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Jornal da FENPROF / Sup - Abril de 2007

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ABRIL 2007 ■ SUP A O N .º 216 3

Aproximam-se novidades legislativas quecertamente irão modificar de modo sig-nificativo quer o quadro jurídico dagovernação das instituições do ensinosuperior público, quer a situação profis-

sional dos seus trabalhadores.São obviamente necessárias mudanças no

ensino superior. O sistema desenvolveu-se deforma desregulada sobretudo por responsabilidadepolítica de consecutivos governos. É necessáriotornar as instituições mais responsáveis pelo êxitodos estudantes que admitem e pela resposta quedevem dar às necessidades sociais. Para tal é indis-pensável assegurar o primado do interesse público,rejeitando qualquer solução que permita a sujeiçãodas instituições públicas às regras do mercado. Énecessário garantir a responsabilidade do Estadopelo essencial do financia-mento destas instituições eassegurar condições para oexercício de uma autonomiaresponsável e para a participa-ção na gestão democrática.

Os sucessivos cortes orça-mentais, violentamente exacer-bados este ano, vieram reduzir,contudo, gravemente, as capa-cidades de resposta das instituições públicas e têmvindo a provocar grande instabilidade em muitasdelas, multiplicando-se a não renovação de con-tratos e a redução de direitos de muitos outros.

É já um lugar comum a afirmação de que oensino superior é estratégico para o desenvolvi-mento dos países e para o progresso social. Noentanto, na acção concreta do governo, conti-nuam a preponderar as vistas curtas.

Não há ensino superior sem liberdade acadé-mica. Esta encontra-se muito condicionada noseu exercício pela precariedade crescente da con-tratação e pelos casos de utilização perversa dopoder académico, em provas e concursos, paranomear júris e decidir, limitando assim a liber-dade de expressão da opinião, a autonomia cien-tífica e pedagógica, e a iniciativa criativa de mui-tos colegas. Este problema é grave no ensino

público mas ainda mais grave no particular ecooperativo.

Não se pode permitir que a revisão das carrei-ras venha agravar esta situação ou, sequer, pre-tenda mantê-la. Igualmente devem ser recusadastodas as tentativas economicistas de realizar"poupanças" à custa das condições remunerató-rias, prolongando ou agravando os congelamen-tos e as restrições administrativas e financeiras àspromoções.

No actual contexto, o "Mês de Luta peloEnsino Superior e pela Carreira", decidido noEncontro de 10 de Março, a concretizar em Maio,conjuntamente pela FENPROF e pelo SNESup,representa uma importante acção unitária quevisa congregar a vontade de um alargado númerode docentes e investigadores, e dotar o Movi-

mento Sindical no Ensino Superior de um corpode representantes das várias instituições capaz deinformar e mobilizar os colegas e de criar condi-ções para que estes possam responder com rapi-dez e eficácia sempre que tal venha a ser necessá-rio durante o processo negocial que se avizinha.

Este Mês de Luta terá lugar na sequência darealização do 9º Congresso da FENPROF deonde é essencial que saia reforçado o projectoque temos vindo a construir: um projecto reivin-dicativo, combativo, congregador de várias cor-rentes e sensibilidades sindicais, capaz de afirmara profissão docente junto da sociedade, e quesaiba articular a luta pela melhoria da condiçãosócio-profissional de docentes e investigadorescom a luta pela melhoria da qualidade, da rele-vância social, da eficácia e da eficiência doensino e da investigação.

Maio, mês de mobilização e de luta

João Cunha Serra

EDITORIAL

É já um lugar comum a afirmação de que oensino superior é estratégico para o desenvol-vimento dos países e para o progresso social.No entanto, na acção concreta do governo,continuam a preponderar as vistas curtas.

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A política do actual Governo

No Ensino Superior, "o objectivo pri-vatizador já começou a ser discutido nasua forma de concretização com o lança-mento do debate em torno de um con-junto de propostas apresentadas pelaOCDE que passam pela possibilidade deentregar a Fundações a gestão das Uni-versidades Públicas, nomear ou abrirconcurso para o cargo de Reitor e a rela-ção laboral com os docentes a ser esta-belecida fora do sistema público", comoalerta o documento-base que o Secretari-ado Nacional da FENPROF apresentoupara discussão no âmbito do 9º Con-gresso Nacional dos Professores.

Lembrando que "2007 fica marcadopor um rude golpe no financiamento dasinstituições, baixando em cerca de 14%relativamente a 2006, ano já marcadopor cortes orçamentais significativos", odocumento "Dar mesmo prioridade àEducação: Prestigiar a Escola e a Profis-são Docente" refere em seguida:

"Algumas instituições vêem-se con-frontadas com situações extremamentedifíceis de resolver para manterem umnível de funcionamento razoável e ame-açam com o despedimento de muitosdocentes, como aconteceu na Universi-dade do Minho. Outras, como as Univer-sidades de Coimbra e dos Açores, jáanunciaram não enveredar pela via dosdespedimentos."

No entanto, acrescenta, "a situaçãopoderá levar ao despedimento de 2.000docentes, em 2007, no conjunto das ins-tituições do Ensino Superior, com aagravante de continuar por aplicar aosdocentes e investigadores do ensinosuperior e de outras instituições públi-cas, o direito constitucional ao subsídiode desemprego apesar do compromissoassumido, nesse sentido, pelo actualministro, novamente negado em Feve-reiro de 2007 pelo Governo e pelo PS naAssembleia da República"

Noutra passagem, o documento ela-borado e apresentado à discussão pelo

SN fala da regulação do Processo deBolonha pelo MCTES, destacando que"foi realizada de forma atribulada, com afixação de prazos curtíssimos para aapresentação de propostas de adequaçãodos cursos, criando, dessa forma, proble-mas e dificuldades à generalidade dasinstituições de Ensino Superior."

Posições fundamentais da FENPROF

"Em resultado do crescente papelque ao Ensino Superior é internacio-nal-mente reconhecido, no quadro da globa-lização neoliberal, como importante fac-tor do desenvolvimento económico e doaumento da competitividade, tudo indicaque, proximamente, se irão concretizaruma série de reformas que marcarãoindelevelmente o nosso s istema deensino superior para a próxima década",refere o documento, num capítulo emque reafirma posições e propostas daFederação para um futuro mais demo-crático do ensino em Portugal.

"Esperam-se alterações significativasno que concerne ao governo das institui-ções (leis de autonomia), se não mesmoquanto ao seu regime jurídico, bemcomo no que se refere ao financiamento,às carreiras e ao sistema de avaliação ede acreditação. O Governo aprovou já,para discussão pública, um projecto delegislação sobre a nova Agência de Ava-liação e de Acreditação e anunciou umconjunto de outras medidas para os pró-ximos meses", observa o Plano deAcção, que comenta mais adiante:

"Estas mudanças far-se-ão num con-texto de fortes restrições orçamentaisimpostas pelo Governo que muito reduzi-rão o alcance que qualquer reformapoderá trazer para a melhoria da quali-dade, da relevância social, da eficácia e daeficiência do sistema de ensino superior,em particular para uma sua maior demo-cratização no acesso e na frequência".

Não negando "a necessidade de refor-mas no ensino superior, sector queesteve, por responsabilidade de sucessi-

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NACIONAL

Ensino Superior e Investigação nos documentos de trabalho do 9º CongressoNacional dos Professores

Os temas centrais quemarcam a actualidadedo Ensino Superior eda Investigação em Portugal estarão tambémpresentes no debate do9º Congresso Nacionaldos Professores, quedecorrerá de 19 a 21 deAbril, na Faculdade deMedicina Dentária, emLisboa, sob o lema“Dar mesmo prioridadeà Educação. Prestigiara Escola e a ProfissãoDocente”. Mais deseis centenas e meia dedelegados, oriundos detodas as regiões do Paíse dos núcleos do EnsinoPortuguês no Estrangeiro,irão debater e votar,entre outros documentos,o Programa de Acçãoda FENPROF para o triénio 2007/2010,documento que apresenta reflexões e direcções de trabalhotambém no âmbito daacção junto dos docentesdas Universidades e dos Politécnicos e dos investigadores.

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vos governos, sem uma direcção estraté-gica subordinada ao interesse nacional,antes entregue às pressões do mercadodos candidatos ao ensino superior e dosinteresses da iniciativa privada, sendoobjecto de um desinvestimento prolon-gado do Estado", a FENPROF entendeque "as reformas terão que acautelar prin-cípios essenciais que assegurem e promo-vam o primado do interesse público, istoé, que garantam o cumprimento da fun-ção social do ensino superior, constituci-

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onalmente consagrada, e a independênciaface ao poder económico e às pressõescom vista à sua mercadorização."

"No capítulo da personalidade jurídicadas instituições e das novas leis de auto-nomia, a FENPROF não aceitará qualquersolução que permita que interesses priva-dos, seja de que natureza forem, possamsobrepor-se ao interesse público, comonão aceitará que seja postergada a gestãodemocrática, entendida como o dever e odireito de participação da comunidade

académica nas decisões sobre matérias daorganização e direcção da sua actividade",lê-se noutra passagem.

Cortes orçamentais

A FENPROF "rejeita os cortes cegosque o Governo tem realizado nos orça-mentos de funcionamento das institui-ções e exige que a anunciada contratuali-zação dos próximos orçamentos asse-gure a todas as instituições públicascondições dignas para o exercício dassuas actividades, tendo em consideraçãoa sua situação particular e os seus planosde desenvolvimento, mas não deixandode ter por base indicadores comuns quegarantam equidade e que afastem os ris-cos de favoritismos de tratamento."

A Direcção da FENPROF manifestatambém a sua oposição ao aumento daspropinas "relativamente aos máximosactuais e opor-se-á a quaisquer tentativasde fixação de propinas do 2º ciclo acimados valores máximos actualmente exigi-dos para os 1ºs ciclos."

Num contexto de redução da duraçãodas licenciaturas (1ºs ciclos) e face à"necessidade de aumentar a qualificaçãodos quadros formados pelo ensino supe-rior, com vista à inovação nos camposeconómico e social, é indispensável quea frequência dos 2ºs ciclos seja democra-tizada, não se constituindo como maisum elemento de reforço da selectividadesocial do nosso sistema de ensino".

Ao referir que "os cortes orçamen-tais, em especial os que foram impostospara 2007, que em média atingem os14%, têm vindo a levar os responsáveispelas instituições a enveredar por expe-dientes, muitos dos quais ilegais e outrosde legalidade muito duvidosa, com vistaa reduzir a massa salarial", o documentoalerta para a grave situação de instabili-dade profissional e alerta para que "mui-tos docentes são enviados para o desem-

A FENPROF há muito que exige a revisão dos respectivos Estatutos deCarreira Docente, tanto Universitário como Politécnico, mas, até agora, semresultado. A FENPROF defende a estabilidade do corpo docente do EnsinoSuperior, pelo que considera urgente a alteração da actual situação, caracte-rizada por um elevado índice de precariedade, com cerca de 75% de docen-tes do Ensino Politécnico contratados a prazo. Os cortes de financiamentoimpostos pelo Governo têm levado algumas instituições a optar pela soluçãomais fácil: despedir docentes.

A revisão destes Estatutos de Carreira deverá orientar-se de forma a que

sejam garantidas as condições indispensáveis ao exercício das liberdadesacadémicas, essenciais ao cabal desempenho de funções no ensino superiore a assegurar um modelo de avaliação do desempenho assente em regras deefectiva transparência e orientado por critérios formativos e idóneos, capa-zes de contribuir para a efectiva qualificação dos docentes.

É necessário, ainda, que da revisão dos actuais estatutos das carreirasresulte a consagração de mecanismos que permitam a abertura dos quadros,de acordo com as reais necessidades das instituições, alterando a situação debloqueamento imposta, principalmente, por um financiamento deficitário.

Revisão dos Estatutos de Carreira

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prego (sem qualquer protecção social) eoutros têm visto reduzidos os direitossalariais dos seus contratos". "O regimede dedicação exclusiva", acrescenta, "érecusado a muitos deles, ou por imposi-ção contratual, ou por conversão doscontratos de tempo integral em tempoparcial, aumentando, assim, a precarie-dade de emprego. A nomeação definitivachega a ser perversamente encaradacomo uma forma de emagrecimento docorpo docente, dificultando-se, paraalém do razoável, a sua concessão."

"Importa lutar"

Depois de sublinhar que "esta ten-dência para o aumento da precarizaçãodas relações contratuais ofende grave-mente os direitos dos docentes, em parti-cular o direito a uma carreira, bem comoas condições necessárias para o exercí-cio da liberdade académica que é umpressuposto básico para o cumprimentodas missões de interesse público confia-das ao ensino superior", a Federaçãodeixa um desafio:

"Importa lutar para que as alteraçõesàs carreiras não acolham, mas antesinvertam, as actuais tendências para oaumento da precariedade e para a redu-ção dos salários e das condições para oexercício de funções com liberdade decriação, de crítica e de expressão da opi-nião, incluindo sobre as instituições emque os docentes prestam serviço".

"Isto implica, em especial, no ensinosuperior privado", prossegue, "que oMCTES legisle no sentido de garantirum regime de contratação e de carreiraem correspondência com aqueles princí-pios, designadamente, com os que cons-tam da Recomendação da UNESCOsobre a condição dos docentes do ensinosuperior, pondo termo às arbitrariedadesdas entidades patronais e à reduzida qua-lificação dos corpos docentes das insti-tuições".

"O regime de dedicação exclusiva,sem prejuízo da sua adequada fiscaliza-ção e regulação, deve continuar a ser deopção livre da cada docente e a ser enca-rado, por excelência, como o regime deprestação de serviço dos docentes doensino superior", declara a FENPROF.

Afirmando que "a limitação das opor-tunidades de promoção, devida aos cor-tes orçamentais e ao total preenchimentodos quadros, que se verifica em muitasinstituições, é um factor de negação do

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NACIONAL

direito a uma carreira e constitui umdesincentivo à aquisição de mais qualifi-cações e melhores desem-penhos", aFENPROF "terá por objectivo, na revi-são das carreiras, encontrar soluções paraeste grave problema de estagnação quetolhe a iniciativa, a autonomia profissio-nal e a eficácia da actividade de umgrande número de docentes."

Avaliação

"As questões da avaliação e da acre-ditação das instituições e dos cursos sãofundamentais para a melhoria da quali-dade do sistema do ensino superior epara a sua regulação, reduzindo factoresde oportunismo e de concorrência des-leal que a actual situação tem permitido.Importa, contudo, que o sistema seja defacto independente do Governo e dasinstituições e que não se oriente por cri-térios de exclusiva obediência às leis daeconomia e do mercado", destaca odocumento.

Sobre a avaliação dos docentes emprovas e concursos, a FENPROF apontaa necessidade da sua revisão "tendo porobjectivos o aumento da sua pertinência,idoneidade, transparência e equidade,eliminando arbitrariedades e reduzindodiscricionariedades", em especial "osprocessos de fixação prévia de critériosde avaliação e de nomeação de júris",que são "questões de grande sensibili-

dade" e que "deverão ser reguladas,tendo em atenção as capacidades dasinstituições, individualmente considera-das, para o exercício autónomo de taiscompetências."

Ciência e Tecnologia

Num apontamento dedicado à Ciên-cia e Tecnologia, a FENPROF lembraque "persistem os atrasos nos financia-mentos das unidades de investigação queprovocam grande instabilidade na suaactividade, designadamente no que serefere à continuidade dos contratos demuitos dos investigadores que neles tra-balham de forma precária."

Para a Federação, "o crescimento deinvestimento nesta área é fundamental,bem como o aumento do emprego cientí-fico, de modo a criar as condições paraevitar a fuga de cérebros e para aprovei-tar, em benefício do desenvolvimento dopaís, o esforço que o Estado tem feito naformação avançada de quadros científi-cos."

"Importa ainda que os investimen-tos na Ciência, recentemente publi-citados com grande espalhafato mediá-tico, venham a apresentar uma relaçãobenefícios/custos elevada, o que estálonge de ser, à partida, evidente", con-clui o texto que contribuiu para a dina-mização do debate preparatório do 9ºC o n g r e s s o . ■

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Nesta proposta, entretanto enviada àtutela, é central a ideia que "uminvestigador, mesmo na fase ini-

cial da sua carreira (conforme definido naCarta Europeia do Investigador), produztrabalho científico. Impõe-se pois, antesde mais, este reconhecimento através dacelebração de contratos de trabalho."

A adopção de contratos de trabalhoabre acesso ao regime geral de segu-rança social, desencoraja a utilizaçãoabusiva da figura de bolseiro para preen-cher lacunas dos quadros e satisfazernecessidades dos serviços, e sublinhaainda o inegável carácter laboral da acti-vidade, sem ignorar uma componente deformação, inerente à actividade cientí-fica, como assinala a ABIC, que convidatodos os que concordarem com a pro-posta a assinar a petição online:h t t p : / / w w w . b o l s e i r o s . o r g / P A E B I . h t m l

Conhecimento aprofundado da situação

Abordando questões centrais parauma necessária reflexão sobre o SistemaNacional de Ciência e Tecnologia emPortugal, o documento da Associaçãoinclui propostas que se sustentam numconhecimento aprofundado da situaçãodos recursos humanos em I&D a nívelnacional, em especial das novas gera-ções, bem como no acompanhamento darealidade existente noutros países daUnião Europeia, sem esquecer as suasevoluções recentes.

"Travar e inflectir a tendência parauma diminuição da atractividade dascarreiras científicas, especialmente nosseus estádios iniciais, bem como o fenó-meno da "fuga de cérebros" que a ela seassocia (acompanhando as iniciativas

legislativas neste domínio de outros paí-ses da UE, como Espanha, por exem-plo)", é uma das preocupações da ABIC.

Outro objectivo em foco no docu-mento da ABIC aponta para a necessi-dade de "uma adequada articulação como conjunto do edifício legislativo queenquadra e regula a actividade da gene-ralidade dos trabalhadores científicos,incluindo, entre outros, o Estatuto daCarreira Docente Universitária, o Esta-tuto da Investigação Científica e o Esta-tuto da Carreira do Pessoal Docente doEnsino Superior Politécnico".

Para a Associação, há ainda que"prever uma adaptação às modificaçõesnecessariamente introduzidas no sistemacientífico e tecnológico nacional pelasalterações em curso no sistema de ensinosuperior decorrentes da implementaçãodo Tratado de Bolonha." ■

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“Um investigador, mesmo na fase inicial da sua carreira, produz trabalho científico”

ABIC divulga proposta de alteração aoEstatuto dos Bolseiros de InvestigaçãoApós uma larga consulta aos seus membros, a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) elaborou e divulgou uma proposta de alteração ao Estatuto dos bolseiros de investigação, que pode ser consultada em http://bolseiros.org/pdfs/PAEBI.pdf

Propõe-se a revogação do actual Estatuto do Bolseiro de Investigação ea generalização de contratos de trabalho para os investigadores que actual-mente desenvolvem a sua actividade como bolseiros.

A adopção de contratos de trabalho, que implicam um vínculo jurídico-laboral, abre acesso ao regime geral de segurança social, com os benefíciosdaí decorrentes, particularmente, subsídio de doença, subsídio de materni-dade/paternidade e subsídio de desemprego, nos mesmos termos em quedestas prestações beneficiam os demais trabalhadores.

A adopção de contratos de trabalho põe ainda fim à utilização abusivada figura de bolseiro para preencher lacunas dos quadros de pessoal dasinstituições e satisfazer necessidades permanentes dos serviços, bem comoà sua utilização em projectos de investigação para satisfazer necessidadesque, embora de carácter temporário, configuram verdadeiras relações de tra-balho subordinado (independentemente do maior ou menor pendor forma-tivo inerente às funções desempenhadas).

Por fim, a figura do ‘contrato de trabalho’ reconhece mais claramenteque "todos os investigadores que seguem uma carreira de investigaçãodevem ser reconhecidos como profissionais e tratados como tal. Este reco-nhecimento deve começar no início da sua carreira, nomeadamente a nívelpós graduado, e incluir todos os níveis". Sendo óbvio que existe sempre uma

componente de formação implícita na actividade científica, o contrato de tra-balho sublinha o inegável carácter laboral da actividade.

Esta proposta incorpora duas componentes:1. Um regime de contratos de trabalho a termo certo para os investiga-

dores experientes e para o pessoal que desenvolva actividades de técnico deinvestigação ou gestão de ciência e tecnologia. Estes contratos devem serequiparados ao regime de Carreira de Investigação Científica ou ao regimegeral das carreiras da Administração Pública, consoante a actividade, semcontudo se substituírem a essas mesmas carreiras cuja pertinência e neces-sidade são evidentes.

2. A criação do Estatuto dos Investigadores em Formação (EIF). Estenovo estatuto teria um aplicação mais restrita que o actual EBI, abarcandoapenas os investigadores em início de carreira, incluindo os investigadorescujos programas de trabalho visem a obtenção de um grau académico, queaqui designamos por "Investigadores em Formação" (IF). Esta separaçãoimpõe-se pelas especificidades da fase de início de carreira e de frequênciade programas para obtenção de grau académico. (...)

(Da proposta da ABIC, de alteração ao Estatuto dos Bolseiros de Investigação)

Acabar com a utilização abusiva da figura de bolseiro parapreencher lacunas dos quadros de pessoal das instituições

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8 SUP AO N .º 216 ■ ABRIL 2007

Li a entrevista dada pelo Profes-sor João Cunha Serra ao V. Jor-nal. Sem pretender contestarmuitas das suas afirmações, comas quais estarei de acordo, elas

suscitaram-me todavia, interrogações,dúvidas e receios sobre o nosso futuro, ofuturo próximo do nosso País. Eis algu-mas delas:

1.É certo que os cortes financeirosreferidos são uma ameaça à qualidade doEnsino Superior. Mas dito assim até sepode julgar que esta ameaça é nova, etotalmente diferente das anteriores.Suponho que a diferença resida talvez nofacto de a eles corresponderem tambémcortes orçamentais graves, agora justifi-cados com um tão propalado e propa-gandeado défice. Realmente, temosassistido à degradação generalizada daqualidade do Ensino a todos os níveis,desde o Básico ao Superior; as avalia-ções têm-se sucedido a comprovar essadegradação, e para ela muito contribuí-ram os parcos meios financeiros comque os sucessivos Governos têm brin-dado o nosso Ensino; parcos se tivermospresentes as suas necessidades e os mausresultados obtidos. Culpabilizaram-se osprofessores, mas que podiam eles fazermais nestas circunstâncias? Não é certoque quando se verificou um significativocrescimento no acesso aos vários grausdo Ensino em Portugal, ele não foiacompanhado de um correspondentefinanciamento, o que certamente pode-mos interpretar como um grave corte nofinanciamento, quiçá, bem mais impor-tante que o actual? Muitos professores,sem os apoios que se impunham, nãoforam obrigados a enfrentar a situaçãoque não tinha sido criada por eles? Tam-bém não é verdade que, à sombra destafalta de financiamentos, se foram cri-ando ao desbarato inúmeras instituiçõesprivadas (e não só) no Ensino Superior,e que hoje essas instituições constituemum problema sério na creditação dos ins-titutos e das universidades? Tudo isto éobra do acaso e de incompetência, ouvisará objectivos políticos e sociais?

Não estará tudo integrado numa políticacom objectivos bem determinados?

2.O Projecto de Bolonha: será queele se pode encarar como um desafio? Oquadro com que nos apresentamos naEuropa é pobre, triste e desolador, mas oProjecto de Bolonha vem de algumaforma ajudar-nos ou obrigar-nos amudar as orientações num sentido favo-rável a Portugal? Não é certo, comoafirma o Professor Cunha Serra, que ‘aforça impulsionadora dominante do Pro-cesso de Bolonha foi a percepção dosgovernos dos países mais ricos daEuropa e em especial das suas grandesempresas, de que, para competiram commais êxito no mercado global precisa-vam de tirar mais partido do EnsinoSuperior, no que concerne à formação,num tempo maiscurto, e logo, menosoneroso, dos profis-sionais melhor ade-quados às necessi-dades da competiti-vidade económi-ca…’? E que paraisso necessitam deatrair os melhorescérebros para osgrandes centros ded e s e n v o l v i m e n t o ,que certamente seirão concentrar nos países ricos daEuropa? Não tem esse objectivo a for-mação do IET, Instituto Europeu de Tec-nologia? O Encarregado da Educação,da Formação, da Cultura e da Juventudena Comissão Europeia não afirma que oIET, como Estandarte da Excelência,deverá atrair os melhores estudantes einvestigadores do mundo? Como evita-mos que de Portugal saiam consequente-mente os melhores cérebros? As famíliasportuguesas com maior poder econó-mico não se vão aproveitar desta situa-ção mandando estudar no estrangeiro osseus filhos? Os mestrados e doutoramen-tos em Portugal não estão desde já reser-vados para quem os pode pagar? Para osrestantes jovens, a grande maioria, não

ficarão reservadas apenas Universidadese Institutos com licenciaturas pouco cre-ditadas na Europa, objectivando a cons-tituição de uma mão-de-obra barata?Preparando este futuro, os custos labo-rais na indústria portuguesa não foram jádos que menos cresceram na zona Euro,tendo-se até registado uma descida docusto na Administração Pública em2006? E o que irá suceder à maior partedas nossas universidades e institutos? Aavaliação dos cursos superiores condu-zida inicialmente pelo Conselho Nacio-nal de Avaliação do Ensino Superior(agora extinto por Mariano Gago) nãovai ser entregue a uma Agência, dita deAvaliação e Acreditação para a Garantiada Qualidade do Ensino Superior, ondeparticiparão peritos estrangeiros? As

tarefas de avaliação do nosso EnsinoSuperior, que se apresentaram comoinsuperáveis (como era de esperar) parao Conselho Nacional extinto, de queforma irão agora ser ultrapassadas e comque objectivos pela nova Agência daAvaliação? Podemos confiar nessaAgência? Que controlo teremos sobreela?

Não continuo, porque isto basta paranos criar dúvidas sobre a forma comovamos enfrentar as ameaças que se nosdeparam. Talvez um dia possamos pedirresponsabilidades!

Fernando Sequeira* Professor Universitário

(aposentado)

Cortes financeiros em 2007

OPINIÃO

O Projecto de Bolonha: será que elese pode encarar como um desafio?O quadro com que nos apresentamos naEuropa é pobre, triste e desolador, maso Projecto de Bolonha vem de algumaforma ajudar-nos ou obrigar- n o sa mudar as orientações num sentidofavorável a Portugal?

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No contexto de um "novo enquadra-mento legal do Ensino Superior",o CRUP, em reunião plenária que

decorreu no passado dia 13 de Março, soba presidência do Magnífico Reitor Fer-nando Seabra Santos, aprovou uma C a r t ade Princípios em que chama a atenção dacomunidade universitária, do poder polí-tico e da opinião pública em geral paraquatro matérias centrais: a Lei de Auto-nomia (ver caixa), os Estatutos do Pes-soal, Financiamento e Racionalização daRede e Ordenamento da Oferta.

Destacando que "o cumprimento damissão das universidades e o insubstituí-vel papel que desempenham na socie-dade do conhecimento reclamam refor-mas profundas do sistema de EnsinoSuperior", o CRUP declara que "o êxitodestas reformas requer um cuidadosodiagnóstico da situação e uma prepara-ção meticulosa dos novos dispositivoslegais."

Segundo o CRUP, a Lei de Autono-mia "deve incluir, embora com um deta-lhe que não iniba a diversidade de for-mas, que se entende deverem ser favore-cidas, questões como o estatuto jurídicodas Universidades, a organização interna,a forma e os órgãos de governo."

Referindo que "a legislação deve indi-car a missão da Universidade e garantir aliberdade de criação científica, cultural,artística e tecnológica, assegurando a plu-ralidade do pensamento e a livre expres-

são de opiniões e de orientações", o Con-selho de Reitores explica que, tendo emvista esse fim, "deve incluir disposiçõesque induzam as Universidades a criarconhecimento através da investigação,inovação, desenvolvimento e prestaçãode serviços à comunidade, a transmitirconhecimento através da formação ética,cultural, científica, técnica e cívica, atransferir conhecimento através da valori-zação económica dos resultados da cria-ção científica, tecnológica, cultural eartística e a promover e a difundir cultura,nas suas várias vertentes."

A autonomia universitária, lembra oCRUP, deve conferir a cada instituiçãocompetências nas áreas da autonomiaestatutária, científica, pedagógica, cultu-ral, administrativa, financeira, patrimo-nial e disciplinar.

Financiamento

"Independentemente dos preceitoslegais que venham a ser estabelecidos,há que constatar como ponto prévio queos níveis de financiamento público doEnsino Superior em Portugal se encon-tram muito abaixo da média europeia.Ora, se o nosso país quiser diminuir amédio prazo a diferença que o separados mais ricos, deve investir mais do queeles na educação", sublinha a Cartaaprovada pelo CRUP, que esclarecemais adiante:

"Sendo a actual fórmula de financia-mento de carácter distributivo, limi-tando-se a definir a percentagem quecabe a cada instituição do orçamentoglobal atribuído pelo Estado, num deter-minado ano, ao ensino superior, nãoexiste neste momento qualquer compro-misso estável do Estado para com o sec-tor. É urgente definir esse compromisso,em percentagem do PIB, numa base plu-rianual, e imprescindível que ele seja,muito rapidamente, em Portugal, supe-rior ao dos países mais desenvolvidos."

"Qualquer outra discussão que sefaça nesta matéria", acrescenta, "deveser secundarizada face à importânciacrucial de se aumentar rapidamente oinvestimento público no Ensino Superiore de o garantir numa base de estabili-dade plurianual que autorize uma activi-dade coerentemente planeada".

O CRUP deixa ainda ao Governo eao MCTES um conjunto de propostas:

• Revisão das suas opções de dimi-nuição do investimento público emEnsino Superior, invertendo esta situa-ção e permitindo atingir primeiro, eultrapassar depois, os níveis de financia-mento, em percentagem do PIB, dos Paí-ses mais desenvolvidos;

• Definição numa base plurianual dosmontantes que se compromete a atribuirao Ensino Superior;

• Cálculo anual das dotações transfe-ridas para cada Universidade de formaobjectiva e transparente, através de umafórmula consensualizada e estável, emfunção de parâmetros conhecidos numabase plurianual (número de alunos,docentes e não docentes e respectivaqualificação, bem como factores relacio-nados com a avaliação do desempenho),imutável por um período de pelo menoscinco anos. Todas as fases de cálculoque preparam o resultado final devemser acessíveis a todos e por todos auditá-veis;

Além de "ter em conta as actividadesde desenvolvimento junto da Sociedade

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Novo enquadramento legal do Ensino Superior

CRUP divulga Carta de Princípios“As Universidades devem permanecer entidades públicas prestadoras de umserviço público responsável”, realça a Carta de Princípios divulgada recente-mente pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)

NACIONAL

As Universidades entendem que a autonomia universitária assenta sobre três pilares: 1. A definição do quadro conceptual do sistema;2. A atribuição às Universidades de recursos compatíveis com a importância do serviço público

que prestam;3. A avaliação consequente dos resultados. "Quadro de funcionamento, recursos e avaliação, coerentemente definidos e racionalmente articu-

ladas são, pois, a base de sustentação do contrato social através do qual o Estado comete às universi-dades a responsabilidade de criar conhecimento e de preparar, técnica e culturalmente, as sucessivasgerações de cidadãos", sublinha a Carta de Princípios aprovada pelo Conselho de Reitores.

Os três pilares da autonomia universitária, segundo o CRUP

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e criar um quadro de funcionamento queincentive a captação de receitas próprias,através da participação em projectosnacionais e internacionais", o Governodeve "assumir o regime de "custostotais" na fixação das verbas a atribuiraos projectos de investigação nacionais,reconhecendo que uma percentagem daactividade dos docentes e não docentesestá correlacionada com a investigação eé, por isso, susceptível de ser financiadapelo orçamento da Ciência".

De acordo com a Carta de Princípios,o Executivo deve também "reconhecer aespecificidade de algumas instituições,tais como a sua dimensão, implantaçãoregional ou a posse de património, quenão estando abrangidas pela fórmula,teriam a sua situação contemplada atra-vés de financiamentos contratualizados."

"Em matéria de investimento", sali-enta o CRUP, é necessário:

a) Estender a figura de financiamentocontratualizado, numa base temporal demédio prazo com uma duração não infe-rior a cinco anos, através de Contratosde Desenvolvimento Institucional cele-brados com cada Universidades, tendoem vista a obtenção de objectivos espe-cíficos ou a prossecução de programasindividuais de desenvolvimento;

b) Considerar, obrigatoriamente, umprojecto de "Conservação e Reequipa-mento" por cada Universidade, garan-tindo-lhe, nomeadamente, meios ade-quados para que possam preservar con-venientemente o seu patrimónioedificado e manter com dignidade osedifícios e o equipamento pesado quelhes estão confiados.

"A aprovação casuística de investi-mentos e a celebração casuística de con-tratos de desenvolvimento, prática cor-rente até ao momento, não permite o pla-neamento e a racionalização do sistema,não garante a correcção das actuais assi-

metrias e não contribui para a coesão inte-rinstitucional", lê-se ainda nesta tomadade posição dos Reitores portugueses.

Racionalização da rede e ordenamento da oferta

"Não deixando as Universidades deassumir a sua quota parte de responsabi-lidade no processo que conduziu à exa-gerada oferta de cursos actualmenteexistente, há que reconhecer que tal situ-ação decorre, em última análise, da per-missividade dos sucessivos Governos ouda falta de vontade política para a evi-tar", observa a Carta do CRUP, quecomenta mais adiante:

"É igualmente ao Poder Político quese deve atribuir a responsabilidade pelocrescimento desordenado da rede de insti-tuições de ensino superior. Não deve, noentanto, ser ignorado o facto de que, inde-pendentemente da maior ou menor razoa-bilidade na criação de algumas institui-ções, elas desempenham hoje um papeldeterminante no desenvolvimento e navitalidade das regiões estão localizadas."

O CRUP sublinha, entretanto, que"não rejeita responsabilidades própriasdas Universidades na situação presente,exprime a sua disponibilidade para cola-borar com a tutela na procura de solu-ções racionalizadoras da oferta de cursose da distribuição de unidades pelo País".

Quanto à racionalização da rede e àoferta de cursos, considera-se que alegislação deve contemplar, refere oCRUP, "uma def inição inequívocaquanto ao que se deve entender por cur-sos universitários e cursos politécnicos,acentuando as suas diferenças num qua-dro de idêntica dignidade", além de umconjunto de "medidas incentivadoras daaproximação das instituições universitá-rias e politécnicas, nomeadamente anível regional, que permitam um maior

entendimento interinstitucional no sen-tido de rentabilizar os recursos humanose materiais, de facilitar a mobilidadeestudantil, de partilhar as responsabilida-des e de diversificar as missões".

É ainda apontada "a necessidade dediminuir o abandono escolar ao nível dosensinos básico e secundário e de aumentara qualidade destas formações, tendo emconta o novo paradigma decorrente doprocesso de Bolonha associado ao binárioensino/aprendizagem, promovendo destemodo o aumento da taxa de escolaridadeno ensino superior, bem como a qualifica-ção dos estudantes à entrada".

Os reitores dizem que é preciso"incentivar os portugueses a recorrerema acções de formação ao longo da vida"e realçam "a necessidade de assegurar,ao nível dos critér ios de acesso aoensino superior, conhecimentos adequa-dos nas áreas científicas relevantes".

Outros caminhos propostos peloCRUP: "a diversificação das exigênciasdas carreiras universitária e politécnica,compatíveis com as qualidades e carac-terísticas diversas requeridas por estesdois tipos de formação" e "a localizaçãodas unidades de investigação nas Uni-versidades, reconhecendo que a forma-ção universitária requer uma evidenteligação à prática da investigação, masfacilitando o envolvimento dos docentesdo ensino politécnico que nelas preten-dam colaborar".

"Na sequência da experiência reco-lhida no processo de adequação dos cur-sos ao Espaço Europeu de Ensino Supe-rior, e no sentido de se tirar proveito doenorme esforço dispendido, váriasacções de regulação podem ser igual-mente concretizadas", explica o CRUP,que aponta algumas propostas nesse sen-tido, entre as quais "a diminuição donúmero de designações dos cursos deprimeiro ciclo, aceitando o carácter deformação de banda larga associado aeste nível de formação, adequado a per-fis diversos consoante se trata de ensinouniversitário ou politécnico".

Além da "exigência de uma relaçãobi-unívoca entre designação de um cur-sos e respectivo conteúdo nuclear", oConselho de Reitores chama a atençãopara a importância da "definição, a nívelnacional, de regras mínimas de ingressoque constituiriam condição necessária deentrada num curso de licenciatura comdeterminada designação (e portanto comdeterminado conteúdo nuclear)." ■

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NACIONAL

Relativamente ao artigo intitulado Sobre o ensino superior privado, que publiquei no número deJunho de 2006 do "Jornal da FENPROF", e que saiu com a minha assinatura identificada como Pro-fessor da Universidade Lusófona (o que na altura era verdade), quero esclarecer que esse artigo deopinião não tinha como referência específica nem pretendia atacar aquela universidade, onde traba-lhei durante quinze anos e onde deixei muitos amigos, mas tão só apontar algumas debilidades legaisque, do meu ponto de vista, retiram transparência ao sistema de ensino privado existente no nossopaís – cuja responsabilidade deve ser assacada ao respectivo ministério da tutela e não aos estabele-cimentos não públicos de ensino superior.

Feito este esclarecimento só me resta manifestar a esperança que da colaboração, equilibrada eleal, entre Ministério e universidades privadas nasça um sistema de ensino superior exigente e sério,que a todos dignifique, alunos e professores.

Luís Bensaja dei Schirò

Esclarecimento

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ACÇÃO SINDICAL

Ad e c i s ã ofoi tomadano Encon-

tro nacional derepresentantes eactivis tas dasduas organiza-

ções, que decorreu no passado dia 10 deMarço, no Instituto Superior Técnico(IST), em Lisboa.

As conclusões desse "participadoencontro sindical" foram divulgadas ecomentadas numa conferência de impren-sa realizada no dia 15 de Março, na sededo SNESup, na Av. 5 de Outubro, em Lis-boa, com a participação de João CunhaSerra e Manuel Pereira dos Santos, emrepresentação da FENPROF e Paulo Pei-xoto e Teresa Alpuim, pelo SNESup.

As reuniões de Maio serão convoca-das conjuntamente pelas duas organiza-ções, ao abrigo da lei sindical, para"apreciação da situação nacional e regio-nal" do Ensino Superior, analisando emparticular os problemas concretos decada uma das instituições. Nessas reu-niões serão constituídas, "onde aindanão existam", Comissões de Docentes eInvestigadores.

Por iniciativa da FENPROF e do SNESup

Vem aí um “Mês de Luta peloEnsino Superior e pela Carre i r a ”Esta é uma das acções que as duas organizações sindicais vão realizar nos próximos tempos, em resposta à difícil situação que se vive no sector,durante o próximo mês de Maio

Grande plenário de docentes e investigadores

Do conjunto de acçõesprevisto para o "Mês deLuta" destacam-se aindaduas outras iniciativas deâmbito nacional: uma reu-nião de docentes doEnsino Superior Particulare Cooperativo e um plená-rio de docentes e investi-gadores do Ensino S u p e-rior, previsto para o finalde Maio.

Além da solicitaçãode uma reunião com oMinistro Mariano Gago,para análise e discussão

das iniciativas legislativas anunciadas erespectiva calendarização, em particularquanto à revisão das carreiras, FEN-PROF e SNESup pediram reuniõesurgentes com os presidentes do Conse-lho de Reitores (CRUP) e do ConselhoCoordenador dos Institutos Politécnicos,para "troca de informações e avaliaçãoconjunta da situação".

Chamamos, entretanto, a atenção dosnossos leitores para a moção aprovadapor unanimidade no Encontro sindicalrealizado no IST e para a carta enviada atodos os deputados sobre a questão dosubsídio de desemprego na Administra-ção Pública e Ensino Superior, docu-mentos que trabalhamos nas páginasseguintes.

J.P.O.FENPROF e SNESup em conferência de imprensa realizada em Lisboa,no passado dia 15 de Março

FENPROF e SNESup exigem uma efectiva postura de diálogo construtivo da parte do MCTES, a inversãoda política de continuado desinvestimento no Ensino Superior Público e o imediato reforço dos orça-mentos das instituições em dificuldades financeiras para garantir os respectivos compromissos salari-ais para 2007

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AUTONOMIA

A garantia do primado do interessepúblico exige que as actuais instituiçõespúblicas de ensino superior permaneçamno âmbito da Administração do Estado,com um regime de autonomia que ascoloque ao abrigo de intervenções discri-cionárias dos governos, que lhes coarc-tem a autonomia financeira, designada-mente pela via de cativações orçamentais.

BOLONHA

A aplicação do Processo de Bolonha nãopode ser pretexto para a redução doscorpos docentes das instituições, com afalsa justificação da diminuição dashoras de ensino presencial. Estas serãolargamente compensadas com as horasde ensino tutorial, que devem ser consi-deradas para os limites fixados nos esta-tutos das carreiras. As experiências decorrecta implementação do Processo têmvindo, aliás, a traduzir-se num reforçodas necessidades de trabalho docente.

CORTES ORÇAMENTAIS

As restrições dos últimos anos e, sobre-tudo, os violentos cortes orçamentaisimpostos, por proposta do actualGoverno, às instituições de Ensino Supe-rior para 2007, são manifestamente con-trários à necessidade estratégica de desen-volvimento do nosso país e comprome-tem o importante papel que poderiamdesempenhar para a saída da actual crisesocial e económica em que Portugal seencontra.

DEDICAÇÃO EXCLUSIVA

O regime de dedicação exclusiva, ade-quadamente fiscalizado, e, tal como osrestantes regimes, avaliado, a que todosdevem poder aceder por opção livre,deve continuar a ser o regime-regra deexercício de funções dos docentes noensino superior e dos investigadores,como garantia do seu empenhamentoexclusivo nas actividades em que as ins-tituições a que pertencem se encontremenvolvidas, designadamente nas relati-vas à ligação ao tecido económico esocial, como é o caso das pareceriasensino superior/empresas.

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ACÇÃO SINDICAL

À atenção do Governo e do MCTES

Docentes e investigadores não abrem mão des

Ainversão da política de continua-do desinvestimento no EnsinoSuperior Público, que clara-

mente prejudica o interesse nacional,e o imediato reforço dos orçamentosdas instituições em dificuldades finan-ceiras para garantir os respectivoscompromissos salariais para 2007, éuma das reivindicações centrais em des-taque na moção aprovada no encontronacional de representantes e activistas daFENPROF e do SNESup, realizado emMarço passado, no Técnico, em Lisboa.Esta e outras preocupações foram subli-nhadas pelas duas organizações sindicaisna conferência de imprensa posterior,

que exigiram da tutela uma postura de"efectiva negociação".

Expressando também o sentir dosdocentes e investigadores que em todo oPaís têm reunido com os dirigentes daFENPROF e do SNESup, a moção apro-vada no Instituto Superior Técnico exige,quanto à nova legislação sobre a autono-mia das instituições, "a garantia" da res-ponsabilidade do Estado, do primado dointeresse público e da independênciaface a interesses privados, apontandoainda outros objectivos nucleares: a demo-cracia na gestão e a colegialidade nasdecisões, a natureza pública dos vínculoslaborais e as condições necessárias para o

exercício pleno da liberdade académica.Reivindicando "a garantia do cumpri-

mento da lei, designadamente no que serefere à aplicação dos estatutos das car-reiras, nomeadamente pela concretizaçãode uma enérgica acção inspectiva, ondese revelar necessário, bem como peloacesso a uma justiça célere ou a meiosextrajudiciais de composição de litígios",o encontro sindical chamou a atençãopara a necessidade de "concretização denegociações efectivas, com o tempo sufi-ciente, com calendário e metodologiapreviamente acordados, sobre alteraçõesa introduzir nos estatutos das carreirasdocentes e de investigação".

As preocupações dos docentes e investigadores portugueses após dois anos de gover

O Ensino Superior e a Investigação em

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DesafiosAs capacidades instaladas nas institui-ções públicas não são de mais para osdesafios que se colocam ao EnsinoSuperior e à Ciência, bem pelo contrário.

EMPREGO CIENTÍFICO

É preciso promover um efectivo aumentodo emprego científico não precário, bemcomo estabilizar a contratação e aumen-tar a protecção social dos actuais investi-gadores com contratos precários.

"Estatutos" de carreira internosÉ necessário proscrever, efectivamente,todas as práticas de gestão que se tradu-

zem numa fraude à lei e que representamuma tentativa de criar estatutos de car-reira internos. São exemplos flagrantesdesta actuação ilegal, entre outros: acelebração de contratos ditos sucessivosem vez de renovação de contratos; acontratação por recibos verdes ou poracto isolado; ou uma redução de direitos,tais como a atribuição de cargas horáriassuperiores às estatutárias, a negação dedispensas e períodos sabáticos, a cele-bração de novos contratos com catego-ria, duração ou remuneração inferiores, acontratação a tempo parcial de quem nãotem outra actividade, a recusa de rein-gresso dos ex-docentes universitáriosque se doutoram nos prazos estatutaria-mente previstos.

EstratégicoO Ensino Superior é estratégico para odesenvolvimento do país, com destaquepara o aumento da qualificação da popu-lação activa, para o crescimento econó-mico sustentável e para o aumento dacoesão e do bem-estar social, pelo que énecessária a realização de um forteinvestimento tanto no Ensino Superior,como na Ciência e na Tecnologia. OGoverno parece esquecer esta realidade.

FINANCIAMENTO

O financiamento do Ensino SuperiorPúblico é da responsabilidade do Estado.Qualquer que seja a metodologia a adop-tar para a sua atribuição, não pode deixarde ser tido em consideração um conjuntode indicadores de aplicação universal ede ser garantido que os orçamentos per-mitem a todas as instituições um funcio-namento digno, de qualidade.

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destas reivindicações, senhor ministro!Segundo a moção aprovada, tais alte-

rações deverão assegurar três conjuntosde matérias fundamentais:

Por um lado, o direito a uma carreira,com uma perspectiva de vinculação está-vel ao alcance de todos os que reúnam ascondições para a inclusão nesta, depen-dendo exclusivamente das qualificaçõesadquiridas e dos desempenhos demons-trados.

Por outro lado, o respeito pelos direi-tos adquiridos e as expectativas legíti-mas, e promovam a integração nas car-reiras de todos os docentes que seencontram indevidamente contratadoscomo convidados ou equiparados.

Finalmente, a garantia de implemen-tação de sistemas idóneos, equitativos etransparentes de avaliação dos docentese dos investigadores, com vista ao reco-nhecimento e à recompensa do mérito dasua actividade, nomeadamente pela pro-moção, sem restrições de carácter admi-nistrativo, desacoplando os procedimen-tos de recrutamento de novos docentes,ou investigadores, dos de progressão oupromoção internas.

É ainda exigida a garantia de que "oanunciado novo Estatuto do EnsinoSuperior Particular e Cooperativo iráassegurar o respeito pela legislação dotrabalho e condições de acesso e pro-

gressão na carreira, bem como de remu-neração, aos docentes e investigadoresdesse subsistema de ensino superior,paralelas às em vigor no Ensino SuperiorPúblico".

"A institucionalização do subsídio dedesemprego na base da carta aos deputa-dos enviada pela FENPROF e pelo SNE-Sup, por forma a não deixar de foranenhum docente do ensino superior ouinvestigador, qualquer que seja a natu-reza do seu vínculo", é assunto de pri-meiro plano no quadro das reivindica-ções que os docentes e investigadoresapresentam ao poder político.

J.P.O.

e rnação Sócrates/Mariano Gago

em Portugal de A a Z

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GOVERNO DAS INSTITUIÇÕES

É também necessário garantir a eficáciae a eficiência da governação das institui-ções, aumentando a sua responsabiliza-ção social, tornando mais efectivos osmecanismos de prestação de contas àsociedade e sendo mais exigente paracom os resultados da sua actividade, mascontrariando resolutamente a tendênciapara a sua predominante orientação porcritérios de mercado.

HOJE

Na ordem do dia está a luta pela defesados actuais postos de trabalho e quali-ficá-los, bem como favorecer o rein-gresso de muitos dos docentes afastadospor razões meramente financeiras, casose pretenda que o Ensino Superior estejaà altura do que lhe é socialmente exigido.

INSTABILIDADE

Cresce a instabilidade nas instituições,cujos responsáveis máximos são compe-lidos a reduzir despesas salariais, ati-rando frequentemente esse ónus sobre asunidades académicas de base, o queaumenta a conflitualidade e tolhe a capa-cidade para responder, de forma constru-tiva e coesa, aos desafios e às dificulda-des existentes. Multiplicam-se os contra-tos de docentes não renovados, aumentaa precariedade de emprego e a tentaçãode instrumentalizar mecanismos de ava-liação de docentes, como forma de con-cretizar despedimentos.

JUNTOS NUM “MÊS DE LUTA”

Em Maio, os investigadores e docentesdo Ensino Superior vão realizar um "Mêsde Luta pelo Ensino Superior e pela Car-reira", com a realização de plenários eoutras iniciativas e reforçando também asensibilização da opinião pública para asituação que se vive no sector.

LIBERDADE ACADÉMICA

As condições necessárias ao exercício daliberdade académica, que inclui a liber-dade de criação, a liberdade de expres-são da opinião sobre matérias do âmbitocientífico, ou social, nomeadamente asrelativas a assuntos da própria institui-ção, implicam estabilidade de emprego ea garantia de acesso a uma carreiramediante concurso (reservando-se o con-vite para as contratações de verdadeirosespecialistas), com a efectiva oportuni-dade de obtenção de um vínculo perma-nente, condições apenas asseguradas porformas de vinculação de direito público.

MÉRITO

Devem ser postos em prática sistemas,não dependentes de limitações de carác-ter administrativo ou financeiro, queefectivamente reconheçam e recompen-sem, designadamente pela promoção, omérito quanto ao desempenho e às quali-ficações adquiridas, baseados em proce-dimentos idóneos, equitativos e transpa-rentes de avaliação da actividade dosdocentes e dos investigadores.

NOVOS DOCENTES

Mesmo num quadro de melhor gestãodos recursos existentes, será necessáriocontratar novos docentes, inclusive pararejuvenescimento dos corpos docentes.

OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS

É necessária uma gestão do sistema deensino superior público baseada emobjectivos estratégicos nacionais, inclu-indo a necessidade de combater as assi-metrias regionais; na racionalização demeios; numa mais efectiva regulação eno aumento das exigências de qualidade

e eficácia, tendo como referência eleva-dos padrões internacionais. Essa gestãodeve ser feita com os docentes, nuncacontra eles.

PARTICULAR E COOPERATIVO

No ensino superior particular e coopera-tivo, é iníqua a situação que se arrasta hádécadas de cumplicidade objectiva desucessivos governos quanto às arbitrarie-dades exercidas por entidades instituido-ras, quanto às condições contratuais,incluindo remunerações, e a carreira, emviolação do estabelecido na legislaçãogeral do trabalho e no Estatuto do EnsinoSuperior Particular e Cooperativo.

PolitécnicoNo Ensino Superior Politécnico, agra-vam-se as pressões de carácter político--administrativo, inibindo o imprescindí-vel desenvolvimento académico e cientí-fico das instituições que o integram, pre-carizando, ainda mais, as condições detrabalho dos respectivos docentes e, oque é estruturalmente mais grave, depre-ciando uma parte substancial do SistemaPúblico de Ensino Superior em nome deuma inaceitável repartição da "funçãosocial" que, menoriza globalmente oPolitécnico e, em última análise, levará aquestionar se ainda é de ensino superiorque se trata.

QUALIFICAÇÃO

Toda a capacidade instalada em recursoshumanos no ensino superior público nãoé de mais para as necessidades de quali-ficação de uma população activa tãocarente dos níveis educativos indispen-sáveis ao desenvolvimento do nossoPaís. Das intenções anunciadas há doisanos até à realidade que hoje se vive,fica um mar de promessas por cumprir…

1 4 SUP AO N .º 216 ■ ABRIL 2007

ACÇÃO SINDICAL

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REMUNERAÇÕES

Os níveis remuneratórios devem ser com-petitivos de forma a assegurar o recruta-mento dos melhores e a sua plena dedica-ção às actividades das instituições, comincentivos salariais ao envolvimento emactividades de ligação à sociedade, emparticular em parcerias ensino superior//empresas, no âmbito das quais deveráser facilitada a mobilidade voluntária dedocentes e de investigadores, bem comoentre o sistema de ensino superior e o sis-tema científico ou entre subsistemas dosistema de ensino superior.

SUBSÍDIO DE DESEMPREGO

É inaceitável a actual situação de ausên-cia de concretização legal do direito aosubsídio de desemprego constitucional-mente consagrado.

TIMINGS DO MINISTRO

"Até ao Verão aprovaremos, após nego-ciação, as revisões dos Estatutos da Car-reira Docente Universitária, da CarreiraDocente Politécnica e da Carreira deInvestigação", afirmou Mariano Gago naAssembleia da República, em 23 deFevereiro passado. No fecho desta edi-ção do JF/Sup (finais de Março) nada sesabia sobre os propósitos daquelas revi-sões ou sobre os timings de negociaçãocom as organizações representativas dosdocentes e investigadores. Com querelógios e calendários se trabalha noPalácio das Laranjeiras?...

UNIDADE

A unidade dos docentes e investigadoresé uma peça fundamental na exigência deum Ensino Superior de qualidade, norespeito pelos legítimos direitos dos quetrabalham nestes sectores estratégicospara o desenvolvimento do País.

VALOR INALIENÁVEL

A gestão democrática, entendida como oexercício do direito e do dever da comu-nidade académica, nas suas várias com-ponentes, de participação nos debates enas tomadas de decisão (tendo em consi-deração o diverso papel de cada uma dascomponentes e as diferentes competên-cias de cada indivíduo) é um valorinalienável, constitucionalmente consa-grado, essencial à eficácia das missõesconfiadas às instituições do ensino supe-rior, sem prejuízo de uma mais efectivaparticipação de representantes externos(nunca maioritários), do aumento da res-ponsabilização individual e colectiva, ede um sistema de gestão mais ágil.

XXI

Nesta primeira década do século XXI per-manecem visões estreitas de "poupança"de recursos financeiros no ensino supe-rior, sector onde os gastos por aluno seencontram ainda abaixo de metade do dis-pendido pela média dos países da OCDE(ver em "Education at a Glance"). Estapolítica, a prazo, sairá muito cara ao País.

ZERO

Os aumentos zero e a degradação dossalários têm sido b a n d e i r a s d e s t eGoverno contra a AdministraçãoPública. ■

ABRIL 2007 ■ SUP A O N .º 216 1 5

O Governo, através do Secretário de Estadoda Segurança Social, anunciou a entrega ao sec-tor financeiro privado, numa primeira fase, de600 milhões de euros, do Fundo de Estabiliza-ção da Segurança Social (FESS). Em nota divul-gada no passado mês de Março, a CGTP-IN“rejeita tal medida, e considera-a mais umacedência ao sector financeiro, para obter maislucros, quando estes já arrecadam centenas demilhões à custa dos dinheiros públicos e doendividamento das famílias e de benefícios fis-cais, que representam uma grande despesa parao Orçamento do Estado. “

Na perspectiva da Central, o momento paraanunciar tal medida – o Fórum do Sector Segu-rador e Fundos de Pensões - pode ser interpre-tado “como uma compensação ao sector finan-ceiro, pelo facto do Governo se ter comprome-tido em não avançar com a concretização doplafonamento há muito esperada por este sec-tor, apesar de o ter inserido na Lei de Bases daSegurança Social.”

E acrescenta a Inter: “Mais se confirma acedência de tal medida do Governo ao sectorfinanceiro, quando se sabe que o FESS, que égerido por um instituto público, tem tido asmelhores “performances” ao longo dos anos,sem estar exposto a capitais de risco elevado,como está o sector financeiro privado, dado queeste pode ter até 55% da sua carteira emacções.”

Depois de revelar que a carteira do FESS,em 31 de Dezembro de 2006, era de 6 mil e 633milhões de euros, e que em acções tinha cercade mil e trezentos milhões de euros, cerca de21%, (o seu limite pode ir até 25%), a CGTP-INlembra que “pelos fins que prossegue - gerir osdinheiros descontados pelos trabalhadores paraassegurar no futuro as suas pensões – o FESS“tem uma estrutura prudente que não podeestar exposta a riscos elevados”.

”É falacioso poder comparar a qualidade e arentabilidade de uma carteira de títulos com aqualidade de gestão. Quanto maior for o risco,maior pode ser a rentabilidade dos fundos, masé preciso que as bolsas subam todas, porque,se for ao contrário, os fundos têm resultadosbem mais negativos, como tem acontecidodurante vários anos”, alerta a nota da Central,que reforça este aviso:

“A CGTP-IN não pode acei tar que odinheiro que é resultado das contribuições dostrabalhadores e dos saldos do seu regime,esteja exposto a estes riscos e entende, porisso, que a sua carteira deve ser totalmentegerida pelo instituto público”, c o n s i d e r a n d o“inconcebível “que o Executivo Sócrates anuncieuma medida desta natureza sem ouvir o Conse-lho Consultivo do FESS, que não reúne desde 5de Setembro de 2006. ■

Segurança SocialCGTP-IN rejeitaentrega de verbas do Fundo de Estabilização aos privados

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Desde o ano de 2000 que na Assem-bleia da República vêm sendoapresentados projectos de lei que

visam alargar o direito ao subsídio dedesemprego à generalidade dos trabalha-dores da Administração Pública, ou, pelomenos, aos docentes do ensino superior einvestigadores, particularmente expostosao risco de desemprego, atenta a elevadaprecariedade dos vínculos laborais preva-lecentes no sistema de ensino superior.

Nem a publicação do Acórdão nº474/2002 do Tribunal Constitucional,que reconhecendo a existência de umainconstitucionalidade por omissão legis-lativa, recomendou à Assembleia daRepública e ao Governo que legislassemno sentido de a ultrapassar, conseguiuaté agora resolver o problema. EmNovembro de 2003, foi aprovado nageneralidade um projecto de lei do Par-tido Socialista (Projecto de Lei 236-IX)relativo ao enquadramento do pessoal daAdministração Pública e à eventualidadede desemprego que, tendo baixado àComissão da especialidade veio a cadu-car com a dissolução da Assembleia daRepública e o fim da IX legislatura.

Empossado o XVII Governo Constitu-cional (PS) o Conselho de Ministros de 2de Junho de 2005, que anunciou o desen-cadeamento de uma reforma da Adminis-tração Pública, colocou no sítio da Presi-dência do Conselho de Ministros um pro-jecto de Proposta de Lei sobre "ProtecçãoSocial" registado na Presidência do Con-selho de Ministros sob o número PL140/2005 de 2005.05.23, o qual, em ter-mos de técnica orçamental consagravacomo solução o processamento das presta-ções pelos organismos e serviços em queos interessados exercessem funções à datada ocorrência da situação de desemprego.

Todavia, a referida Proposta de Lei nuncachegou à Assembleia.

Admitiu-se que, pelo menos em rela-ção ao pessoal que viesse a ser admitidoposteriormente a 1 de Janeiro de 2005,viesse a ser automático o enquadramentono regime geral da Segurança Social,porquanto o artigo 2º da Lei nº 60/2005,de 29 de Dezembro, veio determinar ainscrição de todos os novos admitidos,qualquer que fosse o seu tipo de vínculo,no "regime geral de Segurança Social".No entanto, ao arrepio do que era certa-mente a convicção de todos os que, naAssembleia da República, votaram favo-rável ou desfavoravelmente o referidodiploma, veio o Decreto-Lei nº 55/2006,de 15 de Março, que apenas deveriadefinir regras de execução da Lei nº60/2005, determinar que os inscritospagariam a mesma taxa social única quea generalidade dos trabalhadores porconta de outrem mas estariam excluídosda protecção em caso de desemprego.Ou seja, a situação de inconstitucionali-dade mantém-se e até se agrava.

Veio entretanto o Decreto-Lei nº117/2006, de 20 de Junho, após discussãoem sede de concertação social, asseguraro pagamento do subsídio de desempregoaos trabalhadores da administraçãopública que transitem de um regime devinculação de direito público para oregime de contrato administrativo de pro-vimento para o regime de contrato indivi-dual de trabalho, nos seguintes termos:

Artigo 3.ºÂmbito material

1 - As regras especiais previstas nopresente decreto-lei reportam-se à pro-tecção (…) no desemprego.

2 - Às eventualidades previstas no

número anterior, aplicam-se os regimesjurídicos do subsistema previdencial,com as particularidades previstas no pre-sente decreto-lei.

3 – (…)

Artigo 5.ºRelevância dos períodos de trabalho

1 - Nas situações em que ocorram aseventualidades de desemprego (...), operíodo de trabalho prestado, ou equiva-lente, imediatamente anterior ao iníciodo contrato individual de trabalho é con-siderado para efeitos do cumprimento doprazo de garantia e do índice de profissi-onalidade, para efeitos da prestação.

2 - A remuneração total relevante,para efeitos de apuramento da remunera-ção de referência, de acordo com oregime jurídico das eventualidades refe-ridas no n.º 1 do artigo 3.º, é completadacom as remunerações pagas durante operíodo de trabalho imediatamente ante-rior ao início do contrato individual detrabalho, sempre que as remuneraçõesregistadas no regime geral não sejamsuficientes.

3 - Na situação prevista no númeroanterior, o montante da remuneraçãocorresponde à remuneração base mensalauferida nos meses considerados.

Artigo 6.ºPagamento retroactivo

de contribuiçõesA concessão das prestações nos ter-

mos do artigo anterior, bem como adeterminação do respectivo montante,depende do pagamento retroactivo dascontribuições, pela entidade emprega-dora, correspondentes ao número demeses contabilizados, anteriores ao iní-cio do contrato individual de trabalho.

1 6 SUP AO N .º 216 ■ A BRIL 2007

ACÇÃO SINDICAL

Subsídio de desemprego

Carta aos deputadosNa sequência do recente impedimento, pelo Grupo Parlamentar do PS, da concretização do direito ao subsídio de desemprego para os docentes do ensino superior e para os investigadores vinculados a instituições públicas,a FENPROF e o SNESup enviaram uma carta aos deputados no passado dia 7 de Março, assinada pelos dirigentes sindicais Manuel Pereira dos Santos,pela FENPROF, e Nuno Ivo Gonçalves, pelo SNESup, que aqui reproduzimos

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Tal como em relação ao projecto deProposta de Lei registado na Presi-dência do Conselho de Ministros

sob o nº PL 140/2005, seguiu-se umatécnica orçamental que não onera o orça-mento da Segurança Social, neste casopor assegurar uma contrapartida contri-butiva.

A recente rejeição na generalidadedos Projectos de Lei nº 159/X (PCP), nº346/Xº (BE) e nº 348 X (CDS/PP) quevisavam resolver o problema pelo menospara os docentes do ensino superior einvestigadores, não convenceu os desti-natários imediatos nem a opiniãopública.

Não se trata de reestruturar o sistemade protecção social existente, trata-se decriar um direito elementar de protecçãosocial que ainda não existe.

Não se trata de fazer mais uma lei,trata-se de eliminar, como diz o Profes-sor Jorge Miranda uma "inconstituciona-lidade por omissão agravada"

Se se pretende consagrar uma solu-ção geral, a solução é simples, bastaseguir a técnica adoptada pelo actualGoverno Constitucional no Decreto-Leinº 117/2006, que passou por concertaçãosocial.

Ainda recentemente a União Geralde Trabalhadores (UGT) em reunião dedia 11 de Janeiro de 2007 do seu Secre-tariado Nacional se pronunciou nestesentido "A UGT exige a atribuição desubsídio de desemprego a todos os traba-lhadores da Administração Pública com

vínculo estatutário, alguns com vínculosprecários e em risco de desemprego.Não é aceitável que estes sejam os úni-cos trabalhadores deste País a quem érecusado o acesso ao subsídio de desem-prego". Também a CGTP se tem mos-trado favorável a que se legisle no sen-tido apontado.

Assim, a Federação Nacional de Pro-fessores (FENPROF) e o SindicatoNacional do Ensino Superior (SNESup)vêm pedir aos Senhores Deputados que,nos termos Constitucionais e regimentaisaplicáveis, subscrevam, transformando-oem projecto de lei, o seguinte texto, oqual incorpora soluções e preocupaçõesde todos os grupos parlamentares desdehá sete anos se vêm pronunciando sobreo assunto.

Artigo 1.ºObjecto

É reconhecido o direito a subsídio dedesemprego ao pessoal ao serviço daAdministração Pública que não estejaabrangido por legislação que regule aprotecção em caso de desemprego.

Artigo 2.ºÂmbito pessoal

A presente lei aplica-se aos trabalha-dores da Administração Pública que, nãoestando abrangidos por legislação queregule a situação em caso de desem-prego,

a) se encontrem vinculados pornomeação e o vínculo cesse por inicia-

tiva da administração ou por falta deconversão da nomeação provisória emdefinitiva

b) estejam vinculados por contratoadministrativo de provimento e estecesse por iniciativa da administração oupor caducidade.

c) exerçam funções que possam serconsideradas de trabalho subordinado ecujo exercício cesse por iniciativa daadministração ou por caducidade docontrato que titule a relação

Artigo 3ºÂmbito material

Às eventualidades previs tas nonúmero anterior, aplica-se o regime jurí-dico do Decreto-Lei nº 220/2006, de 3de Novembro, com as particularidadesprevistas na presente Lei.

Artigo 4.ºRelevância dos períodos de trabalho

1 – Nas situações em que ocorram aeventualidade de desemprego, o períodode trabalho prestado, ou equivalente,imediatamente anterior à ocorrência dasituação de desemprego é consideradopara efeitos do cumprimento do prazo degarantia e do índice de profissionalidade,para efeitos da prestação.

2 – A remuneração total relevante,para efeitos de apuramento da remunera-ção de referência, tem em conta as remu-nerações pagas durante o período de tra-balho imediatamente anterior à ocorrên-cia da situação de desemprego.

AB RI L 2007 ■ SUP AO N .º 216 1 7

Page 18: Abril de 2007

3 – Na situação prevista no númeroanterior, o montante da remuneraçãocorresponde à remuneração base mensalauferida nos meses considerados.

4 – A contagem do tempo relevantepara efeitos dos números anteriorespode, nas situações a que se refere a alí-nea c) do artigo 2.º do presente diploma,ser comprovada pela inspecção corres-pondente, sempre que o organismo ouserviço a que o interessado se encontravinculado não emita a correspondentedeclaração.

Artigo 5.ºPagamento retroactivo

de contribuiçõesA concessão das prestações nos ter-

mos do artigo anterior, bem como adeterminação do respectivo montante,depende do pagamento retroactivo dascontribuições correspondentes à protec-ção em caso de desemprego, determina-das, pelos organismos e serviços daAdministração Pública a que o trabalha-dor tenha estado vinculado durante otempo considerado para efeitos do pre-enchimento do período de garantia.

Artigo 6.ºEncargos

Os encargos decorrentes da aplicaçãoda presente Lei são suportados por ver-bas inscritas nos orçamentos dos orga-nismos e serviços a que os trabalhadorestenham estado vinculados, sem prejuízodas adequadas alterações orçamentaisque vier a ser necessário efectuar nostermos da legislação em vigor.

Artigo 7.ºRegulamentação

Os procedimentos a observar na exe-cução da presente Lei designadamenteos referentes à necessária comunicaçãoentre as entidades empregadoras e asentidades da segurança social, são apro-vados por portaria conjunta dos mem-bros do Governo que tenham a seu cargoa área das finanças, da AdministraçãoPública e da segurança social, após apublicação da presente Lei.

Artigo 8.ºEntrada em vigor

A presente Lei entra em vigor em 1de Janeiro de 2008, podendo o Governo,através da Portaria a que se refere oartigo anterior, determinar a antecipaçãoda sua entrada em vigor. ■

1 8 SUP AO N .º 216 ■ A BRIL 2007

NACIONAL

Indígenas do Panamá

National Geographic distingue antropólogos da UTAD

Os antropólogos da Universidade deTrás-os-Montes e Alto Douro (UTAD),Xerardo Pereiro e Cebaldo de León Ina-winapi, foram distinguidos pela NationalGeographic Society pela sua investiga-ção sobre os indígenas Kuna do Panamá,anunciou fonte da universidade.

Os investigadores fazem parte doCentro de Estudos Transdisciplinarespara o Desenvolvimento (CETRAD) e,desde 2003, estão a promover um pro-jecto de investigação sobre o turismo e asmudanças sócio-culturais entre os Kuna.

A National Geographic Society atri-buiu o prémio pela "destacada qualidadecientífica" da investigação em KunaYala, no Panamá.

Segundo fonte da UTAD, a NationalGeographic Society valorizou o projectopela proposta de descrição e interpreta-ção de um modelo de desenvolvimento

turístico controlado e definido politica-mente pelos próprios indígenas Kuna.

Destacou ainda os aspectos metodo-lógicos do trabalho, designadamente otrabalho de campo em equipa, a observa-ção intensiva e extensiva por todo o ter-ritório de Kuna Yala, San Blas.

A National Geographic considerouainda o facto de se tratar de uma co-investigação antropológica com os pró-prios Kuna e a reflexão crítica sobre osimpactos do sistema turístico, as suasresistências e a sua alerta para a criaçãode modelos de turismo alternativos.

Os resultados do projecto serãodivulgados internacionalmente pelarevista “National Geographic”, na suatelevisão e através de palestras por todoo mundo, principalmente nos EstadosUnidos.

Lusa, 26/03/2007

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Fernando Seabra Santos, presidentedo conselho de reitores das univer-sidades portuguesas (CRUP), clas-

sificou como "profundamente incoe-rente" o projecto de decreto-lei que criaa agência de avaliação e acreditação paraa garantia da qualidade do ensino supe-rior. "é muito estranho que quem tantofala em independência se esqueça de aassegurar", afirmou, em declarações aoPúblico, referindo-se ao facto de estarprevisto que os membros do conselhogeral daquela estrutura sejam nomeadospelo governo.

Tal como acontece no texto do pare-cer do CRUP sobre o diploma, divul-

gado ao princípio da noite de ontem,também Seabra Santos começou pordizer que o conselho "é completamentefavorável à criação de uma agência inde-pendente". Isto para sublinhar, precisa-mente, que os reitores consideram que "aforma [prevista] de designação dosmembros dos diferentes órgãos não cor-responde ao "traço essencial de indepen-dência quer face ao poder político, queràs entidades avaliadas", conforme se lêno preâmbulo do projecto de decreto-lei.

O CRUP questiona, em concreto, ofacto de o conselho geral da agência àqual caberá realizar a avaliação e a acre-ditação de todos os estabelecimentos e

ABRIL 2007 ■ SUP A O N .º 216 1 9

Conselho de Reitores rejeita diploma que cria Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior

Novo Presidente do CRUP começa bem!

cursos do ensino superior "ser constitu-ído apenas por vogais nomeados pelogoverno". "Estamos a falar de um órgãodeterminante, na medida em que temcompetência para nomear e destituir osconselhos de administração e de revi-são", frisou Seabra Santos.

Em alternativa, é sugerida, no pare-cer, "uma comparticipação nas responsa-bilidades". Em concreto, que um vogalseja escolhido pelo primeiro-ministro;outro indicado em conjunto pelo CRUP,pelo conselho coordenador dos institutossuperiores politécnicos e pela associaçãoportuguesa do ensino superior privado; eque o terceiro seja cooptado por aquelesdois vogais.

O CRUP descobre "outra das profun-das incoerências" referidas por SeabraSantos no sistema de financiamento daagência: "à excepção de um períodotransitório de três anos, quem manda é ogoverno e quem paga são os avaliados",interpreta o presidente. Propõe-se noparecer que o governo assuma uma per-centagem (que não quantifica) dos cus-tos dos processos desenvolvidos pelaagência, "dada a natureza obrigatória daavaliação e da acreditação".

Na manhã de ontem, ao discursar nacerimónia de tomada de posse do cargode reitor da Universidade de Coimbra,Seabra Santos já se referira ao assunto.Mas para considerar "preocupante" quese avance "com uma avaliação internaci-onalmente referenciada" num momentoem que "chega às universidades portu-guesas, por cada aluno, apenas metadedo que dispõe por aluno a universidadeeuropeia média".

"Se não houver bom senso e serie-dade, o resultado desta atitude volunta-rista pode revelar-se dramático", alertou,sublinhando que, "para comparar resul-tados, os recursos também têm de sercomparáveis".

Graça Barbosa Ribeiro “Público”, 01/03/2007

O Júri do Prémio Universidade de Lisboa 2006, reunido recentemente na Reitoria da UL, congra-tulou-se com o número, a diversidade e a qualidade das candidaturas apresentadas e entendeupor consenso atribuir o galardão a Maria Odette Santos Ferreira, Profª. Catedrática Jubilada daFaculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, pelo mérito científico da sua obra, que contri-buiu de forma notável para a descoberta do HIV-2. A projecção internacional dos seus trabalhos, que permitiram aprofundar, no plano mundial, oestudo da infecção da imunodeficiência humana, o impacto social do seu trabalho e pela acçãoque desenvolveu para prevenir a disseminação da doença, em particular como coordenadora daComissão Nacional de Luta contra a SIDA e ainda conjunto da sua carreira universitária, cons-truída com grande rigor e persistência, que conduziu à formação de uma escola de investigadoresnesta área de conhecimento, foram outros dos motivos tidos em conta pelo júri.

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Apesar dos constrangimentos finan-ceiros dos tempos presentes, osEstatutos de Carreira do Pessoal

Docente do Ensino Superior Politécnicoconsagram o direito dos Assistentes de2º triénio, que satisfaçam os requisitosde tempo de serviço e de habilitações, aquem seja distribuído serviço docenteidêntico ao dos professores adjuntos, areceberem uma gratificação de valorcorrespondente à diferença entre o seuíndice remuneratório e o de professoradjunto.

Este direito, vertido no nº 3 do artº 3ºdo DL 185/81, de 1/7, tal como outrosestatutariamente consagrados, é facil-

mente negligenciado quer por desconhe-cimento dos interessados quer por inter-pretações abusivas orientadas pelas limi-tações orçamentais das instituições.

Chamado recentemente a pronunciar--se sobre recurso de uma sentença favo-rável a uma nossa sócia, o Tribunal Cen-tral Administrativo do Norte (TCAN)vem confirmar que:

• A leccionação de aulas teóricas nãofaz parte das competências de um assis-tente mas antes das de um professoradjunto;

• A existência de limites, máximo emínimo, de horas lectivas semanais nãoobriga à atribuição do limite máximo

nem obriga a que esse limite seja atin-gido através de serviço fora do conteúdofuncional previsto para cada categoria dacarreira;

• A atribuição a assistentes da leccio-nação de aulas teóricas, independente-mente da carga horária, corresponde aser-lhes distribuído serviço idêntico aode professor adjunto;

• Tal distribuição de serviço confereaos assistentes o direito à gratificaçãoprevista no nº 3 do artº 3º do ECPDESP.

Este foi o sentido do Acórdão profe-rido pelo TCAN através do qual vimosconfirmada a interpretação que temosveiculado aos nossos associados. ■

2 0 SUP AO N .º 216 ■ ABRI L 2007

NACIONAL

Exercício de funções de Professor Adjunto no Politécnico

Assistentes têm direito a gratificação

Opresidente do Conselho Coorde-nador dos Institutos SuperioresPolitécnicos Portugueses (CCISP)

defendeu o fecho da Universidade Inde-pendente (UI), considerando que a insti-tuição não tem credibilidade para existir.

A situação da universidade foi hojedebatida pelos responsáveis dos politéc-nicos, que defenderam uma intervençãoda tutela que garanta os direitos dosactuais e antigos alunos.

"Esta situação não é sustentável eentendemos que estão feridos de formagrave os interesses dos actuais e antigosalunos", disse Luciano Almeida.

Nesse sentido, propôs o CCISP, oMinistério da Ciência e do Ensino Supe-rior deveria "criar mecanismos que per-mitam a transferência dos alunos paraoutras instituições públicas e privadas".

No que respeita aos antigos alunos, oMinistério "deve acautelar os arquivosda Universidade porque eles salvaguar-dam o interesse" desses estudantes queconcluíram os seus cursos na UI.

"A actual situação não é susceptívelde reparação" e a UI "jamais poderá

Conselho dos Politécnicos defendeencerramento da Univ. Independente

readquirir credibilidade", afirmou o pre-sidente do CCISP.

Para Luciano Almeida, agora "há queacautelar não o interesses dos accionis-tas mas dos actuais e antigos alunos"pelo que o caminho só pode ser o encer-

ramento da UI."A universidade justificava-se pelo

serviço público que desempenhava" mas"agora isso não acontece", considerou opresidente do CCISP.

Lusa, 30/03/2007

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A14 de Novembro de 2006,homens armados usando o uni-forme dos comandos da polícia

nacional iraquiana, irromperam pelo edi-fício do Ministério da Educação emBagdad. Chegados de imprevisto, rapi-damente detiveram cerca de 100 mem-bros do pessoal cujos nomes figuravamnuma lista e ainda outras pessoas.

Em pleno dia, os paramilitares alge-maram e vendaram os olhos a docentesuniversitários idosos, a jovens professo-res, a secretárias, a pais e a visitantes.Partiram de seguida com os detidos parauma prisão clandestina onde, segundotestemunhos, uns sofreram fracturasvárias e outros foram mortos (os núme-ros precisos ainda não foram divulga-dos). (…)

Numa carta endereçada às autorida-des, o Secretário Geral da IE, Fred vanLeeuwen, informou o governo iraquianoque a Internacional de Educação manti-nha contacto com o relator especial dacomissão dos direitos humanos da ONUa propósito das execuções extrajudiciais,sumárias ou arbitrárias, a fim de exigirque a crescente violência sobre universi-tár ios e professores no Iraque sejaobjecto de um inquérito.

Centenas de universitários têm sidomortos no Iraque desde a invasão pelosEstados Unidos e a queda do regime de

Sadam Hussein em Março de 2003. Oministro iraquiano da Educação declarouque 296 agentes de educação tinhamsido mortos só em 2005. Segundo oGabinete de Coordenação das AcçõesHumanitárias das Nações Unidas, 180professores foram mortos desde Feve-reiro de 2006 e uma centena de pessoasforam raptadas.

Na sua carta, van Leeuwen sublinhouestes factos arrasadores e acrescentou:"Os raptos de professores representamgraves violações não apenas do direitode viver e de trabalhar num ambienteseguro, mas também do direito funda-mental à vida. A Internacional de Educa-ção não se refere exclusivamente aorecente rapto em massa que teve lugarna Direcção da Investigação Científicado Ministério do Ensino Superior. Osraptos e os assassinatos destroem asfamílias e fazem perigar o futuro do Ira-que. A chacina de docentes e o encerra-mento de escolas prejudicam os jovens enão transmitem uma mensagem de opti-mismo e de esperança."

Atendendo ao papel essencial que aeducação desempenha para o futuro dopaís, van Leeuwen alertou para o factoda espectacular escalada de violênciaestar a provocar o êxodo em massa deuniversitários e de docentes. Até hoje,mais de 3250 docentes fugiram do Ira-

que. "Esta significativa ‘fuga de cére-bros’ de docentes é uma catástrofe queafecta seriamente o processo de recons-trução do país e cujos efeitos negativosse perpetuarão nos anos vindouros"acrescentou.

A violência contra as instituiçõeseducativas e contra os docentes produziuigualmente uma redução significativa dafrequência escolar. Segundo estatísticasrecentes do Ministério da Educação, só30% dos 3,5 milhões de crianças ira-quianas em idade escolar frequentamactualmente a escola, contra os 75% doano lectivo anterior. (…)

A IE não é a única preocupada com asegurança dos universitários iraquianos.O Brussels Tribunal, uma rede de acti-vistas dos direitos humanos, lançou umapelo urgente para salvar universitáriosiraquianos. Entre os mais de 10 000 sig-natários da petição que a rede lançou,figuram dois antigos Secretários Geraisdas Nações Unidas, eminentes académi-cos como Noam Chomsky e HowardZinn, escritores como Eduardo Galeanoe os prémio Nobel Dário Fo, José Sara-mago, J.M. Coetzee e Harold Pinter.

Tradução do artigo "Les universitairesirakiens en grand danger", IE Mondes

de L’Education, nº 21, Jan-Fev 2007

ABRIL 2007 ■ S UP AO N. º 216 2 1

INTERNACIONAL

Internacional de Educação alerta

Universitários iraquianos em perigo

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2 2 SUP AO N .º 216 ■ ABRIL 2007

Colóquio da IE/Europa, em Londres

“Fazer de Bolonha uma realidade”A

s questões da mobilidade, envol-vendo docentes e alunos, estiveramno centro do debate que decorreu

recentemente em Londres, subordinado aotema geral “Fazer de Bolonha uma reali-dade”, por iniciativa da Internacional deEducação/Europa. Manuel Pereira dosSantos, do Departamento do Ensino Supe-

rior e Investigação da FENPROF, partici-pou nos trabalhos deste seminário de doisdias, que reuniu dirigentes da IE e umconjunto de convidados, incluindo respon-sáveis governamentais, oriundos de váriospaíses europeus. A iniciativa incluiu apre-sentação de estudos, painéis de discussãoe workshops.

Recorde-se que em Portugal, ao con-trário do que se passa noutros países,nomeadamente no norte da Europa, nãoestá constituído o Grupo de Acompanha-mento do Processo de Bolonha, órgãoconsultivo, que deveria ser integrado poralunos, professores e representantes dasorganizações sindicais. ■

Associação Europeia das Universidades

IV Convenção abordou em Lisboa o futuro do Ensino superior euro p e uC

entenas de responsáveis universi-tários e personalidades ligadas aoensino superior de toda a Europa

encontraram-se em Lisboa, de 29 a 31 deMarço, na IV Convenção da AssociaçãoEuropeia das Universidades (EUA).

Neste encontro, que a próxima edi-ção do JF/Sup abordará com especialatenção, estiveram em foco as respostasdas instituições universitárias aos novosdesafios duma sociedade em crescenteglobalização, o desenvolvimento e a

aplicação do Processo de Bolonha eainda a Agenda de Lisboa.

Tendo como anfitrião o Conselho deReitores das Universidades Portuguesas(CRUP), e os cinco membros individuaisda EUA em Lisboa (Universidade deLisboa, Universidade Técnica de Lisboa,Universidade Católica Portuguesa, Uni-versidade Nova de Lisboa e a Universi-dade Aberta), esta IV Convenção tevelugar um pouco antes do próximo conse-lho de ministros europeu da educação

sobre o processo de Bolonha, a realizarem Londres, no próximo mês de Maio,onde será apresentada a Declaração deLisboa, resultante dos trabalhos desta IVConvenção, que registou a intervençãodo Presidente da Comissão Europeia nasessão de encerramento.

A Declaração será difundida ampla-mente por toda a Europa, aos membrosda EUA, aos governos e a outros inter-venientes no universo do Ensino Supe-rior. ■

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MúsicaUma lenda viva do “rhythm& blues” no Centro de Artes do Espectáculo de Port a l e g reAllen Toussaint, no grande auditório, no dia 23 de Junho

A llen Toussaint (nascido em Janeiro de 1938), é um consa-grado músico, compositor e produtor americano, e uma das

figuras mais influentes do Rhythm & Blues de New Orleans.Nos anos 60 e 70 escreveu sucessos para artistas tão conceitua-dos como Lee Dorsey, Robert Palmer, The Showmen, IrmaThomas, The Meters e Solomon Burke, tendo também produ-zido discos para Dr. John, Paul Simon, Etta James, AlbertKing, Joe Cocker, Elvis Costello, The Band e Art and AaronNeville, entre outros.

Reputado pianista, escritor de letras e produtor de arranjos,Toussaint escreveu canções que ainda hoje em dia continuam aser gravadas por artistas de nomeada, tais como "Working inthe Coalmine", gravada pelos The Who, Lipstick Traces (On aCigarette)", pelos Rolling Stones, "Brickyard Blues", "Get OutMy Life Woman", "Everything I Do Gonna Be Funky", e "Painin My Heart", o clássico cantado por Otis Redding.

Nos anos 70 lançou os seu álbuns mais famosos, “From aWhisper to a Scream” e “Southern Nights”. Tal como muitosdos seus contemporâneos, o seu trabalho foi redescobertoquando as suas composições foram usadas por artistas de hip-hop nos anos 80 e 90.

Em 1998, Allen Toussaint recebeu uma distinção dada apoucos artistas, tendo sido eleito para a “Rock and Roll Hall ofFame”.

Na noite de 23 de Junho, no grande auditório do Centro deArtes do Espectáculo de Portalegre (Pç. da República, 39),Toussaint apresenta-se ao público num concerto que promete.

Mais pormenores: tel.: 245 307 498, fax.:245 307 544,mail: [email protected], web: www.cm-portalegre.pt/caep, blog: www.caeportalegre.blogspot.comBilhetes ao preço único de 15 euros. ■

CULTURAL

O último álbum de Allen Toussaint, “The River in Reverse”, gravado em cola-boração com Elvis Costello (também nesta foto), foi lançado em 2006 e rece-beu uma nomeação para os prestigiados prémios Grammy.

Exposição“Lápis Azul: a Censura do Estado Novo” no Museude Caminha até 28 de Maio

M ais de meia centena de documentos ilustrativos da C e n -sura, que vigorou em Portugal durante 48 anos, pode ser

vista no Museu Municipal de Caminha, na exposição “ L á p i sAzul: a Censura do Estado Novo”, até 28 de Maio, n oseguinte horário: de segunda a sexta-feira, 9:30h-18:30h; sába-dos e domingos: 9:30h-12:30h e 15h-17h, com entrada livre.

Produzida pelo Museu Nacional da Imprensa e promovidapelo Município local, a exposição, que se integra nas comemo-rações do 25 de Abril, está estruturada em núcleos, de forma acontemplar os diversos sectores da actividade informativa ecultural em que funcionaram os mecanismos censórios, desde aimprensa à música, passando pela rádio, TV, cinema e teatro.

Ao nível da imprensa, estão patentes dezenas de provas decensura que mostram a diversidade e a tipologia dos cortes,desde a política ao desporto, incluindo as questões sindicais ecineclubísticas, entre outras. No domínio do cinema, podem serapreciadas ordens dos censores, anúncios retocados e mapassemanais dos serviços de exame e classificação da I n s p e c ç ã odos Espectáculos. Ao nível da literatura, são apresentadosvários autos de busca e apreensão de livros nas tipografias, edi-toras, livrarias e fronteiras.

No campo do teatro, guiões, ofícios, notificações e cartazesatestam a acção do “lápis azul”. No âmbito da música, apresen-tam-se processos movidos contra cantores e letras de cançõesproibidas. ■

Dança“Pedro e Inês” de regresso ao Teatro Camões

A história do amortrágico de D. Pedro

e Inês de Castro, numacoreografia de OlgaRoriz, uma das peçasmais aplaudidas pelopúblico e pela crítica datemporada 2003/2004da Companhia Nacio-nal de Bailado (CNB),vai regressar em Maioao Teatro Camões, emLisboa, no fim-de-semana de 11 e 13(sexta-feira às 21h00;

sábado às 16h00 e 21h00 e domingo às 16h00). A cenografia éde João Mendes Ribeiro. Bilhetes entre 5 e 25 euros. Maisinformações pelo telefone: 218923470 ■

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