abordagem centrada na pessoa

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18 • Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca Abordagem Centrada na Pessoa - Relação Terapêutica e Processo de Mudança 1 Cecília Borja Santos* * Membro da Associação Portuguesa de Counselling e Psicoterapia Centrada na Pessoa. 1 Comunicação apresentada no Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca. Março 2004. Resumo: A Abordagem Centrada na Pessoa surge como reacção aos paradigmas psicanalítico e compor- tamentalista propondo uma diferente visão do ser humano sobre a qual será criada uma nova forma de terapia: a terapia centrada na pessoa. Depois de caracterizar as ideias-chave destes princípios e valores, o autor refere a sua relação com os conceitos fundamentais desta abord a g e m . Apresentará seguidamente uma breve caracteriza- ção da terapia centrada na pessoa focalizando-se nas condições para a mudança terapêutica. Palavras-chave: Terapia centrada na pessoa; Fenomenologia; Tendência actualizante; Não- directividade; Empatia; Olhar positivo incondi- cional; Congruência. AB STRACT: Person Centred Approach appeared as a reac- tion to the psychoanalytical and behaviourist paradigms proposing a rather different con- ception of the human being witch originated of a new form of therapy: the person-centred therapy. After characterizing this principles and val- ues the author relates them to the Person- Centred Approach basic concepts. P e r s o n - c e n t red therapy will be briefly presented the focus being upon the condi- tions necessary to that therapeutic change can occur. Key word s : Person centred therapy; N o n d i rectiveness; Actualising tendency; Unconditional positive re g a rd; Empathic understanding; Congruence. Inserindo-se na corrente da Psicologia Humanista, a Abordagem Centrada na Pessoa desenvolve-se a partir da década de 40 nos Estados Unidos da América. Como reacção às práticas e aos modelos teóricos que então dominavam a Psicologia e a psicoterapia (Comportamentalismo e Psicanálise), Carl Rogers (1902-1987) traz para a psicoterapia uma diferente perspectiva do Homem e, consequente- mente, uma forma diversa de encarar a pessoa que pede ajuda e a relação terapeuta/cliente – uma abordagem não-directiva da relação terapêutica. Contrastando com a ideia que reduz o Homem a uma existência fatalmente determinada por fac- tores que, quer do exterior (por exemplo pressões sociais ou culturais), quer do interior (impulsos inconscientes ou características her- dadas) o condicionam na sua capacidade de livre-arbítrio, Carl Rogers vê o ser humano como inerentemente dotado de liberdade e de poder de escolha. Mesmo nas condições mais adversas, mesmo sob as condicionantes mais severas, o Homem pode preservar e desenvolver alguma capacidade de autonomia e auto-determinação. Sem subestimar o impacto negativo que as mais diversas situações podem ter sobre o desenvolvimento e o bem-estar do indivíduo, Rogers mantém a firme convicção de que o ser humano mantém, em algum grau, capacidade para não se limitar a reagir aos acon- tecimentos e a ser por eles conduzido. Pode, ainda assim, ser um agente criativo na realidade que o rodeia.

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18 • Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

Abordagem Centrada na Pessoa- Relação Terapêutica e Processo de Mudança1

Cecília Borja Santos*

* Membro da Associação Portuguesa de Counselling e Psicoterapia Centrada na Pessoa.1 Comunicação apresentada no Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca.Março 2004.

R e s u m o :A Abordagem Centrada na Pessoa surge comoreacção aos paradigmas psicanalítico e compor-tamentalista propondo uma diferente visão do serhumano sobre a qual será criada uma nova form ade terapia: a terapia centrada na pessoa. Depoisde caracterizar as ideias-chave destes princípiose valores, o autor re f e re a sua relação com osconceitos fundamentais desta abord a g e m .A p resentará seguidamente uma breve caracteriza-ção da terapia centrada na pessoa focalizando-senas condições para a mudança terapêutica. P a l a v r a s - c h a v e : Terapia centrada na pessoa;Fenomenologia; Tendência actualizante; Não-d i rectividade; Empatia; Olhar positivo incondi-cional; Congruência.

A B S T R A C T:Person Centred Approach appeared as a re a c-tion to the psychoanalytical and behaviouristparadigms proposing a rather diff e rent con-ception of the human being witch originatedof a new form of therapy: the person-centre dt h e r a p y. After characterizing this principles and val-ues the author relates them to the Person-C e n t red Approach basic concepts. P e r s o n - c e n t red therapy will be brieflyp resented the focus being upon the condi-tions necessary to that therapeutic changecan occur. Key word s : Person centred therapy;N o n d i rectiveness; Actualising tendency;Unconditional positive re g a rd; Empathicunderstanding; Congru e n c e .

Inserindo-se na corrente da PsicologiaHumanista, a Abordagem Centrada na Pessoadesenvolve-se a partir da década de 40 nosEstados Unidos da América. Como reacção àspráticas e aos modelos teóricos que entãodominavam a Psicologia e a psicoterapia( C o m p o rtamentalismo e Psicanálise), Carl Rogers(1902-1987) traz para a psicoterapia umad i f e rente perspectiva do Homem e, consequente-mente, uma forma diversa de encarar a pessoa quepede ajuda e a relação terapeuta/cliente – umaa b o rdagem não-directiva da relação terapêutica.

Contrastando com a ideia que reduz o Homem auma existência fatalmente determinada por fac-t o res que, quer do exterior (por exemplop ressões sociais ou culturais), quer do interior(impulsos inconscientes ou características her-dadas) o condicionam na sua capacidade del i v re-arbítrio, Carl Rogers vê o ser humano comoi n e rentemente dotado de liberdade e de poder deescolha.

Mesmo nas condições mais adversas, mesmo sobas condicionantes mais severas, o Homem podep re s e rvar e desenvolver alguma capacidade deautonomia e auto-determinação. Sem subestimaro impacto negativo que as mais diversas situaçõespodem ter sobre o desenvolvimento e o bem-estardo indivíduo, Rogers mantém a firme convicçãode que o ser humano mantém, em algum grau,capacidade para não se limitar a reagir aos acon-tecimentos e a ser por eles conduzido. Pode,ainda assim, ser um agente criativo na re a l i d a d eque o ro d e i a .

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Abordagem Centrada na Pessoa - Relação Terapêutica e Processo de Mudança

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Por outro lado, o Homem é visto como sendointrinsecamente motivado para um pro c e s s oc o n s t rutivo. É esta motivação, uma espécie desabedoria do organismo, que o leva a sobre v i v e r,a manter a sua organização, a sarar, se fornecessário, e a evoluir na direcção de uma pro-g ressiva complexidade e autonomia.

É a partir destes princípios gerais que a terapian ã o - d i rectiva se vai fundamentar.

P ro g ressivamente aprofundadas ao longo dotempo, as elaborações teóricas que inicialmentese restringiam à psicoterapia encontraram apli-cação em outras áreas como a aprendizagem, osg rupos terapêuticos ou as relações familiares. Noentanto, todas estas extensões mantiveram umasólida ancoragem nos princípios e valores quedesde sempre estão subjacentes à prática psi-coterapêutica justificando a sua inclusão sob adesignação mais genérica de Abord a g e mCentrada na Pessoa.

I – Conceitos fundamentais da AbordagemCentrada na Pessoa - Método fenomenológicoPondo em suspenso a crença no valor dos juízos, con-ceitos e teorias a respeito do outro, a terapia centradana pessoa enfatiza a importância fundamental daexperiência subjectiva e pré-reflexiva como critério dec o n h e c i m e n t o .

D e c o rrendo desta atitude fenomenológica, o papel doterapeuta será assim o de, a partir do ponto de vistafenomenal do cliente, procurar a compreensão daconsciência vivencial da experiência de si e do mundo.

Para tal, propõe C. Rogers, o terapeuta tentará"ver através dos olhos da outra pessoa, perc e b e ro mundo tal como lhe aparece, aceder, pelomenos parcialmente, ao quadro de re f e r ê n c i ai n t e rno da outra pessoa"1. A empatia é, assim, omeio através do qual o terapeuta se pode apro x i-mar de um "tipo particular de compreensão dis-tinto de outros tipos de compreensão re s u l t a n t e sde enquadramentos exteriores, tais como dia-gnósticos, ou julgamentos, ou esclarecimento des u p o s i ç õ e s "2.

Esta atitude do terapeuta é, para C. Rogers, a basepara o uso do termo «centrado-no-cliente»3. É aexperiência global do indivíduo que constitui ofoco da atenção do terapeuta. Não é uma meraetapa inicial do processo destinada a fortalecer arelação, ou um instrumento para melhor identi-ficar a raiz dos problemas, de forma a que o téc-nico possa então passar a dirigir o processo te-rapêutico da forma por ele considerada comosendo a mais adequada à resolução das dificul-dades do cliente4.

S e m p re conduzida pelo princípio da não-dire c-tividade, a compreensão empática não tem outrofim que não seja o de transmitir ao cliente os ele-mentos e as condições que promovem o exerc í c i odo seu poder de auto-direcção. A relação torn a --se, deste modo, um fim em si mesma.

Esta nova forma de terapia, ao propiciar a "rarao p o rtunidade de observar tão directa e clara-mente a dinâmica interna da personalidade é,para o clínico, uma experiência profunda dea p re n d i z a g e m "1. Foi este ponto de vista privilegiado

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que, segundo Rogers, lhe permitiu realizar umasérie de observações que virão a fundamentar, ouc o n s o l i d a r, as hipóteses centrais na estru t u r a ç ã oe no desenvolvimento da sua teoria do pro c e s s oterapêutico e no questionamento sobre a org a n i-zação da personalidade1.Refira-se, por exemplo, o postulado básico daa b o rdagem rogeriana: a existência de umatendência natural para o crescimento e para asocialização que constitui, por si, o verd a d e i rofactor curativo.

Tendência actualizanteDiz C. Rogers que, dadas determ i n a d a scondições, as pessoas fazem opções positivas ec o n s t rutivas; isto é, escolhem vias que con-tribuem para o seu desenvolvimento enquantop e s s o a5.

A motivação para tais opções tem origem natendência actualizante: todas as motivações,necessidades ou impulsos, são uma expressão datendência do organismo para a actualização dassuas capacidades e potencialidades. Esta tendên-cia re p resenta, pois, o único conceito motiva-cional na teoria ro g e r i a n a6.

Sendo sensível às condições do meio, que podemfacilitar ou dificultar a sua expressão, a tendênciaactualizante actua, no entanto, de forma perm a-nente e inerentemente constru t i v a .

Estas condições podem ser inúmeras e muitodiversas, mas C. Rogers atribui importância espe-cial às influências exteriores ao org a n i s m o ,nomeadamente à qualidade do re l a c i o n a m e n t o

no qual a personalidade da criança se desen-volve. A existência de um contexto de re l a ç õ e sinterpessoais na qual a criança se sinta aceite eamada de forma incondicional, é o factor cru c i a lna evolução de uma personalidade que possibilitea máxima expressão da tendência natural para aa c t u a l i z a ç ã o .

A capacidade do ser humano de ter consciênciade si próprio, de reflexão sobre as suas própriasescolhas, vai marcar decisivamente os seusp rocessos de actualização. A diferenciação dae s t rutura do s e l f, funcionando como um instru-mento da tendência actualizante, vai abrir novasvias para uma maior complexidade e autonomiado organismo na relação que estabelece com omeio. Uma das possibilidades adquiridas consistena faculdade de conhecer e avaliar o seu própriofuncionamento e, em certas condições, re e s t ru t u-r a r-se de forma a melhor realizar as potenciali-dades de actualização do organismo.

E assim, juntamente com o sistema motivacionalacima referido, o ser humano vai caracterizar- s epor possuir o poder de se auto-re g u l a r, isto é, emfunção da avaliação da sua experiência, serácapaz de modificar a sua própria estrutura inter-na (o seu s e l f) para atingir os seus fins7.

N ã o - d i re c t i v i d a d e"São estas duas características – tendência actua-lizante e sistema de avaliação da experiência –que explicam que o indivíduo tenha o poder de sedirigir a si mesmo e também o poder de re o rg a-nizar a sua concepção de s e l f, se esta estiver afas-tada da experiência total do org a n i s m o "7.

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A atitude não-directiva encontra aqui o seu fun-damento teórico. Ao terapeuta cabe apenas criaras condições para que, através daquela re l a ç ã op a rt i c u l a r, o indivíduo possa re o rg a n i z a r-se ereencontrar a sua própria direcção. O poder quelhe é atribuído, e a inerente re s p o n s a b i l i z a ç ã opelo seu próprio processo de mudança, re p re-sentam um estímulo à sua autonomia.

II - Relação terapêutica e processo de mudançaAntes de nos debru ç a rmos sobre as condiçõesnecessárias para a mudança terapêutica, serátalvez útil caracterizar resumidamente o conceitode incongruência, visto que traduz o estado dedesajustamento que a terapia re v e rt e r á .

Como acima foi referido, a criança necessita dese sentir aceite e respeitada na sua singulari-dade, de se sentir como merecedora do amor dosque lhe são importantes. Quando determ i n a d o selementos da sua experiência (desejos, sentimen-tos, necessidades…) são associados ao senti-mento de perca desse amor, poderá haver umafastamento da consciência desses elementos, ouuma distorção do seu significado, de forma a pos-sibilitar a manutenção de um conceito de si comosendo alguém digna de ser amada.

A acção destes processos defensivos é acompa-nhada pela interiorização dos valores ou norm a sque servem de referência ao outro para classificaros elementos em causa como sendo aceitáveis ounão.

O s e l f que se vai elaborando sob tais condições devalor estará, em maior ou menor grau, afastado da

realidade global da pessoa – estado de incon-g ruência. A imagem de si é, então, falseada; sãoutilizados critérios de avaliação da experiênciaprópria que, tendo sido introjectados dire c t a-mente de outrem, não são adequados à especifici-dade daquele indivíduo. A base reguladora doc o m p o rtamento deixa assim de residir nos seuspróprios critérios e objectivos.Consequentemente, a avaliação de si mesma, docarácter benéfico ou prejudicial que certas si-tuações ou experiências poderão assumir para asua realização, dos passos a dar para a re s o l u ç ã odas suas dificuldades, conduzirá a opções inade-quadas e, portanto, a sentimentos de insatisfação,incapacidade, desajustamento.

O objectivo da relação terapêutica vai consistir norestabelecimento do acordo perdido entre a expe-riência total da pessoa e a experiência conscientedo s e l f , l i b e rtando o cliente para um amadure c i-mento e um desenvolvimento normais. Para tal, a actuação do terapeuta deve consubstan-ciar três atitudes que constituem as condiçõesnecessárias à criação de uma relação potenciado-ra de mudança construtiva: a compreensão empáti-ca, o olhar positivo incondicional, a congru ê n c i a .

A compreensão empática designa "um pro c e s-so dinâmico que consiste na capacidade de pene-trar no universo do outro, sendo sensível à mobi-lidade e significação das suas vivências. Perm i t etomar consciência de sentimentos que ainda nãolhe são claros, mas respeitando o ritmo das suasd e s c o b e rtas próprias (não desvelando pre c o c e-mente) e mantendo uma abertura a tudo o que denovo possa surg i r "8.

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A procura activa de uma compreensão cada vezmais precisa e completa do cliente por parte doterapeuta propicia, por sua vez, que cada vez maisexperiências possam aceder à consciência docliente, possibilitando a revisão e o alarg a m e n t odo auto-conceito.

No entanto, esta tomada de consciência não con-duz, só por si, a um funcionamento mais integra-do e saudável. Para assimilar na estrutura do s e l fuma atitude, desejo ou tendência comport a m e n t a la n t e r i o rmente ameaçadores, o seu significadosubjectivo e o seu impacto no olhar do indivíduopara si próprio têm de mudar9.

Para que experiências ameaçadoras possam seradequadamente simbolizadas na consciência eintegradas na estrutura do s e l f, tem de haver umadiminuição das condições de valor que o indiví-duo se impõe a si mesmo e um aumento naincondicionalidade do seu olhar próprio1 0.

O olhar positivo incondicional é uma genuínaaceitação do outro que se mantém constante inde-pendentemente daquilo que o cliente revela sobresi, um respeito pela forma como este conduz op rocesso terapêutico (temas abordados, ritmo dop rocesso, decisões, etc.), o reconhecimento doseu direito à diferença e à autonomia.

O olhar positivo incondicional do terapeutaface ao cliente é a condição básica para amudança na terapia centrada na pessoa. A per-cepção desta atitude resulta no enfraquecimentoou dissolução das condições de valor e aumenta oolhar próprio incondicional: as experiências antes

ameaçadoras podem então ser abertamente per-cepcionadas, exploradas e integradas no conceitode si.

A c o n g ru ê n c i a re f e re-se à consistência intern a ,ao estado de integração psicológica do terapeutano espaço da relação. Pode ser entendida como ap reparação do terapeuta para poder experimen-tar as atitudes de compreensão empática e olharposit ivo incondicional3. Se o terapeuta, elepróprio, estiver incongruente, preso à rigidez dassuas próprias defesas, como conseguirá pro-mover a fluidez do cliente ou estar aberto à suadiversidade e complexidade? Se tiver medo dad o r, como será ele capaz de ouvir e de ajudar ocliente a enfrentar a sua própria dor? Se, narelação terapêutica, o terapeuta for confro n t a d ocom experiências que lhe ameaçadoras, comomanter o seu poder de escuta e de compre e n s ã o ,ou mesmo a sua capacidade em discernir os seussentimentos dos do cliente?1 1

C O N C L U S Õ E S :A terapia centrada na pessoa e, mais generica-mente, a Abordagem Centrada na Pessoa assen-tam numa visão do Homem como um ser essen-cialmente livre e com o poder de reagir activa-mente às situações que o constrangem na suaa u t o - d e t e rminação, que tentam abafar a suaindividualidade prendendo-o a esquema rígidosde comportamento e de pensamento, em suma,que restringem a sua evolução e cre s c i m e n t op e s s o a i s .

Tem ainda como hipótese nuclear que a tendên-cia para o crescimento é natural e universal,

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impulsionando o indivíduo no sentido de pro c u-rar realizar as suas potencialidades numaexistência caracterizada pela autenticidade.

A terapia centrada na pessoa propõe-se assimcomo um meio de criar as condições interpes-soais favoráveis à dissolução dos obstáculos queimpedem a livre expressão deste potencial cons-t rutivo e que conduzem ao desequilíbrio psi-cológico e ao desajustamento social.Pela sua natureza fenomenológico existencial,elege o ponto de vista fenomenal do cliente comoúnico critério e modo de conhecimento, dandoespecial ênfase à experiência imediata e pré-- re f l e x i v a .

A relação terapêutica que se estabelece com baseem tal conjunto de premissas implica uma impor-tante redefinição do papel do terapeuta. Mais doque pelas técnicas ou instrumentos que utiliza, oterapeuta define-se pelas atitudes que transport apara a relação e que constituem o verd a d e i ro fac-tor impulsionador da mudança. Tendo em contaos princípios que justificam e dão sentido a taisatitudes, elas não são concebíveis na ausência deuma participação pessoalizada do terapeuta narelação. O genuíno interesse e valorização dapessoa e da experiência do cliente, a confiançana sua capacidade em superar as incongru ê n c i a s ,o respeito pelo seu direito de ser livre em qual-quer escolha que faça, não são susceptíveis des e rem reduzidas a fórmulas prontas a aplicar def o rma mecânica e impessoal. A autenticidade doterapeuta é fundamental numa relação que é,deste modo, sobretudo humana.

Bibliografia:1. Rogers, C. R. Some observations on the org a-nization of personality. Consultado em Março, 2003,através de:h t t p : / / p s y c h c l a s s i c s . y o r k . c a / ro g e r s / p e r s o n a l i t y. h t m

2. Schlien, J. A. Empatia em psicoterapia. A PessoaComo Centro, 1998; 1: 40-53.

3. Bozarth J. P e r s o n - c e n t e red therapy: a re v o l u t i o n a ryp a r a d i g m . United Kingdom: PCCS Books. 1998.

4. Brissos Lino, J. O paradigma rogeriano da pessoacomo centro: na perspectiva da liberdade pessoal. APessoa como Centro, 2001; 7: 53:63.

5. Rogers, C. R. A terapia centrada no paciente. L i s b o a :Moraes Editores. 1974.

6. Bro d l e y, B. O conceito de tendência actualizante nateoria centrada no cliente. A pessoa como centro,1998, 2:37-49.

7. Pagès, M. Orientação não-directiva em psicote-rapia e psicologia social. São Paulo: E.P.U. 1970.

8. Hipólito, J. Comunicação pessoal. 1991. cit. Nunes, O. Umaa b o rdagem da relação de ajuda. A pessoa como centro, 3:59-64.

9. Barre t t - L e n n a rd, G. Carl Rogers’s helping system –j o u rney & substance. London: Sage Publications. 1998.

10. Rogers, C. R. A theory of therapy, personality, andinterpersonal relationships, as developed in the client-c e n t e red framework. 1959. In Kirschenbaum, H., &Anderson, V.L. (Eds.), The Carl Rogers re a d e r ( p p . 2 3 6 -257). Londres: Constable. 1990.

1 1 . F re i re, E. & Tambara, N. A terapia centrada na pes-soa: os desafios da clínica. A Pessoa como Centro,2001; 7: 81-88.

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