abordagens territoriais, políticas públicas e a governança do … · 2015-01-05 · sumário da...
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Julian Quan
Natural Resources Institute University of Greenwich
Reino Unido
Sócio do Programa DTR 2006-12
Abordagens territoriais, políticas públicas
e a governança do desenvolvimento rural: perspectivas desde o Vale do Jiquiriçá, Bahia,
Nordeste do Brasil
Sumário da apresentação
Introdução a politica territorial brasileira e o estudo do Vale de
Jiquiriçá no contexto dos s resultados emergentes do programa
RTD
Politicas territoriais exitosas, e o impactos das politicas publicas e
no desenvolvimento do Vale de Jiquiriçá
Analise das relações e redes colaborativas entre os atores sociais
Avaliação critica da politica de desenvolvimento territorial –rural
Politicas territoriais no Brasil
Novo “paradigma” de desenvolvimento rural
Diversas iniciativas no Brasil, em particular desde 2003
Convergência em volta das programas Federais e estaduais de
“Territórios de Identidade” e “ Territórios da cidadania”
As politicas integram conceitos de cidadania e democracia
deliberativa: qual e o potencial real para reforçar a gestão publica
e governança democrática dos processos de desenvolvimento
rural?
Contexto – resultados do programa RTD
7 fatores chaves que determine as trajetórias e resultados dinâmicas de desenvolvimento rural
No Vale de Jiquiriçá: 20 Municípios com variações geográficas da estrutura agraria,
produtividade do capital natural tem condicionado os vínculos com mercados dinâmicos, e as trajetórias de desenvolvimento territorial observadas
Importância central de politicas e investimento publico em estruturando as possibilidades de desenvolvimento produtivo, inclusão social e redução de pobreza; mudanças nas interações estado – sociedade civil & grande expansão da intervenção publica pelo governo Lula
Hoje presença de uma coalizão social em que atores do estado jogam papeis significantes (cf. Bebbington 2007)
Estudos de coalizões sociais e mercados dinâmicas: a coalizão local e restrita e o Brasil investiu mais na infraestrutura dura do que nas condições sociais e institucionais
Rio JiquiriçaLimites do territórioLimites dos municípios e da bacia
LegendaVale de Jiquiriçá: Território,
Bacia hidrográfica, e municípios
O Vale de Jiquiriça se caracteriza pela diversidade ambiental, resultado da variação
pluviométrica e de altitude, com zonas de Mata Atlântica, do semi-árido, e de transição
entre esses dois ecossistemas, além da influência humana marcada pelo desmatamento e pela
substituição da vegetação original por pastagens
Características de políticas territoriais exitosasTrata-se de politicas e iniciativas centrados em lugares ou determinados espaços geográficos em varias possíveis. Implica participação dos atores territoriais e melhor coordenação de intervenções setoriais
8 caraterísticas gerais (Schejtman e Berdegué 2004):
Vincular mudanças produtivas com mudanças institucionais; operar com conceito alargado do rural; território como espaço rural com identidade social; atenção a diversidade dos territórios; criação de sinergias entre politicas setoriais; envolvimento de todos atores; abordar a pluriatividade dos pobres; integrar estratégicas de médio e longo prazo
Critérios resultadas do programa RTD (Rimisp 2011):
Coesão territorial implique analise dialogo entre dados e perspectivas territoriais desagregados e politicas nacionais
Desenvolvimento ativo de coalizões sociais inovadoras: ex. Fundos territoriais geridas por estruturas representativas com autoridade real; investimento em bens publicas vinculados com os motores de desenvolvimento; projetos com duração que ultrapassa mandatos políticos
Descentralização que transfere autoridade, capacidade e recursos reais aos governos locais num contexto de cidadania real (para evitar captação pelos elites locais)
Politicas territoriais no Brasil
Fóruns colegiados de sociedade civil e prefeituras municipais facilitados pelo
MDA em Territórios selecionados, com controle sobre financiamento da
programa PROINFRA
Origem na politica agraria com abrangência crescente -Territórios de Cidadania
e um programa inter-setorial, coordenado pela Casa Civil da Presidência)
Promove a participação dos segmentos sociais previamente excluídos na gestão
do desenvolvimento rural, através de fóruns colegiados
Processo emergente do longo prazo; articulação de identidade territorial, visão
compartilhada e planejamento / gestão conjunto pelos atores
Regulada por regras e expectativas burocráticas para foros colegiados
territoriais ganharem apoio financeiro para projetos territoriais e adquirir
capacidade para a sua gestão
Na Bahia, apos um processo da consulta, houve decisão politica para dividir o
estado todo em 26 territórios rurais e complementar o apoio do MDA com
apoio do Governo Estadual
Área da Politica Intervenções especificas Período Impactos
Agricultura Eradicacao do café – varias
campanhas
Promocao de cacau
Historico a partir dos 1930s
A partir dos 1960s
Negativo para muitos municipios
Positivo para a zona da mata
Desenvolvimento
Agrário - apoio ao
setor familiar
PRONAF (credito ao pequeno produtor
Reforma agraria (e credito fundiário)
ATER (extensão rural)
Aquisição publica de Alimentos (PAA/
PNAE)
A partir de 1995 (FHC)
Expansao pelo governo Lula a
partir de 2003
Diferenciados, dependentes das
condicoes, com maiores impactos
na zona da mata
Descentralização Transferencias Federais aos
Municipios
A partir da constituição 1988;
expansão pelo governo Lula a
partir de 2003
Reforço ao emprego publico, saúde
e educação ; Permite a
sobrevivência de Municípios
pequenos sem base econômica
Transferências
sociais de renda
Aposentadoria Rural
Bolsa Família
Assistência e ação social
A partir da Constituição 1988
expandido pelos governos FHC
e Lula a partir de 2003
Impactos positivos na incidência de
pobreza em todo o Vale, mas com
riscos de dependência onde não há
diversificação produtiva
Desenvolvimento
Econômico Regional
Construção do caminho do ferro e de
estradas
Consolidação de cidades polares e
distritos industriais
Histórico e continuo Sem benefícios direitos para o Vale;
intervenções regionais concebidas
numa perspectiva de “cidades –
regiões”
Desenvolvimento
territorial
Territorios de Identidade
Territorios da Cidadania
A partir de 2003
Expandido desde 2007
Alguns projetos de PROINFRA
(construcao de facilidades);
Colegiado Territorial ainda nao
cosolidada
Iniciativas Municipais
e da sociedade civil
Orcamentos participativos Municipais
Desenvolvimento Regional
Sustentavel (DRS – Banco do Brasil)
ATA-AMAS (Sindicatos Rurais)
Projetos municipais (Amargosa,
Mutuipe, Maracas)
A partir de 2000 (em Mutuípe) Impactos positivos restritos a certos
municípios
Analise das redes territoriais no Vale de Jiquiriçá
Objetivos - para identificar:Natureza e influencia de redes e coalizões sociais;
Fatores de sucesso em projetos territoriais
Questões a serem abordadas a nível territorial / escala intermunicipal
Mecanismos adaptados para planeamento e governança territorial.
Identificação das organizações em rede e iniciativas territoriais em
diferentes escalas
Analise de participação dos diferentes atores no Fórum Colegiado
Territorial
Analise das relações colaborativos numa amostras de 30 atores de
sociedade civil, governos municipais, agencias de estado e setor
privado; entrevistas aprofundadas com esses e outros atores.
Organizações territoriais no Vale de JiquiriçáOrganizações em rede Extensão geográfica Proponentes e agencias de tutela
Federais e Estaduais
Fórum Colegiado do Território de
Identidade
20 Municípios do médio / alto Vale de
Jiquiriçá
MDA, Governo de Estado da Bahia (SEPLAN)
CONSAD – Conselho de Segurança
Alimentar e Desenvolvimento
9 municípios – no leste do Vale e regiões
vizinhas
Ministério de Desenvolvimento Social – MDS
Comitê da Gestão da Bacia Hidrográfica Conjunto de 3 bacias do Sul do
Recôncavo – um sub-comitê para todo o
Vale de Jiquiriçá
SEMA / IMA – Secretaria e Instituto do Meio
Ambiente – Governo de Estado
Iniciativas Municipais
MERCOVALE: Consorcio Publico Todo território de identidade do Vale de
Jiquiriçá mas também aberto a regiões
vizinhas
Prefeitos Municipais, coordenados pelo Prefeito de
Planaltino
CIVJ Consorcio Intermunicipal do Vale
de Jiquiriçá (enfoque na gestão
ambiental: hoje extinto)
Todos municípios do Vale de Jiquiriçá
inclusive o baixo vale / área costeira
Prefeitos municipais, dirigido por um parente
influente do ex-prefeito de Mutuípe.
Sociedade Civil – sindicatos rurais e urbanos
SINTRAF (Sindicato de trabalhadores
rurais de Agricultura Familiar) Polo
Sindical de Amargosa
Parte do Diocese de Amargosa – 7
municípios do leste do Vale de Jiquiriçá
e outros vizinhos
Afiliado a CUT (Confederação Unida de
Trabalhadores) e ao PT (Partido do Trabalho)
FETAG-BA (Federação de trabalhadores
de agricultura - Bahia): Polo Sindical de
Jequié / Santo Antonio de Jesus
Vários municípios do centro-norte, oeste
e sul do Vale de Jiquiriçá
Afiliada a CONTAG (Confederação de Trabalhadores
de Agricultura ) e ao PCdoB (Partido Comunista do
Brasil)
SINDIVALE sindicato de trabalhadores
do setor publico do Vale de Jiquiriçá
Municípios do Centro e Alto Vale de
Jiquiriçá mas não presente em todos
Afiliada a CUT e ao PT
Atores do Fórum Territorial
Participantes em 2 + encontros
Participantes em 3 + encontros
Participantes em 4 + encontros
Participantes em 5 + encontros
Participantes em 6 encontros
Participação dos Atores no Fórum Territorial
Geografia importa: atores periféricos são também geograficamente periféricos; participação fortemente influenciada pelo lugar dos encontros
Sociedade civil organizada não existe em alguns municípios, setor privado não participe
Múltiplas compromissos dos atores e falta de incentivos também inibe a participação
Um grupo central restrito – sindicatos rurais e alguns representantes das prefeituras de um pequeno grupo de municípios
Capital social “abrangente” criado pelo colegiado entre grupos diferente, mas ainda limitado
Relações colaborativas
Relações colaborativas boas / regulares
Fortes relações colaborativas
Relações colaborativas entre os atores do vale
Muita gente se conhecem mas menos mantem relações colaborativas
Relações colaborativas fortes reúnem um determinado grupo (lideres de sindicatos rurais), alguns representantes das prefeituras locais e agentes de estado
Atores do setor privado, prefeituras municipais e instituições da educação tem redes mais restritas e localizadas e são mais periféricos a rede central de colaboração
Os atores centrais com relações colaborativas fortes fazem parte de uma coalizão ou movimento social reforçada por relações sociais, politicas, profissionais e religiosos
A presença conjunta de sociedade civil e agentes de estado nesta coalizão e uma caraterística importante
Essa coalizão tem se-ampliada e fortificada através do colegiado e sustenta o mesmo, mas não representa todo o território e segmentos sociais do Vale de Jiquiriçá, onde existem outras facções ou grupos com relações mais fortes entre eles
Centralidade e intermediação
Centralidade e intermediação
Alguns atores tem maior poder e influencia porque ocupam
posições intermediários e conectam outros atores entre eles
Articulam a rede de colaboradores com outros segmentos sociais,
atores externos e os com outras afiliações politicas e sociais
Estes atores tem sido efetivos em estabelecer parcerias, captar
recursos e coordenar projetos territoriais exitosos por causa dos
laços multi - escalares e diversificados que mantem
Exemplos:
Des. Regional Sustentável de Mutuípe (com Banco do Brasil, STRs, SEBRAE)
Orçamentos Participativos em Mutuípe and Amargosa
Flores de Maracas
ATER-AMAS
Amargosa Base Ambiental / Projeto Timbó (resrva da Mata Atlântica)
Questões chaves territoriais (citados pelos atores)
Agro industrias de pequena e media escala – diversificação
econômica
Médio Ambiente: conservação dos solos, florestas e gestão da
bacia hidrográfica; saneamento, reciclagem e resíduos sólidos
Extensão rural e assistência técnica aos agricultores
Educação e formação técnico profissional
Saúde – atendimento especializado e de emergência
Juventude e emprego rural – fixação no campo
Segurança, fiscalização e controle do crime
Marco institucional coerente e harmonizado entre os diversas
iniciativas e entidades de estado
Politica territorial “não territorializada”: dificuldades
Falta de coincidência geográfica da politica territorial com as redes sociais e coalizões existentes; no colegiado ha uma coalizão dominante mas restrita; o setor privado e ausente e a participação dos municípios e fraca
A politica não esta dirigida a fortalecimento dinâmico do capital social entre segmentos sociais e coalizões emergentes que tendem a ser local / municipal na sua abrangência
Politicas territoriais não integrados com desenvolvimento econômico regional / local que concentre na infraestrutura “dura” em regiões urbanas: não houve investimento em infraestrutura “mole” - fatores sociais e institucionais: capacidade associativa, intermédios e articuladores chaves, plataformas de inovação capacidades técnicas, identidade territorial, dimensões culturais
Capacidade fragilizada do colegiado territorial: falta de personalidade jurídica e de habilidades em gestão, planejamento técnico e articulação social
Politicas inconsistentes com iniciativas paralelas: colegiado, consórcios, conselhos e comitês
Mecanismos e incentivos para governança e planejamento democrático não bem institucionalizados com brechas no marco politico -legislativo Inovação produtiva restrita
Riscos de dependência das transferências federais
Incentivos e sanções para sustentabilidade ambiental limitadas
Críticas da política territorial Brasileira
Evita conflito e relações de poder; facilita a dominância de grupos mais
organizados, excluindo outros e conduzindo a projetos territoriais
parciais: o estado não analise dinâmicas, participação e capacidade de
agencia e não canaliza recursos a capacitação
Politica territorial (e estudos territoriais) excessivamente
preocupados com a dimensão normativa de metodologias de
planejamento e preparação de projetos sem abordar os fatores causais
de desenvolvimento territorial (Abramovay 2008)
“Inovação por adição” (Favareto 2006) – superimposição da politica
territorial no marco politico, sem integração
O estado abdica e repassa responsabilidade a atores coletivos, sem
abordar sua própria papel na gestão de desenvolvimento territorial
Falha de institucionalização de mecanismos para gestão democrática de
politicas a nível meso.
Conclusões Politica macro e setorial poderão reforçar o crescimento e redução de pobreza, mas
crescimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável necessita politicas territorializadas
A pesar de aspetos positivos a politica territorial atual Brasileira não corresponde com os critérios avançados por Rimisp (2011):
Altos gastos públicos mas com pouco investimento na infraestrutura “mole” social e institucional
Finanças descentralizadas usadas da forma clientelista par fins politicas com pouco controle cidadão
Ausência de instituições democráticas a nível meso (territorial)
Falta da atenção a questões associativas, da representividade, e da democracia deliberativa
Ambiguidade de relações estado –sociedade civil, na ausência de um marco instrucional efetivo: Conflito X contestação X colaboração critica X cooptação
Modernização requer melhor articulação da gestão publica – municipal com harmonizaçãode diversas iniciativas do caracter territorial e a consolidação de instituicões intermédios a nivel meso com capacidade tecnica adequada a gestao do desenvolvimento economico
Cidadania requer a consolidação de espaços controle democrático sobre politicas descentralizadas e apoiado por investimento em capacidade associativa a nivel comunitária e na sociedade civil para superação das formas de poder arquaicos dos elites locais a nivel municipal.