abro fechoe - static.fnac-static.com · na hora do sol ardente ou à luz da lua cheia, sempre,...

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abro e

fecho

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A PORTASou eu que abro e fecho

o que está dentro da casa,sempre pronta para receberaquele que se atrasa.Sou eu que GUARDO O SEGREDOdo que não se pode ver,deixando na penumbraas coisas por dizere mantendo com a CHAVEesta secreta aliançaque junta no mesmo espaçoo velho e a criançae ficando entreaberta,sempre atenta e bem desperta,porque SOU DE CONFIANÇAe mesmo à noite estou alerta.

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A ESTANTEMoro nas casas e nas bibliotecaspara que os LIVROS tenham casaonde possam viver arrumadose onde, na hora certa,possam ser encontrados.Gosto de sentir o pesodos romances e da poesia,dos livros de teatroe dos CONTOS DE FANTASIA.E há uma coisa que peçoa quem me mandou fazer:por favor guardem em mimlivros que sejam para ler.Se forem só para mostrar,com as pomposas LOMBADAS,por favor troquem os livrospor focas amestradas,que mesmo sem nada leremdeixam as visitas IMPRESSIONADAS.

v

erso

s

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O LIVROQuem vê capas,não vê corações,que os livros, lá por dentro,guardam as suas razões,as LETRAS bem arrumadas,os sonhos, as ilusões,as HISTÓRIAS que passarampor várias gerações,e também as memórias,os versos e as orações,os ecos que ficaramda cadência dos sermõese as LENDAS e os mitosque animaram os serões.Não é que eu seja vaidoso,mas quando falo de mimsinto que sou um MUNDOe uma espécie de jardimonde o prazer da leituranunca gosta de ter fim.

ro

mance

poesia

v

erso

s

o

rações

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O AUTOCARROSou uma espécie de casaque se põe em MOVIMENTOpara levar quem trabalha,faça chuva ou faça vento,e também quem estuda e passeia,sem nunca perder o TEMPO,na hora do sol ardenteou à luz da lua cheia,sempre, sempre em movimentode PARAGEM em PARAGEM,cumpridor e pontual,só recolhendo à garagemdo horário que é normal,e já começa um novo diae com ele a CORRERIAde quem só sabe soletrar:«façam o favor de entrar».

Façam o favor de entrar.

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Façam o favor de entrar.

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O SABONETESe eu pudesse, se eu soubesse,não LAVAVA só as mãosde quem em mim vem pegar.Lavava também a boca a quem, em vez de lavar ROUPA, outras vidas quer sujar,andando de rua em rua,passando de casa em casacom tanta coisa por limpar.Mas não passo de um sabonetee um SABONETE não se ilude;limpa o que pode e o que sabepara vivermos com mais saúde,enquanto a outra SUJIDADEnos vai enchendo a cidade.

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A TORNEIRAPingo, pingo sem parar,

às vezes a noite inteira,roubando o sono a quem dormee se queixa da canseiraque o PINGA-PINGA lhe causase se constipa a torneira.Mas se tudo tem um remédio,eu só vos peço um favor:vão depressa telefonarpara um CANALIZADOR.Se ele chegar a tempo,um apertão já me basta;logo acaba o PINGA-PINGAe menos água se gasta.

Pingo, pingo sem parar...

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Adeus, velho brinquedo!

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O BRINQUEDOeu nasci para entreteros MENINOS e as MENINASque agora estão a crescer.É com eles que converso,seja em prosa, seja em verso,sobre as minhas FANTASIAS,dizendo coisas malucasque mudam conforme os dias.

Adeus, velho brinquedo!

Depois crescem e eu caiono baú do esquecimento,arrumado num CAIXOTEsem uma queixa ou um lamento,com saudades de sentiressa IMENSA ALEGRIAque tinha ao fazê-los rir.Adeus, velho brinquedo,

é apenas do esquecimentoque tu podes sentir medo.

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