resolução comentada - fuvest 2011 - curso objetivo€¦ · montmartre. (...) mas a basílica em...

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P P O O R R T T U U G G U U Ê Ê S S 1 Examine esta propaganda de uma empresa de certificação digital (mecanismo de segurança que garante autentici- dade, confidenciabilidade e integridade às informações eletrônicas). a) Aponte a relação de sentido que existe entre a men- sagem verbal e a imagem. b) Forme uma frase correta e coerente com base em um verbo derivado da palavra “burocracia”. c) “Estar com os dias contados” é uma das dezenas de locuções formadas a partir do substantivo “dia”. Crie uma frase em que apareça uma dessas locuções (sem repetir, é claro, a locução utilizada na propaganda acima). Resolução a) A tecla delete representa o avanço tecnológico, que seria responsável pelo fim próximo dos métodos de organização e trabalho representados pelo carimbo, símbolo da burocracia. b) O verbo derivado do substantivo burocracia é burocratizar. Exemplo: Os planos de saúde burocratizam o acesso a exames médicos mais complexos. c) Seria possível construir frases com as locuções todo dia, dia a dia, dia e noite. Exemplo: Dia a dia crescem os congestionamentos no trânsito de São Paulo. F F U U V V E E S S T T ( ( 2 2 ª ª F F A A S S E E ) ) J J A A N N E E I I R R O O / / 2 2 0 0 1 1 1 1

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Page 1: Resolução Comentada - FUVEST 2011 - Curso Objetivo€¦ · Montmartre. (...) Mas a basílica em cima não nos interessou, abafada em tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra

PPOORRTTUUGGUUÊÊSS

1Examine esta propaganda de uma empresa de certificaçãodigital (mecanismo de segurança que garante autentici -dade, confidenciabilidade e integridade às informaçõeseletrônicas).

a) Aponte a relação de sentido que existe entre a men -sagem verbal e a imagem.

b) Forme uma frase correta e coerente com base em umverbo derivado da palavra “burocracia”.

c) “Estar com os dias contados” é uma das dezenas delocuções formadas a partir do substantivo “dia”. Crieuma frase em que apareça uma dessas locuções (semrepetir, é claro, a locução utilizada na propagandaacima).

Resoluçãoa) A tecla delete representa o avanço tecnológico, que

seria responsável pelo fim próximo dos métodosde organização e trabalho representados pelocarim bo, símbolo da burocracia.

b) O verbo derivado do substantivo burocracia éburo cratizar.Exemplo: Os planos de saúde burocratizam oacesso a exa mes médicos mais complexos.

c) Seria possível construir frases com as locuçõestodo dia, dia a dia, dia e noite.Exemplo: Dia a dia crescem os congestionamentosno trân sito de São Paulo.

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2Leia o seguinte texto e responda ao que se pede.

Em boca fechada bem-te-vi não faz ninho

Campos de Melo passou todos os anos de sua vereançasem dar uma palavra. Era o boca de siri da câmaramunicipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto,como quem ia falar. O presidente da Mesa, mais do quedepressa, disse:

— Tem a palavra o nobre vereador.

Então, em meio do grande silêncio, o grande mudofalou.

— Peço licença para fechar a janela, pois estouconstipado.

(José Cândido de Carvalho, Se eu morrer, telefone para o céu.)

a) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que, tantodo ponto de vista da estrutura quanto da mensagem, otítulo do texto constitui um provérbio?

b) Que frase do texto contribui de maneira mais decisivapara dar um caráter anedótico a essa breve narrativa?Justifique sua escolha.

Resoluçãoa) O título constitui um provérbio quanto à estru -

tura: frase curta, sintética e sugestiva, com verbono presente do indicativo e formulação de umprincípio de conduta. Em relação à “mensagem”,o provérbio se aplica ao comportamento da per -so na gem, que só quebra seu longo silêncio parapro ferir uma irrelevância.

b) A frase que contribui para o caráter anedótico dotexto é a última, porque ela quebra a expectativado leitor, gerando um efeito de humor caracte -rístico da anedota: narrativa breve de um fatoengraçado ou picante.

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3É correto afirmar que os textos “a” e “b”, a seguir, podemser entendidos de maneira diferente da que pretendiamseus redatores? Justifique sua resposta separadamentepara cada um dos textos.

Texto a: Alguns sonhos não mudam. Quer dizer, só de ta -ma nho. (Propaganda de uma instituição ban -cária)

Texto b: A chuva tirou tudo o que eles tinham. Agoravamos dar o mínimo que eles precisam. (Cam -panha feita por estabelecimentos comer ciaisem prol de vítimas de enchente)

Resoluçãoa) Não há elementos suficientes para que se decida

se a primeira afirmação – “Alguns sonhos não mu -dam” – se refere a indivíduos (cada pessoa man -tém os mesmos sonhos ao longo do tempo) ou àcoletividade (todos têm os mesmos sonhos). Noprimeiro caso, se entenderia que a dimensão dossonhos varia com o tempo; no segundo, que taldimensão varia de pessoa para pessoa. Qualquerque tenha sido a intenção do redator, sua redaçãoadmite ambos os entendimentos.

b) “Dar o mínimo” pode implicar tanto uma atitudegenerosa (todo o mínimo) quanto uma restriçãomes quinha (apenas o mínimo). Tratando-se deuma campanha benemérita, é de supor que a in -tenção corresponda ao primeiro sentido, mas osegundo é igualmente possível.

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4Leia os seguintes versos de “Alegria, Alegria”, deCaetano Veloso, e, em seguida, os dois comentários emque os autores explicam por que essa canção é uma desuas prediletas.

Caminhando contra o ventoSem lenço e sem documentoNo sol de quase dezembroEu vou

O sol se reparte em crimesEspaçonaves, guerrilhasEm cardinales bonitasEu vou

Em caras de presidentesEm grandes beijos de amorEm dentes, pernas, bandeirasBomba e Brigitte Bardot

(...)

Ela pensa em casamentoE eu nunca mais fui à escolaSem lenço e sem documentoEu vou

Eu tomo uma coca-colaEla pensa em casamentoE uma canção me consolaEu vou

Por entre fotos e nomesSem livros e sem fuzilSem fome, sem telefoneNo coração do Brasil(...)

http://www.caetanoveloso.com.br

I. “A linguagem era nova, cheia de referências visuais, etudo estava ali, combinando temas que nem semprepareciam combinar: despreocupação, engajamentopolítico, tecnologia, lirismo... .” Laura de Mello eSouza. Adaptado.

a) Transcreva um verso* que ilustre, de modo maisexpressivo, o que está sublinhado nesse comentário.Justifique sua escolha. *(verso = uma linha.)

II. “A canção era importante pela força mágica de afirmara potência criativa da vida em meio à fragmentação domundo.” Jurandir Freire Costa. Adaptado.

b) Transcreva um verso que exemplifique, de modomais evidente, o que está sublinhado nessecomentário. Justifique sua escolha.

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Resoluçãoa) O verso que sintetiza engajamento político e

tecnologia é Espaçonaves, guerrilhas. Espaçonaves representa a tecnologia aeroespacialdo século XX e guerrilhas refere-se à luta armadaempreen dida por movi mentos revolucionários quecombatiam o governo ditatorial.

b) A fragmentação do mundo está mais evidente noverso “Em dentes, pernas, bandeiras”, formadode sinédoques, ou seja, metonímias em que partessão tomadas por todos, representando pessoas ecole tividades ou ideais.

5Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.

Tem-se discutido muito sobre as funções essenciais dalinguagem humana e a hierarquia natural que há entreelas. É fácil observar, por exemplo, que é pela posse epelo uso da linguagem, falando oralmente ao próximo oumentalmente a nós mesmos, que conseguimos organizaro nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado enítido; é assim que, nas crianças, a partir do momentoem que, rigorosamente, adquirem o manejo da língua dosadultos e deixam para trás o balbucio e a expressãofragmentada e difusa, surge um novo e repentino vigorde raciocínio, que não só decorre do desenvolvimento docérebro, mas também da circunstância de que o indivíduodispõe agora da língua materna, a serviço de todo o seutrabalho de atividade mental. Se se inicia e desenvolve oestudo metódico dos caracteres e aplicações desse novoe preciso instrumento, vai, concomitantemente,aperfeiçoan do-se a capacidade de pensar, da mesmasorte que se aperfeiçoa o operário com o domínio e oconhecimento seguro das ferramentas da sua profissão. Eé este, e não outro, antes de tudo, o essencial proveito detal ensino.

J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.

a) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação dalinguagem com o pensamento.

b) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação dalinguagem com a fisiologia.

c) Segundo o autor, qual é o “essencial proveito” doensino da língua?

Resoluçãoa) O autor trata das relações de linguagem com o

pensamento em: “... é pela posse e pelo uso dalinguagem, (...), que conseguimos organizar o nossopensamento e torná-lo articulado, conca te nado enítido”.

b) O autor trata das relações da linguagem com afisiologia em: “... surge um novo e repentino vigorde raciocínio, que não só decorre do desenvol -vimento do cérebro.”

c) Segundo o autor, o essencial proveito do ensino dalíngua é aperfeiçoar a “capacidade de pensar”.

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6Leia o seguinte texto.

Flagrado na Ilha de Caras, Fernando Pessoa disse queestá bem mais leve depois que passou a ser um só.

LISBOA – Em pronunciamento que pegou de surpresa omercado editorial, o poeta e investidor Fernando Pessoaanunciou ontem a fusão dos seus heterônimos. Com oenxugamento, as marcas Álvaro de Campos, Ricardo Reise Alberto Caeiro passam a fazer parte da holding*Fernando Pessoa S.A. “É uma reengenharia”, explicou oassessor e empresário Mário Sá Carneiro. Pessoaconfessou que a decisão foi tomada “de coraçãopesado”: “Drummond sempre foi um só. A operação deleé enxutinha. Como competir?”, indagou. O poeta chegoua pensar em terceirizar os heterônimos através de umcall-center** em Goa, mas questões de gramática esemântica acabaram inviabilizando as negociações.“Eles não usam mesóclise”, explicou Pessoa.

http://www.revistapiaui.com.br. Adaptado.

*Holding [holding company]: empresa criada paracontrolar outras empresas.

**Call-center: central de atendimento telefônico.

a) Esse texto tem apenas finalidade humorística oucomporta também finalidade crítica? Justifique suaresposta.

b) Por que o “call-center” mencionado no texto serialocalizado especificamente em Goa?

Resoluçãoa) O fragmento em questão tem tanto finalidade

humorística quanto crítica. As relações estabele -cidas entre a linguagem poé ti ca e a linguagem demercado refletem, em tom de deboche e ironia, atendência a rebaixar assuntos de interesse cul -tural, como a complexa criação heteronímica dopoeta Fernando Pessoa, ao plano de merosinteresses econômicos.

b) O call-center seria localizado em Goa por se tratarde uma localidade da Índia em que há falantes delíngua portuguesa. Outro fator que levaria o call-center para lá é de ordem econômica: a estratégiado mercado mundial escolheu a Índia e outrospaíses de mão de obra barata para a sede deserviços como call-centers.

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7Considere o seguinte excerto de O cortiço, de AluísioAzevedo, e responda ao que se pede.

(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fas -cinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bome forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos deapuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raçasuperior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às impo -sições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, equeria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia,era o fruto dourado e acre destes sertões americanos,onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macacoe onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes.

Tendo em vista as orientações doutrinárias que predo mi -nam na composição de O cortiço, identifique e expliqueaquela que se manifesta no trecho a e a que se manifestano trecho b, a seguir:

a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos deapuração”.

b) “cedendo às imposições mesológicas”.

Resoluçãoa) É do Naturalismo – poética predominante na

composição do romance de Aluísio Azevedo – aconcepção de que os comportamentos humanosobedecem a determinismo “de raça”, ou seja,genético, como se demonstraria na propensão damestiça, determinada por seu “sangue”, para o“macho de raça superior”.

b) As “imposições mesológicas” representam odeterminismo “do meio”, ou seja, do ambiente,físico e social, sobre o comportamento humano.

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8Leia o excerto de A cidade e as serras, de Eça de Queirós,e responda ao que se pede.

Era um domingo silencioso, enevoado e macio, convi -dan do às voluptuosidades da melancolia. E eu (nointeresse da minha alma) sugeri a Jacinto que subíssemosà basílica do Sacré-Coeur, em construção nos altos deMontmartre. (...)

Mas a basílica em cima não nos interessou, abafadaem tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedramuito nova, ainda sem alma. E Jacinto, por um impulsobem jacíntico, caminhou gulosamente para a borda doterraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, naplanície cinzenta, a cidade jazia, toda cinzenta, comouma vasta e grossa camada de caliça* e telha. E, na suaimobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo**, maistênue e ralo que o fumear de um escombro mal apagado,era todo o vestígio visível de sua vida magnífica.

*Caliça: pó ou fragmentos de argamassa ressequida, quesobram de uma construção ou resultam da demolição deuma obra de alvenaria.

**Fumo: fumaça.

a) Em muitas narrativas, lugares elevados tornam-selocais em que se dão percepções extraordinárias ourevelações. No contexto da obra, é isso que iráacontecer nos “altos de Montmartre”, referidos notrecho? Justifique sua resposta.

b) Tendo em vista o contexto histórico da obra, por que éParis a cidade escolhida para representar a vidaurbana? Explique sucintamente.

c) Sintetizando-se os termos com que, no excerto, Paris édescrita, que imagem da cidade finalmente se obtém?Explique sucintamente.

Resoluçãoa) Nos “altos de Montmartre”, Jacinto, com Paris

toda diante dos olhos, tem como uma “revelação”da natureza ilusória e perversa da grande cidade e,pela pri meira vez, cede, ou começa a ceder, à visãocrí tica de Zé Fernandes.

b) Paris foi a “capital do século XIX”: ao mesmotem po um grande centro cultural e a cidade pro -gres sista por excelência, em razão das refor masurbanas de Haussmann, da incorporação à vidadas últimas novidades tecnológicas, do prestígiode sua vida social, que justificavam seu poderirradiador de modas de todo tipo.

c) Em oposição à imagem convencional de uma Parisbrilhante, rica e dinâmica, a cidade “jazia, todacinzenta”, diante dos olhos dos protagonistas quea contemplavam de longe, sem ser envolvidos porseu ritmo febril nem iludidos por seus encantosinconsistentes.

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9Entre as variedades de preconceito enumeradas a seguir,aponte aquelas que o grupo dos “capitães da areia” (doromance homônimo) rejeita e aquelas que acata e reforça:preconceito de raça e cor; de religião; de gênero (homeme mulher); de orientação sexual. Justifique suas respostas.

Resoluçãoa) O grupo dos “capitães da areia” rejeita o pre -

conceito de raça e de cor. Nele convivem mulatos,brancos e negros, sem hostilidade de caráterracial.

b) O grupo rejeita também o preconceito religioso,pois nele convivem um praticante do catolicismo,como Pirulito, que mais tarde será padre, e adep -tos do candomblé, como é o caso de João Grande.O grupo vê como amigos tanto o padre José Pedrocomo a mãe-de-santo dona Aninha.

c) O preconceito de gênero existe no grupo dos capi -tães da areia até a admissão de Dora. A che ga da damenina ao trapiche é momento de grande ten são,porque há tentativa de estuprá-la. Após aintervenção de Pedro Bala, a integridade de Doraé preservada e ela se torna integrante do grupo eamante de seu protetor.

d) Há preconceito de orientação sexual, pois os capi -tães da areia expulsam do grupo o homos sexualpassivo, cuja presença contraria seu código moral.

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10Examine o seguinte texto para responder ao que se pede.

POÉTICA

De manhã escureçoDe dia tardoDe tarde anoiteçoDe noite ardo

A oeste a morteContra quem vivoDo sul cativoO este é meu norte.

Outros que contemPasso por passo:Eu morro ontem

Nasço amanhãAndo onde há espaço— Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes, Antologia poética.

a) Do ponto de vista da organização formal dada aoconjunto do poema, o poeta mostra-se vinculado àtradição literária. Essa afirmação tem fundamento?Justifique sua resposta.

b) Do ponto de vista da mensagem configurada nopoema, o poeta expressa sua oposição até mesmo acoorde nadas fundamentais da experiência. Vocêconcorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

Resoluçãoa) A afirmação tem fundamento porque “Poética” é

um soneto, forma poética tradicional que remontaao fim da Idade Média e foi intensamente culti -vada a partir do Renascimento. Ressalve-se que osoneto de Vinicius de Moraes não é ortodoxo nadisposição das rimas e pode ser chamado sonetilhoem razão de seus versos curtos, de quatro ou cincosílabas.

b) Essa afirmação é pertinente, porque as coorde na -das fundamentais da experiência são contrariadaspelo eu lírico na série de antíteses que resultamnos oxímoros que exprimem sua concepção daorigem e natureza do fenômeno poético, queassocia manhã não a claridade, mas a escuridão,situando a morte no passado e o nascimento nofuturo.

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RREEDDAAÇÇÃÃOO

Observe esta imagem e leia com atenção os textos abaixo.

Texto 1

Um grandioso e raro espetáculo da natureza está emcena no Rio de Janeiro. Trata-se da floração depalmeiras Corypha umbraculifera, ou palma talipot, noAterro do Flamengo.

Trazidas do Sri Lanka pelo paisagista Roberto BurleMarx, elas florescem uma única vez na vida, cerca decinquenta anos depois de plantadas. Em seguida, iniciamum longo processo de morte, período em que produzemcerca de uma tonelada de sementes.

http://veja.abril.com.br, 09/12/2009. Adaptado.

Texto 2

Quando Roberto Burle Marx plantou a palma talipot,um visitante teria comentado: “Como elas levam tantotempo para florir, o senhor não estará mais aqui paraver”. O paisagista, então com mais de 50 anos, teria dito:“Assim como alguém plantou para que eu pudesse ver,estou plantando para que outros também possamcontemplar”.

http://www.abap.org.br. Paisagem Escrita. n.º 131, 10/11/2009. Adaptado.

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Texto 3

Onde não há pensamento a longo prazo, dificilmentepode haver um senso de destino compartilhado, um sen -timento de irmandade, um impulso de cerrar fileiras,ficar ombro a ombro ou marchar no mesmo passo. A soli -dariedade tem pouca chance de brotar e fincar raízes. Osrelacionamentos destacam-se sobretudo pela fragilida dee pela superficialidade.

Z. Bauman. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Adaptado.

Texto 4

A cultura do sacrifício está morta. Deixamos de nosreconhecer na obrigação de viver em nome de qualquercoisa que não nós mesmos.

G. Lipovetsky, cit. por Z. Bauman, em A arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

Como mostram os textos 1 e 2, a imagem de abnegaçãofornecida pela palma talipot, que, de certo modo,“sacrifica” a própria vida para criar novas vidas, éreforçada pelo altruísmo* de Roberto Burle Marx, que aplantou, não para seu próprio proveito, mas para o dosoutros. Em contraposição, o mundo atual teria escolhidoo caminho oposto.

Com base nas ideias e sugestões presentes na imageme nos textos aqui reunidos, redija uma dissertaçãoargumentativa, em prosa, sobre o seguinte tema:

O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têmlugar no mundo contemporâneo?

*Altruísmo = s.m. Tendência ou inclinação de naturezainstintiva que incita o ser humano à preocupação com ooutro.

Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 2009.

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Comentário à proposta de Redação

Solicitou-se que o candidato redigisse uma dissertaçãoem prosa que respondesse à pergunta-tema: “O altruísmoe o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundocontemporâneo?” Entre os subsídios oferecidos pelaBanca Examinadora, encontrava-se a definição da palavraaltruísmo – segundo o dicionário Houaiss, “tendência ouinclinação instintiva que incita o ser humano à preo -cupação com o outro”. Esperava-se que o vesti bulandorefletisse sobre a importância do altruísmo numasociedade caracterizada pela predominância de valorescomo o individualismo e o imediatismo, que pouco ounenhum espaço dão ao interesse pelo outro ou pelasfuturas gerações. É provável que os vestibulandos, emgeral sensíveis a questões ambientais, tenham aproveitadoa oportunidade para, entre outras possibilidades, lamentara tendência de se valorizar o presente de formainconsequente e irresponsável, sem nenhum planeja mentoda exploração dos recursos naturais, em detrimento dasgerações vindouras. Caberia, ainda, contrastar essa visãoegoísta com o pensamento que norteava a conduta doarquiteto e paisagista Burle Max, ao plantar umdeterminado tipo de palmeira que dificilmente floresceriaa tempo de ser apreciada por ele (morto uma semana apósa primeira floração da planta).

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