academi.pdf

104
Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “Estudo da recuperação do ligamento periodontal de cães usando laser de baixa potência em reimplantes intencionais” Christiane Felício Pereira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bio- Engenharia, como complementação dos créditos necessários para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica São José dos Campos - SP 2004

Upload: tokashi

Post on 15-Sep-2015

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Universidade do Vale do Paraba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

    Estudo da recuperao do ligamento periodontal de ces usando laser de baixa potncia em reimplantes intencionais

    Christiane Felcio Pereira

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Bio-Engenharia, como complementao dos crditos necessrios para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Biomdica

    So Jos dos Campos - SP 2004

  • Universidade do Vale do Paraba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

    Estudo da recuperao do ligamento periodontal de ces usando laser de baixa potncia em reimplantes intencionais

    Christiane Felcio Pereira

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Bio-Engenharia, como complementao dos crditos necessrios para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Biomdica

    Orientador: Prof. Dr. Gefeson Mendes Pacheco Co-orientador: Prof. Dr. Miguel Angel Castillo Salgado

    So Jos dos Campos - SP 2004

  • A padronizao deste trabalho segue a Normalizao de Dissertaes e Teses da UniVap. http://www.univap.br/institutos/ipd/normas-2004.pdf

    Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta dissertao, por processo fotocopiador ou transmisso eletrnica. Assinatura: _________________________________________________ Data: _____________________

    P49e Pereira, Christiane Felcio

    Estudo da recuperao do ligamento periodontal de ces usando laser de baixa potncia em reimplantes intencionais/ Christiane Felcio Pereira.

    So Jos dos Campos: UniVap, 2003. 105p.: il.; 31cm.

    Disserto de Mestrado apresentada ao Programa

    de Bioengenharia do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraba, 2003.

    1. Laser de baixa potncia 2. Reimplates intencionais 3. Periodontia 4. Odontologia I. Pacheco, Geferson Mendes, Orient. II. Salgado, Miguel Angel Castillo, Co-orient. III. Ttulo

    CDU:616.314:539.12.04

  • ESTUDO DA RECUPERAO DO LIGAMENTO PERIODONTAL DE CES USANDO LASER DE BAIXA POTNCIA EM

    REIMPLANTES INTENCIONAIS

    Christiane Felcio Pereira

    Banca Examinadora:

    Prof. Dr. Antonio Guilhermo J. Balbin Villaverde (Presidente: UNIVAP)____________

    Prof. Dr. Gefeson Mendes Pacheco (Orientador: UNIVAP)_______________________

    Prof. Dr. Miguel Angel Castillo Salgado (Co-orientador: UNESP-SJC)______________

    Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&D - UNIVAP So Jos dos Campos - SP

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho a minha me Adervani, minha melhor amiga e incentivadora

  • Agradecimentos

    Ao amigo Mrcio Brunetto, pela prontido com que sempre me atendeu, e pela assistncia na realizao dos experimentos. Ao Prof. Nilson Oleskonicz, pela colaborao e apoio durante os procedimentos experimentais. Ao Prof. Ademar Luz Dallabrida, pela colaborao na coleta das amostras comisso de tica da UNESP-So jos dos Campos, pela rapidez com que procederam a avaliao e aprovao do meu projeto de pesquisa. Ao amigo Valter Cruz pela ajuda na confeco das lminas para avaliao histolgica Ivoneide Ramos Leandro, pelo carinho Rbia, bibliotecria, sempre disponvel e colaboradora Rosngela, bibliotecria, pela reviso deste trabalho A minha secretria Janayna, pelo respaldo, principalmente nas minhas ausncias do consultrio Cludia secretria do IP&D, por todo auxlio prestado. Sra Ivone, funcionria do IP&D, pelo constante estmulo. Ao Prof. Dr. Luiz Kiyoaki Okazaki, pelo apoio.

  • Agradecimento Especial

    Ao meu namorado, Ramon, pelo constante apoio na formatao e fotografia deste trabalho e incentivo permanente Ao meu irmo Heron meu melhor amigo, e com quem sempre pude contar

  • Homenagem Especial

    Ao meu orientador Prof. Dr Gefeson Mendes Pacheco, pelo apoio.

  • Homenagem Especial

    Ao Prof Dr Aury Nunes de Moraes, diretor do Hospital Veterinrio da Faculdade de Veterinria da UDESC-Lages, meu grande colaborador por ter me aberto as portas e apoiado, irrestritamente, e a quem devo o desenvolvimento de toda a etapa experimental do meu trabalho.

  • Homenagem Especial

    Ao Prof Dr Miguel Angel Castillo Salgado, meu co-orientador, profundo conhecedor de histologia, pela competncia com que desempenhou sua orientao no processamento e anlise das amostras no laboratrio de histologia da UNESP- So Jos dos Campos, e pela tranquilidade na superviso de toda a dissertao.

  • RESUMO

    Na literatura, parece haver controvrsias quanto validade de se realizar o reimplante

    dental; embora dados estatsticos comprovem a alta incidncia de avulses dentais. As

    propriedades do laser de baixa potncia no restabelecimento do reparo de tecidos tem

    sido recomendada por muitos pesquisadores. Assim o propsito do trabalho foi avaliar a

    ao do laser de GaAlAs 830nm no periodonto de dentes reimplantados em ces. Foram

    usados 16 ces, divididos em 2 grupos: controle e irradiado. Os dentes foram mantidos

    fora do alvolo por 60 minutos e ento reimplantados e imobilizados com esplinte semi-

    rgido em perodos de 7 e 14 dias. O laser apresentou as seguintes caractersticas:

    emisso contnua, modo pontual e 2,4J/cm por ponto pr determinado. Os animais

    foram mantidos com dieta pastosa e aps tratamento foram sacrificados para coleta,

    processamento da amostra e avaliao histolgica usando corante Tricrmico de

    Mallory para evidenciao histomorfolgica do colgeno. A anlise das lminas dos

    periodontos tratados demonstraram um tecido conjuntivo mais organizado com menor

    infiltrado inflamatrio, reas de reabsoro de cemento e osso menos intensa e mais

    regulares, neoformao de fibras e matriz dos tecidos duros, quando comparado com o

    controle. Os resultados confirmam que o laser de GaAlAs favorece a neoformao dos

    tecidos periodontais e pode auxiliar, como coadjuvante no reparo da insero, em casos

    de reimplantes de dentes avulsionados. Sugere-se um protocolo de tratamento a laser

    que proporcione resultados clnicos, funcionais, estticos e sobretudo estveis.

    Palavras chave: Odontologia, Laser de baixa Potncia, Avulso, Reimplante.

  • ABSTRACT

    The effectiveness of teeth reimplantation seems to be controversial in specialized

    literature although statistical data shows high occurrence of avulsed teeth. The

    properties of Low Level Laser Therapy (LLLT) in tissue restoration have been endorsed

    by many researchers. The purpose of this work was to evaluate the effects of GaAlAs

    830nm laser on periodontal tissue of reimplanted teeth in dogs. Sixteen teeth were

    separated in two groups: control and irradiated. Following extraction the teeth were kept

    for 60 minutes outside the alveolus and after reimplantation were immobilized with

    splint for periods of 7 and 14 days. Laser light was operated at continuous emission and

    2,4 J/cm2 per preset point. Dogs were fed an adequate pasty diet during the experimental

    period. Animals were after 7 and 15 days, sacrificed. Sample collecting and processing

    were followed by histological evaluation using Mallorys connective tissue stain for

    collagens histomorfologic disclosure. Comparing to control group, irradiated groups

    showed a more organized connective tissue with less inflammatory cells, areas of bone

    and cementum resorption less intense and more regular, and evidence of fibroblastic

    activity and hard tissue matrix. Experiment results confirm that GaAlAs laser at the

    parameters adopted may assist periodontal tissue regeneration and may have

    substantially positive effects on the new attachment of PDL cells in cases of avulsed

    teeth reimplantation. A GaAlAs 830nm laser treatment protocol is suggested in order to

    achieve clinical, functional, aesthetic and stable results.

    Key-words: Dentistry, Low Level Laser Therapy (LLLT), avulsed teeth, reimplantation.

  • SUMRIO

    1. Introduo ....................................................................................................17

    2. Reviso de Literatura .............................................................................................19

    2.1. O Laser em Odontologia...............................................................................19

    2.2. Aspectos Clnicos e Histolgicos da Tcnica de Reimplante Dental...........28

    2.2.1. Aspectos Clnicos..............................................................................29

    2.2.1.1. Causas Relacionadas Avulso Dental .............................29

    2.2.1.2. Tempo ................................................................................32

    2.2.1.3. Conteno...........................................................................34

    2.2.1.4. Meio de Conservao.........................................................37

    2.2.1.5. Manuseio do Dente ............................................................41

    2.2.2. Aspectos Histolgicos.......................................................................43

    2.3. Uso do Laser nos Tecidos Periodontais ........................................................51

    3. Proposio ....................................................................................................58

    4. Material e Mtodos................................................................................................59

    5. Resultados ....................................................................................................67

    6. Discusso ....................................................................................................81

    7. Concluso ....................................................................................................90

    Referncias Bibliogrficas ..........................................................................................91

    Anexos ..................................................................................................100

    Anexo 1 ..................................................................................................100

    Anexo 2 ..................................................................................................101

    Anexo 3 ..................................................................................................102

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Procedimento de avulso do dente incisivo lateral superior direito .....................................................................................................60

    Figura 2 - Dente avulsionado mantido em meio seco .............................................61

    Figura 3 - Procedimento de irradiao do dente avulsionado, antes do reimplante ...............................................................................................61

    Figura 4 - Procedimento de reimplante do dente avulsionado................................62

    Figura 5 - Procedimento de irradiao com laser AsGaAl 830nm no ponto palatino na altura do peripice do dente tratado.....................................63

    Figura 6 - Procedimento de esplintagem do dente tratado ......................................63

    Figura 7 - Fotomicrografia da regio do ligamento e osso alveolar do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 07 dias, mostrando presena de osteoblastos (OB) e grande nmero de ostecitos (OC).......................................................................................68

    Figura 8 - Fotomicrografia da regio do periodonto do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 07 dias, mostrando grande nmero de vasos sangneos (V), fibras colgenas do ligamento (L) e reinsero das mesmas na matriz do cemento (C) .................................................................... 69

    Figura 9 - Fotomicrografia da superfcie radicular do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 07 dias, mostrando a reinsero de fibras do ligamento (FL) na matriz do cemento (C) ................... 70

    Figura 10 - Fotomicrografia do ligamento (L) e osso alveolar (OA) do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 07 dias, mostrando a reinsero de fibras na matriz do osso neoformado ......... 71

    Figura 11 - Fotomicrografia do dente reimplantado e periodonto do grupo controle, perodo de 07 dias. D = dentina, C= cemento, L = ligamento, OA = osso alveolar ...............................................................72

    Figura 12 - Fotomicrografia da regio do ligamento periodontal do dente reimplantado do grupo controle, perodo de 07 dias, evidenciando grande nmero de clulas inflamatrias (*) e vasos sanguneos congestos(V) .............................................................73

    Figura 13 - Fotomicrografia do dente reimplantado e periodonto do grupo controle, perodo de 07 dias, mostrando extensa rea de reabsoro ssea (RO) e presena de clulas inflamatrias(*) ..............74

    Figura 14 - Fotomicrografia do periodonto do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 14 dias, mostrando o ligamento (L)

  • fibroso e ricamente vascularizado e reinsero das fibras no cemento (C) e osso alveolar (OA)..........................................................76

    Figura 15 - Fotomicrografia do periodonto do dente reimplantado do grupo irradiado, perodo de 14 dias, mostrando o arranjo paralelo e organizado das fibras do ligamento (L) inseridas no cemento (C) e osso alveolar (OA) ........................................................ 77

    Figura 16 - Fotomicrografia do dente reimplantado e periodonto do grupo controle, perodo de 14 dias, mostrando extensa rea de reabsoro radicular (RR) e clulas inflamatrias adjacentes (*)....... 78

    Figura 17 - Fotomicrografia do dente reimplantado e ligamento periodontal do grupo controle, perodo de 14 dias, evidenciando intensa rea de reabsoro radicular (RR) a nivel da dentina (D) e grande proliferao de clulas inflamatrias (*) ............................ 79

    Figura 18 - Fotomicrografia do dente reimplantado e periodonto do grupo controle, perodo de 14 dias, mostrando grande rea de reabsoro radicular (RR) e trabculas sseas neoformadas (OA) ................................................................................. 80

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    Ar: Argnio Ar-F: Fluoreto de Argnio As-Ga: Arsenieto de glio As-Ga-Al: Arsenieto de glio-alumnio ATP: Adenosina-trifosfato ATM: Articulao Temporomandibular l: Comprimento de onda bFGF: Basic Fibroblast Growth Factor=Fator de crescimento bsico do fibroblasto Cl I: Classe I de Angle Cl II div. 1: Classe II de Angle diviso 1 Cl III: Classe III de Angle Cl V: Classe V CM: Conditioned Medium= Meio Condicionante CO2 : Dixido de Carbono Er: rbio ETPS: Emergency Tooth Preserving System= Sistema de conservao para emergncias odontolgicas He-Ne: Hlio Nenio Hz: Hertz Ho: Hlmio J: Joules Kg: Kilograma LLLT: Low Level Laser Theraphy mJ: Milijoules ml: Mililitro mW: Miliwatts Nd: Neodmio nm: Nanmetro PDL: Periodontal Ligament=Ligamento Periodontal TTS: Titanium Trauma Splint= Ferulizao de Titnio para trauma mm: Micrmetro W: Watts YAG: Ytrium, Alumnio, Garnet ou Granada

  • 1 - INTRODUO

    Freqentemente, em nossa prtica clnica, nos deparamos com episdios em

    que pacientes, acidentalmente, principalmente na fase pr-escolar, apresentam um

    quadro de traumatismo dento alveolar cuja conseqncia compreende desde pequenas

    fraturas de esmalte, e/ ou eventualmente, avulso de um elemento dental, at fraturas de

    ossos maxilares. Tais ocorrncias sempre despertaram grande interesse por parte dos

    pesquisadores interessados em desenvolver condutas clnicas que permitam aos

    profissionais conduzir um atendimento de emergncia de maneira rpida e eficiente

    viabilizando prognsticos cada vez mais favorveis para estes casos (ELLIS, 1966;

    ANDREASEN, 1970).

    Define-se avulso como sendo o deslocamento total e acidental do elemento

    dentrio para fora do seu alvolo, se constituindo desta forma dentre as emergncias

    odontolgicas mais freqentes, ocupando um papel de destaque no cotidiano dos

    consultrios, pelo prognstico duvidoso e at sombrio que apresentam (BRAMANTE et

    al., 1986).

    Numa situao de avulso, uma interveno rpida e adequada traduzida por

    um procedimento conhecido como reimplante dental, dever se constituir em tcnica

    operatria de escolha por parte do profissional. O objetivo primeiro desta tcnica, se

    resume na tentativa de obter- se uma nova insero do Ligamento Periodontal (INGLE

    et al., 1979).

    Para tanto a reimplantao do elemento avulsionado dever ser feita o mais

    rpido possvel, considerando que o grau de ocorrncias indesejveis, tais como:

    reabsores tanto sseas como radiculares, dentre outras, ocorrem numa relao

    diretamente proporcional ao tempo em que o dente permanece fora do alvolo sseo

    (MARZOLA, 1997).

  • 18

    McDonald, Avery e Hennon (1995), definem, em seu trabalho, reimplante

    como sendo a tcnica na qua l um dente recolocado no alvolo do qual foi desalojado

    por um acidente. Esse procedimento, quando se trata da dentio decdua,

    considerado por muitos autores questionvel, porquanto consideram grande o risco de

    causar injrias ao germe do dente permanente que se encontra muito prximo regio

    do trauma. Algumas das injrias relacionadas so: infeco do germe, anquilose e

    trauma no dente sucessor (MOSS; MACCARO, 1985; COSTA; CORREA; RIBEIRO,

    1998).

    Carranza (1983), define Ligamento Periodontal como uma estrutura de tecido

    conjuntivo, localizado ao redor da raiz e que desempenha inmeras funes, a saber:

    Nutricionais, Sensoriais, e Fsicas. As funes nutricionais, esto relacionadas,

    diretamente, com o suprimento sangneo que este tecido fornece s demais estruturas

    do Periodonto (gengiva, osso e cemento), atravs de um sistema vascular, que

    desempenha tambm importante papel na drenagem linftica dos mesmos. As funes

    sensoriais so de grande importncia, porquanto, a inervao do tecido periodontal

    confere propriedade proprioceptiva e ttil possibilitando detectar e localizar as foras

    externas que atuam diretamente sobre os dentes, auxiliando no mecanismo neuro-

    muscular e controlando a musculatura mastigatria. As funes fsicas abrangem,

    fundamentalmente, insero do dente ao osso e manuteno de sua estabilidade de

    posio, proteo do complexo vsculo-nervoso pela absoro das foras traumticas

    durante a mastigao.

    Com base nestas consideraes sobre a natureza do tecido Periodontal,

    entendemos que sua manuteno morfofisiolgica de suma importncia, e se constitui

    em um dos requisitos essenciais para que o restabelecimento estrutural e funcional do

    elemento dental sejam efetivamente readquiridos, aps o reimplante (INGLE et al.,

    1979).

  • 19

    2 - REVISO DE LITERATURA

    2.1 - O LASER EM ODONTOLOGIA

    Etimologicamente, a palavra Laser corresponde a um acrnimo de origem na

    lngua inglesa: Light Amplification by Stimulated, Emission of Radiation (Amplificao

    de Luz por Emisso Estimulada de Radiao). A emisso estimulada de luz foi

    demonstrada matematicamente por Albert Einstein em 1917, e em 1960 Maimann com

    a utilizao de um cristal de rubi obteve o primeiro raio laser chamado de Stimulated

    Optical Radiation (LOUREIRO; ARITA; EDUARDO, 1991).

    Na odontologia, somente na dcada de 70, que se tem registro do emprego de

    ambos os lasers, de alta e baixa potncia. Isto ocorreu a partir de resultados animadores

    de experimentos in vitro nas diversas reas da odontologia (DUARTE; MORAES;

    OBATA, 1994; PINHEIRO, 1995).

    Os mecanismos de ao do laser tem sido estudados com maior afinco nos

    ltimos 30 anos por respeitados pesquisadores estimulados pelo amplo alcance de

    aplicaes que uma tecnologia assim poderia oferecer (WEESNER, 1995).

    O laser se cons titui em uma situao especial de emisso de luz por apresentar

    algumas caractersticas bsicas que a distingue de uma luz comum. So elas:

    monocromaticidade, coerncia, colimao e intensidade de brilho (LOUREIRO;

    ARITA; EDUARDO, 1991).

    Por apresentar caractersticas to peculiares, que a luz laser pode produzir

    efeito biolgico a nvel celular influenciando diretamente no metabolismo, estimulando,

    fundamentalmente s mitocndrias a aumentar a produo de ATP endocelular

    (WALSH, 1997; ALMEIDA-LOPES, 1999). o que se denomina bioestimulao. E

  • 20

    baseado neste princpio, que se estabeleceu o conceito de Laser Terapia buscando o

    restabelecimento do estado de normalizao do tecido afetado (LOPES, 2001).

    Por outro lado se uma densidade de energia superior ao limiar de sobrevivncia

    celular ocasionar dano tecido, teremos um laser com indicao cirrgica, ou laser de alta

    potncia (ALMEIDA-LOPES, 1999). Esses so os lasers que permitem grande absoro

    pela estrutura atingida, elevando a temperatura dos tecidos a nveis altos para ento

    cort- los e vaporiz- los; ao contrrio dos lasers de baixa potncia onde qualquer

    elevao de temperatura menor que 0.1C (POGREL, 1997).

    Com o surgimento dos primeiros lasers, estes foram divididos inicialmente em

    dois grupos: hard e soft, baseado nos efeitos observados da interao dos mesmos

    com tecidos. Com o laser hard era possvel acompanhar os efeitos nos tecidos quando

    irradiados enquanto que com o laser soft nenhuma alterao visual era observada no

    tecido, quando da sua aplicao. Atualmente se aplica os termos : Laser de alta e baixa

    potncia, respectivamente (MIDDA; RENTON-HARPER, 1991).

    Os lasers podem ser agrupados em classes, de acordo com sua potncia e seus

    efeitos sobre tecidos ou materiais (PINHEIRO, 1995).

    Pinheiro (1995) e Garcia (1997), mencionam a importncia da conscientizao

    e aplicao de medidas de segurana, salientando o uso de culos de proteo

    adequados a cada tipo de laser, protetor no pedal acionador, chave de segurana e aviso

    luminoso na porta do consultrio. O uso destes recursos se aplica tanto ao cirurgio

    dentista quanto ao paciente e auxiliares. Garrini (1995), tambm confirma esta

    preocupao e acrescenta o aspirador de fumaa e uso de instrumentos despolidos para

    evitar o fenmeno de reflexo de luz. Em acordo com este autor, Loureiro, Arita e

    Eduardo (1991) e Lizarelli et al (2000), mencionaram as normas ditadas pela American

    National Standards Institute (ANSI), Safety and Eletronic Commission (OSHA), 1984 e

    Center for Devices Radiation Health (CDRH),1976 que descrevem padres gerais e

    clnicos que servem como guia para o uso de lasers em odontologia e medicina.

  • 21

    Cada laser apresenta caractersticas peculiares, vantagens e desvantagens, e

    com isso, indicaes precisas. Desta maneira, um laser considerado eficiente para uma

    finalidade no necessariamente ter o mesmo desempenho em outro emprego. Cabe ao

    profissional conhecer a indicao e interao tecidual de cada tipo de laser, para poder

    usufruir dos benefcios na sua totalidade (WEESNER, 1998).

    O meio ativo confere o nome ao laser, sua pureza espectral e seu comprimento

    de onda, determinando caractersticas diferentes de emisso e de possvel ao

    biolgica, e desta forma podemos ter laser slido como por exemplo de rubi e Nd:YAG,

    lquido de rodamina e gasoso como o de CO2 e He-Ne (LIZARELLI, 1996)

    Os efeitos do laser nos tecidos podem ser do tipo fotoqumico, fototrmico e

    fotofsico. No primeiro caso, so evidenciadas alteraes qumicas em molculas

    especficas no interior da clula ativadas principalmente pela influncia do comprimento

    de onda utilizado; fototrmico, quando as alteraes ocorrem em funo do aumento de

    temperatura devido a ao da luz laser sobre os cromforos dos tecidos; e fotofsico,

    quando pela ao de laser pulsado de curta durao, se observaram mudanas na

    estrutura celular sem que haja efeito trmico (DOUGLAS, 1998).

    A partir da ocorrncia dos efeitos acima citados, pode-se ento esperar diversas

    manifestaes teciduais, tais como: ao anti-lgica, estimulando a secreo de

    hormnios como as beta endorfinas e encefalinas que aumentam o limiar de percepo

    dolorosa, ao anticoagulante com a liberao de heparina; vasodilatao pela liberao

    de histamina, eficiente vasodilatador, melhorando a circulao e favorecendo a

    drenagem linftica e tendo importante ao antiflogstica e antiedematosa (LIZARELLI,

    1996; CICONELLI; BRAGA; BERRO, 1997; WALSH, 1997).

    Walsh (1997), menciona que o fluxo sangneo e a distribuio de microvasos

    influenciam, notoriamente, a distribuio final da energia fornecida pelo laser.

    A ao imungena ocorre aumentando o nvel de prostaglandinas, estimulao

    do tecido conjuntivo levando ao aumento do nmero de fibroblastos e,

  • 22

    consequentemente, maior desenvo lvimento das fibras colgenas (LIZARELLI, 1996;

    WALSH, 1997). Segundo Walsh (1997) o laser de baixa potncia mostrou ser eficiente

    na atividade fagoctica e quimiottica de leuccitos humanos in vitro e, desta maneira,

    tem se atribudo ao laser uma ao direta e seletiva junto ao sistema imune.

    A luz laser pode ser refletida, transmitida, absorvida e espalhada. Para que a

    luz laser tenha efeito sobre os tecidos, a mesma precisa ser absorvida de tal forma que

    esta energia possa ser convertida em outros tipos, por exemplo calor. Entretanto, se o

    tecido for completamente transparente ou apresentar superfcie totalmente refletiva para

    a luz laser, nenhum efeito ser observado (LOUREIRO; ARITA; EDUARDO, 1991).

    A interao da luz laser com os tecidos est diretamente relacionada com o

    coeficiente de absoro e difuso de um comprimento de onda especfico em um

    determinado tecido (LIZARELLI, 1996; MERCER, 1996). O tempo de exposio,

    dimetro do feixe, potncia e a densidade de energia tambm so variveis que esto

    diretamente relacionadas ao mecanismo pelo qual a radiao laser produz efeitos aos

    tecidos (PINHEIRO, 1995).

    Assim, o laser de CO2, por exemplo, agindo em tecidos moles, teria toda sua

    energia absorvida com 0.5 mm de profundidade; enquanto que o laser de Nd:YAG por

    ser pouco absorvido por gua age em muito mais profundidade, e como apresenta

    afinidade com melanina e hemoglobina, possui mais preciso em cauterizar vasos

    quando comparado ao CO2 (MERCER, 1996).

    Loureiro, Arita e Eduardo (1991), enfatizam que as aplicaes do laser na

    odontologia a princpio no encontraram muito entusiasmo por parte dos profissionais

    em funo da dificuldade de acesso ao campo operatrio, que se resume na cavidade

    bucal de dimenses reduzidas composta de estruturas duras e moles como dente, osso,

    polpa e ligamento intimamente relacionados entre si, alm da utilizao de materiais

    metlicos e plsticos usados em procedimentos restauradores. Os autores ainda

    mencionam que com a evoluo das pesquisas na rea da biotecnologia, vrios

    fabricantes se mobilizaram com intuito de desenvolver equipamentos com peas de mo

  • 23

    especialmente adaptadas para o uso odontolgico, permitindo que o cirurgio dentista

    possa usufruir do vasto campo de aplicao que a luz laser pode oferecer.

    Silveira e Silveira (1992), relataram os resultados das medidas volumtricas do

    fluido do sulco gengival, e demonstraram como o laser de As-Ga 904 nm por dois min

    com potncia de 6 mW promoveu o aumento significativo da drenagem do fluido

    fisiolgico e afirmaram que a propriedade de ativar a microcirculao hemtica e a

    drenagem linftica se constitui num dos meios mais eficientes para descongestionar

    reas inflamadas. Alm disso, a ao do laser promoveu uma limpeza do sulco

    propiciando uma renovao de todos os elementos nutritivos e imunolgicos da rea,

    melhorando a sade periodontal.

    Gelskey, White e Pruthi (1993), avaliaram a diminuio da hipersensibilidade

    dentinria usando apenas laser He-Ne e combinando este com laser Nd:YAG e

    concluram que embora haja uma reduo significativa da hipersensibilidade, os

    resultados quando ao uso do laser He-Ne isoladamente, ou combinado com Nd:YAG,

    no apresentaram diferenas significativas. Assim tambm, Zhang et al. (1998),

    demostraram, in vivo, como o laser de CO2 pode auxiliar no tratamento de

    hipersensibilidade dentinria. Os pacientes apresentaram reduo imediata de 100% do

    quadro doloroso aps o tratamento, sendo que num perodo de 3 meses houve recidiva

    de 50% da sensao dolorosa. Crespi et al. (1997), obtiveram os mesmos resultados.

    Bahar e Tagomani (1994), observaram em seu estudo que a remoo de tecido

    cariado usando laser de Nd:YAG, alm de ser mais eficiente, no altera a forma dos

    dentes tratados quando comparado com os mtodos mecnicos e qumico-mecnicos

    convencionais.

    Duarte, Moraes e Ogata (1994), concordam com a eficcia do laser de CO2 na

    esterilizao de instrumentos endodnticos e em pulpotomia, do laser doopler na

    determinao da vitalidade pulpar, e perspectivas favorveis na cirurgia

    paraendodntica, biopulpectomia e necropulpectomia com o uso do laser de Er:YAG.

    Os autores sugerem mais pesquisas para o emprego do laser com maior segurana, em

  • 24

    procedimentos clnicos, embora concordem que os resultados in vitro so muito

    animadores.

    Garrini (1995), concluiu em seu artigo que os efeitos do laser de CO2 na

    remoo de crie foi eficaz tanto na deteco quanto na remoo da mesma,

    favorecendo e estimulando a dentinognese e conferindo dentina irradiada, uma

    superfcie vitrificada a que denominaram de esmalte branco-perolado, com dureza

    semelhante ao esmalte, tornando-a mais resistente recidiva por infiltrao de crie

    dental. Os autores destacaram tambm a capacidade deste laser em promover a

    esterilizao do preparo cavitrio.

    Figueiredo et al. (1995), avaliaram os aspectos clnicos das polpas submetidas

    pulpotomia com laser de CO2 e concluram ser o modo contnuo com 3 W de potncia

    o mais indicado. Os autores concordaram que as conseqncias do calor intenso gerado

    pelo laser de CO2, s podero ser analisadas aps uma avaliao histolgica quando da

    realizao de novo experimento.

    Fachin e Aun (1995), mostram que o laser de CO2 favorece o fechamento de

    rachaduras dentinrias e que a associao deste laser a 10 W com ionmero de vidro

    ofereceu melhor resultado.

    Mercer (1996), mencionou algumas vantagens do uso do laser cirrgico, como

    ausncia de bacteremia, preveno de hemorragias pela cauterizao dos vasos, tempo

    de cicatrizao reduzido, menor dano ao tecido por apresentar ao limitada, no

    atingindo tecidos em profundidade. Tambm lembra que com o laser no existe a

    possibilidade de perda de corte, alm de ser mais eficiente quando comparado ao bisturi

    convencional e eletrnico. O autor ainda demonstrou preocupao com a ao do laser

    de alta potncia sobre o esmalte e dentina, citando vrios dos efeitos lesivos

    encontrados, como por exemplo, trincas severas em esmalte que se estendem at a

    dentina. Observou carbonizao de dentina salientando que tais efeitos trmicos

    poderiam provocar danos ir reversveis a polpa, ligamento periodontal e osso.

  • 25

    Crespi et al. (1997), destacam o uso do laser de CO2 como instrumento para

    esterilizao em procedimentos cirrgicos evitando a contaminao de tecidos duros e

    moles favorecendo o processo de reparao tecidual. Os autores ainda sugerem que o

    uso do laser de CO2 no modo desfocado promove liberao de fatores de crescimento e

    acelera o processo de cicatrizao de feridas.

    Em leses de furca do tipo Cl III foi constatado que o uso do laser de CO2,

    induziu formao de novo ligamento periodontal, cemento e osso (CRESPI; COVANI;

    MARGARONE; ANDREANA, 1997).

    Garcia et al. (1995), constataram que a radiao laser na reparao de feridas

    infectadas aps extrao dental demonstrou eficcia promovendo acelerao do

    processo de reparo do alvolo. Os autores atribuem a melhora da circulao local pela

    vasodilatao seguida do aumento do aporte de oxignio, favorecendo intensa

    proliferao fibroblstica.

    Terapia com laser de baixa potncia (LLLT: Low Level Laser Theraphy), tem

    demonstrado estimular a produo de bFGF, um polipeptdeo multifuncional

    responsvel pela proliferao e diferenciao de fibroblastos (WALSH, 1997). Este

    autor ainda salienta que outro efeito importante sobre os fibroblastos a transformao

    destes em miofibroblastos, os quais so responsveis pela contrao de feridas. Esta

    ao pode contribuir para o aumento da resistncia tenso das bordas da ferida durante

    o processo de cicatrizao.

    Uma condio que desencoraja muitas vezes profissionais a introduzir a terapia

    a Laser na rotina de seus consultrios, diz respeito ao nmero de publicaes cientficas

    sobre o assunto. Alm do nmero reduzido de trabalhos, o mtodo aplicado muitas

    vezes questionado, em virtude da grande variao na metodologia quer na dosimetria,

    comprimentos de onda e tempos de exposio entre os diferentes experimentos

    realizados (WALSH, 1997).

  • 26

    A preocupao quanto aos danos aos tecidos adjacentes rea irradiada, se

    mostra em vrios trabalhos (FACHIN; AUN, 1995; WALSH, 1997; LIZARELLI,

    2000). No artigo de Weesner (1998), esta preocupao se confirma. Neste estudo foi

    constatado que o esmalte aps ser irradiado com lasers de CO2 e argnio apresentou

    mais resistncia a desmineralizao e esse potencial pode ser til na preveno de cries

    incipientes inibindo sua progresso. Ainda neste artigo, o autor menciona o trabalho de

    Westerman et al. (1994), no qual se constatou reduo de 34% na profundidade de

    leses de crie induzidas por cido gel, quando irradiadas com laser de argnio, sendo

    que este percentual ainda aumenta para 50% quando a irradiao combinada com o

    uso de flor fosfato cido. Kreisler et al. (2001), salientam que o uso do laser de

    GaAlAs na descontaminao de bolsas periodontais, pode causar danos aos tecidos

    adjacentes dependendo dos parmetros utilizados.

    Lizzarelli et al. (2000), mencionaram resultados melhores com o uso do laser

    Nd:YAG, por obliterao dos tbulos dentinrios, tornando a dentina vitrificada,

    impermevel e por conseguinte livre de sensibilidade. Estes autores tambm

    comprovaram a eficcia do laser Nd:YAG na remoo de crie, com preservao de

    tecido sadio, obliterao dos tbulos dentinrios e, consequentemente, dessens ibilizao

    da regio irradiada. Todos esses procedimentos foram realizados sem necessidade de

    anestesia infiltrativa.

    A tecnologia a laser engloba um vasto campo de indicaes na odontologia e

    na literatura (LOUREIRO; ARITA; EDUARDO, 1991; SILVA, 1992; STELLUTO JR.,

    1994; LIZARELLI, et al., 1996; GARCIA, 1997; 1995; MERCER, 1996; WIGDOR,

    1997; WEESNER JR., 1995; 1998; CICONELLI, et al., 1998), so mencionadas

    diversas aplicaes desta tecnologia a saber: excelente efeito anti-lgico e diminuio

    do tempo de reparao em bipsias de leses de lngua, frenectomia, leses brancas e

    lcera aftosa; diminuio da sintomatologia dolorosa em leses herpticas; na exposio

    e bio- integrao de implantes de titnio e osso liofilizado; nas gengivectomias,

    gengivoplastia, afastamento gengival, aumento de coroa clnica; em cirurgia geral no

    controle da coagulao de reas sangrantes, remoo de tecido de granulao excessivo

    e osteotomia diminuindo sensivelmente o edema, dor ps-operatria, tempo de reparo e

  • 27

    cicatrizao dos tecidos; nas patologias de ATM, com efeito antilgico e miorrelaxante;

    na endodontia na diminuio da dor, remisso de abscessos, reorganizao dos tecidos

    periapicais, remoo de contedo dos canais radiculares, resseco de pice radicular,

    secamento e esterilizao de condutos.

    Ainda na rea de dentstica atua na eliminao de cimentos, compsitos e

    compmeros, secagem, e esterilizao de cavidades, condicionamento de dentina e

    esmalte, selamento de pontos, fossas, sulcos e fissuras, e no controle da

    hipersensibilidade dentinria (GARCIA, 1997).

    Weesner Jr. em 1995 menciona sua preocupao com relao aos possveis

    efeitos pulpares, risco de inalao de vapor durante o manuseio do laser cirrgico, da

    reflexo do feixe do laser e sugere mais investigaes visando controle destes efeitos.

    Algumas das principais contra-indicaes incluem: hipertiroidismo, patologias

    circulatrias profundas, portadores de marca-passo, epilpticos, irradiao direta do

    globo ocular, irradiao direta de glndulas endcrinas, pacientes portadores ou com

    histria prvia de neoplasias, arritmias cardacas, estados infecciosos agudos (MIDDA;

    RENTON-HARPER, 1991).

  • 28

    2.2 - ASPECTOS CLNICOS E HISTOLGICOS DA TCNICA DE REIMPLANTE DENTAL

    Silva e Lima (1954), citaram que a primeira meno de reimplante data de

    Hipcrates, 400 A.C. onde nos casos de fraturas dos maxilares se recomendava a

    reposio e fixao dos dentes luxados em seus alvolos. Ainda neste trabalho, o autor

    menciona que a reimplantao dentria como medida teraputica s foi descrita em

    1786, por Fauchard. Da por diante vrias tentativas foram realizadas sem grandes

    sucessos e, desta maneira, a reimplantao dentria foi considerada por alguns autores

    como uma medida teraputica ineficiente e pouco aceita pelos profissionais.

    Na realidade esta viso sobre o reimplante dental advm da falta de

    conhecimento por parte dos profissionais, os quais no reconhecem que a avulso dental

    ocorre nas mais variadas condies e, que portanto, requer tratamentos diferenciados. A

    soluo, neste caso, recorrer a literatura atualizada para estabelecer qual procedimento

    que mais se adapta a cada caso em particular (MARZOLA et al., 1997).

    Ellis (1966), foi o primeiro a procurar estabelecer uma classificao sobre

    trauma, mas de uma maneira genrica. Andreasen (1970), quem merecidamente mais

    contribuiu neste campo, inicialmente com a classificao apresentada e adotada pela

    Organizao Mundial de Sade (OMS), a Classificao Internacional de Doena, com

    aplicao em Dentstica e Estomatologia.

  • 29

    2.2.1 - ASPECTOS CLNICOS

    2.2.1.1 - CAUSAS RELACIONADAS AVULSO DENTAL

    Na literatura, as causas mais comumente associadas ao trauma so: quedas no

    aprendizado de andar e correr e colises acidentais (WALTER; FERELLE; ISSAO,

    1996), acidentes automobilsticos e ciclsticos (WALTER; FERELLE ; ISSAO, 1996;

    COSTA; CORREA; RIBEIRO, 1998), prtica de esportes que oferecem alto ndice de

    risco de traumatismo, pacientes portadores de problemas convulsivos crnicos que por

    isso so mais vulnerveis a acidentes, o que justifica o uso de protetores bucais

    (McTIGUE, 1996; COSTA; CORREA; RIBEIRO, 1998). Segundo Kawashima e

    Pineda (1992) e SOARES e SOARES (1995), os incisivos superiores so

    freqentemente os dentes mais atingidos, podendo envolver um ou mais elementos

    dentais.

    Andreasen (1981), considera que em torno de 16% das injrias traumticas da

    dentio permanente se constituem em avulses dentrias acidentais, e por isso, so

    definidas como sendo um dos problemas mais srios dos consultrios odontolgicos,

    alm de constiturem um dos traumas que causam maior impacto funcional a saber:

    deficincia mastigatria causada por alterao da ocluso, instalao de hbitos bucais

    viciosos e deletrios como interposio de lngua, e alterao na fontica, (LINO, 1990;

    CORRA, 1996; IMPARATO et al., 1998), e perda de espao (IMPARATO et al.,

    1998), embora discutido por alguns autores que entendem que a ausncia dos incisivos

    no compromete a manuteno de espao (VAN DER LINDEN, 1986; KORYTMICKI;

    NAPITZ; FALTIN Jr, 1994).

    Jacobsen e Moddr (1992), e posteriormente confirmado por Mctigue (1996),

    ressaltaram que aproximadamente 50% das crianas que so vtimas de violncia fsica

    apresentam leses na cabea, face, boca e pescoo, o que nos alerta para a maior causa

    de injria dentria. Estes autores tambm mencionam que pacientes que apresentam

    dentes anteriores protudos como os de Cl II div. 1 de Angle, bem como os de Cl I

    portadores de hbitos bucais deletrios tais como: uso prolongado de chupeta e

  • 30

    mamadeira, suco de dedo, respirador bucal por obstruo das vias areas superiores,

    tambm so mais susceptveis a trauma.

    A avulso pode acometer tanto a dent io decdua como a permanente e

    abrange uma vasta faixa etria. Embora todas as atenes sejam dirigidas dentio

    permanente, vale ressaltar que segundo Andreasen (1997), a avulso representa 13%

    dos casos de traumatismos na dentio decdua, e isso provavelmente esteja

    relacionado, segundo Soares e Soares (1995), intensidade do trauma associada

    estrutura delicada do ligamento periodontal dos dentes de crianas na fa ixa etria de 7 a

    12 anos favorecendo a avulso. Pettiette et al. (1997), tambm concordam que nesta

    faixa etria a avulso mais freqente em funo do ligamento periodontal ainda ser um

    tecido em desenvolvimento e portanto, ainda no estvel.

    Alguns trabalhos (MENEZES; MARAL; ROCHA, 1985; KAWASHIMA;

    PINEDA, 1992), consideram, que o reimplante de dentes decduos indicado em

    situaes muito restritas. A combinao de um diagnstico correto e experincia

    profissional, dever determinar a conduta ideal para estas situaes. O efeito

    psicolgico tambm deve receber especial ateno porquanto algumas crianas com

    histrico de traumatismo, sentem-se mutiladas e inseguras (HOLAN; TOPP; FUKS,

    1992).

    Alguns autores (MENEZES; MARAL; ROCHA, 1985; KAWASHIMA;

    PINEDA, 1992; SOARES e SOARES, 1995; KAWANAMI, et al., 1999;

    DAMASCENO, 2001), consideraram que embora o reimplante de dentes decduos no

    apresente prognstico favorvel, a tentativa de reabilitar o paciente, ainda se constitui

    em procedimento de grande valia biolgica e psicolgica e, alm do que, a possibilidade

    de manter no alvolo, o dente traumatizado por mais tempo possvel permite o trmino

    do desenvolvimento da arcada, inclusive preparando emocionalmente a criana e seus

    pais para uma possvel perda do dente, e consequentemente, a eventual necessidade da

    realizao de um implante.

  • 31

    Kawashima e Pineda (1992), consideram que uma das razes que muitos

    profissionais no recomendam o reimplante de dentes decduos devido a falta de

    cooperao da criana, que no momento do atendimento ainda encontra-se

    emocionalmente abalada pelo trauma. Outra razo reside no fato de que reimplante

    oferece risco de interferncia no desenvolvimento da dentio permanente, alm da

    maior dificuldade no controle da higienizao da rea lesada em caso de crianas.

    Korytmicki, Napitz e Faltin Jr (1994), consideram que a perda de espao no se

    constitui em uma ocorrncia certa sempre que houver perda precoce de um dente

    decduo, e desta forma a necessidade do uso ou no de um mantenedor de espao, fica

    na dependncia de uma avaliao criteriosa de alguns fatores, a saber: tipo do dente

    perdido, estgio de desenvolvimento da dentio, idade da criana, caractersticas

    prprias do arco dentrio, presena e potencial para desenvolver hbitos parafuncionais

    e/ou anomalia de musculatura oral. A observncia destas variveis aliada a experincia

    profissional que permitir selecionar a conduta clnica mais apropriada.

    Duggal et al. (1994), salientam que mesmo em casos de reimplantes tardios

    cujo ligamento periodontal apresenta-se desvitalizado, a tentativa do reimplante ainda se

    constitui em uma teraputica vivel, porquanto, embora exista um prognstico incerto, o

    tempo que o dente permanece no arco, mantm a altura do osso alveolar facilitando a

    realizao futura de uma prtese com uma esttica e funo mais favorvel.

  • 32

    2.2.1.2 - TEMPO

    Embora hajam algumas variaes quanto s manobras clnicas durante o

    atendimento ao paciente acidentado, observamos que, na quase totalidade dos trabalhos

    cientficos, h uma concordncia entre os autores: a permanncia do dente fora do

    alvolo. O tempo se constitui em um dos fatores mais crticos que afetam diretamente o

    prognstico do caso. Silva e Lima (1954), concordam que o tempo um fator

    determinante para a manuteno da vitalidade do ligamento periodontal e

    consequentemente para o sucesso do tratamento. No entanto, em seu experimento o

    tempo em que o dente permanecia fora do alvolo no excedia 1,5 min, condio essa

    irreal de se reproduzir em uma situao de avulso acidental. Na literatura, alguns

    trabalhos (TANCREDO, 1987; MACKIE; WORTHINGTON, 1992; SOARES e

    SOARES, 1995), relatam que o tempo nunca deve exceder ao limite de 15 a 30 min,

    aps a avulso. Caso esse tempo exceda, as clulas do ligamento aderidas parede de

    cemento necrosam rapidamente, advindo uma srie de alteraes patolgicas. Isso

    culminaria com o desencadeamento de intensas reabsores radiculares diminuindo

    vertiginosamente o xito do tratamento. Aps 60 min de permanncia fora da cavidade

    oral, em meio seco, poucas clulas do ligamento periodontal mantm vitalidade e desta

    forma as possibilidades de ocorrer um quadro de reabsoro inflamatria aumentam

    significativamente (SHARMA; DUGGAL, 1994). Aps um perodo extra-alveolar de 2

    hs, em meio seco, desprezvel a quantidade de clulas com vitalidade (PATIL;

    DUMSHA; SYDISKIS, 1994).

    Okamoto et al. (1996); Okamoto, Hanada e Saad Neto (1986/87), consideram a

    poro cementria do ligamento a que merece mais ateno pois, segundo o autor, a

    manuteno de sua vitalidade no momento do reimplante, motivo de ampla discusso

    por vrios pesquisadores. Afirmam, ainda que o tempo que o dente permanece fora do

    alvolo, exerce efeito sobre o osso alveolar favorecendo a anquilose.

    Andreasen e Hjorting (1966), verificaram que se o tempo estipulado por eles de

    30 min fora do alvolo for excedido, o ndice de reabsores atinge 95%. Nicola (1987),

    Gnday, Sazak e Trkmen (1995), corroboram estes dados.

  • 33

    Houston et al. (1985), mencionam que o restabelecimento do ligamento

    periodontal nos casos de conservao da sua vitalidade, acontece 6 meses aps o

    reimplante, sempre que o tempo de permanncia extra-bucal no exceder 10 min.

    Gnday, Sazak e Trkmenn (1995), alm do tempo extra-bucal, consideram a

    vitalidade do ligamento periodontal como requisito para o sucesso do reimplante dental.

    Marzola et al. (1997), resume sua posio em relao importncia do tempo

    em que o dente permanece fora do alvolo da seguinte maneira: efetue o reimplante o

    mais rpido possvel.

    Andreasen e Schwartz (1986), realizaram um experimento em macacos onde os

    dentes extrados foram mantidos fora da cavidade oral, em meio seco, por 30 min e

    depois divididos em dois grupos: no primeiro o dente seria reimplantado sem qualquer

    tratamento prvio e o outro seria mantido por 30 min em soluo salina antes do

    reimplante. Os autores observaram que no houve diferena entre os grupos na anlise

    histolgica, confirmando mais uma vez que o tempo o fator chave para a obteno de

    um prognstico mais favorvel.

    Donaldson e Kinirons (2001), afirmam que para o desencadeamento de uma

    reabsoro precoce ficar limitado, o dente avulsionado no deve ser mantido em meio

    seco por mais de 5 min. Dentes que apresentam danos adicionais como fratura coronal,

    leso de crie extensa, e contaminao radicular, apresentam risco maior de desenvolver

    reabsoro radicular.

  • 34

    2.2.1.3 - CONTENO

    A grande maioria dos trabalhos consideram primordial a imobilizao do dente

    traumatizado, no sentido de manter o dente estvel no seu alvolo de origem, evitando

    que interferncias oclusais, interposio de lngua, foras advindas da musculatura

    perioral, dificultem a reorganizao do ligamento periodontal. No entanto, controvrsias

    persistem quanto ao tempo de permanncia da conteno e se esta deva ser rgida ou

    semi-rgida (ANTRIM; OSTROWSKI, 1982). Na literatura so inmeros os trabalhos

    em que o uso inadequado de conteno dificultou a recuperao do dente traumatizado.

    Em experimentos, muitas vezes o modelo animal/biolgico para a realizao do estudo

    dificulta uma avaliao mais precisa. Podemos citar os modelos com ratos onde a

    imobilizao dificultada pelo volume das coroas e tambm porque os dentes

    apresentam crescimento contnuo o que obriga a remoo do esplinte em no mximo 72

    hs (OKAMOTO; OKAMOTO, 1995).

    No trabalho de Silva e Lima (1954), os autores citaram alguns tipos de

    ferulizaes usadas sem sucesso na poca por outros autores, como amarrias com fios

    de seda ou arames, alm de um tipo associado com bandas ortodnticas usadas pelos

    prprios autores, na realizao do experimento.

    Alguma discordncia existe no que se refere ao material usado e

    principalmente ao tempo de uso deste aparato, fator de grande relevncia para o sucesso

    do tratamento (MARZOLA et al., 1997).

    Assim, Bramante et al. (1986) e Tancredo (1987), sugerem o uso de esplinte de

    fio de ao associado a resina composta por um perodo mnimo de 15 dias, podendo se

    estender por at 60 dias se for constatado fratura ssea e/ou radicular. Menezes (1985),

    defende sua manuteno por 3 meses e a ferulizao com resina autopolimerizvel

    unindo dentes colaterais, alm de cimento cirrgico na primeiras 48 hs, ps-reimplante.

    Okamoto e Okamoto (1995), usando ratos, observaram que a amarria cir cular

    envolvendo dentes vizinhos no adequada, porquanto, provoca compresso do dente

  • 35

    reimplantado contra a parede ssea mesial, ocasionando reabsoro cemento-dentinria

    e anquilose alvolo-dental, alm do que, no lado distal mantm o espao periodontal

    aumentado facilitando a perda do cogulo e, consequentemente, contaminao local.

    Andersson, Friskopp e Blomlf (1983), citaram uma associao de fibra de

    vidro com resina composta auto polimerizvel por um perodo que varia de 1 a 3

    semanas para dentes luxados e avulsionados, e at 3 meses, se houver fratura radicular.

    Os autores consideram que a estrutura do splint deva ser rgida j que dentes

    traumatizados apresentam mobilidade e ficam sujeitos a alteraes de posio, alm do

    que a fibra de vidro seria mais esttica para um perodo to longo.

    Em trabalhos mais recentes (SOARES e SOARES, 1995; MARZOLA, 1997),

    os autores consideram que em uma semana as fibras gengivais j se apresentam

    reorganizadas, assegurando uma boa estabilizao do dente e portanto entendem que

    uma conteno por um perodo de 15 dias seria suficiente. Com relao ao material

    empregado na confeco desta conteno, os mesmos sugerem uma ferulizao semi-

    rgida associando resina composta e fio de nylon, estendendo por 2 dentes vizinhos para

    cada lado.

    Roslindo et al. (1995), realizaram estudo para avaliar as alteraes do

    ligamento periodontal de ratos quando submetidos hipofuno. O autor concorda que

    a manuteno da integridade estrutural do ligamento periodontal est relacionada

    atividade funcional normal dos dentes, e por isso cons iderado tecido de adaptao

    contnua de modo que quando este privado de suas funes quer por acidente ou perda

    do antagonista, observa-se atrofia progressiva por desuso, extruso com marcada

    recesso gengival e exposio radicular, mobilidade dental, alteraes degenerativas,

    tais como: diminuio do nmero e da densidade dos feixes colgenos, desorganizao

    das fibras, diminuio do espao periodontal e espessamento de osso alveolar e cemento

    dental. Os autores ainda salientam, que tais alteraes ocorrem rapidamente tendo sido

    observadas nos animais com 48 hs de hipofuno, confirmando a importncia de se

    devolver a funo, ao dente reimplantado, o mais breve possvel, providenciando a

  • 36

    remoo da conteno, mesmo semi-rgida, sempre que o caso permita, propiciando

    condies ideais para uma reparao mais ordenada do ligamento periodontal.

    O uso de esplinte flexvel por um perodo que varia entre uma e duas semanas,

    diminui anquilose que pode se estabelecer j em duas semanas aps o reimplante,

    sugerido por Gnday, Sasak e Trkmen (1995).

    Schein e Isolan (1997), mencionam em seu artigo que a partir da dcada de 70,

    houve uma reformulao de conceitos sobre conteno no que se refere a rigidez. Desde

    ento, o emprego de esplinte do tipo semi-rgido, tem sido preferncia dos diversos

    pesquisadores (MARZOLA, 1997; SOARES e SOARES, 1995) que concordam que

    este procedimento favorece a cicatrizao periodontal, diminui a possibilidade de

    anquilose, alm do que evita maiores danos polpa.

    A anquilose pode ser minimizada se o tempo de esplinte for limitado a 10 dias,

    exceto nos casos em que ainda neste perodo, o dente apresente muita mobilidade

    (KINIRONS; BOYD; GREGG, 1999; VON ARX; FILIPPI, 2001).

    Atualmente o conceito de esplinte do tipo semi-rgido j considerado parte

    integrante de vrios protocolos de tratamento de pacientes acidentados devido a

    importncia de se devolver ao elemento dental a sua funo colaborando com a

    reorganizao das fibras do ligamento periodontal (JACOBSEN; MODER, 1992;

    KRASNER; RANKOW, 1995; McDONALD; AVERY; RENDON, 1995; SCHEIN;

    ISOLAN, 1997; VON ARX; FILIPPI, 2001).

    TTS, tambm se constitui em um dispositivo usado para esplintar dentes

    reimplantados. confeccionado com titnio puro, flexvel e em diversos tamanhos. Esta

    modalidade de esplinte, permite mobilidade fisiolgica do dente, alm de ser de fcil

    instalao e remoo. A aprovao por parte dos pacientes, se deve ao fato deste aparato

    no prejudicar a funo alm de no interferir na fala e esttica (VON ARX; FILIPPI,

    2001).

  • 37

    2.2.1.4 - MEIO DE CONSERVAO

    O meio de conservao do dente avulsionado tambm se constitui em fator de

    grande importncia no sucesso do tratamento. Na literatura, constatamos que em quase

    todos os trabalhos, os autores relatam a necessidade de meio mido citando soluo

    salina, leite e gua como substncias de primeira escolha, sempre que houver

    impedimento em reposicionar o dente no seu alvolo de origem, ou mant-lo na

    cavidade oral do acidentado, debaixo da lngua, alertando caso criana, para o cuidado

    quanto aspirao e/ou deglutio do elemento dental (ANDREASEN et al., 1978;

    ANDERSSON et al., 1983; ANDREASEN; SCWARTZ, 1986; HUANG; REMEIKIS;

    DANIEL, 1996; ANDREASEN, 1997).

    Krasner e Person, (1992), avaliaram a eficcia da soluo de Hank como meio

    de conservao do dente avulsionado, utilizando-se de um sistema denominado ETPS.

    Trata-se de um kit que contm a soluo de Hank num meio com compartimentos que

    garantem auxiliar no transporte do dente evitando esmagamento da superfcie radicular

    e facilitando o manuseio do dente por parte do profissional. Os resultados foram

    positivos embora a avaliao tenha sido clnica e radiogrfica. Todavia, o uso deste

    sistema se constitui em alternativa pouco vivel considerando a impossibilidade de

    dispor deste meio no momento do trauma (HUANG; REMEIKIS; DANIEL, 1996;

    MACKIE; WORTHINGTON, 1992). Os autores relatam que solues como Hank e

    Eagle, preservam e reconstituem as clulas do ligamento de dentes avulsionados por

    muitas horas, seno dias. Mesmo em casos de dentes que ficaram em meio seco por at

    1 h, poderiam ficar imersos nesta soluo por 30 min, antes do reimplante.

    McDonald, Avery e Hennon, (1995), tambm sugerem o uso da soluo de

    Hank 41, meio de Eagle, alm do leite como meio de conservao do dente avulsionado.

    A cultura supernatante de fibroblastos humanos, denominado CM, pode conter

    fatores biologicamente ativos e poderiam ser utilizados como meio de conservao de

    dentes avulsionados, viabilizando a vitalidade das clulas por perodos prolongados, e

    em seu experimento, Hupp et al., (1998), concluram que a eficincia do CM foi

  • 38

    significativamente maior quando comparado a soluo de Hank, demonstrando menor

    ndice de reabsoro radicular inflamatria e de superfcie. Os autores admitem que

    ainda atualmente, o CM no se constitui em uma opo vivel, mas se pesquisas futuras

    confirmarem sua superioridade, poder se tornar largamente disponvel e ainda se

    constituir em uma alternativa possvel para uso na rotina odontolgica como meio de

    conservao.

    Um meio usado para transporte e conservao de rgos a serem

    transplantados, chamado Via Span, foi avaliado por Pettiete (1997) e demonstrou ser

    superior por prolongar a vitalidade das clulas do ligamento periodontal antes do

    reimplante, comparado a soluo de Hank e ao meio condicionante (CM). O protocolo

    para o uso da soluo Via Span sugere que casos em que os dentes permaneceram por

    perodos entre 45 a 60 min fora da cavidade bucal, em meio seco, poderiam ser

    beneficiados com a imerso destes na soluo por 30 min antes do reimplante

    (PETTIETE, 1997). Apesar dos resultados deste experimento, o autor considerou que a

    soluo de Hank ainda se constitui em um excelente meio, porquanto, apresenta

    resultados muito favorveis quando comparado ao leite, saliva ou soro fisiolgico.

    Outra vantagem o baixo custo e o fato de ter validade prolongada, podendo ser

    armazenado em casa, facilitando acesso e manuseio quando da necessidade de sua

    utilizao.

    Blomlof, Otteskog e Hammarstrom, (1981) e Sharma e Duggal, (1994),

    afirmaram que gua e saliva podem ser muito destrutivas para as clulas e devem ser

    evitadas sempre que possvel. A saliva apresenta osmolaridade muito menor que o leite

    tornando-a uma soluo hipotnica, e isso acarretar inchao e at rompimento das

    clulas do ligamento Periodontal (HUANG; REMEIKIS; DANIEL, 1996). Em seu

    experimento onde o dente foi mantido por 6 hs em saliva, 8 semanas aps o reimplante,

    os resultados foram semelhantes ao grupo de dentes que foram mantidos em meio seco

    antes do reposicionamento no alvolo, ou seja, mostraram extensas reas de reabsoro

    (BLOMLOF, 1983). O autor considerou que o leite foi superior como meio de

    conservao. Outros autores Blomlof; Otteskog; Hammarstrom (1981); Huang;

    Remeikis; Daniel (1996); Mercer (1996), tambm concordam que o leite revelou

  • 39

    melhores resultados quando comparado saliva. Esta mostrou eficincia como meio de

    conservao por 2 hs; enquanto que com o leite este perodo pode chegar a 6 hs. A uma

    temperatura de 20C, o leite consegue manter 24,4% das clulas do ligamento, viveis

    aps 72 hs (HUANG; REMEIKIS; DANIEL, 1996).

    Em outro estudo os dentes foram extrados e mantidos secos por 10 min, e aps

    esse tempo ficaram imersos por 2 hs em leite ou soro fisiolgico previamente ao

    reposicionamento em seu alvolo de origem. Neste caso no houve diferena

    significante no nmero de clulas viveis no ligamento periodontal (PATIL; DUMSHA;

    SYDISKIS, 1994).

    Kawashima e Pineda (1992) sugerem alm da saliva e o leite, sangue como

    meio de conservao.

    Solues para tratamento de lentes de contato, foram avaliadas como meio de

    conservao mas apresentaram resultados desfavorveis quando comparado ao leite, ou

    soro fisiolgico (HUANG; REMEIKIS; DANIEL, 1996). Os mesmos autores afirmam

    que a eficincia do leite comparada a saliva se explica pela osmolaridade ser mais vivel

    para a sobrevida das clulas do PDL, pela possibilidade de prover nutrientes essenciais,

    e tambm no caso de leite pasteurizado, pelo seu baixo ndice de bactria, e portanto

    menor possibilidade de contaminao.

    Duggal et al. (1994), relatam um caso de reimplante tardio, onde realizam um

    protocolo de tratamento prvio do dente a ser reimplantado, que inclui: remoo do

    ligamento periodontal necrosado com lmina de bisturi, imerso em soluo de fluoreto

    de sdio a 2,4% (pH 6.5) por 20 min, seguida de banho de soluo salina, obturao dos

    canais com guta-percha e cimento xido de zinco e eugenol, concluindo com imerso

    por uma noite em soluo de 3 g de amoxacilina preparada para 50ml. O autor justifica

    o uso da soluo de fluoreto devido a propriedade j conhecida dos ons flor na

    diminuio da solubilidade dos tecidos duros do dente. Krasner e Rankow, (1995),

    concordam que o uso de soluo de flor reduz o nvel de reabsoro radicular.

  • 40

    Embora haja controvrsias acerca do meio utilizado como conservao,

    Donaldson e Kinirons (2001) sugerem que, manter por um tempo satisfatrio o dente

    avulsionado em meio mido, no s diminui como tambm retarda o desencadeamento

    de reabsoro radicular precoce. Os autores tambm salientam a importncia do

    controle da contaminao antes do reimplante e recomendam lavar a superfcie radicular

    previamente com soluo salina.

  • 41

    2.2.1.5 - MANUSEIO DO DENTE

    No tocante ao preparo de dente avulsionado, no momento do reimplante,

    alguns autores (MENEZES; MARAL; ROCHA, 1985; BRAMANTE, 1986;

    KRASNER; PERSON, 1992; SHARMA; DUGGAL, 1994; SOARES e SOARES,

    1995; MARZOLA et al., 1997) entendem que nos casos de reimplante imediato onde o

    perodo ps trauma no excede 2 hs, a poro radicular no deva ser tocada e/ou raspada

    pelo profissional, bastando para isso, apreend- lo pela coroa utilizando uma compressa

    de gaze, durante o reposicionamento no alvolo. Esses cuidados, proporcionariam

    melhores resultados visto que remoes acidentais de pores e at mesmo de todo

    ligamento periodontal durante o manuseio do dente, poderia desencadear anquilose e

    consequentemente reabsores levando a perda do elemento dental.

    Alguns autores (SHARMA; DUGGAL, 1994; SOARES e SOARES, 1995;

    MARZOLA, 1997), sugerem irrigar profusamente o dente com soro fisiolgico antes de

    reposicion- lo. J para reimplantes tardios, onde o tempo excede 2 hs, ele recomenda

    remover todo o ligamento periodontal radicular com bisturi, e realizar a obturao do

    canal com pasta de hidrxido de clcio na inteno de prevenir a reabsoro

    inflamatria, mesmo admitindo que a realizao de mais este procedimento implica em

    aumento do tempo dispensado para a realizao do reimplante, favorecendo por

    conseguinte a instalao de um quadro de anquilose. Sharma e Duggal (1994),

    preconizaram o preenchimento com pasta de hidrxido de clcio em dentes que foram

    mantidos fora da cavidade oral por mais de 45 min, apostando no efeito bacteriosttico e

    de inibio do processo de reabsoro radicular do tipo inflamatria em funo do alto

    pH Gnday, Sasak e Trkmen (1995); Hupp et al., (1998) e Pettiette et al. (1997),

    corroboram estas afirmaes baseados em seus experimentos com ces. No entanto,

    estes autores realizaram os tratamentos endodnticos, antes da exodontia dos elementos

    dentais que seriam analisados posteriormente, e portanto o manuseio da superfcie

    radicular para a realizao deste procedimento no caso de uma avulso no seria

    considerado.

  • 42

    Kinirons, Boyd e Gregg (1999), tambm concordam que a extirpao precoce

    da polpa, pode minimizar e/ou prevenir reabsoro inflamatria.

    Okamoto et al. (1996), realizaram experimentos em ratos onde removiam tanto

    o ligamento periodontal cementrio quanto alveolar previamente ao reimplante e

    constataram que tal conduta diminui o grau de reabsoro cemento-dentinrio e

    anquilose alvolo-dental, alm da neoformao ssea nvel do ligamento ter sido mais

    discreta. No entanto, precisamos ressaltar que tais estudos foram realizados em

    condies favorveis onde os dentes extrados foram reimplantados imediatamente ou

    foram conservados em meio mido com mnimo de contaminao, situao esta difcil

    de ocorrer em acidentes.

    Em outro experimento Okamoto; Hanada; Saad Neto, (1986/87), os autores

    realizaram reimplante mediato em incisivo de rato com e sem ligamento periodontal

    cementrio, por considerar que a manuteno da vitalidade deste tecido fundamental

    para o sucesso do reimplante. Os autores observaram que o grupo em que foi mantida a

    poro do ligamento periodontal cementrio, apresentou intensa reabsoro radicular do

    tipo inflamatria que culminou em um quadro de anquilose alvolo dental tardia; no

    grupo em que o mesmo tecido foi removido constatou-se anquilose alvolo dental. Os

    autores concluem, nesta data, que uma teraputica ideal deve ser pesquisada.

    Duggal et al. (1994); Sharma e Duggal (1994), mencionam que o grau de

    contaminao da superfcie radicular com microorganismos da cavidade oral tambm

    um fator importante a ser considerado, porquanto influencia o prognstico do

    tratamento.

  • 43

    2.2.2 - ASPECTOS HISTOLGICOS

    A reao tecidual mais comumente descrita na tcnica de reimplante de dentes

    a reabsoro de raiz. Esta pode ser classificada em 3 tipos, a saber: reabsoro de

    superfcie, reabsoro inflamatria e reabsoro por substituio ou anquilose

    (CORRA, 1996).

    A ttulo de esclarecimento, consideramos relevante definir cada forma de

    reabsoro. Lindhe (1997), as define sucintamente: reabsoro de superfcie se

    constitui em uma modalidade comum, auto-limitante e reversvel. Essas reabsores

    podem ser causadas por agresses na superfcie radicular e no periodonto em conjunto

    com trauma oclusal, e/ou como resultado de fora ortodntica excessiva. A reabsoro

    por substituio ou anquilose, resulta na substituio do tecido dentrio duro por osso,

    progredindo lentamente e podendo causar perda do dente reimplantado aps alguns

    anos. No h tratamento disponvel para esta condio. Fina lmente, o termo reabsoro

    inflamatria, sugere a presena de uma leso inflamatria no tecido periodontal

    adjacente ao processo de reabsoro.

    Uma caracterstica importante que a reabsoro inflamatria progride

    rapidamente e, freqentemente, resulta em perda do dente afetado dentro de poucos

    meses. Em muitos casos pode ser tratada e controlada, ressaltando que devido

    caracterstica agressiva do procedimento do reimplante, clinicamente importante

    prevenir sua instalao que est diretamente associada a dois fatores: agresso camada

    de cemento e colonizao bacteriana do canal radicular (FRIEDMAN, 1998).

    Em experimentos que abordam aspectos histolgicos da tcnica do reimplante

    dental, verifica-se que a presena de determinados eventos fisiopatolgicos, bem como

    sua intensidade, determinam o prognstico destes tratamentos. So eles: presena de

    reas de reabsoro ssea, reabsoro radicular, processos inflamatrios, reas de

    necrose, reparo por reinsero de fibras colgenas do ligamento periodontal e reas de

    anquilose dento-alvolar (ANDREASEN, 1981).

  • 44

    Myers et al. (1954), realizaram um estudo sobre dentes reimplantados em

    hamsters. Oito animais com 36 dias de idade foram usados no experimento. A amostra

    foi dividida em dois grupos: no primeiro, foram extrados os segundos molares; e no

    segundo foram extrados os terceiros molares. Instrumentais foram especialmente

    adaptados para esse experimento. Os dentes foram extrados sob anestesia geral e

    reimplantados imediatamente. Aps a cirurgia os animais foram mantidos em gaiolas

    individuais e com dieta regular e gua. Os animais que extraram os segundos molares,

    foram sacrificados em 5, 10, 21 e 30 dias aps a cirurgia; enquanto que no outro grupo a

    eutansia foi realizada em 5, 10 e 19 dias. A amostra foi submetida a tratamento

    histolgico de rotina para posterior avaliao. Os resultados demonstraram que em 5

    dias houve manuteno do espao periodontal e fibras colgenas sem orientao

    definida. Nos demais perodos o ndice de sucesso na recuperao da reinsero foi alto.

    Le e Waerhaug (1961), realizaram experimento em ces e macacos com o

    intuito de avaliar a importncia da vitalidade da membrana periodontal na tcnica de

    reimplante dental. Os animais foram divididos em 3 grupos: no primeiro os dentes

    foram reimplantados sem o periodonto; no segundo, o reimplante ocorreu aps sua

    secagem; e no terceiro grupo, o reposicionamento do dente ocorreu imediatamente aps

    a exodontia. Os autores concluram que reimplantes de dentes sem periodonto ou aps

    sua secagem, tem em comum o estabelecimento de anquilose em 30 dias. Nos casos

    com periodonto vital houve reparo com aparente normalidade em 30 dias, com reas

    isoladas de reabsoro radicular, bem como, aposio de cemento. Tambm no foi

    observado presena de pontes de osso neoformado atravessando o espao periodontal.

    Estes casos de reimplantes imediatos, mostraram claramente que possvel haver

    restabelecimento da reinsero aps reimplantao de dentes com periodonto vital, e

    que resultados permanentes podem ser possveis dentro destas condies favorveis.

    Outra pesquisa em ces (ANDERSON; SHARAV; MASSLER, 1968) defende

    que o grau de desenvolvimento radicular se constitui no principal fator determinante e

    que oferece as melhores condies para o reparo da reinsero periodontal. Neste estudo

    os autores avaliaram 36 dentes de 9 ces, sendo que 5 apresentavam rizognese

    incompleta e 4 j haviam concludo o desenvolvimento radicular, A proposta foi

  • 45

    acompanhar a recuperao do ligamento periodontal aps reimplante. As condies

    testadas foram vrias: manuseio, meio de conservao do dente, temperatura de

    conservao, grau de desenvolvimento da raiz, tempo extra-bucal. Todas essas variveis

    foram observadas sob condies controladas. Os resultados foram obtidos por meio de

    exames clnicos, radiogrficos e histolgicos. A avaliao foi feita aps 6 semanas. O

    desenvolvimento radicular foi claramente o mais importante fator que contribuiu para

    melhores resultados. Embora os dentes jovens apresentaram melhores resultados quanto

    a reinsero, foram eles os mais sensveis aos fatores externos, como meio de

    conservao e tempo extra bucal. Os dentes maduros, ao contrrio, apresentaram menos

    alteraes do meio; mas apresentaram maior nd ice de trauma associado com a avulso,

    e isso, consideram, pode ser um fator que contribuiu para complicaes na recuperao.

    Os autores ainda salientam a importncia de pesquisas adicionais que enfatizem os

    efeitos dos diversos tratamentos prvios na superfcie radicular de dentes reimplantados.

    So eles: a ao de fatores mecnicos como raspagens e alisamentos radiculares, fatores

    qumicos como o uso de bactericidas e solues a base de flor, e remoo ou no da

    polpa previamente ao reimplante.

    Rothschild et al. (1969), avaliaram histologicamente reimplantes e transplantes

    de dentes em ces, com e sem tratamento endodntico. O tempo de permanncia extra-

    bucal foi de 30 minutos para todos os dentes. O meio de conservao foi soro

    fisiolgico. Os resultados mostraram, nos casos de dentes reimplantados, reas com

    tentativa de reinsero entre cemento e osso ao final de 15 dias, com pouca resposta

    inflamatria e reas de reabsoro de cemento e osso, demonstrada pela presena de

    intensa atividade clstica. Mas ao trmino de 30 dias, constatou-se anquilose,

    evidenciada pela marcada atividade osteoblstica e diminuio da atividade

    fibroblstica tanto nos casos reimplantados com e sem tratamento endodntico prvio,

    no havendo diferenas substanciais entre ambos. A reabsoro ssea foi evidente, no

    entanto foi maior nos casos de reimplantes sem endodontia, quando comparado aos

    reimplantes com endodontia prvia. Nos transplantes, no observaram evidncias de

    atividade fibroblstica, ou anquilose e sim intensa atividade inflamatria aguda em

    ambos os perodos, 15 e 30 dias aps o transplante; alm de reabsoro de cemento e

    dentina, caracterizada pela abundncia de odontocla stos.

  • 46

    Johansen (1970), corrobora esta opinio baseado em seu trabalho com

    reimplante dental em porcos da ndia. Em seu experimento, os animais foram divididos

    em 3 grupos: reimplante imediato com dieta slida, reimplante imediato com dieta

    lquida, e reimplante imediato com dieta lquida e uso de esplinte. Aps vrios perodos

    de observao, de 1 a 25 dias, os animais foram sacrificados. As amostras receberam

    tratamento histolgico de rotina, com cortes longitudinais e transversais das

    mandbulas. O autor considera que tipo de dieta e/ou uso de esplinte no se constituem

    em variveis diretamente relacionadas a reinsero do ligamento periodontal. Afirma

    que a presena de zonas de vascularizao intensa determina a qualidade do reparo das

    fibras do ligamento periodontal e que neo-formao ssea e/ou cementria, esto

    relacionadas ao processo de reinsero, como pr-requisito.

    Nasjleti et al. (1975), experimentaram a conservao de dentes avulsionados

    em baixas temperaturas antes do reimplante. Foram usados 10 macacos. Os perodos

    selecionados para avaliao histolgica variou entre 1 dia a 12 meses. Foi realizado

    tratamento endodntico dos dentes objeto deste estudo, previamente ao reimplante. Os

    dentes foram mantidos a uma temperatura de +4C e 10C, em dois meios de

    conservao diferentes por 7 dias para posterior reposicionamento em seus alvolos de

    origem. Nos mesmos animais foram extrados mais 10 dentes, como controle,

    endodonticamente tratados e imediatamente reimplantados. Os resultados comprovaram

    que at 1 ano de acompanhamento, obteve-se 100% de sucesso nos dentes mant idos a

    +4C, enquanto que somente 50% para aqueles armazenados a 10C. Nos perodos de

    1, 3, 7, 14 e 21 dias aps o reimplante, no houveram diferenas histolgicas

    significativas quando comparados o grupo controle com os grupos armazenados em

    10C e +4C; enquanto que quando analisados aps 1, 2, 3, 6 e 12 meses, observaram

    diferenas significativas em termos de reinsero, reabsoro radicular e anquilose. Os

    autores concordam que estes resultados encorajam a dar continuidade s pesquisas, no

    sentido de refinar uma metodologia que permita um armazenamento seguro para dentes

    a serem reimplantados e/ou transplantados.

  • 47

    A manuteno em meio de cultura do dente avulsionado foi recomendada por

    Andreasen et al. (1978). Nesse experimento, em macacos, os autores utilizaram o meio

    de Eagle por perodos de 5, 7, e 14 dias antes da realizao do reimplante, objetivando

    melhorar o prognstico dos casos. Teoricamente, esta tcnica permitiria que clulas

    sobrevivam para proliferar e cobrir superfcies radiculares sem membrana periodontal,

    e/ou com periodonto necrtico. Os perodos de manuteno extra-alveolares, antes da

    colocao em meio de cultura, foram divididos em dois grupos: imediatamente e 60

    minutos aps a exodontia. Aps 8 semanas os animais foram sacrificados e as amostras

    preparadas para avaliao histolgica. Os resultados demonstraram que os dentes que

    foram mantidos no meio de Eagle, imediatamente aps a exodontia, por 5 ou 7 dias

    mostraram reparo do ligamento periodontal sem reabsoro inflamatria ou por

    substituio. O grupo controle desenvolveu extensa reabsoro inflamatria no mesmo

    perodo. No grupo que permaneceu 60 minutos em meio seco previamente colocao

    no meio de cultura, os dentes demonstraram extensa anquilose e migrao do epitlio

    gengival, em direo apical; e nos casos em que foram mantidos s em meio seco aps a

    exodontia por 60 minutos, os pesquisadores observaram manuteno da reabsoro

    inflamatria de alta intensidade e grande extenso. Os grupos com 5 e 7 dias exibiram

    resultados ligeiramente melhores quando comparados ao grupo de 14 dias de incubao

    em meio de cultura.

    Castelli et al. (1980), investigaram o processo de revascularizao do

    ligamento periodontal aps reimplante dental em macacos. Aps a exodontia, os dentes

    foram mantidos em soluo salina por 20 minutos reimplantados e esplintados por 7

    dias, fixando o dente reimplantado com resina composta aos dentes vizinhos. Os

    animais foram sacrificados nos perodos de 4, 7, 15, 21 e 31 dias, e aps 3 meses. Os

    dentes foram seccionados no sentido longitudinal e cada metade recebeu procedimento

    tcnico diferenciado: uma foi diafanizada pelo mtodo Spalteholtz e a outra submetida a

    tratamento histolgico de rotina. Na observao dos resultados constatou-se que no

    incio do processo de reparo a vascularizao da membrana periodontal de dentes

    reimplantados foi arranjada de maneira irregular com vasos sangneos intermeados por

    clulas reparativas, e fibras colgenas fragmentadas. No 4 dia, os resultados

    demonstraram um padro mais regular de vascularizao e distribuio celular do

  • 48

    ligamento. Essa disposio vascular e celular se apresentou escassa ou inexistente no

    tero mdio em contraste com o tero apical e cervical onde se observou evidncia de

    vascularizao mantida. No 7 dia observou-se no tero mdio um aumento da

    densidade de vasos, associada a proliferao de fibroblastos e clulas endoteliais. Essa

    densidade ficava caracterizada por reas isoladas associadas regies onde houve

    reabsoro de cemento, no perodo de 15 dias. A principal caracterstica evidenciada aos

    21 dias foi a regenerao fibroblstica acrescida da presena de vasos de pequeno

    calibre existentes na regio apical que supriria tal atividade celular. No perodo de 1

    ms os autores se restringiram a estudar a vascularizao de um granuloma. Aos 3

    meses, constatou-se uma aparente regenerao do padro de vascularizao do

    ligamento.

    Andreasen (1981) salientou a importncia da manuteno da vitalidade do

    ligamento periodontal na tcnica do reimplante. Em seu experimento em macacos, a

    amostra constou de incisivos centrais superiores extrados, divididos em 4 grupos de

    acordo com o perodo de manuteno extra-alveolar de 18 min em soluo salina, e 120

    minutos em meio seco, ambos sem a tbua ssea vestibular; e os controles com os

    mesmos tempos extra-alveolares mas com a tbua ssea vestibular intacta. Os animais

    foram sacrificados em 8 semanas e os dentes reimplantados e analisados

    histometricamente. Os resultados demonstraram que nos casos onde o perodo extra-

    alveolar foi menor a tbua ssea vestibular apresentava-se praticamente restaurada,

    destacando a importncia que a manuteno da vitalidade do ligamento periodontal

    exerce na recuperao da reinsero. O autor afirma que a extenso da reabsoro

    radicular est mais relacionada ao perodo extra-alveolar que a presena ou ausncia de

    osso alveolar, e que um ligamento periodontal vital capaz de induzir a formao de

    osso alveolar.

    Houston et al. (1985), realizaram um experimento em macacos com o intuito

    de analisar o potencia l de regenerao do ligamento periodontal, usando um modelo que

    exclui o epitlio gengival do processo de cicatrizao em reimplantes. A amostra reuniu

    30 dentes distribudos em 3 grupos. Todos os dentes foram seccionados

    transversalmente na juno cemento/esmalte, e realizada endodontia. O primeiro grupo

  • 49

    foi reimplantado imediatamente. No segundo foi removido metade do osso alveolar

    vestibular antes do reimplante; e no terceiro grupo, a superfcie radicular vestibular foi

    raspada e alisada, alm da altura do osso alveolar, reduzida pela metade. O tempo de

    extra-bucal no excedeu 10 minutos. O perodo de observao foi de 6 meses quando os

    animais foram sacrificados e a amostra realizada foi submetida a processamento de

    rotina para avaliao histolgica. Os resultados demonstraram que no grupo 1, onde a

    vitalidade do ligamento foi mantida, houve uma completa reinsero. O mesmo se

    observou no grupo 2. No grupo 3 houve reinsero de tecido conjuntivo e reas de

    reabsoro. A regenerao ssea ocorreu em graus variveis nos grupos 2 e 3. Isto

    demonstra que uma reinsero de tecido conjuntivo pode formar-se sem que haja

    regenerao concomitante do osso alveolar. A partir desta observao, os autores

    sugerem que a regenerao do tecido sseo e do ligamento periodontal podem se

    constituir em eventos no relacionados entre si.

    As diferenas nas reaes teciduais no reimplante e alotransplante de germe

    dental, foram avaliadas. Foram realizadas exodontias em 6 macacos sob irrigao

    constante, evitando traumatizar o ge rme dental ainda no erupcionado. Os animais

    foram agrupados em pares e os alotransplantes e reimplantes realizados. Aps 4

    semanas e 4 meses, os animais foram sacrificados e os blocos preparados para avaliao

    histolgica. Os resultados demonstraram que aps os perodos experimentais, no s a

    manuteno da vitalidade pulpar e normalidade do ligamento periodontal foi alcanada,

    mas tambm a completa erupo, aps 4 meses, seguida da concluso do processo de

    rizognese nos casos de reimplante. Nos casos de alotransplantes, aps 4 semanas

    observou-se intensa reao inflamatria na polpa e ligamento periodontal, e necrose

    pulpar em todos os dentes da amostra. Nenhuma evidncia de reinsero foi detectada.

    Constatou-se ocorrncia de quadro de anquilose caracterizada por intensa atividade

    osteoblstica. Aps 4 meses a maioria dos germes dentais foram reabsorvidos e

    substitudos por osso irregular e fibras hialinizadas do tecido conjuntivo (ANNEROTH,

    1988).

    A extenso da reabsoro radicular externa foi avaliada por meio de

    microscopia de varredura, por Guinday, Sazak e Turkmen (1995). Foram usados 3

  • 50

    grupos: no primeiro os dentes foram reimplantados, com polpa intacta, aps serem

    mantidos por 5 minutos em soluo salina; no segundo e terceiro grupos, as razes

    foram previamente preenchidas com pasta contendo hidrxido de clcio, e mantidos em

    soluo salina por 30 e 120 minutos, respectivamente, antes de serem reimplantados.

    Noventa dias aps o reimplante, os resultados demonstraram que no grupo, mantido em

    soluo salina, e que foi realizada endodontia, no foi observada reabsoro da

    superfcie na regio apical; mas apenas localizada em reas isoladas, caracterizando as

    lacunas de Howship. No grupo sem tratamento endodntico prvio, observou-se

    reabsoro inflamatria avanada. Na superfcie apical, embora tenha sido mantido fora

    da cavidade bucal em soluo salina por apenas 5 minutos tambm foi observada severa

    eroso com extensa reabsoro em lacunas envolvendo cemento e dentina.

  • 51

    2.3 - USO DO LASER NOS TECIDOS PERIODONTAIS

    O objetivo da terapia periodontal promover o restabelecimento da insero do

    ligamento perdida por doena e muitas modalidades de tratamento tem sido sugeridas

    para alcanar este objetivo (ANDERSON; FRISKOPP; BLOMLF, 1983;

    BRAMANTE et al., 1986; JACOBSEN; MODER, 1992). Assim, Thomas et al.

    (1994), realizaram um estudo para avaliar os efeitos do laser de Nd:YAG isolado e

    combinado com outros tratamentos na reinsero in vitro de fibroblastos na superfcie

    radicular. A amostra consistiu de 28 segmentos de raiz de 4 X 4 mm e 4 segmentos

    radiculares em forma de disco de 6 mm de dimetro. Todo esse material foi obtido de

    terceiros molares inclusos. Os segmentos foram agrupados aleatoriamente para serem

    submetidos a 4 modalidades de tratamentos: controle, tratado apenas com laser,

    tratamento com laser seguido de alisamento radicular, tratamento com laser seguido de

    procedimento com spray de ar com p abrasivo. O protocolo de irradiao foi o

    seguinte: tempo de exposio de 1 min calibrado para liberar 17mJ com 20 pulsos/s, e

    uma fibra de 320mm, aplicado paralelamente superfcie radicular. O tempo de

    incubao foi de 8 hs. Para separar as clulas no aderidas superfcie as razes foram

    agitadas e ento adicionado fixador, e preparadas para avaliao em microscopia

    eletrnica de varredura. Os resultados indicaram que o laser de Nd:YAG induz uma

    incompatibilidade para a reinsero tendo em vista que o nmero de clulas aderidas foi

    muito menor quando comparado aos demais grupos. Foram observadas nos segmentos

    de raiz diversas alteraes na superfcie radicular que incluiam formao de crateras,

    derretimento de cemento com exposio de tbulos dentinrios, e carbonizao. Nos

    grupos onde a aplicao de laser foi seguida de alisamento ou terapia com ar e p

    abrasivo, houve aumento da adeso superfcie radicular, sugerindo que a ao do laser

    poderia ser reversvel e provavelmente de superfcie, e portanto a combinao destes

    procedimentos seria importante para garantir a biocompatibilidade da superfcie

    radicular.

    Gopin et al. (1997), avaliaram in vivo a reinsero periodontal aps irradiao

    com laser de CO2. Este estudo foi realizado em dois ces. A amostra consistiu-se de

    doze dentes, distribudos em quadrantes. Cada quadrante recebeu um tratamento

  • 52

    diferente: grupo 1 foi tratado com raspagem e alisamento radicular convencional; grupo

    2 apenas laser ; grupo 3, laser seguido de raspagem e alisamento; e o grupo 4 serviu

    como controle. Uma Classe V com cimento de xido de zinco e eugenol foi realizada

    como referncia para as medies clnicas e estudo histolgico, antes e depois da

    cirurgia. Por meio de um retalho total, as razes foram expostas para o procedimento de

    osteotomia de 3 a 4 mm na superfcie vestibular e irradiao com laser de CO2 calibrado

    para uma densidade de energia de 240 J/cm2. A aplicao segue at que visualmente a

    superfcie radicular se mostre alterada, irregular e de aspecto chamuscado. Seguindo o

    protocolo, os retalhos so reposicionados e suturados. Aps 28 dias os animais fo ram

    sacrificados e as amostras preparadas para posterior avaliao histolgica. Os resultados

    indicaram que os casos tratados somente com laser apresentaram perda de reinsero

    quando comparados aos demais grupos. Os autores mencionam que a camada residual

    chamuscada pode ser o mediador da incompatibilidade para o reparo do ligamento

    periodontal.

    Centty et al. (1997), compararam a eficcia da cirurgia periodontal

    convencional com a cirurgia periodontal convencional combinada com o laser de CO2,

    avaliando a eficincia na remoo do epitlio e grau de necrose, objetivando constatar

    migrao apical do epitlio aps cirurgia periodontal A amostra constou de 5 pacientes

    com diagnstico bem estabelecido de doena periodontal e necessidade de

    procedimento cirrgico para eliminao de bolsa periodontal. Previamente cirurgia fo