executado pela Construtora PLANECON –Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., através de financiamento obtido junto àCEF, dentro dos moldes normativos ditados por essa Empresa Pública Federal, conformecontrato padrão. Por tal instrumento particular (cópia a fls. 140/153 do anexo I) a referidaConstrutora se comprometia a entregar as unidades habitacionais conforme o projetoaprovado pelo Setor de Engenharia da CEF, bem como ao pagamento dos valores obtidosposteriormente à título de empréstimo, enquanto que à CEF competia a transferência aopatrimônio da empresa dos valores necessários à execução do contrato durante a sua vigência,devendo exercer sistemática fiscalização sobre o cumprimento do cronograma físicofinanceiro do projeto. Essa atividade, em particular era realizada através de medições físicasda obra, da qual resultava os chamados Relatórios de Vistoria de Obra.

a.1) Irregularidades

14. O referido Contrato de Financiamento (cópia a fls. 140/153do anexo I) foi assinado em 18 de dezembro de 1989, devendo a construção do Conjunto estarconcluída no prazo de 14 (quatorze) meses.

15. Apesar de todos procedimentos burocráticos, inclusive orepasse de 100% do financiamento, várias irregularidades foram detectadas na execução doprojeto. A construção das unidades habitacionais do referido Conjunto FOISIMPLESMENTE EXECUTADA SEM A OBSERVÂNCIA DAS RECOME NDAÇÕESda ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ou de qualquer norma

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básica de construção, denotando absurda incúria por parte do órgão executor e fiscalizadordo projeto.

16. O RESULTADO NÃO PODERIA SER OUTRO, A NÃOSER O FATO DAS ESTRUTRURAS DESSAS RESIDÊNCIAS ESTAREMABSOLUTAMENTE COMPROMETIDAS !!!

17. Em 07 de junho de 1999, a Associação dos Moradores doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas denunciou a esteÓrgão Ministerial, através do expediente a fls. 02/04 do Anexo I, diversas irregularidadespraticadas pela Caixa Econômica Federal, em especial, a inexecução do projeto de construçãopor parte da Construtora com a aquiescência daquela empresa e a utilização de artifícios paradesrespeitar os contratos firmados, todos em consonância com a Política da EquivalênciaSalarial – Categoria Salarial.

18. A associação dos moradores do Conjunto dos Subtenentes eSargentos, irresignada com o desrespeito com que a Caixa Econômica Federal e a ConstrutoraPLANECON a tem tratado, relata a fls. 40/42 do Anexo I, os problemas vivenciados naqueleConjunto, ressaltando que a deficiência das condições sanitária que compromete a saúde dosmoradores:

“OBRAS NÃO CONCLUÍDAS ALÉM DE OUTROSDEFEITOS.

a) A rede de drenagem embora constante doprojeto, não foi concluída e assim, osproblemas aglutinam-se de formaprejudicial, chegando até a colocar emrisco as estruturas de algumas unidadeshabitacionais;

b) Também no Memorial está inserida aimplantação de dois poços artesianos,mas apenas um foi instalado;

c) A praça de lazer jamais foi implantadao que significa mais um descumprimentocontratual;

d) O Centro Social a exemplo da praça delazer também não foi construído,desfalcando o conjunto de umequipamento urbano de importânciacapital para o seu desenvolvimento;

e) Mesmo conhecendo a realidade climáticada região – que é úmido quente – e emtotal desrespeito ao projeto que previa

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arborização em todo o conjunto, esteimportante meio de proteção ambientalnão foi implantado, mas, tendo por baseas perspectivas e projeções, osmoradores pagam por todos osequipamentos não construídos, no quepode ser denominado ESTELIONATOHABITACIONAL;

1.º - O Memorial Descritivo das unidadesresidenciais, não foi respeitado pelaconstrutora, tanto o é que os vícios sesobressaem a primeira vista;

2.º - Os forros das unidades foram feitoscom gesso quando na realidade teriam queser em madeira de lei, tal infração geraproblema de saúde aos moradores que estãosendo vítimas de inúmeros problemasdermatológicos, e o gesso possivelmente, dequalidade inferior, está desprendendo-sedas placas e consequentemente poluindo oar;

3.º - O reboco ou seja o revestimento dasparedes, tudo indica que foi realizada nabase de uma saca de cimento por uma carradade areia e barro, mesmo ante tentativa deimpermeabilização, o mofo domina, o rebocodesprende-se e o pior, a situação obriga anovos investimentos para recompor asparedes embuçadas;

4.º - Todas as casa não possuem as portasinternas constantes do projeto inicial,obrigando alguns moradores a colocá-las emaposentos internos;

5.º - As portas externas, em todas ascasas, foram colocadas em desacordo com oprojeto, e as chapas de ferro utilizadas,em face de sua condição inferior, estãosendo corroídas pela ação do tempo eintempéries;

6.º - Instalações elétricas e sanitáriasnão oferecem as mínimas condições desegurança, os materiais, todos eles deinferior qualidade, tornam-se em

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verdadeiros riscos para os habitantes dascasas;

7.º - O Laudo Técnico já anexo, traça umperfil magnífico do conjunto como algo anão ser seguido.”

19. O Laudo Técnico (fls. 43/45 do Anexo I) elaborado peloEngenheiro do Departamento de Vigilância a Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Sr.Paulo Rodrigues de Souza, datado de 15 de outubro de 1998 (passados pouco mais de 06(seis) anos da concessão do Habite-se), do qual consta que, verbis:

“LAUDO TÉCNICO

Este Laudo Técnico diz respeito à InspeçãoSanitária realizada no Conjunto dosSubtenentes e Sargentos da Polícia Militardo Amazonas, Flores, dos quais foramvistoriados, por amostragem algumasresidências das ruas 03, 04, 12, e 17, nodia 09.10.98, com respeito ao aspectosanitário e conseqüências à saúde dosmoradores deste conjunto, estaCoordenadoria tem a informar:

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

As residências que ainda não receberambeneficiamento por parte dos mutuáriosencontram-se, em sua maioria, com problemasde infiltração e com diversas avarias empisos e paredes decorrentes dos vícios deconstrução da empresa responsável pelaobra, dos quais mencionamos alguns:

1.1 Não foi construído uma base dealicerçamento nos padrões técnicos mínimosexigidos, tendo em vista que a ausência debaldrame em uma edificação, promoveinfiltrações nas paredes por capilaridade epermite a condução de águas pluviais porosmose, através das mesmas, na junção dacalçada esterna ao rodapé interno.

1.2 Tanto a argamassa de assentamentoquanto a de revestimento das paredes sãopobres em aglomerante básico (cimento) ecom excesso de agregado miúdo e aglomerantesecundário (barro) ; como tal pode-se

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observar facilmente nestas edificações osburacos decorrentes do desmoronamento dorevestimento e a fácil remoção e demoliçãodas paredes construídas;

1.3 Os pisos não sofreram tratamento deimpermeabilidade mínima, sendo notadoinclusive, a ausência de uma laje de piso,em conseqüência, em muitos casos são comunsos buracos e esfarelamento do piso;

1.4 No telhamento, a ausência de vedaçãoapropriada nos pinos de fixação, promove ogotejamento de águas pluviais até o forrode cobertura, construído em gesso, que seencontra com manchas e algumas goteirasdecorrentes e passível de desabamento aqualquer momento;

2. INSTALAÇÕES HIDRO-SANITÁRIAS E ELÉTRICAS

2.1 As instalações elétricas, dispostasentre o forro e o telhamento, encontra-sedesprotegidas de conduítes e com emendassem isolamento elétrico apropriado. Háriscos de fagulhamentos e conseqüentesincêndios devido à precariedade destasinstalações ;

2.2 As instalações hidráulicas foramimplantadas com matérias de má qualidade,apresentando vazamentos e conseqüentesmanchas nas paredes dos banheirospromovendo, inclusive, a queda dosladrilhos em várias casas. O acesso aoreservatório para as limpesas periódicasnecessárias só é possível através dotelhado que não apresenta condiçõesestruturais de suportar o peso de umapessoa;

2.3 As instalações sanitárias apresentamirregularidades, principalmente no sistemade afastamento de fossa/sumidouro que nãofoi dimensionado e nem executado nospadrões mínimos exigidos em edificações de2 (dois) quartos. Devido ao problema deabsorção nos terrenos a vida útil defuncionamento séptico do sistema é reduzida

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incorrendo em limpezas constantes atravésde “limpa-fossas”, em conseqüência muitosmoradores utilizam o sistema de drenagem deáguas pluviais do conjunto, indevidamente,para emitir o excedente esgoto nãoabsorvido pelo sistema fossa/sumidouro.

3. PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA

Entende-se que os riscos à saúde dosmoradores do conjunto residencial emquestão são decorrentes da dificuldade delimpeza dos reservatórios das residências.

Dos riscos quanto à segurança da própriaestrutura da edificação e de incêndios, daprecariedade do sistema fossa / sumidourocom conseqüente lançamento de águasservidas no sistema de drenagem que conduzindevidamente, o esgoto com o contatoatravés das bocas de lobo, com o meioambiente.

As infiltrações promovem o crescimento decolônias que levam ao boloramento dasparedes e forros provocando o apodrecimentodas mesmas e reações alérgicas diversas nosmoradores...”

20. Visando comprovar de forma inequívoca a existência dosvícios de construção, bem como as medidas necessárias para correção dos mesmos, estaProcuradoria da República encomendou uma perícia de engenharia de um engenheiroindicado pelo CREA/AM, o Dr. Nelson Pedro de Aguiar Falcão que, procedendo à vistoria doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas, respondeu aosquesitos formulados pelo Ministério Público Federal nos seguintes termos:

“...

Em atenção ao Ofício n.º 30/2000 datado de16 de fevereiro de 2000 Cabe-me informar aV.Exa., o que segue:

1 – Quais os vícios de construção que aobra em questão apresenta?

1.1 – Os vícios de construção são:

a) Forros rachados e trincados.

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b) Goteiras.

c) Pisos esburacados.

d) Infiltrações.

e) Baldrame de tijolos.

f) Impermeabilização.

g) Cobertura.

h) Chapisco.

i) Reboco.

j) Instalação elétrica.

k) Caixa de passagem.

l) Tubulação hidro-sanitária.

m) Esquadrias.

n) Calçada em volta da casa.

o) Mureta de entrada de energia.

p) Drenagem de águas pluviais.

q) Trincas nas paredes.

2. Tais vícios decorreram da má qualidadedos serviços (descumprimento de normastécnicas) e/ou materiais empregados (foradas especificações previstas no projetooriginal)?

2.1 – Vícios decorrentes da má qualidadedos serviços são:

a) Goteiras, Infiltrações.

b) Pisos esburacados.

c) Trinca das paredes.

d) Tubulação hidro-sanitária.

e) Mureta de entrada de energia.

f) Calçada.

g) Baldrame.

2.2 – Vícios decorrentes do não cumprimentodas especificações:

a) Trincas das paredes.

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b) Reboco.

c) Baldrame.

d) Forro.

e) Telhado.

f) Esquadrias.

g) Instalações elétricas.

h) Pisos esburacados.

2.3 – Vícios decorrentes da má qualidadedos materiais:

a) Esquadrias metálicas.

3. A ocorrência de tais vícios poderia serdetectada pela Engenharia da CaixaEconômica Federal, através dasfiscalizações periódicas, que fazia na obrapara apresentação dos Relatórios deVistoria de Obra, para fins de liberaçãodas parcelas do financiamento?

3.1 - Todos os vícios relacionados sãovisíveis, principalmente os decorrentes donão cumprimento das especificaçõestécnicas.

Os vícios decorrentes da aplicação demateriais de péssima qualidade demoram maisa aparecer, pois somente se manifestam apóso uso.

Os vícios decorrentes da má qualidade dosmateriais e modificações nasespecificações, estes podem ser detectadosde imediato, logo podemos dizer que osengenheiros da C.E.F.-AM, poderiam ter sidodetectados.

4. Houve superfaturamento do valor dasunidades?

Não houve superfaturamento propriamentedito, até porque para construção de moradiapopular a Caixa Econômica Federal é quemestabelece o limite do valor do Imóvel, edetermina a faixa salarial dos compradores.

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O que ocorreu no caso específico doConjunto dos Sub-Tenentes e Sargentos foi àredução dos custos da construção, comaplicação de materiais de qualidadeinferior, não cumprimento dasespecificações técnicas e alguns serviçosque deveriam ser executados e que aconstrutora não executou, como é o caso doPoço artesiano, Forro de madeira, Estruturado Telhado etc.

5. De que ordem?

Com o não cumprimento das especificaçõestécnicas a Construtora conseguiu umaredução no custo final por casa no valororçado de R$ 4.120,36 (quatro mil cento evinte reais e seis centavos), o querepresenta um valor global de R$1.236.108,00 (um milhão duzentos e trinta eseis mil, cento e oito reias).

6. Qual o valor orçado para a recuperaçãocompleta das unidades para o cumprimentodas especificações do projeto original?

O Valor Total é de R$ 1.236.108,00 paraexecutar os serviços de acordo com asespecificações do projeto original.

7. Há risco de desabamento das Unidades ?

Não há risco de desabamentos das casas.”

21. Consoante restou exaustivamente demonstrado, os vícios deconstrução existentes no Conjunto dos Subtenentes e Sargentos eram de fácil detecção,mesmo assim, a Caixa Econômica Federal através do seu Setor de Engenharia, negligenciouem constatar a má qualidade da obra e mesmo diante dos descalabros apontados nos Laudossusomencionados aceitou como concluído 100% (cem por cento), liberando recursos destaordem à PLANECON.

22. A URBAM, por sua vez, expediu Habite-se para o Conjunto,quando as obras de infra-estrutura não estavam concluídas, como é o caso do Poço Artesianoe dos dissiparadores de água, demonstrando o grau de displicência do órgão fiscalizador daPrefeitura.

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a.2) Conseqüências das irregularidades

23. Esse quadro, Exa., além de denotar inconcebível descaso dopoder público na execução de sua política habitacional, revela um prejuízo social muito alémdo que as simples perícias já demonstraram. Estamos falando dos danos material e moral quevêm sofrendo essas famílias de mutuários do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos de hánada mais nada menos do que 9 anos.

a.2.1. Dano Material

24. A primeira espécie de dano que se verifica nesse contexto éo chamado dano material. Primeiro, no que diz respeito à desvalorização dos imóveis e depoisem relação às despesas que os mutuários tiveram que incorrer para fazer aquilo que os réusnão se dignaram.

a) desvalorização dos imóveis

25. As precárias condições em que se encontram as unidadeshabitacionais do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos têm acarretado invariavelmente adesvalorização de todos as residências. A falta de serviços básicos de infra-estrutura, comopor exemplo a precariedade das instalações elétricas e sanitárias, diminui sobremodo o valordos imóveis.

26. Segundo perícia, anexa, a depreciação do imóvel é de 40%de seu valor original. Uma unidade habitacional daquele conjunto, que deveria valer R$23.182,14 (vinte e três mil, cento e oitenta e dois reais e quatorze centavos), não alcança hojeno mercado mais que R$ 14.130,00 (quatorze mil, cento e trinta reais).

27. ISTO REPRESENTA PARA AS 300 RESIDÊNCIAS, UMADESVALORIZAÇÃO E UM PREJUÍZO MATERIAL DA ORDEM DE R$ 2.715.642,00 (DOISMILHÕES , DUZENTOS E CINCO MIL , NOVECENTOS E SESSENTA E QUATRO REAIS):

TABELA DE DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL DO CONJUNTO DOSSUBTENENTES E SARGENTOS DA POLÍCIA MILITAR DO AMAZO NAS

Fonte Valor m2 Valor do Imóvel250 m2

DEPRECIAÇÃO

TOTAL

(300 UNIDADES)

SINDUSCON 372,96 23.182,14

CREA-AMAVALIAÇÃO DOIMÓVEL (BAIXAQUALIDADE)

310,77 14.130,00

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DEPRECIAÇÃODO IMÓVEL

40% 9.052,14 2.715.642,00

a.2.2. Dano Moral

28. A segunda espécie de dano que pouco se fala, mas que deforma insidiosa têm atingindo todas as famílias do conjunto, é a do dano moral.

29. Esse dano evidencia-se diante da privação psicológica que ascondições de inabitabilidade dos imóveis lhes impuseram, durante 9 anos, a eles e suasfamílias.

30. De acordo com o Laudo de Vistoria e Perícia Técnica,elaborado pelo Perito Engenheiro Nelson Pedro de Aguiar Falcão, chegou-se a comprovaçãoinequívoca dos vícios de construção, conforme se observa na conclusão do referido Laudo:

“Não temos nenhuma dúvida, em afirmarnossas opiniões conclusivas sobre asVistorias e Perícias Técnicas realizadasnas casas do Conjunto Habitacional dos Sub-tenentes e Sargentos, da Polícia Militar doAmazonas, pois fica evidenciado, tanto nosautos constante do presente processo,quanto in loco as falhas construtivas,caracterizando vícios de construção quegeram descontentamentos e insatisfações dosseus moradores, que não se contentam empagar prestações elevadas, por uma casa depadrão inferior de construção, e sem asmínimas condições .”

31. Não há como negar que os vícios de construção constatadosna área interna das residências, como por exemplo os forros rachados e trincados, goteiras,pisos esburacados, infiltrações, ausência de portas nos quartos, deficiência nas instalaçõeselétricas e hidro-sanitárias, entre outras falhas dispostas no Laudo de Vistoria e PeríciaTécnica, acarretaram sofrimento psíquico nos moradores daquele Conjunto, manifestadomuitas das vezes pela irritação, baixa estima e até vergonha de ser mutuário, sem contar como sentimento de injustiça de ter que arcar com prestações sem a menor correspondência comaquilo que de boa fé adquiriram.

32. Os vícios externos serviram por sua vez para diminuir adignidade dos mutuários nas relações sociais internas e externas ao condomínio. A ausênciade calçadas, bem como a rede de esgoto com odor insuportável, em virtude do sistema estarinacabado, contaminando e poluindo o meio ambiente, são dois exemplos que revelam por si,esse constrangimento. Conforme o item XIII.I.VII do referido Laudo:

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“As tubulações do esgoto e das caixas depassagem e de inspeção, ficaram aparente edescoberta, quando deveriam ser enterradas,isto é erro no nível não foi observado peloengenheiro da Construtora nem tão poucopelo Mestre de Obra, parece até que naconstrução do conjunto não tinha essas duasfiguras.

As caixas de passagens deveriam serenterradas e com tampos hermeticamentefechadas e lacradas evitando assim aproliferação de insetos, baratas e exalaçãode odores fétidos.”

33. Acrescente-se, Exa., nos serviços de “fachada”, realizadoscom o intuito diminuir os gastos, enganando o mutuário, conforme comprova o referidoLaudo:

“Com a remoção do forro de gesso, para nãodeixar cair na cabeça dos moradores, omutuário descobriu que a fiação elétricaestava solta e sem a proteção dastubulações de acordo com o projeto,verificamos ainda que, a empena do telhadonão foi rebocada, nem foi cintada, fazendoo respaldo da alvenaria conforme determinaa especificação técnica, sem o forro, foipossível verificar a ausência das peçasmetálicas longitudinais que para reduzir oscustos foram colocadas apenas pedaços nobeiral para dar a impressão de que elasexistem.”

34. Tais condições de moradia impostas pelos réus aosmutuários são desumanas e degradantes, Exa., ferindo-lhes direitos personalíssimos,essenciais e indispensáveis à pessoa humana. Isto, somado a outros problemas de segurança ehigiene, vivenciados pelos moradores do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos que afetamnegativamente seu estado psíquico, ofendendo a sua integridade moral.

35.A FIM DE QUANTIFICAR O DANO MORAL SOFRIDO PELOSMORADORES DO CONJUNTO RESIDENCIAL ARIRANHAS , PODEMOS TOMAR POR BASE OSALÁRIO MÍNIMO VIGENTE NO PAÍS DE R$ 180,00, CUJO VALOR DEVE SER MULTIPLICADOPELOS 300 MORADORES DAQUELE CONJUNTO NO PERÍODO DE 108 MESES (9 ANOS QUE,APROXIMADAMENTE , OS MORADORES DAQUELE CONDOMÍNIO VEM SUPORTANDO ASCONDIÇÕES DE INABITABILIDADE DOS IMÓVEIS ), OBTENDO-SE UM TOTAL DE,APROXIMADAMENTE , R$ 5.832.000,00, QUE DEVE SER RESSARCIDO AOS MORADORES DOCONJUNTO, A TÍTULO DE DANO MORAL .

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CONSOLIDAÇÃO DO VALOR DO DANO

DANO VALOL R$ 1,00

RECUPERAÇÃO DOS IMÓVEIS 1.236.108

DANO MATERIAL

. Depreciação do Imóvel

2.715.642

2.715.642

DANO MORAL

32.400 salários mínimos (108 x 300 = 32.400)

5.832.000

5.832.000

TOTAL 9.783.750

a3. Tentativas de Acordo Extrajudicial

36. Esta Procuradoria da República, visando resolver oproblema de forma amigável, promoveu várias audiências com a participação da diretoria daCEF e seu corpo de Engenheiros, dos verdadeiros representantes da referida Construtora, napessoa do seu sócio à época da execução do projeto George Lins, e dos mutuários.

37.Concedeu-se a oportunidade para que o senhor George Linsapresentasse uma contra-perícia, a qual, demonstrando muito pouca vontade do responsávelem assumir sua culpa, alega que o valor do prejuízo girava em torno não de R$ 1.236.108,00comprovados pela perícia, e sim de apenas R$ 210.324,18.

38. Após várias visitas ao referido Conjunto a própria CEF e aSeguradora SASSE, concluíram um RELATÓRIO DE VISTORIA em que reconhecem aexistência de vícios de construção no conjunto, fls. 627/668, nos seguintes termos:

“ 6. COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

6.1. Após análise dos danos constatou-seque as causas principais são decorrentes devício de construção, evento de causaexterna e falta de manutenção a seguirclassificados:

a) Vícios de Construção

(3) Má execução na preparação da argamassado piso cimentado;

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(4) Má execução na preparação da argamassado emboço/reboco;

(5) Má execução nas instalaçõessanitárias;

(6) Má execução na fiação e tubulação darede elétrica;

(7) Insuficiente dimensionamento emrelação ao índice de absorção do soloe ou má execução da fossa/sumidouro;

(9) Insuficiente ou falta de baldrame nasparedes de alvenaria;

(10) Falta de pintura periódica no imóvel eou vazamento na tubulação hidráulica;

(13) Má execução na fiação dos tirantes desustentação do forro de gesso;

(14) Uso de material de baixa qualidade.

b) Evento de Causa externa

(1) ação de águas pluviais;

(2) ação de ventos e águas pluviais;

(12) adensamento natural do solo.

c) Falta de Manutenção

(8) falta de manutenção e/ou usoinadequado das esquadrias;

(11) impacto nas soleiras e peitoris.

6.2. Pelo quadro de incidências, observa-seque os danos decorrentes de vícios deconstrução, representam os fatores de maiorcontribuição para as lesões encontradas nosimóveis.”

39. Na citada vistoria a CEF e a SASSE orçaram um valor de R$406.554,62 (quatrocentos e seis mil, quinhentos e cinqüenta e quatro reais e sessenta e doiscentavos) para os serviços necessários para a restauração do Conjunto.

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40. Os orçamentos elaborados pelo CREA-AM (PR/AM),PLANECON, e CAIXA/SASSE espelham os seguintes valores:

QUADRO COMPARATIVO DOS ORÇAMENTOS APRESENTADOS

(VALOR EM R$1,00)

CREA-AM (PR/AM) CONST. PLANECON CAIXA/SASSE

1.236.108,00 ? 406.554

41. Apesar de tudo isso, Exa., do reconhecimento expresso dosréus sobre a existência de vícios, não contemplando nenhum deles, evidentemente, atotalidade dos itens exaustivamente demonstrados pela Procuradoria, através da períciaencomenda ao Engenheiro do CREA-AM, nem a CEF, nem a Construtora na pessoa de seussócios, nem muito menos a SASSE através de suas rotinas internas, vez que existeprotocolado no seu setor competente pedido de recuperação dos imóveis, deram qualquerresposta à situação.

42. A CEF, como política institucional que tem adotado, diz quenão é responsável por nada, mesmo tendo figurado como órgão fiscalizador da execução doprojeto a qual tinha o poder-dever de embargar a obra diante do não cumprimento docronograma físico-financeiro. A PLANECON, através de seus sócios de fato limita-se aempurrar o problema para a própria CEF, aceitando apenas a responsabilidade em relação aalgumas varandas. E a SASSE, também como política institucional, mesmo já tendo sidoinstada diversas vezes pelos mutuários e pela Procuradoria da República, não se digna acumprir a apólice do seguro, cujas prestações têm-lhe sido religiosamente pagas, embutidaque estão nas prestações.

43. O Direito e a Justiça, Exa., são chamados a intervir.

III. DO DIREITO

44. O Direito à moradia, hoje erigido em nível constitucional(art. 6o, caput da CF), impõe ao Estado o dever de formular e empreender política habitacionalcapaz de garantir seu efetivo exercício. O Sistema Financeiro de Habitação, instituído pela lein. 4.380 de 21 de agosto de 1964 teve o objetivo de facilitar e promover a construção e aaquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda dapopulação (art. 8o).

45. A primeira conseqüência do direito à moradia é a de todocidadão poder exigir do poder público meios de facilitação da construção de sua moradia, sejaatravés de um financiamento a juros especiais, seja através de um controle público efetivo daexecução dos próprios empreendimentos.

46. Quando essa obrigação não é cumprida pelo Estado, esobretudo, quando é a mesma cumprida de forma viciada, proporcionando, só na aparência, a

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execução dessa política, surge o direito de cada cidadão mutuário de exigir sejam osresponsáveis a corrigir tais desvios.

47. Este é o fundamento da presente Ação Civil Pública que visaa condenação dos réus à obrigação de fazer a devida recuperação dos imóveis financiados earcar com os encargos derivados dessa recuperação.

48. Por outro lado a construção de “fachada” desseempreendimento, acarretou outras espécies de danos aos mutuários, como o dano material emoral.

49. Tais danos são indenizáveis, conforme a ConstituiçãoFederal (art. 5o, X), podendo ser pleiteados de forma coletiva através da presente Ação CivilColetiva, cujo rito é previsto a partir do art. 94 do CDC.

1. Direito Público Subjetivo ao ressarcimento dos danosmaterial e moral

50. A Constituição Federal, em seu art. 5.º, inciso X, assegura aindenização pelo dano material e moral, decorrentes da violação dos direitos personalíssimosda pessoa humana:

“São invioláveis a intimidade, a vidaprivada, a honra, a imagem das pessoas,assegurado o direito a indenização pelodano material ou moral decorrente de suaviolação.”

51. Por outro lado, o Código Civil Brasileiro em seu art. 159,estabelece a reparação do dano, quer tenha sido este causado voluntária ou involuntariamente:

“art. 159 – Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência, ou imprudência,violar direito, ou causar prejuízo a outrofica obrigado a reparar o dano.”

52. O Colendo Superior Tribunal de Justiça já consagrou apossibilidade de indenização de danos materiais e morais provocados por defeitos deconstrução, conforme aresto abaixo:

“Responsabilidade civil. Desgaste dasinstalações hidráulicas. Infiltrações evazamentos. Danos materiais e morais. 1. Admitindo o réu ser responsável pelos

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danos materiais, decorrentes deinfiltrações e vazamentos que causaramprejuízo à autora, deve esta, por isso, serindenizada tanto no que se refere aos danosmorais quanto no que se refere aos danosmateriais. 2. Recurso Especial não conhecido.( STJ -SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA; RecursoEspecial – 168073; UF: RJ; Órgão Julgador:Terceira Turma; Data Da Decisão:16/08/1999; DJ: 25/10/1999; Pág. 78)

53. Sobre a indenização do dano moral, destaca-se ajurisprudência abaixo:

“Os danos morais, mesmo quando traduzeminconforto psíquico, ou abalo moral puro,merecem ser reconhecidos e indenizados naproporção da extensão da ofensa econsiderando a condição financeira davítima e do ofensor”( TARS, 1.ª Câm. Cív.,AC 196.265.722, rel. Juíza Terezinha deOliveira Silva, j. 02.09.1997).

...........................................

“Como assentado em precedente desta Corte,não há que falar em prova do dano moral,mas sim da prova do fato que gerou a dor, osofrimento, sentimentos íntimos que oensejam. Provado assim o fato, impõe-se acondenação, sob pena de violação ao art.334 do Código de Processo Civil.” (STJ, 3.ªT., Resp 145.297-SP, rel. Min. CarlosAlberto Menezes Direito, DJU: 14.12.1998)

...........................................

“Responsabilidade Civil – Acidenteferrorviário – Vítima fatal – Dano moral –Hipótese em que é patente a dor moral daesposa e filhos menores da vítima – Adoçãodo critério estabelecido no CódigoBrasileiro de Telecomunicações ( Lei4.117/62) – Fixação com base em quarentasalários mínimos, cabendo 20 à esposa e 20aos filhos menores – Recurso desprovido.”(1.º TACSP – 6.ª Câmara – Ap. – Rel. Carlos

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Roberto Gonçalves – j. 30.01.91 – JTACSP-RT128/172).

...........................................

“A reparação do dano moral deve adotar atécnica do quantum fixo. Apelo provido.”(TJRJ 1.ª C. – AP. – Rel. Carlos AlbertoMenezes Direito – j. 19.11.91 – RDP185/198).

54. O Código de Defesa do Consumidor ao estabelecer osdireitos básicos do consumidor, determina em seu art. 6.º, inciso VI, a efetiva reparação dedanos morais e materiais:

“art. 6.º - São direitos básicos doconsumidor:

...........................................

VI - a efetiva prevenção e reparação dedanos patrimoniais e morais, individuais,coletivos e difusos”.

55. Diante da vulnerabilidade do consumidor, o CDC instituiu aresponsabilidade objetiva, devendo ser aplicada ao presente caso nos termos dos arts. 12 e 14:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, oconstrutor, nacional ou estrangeiro, e oimportador, independentemente da existênciade culpa, pela reparação dos danos causadosaos consumidores por defeitos decorrentesde projeto, fabricação, construção,montagem, fórmulas, manipulação,apresentação ou acondicionamento de seusprodutos, bem como por informaçõesinsuficientes ou inadequadas sobre suautilização e riscos.”

...........................................

“ Art. 14. O fornecedor de serviços respondeindependentemente da existência de culpapela reparação dos danos causados aosconsumidores por defeitos relativos àprestação dos serviços, bem como por

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informações insuficientes ou inadequadassobre sua fruição e riscos .”

56. Destaque-se que, nos termos do art. 23, do mesmo diplomalegal, a ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos eserviços não o exime de responsabilidade.

57. O ressarcimento imediato e satisfatório do consumidor éuma das metas traçadas pelo CDC, conforme salienta Hélio Zaguetto Gama:

“As ações das autoridades e dosfornecedores devem estar sempre voltadaspara o bem-estar e a segurança dosconsumidores. Os produtos e serviços devemobjetivar a plena satisfação dosconsumidores e não devem causar males à suasaúde e segurança.

Todo prejuízo ou qualquer lesão impingidosao consumidores devem ser imediatamenteressarcidos. O CDC inaugura mecanismoságeis para facilitar as substituições deprodutos e serviços, as suas revisões e asindenizações pelos danos causados aoconsumidor.”

58. Cumpre ressaltar que nada impede que sejam pleiteadoscumulativamente danos morais e danos materiais, conforme entendimento da Súmula n.º 37do Superior Tribunal de Justiça:

“Súmula 37 – São cumuláveis asindenizações por dano material e dano moraloriundos do mesma fato.

2. Responsabilidade pelo ressarcimento do dano mate rial emoral

a) Da responsabilidade da CEF

59. O papel da Caixa Econômica Federal no Sistema Financeiroda Habitação, depois da extinção do Banco Nacional de Habitação, é o de orientar,disciplinar e controlar o sistema financeiro da habitação (art. 17, inciso I, da Lei4.380/64), conforme o Decreto-Lei nº 2.291/86.

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60. O controle desse sistema, mais especificamente, passou aimpor à CEF uma série de condutas que visando primeiro que os recursos públicos destinadosa financiar a construção de habitação de baixa renda, efetivamente, tivessem essa destinação.

61. Isto, antes de valer para o cidadão que deveria honrar com ocontrato firmado para a obtenção de sua moradia, deveria ser uma verdade para a pessoajurídica que interviesse no processo, seja a empresa construtora ou empreendedora, seja acooperativa de mutuários, sejam os órgãos técnicos de assistência às cooperativas.

62. Afinal, estamos diante de um projeto de resgate social,pautado na hipossuficiência do mutuário que não tem meios de obter recursos no mercadofinanceiro para construir sua moradia.

63. O Sistema então, deveria ser concebido e gerenciadoeficientemente por instituições públicas idôneas do ponto de vista técnico e político.

64. Por meio das operações pertinentes a esse sistema, a CEFfirma contratos inicialmente com as empresas de engenharia, responsáveis pela execução deprojetos previamente aprovados pelo seu setor de Engenharia, transferindo ao patrimôniodaquelas o montante necessário à execução da obra.

65. Em face do próprio instrumento contratual, a CEF é dotadade poderes que, por força da atividade administrativa que desempenha, transformam-se emdeveres, pertinentes à fiscalização da execução do projeto previamente aprovado. Estafiscalização não se restringe apenas às medições feitas no decorrer da obra, mas diz respeito,num mesmo patamar, à constatação da utilização do material acordado e aprovado para aconstrução, bem como os possíveis vícios de construção apresentados durante sua execução.

66. É do teor do instrumento contratual padrão firmado entre aCaixa (Agente Financeiro), Credora, e as empresas de construção Civil, Devedora –Compradora, no caso em tela, a empresa PLANECON – PLANEJAMENTO,EMPREENDIMENTO E CONSTRUÇÃO LTDA., acostado a fls. 140/153 do anexo I doInquérito Civil Público n.º 004/99 que:

“CLÁUSULA PRIMEIRA – ( omissis )

Parágrafo segundo – A CEF e o AGENTEPROMOTOR estabelecem que a fiscalização daexecução do projeto específico caberá ao(INTERVENIENTE ou AGENTE PROMOMOTOR, quandoeste último dispuser de condições técnicaspróprias, atestadas pela CEF). ”

67. Nesse aspecto, vale colacionar declarações do próprioSuperintendente da CEF, prestadas ao órgão ministerial no dia 07 de Junho de 1999, nos autosdo Inquérito Civil Público n.º 004/99, em trâmite nesta Procuradoria da República noAmazonas, cópia acostada aos autos da presente representação em fls. 168/169:

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“Que no financiamento, a Engenharia daCaixa Econômica Federal não procede umacompanhamento em relação à qualidade daobra; QUE na execução do projeto, aEngenharia da Caixa Econômica Federalanalisa a execução do cronograma físico-financeiro e que a mesma tem a obrigação derelatar qualquer defeito construtivo,vícios de construção, especificaçãoinadequada de materiais”

68. Detinha a CEF poder de embargar a obra executada pelaPLANECON - Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., devendo,sistematicamente, fiscalizar e exigir a utilização do material anteriormente acordado, bemcomo a execução da obra, dentro dos padrões normais da Engenharia.

69. Conforme já reconhecido pelo Colendo STJ, “A CEF devefigurar no processo em que se discute defeitos de construção, financiada com recursosdo sistema financeiro de habitação, pois compete-lhe fiscalizar, apontar asirregularidades e determinar as respectivas correções a empresa encarregada daobra” (DJ 26.02.1999).

PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVAPENDENTE DE DECISÃO EM RECURSO ESPECIAL.ANTECIPAÇÃO DE TUTELA QUE TORNAIRREVERSÍVEL A SITUAÇÃO DE FATO.

I – No âmbito deste Tribunal, é pacífica ajurisprudência no sentido de que a CaixaEconômica Federal deve figurar no processoem que se discute defeitos de construção,financiada com recursos do SistemaFinanceiro de Habitação, POIS COMPETE-LHEFISCALIZAR, APONTAR AS IRREGULARIDADES EDETERMINAR AS RESPECTIVAS CORREÇÕES ÀEMPRESA ENCARREGADA DA OBRA.

II – omissis

III- omissis

IV- omissis (STJ, AG 96.01.34137-4/PI, Rel.Juiz Jamil Rosa de Jesus, 3 a Turma, Dec.13.11.1998, DJ 26.02.1999)

70. Quando do financiamento do Imóvel ao adquirente final, aCEF, por força da normatização do extinto Banco Nacional de Habitação, encampado pelaCEF posteriormente, estava o mutuário adstrito o contrato de seguro contra danos físicossofridos pelo imóvel firmado com a SASSE – Companhia Geral de Seguros.

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71. Ocorre que, a prática que se instalou naquela empresapública violou assustadoramente o princípio geral do direito de vedação ao enriquecimentosem causa, conforme agora se passa a demonstrar.

72. Na aprovação do projeto de Engenharia pela CEF, há aprevisão da utilização de determinados materiais pela Empreiteira, o que fazem estimar umpreço médio de unidade de apartamento para o financiamento final. Porém, dada a inércia daCEF em fiscalizar a utilização de tais materiais, ou mesmo à falta de verificação final quandoda entrega da unidade habitacional ao mutuário, os valores financiados correspondem amontantes bastante superiores ao real valor do imóvel, ocasionando prestações de tratosucessivo que não condizem com a realidade do objeto adquirido.

73. Assim, o mutuário paga, em alguns casos, até três vezes ovalor real do imóvel, o que contraria todo o ordenamento jurídico vigente, beirando aimoralidade administrativa, dada a natureza jurídica da Caixa Econômica Federal, umaempresa pública cujo patrimônio é totalmente afetado à União. Isso sem contar na práticaabusiva vedada pelas leis de proteção ao consumidor, como a de alguém pagar mais por umamoradia sem condições mínimas de habitabilidade.

74. Assim sendo, tinha a Caixa Econômica Federal o poder-dever de fiscalizar a obra executada pela empreiteira, PLANECON - Planejamento,Empreendimento e Construção Ltda., por força do próprio instrumento de contratofirmado com a empreiteira. Ao descurar-se desse dever, não detectando tais defeitos deconstrução, a CEF simplesmente não cumpriu cláusula constante do contrato, provocandoprejuízos morais e materiais aos moradores do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos daPolícia Militar do Amazonas.

75. Estabelece o art. 159, do Código Civil Brasileiro:

“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência, ou imprudência,violar direito, ou causar prejuízo aoutrem, fica obrigado a reparar o dano”.

76. Maria Helena Diniz, em Curso de Direito Civil Brasileiro,sobre o aspecto do ato ilícito, assim leciona:

“O ato ilícito é o praticado culposamenteem desacordo com a norma jurídica destinadaa proteger interesses alheios; é o queviola direito subjetivo individual,causando prejuízo a outrem, criando o deverde reparar tal lesão. Para que se configureo ilícito será imprescindível um danooriundo de atividade culposa(...) É deordem pública o princípio que obriga oautor do ato ilícito a se responsabilizarpelo prejuízo que causou, indenizando-

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o” ( 7º. Volume, 9ª ed., São Paulo: Saraiva,1995).

77. Por seu turno, o Código de Defesa do Consumidor, em seuart. 14, abaixo transcrito, assinala a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo danocausado por serviços defeituosos:

“Art. 14. O fornecedor de serviçosresponde independentemente da existência deculpa pela reparação dos danos causados aosconsumidores por defeitos relativos àprestação dos serviços, bem como porinformações insuficientes ou inadequadassobre sua fruição e riscos.”

b) Responsabilidade da PLANECON - Planejamento, Empreendimento eConstrução Ltda.

78. Nessa esteira, a Construtora PLANECON também seencontra responsabilizada pelo dano que causou aos mutuários, inicialmente, por construirdefeituosamente, todas residências em questão. Em segundo lugar, por saber da necessidadede observar a normatização de Engenharia Nacional, passando ao longe do respeito às normasde segurança.

79. Isto é provado pelos Laudos de Vistoria Externaempreendidos pela Secretaria Municipal de Saúde, Departamento de Vigilância à Saúde,Divisão Sanitária, Seção de Engenharia Sanitária, e pelo Perito contratado pelo MinistérioPúblico Federal, anteriormente transcritos, que são uníssonos em afirmar o gritantedescumprimento de normas básicas, elementares mesmo, de Engenharia por parte daempreiteira, tais como:

a) Não foi construído um alicerce nospadrões mínimos exigidos, por falta debaldrame em uma edificação, promoveinfiltrações nas paredes porcapilaridade.

b) Tanto a argamassa de assentamento,quanto a do revestimento das paredessão fracas pela falta de cimento e oexcesso de barro e areia.

c) O piso não foi impermeabilizado sendonotada a falta de uma laje de piso, o

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que é demonstrado pelos buracos eesfacelamento do piso.

d) No telhamento nota-se a ausência devedação apropriada nos pinos defixação, o que promove as goteiras deáguas pluviais até o forro de coberturade gesso, que se encontra com manchas,quebras e passíveis de demolição.

e) As instalações elétricas estão lançadasno forro sem condutores e com emendassem isolamento apropriado, há risco deincêndio devido à precariedade dainstalação.

f) As instalações hidráulicas foramexecutadas com material de péssimaqualidade apresentando vazamento econseqüente manchas nas paredes dosbanheiros e promove a solta dosazulejos, o acesso à caixa d’água sópode ser efetuado pelo telhado, que nãooferece condições estruturais parasuportar o peso de um homem.

g) As instalações sanitárias apresentamirregularidades, principalmente nosistema de afastamento entre a fossa eSumidouro que não foi dimensionado enem executado nos padrões para atenderuma casa com 2 (dois) quartos. Dado aconstantes limpezas das fossas, váriosmutuários interligaram diretamente osumidouro na rede das águas pluviais, oque é indevido.

h) O esgoto passa a correr pelas galeriasde águas pluviais, provocando odorinsuportável, exalado pelas bocas delobo.

80. Cumpre, nesse sentido, invocar o dispositivo do CDC queresponsabiliza objetivamente o construtor ao ressarcimento do dano causado pela obraviciada:

“Art. 12. O fabricante, o produtor, oconstrutor, nacional ou estrangeiro, e oimportador, independentemente da existênciade culpa, pela reparação dos danos causados

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aos consumidores por defeitos decorrentesde projeto, fabricação, construção,montagem, fórmulas, manipulação,apresentação ou acondicionamento de seusprodutos, bem como por informaçõesinsuficientes ou inadequadas sobre suautilização e riscos.”

81. Pelo que já restou demonstrado anteriormente, os vícios deconstrução existentes no Conjunto dos Subtenentes e Sargentos são de toda ordem.

82. Através de várias perícias realizadas, foram constadasdiversas irregularidades relativas à falta de observância do projeto ou mesmo de normasmínimas de construção, em especial destacamos:

a) Irregularidades nas instalações elétricas, verificando-sedesobediência às especificações técnicas e o disposto nasnormas da ABNT, e normas Técnicas da Concessionárialocal, sem que se tenham sido utilizados eletrodutos de PVCrígido, lançando-se os fios diretamente sobre o forro, emalguns casos pendurados nas peças metálicas de esustentação das telhas.

b) Irregularidades nas instalações hidro-sanitárias, através dasquais verifica-se que também não foram obedecidas asespecificações Técnicas nem ao disposto nas normastécnicas da ABNT. As tubulações que interligam as caixasde passagens ficaram expostas e não seguiram umadeclividade mínima para ficarem subterrâneas, ficando ascaixas acima do nível do terreno, o mesmo ocorrendo com asfossas e sumidouros, que certamente não atenderam àsnormas e postura das Concessionárias locais.

83. Tais fatos denotam o descaso com que foram executados osserviços de Instalação Elétrica, Instalação Sanitária, bem como os do Sistema de Águas eSistema de Esgotos do referido conjunto, impondo-se a punição aos Responsáveis pelosserviços mencionados.

84. Os vícios construtivos relativos a esses serviços foramconstatados, igualmente, em todas as perícias realizadas, e são os a seguir relacionados:

a) Goteiras, infiltrações;

b) Pisos esburacados;

c) Trinca das paredes;

d) Tubulação hidro-sanitária;

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e) Mureta de entrada de energia;

f) Calçada;

g) baldrame;

85. É de se destacar que todos os peritos que vistoriaram oconjunto foram unânimes em afirmar que o odor exalado pela deficiente instalação hidro-sanitária é insuportável.

86. As falhas acima citadas denotam a total ausência deacompanhamento técnico na execução dos projetos, ou mesmo que a execução da obra ficouabsolutamente dissociada do projeto, o que impõe a punição à Construtora.

87. A construção das 300 (trezentas) residências que compõem oConjunto dos Subtenentes e Sargentos, não seguiu as mais elementares normas de construção,consoante frisou a Secretaria Municipal de Saúde – Seção de Engenharia Sanitária, “asresidências que ainda não receberam beneficiamento por parte dos mutuários encontram-se,em sua maioria, com problemas d e infiltração e com diversas avarias em pisos e paredesdecorrentes dos vícios de construção”.

88. Os vícios de construção encontrados, praticamente, em todasas residências são:

a) Forros rachados, trincados e em algunscasos caíram totalmente.

b) Goteiras.

c) Infiltrações nas paredes internas eexternas.

d) Piso dos banheiros afundando.

e) Fossa sem condições de atender asnecessidades.

f) Paredes com falta de estrutura.

g) Janelas sem as condições mínimas desegurança ou com defeito.

h) Reboco das paredes que se desprendem eargamassa de péssima qualidade.

i) Portas externas com ferrugem.

j) Tubulação hidráulica do banheiro comproblemas.

k) Calçadas da varanda quebradas.

l) Fiação elétrica mal feita.

m) Azulejos do banheiro soltando.

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n) Telhas quebradas por falta de gramposde fixação.

o) Fossas que desabaram.

p) Cozinhas com piso cedendo.

q) Pias dos banheiros que caem por faltade estrutura.

r) Infiltração no piso.

s) Caixa de gordura sem condições de uso.

t) Encanamento incompleto.

2. A desconsideração da personalidade da pessoa jurí dica.

89. Apesar da flagrante responsabilidade que deve ser imputadaà empresa construtora, há que se considerar nesse contexto um fato extremamente grave, Exa,que diz respeito à atitude de seus dois sócios à época do empreendimento (fls. 126, do AnexoI), Welington Lins de Albuquerque e George Antithenes Lins de Albuquerque.

90. Esses dois senhores, após o ocorrido, quando a empresa járespondia várias execuções judiciais, simplesmente, através de uma alteração contratual,deixaram a empresa, levando do capital social de R$ 5.000.000,00, nada mais nada menos queR$ 4.800.000,00, divididos em partes iguais.

91. Hoje essa empresa está praticamente inativa. Não é precisodizer que tais empresários constituíram outras firmas, através das quais puderam empreendernovos negócios, inclusive com o Estado do Amazonas.

92. Mas embora tenham deixado a firma, são eles quem têmatuado, inclusive perante esta Procuradoria da República, durante as tentativas de acordolevadas a efeito, demonstrando absoluto poder de decisão nas negociações.

93. A situação é no mínimo estranha, pois se continuam essessenhores a serem os responsáveis de fato pela empresa, por que abandonaram seu quadrosocietário levando 96% do capital ?

94. Qualquer ação que venha a ser proposta contra essa empresaExa., não poderá desprezar esse fato, sob pena de jamais tornarmos efetivo e justo qualquerprovimento judicial favorável.

95. Como solução jurídica para esse fenômeno, a doutrinaconstruiu e o Direito do Consumidor incorporou a chamada desconsideração dapersonalidade jurídica.

96. O art. 28 do Código de Defesa do Consumidor estabeleceque:

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“art. 28 - O juiz poderá desconsiderar apersonalidade jurídica da sociedade quando,em detrimento do consumidor, houver abusode direito, excesso de poder, infração dalei, fato ou ato ilícito ou violação dosestatutos ou contrato social. Adesconsideração também será efetivadaquando houver falência, estado deinsolvência, encerramento ou inatividade dapessoa jurídica provocados por máadministração.”

97. Como visto, a construção do Conjunto dos Subtenentes eSargentos foi executada sem observância das Recomendações da Associação Brasileira deNormas Técnicas, ou de qualquer norma básica de construção.

98. Não apenas infração às normas técnicas de engenharia sãodetectadas naquele Conjunto. O descaso com que se tratou a construção, especialmente por serelacionar com vidas humanas, revela ofensa à Constituição Federal, quando esta protege ocidadão brasileiro do tratamento desumano e degradante, em seu art. 5.º, inciso III.

99. Por outro lado, além da infração à lei, o Código de Defesado Consumidor, também considera o fato ou ato ilícito capaz de promover a desconsideraçãoda personalidade jurídica.

100.E foi justamente o que aconteceu com a atuação dessesSenhores à frente daquela Empresa.

101.A desconsideração da personalidade jurídica procura,sobretudo, evitar que os sócios da empresa possam escudar-se em formalidades ou na pessoajurídica para não se responsabilizar dos prejuízos que tenham causado a terceiros, na condiçãode pessoa física.

102.Nesse sentido, tem se manifestado a Jurisprudência pátria:

“Doutrina da DESCONSIDERAÇÃO daPERSONALIDADE JURÍDICA. Art. 28 do Códigode Defesa do Consumidor. Precedentes.

1. N ão desqualificada a relação de consumo,possível a DESCONSIDERAÇÃO da PERSONALIDADEJURÍDICA, provada nas instâncias ordináriasa existência de ato fraudulento e o desviodas finalidades da empresa, ainda maisquando presente a participação direta dosócio, em proveito próprio .

2. Recurso especial não conhecido.”(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE

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JUSTIÇA; Processo: 2000.00.27914-5; UF: SP;Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA; Data daDecisão: 12/09/2000; DJ DATA:27/11/2000;PÁGINA:157; Relator CARLOS ALBERTO MENEZESDIREITO)............................................

RESPONSABILIDADE CIVIL. NAUFRÁGIO DAEMBARCAÇÃO "BATEAU MOUCHE IV". ILEGITIMIDADE DE PARTE PASSIVA "AD CAUSAM".SÓCIOS. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DAPERSONALIDADE JURÍDICA'. DANOS MATERIAIS.PENSIONAMENTO DECORRENTE DO FALECIMENTO DEMENOR QUE NÃO TRABALHAVA.

1.Argüições de ilegitimidade de partepassiva e imputações recíprocas dos réusacerca da responsabilidade pelo trágicoevento. Em sede de recurso especial não édado rediscutir as bases empíricas da lidedefinidas pelas instâncias ordinárias.Incidência da súmula nº 07-STJ.

2. Acolhimento da teoria da "desconsideraçãoda PERSONALIDADE jurídica". O Juiz podejulgar ineficaz a personificaçãosocietária, sempre que for usada com abusode direito, para fraudar a lei ouprejudicar terceiros.

3. Reconhecido que a vítima menor com seisanos de idade não exercia atividadelaborativa e que a sua família possuirazoáveis recursos financeiros, os autores- pai e irmã - não fazem jus aopensionamento decorrente de danosmateriais, mas tão-somente, nesse ponto,aos danos morais fixados. Recurso especial interposto por RamonRodriguez Crespo e outros não conhecido;recurso da União conhecido, em parte, eprovido.” (STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA; Processo: 1997.00.87886-4; UF: RJ;Órgão Julgador: QUARTA TURMA; Data da Decisão: 22/09/1998; DJDATA:12/04/1999; PÁGINA:159; LEXSTJ VOL.:00121; SETEMBRO/1999; PÁGINA:207; RSTJ

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VOL.:00120; PÁGINA:370; Relator BARROSMONTEIRO).

103.Desta forma, a personalidade jurídica pode ser consideradaineficaz, quando usada com abuso de direito, para fraudar a lei e prejudicar terceiros.

c) Responsabilidade da SASSE

104.Segurador é aquele que suporta o risco assumido, medianteo pagamento de um prêmio, condicionado à verificação de ocorrência do fato.

105.O Código Civil Brasileiro, em seu art. 1.432, estabelece aresponsabilidade da sociedade seguradora quanto ao prejuízo decorrente do sinistro previstono contrato, a saber:

“Art. 1.432. Considera-se contrato deseguro aquele pelo qual uma das partes seobriga para com a outra, mediante a paga deum prêmio, a indenizá-la do prejuízoresultante de riscos futuros, previstos nocontrato.”

106.Assim sendo, a SASSE – Companhia Geral de Seguros,seguradora do Imóvel, por força da apólice de seguros firmada entre os mutuários e aSeguradora, responsabiliza-se pela ocorrência do sinistro, dando cobertura aos riscosdescritos, bem como à indenização por prejuízos causados aos moradores, consoante aCláusula 5ª da Apólice de Seguro Padrão, abaixo transcrita:

“CLÁUSULA 5ª - PREJUÍZOS INDENIZÁVEIS

São indenizáveis os seguintes prejuízos:

a) danos materiais, diferentes dosresultantes dos riscos cobertos”

107.A jurisprudência pátria tem-se consolidado no sentido deque à Seguradora cabe, inclusive, o pagamento dos aluguéis aos moradores alijados de suapropriedade por ocorrência de sinistro ao imóvel, conforme o julgado do Tribunal de Justiçade Santa Catarina, abaixo transcrito:

INDENIZAÇÃO. DANOS CAUSADOS POR ENCHENTE.SEGURO HABITACIONAL. BENEFICIÁRIOS QUE SEOPUSERAM A REPAROS INICIAIS POR CONSIDERÁ-LOS INSUFICIENTES. RECUSA QUE SE JUSTIFICA.RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA PELAAMPLIAÇÃO POSTERIOR DOS DANOS EMDECORRÊNCIA DE NOVO E IGUAL SINISTRO.

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Não se dispondo a reparar devidamente osdanos causados a imóvel segurado atingidopor enchente, é justa a recusa do seguradoem impedir a realização de consertosinsuficientes ou incompletos para reporaquele em condições de perfeita segurança ehabitabilidade. Sua recusa, em talhipótese, não afasta o dever de indenizarda seguradora que responde, inclusive, pelaampliação dos danos provocados por nova eigual catástrofe. Aluguéis despendidospelos beneficiários. Ônus da seguradora. Osaluguéis despendidos pelos beneficiários,em virtude de impossibilidade material deutilizarem sua residência, devem serressarcidos pela seguradora. A indenizaçãodevida pelo descumprimento da cláusula deseguro deve ser a mais ampla possível eabranger todos os danos causados”(TJSC, 2ªCCv, Acv 41.690, j. 27-6-1995, rel. Des.Gaspar Rubik, DJSC, 16 de maio de 1996, p.7)

108.Em relação aos imóveis quitados, num outro aspecto,cumpre destacar que o próprio representante da SASSE, em audiência do dia 12 de maio de1999, na presença do órgão ministerial estadual, nos autos da Representação PRDC Nº99.0000281-4, fls. 81/86, admitiu a responsabilidade da SASSE pelos reparos aos imóveiscujo defeito fosse anterior à quitação, conforme abaixo se transcreve:

“(...)O representante da SASSE disse que oseguro só cobre se o laudo constatou airregularidade antes da quitação.”

d) Da Responsabilidade da URBAM

109.É inconcebível que a URBAM tenha concedido o habite-sesem que serviços de infra-estrutura básicos tivessem sido concluídos.

110.Observa-se que, à época da expedição do habite-se, os doispoços artesianos e os dissiparadores de águas daquele Conjunto sequer haviam sidoconcluídos e o sistemas de esgoto sanitário até hoje encontra-se inacabado. Com relação aosistema de combate de incêndio, há somente um hidrante próximo à caixa d’água, totalmenteinsuficiente para atender a necessidade do Conjunto que conta com 300 unidadeshabitacionais.

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111.O Laudo elaborado pelo perito engenheiro Nelson Pedro deAguiar Falcão, atesta a displicência da URBAM em expedir o habite-se para o Conjunto dosSubtenentes e Sargentos, sem que fossem concluídos serviços essenciais:

“A URBAM cometeu uma falha gravíssima,forneceu um Habite-se para o conjunto,quando as obras de infra-estrutura nãoestavam concluídas, como é o caso do PoçoArtesiano e os dissiparadores, istodemonstra o grau de displicência do órgãofiscalizador da prefeitura.”

112.Concederam o Habite-se acostados a fls. 21/22, do AnexoII, volume 1, dos autos do Inquérito Civil Público n.º 04/99:

• Cláudio R. Carioca da Costa, engenheirocivil, chefe da divisão de Controleurbano da Empresa Municipal deUrbanização – URBAM;

• Júlio Verne do Carmo Ribeiro, DiretorPresidente da URBAM;

• Maria Sílvia Bicho Tinôco, DiretoraTécnica da URBAM;

113.É evidente o descaso com que foi tratada a concessão dohabite-se em questão, demonstrando a negligência dos representantes da URBAM, quandoatestaram condições de habitação de unidades que se revelam carecedoras de infra-estruturabásica.

114.Ressalte-se que com essa conduta arbitrária, osrepresentantes da URBAM feriram princípios da Administração Pública, faltando com aeficiência e moralidade, que devem ser observados por qualquer agente público.

115.A situação é insustentável e depõe contra um projeto degrande alcance popular e social que é a casa própria, revelando o descaso com que se temtratado a pessoa humana.

III. DO PEDIDO

6.1. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

a) Do fumus boni juris

116.A plausibilidade do direito aqui invocado baseia-se no fatodo prejuízo absolutamente provado e na responsabilidade contratual de todas as rés, quanto

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aos danos morais e materiais causados aos mutuários do Conjunto dos Subtenentes eSargentos da Polícia Militar do Amazonas.

117. A Caixa Econômica Federal é por tais danos responsávelpor força do instrumento contratual assinado com a Construtora PLANECON – Planejamento,Empreendimento e Construção Ltda., o qual estabelece o seu DEVER DE FISCALIZAR AOBRA E ANUNCIAR OS POSSÍVEIS VÍCIOS QUE APRESENTASSE, essaresponsabilidade inclusive já foi reconhecida pelo STJ1.

118.Ademais, conforme o art. 14, do Código de Defesa doConsumidor a CEF também é responsável objetivamente pelos danos causados, em virtude dorisco assumido, vez que é fornecedora de serviços e assim proporcionou a construção deapartamentos com vícios, que poderiam, perfeitamente, ser detectados, constatados e evitados,se a fiscalização da obra fosse de fato realizada pela CEF2.

119.É de se ver, ainda, que sempre subsistirá a responsabilidadesubjetiva da Instituição Financeira, por força da prática do ato ilícito cometido, vez que suanegligência foi a causadora de todo o dano hoje amargado pelos moradores do Conjunto dosSubtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas.

120.Da mesma forma, verifica-se a responsabilidade daEmpresa PLANECON - Planejamento, Empreendimento e Construção Ltda., e de seus sócios,à época, que desrespeitaram normas técnicas para a construção dos Blocos de Apartamentosem tela, fornecendo produto (apartamento) defeituoso, com vício de construção, que seencontra, atualmente, na iminência de ruína, prática que se tornou “regra” em Manaus.

121.De outro modo, a SASSE – Companhia Geral de Seguros éresponsável solidariamente com os demais réus, pelos danos causados aos moradores doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas, por força da Apólicede Seguros firmada com os mesmos, que prevê a cobertura de danos diferentes dos riscoscobertos.

b) Periculum in mora

122.O perigo da demora de uma decisão favorável, encontra-seamplamente comprovado, Exa., em face da iminência de ruína a que estão sujeitos todas as

1PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA PENDENTE DE DECISÃO EM RECURSO ESPECIAL. ANTECIPAÇÃO DE

TUTELA QUE TORNA IRREVERSÍVEL A SITUAÇÃO DE FATO.I – No âmbito deste Tribunal, é pacífica a jurisprudência no sentido de que a Caixa Econômica Federal deve figurar noprocesso em que se discute defeitos de construção, financiada com recursos do Sistema Financeiro de Habitação, POISCOMPETE-LHE FISCALIZAR, APONTAR AS IRREGULARIDADES E DETERMINAR AS RESPECTIVASCORREÇÕES À EMPRESA ENCARREGADA DA OBRA.II – omissisIII- omissisIV- OMISSIS (STJ, AG 96.01.34137-4/PI, REL. JUIZ JAMIL ROSA DE JESUS, 3A TURMA, DEC. 13.11.1998, DJ 26.02.1999).2

Dispõe o art. 3.º, § 2.º, do CDC:art. 3º - (omissis)§ 2.º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante renumeração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.Acao Civil Publica - Subtenentes e Sargentos da PM - MPF.doc - bpca 38

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unidades residenciais do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar doAmazonas, atestado por todos os laudos periciais.

123.Nesse aspecto, destacamos que os serviços necessários parao término e recuperação das residências do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos da PolíciaMilitar do Amazonas são das mais diversas ordens, devendo obrigatoriamente envolverdiversos profissionais da Construção Civil.

124.Para a execução dos ditos serviços, é imprescindível adesocupação de todas as residências do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos da PolíciaMilitar do Amazonas, vez que a presença dos moradores num canteiro de obras tãodiversificado colocará em risco a vida dos mesmos.

125.A segurança dos moradores encontra-se ameaçada, seja pelasituação em que já se encontra o imóvel, seja pelo seu agravamento no momento em queforem iniciadas as obras de reconstrução. Por outro lado, para se exigir que essas famíliasdesocupem seus apartamentos lhes devem ser proporcionadas as condições mínimas de abrigoo que, só se concretizará com uma providência judicial que obrigue as rés a levarem mais asério a vida dos seus consumidores mutuários e pararem com a indiferença que insistem emmanter em relação às providências básicas de recuperação do imóvel a que estão, por força decontrato, obrigadas.

126.Em face dos entraves causados pela Caixa EconômicaFederal e pela SASSE – Companhia Geral de Seguros, nenhuma providência foi adotada,encontrando-se uma situação extremamente injusta e desumana no Conjunto dos Subtenentese Sargentos, de abandono e insegurança, isto diante da possibilidade dos mutuários serematingidos por telhas que comumente se desprendem dos telhados.

127.Isto sem falar na exposição dos moradores a problemas desaúde, diante das precárias sanitárias, bem como as irregularidades das instalações elétricas,podendo até mesmo ocasionar um incêndio, colocando em risco a vidas daqueles moradores,pelo fato das obras terem sido executadas à revelia do projeto original e das normas técnicasde construção, consoante se vê das conclusões constantes de todos os laudos periciaisapresentados, em especial dos colacionados a seguir, verbis:

LAUDO DE TÉCNICO DA SECRETARIA MUNICIPAL DESAÚDE:

“...2.INSTALAÇÕES HIDRO-SANITÁRIAS E ELÉTRICAS

2.1 As instalações elétricas, dispostasentre o forro e o telhamento, encontra-sedesprotegidas de conduítes e com emendassem isolamento elétrico apropriado. Háriscos de fagulhamentos e conseqüentesincêndios devido à precariedade destasinstalações ;

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2.2 As instalações hidráulicas foramimplantadas com matérias de má qualidade,apresentando vazamentos e conseqüentesmanchas nas paredes dos banheirospromovendo, inclusive, a queda dosladrilhos em várias casas. O acesso aoreservatório para as limpesas periódicasnecessárias só é possível através dotelhado que não apresenta condiçõesestruturais de suportar o peso de umapessoa;

2.3 As instalações sanitárias apresentamirregularidades, principalmente no sistemade afastamento de fossa/sumidouro que nãofoi dimensionado e nem executado nospadrões mínimos exigidos em edificações de2 (dois) quartos. Devido ao problema deabsorção nos terrenos a vida útil defuncionamento séptico do sistema é reduzidaincorrendo em limpezas constantes atravésde “limpa-fossas”, em conseqüência muitosmoradores utilizam o sistema de drenagem deáguas pluviais do conjunto, indevidamente,para emitir o excedente esgoto nãoabsorvido pelo sistema fossa/sumidouro.

3. PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA

Entende-se que os riscos à saúde dosmoradores do conjunto residencial emquestão são decorrentes da dificuldade delimpeza dos reservatórios das residências.

Dos riscos quanto à segurança da própriaestrutura da edificação e de incêndios, daprecariedade dos sistema fossa/sumidourocom consequente lançamento de águasservidas no sistema de drenagem que conduzindevidamente, o esgoto com o contatoatravés das bocas de lobo, com o meioambiente.

As infiltrações promovem o crescimento decolônias que levam ao boloramento dasparedes e forros provocando o aprodecimento

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das mesmas e reações alérgicas diversas nosmoradores.

...” (Laudo datado de 15 de outubro de1998).

128.Exigir-se que os mutuários desocupem as suas residências,arcando sozinhos com os custos de aluguel e mudança que este ato acarreta, abalando, semdúvida, o já comprometido orçamento familiar, ou que, sem condições reais de correr doperigo, sujeitem-se, dia após dia a conviver entre ruínas, é recompensar o descaso eirresponsabilidade de todos os agentes envolvidos na construção do Conjunto dos Subtenentese Sargentos da Polícia Militar do Amazonas.

129.O não reparo imediato dos imóveis em questão, com onecessários custeio de sua desocupação, Exa., comprometerá, sem dúvida, eventualprovimento favorável da presente Ação Civil Pública.

c) Do pedido Liminar

130.Por tudo isto caracterizada está a utilidade da presente AçãoCivil Pública, e dado o caráter de urgência da situação, vê-se imprescindível a CONCESSÃODE MEDIDA LIMINAR, posto tratar-se de perigo de vida aos moradores das residências doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas.

131.Assim sendo, em face da presença do fumus boni juris e dopatente periculum in mora, requer o MPF seja concedida MEDIDA LIMINARINAUDITA ALTERA PARS, para que sejam as rés obrigadas ao:

a) PAGAMENTO DO VALOR DE R$ 700,00(SETECENTOS REAIS) CORRESPONDENTESAO ALUGUEL DERIVADO DA DESOCUPAÇÃODE CADA IMÓVEL A SER RESTAURADOS, osquais deverão ser depositados mensalmente emconta específica aberta em nome de cada mutuárioou gaveteiro, moradores das residências doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da PolíciaMilitar do Amazonas, em uma agência da CaixaEconômica Federal, a partir da efetivadesocupação do imóvel, por cada mutuário,estendendo-se esse pagamento até a devolução doimóvel, plenamente restaurado;

b) EXECUÇÃO DAS OBRAS ESTRUTURAISnecessárias à recuperação de todos as UNIDADESHABITACIONAIS DO CONJUNTO DOSSUBTENENTES E SARGENTOS DA POLÍCIAMLITAR DO AMAZONAS, devendo os réus

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apresentarem a esse Juízo, antes do início dasobras, prova da idoneidade técnica da Construtoracontratada, bem como Projeto de Engenharia eCronograma Financeiro da obra;

c) seja cominada a MULTA DE r$ 1.000,00 (hum milreais) aos réus, por cada dia de atraso no início dasobras de reparo susomencionadas e pagamento dealugueres, nos termos do art. 11 da Lei 7.347/85;

d) Do Pedido Definitivo

132.Ante o exposto requer o MPF:

a) Sejam os réus citados para apresentaremcontestação sob pena de revelia;

b) EXECUÇÃO DAS OBRAS ESTRUTURAISnecessárias à recuperação de todas asUNIDADES HABITACIONAIS DOCONJUNTO DOS SUBTENENTES ESARGENTOS DA POLÍCIA MILITAR DOAMAZONAS, devendo os réus apresentarem aesse Juízo, antes do início das obras, prova daidoneidade técnica da Construtora contratada,bem como Projeto de Engenharia eCronograma Financeiro da obra;

c) seja a presente ação civil pública julgadatotalmente procedente para obrigar os réus aopagamento, em conta específica, a cadamorador das residências do Conjunto dosSubtenentes e Sargentos da Polícia Militar doAmazonas, de aluguel no valor de R$ 700,00(setecentos reais), por todo período necessáriopara a restauração dos Blocos em questão, bemcomo a determinação de imediato reparo aoimóvel pela seguradora SASSE – CompanhiaGeral de Seguros, condenando-os, ainda, nascustas e despesas processuais;

6.2. DA AÇÃO CIVIL COLETIVA

a) Do fumus boni juris

133.Em relação à Ação Civil Coletiva, a plausibilidade dopedido reside no direito dos mutuários ao ressarcimento dos danos morais e materiais por elesAcao Civil Publica - Subtenentes e Sargentos da PM - MPF.doc - bpca 42

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sofridos, encontrando guarida no art. 5.º, inciso X, da CF/88, que determina a indenizaçãodecorrentes da violação dos direitos personalíssimos da pessoa humana, bem como no art. 159do Código Civil Brasileiro c/c arts. 12 e 14 da Lei 8.078/90, que prevê a reparação de danoscausados aos consumidores.

134.Diante da vulnerabilidade do consumidor, a Lei 8.078/90,através art. 6.º, inciso VI, considera como direito básico do consumidor a reparação dos danosmorais e patrimoniais.

135.A responsabilidade dos danos sofridos pelos moradores doConjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas é atribuída aos réus,não se podendo negar as precárias condições em que se encontram as unidades habitacionaisdaquele Conjunto.

136.É de se reconhecer que o dano material sofrido pelosmoradores se apresenta na medida em que estes pagaram por uma unidade habitacionalrepleta de vícios e até mesmo inacabada, resultando na desvalorização do imóvel, além deterem que arcar a seu próprio custo com despesas que jamais lhes poderiam ser atribuídas.

137.É irracional permitir que os moradores, além de pagar amensalidade do referido imóvel, tenham que arcar com as despesas oriundas dos vícios deconstrução, resultantes da péssima qualidade da obra.

138.Convém esclarecer que, a título de dano material, devem serressarcidos aos moradores do Conjunto Residencial Ariranhas R$ 2.248.249,00 (dois milhões,duzentos e quarenta e oito mil, duzentos e quarenta e nove reais), correspondentes àdepreciação do imóvel acrescida das despesas diretamente efetivadas pelos mutuários paratornar o mesmo habitável, que apesar do valor financiado ser de, aproximadamente, R$30.000,00, hoje não se consegue avaliá-lo em R$ 20.850,00, devendo-se portanto multiplicaro valor resultante da desvalorização do imóvel por 300 unidades habitacionais, obtendo-seassim, aquele valor.

139.Ainda, evidencia-se o dano moral causado aos moradoresdo Conjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas em face daprivação psicológica que as condições de inabitabilidade dos imóveis lhes impôs por,aproximadamente, 9 anos.

140.Os vícios de construção constatados na área interna dosblocos, como por exemplo as infiltrações; fossa sem condições de atender às necessidades,caixa de gordura sem condições de uso e janelas sem condições mínimas de segurança,acarretam sofrimento psíquico nos moradores daquele condomínio.

141.Não apenas as falhas na área interna dos blocos, mastambém os vícios externos são capazes de atingir o íntimo da pessoa de forma negativa,devendo-se ressaltar o odor insuportável proveniente da deficiência das instalações hidro-sanitárias, que contamina e polui o meio ambiente.

142.Mister se faz quantificar o dano moral sofrido pelosmoradores do Conjunto dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Amazonas,Acao Civil Publica - Subtenentes e Sargentos da PM - MPF.doc - bpca 43

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podendo ter por base o salário mínimo no país, de R$ 180,00 , cujo valor deve sermultiplicado pelos 300 moradores daquele Conjunto e por 108 meses (9 anos que osmoradores vem suportando as condições de inabitabilidade dos imóveis), obtendo-se um totalde R$ 5.832.000,00 (cinco milhões, oitocentos e trinta e dois mil reais).

143.Portanto, o valor total de danos materiais e morais é de R$4.408.249,00 (quatro milhões, quatrocentos e oito mil, duzentos e quarenta e nove reais, dosquais R$ 2.248.249,00, devem ser ressarcidos a título de dano material e R$ 2.160.000,00correspondestes ao ressarcimento do dano moral sofrido pelos moradores daquele Conjunto.

b) Do periculum in mora

144.O perigo de demora de uma decisão favorável à reparaçãodos danos materiais e morais sofridos pelos mutuários do Conjunto dos Subtenentes eSargentos da Polícia Militar do Amazonas está consubstanciado na precária situação materiale psicológica, que se encontram os mutuários há aproximadamente 9 anos, tendo que a todotempo realizar reparos nos seus imóveis.

145.Não se pode conceber que os moradores continuem arcandocom despesas de responsabilidade dos réus e que famílias sejam privadas de vida moradiadigna.

146.Essa situação caso se prolongue até a decisão definitiva dapresente ação, prejudicará, notoriamente, o sustento daquelas famílias.

c) Do Pedido Liminar

147.Diante dos pressupostos acima, revelando-se o caráter deverossimilhança e urgência da situação, sendo imprescindível a CONCESSÃO DE MEDIDALIMINAR.

148.Assim sendo, em face da presença do fumus boni juris e dopatente periculum in mora, requer o Ministério Público Federal seja concedida MEDIDALIMINAR INAUDITA ALTERA PARS, para que sejam as rés obrigadas ao:

a) PAGAMENTO DO VALOR DE R$9.783.750,00 (NOVE MILHÕES,SETESSENTOS E OITENTA E TRÊS MIL,SETESSENTOS E CINQUENTA REAIS),CORRESPONDENTES AORESSARCIMENTO DOS DANOS MORAISE MATERIAS SOFRIDOS PELOSMORADORES DAS UNIDADESHABITACIONAIS DO CONJUNTO DOSSUBTENENTES E SARGENTOS DAPOLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS.

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b) A publicação de EDITAL a fim de que osinteressados possam intervir no processocomo litisconsortes, sem prejuízo de ampladivulgação pelos meios de comunicação socialpor parte dos órgãos de defesa doconsumidor, conforme o art. 94 da Lei.8.078/90.

c) Do Pedido Definitivo

149. Ante o exposto, requer o Ministério Público Federal:

a) Sejam os réus citados para apresentaremcontestação sob pena de revelia;

b) seja a presente ação civil coletiva julgadatotalmente procedente no sentido de condenaros réus ao pagamento, de R$ 9.783.750,00(NOVE MILHÕES, SETESSENTOS EOITENTA E TRÊS MIL, SETESSENTOS ECINQUENTA REAIS), correspondentes aoressarcimento do danos morais e materiaissofridos pelo moradores das unidadeshabitacionais do Conjunto dos Subtenentes eSargentos da Polícia Militar do Amazonas,condenando-os, ainda, nas custas e despesasprocessuais;

150. Protesta-se provar o alegado por todas as provas emdireito admitidas.

Dá-se à causa o valor de R$ 5.114.588,00 (cinco milhões, centoe quatorze mil, quinhentos e oitenta e oito reais) .

Manaus, 08 de maio de 2001.

Sérgio Lauria Ferreira

Procurador da República

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