ac70 – amigos coimbra 70 de... · 2013. 1. 19. · denunciamos: as reformas de fachada, os...

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  • A história da crise de 1969 na Universidade de Coimbra ainda está por fazer, bem como toda a história da ditadura fascista. Só uma publicação da época conseguiu a coragem necessária

    I

    para furar a cQrrente da' censura, en-quanto toda a Imprensa portuguesa se revelou mais atreita a ser veio de transmissão ·dos comunicados oficiais - via S. N. I. Foi a revista "Estudos" (Agosto-Setembro-1969). dos estudantes u niversi�ãrios católicos ligados ao Centro A_cadémico da Democracia Cristã (C. A. D. C.). que relatou os

    acontecimentos numa análise cronológica e documental - um monumento bibliográfico indispensável para um estudo futuro da Universidade Portuguesa. Dele nos servimos para esta pequen a digressão que julgamos indispensável a anteceder o trabalho que realizámos com a Ôireccão-Geral da Associa-• ção Académica de Coimbra, numa al-tura em que a sua luta tem objectivos coincidentes com a garantia de uma liberdade de movimentos q1,.1e todos desejamos sejam aproveitados como con-

    • vem.

    ,..., .. ,0$ pedidos de abertura do ensino para todos os portugu!)ses com cap acidade contava com a generosidade dos ' '

    ' ' JOVens:..,. r.

    1. 17 DE ABRIL \

    A p ó s várias diligências efectuadas pela Junta de Del�ados de Ciências e Direcção-Geral da A. A. C., para que a voz do corpo discente se fizesse ouvir na sessão inaugural do edificio da Secção ,de Matemáticas, perante a ne�tiva das autoridades, mandataram os

    ' estudantes o Presidente da A. A. C., Alberto Martins, a fim de, no decurso da sessão, formular, com o devido respeito, ao Senhor Presidente da República o pedido para usar da palavra em nome da Academia. , Pode dizer-se que essa recusa da palavra

    ' . aos estudantes foi a causa próxima da actual crise académica, já que o motivo mais pro· fundo estará intimamente ligado à própria vi-da da lnstitu ição Universitária.

    Segundo comunicado da Direcção-Geral e da Juntâ de Delegados de Ciências distribu 1-

    do em 16 de Abril, os motivos alegados pelo Magnífico Reitor para não conceder a palavra foram fundamentalmente:

    " 1 - o Magnífico Reitor ao discursar representava a Universidade;

    2 -- a possibilidade de um estudante falar vinha prejudicar as prescrições protocolares;

    3 - o Senhor Presidente da República tinha de visitar todo o edifício, o que não lhe permitiria um alongar da sessão."

    Às dez horas do dia 17 reuniram-se nas instalações académicas cerca de um milhar de estudantes que, dirigindo-se para o Largo D. Dinis, frente ao �ovo ediflcio, transportaram· consigo e exibiram os seguintes cartazes:

    "Ciências apoia a sua Junta de -Delegados"; " ... Mas a Universidade é Velha"; "Em Portugal há 40 por cento de analfabetos"; "Ensino para todos"; "Não esqueceremos os nove pontos"; "Estudantes no Governo da

    Universidade"; "Reintegração de Professor•� e A lu nos expulsos"; "Exigimos o Diálogo" "Impõem-nos o Diálogo do S1lêncio"; "lnterveQção das A. A. E·, E. na vida e reforma d Universidade"; "Democratização do Ensino" "Apoiamos a Direcção da A. A. C.".

    Ao Prelado da Diocese, também presente, tinha sido pedida a sua comparência par proceder à bênção do ediffclo, o que ele fe depois de ter lido a explicação seguinte:

    "1 - Pediram-me que fizesse a bênçã deste edi·fícig1c e nexo com os npssos pensamentos e os nos sos sentimentos:( ... )

    · .

    Tendo discursado o Magnffico Reitor e Decano da Faculdade de Ciências, o Pres· dente da A. A. C., re$f)eitosamente, pediu palavra ao Chefe do Estado.

    Nesse mesmo momento os estudantes qu permaneciam exteriores à sala, tentando gu ir os discursos através dos altifalante apoiaram em uníssono a diligência do se representante, seguindo-se um silêncio de e pectativa ante a resposta de Sua Excelência Este, de momento, deu a palavra ao Senh Ministro das Obras Públicas. . . ' '

    Nos instantes· seguintes, enquanto discur vam Q Ministro das Obras Públicas e o Mini tro da Educação Nacional, os estudante dentro e fora da sala, aguardaram impacie temente que o seu pedido fosse atendido.

    Inesperadamente, acabado o discurso · Senhor Mini$-tro da Educação Nacional J sem ter usado da palavra Sua' Excelência Presi dente da República.' as Autoridad abandonaram a sala, perante a surpr esa d Academia.

    Foi então que se fez ouvir o forte prote to dos estudantes que enchiam o átrio e concentravam· à porta do edifício, num cli de tensão aumentado com o evoluir d acontecimentos.,;.>.

    Acto imediato à safda das autoridades sala Infante O. Henrique, esta foi ocupaotfl pelos estudantes que ai realizaram uma nn·u! sessão. Transcrevemos a Carta Aberta da "ull ta de Delegados de Ciências lida nessa sessãq

    "A Universidade que queremos: Desde sempre os estudantes. afirmaram

    ser a Universidade que conhecem aquela a Nação necessita.

    O País precisa, mais que nunca, de u Escola aberta a todos e não a uma minor economicamente favorecida; uma Escola fomente o progresso e cidadãos válidos, c . . cientes, capazes de realiza( as aspirações seus concidadãos. ( ... )

    Sempre os estudantes desejaram n:.ortir·i.U na construção da Universidade que a Na1� necessita. Nesse sentido deram já o prímel� passo: construftam democraticamente e

  • tu r as indispensáveis para realizar a Universi-1���=iiiiii;ti;;�=;���=:=� :::�::::::::::;::=;::;;:=;�;::=:=:::;=;�;;�:;;:;:; dade Nova.

    Oue fizeram as autoridades?(. .. )

    Vão hoje as autoridades escolares e gover· namentais inaugurar o novo Ediflcio da Secção de Matemática da Faculdade de Ciências.

    Vestes novas para um corpo moribundo. Mas a roupagem será verdadeiramente no

    va? Projectado um ano depois de acabada a se

    gundá Grande Guerra, só passados vinte e· três anos é inaugurado. � evidente que decorrido tal lapso de tempo, o imóvel é mais que insuficiente para as necessidades actuais, e já durante a sua construção certas dependências foram eliminadas.( ... )

    Não há salas de estudo, nem instalações para os ai unos.

    As instal ações não podem ser ampliadas. A Junta de Delegados de Ciências comu ni·

    cou às autoridades a reivindicação dos alunos da Faculdade, de que, na cerimónia inaugural, e como primeiro passo para a comparticipação na gestão universitária, estivesse presente, conjuntamente com o Presidente da A. A. C., urn representante dos alunos da Fa· culdade. Como habitualmente, a existência da Junta de Delegados foi ignorada e a resposta negativa. A nossa participação reduziu· -se ao pagamento de uma caução de vinte escudos, que temos de interpretar como empréstimo forçado para obviar as reconhecidas dificuldades orçamentais.

    Oue querem os estudantes de Ciências? 7. Reconhecimento das estruturas representativas dos Cursos, condição i ndi,spensável para: 2. Participação nos Órgãos de governo Escolar, sem a qual não é posslvel a: 3. Participação na reforma da Faculdade de Ciências. t..)

    Protestamos: -Contra um sistema repressivo de ensino,

    que subtrai ao convfvio da Universidade os estudantes - que são a sua razão de ser.

    Denunciamos: As reformas de fachada, os edificios novos

    já desactualizados, os actos empolados, grosseiros tapumes de uma realidade, bem mais negra, a que nos força.ram."

    Para uma melhor análise crítica do dese· nrolar dos acontecimentos, publicamos, por ordem cronológica, os textos que referem os factos ocorridos.

    ·

    - Do comunicado da Junta de Delegados de Ciências de 17/4/1969:

    "Após um prólogo protocolar em que usaram da palavra alguns oradores não estudantes, teve início a inauguração do Edif(cio pelos estudahtes da Faculdade, com a presença de muitas centenas de colegas de toda a Universidade.

    Usaram da palavra o Presidente da Direcção-Geral da A. A. C., um representante da Junta de Delegados de Ciências e um repre· Sli!ntante da Comissão Nacional dos Estudantes Portugueses.

    Por proposta da Junta de Delegados de C i ências, foi declarado por unanimidade, considerar-se o dia 17 de Abril o dia da Fa-

    ... e as bastonadas e car ros d·e combate protegidos a arame farpado.

    cu Idade de Ciências. Mais uma vez a unidade de todos permitiu

    alcançar a vitória. A actuação conjunta de es· tudantes, Juntas de Delegados e Direcção da A. A. C. explicam o êxito desta jornada."

    - Do comunicado da D. G. da A. A. C. de 19/4/ 1969:

    "1 - Ontem, na cerimónia de inauguração do edifício da Faculdade de Ciências, o Presidente da A. A. C. pediu autorização às autoridades presentes para usar da palavra em nome dos estudantes. Nada lhe foi respondido, pelo que os estudantes aguardaram ordeiramente a vez de ser concedida a palavra ao seu representante.

    Mas a cerimónia terminou abruptamente, e a sala foi abandonada pelas entidades oficiais.

    Os estudantes ocuparam então a sala deixada vazia, fazendo ouvir a sua voz através do Presidente e outro elemento da Direcção-Geral da A. A. C., dum representante da Junta de Delegados de Ciências, e da Comis· são Nacional dos Estudantes Portugueses."

    ... Dia 17 de Abril, pelas 11 horas, mais de

    um milhar de estudantes apareceram nas novas instalações, na firme convicção de que a sua voz, através do Presidente da A. A. C •• se faria ouvir nessa manhã festiva da Universidáde de Coimbra.

    O aperfeiçoamento da comunidade univer· sitária só é passível de construção no resp eito mútuo, no diálogo e na colaboração entre as suas duas partes essenciais: os estudantes e os p rofessores. O Prof. Marcelo Caetano, quando Reitor da Universidade de Lisboa, perante situação idêntica, afirmou claramente:

    "Tenhamos esperança em que nas novas instalações se desenvolva e robusteça o espí· rito universitário e se estreitem intimamente as relações entre professores e alunos. Esse é o voto mais veemente do Reitor!"

    (Prof. 'Marcelo Caetano, entrevista .concedida ao jornal "Quadrante", número 9, em Dezembro c_le 1961 ). t .. )

    No acto inaugural do dia 17 e na linha já definida de "esgotar todas as vias para que os estudantes, estando presentes, pudessem participar na sessão inaugurativa", o Presidente da A. A. C., dirigindo-se respeitosamente a Sua Excelência o Presidente da Repúbli· ca, pediu a palavra, nestes termos:

    "Neste momento, peço a Vossa Excelên· cia, Senhor Presidente da República, para falar nesta sessão, na qualidade de representante dos estudantes de Coimbra."

    Sua Excelência respondeu: "Bem, mas agora fala o Senhor Ministro

    das Obras Públicas .. .'' Os estudantes ·aguardaram. Mas tal preten

    são, apoiada na legiti midade dos nossos anseios e na correcção do nosso procedimento, havia, porém, de ser inexplicavelmente esquecida.

    As autoridades abandonaram as instalações sob o protesto veemente dos presentes, enquanto os estudantes, ocupando a sala deixada vazia, procediam à autêntica inauguração do edifício.

    Os estudantes disseram então vibrantemen· te aos estudantes aquilo que lhes havia sido impedido de, comunicar aos professores, às �utoridades académicas e à Nação Portugue-

    .. sa. f·. ·> E m 23 de Abril o Ministério da Educacão •

    Nacional publica a seguinte nota oficiosa: "Durante a inauguração do novo edifício

    da Secção de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, um grupo de a lu nos daquela Universidade comportou-se sem a consideração devida ao venerando Chefe de Estado que com a sua presença se dignou honrar a referida cerimónia inaugural. As autoridades académicas ordena· ram já a suspensão dos alunos directamente responsáveis por tais factos e, pelas entidades

  • competentes foi instaurado o processo criminal por infração prevista e punida pelo artigo 1660. do Código Penal." ...

    2. 18 DE ABRIL

    Cerca das duas horas da madrugada, quando saía das instalações académicas, o Presidente da A. A. C., Alberto Martins, foi deti· do pela Polícia Internacional d e Defesa de Estado. Acto continuo, os restantes elementos da Direcção-Geral da A. A. C. entraram em contacto com o Magnífico Reitor, Gover· nador Civil e Ministro da Educação Nacional a fim de conseguirem a sua libertação.

    Entretanto, ao saber do ocorrido, dezenas de estudantes deslocaram-s e à sede daquela Polícia para colher mais informações e "viram-se atacados por cães polícias e agredidos por polícias de choque armados de metralhadoras."

    Deste encontro saíram alguns estudantes feridos e um particular que recolheu em esta· do grave a o Hospital.

    No entanto, no fim da manhã, antes de se realizar no Páteo dos Gerais uma reunião de informação, foi posto em liberdade Alberto Martins, tendo logo os estudantes tomado conhecimento do facto.

    À tarde, realizou-se uma Assembleia Magna, onde se inicia o processo de reivindicação da Autonomia Universitária , como ressalta das propostas votadas!

    - A participação no Senado Universitário por intermédio da Direcção-Geral da A. A. C.

    -O reconhecimento das Juntas de Delega· dos como estruturas representando os estu· dantes, porque democraticamente eleitas.

    Refira-se ainda que, relativamente à inge· rência de autoridades não universitárias na vida acadêmica, se votou o seguinte:

    - Se exprima ao Reitor da Universidade o desejo dos estudantes participarem, através do Presidente da A. A. C., na reunião do Senado Universitário em que o assunto (da protecção do Senado aos estudantes) seja debati· do(5)

    3. 22 DE ABRIL

    Enquanto uma relativa calma se começava a fazer sentir na Academia, na manhã deste dia os estudantes tomam conhecimento de que Alberto Martins (Presidente da A. A. C.), Osvaldo Sarmento e Castro (Vic�Presidente), Fernanda Bernarda (1. Secretário), Matos P� reira (Tesoureiro), Celso Cruzeiro (Vogal às Secções Culturais), Gil Antunes (Vogal às Secções Desportivas), Barros Moura (Membro da C. N. E. P.) tinham recebido uma comunicação em carta pessoal, assinada pelo Secr� tário da Universidade, conforme ordem do Ministro da Educação Nacional, de que se encontravam " ... preventivamente privados de todas as prerrogativas universitárias e proibi· dos de quaisquer actividades relacionadas com a Universidade, incluindo a frequência às aulas, até conclusão do inquérito" (6)

    Na tarde do mesmo dia, Carlos Baptista, da Junta de Delegados de Ciências, Presiden-

    • 14

    te do Conselho F isca I da A. A. C., tomou conhecimento, pela mesma via, de que também ele se encontrava suspenso.

    Ainda nessa tarde se reuniu uma Assembleia Magna de estudantes, onde, perante a presença de numerosos professores e como medida de solidariedade para com os colegas suspensos se aprovou a proposta seguinte:

    "Que seja decretado luto académico com vá r ias formas:

    1 - Que amanhã, dia 23, os estudantes a) - evitem sob todas as formas que as aulas se realizem; b) - transformem essas aulas, sempre que possível, em debates onde sejam discutidoJ os últimos acontecimentos, bem como os problemas próprios da Facu Idade (que essa discussão seja feita com base nos comunicados sa idos).

    2 - Que se realize às 12 horas, amanhã dia 23, uma Assembleia Magna nos Gerais onde sejam decididas as formas posteriores de luto académico, convidando os professo· res a tomar parte na mesma

    3 - Que o luto sirva para reivindicar os seguintes pontos: a) - levantamento imediato das suspensões e que não sejam instaurados processos disciplinar1!s; b) - não marcação de faltas aos estudantes suspensos; c) - que, se eventualmente as suspensões se mantiverem, as faltas dadas pelos estudantes suspensos não sejam contadas."

    Salientamos que, para que os seus alunos pudessem participar na Assembleia Magna, houve professores que não deram aulas e outros que a si mesmos marcaram falta para que os alunos suspensos não ficassem prejudicados . ...

    ' . . •.

    Em seguimento da proposta aprovada em Assembleia Magna do dia anterior e de outras aprovadas posteriormente, os alunos passaram a recusar as aulas e, abeirando-se dos professores, tentaram gerar um clima de diálogo entre os dois corpos - docente e discente.

    As aulas deixaram então de se realizar, quer porque os alunos as impediam, quer por inic i ativa própria dos professores.L)

    A discussão ampla da vida univers1târia obriga a leituras, consultíJS, conversas com professores e discussões por grupos. Foi esta experiência de trabalho comum, ponto de • partida para um maior conhecimento das pessoas e para um fortalecimento dos laços de amizade entre colegas que até aí qua�e se desconheciam. .. .

    5. 30 DE ABRIL

    Através da TV, o Ministro da Educacão Nacional, Dr. E-I mano Saraiva, referindo-se aos acontecimentos de Coimbra faz a seguin · te declaração:

    "Dada a evolução dos actos de indisciplina que nos últimos dias se têm verificado na Universidade de Coimbra, considerei van· tajoso pôr o Pais ao corrente da situação Tal, pois, o objecto das palavofas que vou proferir.

    Os factos foram os seguintes: Quando decorria a cerimónia da inaugura

    ção d o novo ediflcio da secção de Matemáti· ca da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, e depois de terem usado da palavra os dois oradores, que mal se conseguiram fazer ouvir no meio da vozearia dos estudantes que enchiam o recinto e a escadaria anexa, um a lu no da Universidade dirigiu-se ao Chefe do Estado e pediu para falar na

    . '

    Aos pedidos de diálogo estudantil respondeu o ministro E I mano Saraiva com a "fraqueza" da tropa choque. ..

  • ... mas a unidade dos estudantes é sempre uma força qu e mesmo ver:�cida não deixa de ter razão.

    qualidade de representante dos estudantes de Coimbra. Essa intervenção foi im ediatamente sublinhada por uma ruidosa e demorada ma· nifestação dos estudantes presentes.

    Ordenou-se, factos.

    • • # • por ISSO, um 1nquento aos

    ... Os estudantes suspensos ocupavam cargos

    de chefia nos movimentos académicos e • mantê· los nessas funções ser ia incorrer no ris· co de agravar a questão, de prejudicar as in· vestigações e de fazer nascer novos inciden· tes.

    A ansiedade com que se começa a pergu n· tar entre a população de Coimbra "como vão reagir os estudantes?", parece ser um sinto· ma d e que a "segurança social" se sente abalada.

    O Movimento estudantil está irreversivel· mente lançado para as consequências, por· ventura graves, das posições assumidas.

    No dia 5 de Maio o Ministério da Educa· ção dec idiu suspender as activ idades escolares até ao in ício dos exames.

    7. 7 DE MAIO

    Em reun_ião de Grelados, decide-se a não realização da Queima das Fitas. A Comissão Central da Queima das Fitas distribui no dia seguinte o comunicado :

    "A Queima das fitas da Universidade de Coimbra é uma das muitas manifestações da Academia - a festiva. As comissões são ape· nas a estrutura onde se plasma e projecta, in· clusivamente a n lvel internacional, a alegria da Academia Coimbrã.

    Enquadrava assim a Queima das Fitas na sua verdadeira dimensão como parte inte-

    grante e indissolúvel duma Academia, teceremos breves considerações acerca do que ac· tualmente se passa em Coimbra e que foi a motivação de deliberação da Assembleia Geral de grelados.

    Quando se apontam os estudantes universitários como os elementos privilegi ados duma sociedade, não o negamos. Mas quando nos afirmam que a Universidade não é de estu· dantes e professores mas da Nação e que apenas contralmos a obrigação de estudar pa· ra nos aperfeiçoarmos tecnicamente no sen ti· do de uma contribuição para maior rendi· mento das estruturas do Pais, respondemqs:

    1. Repudiamos o estatuto de parafuso bem confeccionado que possa servir a qual· quer máquina

    2. Não esquecemos que contraímos peran· te a Nação a responsabilidade da nossa mais completa funcionalidade com vista a um mais rápido progresso do País. Todavia, não nos demitimos de sermos nós também a es· colher os fins que temos obrigação de servir e não aceitamos que alguém nos transforme em meros servidores de estruturas determina· das para o levantamento das quais não nos foi reconhecido o direito de nos pronunciar· mos.

    ... Assim, numa inquebrantável solidariedade

    e comunhão desse corpo orgânico, os grelados da Academia de Coimbra deliberaram cancelar a: Queima das Fitas. Jamais aceitaremos que alegria se confunda com irresponsa· bilidade. "Enterremos este ano a Queima das Fitas porque não queremos enterrar os estu· dantes."

    Perante os Colegas dirigentes castigados, nossos representantes, sentimo-nos todos castigados como eles, todos ofendidos como eles. Juntamos a nossa voz:

    1 - ao repúdio d e todas as afirmações que teimam colorir as nossas costas de vermelho. amarelo, azul ou doutra cor qualquer.

    2 - à adiemação veemente de que, atrás de nós, não está quemquer que seja e ã nossa frente e na nossa luta se encontram problemas académicos integrados nos elementares Direitos do Hom.em .

    . . .

    8. 8 DE MAIO

    Lê-se numa nota proveniente da Reitona da Universidade de Coimbra:

    "Tendo-se propagado que não se realizarão exames na época de Junho-Julho, a Reitoria da Universidade de Coimbra esclarece que não se prevê qualquer adiamento de actos."

    9. 9 DE MAIO

    Em carta aberta a todos os estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, refere-se:

    " ... 1 - Desde há muito vêm os estudantes lutando pela satisfação de algumas das suas mais elementares reivindicações, que visam, em última análise, uma verdadeira Reforma ria Universidade Portuguesa.

    O incidente de 17 de Abril, em si mesmo, significa algo mais do que aquilo que as autoridades pretendem - um acto de "indisci· plina" de um pequeno número de "agitadores irresponsáveis",

    Na realidade, ele veio precipitar um estudo concreto dos problemas pedagógicos, num sentido mais amplo de organização:

    ... 3 - Numa Assembleia Magna realizada no

    dia 9 de Maio foi aprovada por maioria absoluta a continuação do luto académico até que os castigos sejam levantados, m esmo du· rante os exames, se .tal f o r necessário.

    Deste modo, criou-se uma situação, da qual não se podem alhear nem alunos ordinários, nem voluntário� - antes se exige uma maior unidade entre todos e uma verdadeira tomada de posição,"

    Juntamente com esta carta foi distribuída uma folha com excertos de obras sobre o ensmo onde os exames eram postos em questão.

    • • •

    12. 28 DE MAIO

    Na manhã do dia 28 de Maio, foi difundido o seguinte comunicado da Reitoria da Universidade d e Coimbra:

    "1 - Ante a insistência como que se procura fazer crer aos estudantes e suas famílias que os exames da próxima época de Junho·Julho se não realizarão, a Reitoria da Universidade de Coimbra declara-se em condições de garantir que o serviço de exames funcionará como sempre.( .. . )

    Em nada a suspensão preventiva poderá prejudicar tais alunos. Se se concluir pela existência d e culpa, serão punidos nos ter-

  • rnos da lei; se se concluir pela inexistêncsa , 11ão sofrerão qualquer dano nas suas carreiras •? se o lares."

    Neste mesmo dia, a partir das 16 horas, cerca de 5000 estudantes (a Universidade tem cerca de 8700), reunidos em Assembleia Magna, discutiram e votaram a seguinte proposta, com 40 abstenções e 190 votos éontra, admitindo a mesa uma margem de erro de 10 por centO:(n•)

    Propomos: 1 - Oue se decrete a Abstenção de exa·

    •1es (como forma prática de Luto Académi· co já decretado na última Assembleia Magna) enquanto não forem satisfeitas as reivindicações estudantis anteriormente definidas:

    - levantamento das suspensões, levantamento dos processos de inquéri·

    to, não marcação de quaisquer faltas duran·

    te o pedodo de Luto Académico. 2 - Oue todos os estudantes, com a sua

    presença diária na Universidade, assegurem o c umprimento efectivo dessa dei iberação, to· mando, para o efeito, as medidas adequadas de acordo com as condições de cada Faculdade."

    13. 2 DE JUNHO PRIMEiRO DIA DE EXAMES

    Estudantes e polícias são os primeiros madrugadores da cidade, na manhã deste diit esperado com tanta inquietação e angústia.

    O dia acorda com a Universidade ocupada por todo um arsenal bélico: carrinhas com po licia de choque e P. S. P., carros-patrulha, polícias com cães. G. N. R. a cavalo e em "jeeps", camião cisterna munido de bomba de azu I de metileno e a P. I. D. E.

    Unidades móveis patrulham todas as prin· cspais artérias da cidade alta. Os acessos à Un iversidade estão todos estrategicamente "tapados" por cordões policiais a pé, a cava· lo, e de carro, que exigem a identificação a quem quer que deseje passar para a cidade universitária, só o permitindo aos professo· res, empregados que ai exerçam a sua activi· dade profissional e aos estudantes que, dese· ,ando fazer exame, apresentem um cartão da Secretaria da Universidade que certifique po· derem nesse dia e a essa hora prestar provas.

    . .. O movimento de pessoas e de carros poli·

    ciais, desusado nesta tranquila cidade, man· tém·se toda a manhã. À medida que o sol se aproximava do meio-dia, os estudantes con· fluíam para a Praça da República. Manhã de agitação, mas apesar de tudo manhã de or· dem, para além da anarquia natural das grandes massas em movimento. Com calma cumpriam-se as ordens das forças poliéiais. Pa· trulhas da G. N. R. percorriam constantemen· te as ruas vizinhas da A. A. C., chegando até a subir aos passeios para dispersarem os estudantes. A G. N. R. a cavalo ensaiou alguns trotes pelas avenidas mais próximas. O sol apertava. Não se podia estar parado nem mesmo a uma sombra acolhedora, porque o megafone, "em nome da lei" (sic}, mandava

    dispersar e não permitia aglomerações. As esplanadas, os cafés e os jardins são então inva· didos por uma Academia, ordeira e pacífica. Da parte da tarde, os "jeeps" da G. N. R. apres entavam-se munidos de uma grelha de arame farpado, mol'ltada na vertical sóbre a parte da frente, continuando a varrer os pas· seios e ruas na sua missão de evitar os aju n· tamentos. Sempre que grupos maiores de estudantes se avistavam, as forças policiais c on· tinuavam a obrigar a uma dispersão rápida. Foram detidos numerosos indivíduos pelos ma is diversos motivos: estar parado, respon· der a algum polícia, ser portador de máquina fotográfica, etc.

    15. UM CLIMA DE VIOLENCIA?

    Ao longo deste tempo de exames, ia-se tendo conhecimento das percentagens de "furos", e esses estudantes, considerados pela Academia como "traidores" eram conheci· dos de todos através de listas com os seus nomes, caricaturas e fotografias afixadas na

    A. A. C .

    Continua um clima ele tensão e é neste contexto que se situam algumas erupções da parte dos estudantes.

    . Sobre um caso concreto de violência a Di-

    recção da A. A. C. esclarece a Academia através do seguinte comunicado:

    "Há momentos tomámos conhecimento que, na tarde de ontem, indivíduos desconhecidos agrediram, na sua residência, a es· posa do Assistente da Faculdade de Direito, dr . Leite de Campos.

    A referida senhora, que se encontra em estado de gravidez, foi violentamente agredida, ficam assim em precário estado de saúde.

    A Direcção-Geral da A .A.C., assim como toda a Academia que se orgulha de si própria e do seu próprio movimento, ficaram amar· gamente surpreendidas com tão miserável acto que não merece perdão. A Academia de Coimbra exige justiça e ela própria está interessada em descobrir quem, praticando acto tão vil, se torna necessariamente suspeito nos

    ; . ' , . seus proposttos provocatorsos, nos seus pro· pósitos de pôr em cheque um movimento que só a calúnia miserável pode tentar afec-

  • ' '

    batalha campal nos acessos às instalações u niversitfl-

    ertava para entrar em cheio. Desde cedo estava

    idido o seu destino que o negro das capas dos est1udantes simb olizava .. À DIREITA- Nesse tempo "'in