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    Academia de Princesas Shannon Hale

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    Em um povoado distante, a vida do interior segue tranquila, at que um anncio chega para

    modificar a vida de todos: o prncipe est buscando uma moa para ser sua noiva, e todas as

    meninas do reino devero ser levadas para uma academia de princesas, de modo a aprenderos modos da corte. Entre elas, h uma que no desea este futuro, mas infeli!mente, o

    deseo real uma ordem.

    "est seller do #e$ %or& 'imes e da (ublishers )ee&l*.

    +encedor da #e$ber* onor de -/, um dos mais importantes pr0mios de literatura dos

    Estados 1nidos.

    ___

    Para bons amigos

    Em especial para Rosi, uma verdadeira garota da montanha

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    2aptulo 1m

    Ao leste desponta o solE em minha boca um bocejoA cama me agarra e implora para eu ficar hora de ir trabalharO inverno longo e no tardaEu me visto e saio a cantar

    3iri acordou com o balido sonolento de uma cabra. e to escuro !ue estava l" fora, eracomo se os olhos ainda permanecessem fechados, mas talve# as cabras j" percebessem oaroma da manh entrando pelas frestas entre as pedras nas paredes da casa. $eio acordada,meio dormindo, sentia a friagem do outono enregelando%lhe as cobertas e teve vontade de seaconchegar ainda mais para dormir como um urso de dia ou de noite sob frio intenso.e repente, lembrou%se dos mercadores, chutou para longe as cobertas e sentou%se na cama.&eu pai acreditava !ue a!uele era o dia em !ue as carro'as passariam pela !uebrada damontanha e chegariam ( aldeia. )essa poca do ano, os alde*es se empertigavam para as+ltimas permutas da temporada, apressando%se em dar acabamento a mais alguns blocos decantaria, !ue seriam trocados por igual !uantidade de alimento para os meses em !ue a neveno os deiaria trabalhar. $iri !ueria ajudar.-uidando para evitar o barulho do colcho de palha, $iri se levantou e passou delicadamentepor cima do pai e da irm mais velha, $arda, adormecidos em suas esteiras. assara a semanainteira ansiosa, !ueria j" estar na pedreira trabalhando !uando o pai l" chegasse. /alve# assimele no a mandasse embora.0estiu as ceroulas de l por cima do pijama, mas ainda no tinha amarrado a primeira bota!uando o farfalhar da palha revelou !ue algum havia acordado.

    apai agitou as brasas e acrescentou um pouco mais de esterco de cabra. A lu# alaranjada seintensificou, projetando uma imensa sombra dele contra a parede.1 2" amanheceu3 1 $arda se apoiou num dos cotovelos e esticou os olhos na dire'o dalareira.1 &4 para mim 1 disse o pai.Ele olhou para $iri ali no canto, parada como uma est"tua, com um p de bota cal'ado e oscadar'os nas mos.1 )o 1 foi tudo o !ue ele disse.1 apai. 1 $iri cal'ou o outro p e foi at ele, arrastando os cadar'os pelo cho de terrabatida. $anteve o tom de vo# natural, como se o pensamento tivesse acabado de surgir. 1Achei !ue seria bom eu ajudar um pouco por causa dos acidentes e do mau tempo, s4 at os

    mercadores chegarem.O pai no tornou a di#er no, mas ela percebeu pela concentra'o ao cal'ar as botas !ue eleno mudara de ideia. 5" fora, escutara%se uma das cantigas !ue os trabalhadores costumavamentoar a caminho da pedreira. hora de ir trabalhar, o inverno longo e no tarda, eu mevisto e saio a cantar.O som da cantiga cada ve# mais pr4imo, acompanhado de um chamadoinsistente, vamos logo, vamos logo, antes !ue eles passem, antes !ue a neve do inverno cubratoda a montanha. A cantoria fe# $iri sentir como se seu cora'o estivesse espremido entreduas pedras. 6m convite ( unio, mas ela no estava inclu7da.Encabulada por ter mostrado vontade de ir, $iri deu de ombros e disse81 Ora, bolas9 1 egou a +ltima cebola de uma tigela, cortou uma fatia de !ueijo de cabracurtido e entregou o alimento para o pai !uando ele abriu a porta.

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    1 Obrigado, minha flor. &e os mercadores vierem hoje, !uero ficar orgulhoso de voc:. 1 euum beijo no alto da cabe'a da filha e logo engrenou na cantoria dos demais, antes mesmo dealcan'"%los.$iri sentiu a garganta arder. ;ria dei"%lo orgulhoso, sim.$arda a ajudou com os afa#eres de casa, juntando as cin#as e varrendo a lareira, colocando oesterco das cabras para secar ao sol e mais "gua na carne para o jantar. En!uanto a irmcantarolava, $iri tagarelava sobre !ual!uer assunto, sem, no entanto, mencionar a recusa dopai em dei"%la trabalhar. $as o pesar lhe ca7a sobre o semblante !ual roupa molhada sobre ocorpo, e sua vontade era de rir o mais !ue pudesse at conseguir se livrar da!uilo.1 &emana passada, fui ( casa da

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    mesmo.uando tinha B anos, as outras crian'as da sua idade j" come'avam a trabalhar na pedreira8carregando "gua, buscando ferramentas e eecutando outras tarefas b"sicas. 6m dia foiperguntar ao pai por !ue no podia. Ele a abra'ou, beijou%a na testa e a embalou com tantocarinho !ue $iri teve a sensa'o de !ue bastaria ele pedir para !ue ela sa7sse pulando de umamontanha ( outra. Ento ele falou, em sua vo# baia e tran!uila81 )unca vai precisar p=r os ps na pedreira, minha flor. Ela no tornou a perguntar a ele por!u:. $iri sempre foipe!uenina, desde !ue nasceu, e aos CD anos era menor !ue meninas muito mais novas. i#ia%se pela aldeia !ue algo considerado in+til era ?mais fraco !ue o bra'o de um homem daplan7cie?. uando ouvia esse ditado, $iri tinha vontade de cavar um buraco na rocha e seesconder l" nas profunde#as.1 ;n+til9 1 di#ia, rindo. Ainda sentia m"goa, mas preferia fingir, at para si mesma, !ue noligava.$iri subiu a rampa atr"s da casa tangendo as cabras at onde se encontravam os +ltimostrechos de pasto. )o inverno, elas arrancavam os tufos de capim pela rai#. )a aldeia, todoverde desaparecia. Os fragmentos da cantaria se acumulavam tanto !ue $iri no conseguiaescavar o suficiente e as encostas beirando as trilhas da aldeia ficavam cobertas de cascalho.Ela ouvia os mercadores da plan7cie reclamando, mas estava acostumada a andar o tempotodo pisando em cima das lascas de pedra, assim como ( poeira no ar e ao som dasmarretadas !ue marcavam a pulsa'o da montanha.-antaria. A +nica lavra da montanha, o +nico meio de sustento de sua aldeia. Ao longo dossculos, sempre !ue se esgotava uma ja#ida, os alde*es abriam uma nova, mudando a aldeiado $onte Es@el para a pedreira antiga. -ada escava'o produ#ia pe!uenas varia'*es de brilhoe brancura. 2" haviam etra7do pedra mos!ueada por suaves tons de rosa, a#ul, verde e, agora,prateado.

    $iri amarrou as cabras a um arbusto retorcido, sentou%se no cho de relva e arrancou uma dasmin+sculas flore#inhas cor%de%rosa !ue cresciam nas frestas do rochedo. 6ma flor de miri.O veio !ue estava sendo agora eplorado fora descoberto no dia em !ue $iri nasceu e o pai!uis dar a ela o nome da pedra.1 Este filo o mais lindo !ue j" surgiu 1 disse ele ( me dela 1, branco puro com raiasprateadas.$as, na hist4ria !ue ela tantas ve#es j" arrancara do pai, sua me se recusava8 ?)o !uerofilha com nome de pedra?, di#ia, preferindo dar a ela o nome da flor !ue con!uistava osrochedos e despontava para o sol.O pai di#ia !ue, apesar da dor e da fra!ue#a ap4s o parto, a me no largava o min+sculobeb:. 6ma semana depois, ela morreu. Embora no se recordasse de nada alm do !ue criara

    na pr4pria imagina'o, $iri considerava a!uela semana nos bra'os da me a coisa maispreciosa !ue j" tivera e acolhia esse pensamento bem no fundo do cora'o.irou a flor#inha entre os dedos, fa#endo soltarem%se as fin7ssimas ptalas, !ue foram levadaspela brisa. i#ia a sabedoria popular !ue ela poderia fa#er um desejo caso todas ca7ssem emum +nico giro.ue desejo poderia fa#er3Olhou para o leste, onde as encostas e os plat=s amarelo%esverdeados do $onte Es@el seerguiam at o pico a#ul%acin#entado. Ao norte, descortinava%se uma cadeia de montanhas emtons !ue se esvaneciam do roo para o a#ul e deiavam%na perder%se de vista no cin#a.Apesar do amplo hori#onte, ela no energava nada ao sul, onde, em algum ponto, seriaposs7vel encontrar o mar, misterioso. A oeste, ficava a estrada dos mercadores !ue ia dar no

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    desfiladeiro, levando ( plan7cie e ao restante do reino. Ela no conseguia imaginar como seriaa vida l" embaio, assim como no conseguia visuali#ar um oceano.5" embaio, a pedreira parecia um alvoro'o de formas retangulares incertas, blocossemiepostos, homens e mulheres trabalhando com cunhas e marretas para soltar pedras damontanha, alavancas para soergu:%las e talhadeiras para aparelh"%las. $esmo l" do alto dacolina em !ue se encontrava, $iri podia ouvir a cantoria !ue dava ritmo aos trabalhos, comtodos os sons se sobrepondo uns aos outros e as vibra'*es se propagando at onde ela sehavia sentado.0ieram%lhe ( mente um inc=modo e a imagem de oter, uma das oper"rias, com o comandoabafado !ue moderou a batida. O jeito de falar na pedreira. $iri se inclinou para a frente,!uerendo ouvir mais.Os oper"rios falavam assim sem emitir vo# alta para poderem ser ouvidos apesar dosprotetores de argila !ue usavam nos ouvidos e do estrondo ensurdecedor das marretadas. Avo# emitida da!uele jeito s4 funcionava mesmo na pedreira, mas $iri conseguia perceber oeco !uando se sentava ali pelas redonde#as. )o compreendia o funcionamento com eatido,mas j" ouvira um oper"rio di#er !ue todas as marretadas e a cantoria impregnavam amontanha de ritmo. Assim era !ue, !uando precisavam falar uns com os outros, a montanhausava o ritmo para transportar a mensagem por eles. E agora oter deveria estar avisandopara um colega bater mais de leve na cunha.$iri achava !ue seria uma maravilha cantar em conjunto com os demais e chamar, ao jeito dapedreira, um colega trabalhando noutro veio. -ompartilhar o trabalho.O caule da miri come'ou a amolecer entre seus dedos. ue desejo faria3 &er alta como uma"rvore3 /er bra'os iguais aos do pai3 -onseguir escutar a rocha pronta para ser etra7da e tir"%la da montanha3 $as desejar coisas imposs7veis parecia ser um insulto para a flor de miri e umdesrespeito ao deus !ue a fi#era. Ela se entretinha com desejos imposs7veis 1 a me vivanovamente, botinas !ue no se rasgassem com as lascas de pedra, mel em ve# de neve. ara

    poder ser, de alguma forma, to +til para a aldeia !uanto seu pai.icou curiosa para saber se ele tambm a percebera.esviou o olhar da flor de miri despetalada para a cabeleira alourada de eder e sentiu umdesejo do !ual teve receio de falar.1 Eu !ueria... 1 sussurrou. Ela iria mesmo ter coragem31 ueria !ue eder e eu...6m to!ue de cometa ecoou to subitamente entre os penhascos !ue $iri chegou a deiar cairo caule da flor. )o havia cometa na aldeia, de modo !ue s4 poderia ser gente da plan7cie. Eladetestava responder ao chamado deles como um animal a um apito, mas a curiosidadesobrepujou o orgulho. Agarrou os cabrestos e tocou os bichos ladeira abaio.1 $iri9 1 eder veio correndo para perto dela, puando suas cabras a rebo!ue. $iri ficoutorcendo para !ue seu rosto no estivesse sujo de terra.

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    1 Ol", eder9 or !ue voc: no est" na pedreira3 1 Em !uase todas as fam7lias, cuidar dascabras e dos coelhos era atividade reservada apenas (!ueles jovens ou velhos demais paratrabalhar na pedreira.1 $inha irm !ueria aprender a trabalhar com as cunhas e minha av4 estava com dor nosossos, ento minha me me pediu para tanger as cabras hoje. 0oc: sabe por !ue o to!ue decometa31 $ercadores, acho eu. $as para !ue tanta fanfarra31 0oc: sabe como o povo da plan7cie 1 disse eder. 1 Eles se acham muito importantes.1 /alve# um deles tenha g"s e todos saiam tocando as trombetas para !ue o mundo inteirosaiba da novidade.Ele abriu um sorriso bem ( sua maneira, com a boca mais puada para a direita !ue para aes!uerda. As cabras soltavam balidos como crian'as brigando entre si.1 mesmo3 1 $iri perguntou para a l7der do rebanho, como se entendesse a conversa delas.1 O !ue foi3 1 disse eder.1 A!uela#inha ali disse !ue o riacho est" to frio !ue d" para secar o leite.eder riu, deiando%a com vontade de di#er mais alguma coisa, cheia de esperte#a eesplendor, mas o desejo impediu os pensamentos, de modo !ue ela tratou de calar a bocaantes de di#er uma besteira.Os dois pararam na casa dela para prender as cabras. eder tentou ajudar recolhendo asamarras, mas os bichos come'aram a se empurrar uns aos outros e foi ele !uem acabou comos torno#elos presos num emaranhado de cordas.1 Ei, parem com isso9 1 disse, acabando por se dese!uilibrar e cair no cho.$iri se aproimou correndo para ajudar e tambm se estatelou ao lado dele, (s gargalhadas.1 Estamos fritos como as costeletas delas numa frigideira. )o h" o !ue nos salve agora9uando, por fim, se desvencilharam das cordas e tornaram a se levantar, $iri teve um impulsode se aproimar dele e dar%lhe um beijo no rosto. -hocou%se com o 7mpeto e ficou ali parada,

    muda e encabulada.1 ue confuso9 1 ele eclamou.1 ois . 1 $iri baiou o rosto, batendo das roupas a terra e o cascalho. Achou melhor fa#erlogo uma piadinha para o caso de ele ter lido seus pensamentos. 1 &e h" uma coisa em !uevoc: bom, eder oterson, em arranjar confuso.1 o !ue minha me sempre di#, e todo mundo sabe !ue ela nunca est" errada.$iri se deu conta de !ue a pedreira estava em sil:ncio e o +nico barulho !ue escutava era o dopr4prio cora'o batendo em seus ouvidos. >icou torcendo para !ue eder no conseguisseouvir. As trombetas soaram novamente, alertando%os, fa#endo%os correr.As carro'as dos mercadores estavam enfileiradas no centro da aldeia, aguardando o in7cio dastrocas, mas todos os olhos se voltavam para uma carruagem pintada de a#ul !ue surgia entre

    as demais. $iri j" ouvira falar de carruagens, mas nunca tinha visto uma. everia ser algumimportante !ue chegava com os mercadores.1 eder, vamos olhar l" de... 1 $iri come'ou a di#er, mas nesse eato momento

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    pedreira at encontrar $arda, sem olhar para tr"s.1 uem voc: acha !ue 3 1 perguntou $arda, aproimando%se de $iri assim !ue elachegou. $esmo no meio de um grupo grande, $arda ficava ansiosa por estar so#inha.1 )o sei 1 disse Esa 1, mas minha me disse !ue !ual!uer surpresa do pessoal da plan7cie como uma serpente dentro de uma caia.Esa era mi+da, embora no fosse to pe!uena !uanto $iri, e tinha o cabelo do mesmo tomcastanho%claro !ue o irmo eder. Ela observava a carruagem, com o olhar intrigado. $ardaassentiu. oter, me de Esa e eder, era conhecida pelos ditados s"bios !ue costumavaproferir.1 6ma surpresa 1 disse >rid. &eu cabelo negro ca7a pelos ombros e ela tra#ia no rosto umaepresso !uase sempre maravilhada. Embora tivesse apenas CH anos, os ombros eram !uaseto largos e os bra'os !uase to grossos !uanto os de !ual!uer de seus seis irmosgrandalh*es. 1 uem poderia ser3 Algum mercador rico36m dos mercadores virou%se para elas com um olhar condescendente.1 Est" claro !ue um mensageiro do rei.1 o rei3 1 $iri ficou embasbacada como uma das deselegantes meninas das montanhas,mas no conseguiu evitar. At a!uele momento de sua vida, nenhum emiss"rio do rei viera (smontanhas.1 /alve# tenham vindo declarar o $onte Es@el a nova capital de anland 1 disse ummercador.1 O pal"cio real vai se encaiar direitinho na pedreira1 disse um segundo mercador.1 mesmo3 1 >rid perguntou, e os dois mercadores tentaram conter o sorriso. $iri lan'ou aeles um olhar fero#, mas no disse nada, com receio de tambm parecer ignorante.$ais um to!ue de trombeta. 6m homem de roupas vistosas subiu ao banco do cocheiro egritou em vo# alta e estridente8 1 -onvoco seus ouvidos a darem aten'o ao mandat"rio%mor

    de anland.6m homem delicado de barba afiada e curta surgiu de dentro da carruagem, ofuscado pela lu#do sol !ue se refletia nas paredes esbran!ui'adas da pedreira. Ao tentar energar a multido,foi apertando os olhos at fran#ir totalmente a testa.1 5ordes e damas de... 1 Ele parou e riu, rego#ijando%se com alguma piada particular. 1 ovodo $onte Es@el. -omo seu territ4rio no tem representante na corte para se reportar a voc:s,&ua $ajestade, o rei, me enviou para lhes dar esta not7cia.1 6ma suave lufada de vento envergou a comprida pena amarela no chapu do homem sobreseu rosto. Ele a afastou para o lado da testa. Alguns dos rapa#es da aldeia soltaram risadas.1 )o vero passado, os padres do deus criador formaram um conclave sobre o anivers"rio dopr7ncipe. 5eram os aug+rios e divisaram o lar de sua futura noiva. /odos os sinais indicaram o

    $onte [email protected] mandat"rio%mor fe# uma pausa, aparentemente ( espera de alguma resposta, mas $iri nofe# ideia do !ue seria. 6ma torcida3 0aias3 Ele soltou um suspiro e sua vo# soou ainda maisalta.1 0oc:s vivem to afastados !ue no conhecem se!uer os costumes de seu pr4prio povo3$iri sentiu vontade de poder gritar a resposta certa, mas, a eemplo de seus vi#inhos,permaneceu calada. Alguns mercadores soltaram risadinhas.1 2" costume do povo de anland 1 disse o mandat"rio, afastando novamente a pena !ueo vento cismava em soprar para cima de seu rosto. 1 Ap4s alguns dias de jejum e s+plicas, ospadres reali#am um rito para adivinhar de !ual cidade ou aldeia vir" a futura princesa. Emseguida, o pr7ncipe conhece todas as nobres filhas desse lugar e escolhe a noiva. odem estar

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    certos de !ue o pronunciamento do $onte Es@el deiou chocada muita gente de anland, mas!uem somos n4s para discutir com os padres do deus criador3elo apuro no tom da vo# do mandat"rio, $iri sup=s !ue ele de fato teria tentado argumentarcom os padres do deus criador, sem nada conseguir.1 -onforme re#a a tradi'o, o rei mandou criar uma academia para o preparo das jovens comesse potencial. Embora a lei mande formar essa academia na escola escolhida, esta aldeia 1ele apertou os olhos e olhou ( volta 1 de fato no tem edifica'*es de porte apropriado paratal empreitada. adas as circunstGncias, os padres acharam por bem !ue a academia sejainstalada na velha casa de pedra do pastor perto da !uebrada da montanha. Agora mesmo, oscriados do rei esto preparando a casa. 1 O vento soprou a pena para cima de seu rosto. Ele aafastou como !uem afasta uma abelha impertinente.1 oravante, todas as mo'as da aldeia, dos CI aos CJ anos, devero se preparar na academiapara o encontro com o pr7ncipe. a!ui a um ano, o pr7ncipe subir" a montanha para vir aobaile da academia. Ele pr4prio escolher" sua noiva dentre as fre!uentadoras. ois ento,preparem%se.6ma lufada de vento jogou a pena em seu olho. Ele a arrancou do chapu e a jogou no cho,mas o vento arrebatou%a de sua mo e arremessou%a encosta abaio, levando%a para longe daaldeia. O mandat"rio%mor j" estava de volta em sua carruagem antes !ue ela sumisse de vista.1 &erpente numa caia 1 disse $iri.

    Captulo Dois

    gua na papaE mais sal no mingauNo enche a barrigaNem d para o gasto

    4+amos fa#er o !ue temos de fa#er 1 disse um dos mercadores. &ua vo# foi um convite para!ue se rompesse o sil:ncio. )em mesmo uma not7cia estranha assim conseguiria retardar osneg4cios mais importantes do ano.1 Enri@9 1 $iri foi correndo at o mercador, com !uem vinha negociando nos +ltimos doisanos. Ele era magro e p"lido, de nari# afilado, e seu jeito de esticar os olhos para ela dava%lhe aimpresso de um passarinho h" muito sem comer.Enri@ direcionou sua carro'a para a pilha de pedras acabadas !ue representavam o !uinho detrabalho da fam7lia dela nos +ltimos tr:s meses. $iri destacou o tamanho incomum de um dosblocos e a !ualidade dos veios prateados noutros, o tempo todo de olho no conte+do dacarro'a do homem, calculando a !uantidade de alimentos !ue sua fam7lia iria precisar para

    passar o inverno.1 Essas pedras valem bem o esfor'o de carreg"%las 1 disse $iri, esfor'ando%se ao m"imopara imitar o tom de vo# c"lido e firme de oter. )ingum discutia com a me de Esa e eder.1 $as, para ser gentil, trocarei nossas pedras por tudo em sua carro'a, eceto um barril detrigo, uma saca de lentilhas e um engradado de peie salgado, contanto !ue voc: inclua a!uelepote de mel.Enri@ soltou um estalido com a l7ngua. 1 $iri#inha, uma sorte para sua aldeia os mercadoresvirem to longe atr"s de pedras. ou%lhe metade do !ue voc: est" pedindo.1 $etade3 Est" brincando.1 : uma espiada por a7 1 ele disse. 1 0oc: no percebeu !ue h" menos carro'as este ano3)ossos mercadores levaram mantimentos para a academia, e no para sua aldeia. Alm disso,

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    seu pai no vai precisar de tanto com voc: e sua irm fora de casa.$iri cru#ou os bra'os.1 Esse neg4cio de academia apenas um tru!ue para nos enganar, no 3 &4 pode serfingimento, por!ue nunca algum da plan7cie levaria uma menina de $onte Es@el para areale#a.1 epois da not7cia da academia, nenhuma fam7lia com poss7veis candidatas vai ter chanceigual na vida, de modo !ue melhor aceitarem minha oferta antes !ue eu me v".6m burburinho de frustra'*es ecoou por todo o centro da aldeia. A me de eder ficou com orosto vermelho e se p=s aos berros, e a me de >rid estava prestes a bater em algum.1 $as eu... eu !ueria... 1 Ela j" estava prevendo chegar em casa triunfante com suprimentossuficientes para alimentar duas fam7lias.1 $as eu !ueria... 1 Enri@ a imitou com a vo# esgani'ada. 1 Ora, no precisa ficar com o!ueio tremendo. 0ou lhe dar o mel, mas s4 por!ue um dia voc: pode ser minha rainha.iante disso, ele soltou uma risada. -ontanto !ue conseguisse levar algum mel para casa, $irino se importava !ue ele risse. )o muito, na verdade.Enri@ a acompanhou at a casa dela e, pelo menos, ajudou a descarregar os mantimentos.Assim ela teve uma chance de se divertir um pouco ao v:%lo andar cambaleante, trope'andopelo cho pedregoso.A casa havia sido constru7da de cascalho, lascas de pedra cin#enta !ue os oper"rios tiravam daterra para descobrir a!uela !ue dava boa cantaria. Os fundos davam para a parede lisa de umfilo abandonado, !ue, na infGncia de seu pai, oferecera matria%prima com delicados veiosa#ulados. Era cercada de montes de pedra boa e de cascalho, em pilhas !ue chegavam at oparapeito das janelas.$iri passou a tarde em casa, ocupando%se com a tarefa de separar e guardar os mantimentos eencabulando%se ao pensar !ue no bastariam para os tr:s passarem o inverno. oderiamcomer muitos dos coelhos e talve# matar uma cabra, mas um preju7#o desses os deiaria mais

    apertados no pr4imo inverno, e ainda no seguinte. Povo trapaceiro esse da plancie.uando os raios do sol !ue atravessavam as persianas j" perdiam o brilho, ficando alaranjados,o barulho das marretadas come'ou a diminuir. uando o pai e $arda abriram a porta, j" eranoite. $iri havia preparado carne de porco, aveia e ensopado de cebola, com repolho frescopara comemorar os neg4cios do dia.1

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    $esmo assim, sentiu dificuldade em terminar o jantar. $urmurou em seu 7ntimo uma cantigasobre o porvir.

    Captulo Trs

    ! porvir um rubor no poente a mata escura no meio da noiteProclama a verdade do agora, "No anelo sombrio da lu# da manh.

    5ntes do alvorecer, $iri acordou ao som das trombetas. O mesmo som curioso durante o dia,c=mico at, era agora perturbador. Antes !ue ela se levantasse, seu pai surgiu ( porta, e o !ueele viu o deiou apreensivo.O primeiro pensamento de $iri foi o de !ue seriam bandidos, mas por !ue atacariam o $onteEs@el3 /odos os alde*es conheciam a hist4ria do +ltimo ata!ue bandoleiro, antes de seunascimento, !uando os eauridos salteadores finalmente chegaram ao topo da montanha,deparando%se com muito pouco !ue valesse a pena roubar e apenas uma horda de homens emulheres fortalecidos por anos de labuta na pedreira. Acabaram saindo de mos va#ias,levando somente algumas feridas, e jamais retornaram.1 O !ue isso, papai3 1 $iri perguntou.1 &oldados.$iri parou atr"s dele e espiou por baio do bra'o !ue ele mantinha erguido. Energouparelhas de soldados empunhando tochas por toda a aldeia. ois deles vieram ter ( sua portae seus rostos foram iluminados pelos archotes. 6m era mais velho !ue seu pai, de tra'osrudes, e o outro parecia pouco mais !ue um menino vestido a rigor.1 0iemos recolher suas meninas 1 disse o soldado mais idoso. -hecou a informa'o numa

    fina prancheta de madeira !ueimada com algumas marcas !ue $iri no compreendia o !ueeram. 1 $arda e $iri.$arda j" se aproimara, parando do outro lado do pai. Ele colocou os bra'os sobre os ombrosdas duas.O soldado fitou $iri curiosamente durante alguns instantes.1 uantos anos voc: tem, menina31 uator#e 1 disse ela, com o olhar penetrante.1 /em certe#a3 arece !ue tem...1 /enho CD anos.O soldado mais jovem lan'ou um olhar pretensioso para o companheiro.1 eve ser o ar rarefeito da montanha.

    1 E voc:3 1 O soldado mais velho desviou o olhar de d+vida para $arda.1 >a'o CB no terceiro m:s.Ele apertou os l"bios um contra o outro.1 or pouco, ento. O pr7ncipe fa# CB no !uinto m:s deste ano e no sero permitidasmeninas mais velhas !ue ele. 5evaremos somente a $iri.Os soldados se alvoro'aram, os ps farfalhando sobre o cascalho do cho. $iri buscou o olhardo pai.1 )o 1 disse o pai, afinal.O mais jovem bufou e ento olhou para o companheiro.1 Achei !ue voc: estivesse brincando !uando disse !ue poderia haver resist:ncia. Ele di#?no? como se tivesse alguma escolha. 1 ;nclinou%se para a frente e soltou uma risada.

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    $iri tambm soltou uma risada alta na cara do soldado mais mo'o, !ue, surpreso, voltou aosil:ncio. )o toleraria !ue algum da plan7cie fi#esse pouco%caso de seu pai.1 ue piada, um garoto se fingir de soldado 1 $iri falou. 1 Ora se no cedo demais paravoc: se afastar de sua me91 /enho CJ anos e... 1 disse fitando%a com firme#a.1 /em mesmo3 O ar sufocante da plan7cie consegue tolher um monte de coisas, no verdade3O soldado mais mo'o se inclinou como se fosse agredir $iri, mas o pai dela se interp=s e omais idoso o empurrou para tr"s, cochichando%lhe algo com rispide# ao ouvido. $iri serego#ijou em devolver o insulto, mas em seguida sentiu frio e cansa'o. Aproimou%se aindamais do pai e torceu para conseguir conter o choro.1 &enhor 1 disse o mais velho de maneira cort:s 1, estamos a!ui para escoltar as meninasem seguran'a at a academia. &o ordens do rei. )o !ueremos fa#er mal algum, mas tenhoinstru'*es para levar os !ue resistirem direto ( capital.$iri lan'ou%lhe um olhar profundo, desejando !ue ele retirasse o !ue dissera.1 ai, no !uero !ue voc: seja preso 1 sussurrou.1 5aren9 1 gritou um dos alde*es, O#, para o pai das meninas. 1 0enha, vamos nos reunir.Os soldados os seguiram at o centro da aldeia. En!uanto adultos e soldados discutiam, $iri e$arda foram se juntar a outras meninas e meninos para ficar observando, ( espera de umadeciso. Os adultos argumentavam com os soldados, !ue, por sua ve#, tentavam acalmar atodos e assegurar !ue as meninas estariam seguras, bem cuidadas e a menos de tr:s horas ap.1 $as como vamos dar conta do trabalho na pedreira sem as meninas3 1 perguntou a mede >rid. claro !ue ningum perguntou8 ?-omo vamos dar conta sem a $iri3? Ela cru#ou os bracinhosdelgados e desviou o olhar para longe.

    Eles argumentaram sobre a necessidade das meninas ali, sobre os suprimentos mais parcosna!uele inverno, sobre a amea'a de priso e sobre o futuro incerto !ue elas teriam naacademia. Os soldados continuaram respondendo (s perguntas e alegando !ue fre!uentar aacademia era uma honra, no um castigo. $iri viu !uando O# fe# uma pergunta a seu pai, !ue,depois de alguns momentos pensativo, concordou meneando a cabe'a. $iri se arrepiou toda.1 $eninas, venham c" 1 O# gritou para elas.As meninas se afastaram dos meninos e foram at onde os adultos se reuniam. $iri percebeu!ue $arda ficou para tr"s.1 $eninas9 1 O# olhou para todas elas e esfregou a barba com o dorso da mo. Embora fosseum homem grande, not4rio por seu temperamento, havia carinho em seu olhar. 1 /odosconcordamos !ue o melhor para voc:s ser" fre!uentar a academia l" na plan7cie. 1 &uspiros e

    gemidos se espalharam pela multido. 1 Ora, no se preocupem. Acredito no !ue di#em essessoldados, ser" bom para voc:s. ueremos !ue se apli!uem nos estudos e sejam respeitosassempre !ue for preciso. 0o pegar suas coisas e no demorem. $ostrem a esse povo daplan7cie a for'a do $onte [email protected] 0oc: vai3 1 perguntou eder, !ue de repente estava a seu lado.1 Acho !ue sim. )o sei. 1 Ela balan'ou a cabe'a, tentando colocar os pensamentos nolugar. 1 E voc:3 Ora, claro !ue no8 voc: menino. uis perguntar8 gostaria !ue eu nofosse3 Ah, es!uece.O rosto dele se contorceu e surgiu ali um sorriso malicioso.1 0oc: !uer !ue eu diga !ue vou sentir saudade.1 Eu vou sentir. Eiste alguma pessoa !ue consiga estar sempre arranjando confuso3

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    Ao se afastar, $iri sentiu vontade de poder desfa#er suas palavras para di#er algo gentil, algosincero. 2" se virara para voltar !uando viu !ue ele estava conversando com rid, e $iri correu um pouco para alcan'"%las. Embora no conseguisse usaro bra'o es!uerdo desde um acidente na infGncia, Esa ainda trabalhava na pedreira !uando anecessidade era grande, en!uanto >rid reali#ava at as tarefas mais dif7ceis. $iri as achavamaravilhosas. &e a achavam um fardo para o restante da aldeia, conforme seus temores mais

    costumeiros, jamais deiaria notarem !ue se importava com isso.Apesar de suas incerte#as, $iri pegou a mo de Esa. As meninas da aldeia sempre davam asmos en!uanto caminhavam. oter, me de Esa, uma ve# disse tratar%se de um costumeantigo cujo prop4sito era evitar !ue ca7ssem nos despenhadeiros, embora $iri sentisse aseguran'a das cabras saltitando a s4s pelos arrabaldes do $onte Es@el desde os F anos.1 0oc: fa# ideia do !ue isso realmente vai ser3 1 $iri perguntou.Esa e >rid balan'aram a cabe'a. $iri fiou%se nelas, tentando ler em seus rostos se !ueriam!ue se afastasse delas.1 osso apostar !ue essa besteira de princesa um tru!ue !ue os mercadores arranjaram 1disse.

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    1 $inha me no me deiaria ir se achasse !ue me fariam algum mal 1 disse Esa. 1 $as elatambm no sabe di#er do !ue se trata.>rid estava com o olhar fio ( frente, como se mirasse a pr4pria morte.1 -omo !ue um pr7ncipe vai decidir com !uem se casar3 &er" !ue vai haver um concursopara princesa conforme os !ue fa#emos nos feriados, jogando bola ou correndo ou fa#endoarremesso de pedra a distGncia3$iri soltou uma risada, percebendo, tarde demais, pela epresso no rosto de >rid, !ue elano tivera inten'o de fa#er uma piada. $iri limpou a garganta para falar8 1 )o sei, mas achodif7cil acreditar !ue o povo da plan7cie se case por amor.1 &er" !ue eles sentem amor por alguma coisa !ue seja3 1 disse >rid.1 elo pr4prio cheiro, acho 1 disse $iri.1 elo menos ser" uma barriga a menos para comer l" em casa 1 disse Esa, olhando derelance para tr"s, como se estivesse pensando em sua casa. &ua vo# se abrandou. 1 Olhem l"a rid.1 $as parece !ue passou o vero inteiro na montanhaL por isso talve# !ueira ficar 1 disseEsa.$iri olhou por cima do ombro at avistar rid ergueu os punhos cerrados. $irisorriu, satisfeita por estarem compartilhando os mesmos sentimentos.assaram tr:s horas contornando po'as dM"gua, buracos e peda'os de rocha soltos daspedreiras h" muito abandonadas, at !ue afinal avistaram o telhado da academia. $iri esteveali seis anos antes, !uando a aldeia ainda costumava comemorar o feriado da primavera nointerior de suas paredes de pedra. epois da!uilo, passaram a considerar a caminhada longademais para repetir.Era chamada de casa de pedra do pastor e os alde*es assumiram !ue a!uela estrutura um diaabrigara um ministro da corte !ue supervisionava a pedreira. )a montanha, no vivia mais

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    ningum assim, mas a casa dava em $iri a vontade de ver !ue outras maravilhas haveria noreino da plan7cie, alm do ponto !ue ela conseguia energar.$esmo a distGncia, $iri conseguiu detectar um claro esbran!ui'ado8 pedras de cantariaforam usadas como funda'o, a +nica cantaria acabada !ue ela j" tinha visto. Embora o restoda casa tenha sido constru7do de cascalho cin#a, as pedras eram aparelhadas, lisas, e seencaiavam ( perfei'o. Navia tr:s degraus para se chegar ( porta principal e uma colunata!ue sustentava um fronto entalhado. Navia oper"rios da plan7cie no telhado, consertando osestragos causados pelas intempries. Outros colocavam vidra'as nos vos das janelas abertas,catavam a grama !ue nascia entre as lajotas do piso e dos degraus e varriam anos de sujeiraacumulada.As meninas iam chegando e circulando pelo lugar, espiando dentro das carro'as ou apreciandoo movimento. Eram vinte, desde erti, !ue mal completara CI anos, at

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    e lustrar as portas de madeira da capela regularmente, para evitar o desgaste.Olana dirigiu as meninas pelo interior da habita'o cavernosa, advertindo%as para ficarem emsil:ncio. )o havia nada nas paredes nem no piso, de modo !ue a vo# de Olana e o estalidodas solas de suas botas contra as lajotas ecoavam por cima da cabe'a e por baio dos ps de$iri, tra#endo%lhe a sensa'o de estar cercada.1 A casa grande demais para atender (s nossas necessidades 1 disse Olana, indicando !uea maioria dos CI aposentos permaneceria fechada, sem uso, de modo !ue no precisassem dea!uecimento durante o inverno. A academia se resumiria a tr:s c=modos principais.Elas entraram atr"s de Olana num c=modo comprido !ue serviria de dormit4rio. Naviaalgumas fileiras de estrados sobre o cho. )a parede oposta, havia uma lareira, para manter ocalor, e uma janela !ue dava para dentro da casa. $iri achou !ue as meninas nas camas !ueficassem mais distantes passariam muito frio.1 $eu dormit4rio separado, no fim do corredor, e se ouvir barulho ( noite, eu... 1 Olanaparou, com uma epresso de desgosto aproimando o rosto delas. 1 ue mau cheiro9 0oc:smoram com as cabras3 claro !ue moravam com as cabras. )ingum tinha tempo para construir um abrigo separadopara as cabras, e t:%las dentro de casa ajudava a manter mais a!uecidas tanto as cabras!uanto as pessoas no inverno. 'er que estou mesmo cheirando mal($iri afastou o olhar ere#ou para !ue ningum respondesse.1 Ora essa, mas alguns dias a!ui podem dissipar o cheiro. 0amos torcer.Em seguida, elas visitaram o c=modo imenso !ue havia no centro da edifica'o e serviria comosala de jantar. 6ma lareira grande com chamin de cantaria entalhada era a +nica indica'o de!ue j" teria um dia havido alguma grandiosidade na!uele c=modo. Agora estava va#io, ecetopor simpl4rias mesas e cadeiras de madeira.1 Este o nut, o fa#%tudo da academia 1 disse Olana. 6m homem entrou na sala pela portada co#inha e logo

    direcionou o olhar para o cho, como se no tivesse certe#a se deveria encontrar os olharesdelas. -ome'ava a ficar grisalho nas t:mporas e na barba, e segurava na mo direita umacolher de pau de um jeito !ue fe# $iri se lembrar do pai segurando a marreta.1 Ele vai estar muito ocupado 1 disse Olana 1, como todas n4s tambm estaremos, demodo !ue voc:s no devem gastar tempo se dirigindo a ele.$iri teve a impresso de !ue a apresenta'o fora um tanto grosseira, de forma !ue sorriu paranut ao sair e ele correspondeu com um esbo'o de sorriso.Olana condu#iu as meninas de volta pelo corredor principal at um salo com tr:s janelas devidro e duas lareiras. ueimar lenha era um luo na aldeia e a fuma'a estava fresca econvidativa. A maior parte do espa'o era ocupada por seis fileiras de cadeiras com pranchetasde madeira presas ao bra'o. )a etremidade principal do c=modo, acima de uma escrivaninha,

    havia uma prateleira cheia de livros encadernados em couro.Olana mandou !ue ocupassem as carteiras conforme as faias et"rias. $iri escolheu lugarnuma fileira junto com Esa e as outras duas de CD anos, colocou as mos no colo e tentou dar aimpresso de !ue estava prestando aten'o.1 0ou come'ar com as regras 1 disse Olana. 1 )ingum vai falar !uando no for sua ve#. &evoc:s tiverem perguntas, aguardem caladas at !ue eu lhes pe'a para fa#:%las. ual!uerbesteira, !ual!uer travessura ou !ual!uer desobedi:ncia resultar" em castigo.?Esta vaga de professora me foi dada como honraria. ;nformo a voc:s !ue deiei para tr"s umcargo no pal"cio real como tutora das primas da princesa para vir at a!ui em cima pajearimundas pastorinhas de cabras, embora eu ache !ue voc:s nem saibam o !ue um pal"cioreal.?

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    $iri se empertigou na carteira. Ela sabia o !ue era um pal"cio8 uma casa muito grande commuitos c=modos onde morava o rei.1 ois bem, !ueiram ou no, voc:s agora fa#em parte de uma empreitada hist4rica. )os+ltimos dois sculos, a academia de princesas tem sido apenas uma formalidade, onde asmeninas nobres da cidade escolhida se re+nem apenas para alguns dias de vida em sociedadeantes do baile da princesa.?-omo o $onte Es@el meramente um territ4rio, no uma prov7ncia de anland, e voc:s nopodem di#er !ue v:m de fam7lias nobres, o mandat"rio%mor acredita !ue a academia deva serlevada muito a srio nesta gera'o. Os padres nunca haviam indicado um territ4rio como aregio escolhida. evo di#er%lhes !ue o rei e seus ministros esto pouco ( vontade !uanto acasar o pr7ncipe com uma menina deselegante de um territ4rio long7n!uo. ortanto, deu%me asolene responsabilidade de fa#er com !ue cada menina mandada ao baile esteja apta a setornar a princesa. &e uma de voc:s no conseguir aprender as li'*es b"sicas !ue lhes ensinareieste ano, no ir"L nem se!uer conhecer" o pr7ncipe e ainda voltar" para a aldeia em desgra'a.?

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    para

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    A conversa foi diminuindo e acabou cessando, mas $iri estava cansada e ansiosa demais paradormir. >icou olhando as sombras da noite se deslocando, percorrendo o teto e prestandoaten'o ( respira'o pesada das outras meninas. &eu pulso batia no pesco'o e ela se ateve(!ueles sons, tentando se consolar com eles, como se a pedreira e a casa estivessem to perto!uanto seu cora'o.

    Captulo Quatro

    $iga ) minha famlia para ir comendoPara chegar em casa, eu teria de ir andando*as a montanha fe# pedras onde meus ps s+ so doisE eu engoli mais poeira do que sou capa#.

    #o dia seguinte, os oper"rios conclu7ram o conserto do telhado e foram embora, deiandoOlana, nut, dois soldados e um sil:ncio incomum. $iri sentiu falta das marteladas e batidas,sons !ue significavam !ue o trabalho na pedreira continuava como sempre e !ue ningumestava machucado. O sil:ncio a incomodou durante a semana inteira.e manh, antes de come'arem as aulas, as meninas passavam uma hora eecutando astarefas de lavar e varrer, pegar lenha e "gua, e ajudar nut na co#inha. $iri observava asoutras meninas roubando minutinhos de conversa perto do monte de lenha ou nos fundos daacademia. /alve# no fosse sua inten'o eclu7%la, pensavaL talve# estivessem simplesmenteacostumadas umas (s outras por causa do trabalho na pedreira. Ela se viu desesperadamentedesejosa da presen'a de $arda a seu lado, ou de eder, !ue, de uma forma ou de outra,continuara seu amigo ao longo dos anos, sem mudar nada.Olhou de relance para

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    erti ficou de !ueio ca7do e agarrou as laterais da carteira.1 Ela no fe# nada 1 disse $iri, levantando%se.uis encontrar as palavras para se defender, mas Olana no pediu eplica'o. egou uma varadesbastada do tamanho de seu bra'o.1 Esti!ue a mo, $iri, com a palma para cima.$iri esticou a mo e ficou impressionada de v:%la tremer. Olana ergueu a vara.1 Espere 1 $iri falou, tirando a mo. 1 Eu estava ajudando. -omo !ue voc: pode !uererme bater por estar ajudando31 0oc: estava falando fora da sua ve# 1 disse Olana. 1 -ontinuar fa#endo isso no vai lhevaler como desculpa.1 ;sso no justo 1 disse $iri.1 )o primeiro dia de aula, deiei claro !ue o descumprimento de uma regra levaria a umcastigo. &e eu no mantiver minha palavra, assim, sim, vai ser injusto. Esti!ue a mo.$iri no conseguiu pensar numa resposta. Abriu os dedos, epondo a palma da mo. Olanadeu%lhe a chibatada, com um estalido e uma dor, e o bra'o de $iri estremeceu com o esfor'ofeito para no tir"%lo dali. 6ma segunda ve#, e uma terceira. Ela olhou para o teto e tentoufingir !ue no havia sentido nada.1 E agora, senhorita, vamos cuidar de voc: 1 disse Olana, voltando%se para a menina maismo'a.1 erti no pediu ajuda. 1 $iri engoliu em seco e tentou acalmar a vo# estremecida. 1 >oiculpa minha.1 >oi, sim. Agora todas aprenderam !ue a!uela !ue falar fora de sua ve# arranja castigo parasi e para a!uela com !uem falar.1 E se eu falar com a senhora, /utora Olana, a senhora recebe as chibatadas3$iri estava tentando arrancar uma gargalhada e diminuir o atrito, mas as meninas ficaram!uietinhas como presas sendo ca'adas. Os l"bios de Olana estremeceram de raiva.

    1 or causa disso voc: vai ganhar mais tr:s chibatadas na mo es!uerda tambm.erti levou suas tr:s chibatadas e $iri, as mesmas tantas na outra mo. uando a li'o foiretomada, $iri teve dificuldade para segurar o estilete. >icou de cabe'a baia e se concentrouem fa#er cada caractere bem direitinho na argila. Ks ve#es escutava a respira'o de ertiprendendo na garganta.1 Olana. 1 6m soldado entrou na sala. 1 -hegou a!ui algum da aldeia.Olana saiu com ele e $iri ouviu o eco de sua vo# no corredor81 O !ue voc: !uer31 O pessoal da aldeia me mandou perguntar !uando as meninas v:m para casa 1 disse a vo#de um menino.O rosto de Esa se encheu de epectativa, e

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    estavam vermelhas. Os pensamentos e as emo'*es brincavam de cabo de guerra dentro dela.&er punida por ajudar erti. &er ignorada e humilhada. eder vir at l" e ser dispensado, sem!ue ela se!uer conseguisse lhe dar um aceno a distGncia. Acima de tudo, a vergonha de serin+til !ue no a abandonava nunca.1 ;sso uma idiotice 1 $iri falou assim !ue elas sa7ram da sala de aula.atar, !ue andava a seu lado, falou81 &il:ncio9 1 e olhou para tr"s para ver se Olana tinha ouvido.1 0amos para casa 1 $iri falou um pouco mais alto. Ainda sentia um va#io na barriga desde!ue avistara eder e as mos do7das lhe deram a impresso de ser maiores !ue sua precau'o.1 odemos ir embora da!ui antes !ue os soldados percebam e, se corrermos todas juntas,eles nunca nos pegaro.1 arem. 1 A vo# autorit"ria fe# com !ue $iri parasse onde estava. )enhuma delas se viroupara ver. O estalido das botas de Olana se aproimou.1 Era $iri !ue estava falando3$iri no respondeu. Achou !ue, se falasse, poderia chorar. Ento, atar confirmou com umaceno de cabe'a.1 Ora 1 disse Olana 1, mais uma infra'o. Eu disse antes !ue falar fora de hora significavacastigo no s4 para a infratora como para !uem escuta, no foi mesmo3Algumas das meninas concordaram. atar se inflamou.1 )enhuma de voc:s vai voltar para casa amanh 1 disse Olana. 1 assaro o dia dedescanso estudando individualmente.$iri sentiu como se tivesse levado uma bofetada. Ouviram%se gritos de protesto.1 &il:ncio9 1 Olana brandiu no ar a bengala. 1 )o h" o !ue discutir. 2" hora de voc:saprenderem !ue fa#em parte de um pa7s com leis e regras, e h" conse!u:ncias para adesobedi:ncia. Agora, voltem ( sala de aula. >icaro sem a refei'o do meio%dia hoje.As meninas fi#eram mais barulho do !ue o normal ao tomarem seus assentos, como se dessem

    va#o ( sua raiva, arrastando os ps das cadeiras contra o piso de pedra, deiando aspranchetas baterem sobre as mesas. )o sil:ncio !ue se seguiu, $iri ouviu a barriga de >ridranger de fome. )ormalmente, teria soltado uma risada. Apertou o estilete com tanta for'acontra a argila !ue ele se partiu ao meio.)a!uela tarde, Olana deiou as meninas sa7rem para se eercitar. Elas vestiram capas e gorros,mas assim !ue sa7ram $iri tirou os seus. O frio s+bito a fe# sentir%se renovada, tra#endo umasensa'o de liberdade depois de um dia inteiro na sala de aula com o a!uecimento da lareira.Estava com vontade de sair correndo como um coelho, numa leve#a tal !ue nem se!uerdeiaria pegadas a serem seguidas.Ento ela percebeu !ue estava s4 e as demais meninas formavam um grupo, paradas diantedela. As mais velhas estavam ( frente, de bra'os cru#ados. $iri teve a impresso de

    compreender como uma cabra perdida se sentiria ao se deparar com uma matilha de lobos.1 )o foi minha culpa 1 disse ela, receosa de !ue admitir estar sentida implicaria tolerGnciapelas a'*es de Olana. 1 As regras dela so injustas.>rid e Esa olharam para tr"s para ver se Olana estava por perto, mas estava acertado !ue, dolado de fora, as meninas podiam conversar.1 )o v" logo se desculpando 1 disse atar, jogando a cabeleira alaranjada para fora docapu#.O !ueio de $iri come'ou a tremer e ela o cobriu com a mo, tentando agir como se noestivesse perturbada. &e todos a achavam fraca demais para trabalhar na pedreira, pelo menospoderia mostrar%se forte o suficiente para no chorar.1 Eu estava tentando me levantar por todas n4s. ;sto mais um caso de o povo da plan7cie

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    tratar o povo da montanha como se fossem botas velhas.

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    certamente abrandaria. /alve# !uando $iri contasse ao pai sobre as regras e a palmat4ria, eleadmitisse !ue cometera um erro, !ue precisava dela tanto !uanto de $arda em casa. &4 maistr:s dias at a liberdade, depois dois, um.Ento, na!uela noite, nevou.A escola despertou com as lufadas brancas !ue pareciam as nuvens de p4 de pedra na aldeiacobrindo tudo e amea'ando se acumular at a altura do parapeito das janelas. As meninasficaram caladas, olhando para fora, imaginando a distGncia !ue as separava da aldeia, osburacos e pedregulhos escondidos pela nevasca, ponderando entre o perigo e o desejo deirem para casa.1 0amos para a sala de aula, ento 1 disse Olana, encaminhando%as para longe da janela do!uarto. 1 )ingum vai sair andando por a7 com esse tempo. E se est" correta a historinha !ueou'o contar sobre essa montanha, vamos ter de nos aconchegar por a!ui mesmo at o degeloda primavera.Olana se postou diante da classe, com as mos dadas (s costas. $iri se sentiu destacada dianteda!uele olhar.1 atar me informou !ue h" !uem duvide da legitimidade desta academia. )o vou mearriscar a apresentar meninas de miolo mole para &ua Alte#a no ano !ue vem, de modo !uevou lhes di#er uma coisa a!ui com toda a fran!ue#a8 o pr7ncipe vai escolher uma de voc:s com!uem se casar, e a escolhida vai morar no pal"cio, ser chamada de princesa e ?usar umacoroa?.Olana convocou nut na!uele instante, e ele entrou na sala com algo prateado nos bra'os.Olana pegou o objeto e o chacoalhou. Era um vestido, talve# a coisa mais bonita em !ue $iri j"tivesse posto os olhos alm da vista da montanha. O tecido no se parecia com nada do !ueela j" tivesse visto, leve e macio, e lhe troue ( lembran'a as "guas de um c4rrego. Era cin#anas dobras e rebrilhava prateado onde batiam as lu#es !ue entravam pela janela. >itas cor%de%rosa claro reuniam os panos em volta do ombro e da cintura, e havia min+sculos brotos de

    rosa espalhados pela saia comprida.1 &o vestidos assim 1 disse Olana 1 !ue as princesas usam. 6ma costureira real fe# esteda!ui para a menina !ue terminar o ano em primeiro lugar na academia.As meninas engoliram em seco e soltaram suspiros e eclama'*es, e pela primeira ve# Olanano as mandou calar.1 0amos ver !uem mais !uer este presente. A vitoriosa ser" apresentada ao pr7ncipe comoprincesa da academia e usar" este vestido na primeira dan'a. A escolha da noiva ainda ser"dele, mas a princesa da academia certamente causar" uma primeira impresso bastantesignificativa.En!uanto Olana falava, seus olhos fitaram >rid de relance, e $iri imaginou !ue ela estivessetorcendo para !ue a!uela no fosse a vitoriosa, pois seu corpo avantajado no caberia no

    vestido. $as o rosto de >rid no revelou preocupa'o alguma com o tamanho da pe'a. &eusolhos se cravaram na coisa prateada, estarrecidos. $iri se esfor'ou para no dar na vista !uetambm estava impressionada. -omo deve ser usar um vestido assim(1 Estejam avisadas de !ue no ser" f"cil voc:s atenderem (s minhas epectativas 1 Olanafalou. 1 /enho muitas d+vidas de !ue as meninas da montanha sejam capa#es de atingir osmesmos patamares de outras meninas de anland. 2" ouvi di#er !ue seus crebros sonaturalmente menores. /alve# por causa do ar mais rarefeito da montanha...$iri se inflamou. $esmo !ue as promessas de Olana fossem verdadeiras, $iri no !uereria secasar com algum da plan7cie, uma pessoa !ue a despre#asse e ( sua montanha. r7ncipe ouno, seria !ual Olana, !ual Enri@ e os mercadores, !ual o mandat"rio%mor fran#indo o cenhoante a viso do povo da montanha e ansioso por voltar ( sua carruagem e ir embora.

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    Ela esfregou os olhos e o barro em seus dedos entrou por baio das p"lpebras, fa#endo%asarder. Estava cansada do povo da plan7cie ape!uenando%a e cansada de achar !ue poderiamestar certos. $ostraria para Olana !ue era to esperta !uanto !ual!uer anlander. &eria aprincesa da academia.

    Captulo Cinco

    odos sabem que as melhores coisas v/m no fimPor isso minha me di# que sou a 0ltima em tudo'empre uso roupas e cal&ados usados,1aspo o que sobra na panela e tomo banho rio abai2o.

    1m dia as palavras haviam sido invis7veis para $iri, desconhecidas e desinteressantes, como osmovimentos de uma aranha numa fresta da rocha. Agora, surgiam por toda sua volta,mostravam%se, eigiam aten'o 1 na lombada dos livros em sala, decifrando tonis de comidana despensa e na co#inha, esculpidas em marcos de pedra8 No dcimo terceiro ano do reinadode 3organ.6m dia, Olana jogou fora um pergaminho e $iri o pegou no lio, guardou%o embaio doestrado e desenvolveu o h"bito de l:%lo ( lu# de vela ao som de roncos e assobios. Era umalista das meninas da academia e suas respectivas idades. $iri sentiu um tremor no cora'o aoler o pr4prio nome escrito ( tinta. ?$arda 5arendaughter? tambm estava ali, embora riscado.O de

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    es!uecer o fato de !ue lhes custara uma ida ( casa e assim sair sorridente para brincar, ouapenas correr pela neve so#inha e sentir o ar frio fustigando o seu rosto.$as, se ficasse do lado de dentro, teria a sala de aula toda para si. 0inha torcendo por umachance como essa a semana inteira.Ao escutar os +ltimos passos sumindo no corredor, levantou%se e espregui'ou%se. Navia Clivros numa prateleira alta acima da mesa de Olana. $iri j" os contara, lera as lombadas eprevira o poss7vel conte+do. Esticou%se na ponta dos ps e retirou um deles.As palavras 4ist+ria de $anlandestavam gravadas em branco sobre a lombada de couroescuro. O livro cheirava a p4, a velharia, mas tambm tra#ia em si uma pitada de doce, umto!ue de algo convidativo. Ela o abriu na primeira p"gina e come'ou a ler, pronunciando aspalavras num sussurro reverente.)o entendeu coisa alguma.5eu a primeira frase tr:s ve#es e, embora pudesse pronunciar cada palavra separadamente,no conseguiu entender o !ue significavam juntas. >echou o livro e abriu outro, -omrcio de$anland. O !ue era -omrcio, afinal3 Ela o devolveu ( prateleira e pegou outro, depois outro,e sentiu vontade de come'ar a jog"%los. Acabara de tirar um livrinho mais fino simplesmenteintitulado -ontos!uando o barulho de solado de botas contra as lajotas do piso fe# seucora'o dar um salto. $iri no sabia se seria castigada por tomar um livro emprestado e eratarde demais para coloc"%lo de volta. Ento, enfiou%o sob a saia.1 $iri 1 disse Olana, entrando. 1 )o vai nem esticar as pernas hoje3 As outras meninas aodeiam tanto assim3O coment"rio de Olana a magoou. $iri no sabia !ue a distGncia entre ela e as demais era to4bvia. Ela apertou o livro oculto contra o pr4prio corpo debaio da saia e saiu da sala.urante as duas semanas !ue se seguiram, !uando as outras sa7am, $iri se aconchegava numcanto do !uarto de dormir com o livro de contos sobre o colo.5utou muito a princ7pio, mas logo as palavras come'aram a fa#er sentido, e em seguida as

    frases foram sendo montadas, e ento as p"ginas formavam hist4rias. ue maravilha9 Naviahist4rias dentro da!uelas letras entediantes !ue as pessoas vinham aprendendo o tempotodo, hist4rias como as !ue ouvia no feriado da primavera ou as !ue o pai de eder contavadiante da lareira nas noites frias. E agora ela podia l:%las.Alguns dias mais tarde, Olana pegou um livro da prateleira e o entregou a uma das meninasmais velhas. Embora atar lesse melhor !ue as demais, ainda titubeava diante das palavrasdesconhecidas, pronunciando%as laboriosamente.

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    1 Ora, meninas 1 Olana falou assim !ue $iri terminou 1, se o pr7ncipe viesse amanh, voc:sj" sabem !uem usaria o vestido prateado.$iri sentiu um sorriso irromper em seu rosto e um descabido impulso de dar um abra'o emOlana. A epresso contra7da de atar ficou ainda mais inflamada. $iri engoliu em seco etentou agir com modstia, mas j" era tarde demais. atar costumava ser a melhor em sala deaula e no deve ter deiado de pensar !ue o sorriso de $iri significava uma maldosasatisfa'o. A vit4ria dela teve o gosto amargo de leite estragado.)o fim da tarde, ao voltar da escola, $iri parou ao som de vo#es abafadas vindo da frente doprdio da academia. eu alguns passos para tr"s, pisando de leve na superf7cie enregelada daneve sobre o cho. &ussurros eram sin=nimo de um segredo e a!uilo arrancou de $iri umarrepio de curiosidade. Ela se encostou ( parede e apurou os ouvidos para tentar captaralgumas palavras no meio da conversa silenciosa. Ouvir o pr4prio nome pronunciado numcochicho causou n"useas em mim.1 ...aguentar a $iri... dando uma de inteligente... 1 Era a vo# de

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    para $iri antes de sair da sala e fe# um gesto indicando !ue ela a seguisse. $iri soltou umsuspiro por antecipa'o. &e Esa a perdoasse, talve# as demais tambm a perdoassem. &uadetermina'o de ficar em pa# so#inha se esvaneceu diante da possibilidade luminosa de !uetudo voltasse (s boas.$iri tinha, entretanto, uma pe!uena tarefa a cumprir antes. epois de esperar !ue todas asmeninas sa7ssem da sala de aula, aproimou%se furtivamente da prateleira para devolver olivro de contos. Estava na ponta dos ps, ajeitando o livro no lugar, !uando um barulho naporta a assustou. Ela deu um pulo e largou o livro.1 O !ue est" fa#endo3 1 Olana perguntou.1 esculpe 1 disse $iri, pegando o livro no cho e esfregando%o para tirar o p4. 1 Estavas4...1 &4 deiando meus livros ca7rem no cho3 )o estava pensando em roubar um deles,estava3 claro !ue estava. Eu teria permitido !ue voc: pegasse um livro emprestado, $iri,mas no vou tolerar um roubo. ara o !uartinho, j".1 O !uartinho3 1 disse $iri. 1 $as eu no estava...1 0" logo 1 disse Olana, ordenando $iri dali como !uem tange uma ovelha recalcitrante.$iri conhecia o lugar, embora nunca tivesse estado ali. Olhou para tr"s antes de entrar.1 urante !uanto tempo3Olana fechou a porta em cima de $iri e passou o trinco.A s+bita falta de lu# foi aterrori#ante. $iri jamais estivera num lugar to escuro. )o inverno,$arda, o pai e ela dormiam na co#inha perto do fogo, e no vero, sob as estrelas. eitou%seno cho e, por baio da porta, ficou espiando a faia de lu# acin#entada. &4 conseguia energaros ressaltos das lajotas do piso. e longe, ela ouvia o vo#erio alegre e os gritinhos de alegriadas meninas brincando na neve. Esa acharia !ue $iri havia ignorado o convite, !ue no fa#ia!uesto de ser sua amiga. $iri tomou f=lego, ofegante, e tossiu com a poeira.6m ru7do de passos apressados a deiou em estado de alerta. /ornou a ouvir o barulho, como

    se fossem unhas arranhando uma superf7cie lisa. $iri se encostou bem ( parede. )ovamente.Algum animal#inho deveria estar ali com ela na escurido. /alve# apenas um camundongo,mas, por no saber ao certo, $iri achou a!uilo estranho e enervante. /entou energar emmeio (s trevas. &eus olhos foram se acostumando, tra#endo alguma defini'o para as formasmais escuras, mas a lu# no era suficiente.epois !ue os passos pararam, $iri continuou em p, encostada ( parede, at sentir dor nascostas e a cabe'a pesada. >icou cansada de fitar a escurido, imaginando rostos !ue tambm afitavam ou vultos min+sculos correndo pelos cantos. O enfado, enfim, troue o sono. Afinal,deitou%se, apoiando a cabe'a nos bra'os, e ficou olhando a fresta embaio da porta naesperan'a de ver algum sinal de Olana vindo liber"%la do castigo. O frio das lajotas seentranhou em sua blusa de l e arrepiou%lhe a pele, fa#endo%a estremecer e soltar um suspiro

    ao mesmo tempo. -aiu no sono sem descansar.

    $iri acordou com um puo e uma sensa'o horrorosa. Naveria algum dentro do c=modocom ela, tentando acord"%la3 A lu# !ue va#ava pela fresta inferior da porta estava ainda maisfraca e a sensa'o pulsante em seu corpo todo sinali#ava !ue se haviam passado horas./ornou a sentir um puo no couro cabeludo. Algo se prendera em sua tran'a. /eve vontadede gritar, mas o terror chegou a parali#"%la. -ada pedacinho de sua pele se ressentiu com opavor do !ue poderia estar tocando nela. O to!ue foi algo forte demais para ser umcamundongo.A ponta de um rabo ro'ou o rosto dela. 6ma rata#ana.$iri soltou um solu'o mudo, recordando%se de uma mordida de rata#ana !ue matara um beb:

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    na aldeia anos antes. )o ousou gritar, com receio de assustar o bicho. Os pu*es pararam eela ficou parada, esperando alguma coisa acontecer. 'er que se soltou( 'er que foi embora(e repente, a coisa se agitou. erto de seu ouvido, $iri escutou um guincho surdo.)o conseguiu se meer, no conseguiu falar. uanto tempo teria de ficar ali at !ue algumviesse resgat"%la3 &eus pensamentos iam e vinham, buscando uma sa7da, um consolo.1 O fio do prumo balan'a, o falco cria asas, o $onte Es@el canta. 1 Ela sussurrou baiinhocomo as "guas lentas de um c4rrego. Era uma can'o para comemorar, na primavera, o usodos prumos de corda para aparelhar a cantaria, en!uanto se observa o falco al'ando voo,com a sensa'o de !ue o trabalho bom e est" tudo bem no mundo. En!uanto cantarolava,ela tamborilou com as pontas dos dedos sobre uma lajota do piso, como se estivessetrabalhando na pedreira e usando o linguajar dos oper"rios entre seus colegas.1 O $onte Es@el est" cantando 1 sussurrou e come'ou a mudar a letra 1 e $iri est"chorando, lutando com uma rata#ana. 1 E !uase riu disso, mas o ru7do de outro rosnadocerrou%lhe no peito a risada. Receando se!uer um sussurro, continuou cantando na cabe'aapenas, ainda tamborilando com os dedos em sil:ncio no ritmo da m+sica e pedindo naescurido !ue algum se lembrasse dela.A porta se abriu e a lu# de uma vela feriu seus olhos.1 6ma rata#ana9 1 Olana estava com a bengala na mo e usou%a para cutucar o cabelo de$iri.1 epressa, depressa 1 $iri falou, fechando os olhos.Ouviu um guincho, pe!uenos passos se afastando rapidamente, e se levantou de imediato,indo abra'ar Olana. /remia demais para conseguir ficar em p so#inha.1 Ora, tudo bem, j" chega 1 disse Olana, desenroscando de si os bra'os de $iri.O frio e o susto deiaram $iri se sentindo meio morta. Abra'ou a si mesma contra um arrepio!ue amea'ava estremec:%la tanto !uanto vara verde ao vento.1 >i!uei trancada horas a fio 1 disse, com um grasnido de vo#. 1 0oc: se es!ueceu de mim.

    1 Acho !ue sim 1 disse Olana sem se desculpar, embora tra'os mais profundos em seu cenhomostrassem !ue ela ficara perturbada ao ver a rata#ana. 1 Ainda bem !ue erti se lembroude voc:, caso contr"rio eu s4 teria vindo pela manh. Agora, vamos8 j" para a cama.$iri avistou erti agora, com os olhos arregalados como os do vison en!uanto fitava,estarrecida, a escurido do !uartinho. Olana pegou a vela e deiou as meninas no escuro, deforma !ue $iri e erti voltaram correndo para o !uarto de dormir.1 Era uma rata#ana 1 disse erti, assustada.1 Era, sim. 1 $iri ainda tremia como se estivesse congelando de frio. 1 Obrigada por selembrar de mim, erti. $eu cora'o teria parado de bater se eu ficasse l" mais um instantese!uer.1 Estranho foi como eu me lembrei de voc:, na verdade 1 disse erti. 1 uando voltamos

    do recreio ( tarde, voc: havia simplesmente sumido. Olana no falou nada e eu tive receio deperguntar. E, !uando est"vamos nos preparando para dormir, me veio uma lembran'aaterradora de !uando estive trancada no !uartinho e escutei uns barulhos sinistros, e tivecerte#a de !ue voc: estava trancada l" tambm e... no sei, mas achei !ue havia umarata#ana. >oi !uase como... ah, es!ue'a.1 -omo o !u:31 -om certe#a adivinhei !ue voc: estava no !uartinho por!ue, ora, onde mais estaria3 E acheiter ouvido uma rata#ana !uando estive l", tambm, e foi por isso !ue soube !ue voc: estarial". $as o jeito de minha viso estremecer !uando pensei nisso, a maneira como voc: e arata#ana me vieram ( mente, acabei me lembrando da linguagem da pedreira.1 5inguagem da pedreira3 $as... 1 $iri tornou a sentir calafrios.

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    1 &ei !ue besteira. )o poderia ter sido linguagem da pedreira, por!ue no estamos napedreira. Ainda bem !ue no houve encrenca. uando fui para o !uarto da /utora Olana eimplorei para !ue viesse tirar voc: de l", ela amea'ou com todo tipo de castigo.$iri no falou mais nada. )ovas possibilidades se configuravam para ela na escurido.

    Captulo Sete

    enho uma alavanca para um bandidoE uma talhadeira para uma rata#anaenho uma marreta para um loboE um martelo para um gato.

    1ma tarde, dois ou tr:s anos antes, $iri e eder haviam se sentado numa pastagem naencosta de um morro na aldeia. Eram to jovens !ue $iri ainda no havia come'ado a sepreocupar !ue suas unhas estivessem sujas e !uebradas ou !ue eder pudesse ficar entediadocom sua conversa. )a ocasio, ele trabalhava na pedreira seis dias por semana e $iri insistiapara conhecer os detalhes.1 )o como acender uma lareira ou curtir couro de cabra, $iriL no como uma tarefa!ual!uer. uando estou trabalhando, como se escutasse a pedra. )o me olhe desse jeito.)o consigo eplicar melhor.1 ois tente.eder estava olhando fiamente para a lasca de cantaria !ue tra#ia na mo. Ele estava usandoum canivete para esculpi%la na forma de uma cabra.1 uando tudo vai bem, temos a sensa'o das m+sicas !ue cantamos nos feriados, oshomens uma parte, as mulheres a outra. &abe como a harmonia3 a mesma sensa'o detrabalhar a cantaria. ode parecer besteira, mas imagino !ue a pedra canta o tempo todo, e

    !uando enfio bem a cunha na fresta e baio a marreta direitinho, tenho a sensa'o de !ueestou cantando com ela. Os oper"rios cantam a!uelas m+sicas em vo# alta na pedreira paramarcar o tempo. A cantoria de verdade acontece l" dentro.1 5" dentro, como3 1 $iri perguntou. /ran'ava caules de miri para no dar a entender !ueestava muito interessada. 1 ue som tem31 )o tem som de nada, na verdade. )o se ouve a linguagem da pedreira com os ouvidos.uando alguma coisa est" errada, d" uma sensa'o de erro, assim como sei !uando a pessoa ameu lado est" fa#endo for'a demais com a alavanca e pode rachar a pedra. uando issoacontece e fa# barulho demais na pedreira para !ue a gente possa simplesmente di#er8 ?0"devagar com essa alavanca?, eu digo isso em linguagem da pedreira. )o sei por !ue se chamalinguagem da pedreira, j" !ue mais canto do !ue fala, s4 !ue a gente cantapor dentro. E

    mais alto, se !ue d" para descrever desse jeito !uando algum fala diretamente com voc:,mas todos por perto conseguem ouvir.1 Ento, voc: canta de um jeito e todo mundo consegue ouvir 1 ela falou, sem entenderdireito.eder deu de ombros.1 Eu falo com uma pessoa, mas estou cantando, s4 !ue no em vo# alta... )o sei descrever,$iri. como tentar eplicar como correr ou engolir. Ento, pare de me encher a paci:nciaL seno parar, vou atr"s do 2ans e do Almond para jogarmos um jogo s4 de meninos.1 >a'a isso e ser" o +ltimo jogo da sua vida.eder no entendia por !ue era to importante para $iri compreender o trabalho na pedreira,de modo !ue ela parou de insistir. Achou bom !ue ele no se desse conta de sua frustra'o e

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    isolamento, !ue admitisse !ue ela continuasse a mesma $iri tran!uila e despreocupada desempre.$iri deiou !ue as recorda'*es dessa conversa voltassem ( sua mente, acrescentando agoratudo !ue achava saber sobre a linguagem da pedreira. &empre fora uma parte da pedreira e,como tal, algo !ue ela no podia fa#er.6caso 7erti teria ouvido linguagem da pedreira(,pensou. 'er que funciona fora da pedreira(A mera possibilidade era to atraente !uanto ocheiro dos bolinhos de mel sendo co#inhados no c=modo ao lado.)o dia seguinte ao da rata#ana, $iri estava cumprindo tarefas matinais, varrendo oscorredores da academia. Esperou at !ue no houvesse mais ningum por perto e entroufurtivamente num c=modo frio, fora de uso, e eperimentou a linguagem da pedreira./amborilou com o cabo da vassoura a lajota de pedra do piso, tentando imitar uma ferramentada pedreira, e entoou uma cantiga em vo# alta. Em seguida, mudou a m+sica de modo atransmitir a mensagem !ue !ueria.1 /enho uma alavanca para um bandido e uma talhadeira para uma rata#ana. O bicho estavano !uartinho at !ue a tutora o espantou.&abia, de observar a pedreira, !ue os oper"rios cantarolavam e tamborilavam sempre !ueusavam a linguagem da pedreira, mas s4 mudar a letra da m+sica no bastava.

    6 cantoria de verdade acontece do lado de dentro, dissera.1 /alve# da mesma forma !ue cantar diferente de falar 1 ela murmurou, tentandoracionali#ar 1, a linguagem da pedreira diferente de s4 pensar.-om uma m+sica, as palavras flu7am em conjunto de uma forma diferente da conversa normal.Navia um ritmo e os sons das palavras se encaiavam como se elas tivessem sido feitas paraser cantadas lado a lado. -omo poderei fa#er a mesma coisa com meus pensamentos(, pensou.$iri passou o resto de sua hora de cumprir tarefas aperfei'oando seu mtodo. -riou m+sicas,como costumava fa#er, no s4 cantando em vo# alta, como tambm concentrando%se no somdelas, tentando fa#er com !ue seus pensamentos retumbassem e flu7ssem de maneira

    diferente, concentrando%se nos min+sculos tremores !ue os n4s de seus dedos produ#iam napedra de cantaria. &er" !ue a fala penetrava pelo solo3 Ela fechou os olhos e imaginou%secantando seus pensamentos para dentro da pedra, falando da rata#ana e de sua necessidadedesesperada na!uela noite no !uartinho, epandindo sua m+sica interna com o desejovibrante de ser ouvida.urante um brev7ssimo instante, sentiu uma mudan'a. arece !ue o mundo estremeceu, eseus pensamentos se en!uadraram todos. &oltou um grito sufocado, mas a sensa'o se foi tor"pido !uanto veio.Olana bateu com a bengala no cho do corredor para anunciar o trmino das tarefas do dia e$iri terminou de varrer sua cota e foi correndo para a sala de aula. 0iu !uando erti seaproimou de sua carteira, tentando detectar !ual!uer sinal de !ue a menina mais nova

    tivesse ouvido. $iri arriscou uma perguntinha r"pido antes de Olana entrar.1 -omo voc: est" se sentindo, erti31

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    uando as meninas deiaram a sala de aula no recreio seguinte, atar foi pegar um livro naprateleira e voltou a se sentar ( sua carteira com certo estardalha'o.1 )o precisa ficar to chocada, $iri 1 disse ela, sem tirar os olhos do livro. 1 0oc: no a+nica !ue pode estudar durante o recreio. Acho !ue voc: est" pensando !ue o t7tulo deprincesa da academia seu, sem concorrentes.1 )o 1 disse $iri, !uerendo !ue surgisse em sua mente uma boa resposta, bem afiada. $ass4 conseguiu pensar em di#er8 1 $as talve# voc: esteja.atar sorriu, talve# pensando !ue a rplica havia sido fraca demais para merecer umacontrapartida. $iri concordou em sil:ncio. -onseguiu se for'ar a permanecer na sala de auladurante mais alguns minutos antes de escapulir.)os dias !ue se seguiram, a presen'a de atar na sala de aula durante o recreio for'ou $iri aprocurar outros lugares para testar sua linguagem da pedreira8 num cantinho, do !uarto dedormir, atr"s do prdio da escola e, uma ve#, at no !uartinho, embora mal tivesse entrado esua pele se enrijeceu toda, como se estivesse coberta por aranhas. A cada nova eperi:ncia,!uando tamborilava alguma coisa no cho e entoava uma das cantigas da pedreira, umasensa'o curiosa tomava conta dela. /udo ( sua volta parecia vibrar como os galhos das"rvores ao sabor do vento e uma sensa'o c"lida e contundente se pronunciava no fundo deseus olhos. A no'o do !uartinho e da rata#ana voltava sempre, real, como se ela estivesserevivendo a!uele momento. &entia sua m+sica pulsando dentro de si e a imaginavapercorrendo o interior da pedra, chegando ( montanha, at encontrar algum capa# de ouvi%la.$as, em geral, no acontecia nada. E ela no conseguia entender o por!u:.

    6 linguagem da pedreira deveria servir para falar com outras pessoas,pensava. alve# eu devae2perimentar com algum.$iri no ousaria abordar !ual!uer uma das outras meninas !ue trabalhavam na pedreira. &er"!ue a tomariam por boba pelo simples fato de tentar3 &er" !ue ririam dela3 -erta manh, $iri

    ficou observando en!uanto

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    uando uma menina e um menino mais velhos se do as mos, a temum significado.1 Entendi. 1

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    mont7culo mais fofo de neve e soltou a mo, mas

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    como um dos seus.Espalmou a mo sobre uma lajota do piso e tamborilou um ritmo com as pontas dos dedos.&entiu vontade de di#er o !ue estava sentindo aos gritos, vontade de !ue a montanharealmente pudesse entender. 1 ?Ela to encantadora !uanto uma menina com flores nocabelo?, cantou em sussurros. ? animada como o sol da primavera secando a chuva no ar.?Era uma ode ao $onte Es@el cantada no feriado da primavera, e cantar a!uilo agora a envolvianas recorda'*es dos bons momentos vividos em sua montanha. -antou no seu 7ntimo,inventando sua pr4pria can'o sobre a suave acolhida das brisas primaveris, das fogueirasnoturnas, dos colares de miris pendurados ao pesco'o, de ro'ar os dedos de eder !uando elese virava ao dan'ar, do calor das fogueiras !ue a fa#ia sentir%se aconchegada ao seio damontanha.As sombras escuras no !uarto de dormir estremeceram e uma sensa'o a invadiu como se elativesse soltado murm+rios nas profunde#as da garganta. 5inguagem da pedreira. $iri soltouum gemido surdo. Por que no funciona o tempo todo(, pensou. Ressoou outrodesmoronamento a distGncia e $iri imaginou !ue a montanha estava rindo dela. &orriu e seaninhou ainda mais em sua cama.1 0ou acabar lhe entendendo 1 ela sussurrou. 1 0oc: vai ver.

    Captulo Oito

    *eus dedos esto mais frios que o pr+prio p*eus ps esto mais frios que minhas costelas*inhas costelas esto mais frias que minha respira&o*inha respira&o est mais fria que meus lbiosE meus lbios esto ro2os e a#uis, ro2os e a#uis.

    3iri acordou tremendo e cumpriu suas tarefas matinais saltitando, tentando a!uecer os ps.)um inverno de montanha, o frio cortante em geral diminui depois !ue a neve cai, mas nessa+ltima semana o cu estivera limpo. E uma espiada pela janela di#ia (s meninas !ue na!uelamanh no haveria trgua para o frio8 nuvens pesadas de neve !ue ainda no caiu baiaramsobre a montanha, encobrindo tudo de uma nvoa +mida./odas gemiam e reclamavam, e $iri sabia !ue tambm deveria estar se sentindo malL porm,sentia%se envolta e oculta, um belo segredo !ue no seria divulgado. >icou olhando pela janelada sala de aula a brancura l" fora, satisfeita com sua descoberta da linguagem da pedreira eansiosa por entend:%la melhor. irecionou seus pensamentos de volta, de modo a ouvir Olanaanunciar !ue os estudos estavam prestes a mudar.urante !uase tr:s meses, o enfo!ue havia sido na leitura, mas agora Olana introdu#ia outras

    matrias8 Nist4ria de anland, -omrcio, eografia e, ainda, Reis e Rainhas, bem comoassuntos relativos ( forma'o de princesas, tais como iplomacia, -onversa'o e a!uele !uelevou $iri a ter vontade de girar os olhos nas 4rbitas8 ostura.

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    urante as aulas de ostura, as meninas tiravam as botas e as e!uilibravam na cabe'a.Andavam em c7rculos. Aprendiam a andar depressa Sna ponta dos ps, com os dedosresguardados sempre atr"s da bainha da saia, com fluide# e os bra'os levemente dobradosT edevagar Sda ponta ( planta do p, da ponta ( planta do p, com as mos repousando sobre asaiaT. Aprenderam a fa#er mesuras completas para um pr7ncipe e, ao fleionar as pernas ebaiar a cabe'a, $iri, a princ7pio, acreditava mesmo !ue iria conhecer um pr7ncipe. raticarammesuras mais ligeiras para seus iguais e compreenderam !ue no deviam cortesia alguma aosservi'ais.1 Embora, a rigor 1 disse Olana 1, como no so das prov7ncias do reino, voc:s seriamconsideradas menos !ue servi'ais em !ual!uer cidade de anland.ara $iri, estudar -onversa'o era to rid7culo !uanto estudar ostura. /odas sabiam falardesde !ue come'aram a andar, o !ue mais haveria para aprender3 orm, pelo menosen!uanto estudavam -onversa'o, as meninas tinham permisso para falar umas com asoutras, seguindo os princ7pios corretos, claro.Olana separou as meninas em pares e designou%lhes a categoria. $iri ficou feli# por formar parcom

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    eemplo, vamos supor !ue voc:s estejam num baile sentindo muito calor. &er" !ue algumpode me di#er como fa#er essa observa'o para o pr7ncipe sem falar sobre si mesma3A mo de atar se ergueu de imediato. Olana pediu !ue ela falasse.1 arece !ue est" um pouco abafado a!ui. &ua Alte#a est" sentindo calor31 $uito bom 1 disse Olana.$iri fran#iu o cenho para atar e depois abriu um sorrisinho maroto. Olana perguntou o !uese poderia di#er caso o pr7ncipe perguntasse como ela estava se sentindo. $iri levantou a moo mais r"pido !ue p=de.1 Num, vinha ansiosa por encontr"%lo, Alte#a. -omo foi a viagem3Olana ergueu uma sobrancelha.1 ;sso poderia servir, se fosse sem o ?hum?. atar abriu um sorrisinho pretensioso para $iri.1 -onversa'o idiota9 1 $iri falou para

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    fechou o livro com brutalidade. /alve# sua cabe'a estivesse desgastada pelas tentativasconstantes de esclarecer como funcionava a linguagem da pedreira, ou talve# ela no fossesuficientemente inteligente.ela janela, avistou >rid jogando bolas de neve a distGncia e Esa rindo de algo !ue dissera/onna, uma das meninas de CH anos. At atar estava no p"tio hoje, sentada na escadapegando um pouco de sol. A altura dos mont7culos de neve chegava ( cintura de $iri. Erapleno inverno.A pelagem dos coelhos estaria mais espessa agora e isso significava !ue era hora do abate.&empre havia celebra'o pela carne fresca para o guisado e pela pele para um gorro novo ouum par de luvas. $iri detestava a tarefa, mas a cumpria todo ano para poupar $arda, !uechorava ao ver !ual!uer criatura morrendo. ;maginou se a irm seria forte o suficiente parafa#er o abate este ano ou se o pai tomaria a si a tarefa uma noite dessas.&eus olhos se voltaram para o !uadro da casa. O desejo de ir embora da montanha dava a ela asensa'o de estar abrindo mo do pai e isso era algo !ue $iri no suportaria. $as, com a!uelacasa, poderia manter a fam7lia por perto e ainda viajar para outros lugares e aprender coisasnovas. E, se $iri ganhasse, $arda jamais precisaria matar um coelho e lavar sangue na nevederretida. apai jamais precisaria acrescentar "gua ( papa para dar conta de um jantar nomeio do inverno. oderiam todos ir se sentar ( sombra da!uela confort"vel casa e ficarbebericando refresco, aprendendo a tocar os instrumentos do povo da plan7cie e olhando asflores.As parcas "rvores e o capim do $onte Es@el no se comparavam aos jardins da plan7cie. ;ssofa#ia $iri pensar se no seria verdade !uando di#iam !ue o povo da plan7cie tinha o dom defa#er as coisas crescerem.nut entrou na sala de aula e parou assim !ue avistou $iri.1 Achei !ue estavam todas l" fora. Entrei s4 para limpar a sala.1 Ol", nut 1 ela disse. Ele no respondeu, nem se!uer reconheceu !ue $iri dirigira a ele a

    palavra, e ela riu por causa disso. 1 0oc: tambm fica proibido de falar fora de sua ve#, igual an4s3nut ento sorriu, e sua barbicha se espichou ainda mais.1 $ais ou menos. $as no acho !ue ela v" me colocar no !uartinho por di#er um ol".1 rometo !ue no vou contar. nut, voc: j" viu a casa desse !uadro31 O !u:3 A casa da princesa3 )o, acho !ue no, embora eistam muitas assim l" em Aslande nas outras cidades grandes. 2ardim bonito !ue essa da7 tem9 $eu pai foi jardineiro num lugarassim !uase a vida toda.1 uer di#er !ue o trabalho dele era cuidar do jardim o dia inteiro31 . elo menos, era a profisso dele. Ele tambm gostava de tocar de noite um instrumentoparecido com a flauta !ue se chama ?jop?, e tambm de levar a mim e minha irm para pescar

    nos dias de descanso.1 Numm. 1 $iri tentou imaginar o tipo de vida em !ue pescar era passatempo nos feriados,e no uma forma de se conseguir comida. 1 )o h" muitos jardins por a!ui.nut esfregou a barbicha grisalha.1 )o h" muitos3 Eu diria !ue no h" nenhum.$iri sentiu o rosto enrubecer, e estava pensando no !ue di#er em defesa de sua montanha!uando nut voltou o sorriso para a janela e disse81 )o !ue voc: precise deles para fa#er vista, com esses picos de montanha de tirar o f=lego.E imediatamente $iri chegou ( concluso de !ue nut era uma pessoa da melhor espcie.erguntou a ele sobre os jardins e as plan7cies, ouviu falar de fa#endas to grandes !ue erapreciso montar num p=nei ligeiro para chegar ( outra etremidade antes do meio%dia e dos

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    jardins sofisticados !ue os ricos tinham, cheios de plantas s4 para olhar, e no para comer. Eleensinou a ela os nomes de v"rias flores e "rvores do !uadro.1 $eu nome $iri, como a!uela flor#inha cor%de%rosa !ue cresce nos leitos rochosos. 0oc:st:m miris l" na plan7cie31 )o, acho !ue miri uma flor da montanha. Ele se assustou com um barulho !ue veio defora. 1 reciso ir. 1 Olhou l" para fora, pela porta, e ao redor da sala, como se verificasse seOlana no estaria por perto, ento se inclinou para perto de $iri e sussurrou8 1 )o gosto do

    jeito como Olana trata voc:. ;sso tem de mudar. 1 >e# um gesto na dire'o do livro !ueestava na mo dela. 1 -ontinue lendo esse a7, $iri, e voc: no vai se arrepender.Ento, $iri soltou um suspiro, sentou%se e tornou a abrir o -omrcio de $anland. At aobscura palestra de Olana havia sido mais f"cil de compreender. Ela disse !ue o comrcio era atroca de uma coisa de valor por outra coisa de valor. A +nica coisa de valor na montanha eramas pedras de cantaria, de modo !ue $iri folheou o livro em busca de alguma men'o a elas.Encontrou a passagem de um cap7tulo chamado ?

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    os animais !ue os mercadores atrelavam (s suas carro'as.1 )o precisa agir como se j" tivesse ganhado, $iri 1 disse icou olhando para os pr4prios ps,repousando tran!uilamente em cima de uma lajota de pedra de cantaria. /entou avaliar!uantos blocos de cantaria teriam sido usados para construir as funda'*es da!uele edif7cio,!uantas sacas de gros poderiam ser compradas, !uanta madeira para construir uma capelagrande o suficiente para abrigar toda a aldeia, comida suficiente para !ue ningum ficasse debarriga va#ia nas noites de inverno, uma biblioteca de livros, pano de fio tecido como o dasroupas do povo da plan7cie, sapatos novos, instrumentos musicais, doces para as criancinhas,uma cadeira confort"vel para cada av= e av4, e uma centena de outras necessidades e coisasbonitas. &e os mercadores fi#essem neg4cios justos, a aldeia se beneficiaria dos montes demaravilhas das !uais o resto do reino parecia desfrutar.Ela mal podia esperar para contar ao pai e a todo mundo na aldeia. O feriado da primaverachegaria em dois meses e ento a neve j" teria derretido o suficiente para permitir acaminhada at a aldeia. ecerto, Olana permitiria !ue elas voltassem para casa, a fim deaproveitar essa celebra'o.1 $iri9$iri se assustou ao ouvir seu nome e percebeu, tardiamente, !ue Olana j" o pronunciarav"rias ve#es.1 &im, /utora Olana3 1 disse, tentando mostrar docilidade.1 arece !ue voc: no teve tempo para contemplar o valor de prestar aten'o. 0oc: acabade perder o direito ao recreio at o fim da semana e, como isso no parece castigo suficiente,est" proibida de tocar nos livros durante esse per7odo.1 &im, /utora Olana. 1 )a verdade, $iri no se importou. Entre a linguagem da pedreira e o

    -omrcio, j" tinha muito !ue pensar.

    Captulo Nove

    1espirar, agitar, insinuar, escrever'uspirar, falar, contar, di#er

    2ada dia, cada nevasca, cada li'o antes do feriado da primavera parecia no ter fim, e $iriestava sentida e in!uieta com a espera. /oda noite, !uando se deitava, apegava%se ( ideia de!ue estava um dia mais perto de contar ao pai e aos alde*es sobre o -omrcio. /udo pareciasentir o antego#o da primavera. At atar ficava olhando pela janela como se estivesse

    medindo a profundidade da neve e contando os dias at !ue pudessem ir para casa.0encido o castigo de $iri, ela saiu para o p"tio com rid fa# coelho salgado to fininho !ue derrete na boca. E ch" !uente com mel, as +ltimasma's salgadas e tostadas, po no espeto assado na brasa e temperado com banha de coelho.

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    neve derretida batendo contra um galho ca7do... e o desejo de compartilh"%lo se apoderoudela. $iri hesitou.

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    correndo para a academia ao ouvirem o chamado de Olana. 1 E ele deve ter um bichinho deestima'o !ue o adora.1 &4 !uero !ue !uem !uer !ue venha a se tornar princesa seja muito, muito feli#. -asocontr"rio, de !ue serviria isso tudo, no mesmo3e volta ( sala de aula, en!uanto Olana dissertava sobre os princ7pios da -onversa'o !ue $iri

    j" havia memori#ado, ela deiou sua mente vagar, imaginou%se casando com um pr7ncipe !uese parecesse com eder e morando num pal"cio de pedra de cantaria, e pensou se seria,conforme

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    !uartinho. O !ue tinham em comum8 ambas haviam estado no !uartinho e ouvido o barulho!ue as garras da rata#ana fa#iam en!uanto ele andava ( sua volta.Os pensamentos de $iri come'aram a #umbir em sua cabe'a como moscas em cima dacomida. )o +ltimo dia antes de vir para a academia, $iri tinha ouvido oter falar para outrooper"rio da pedreira bater com menos for'a. -omo poderia saber o !ue oter dissera30oltando a pensar na!uele momento, deu%se conta de ter imaginado o momento em !ue$arda lhe ensinara como compactar uma rodela de !ueijo !uando ela usou for'a demais. Alinguagem da pedreira suscitara uma lembran'a real em sua mente e ela a interpretara como o!ue poderia significar na!uele momento8 usar menos for&a.A linguagem da pedreira usava recorda'*es para transmitir mensagens.eder e seu pai falavam sobre a linguagem da pedreira como se fosse algo inerente e $irisup=s !ue eles simplesmente no soubessem como funcionava, sem ligar para isso. $as $iriligava. Os afa#eres da pedreira sempre tiveram o aspecto de um segredo, belo e proibido.Agora era um segredo seu e guard"%lo consigo dava a ela uma sensa'o de aconchego epra#er, como a de tomar a +ltima 7cara de ch" com mel. 6ma sensa'o da !ual ela gostava9

    Captulo Dez

    ! lobo no vacila antes da mordida Ento vai.! falco no hesita antes do mergulho Ento vai.

    3ais uma nevasca e as nuvens ento se retiram para alturas mais elevadas !ue as montanhas.A for'a do inverno abrandou e o sol parecia mais pr4imo do $onte Es@el. Estava ardente, e ocu, de um a#ul vigoroso. A camada endurecida de neve amolecia e come'avam a surgirtrechos de terra, eibindo o verde !ue brotava da lama e subia pelas encostas. O cheiro dovento mudou8 o ar estava mais espesso, mais rico, como fica em torno das panelas ao fogo. A

    primavera tomava a montanha.As meninas olhavam cada ve# menos para os livros e mais para a animadora viso do pico do$onte Es@el, !ue trocava o branco pelo marrom e verde. $iri no conseguia pensar em voltarpara casa sem sentir um frio no est=mago. Estava to aflita para compartilhar os segredos do-omrcio e mudar as trocas entre os alde*es e os mercadores !ue chegava a estremecer.Ento, na vspera da jornada planejada para o feriado da primavera, Olana anunciou um teste81 &ei !ue voc:s esto pensando em voltar amanh 1 disse. 1 O feriado da primavera !uevoc:s t:m no tradi'o em anland e esta academia no tem obriga'o de acat"%lo. ue aprova determine se voc:s fi#eram por merecer o direito de voltar para casa. As !ue nopassarem ficaro na academia, dando continuidade aos estudos individuais.O teste come'ou com uma leitura em vo# alta e $iri se encolheu toda !uando >rid se

    atrapalhou com as palavras maiores, e erti no compreendeu nada do teto. Olana fe#perguntas sobre Nist4ria, eografia e Reis e Rainhas. As meninas escreveram as respostas emplacas de barro e desfilaram pela sala para eibir ostura, e ainda praticaram a -onversa'oem pares. Olana registrou o progresso de cada uma num pergaminho.or mais ecruciante !ue j" tivesse sido o teste, Olana o tornou ainda pior declarando !ue s4divulgaria as notas no dia seguinte.1 &er" bom para voc:s pensarem no seu desempenho at amanh de manh 1 disse.)o !uarto, antes de dormir, $iri ficou ouvindo sussurros desesperados at bem tarde danoite.1 reciso ir para casa.1 Eu tambm. -uste o !ue custar.

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    1 &ei !ue no passei. /enho certe#a. As perguntas estavam muito dif7ceis91 Ela nos detesta. 0ai reprovar todo mundo s4 de maldade.1 &il:ncio, seno ela nos reprova por estarmos conversando.)a manh seguinte, as meninas se sentaram to aprumadas em suas carteiras !ue maltocavam o espaldar. O peso do desejo !ue $iri sentia de ir para casa a envergava e aturdia. 'e!lana no me dei2ar ir,pensou, talve# eu tenha de correr.$as a menina no se achavapreparada para abrir mo da academia, de tudo !ue estava aprendendo, da esperan'a de setornar a princesa da academia e de ser o desta!ue especial, nem se!uer do desejo rudimentare furtivo ao !ual no se permitia durante per7odos mais prolongados8 o de deiar a montanha,dando ao pai a casa do !uadro, tornando%se princesa.1 Ento 1 disse Olana, encarando a turma com as mos dadas atr"s das costas 1, algum!uer se aventurar3)ingum respondeu.1 )o h" ra#o para delongas 1 dis