ablaÇÃo por cateter de radiofreqÜÊncia no …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf ·...

208
TESE ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: Abordagem Circunferencial Versus Isolamento Elétrico Segmentar das Veias Pulmonares. EDUARDO BARTHOLOMAY

Upload: dinhminh

Post on 19-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

TESE

ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO

TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA:

Abordagem Circunferencial Versus Isolamento Elétrico

Segmentar das Veias Pulmonares.

EDUARDO BARTHOLOMAY

Page 2: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL /

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA

Programa de Pós-graduação em Ciências

da Saúde: Cardiologia

ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO TRATAMENTO DA

FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: Abordagem Circunferencial Versus

Isolamento Elétrico Segmentar das Veias Pulmonares.

Autor: Eduardo Bartholomay

Orientador: Renato A. K. Kalil

Co-orientador: Josep Brugada

Tese submetida como requisito para obtenção do

grau de Doutor ao Programa de Pós-Graduação

em Ciências da Saúde: Cardiologia, da Fundação

Universitária de Cardiologia / Instituto de

Cardiologia do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre

2005

Page 4: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

Catalogação na fonte:

B292

Bartholomay, Eduardo; Kalil, Renato.

Ablação por cateter de radiofreqüência no tratamento da fibrilação atrial paroxística: abordagem circunferencial versus isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares. Porto Alegre: Fundação Universitária de Cardiologia, 2005. 202 fls.

Tese de doutorado. Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária de Cardiologia – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (Cardiologia). Áreas de concentração: Aterogênese e Cardiopatia Isquêmica – Cardiologia Fetal e Pediátrica - Função cardíaca. Normal e Patológica.

Ablação por cateter radiofreqüência Cirurgia cardíaca Fibrilação atrial Veia pulmonar

CDU: 616.12-089.168

Bibliotecária responsável Diana da Motta CRB 10/397

Page 5: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

DEDICATÓRIA

Para Manuela Cavalcanti que é a responsável por dar sentido a todo esforço dedicado neste projeto.

Page 6: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

AGRADECIMENTOS

A minha família que sempre me incentivou, servindo como apoio nos momentos

difíceis e celebrando comigo cada conquista alcançada. Agradeço especialmente a

minha avó Elisa Barnetch Oliveira, minha fã número um, mesmo quando não tinha

nenhum motivo para isso.

Ao meu orientador Prof. Dr. Renato Kalil pelo qual tenho grande admiração

por seu brilhantismo profissional e por sua integridade desde minha graduação na

FFFCMPA. O destino fez com que não convivêssemos por alguns anos durante minha

formação, mas na primeira oportunidade que tive voltei a procurá-lo como orientador.

Lembro-me que tinha dúvida se ele lembraria de mim naquela tarde de quarta-feira

quando lhe mostrei este projeto, mas foi como se eu tivesse estado em sua companhia

todo este tempo. Desde o princípio, o Dr. Renato Kalil me incentivou e apoiou como

orientador e amigo. Certamente, foi fundamental em todas as partes deste projeto.

Ao meu co-orientador Prof. Dr. Josep Brugada que foi fundamental na minha

formação como eletrofisiologista e tornou possível a realização deste projeto. Com

certeza, Dr. Brugada é meu ídolo na eletrofisiologia, mas, acima de tudo, me ensinou

que a humildade e a simplicidade podem e devem estar juntas à personalidade de um

grande profissional como ele.

Ao meu amigo Dr. Carlos Kalil que foi um dos principais responsáveis pela

minha escolha pela eletrofisiologia e foi fundamental desde o início da minha formação

como é até hoje.

À Dra. Lídia Rosi Medeiros que foi imprescindível na elaboração da revisão

sistemática. Não tenho palavras para agradecer sua colaboração, sua paciência e

Page 7: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

esta parte do projeto.

Ao Prof. Dr. Lluís Mont no qual a paixão por vencer os obstáculos

contaminava a todos no Servício de Arrítmias de Barcelona e nos estimulava a seguir

em frente no tratamento desta arritmia que nos desafia até hoje: a fibrilação atrial.

Ao Dr. Euler Manenti que foi muito importante na minha formação como

cardiologista me ensinando a perseguir o conhecimento de uma maneira muito especial

e que, muitas vezes, depositou em mim uma confiança que nem mesmo eu possuía.

Ao Dr. Luis Carlos Bodanese pelo apoio e incentivo desde minha residência no

Hospital São Lucas da PUCRS até hoje.

Aos meus colegas de fellowship em eletrofisiologia que me ajudaram e

estimularam na realização deste projeto. Em especial, a Dra. Andréa Scalize por ter

realizado o seguimento dos últimos pacientes após meu regresso ao Brasil.

Aos meus colegas de residência em cardiologia com os quais tive o privilégio

de compartilhar dois anos de nossa vida e que serviram como exemplos de profissionais,

colegas e amigos.

Aos pacientes pela colaboração na participação deste estudo. Pacientes que

sempre aceitaram responder com muita paciência e educação a todas as perguntas das

diversas fases que consistiam este projeto. Sem dúvida, são os maiores colaboradores

para realização do trabalho que eu espero, de alguma forma, beneficie os demais

pacientes que virão.

Page 8: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

SUMÁRIO

1 BASE TEÓRICA .................................................................................................... 1 1.1 HISTÓRIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL......................................................... 1

1.2 DEFINIÇÕES DE FIBRILAÇÃO ATRIAL.................................................... 6

1.3 DIAGNÓSTICO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL ............................................... 7

1.4 CLASSIFICAÇÕES DA FIBRILAÇÃO ATRIAL........................................ 13

1.5 FISIOPATOGENIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL........................................ 18

1.6 EPIDEMIOLOGIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL ......................................... 41

1.7 COMPLICAÇÕES SECUNDÁRIAS A PERMANÊNCIA DO ÁTRIO FIBRILADO.................................................................................................... 49

1.8 DROGAS ANTIARRITMICAS PARA MANUTENÇÃO DO RITMO SINUSAL ........................................................................................................ 60

1.9 TERAPÊUTICAS NÃO-FARMACOLÓGICAS PARA MANUTENÇÃO DO RITMO SINUSAL.................................................................................. 711

1.10 CIRURGIA CARDÍACA NA FIBRILAÇÃO ATRIAL ............................. 755

1.11 ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA PARA O TRATAMENTO CURATIVO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL ...................... 844

1.12 ESTADO DA ARTE NO TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL E LACUNAS REMANESCENTES NO DESENVOLVIMENTO TERAPÊUTICO.......................................................................................... 1233

2 APÊNDICE

ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ............................................................... 1277

Page 9: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

3 ARTIGO 1

ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: ABORDAGEM CIRCUNFERENCIAL VERSUS ISOLAMENTO ELÉTRICO SEGMENTAR DAS VEIAS PULMONARES........................ 1299

RESUMO........................................................................................................... 13030

ABSTRACT ......................................................................................................... 1311

RESUMEN........................................................................................................... 1322

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1333

MÉTODOS .......................................................................................................... 1334

RESULTADOS ................................................................................................... 14040

DISCUSSÃO ........................................................................................................ 1444

CONCLUSÃO ...................................................................................................... 1488

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 1488

4 ARTIGO 2

ABORDAGEM CIRCUNFERENCIAL VERSUS ISOLAMENTO ELÉTRICO SEGMENTAR DAS VEIAS PULMONARES PARA TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA............................................................................ 1533

RESUMO............................................................................................................. 1544

ABSTRACT ......................................................................................................... 1555

RESUMEN........................................................................................................... 1566

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1577

MÉTODOS .......................................................................................................... 1588

RESULTADOS ..................................................................................................... 1633

DISCUSSÃO ........................................................................................................ 1688

CONCLUSÃO ...................................................................................................... 1711

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 1711

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA BASE TEÓRICA ............................. 1777

Page 10: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1 BASE TEÓRICA

Page 11: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1

1 BASE TEÓRICA

1.1 HISTÓRIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais freqüente na prática clínica.

Apesar de todos os avanços obtidos, 100 anos depois das primeiras descrições da FA os

conhecimentos a respeito dessa arritmia ainda são fragmentados e incompletos. A FA

segue sendo uma incógnita em muitos aspectos para a medicina que desperta, cada vez

mais, interesse para a realização de investigações clínicas.

1.1.1 História da fibrilação atrial no período pré-eletrocardiograma

Provavelmente, a primeira descrição da FA tenha sido no livro O Clássico de

Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huang Ti Nei Ching Su Wen) 1. O lendário

médico-imperador regeu o império Chinês em 1600 antes de Cristo e descreve uma

doença cardíaca da seguinte forma:

“Quando pulso é irregular e trêmulo e os batimentos ocorrem em intervalos, então a vida enfraquece; Quando o pulso é fino (mas ainda perceptível, mas mais fino que uma seda), então o impulso de vida é pequeno”.

Huang Ti Nei Ching Su Wen

Cerca de 3200 anos depois, William Harvey foi o primeiro autor a observar a

FA. Em seu livro Exercitário Anatômico de Motu Cordis, publicado em 1628, no

capítulo 4 ele descreveu... “a presença de movimentos circulatórios localizados no átrio

Page 12: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

2direito, causando uma arritmia dos batimentos ventriculares que são perceptíveis no

braço [pulso] e no espírito [sintomas]”.

Lanec introduziu o estetoscópio na prática clínica e Robert Adams, em 1928,

associando a presença de pulso irregular na ausculta à presença de sopros característicos

da estenose mitral 2.

Ettiene-Jules Marey desenvolveu um esfigmógrafo para o registro de pulso e o

mesmo aparelho foi utilizado posteriormente, de forma investigacional, por Sir

Mackenzie e Sir Weckenbach. Marey adaptou um eletrograma capilar de Lipmann para

obter os registros fotográficos da atividade elétrica do coração a partir de eletrodos

implantados diretamente na pele de rãs e tartarugas. Em 1863, Marey publicou a

descrição do pulso de um paciente com estenose mitral e FA. Em 1864, Mackenzie e

Engelmann publicaram estudos poligráficos em pacientes com FA 2.

Em 1785, William Withering descobriu os efeitos terapêuticos da planta digitalis

purpurea para o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca e descreve... “em

pacientes com pulso irregular e rápido, esta planta torna-o mais lento e regular”.

1.1.2 Contribuição de Einthoven na descoberta da fibrilação atrial

O desenvolvimento do eletrocardiógrafo por Eithoven permitiu, de forma

simples, diagnosticar e entender melhor a FA. Este autor nasceu na Indonésia e após a

morte de seu pai, também médico, viajou à Holanda onde se graduou como médico na

Universidade de Utretcht. Posteriormente, foi premiado por suas descobertas com o

Prêmio Nobel de Medicina. Einthoven desenvolveu o primeiro eletrocardiograma e

estabeleceu conceitos que são utilizados até os dias de hoje como registro a 25 mm/s,

amplificação dos sinais a 1 cm/mV, nomenclatura das ondas P, QRS e T e as derivações

básicas periféricas. Entre 1906 e 1908, Einthoven descreveu os sinais de hipertrofia

Page 13: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

3ventricular e atrial, respectivamente, na insuficiência aórtica e estenose mitral, extra-

sístoles atriais e ventriculares, o flutter atrial, o bloqueio átrio-ventricular (AV), a onda

U e, finalmente, a FA.

O primeiro traçado de FA humana foi obtido por Einthoven em 1906 e,

juntamente com o alemão Hering, em 1908, descreveu a associação dos achados

eletrocardiográficos, com a presença de um pulso irregular, denominado de pulsus

irregularis perpetuos 3.

Sir Thomas Lewis estudou em Cadiff e, mais tarde, transferiu-se para Londres,

onde trabalhou no laboratório de Starling. Posteriormente, conheceu Sir Mackenzie de

quem se converteu em discípulo e amigo. Lewis procurou Einthoven devido ao seu

interesse por ECG e, em 1912, publicou seu primeiro livro sobre eletrocardiografia

denominado de Clinical Electrocardiography. Em 1909, realizou uma importante

publicação descrevendo a incidência de FA e as ondulações registradas na linha de base,

denominando-as de ondas f 4. Lewis estudou a fisiopatogenia da FA descrevendo

inicialmente a FA como conseqüência de focos irritáveis localizados no átrio. Após seus

estudos relacionados ao flutter atrial, modifica sua idéia inicial e, baseando-se na teoria

de Mines, descreveu a FA como conseqüência de uma onda excitatória que se

desenvolvia em múltiplas frentes sinuosas que reexcitam fibras miocárdicas pelas quais

já haviam previamente viajado 5.

1.1.3 Descrição da Teoria das Múltiplas Ondas

Quase 60 anos depois das primeiras descrições de Lewis, Gordon Moe et al.

retomaram o estudo da fisiopatogenia da FA e avançaram no entendimento de sua

fisiopatogenia. A partir de conceitos experimentais adquiridos em pesquisas com células

de animais e de cálculos matemáticos, Moe et al. criaram um modelo computadorizado,

Page 14: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

4idealizado na tentativa de entender melhor a fisiopatogenia da FA. Mesmo com as

diversas lacunas em relação à origem da FA, do limitado desenvolvimento tecnológico

inerente a sua época, o modelo criado por estes autores estabeleceu conceitos

fundamentais no entendimento da FA e inspirou diversos autores na busca de

alternativas terapêuticas, até então, muito escassas 6.

Segundo a hipótese desenvolvida por Moe et al., denominada por esses autores

de “hipótese de múltiplas frentes de ondas”, a indução e, principalmente perpetuação da

FA, necessitava de 3 pontos fundamentais: 1) a necessidade de estimulação de um

número mínimo de frentes de ondas para a indução da FA; 2) uma massa de miocárdio

atrial mínimo para a reentrada e perpetuação da arritmia; 3) a presença de uma diferença

mínima do tempo de duração do período refratário entre as células atriais.

Somente com a presença destes 3 fatores, o modelo computadorizado

desenvolvido por Moe et al. foi capaz de simular uma FA. A partir do modelo de FA, os

mesmos autores modificaram as propriedades das células miocárdicas, hipoteticamente

criadas com objetivo de tentar evitar a perpetuação da arritmia. Mediante as diversas

modificações experimentadas, o aumento do período refratário das células miocárdicas

e a diminuição da massa atrial despolarizável pelas frentes de ondas foram os achados

mais efetivos. Estes conceitos inspiraram, respectivamente, o início da utilização de

antiarritmicos para o tratamento da FA e Cox et al. no desenvolvimento da “cirurgia de

maze” (“labirinto”) 7. A cirurgia de Cox et al. foi inicialmente descrita em 1991, sendo a

primeira alternativa terapêutica curativa desenvolvida para FA.

Posteriormente, Mauritis Alessie et al. realizam a primeira demonstração in vivo

de que a FA é decorrente da existência de múltiplas frentes de ondas que se propagam

simultaneamente, originando uma atividade atrial turbulenta. Estes mesmos autores

descreveram a necessidade de, no mínimo, 4-6 frentes de ondas simultâneas para a

Page 15: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

5ativação e manutenção da FA e, desta forma, confirmaram a teoria das múltiplas frentes

de ondas inicialmente descrita por Moe et al. 8.

Após as descobertas de Moe et al. e Allessie et al., o tratamento da FA foi

realizado basicamente a partir de drogas antiarritmicas - com um efeito limitado - e a

“cirurgia do labirinto” foi a única alternativa terapêutica curativa da FA.

1.1.4 A importância das veias pulmonares na fibrilação atrial

Somente em 1988, Michel Haïssaguerre et al. estabeleceram a importância das

veias pulmonares (VP) na origem da FA 9. Estes autores realizaram um estudo com o

objetivo de identificar a existência de gatilhos para o início de episódios de FA

paroxística, através de estudo eletrofisiológico (EEF). Quarenta e dois pacientes com

episódios freqüentes de FA paroxística e refratários à terapia medicamentosa

submeteram-se a um EEF com objetivo de encontrar possíveis gatilhos para o início

espontâneo da FA. Ambos os átrios foram mapeados através de eletrodos intracavitários

com objetivo de detectar e buscar a localização da origem da FA. O resultado do estudo

foi a detecção de batimentos ectópicos, que precediam o início da FA, originando-se do

óstio e interior das VP em 94% dos casos.

Com o objetivo de confirmar a importância destes focos de gatilho para o

desencadeamento da FA, a equipe do Hôspital Cardiologique du Haut-Lévêque realizou

a ablação por cateter de radiofreqüência (RF) das VP que originavam os batimentos

ectópicos e obtiveram o desaparecimento dos episódios de FA em 62% dos casos em

um seguimento médio de 8 meses 9.

Assim, a partir da década de 90, tinha-se teorias que explicavam o início da FA -

focos ectópicos das VP - e da perpetuação da arritmia - múltiplas frentes de onda - o que

Page 16: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

6possibilitava um melhor entendimento da arritmia e desenvolvimento de melhores

terapêuticas curativas.

1.2 DEFINIÇÕES DE FIBRILAÇÃO ATRIAL

O conceito da FA é um consenso entre os diversos autores que estudam essa

arritmia desde as primeiras definições realizadas por Einthoven. No entanto, a definição

precisa da FA ainda não é um consenso na literatura, parecendo ser esta arritmia de fácil

descrição, mas de difícil definição.

A FA foi inicialmente definida por William Harvey em 1828 como uma doença

caracterizada por um movimento ondulatório do sangue no átrio direito, perceptível no

braço e na alma do paciente. É provável que o movimento perceptível no braço trate-se

do pulso irregular característico da FA e na alma das palpitações referidas pelos

pacientes 3.

Posteriormente, Einthoven e Hering descreveram a FA como uma arritmia

caracterizada pela ausência de onda P, presença de pequenas ondas de formação

irregular - então denominadas de ondas f - e a presença de um pulso irregular. A

definição destes autores é válida até os dias de hoje, sendo referida por diferentes

associações e autores dedicados ao estudo da FA 4.

As diretrizes do Working Group on Arrhythmias of the European Society of

Cardiology descrevem a FA como uma arritmia, onde existe uma completa ausência de

coordenação da sístole atrial, caracterizada no ECG pela ausência de ondas P antes do

início de cada complexo QRS e pela presença de ondas rápidas e oscilatórias,

denominadas de ondas f, de diferentes formas e tamanhos e usualmente acompanhadas

de um ritmo ventricular irregular 10. Os mesmos autores acrescentam que a presença de

um intervalo RR fixo não descarta o diagnóstico de FA, devido a ritmos

Page 17: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

7idioventriculares associados à presença de distúrbio de condução do nódulo AV ou uso

de drogas e ritmos de marcapasso (MP) ventricular 10.

As Diretrizes da American Heart Association/American College of Cardiology

(AHA/ACC)/European Society of Cardiology definem a FA como “uma arritmia

supraventricular caracterizada pela incoordenação da ativação atrial com conseqüente

perda de função da contração atrial. Eletrocardiograficamente, a FA substitui as ondas P

por um movimento rápido e oscilatório de ondas de fibrilação que variam em tamanho,

forma e tempo, estando associadas, freqüentemente, com uma resposta ventricular

rápida e irregular quando a condução pelo nódulo AV está intacta” 11.

1.3 DIAGNÓSTICO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

Na era pré-ECG, o diagnóstico presuntivo da FA foi realizado por alguns autores

através da descrição de uma doença que se apresentava como uma irregularidade de

intensidade e freqüência do pulso arterial. No entanto, foi a partir da invenção do ECG

por Einthoven que a FA foi estabelecida claramente como uma doença e até os dias de

hoje o ECG é a principal ferramenta utilizada para o seu diagnóstico.

1.3.1 Diagnóstico eletrocardiográfico da fibrilação atrial

O diagnóstico de FA a partir do ECG é realizado com facilidade na imensa

maioria dos casos. Observam-se basicamente três achados principais em um ECG com

FA.

Os primeiros dois achados são constantemente visualizados e são a ausência de

ondas P e a presença de ondulações atriais rápidas, irregulares e de amplitude variável,

denominadas de ondas f (Figura 1).

As ondas f podem apresentar-se em diferentes amplitudes no ECG, desde

amplitudes mínimas que dificilmente são visualizadas no ECG de superfície, até ondas

Page 18: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

8com amplitudes de 0,5 mV. A amplitude das ondas f está relacionada com o grau de

doença do miocárdio atrial e a classificação da FA, sendo as ondas f de menor amplitude

mais características dos átrios com maior grau de lesão miocárdica e típicos das FA

crônicas ou permanentes, e as ondas f de maior amplitude, características dos pacientes

com miocárdio atrial menos lesado, como ocorre na forma paroxística 10.

Eletrocardiograma típico de fibrilação atrial. O ritmo é taquicárdico e irregular com complexos QRS estreitos. Ausência de ondas P e presença de ondas f de diferentes morfologias, amplitudes e freqüência em torno de 400bpm

Figura 1 – Eletrocardiograma com Ritmo de Fibrilação Atrial

Devido à irregularidade e alta freqüência de despolarização dos átrios – em geral

> 350 batimentos por minuto (bpm) - a condução dos estímulos ao miocárdio

ventricular é modulada pelo nódulo AV. A freqüência de despolarização ventricular

durante a FA é muito variável e depende do grau de condução AV. Em pacientes sem

doença do sistema de condução AV e sem uso de drogas, a freqüência cardíaca (FC)

encontrada durante uma FA varia em média entre 100-140 bpm 12.

Chegando os estímulos ao nódulo AV de forma irregular, naturalmente a

condução do estímulo ao sistema de His-Purkinge ocorre também de forma irregular e

caracteriza o terceiro achado comumente encontrado no ECG da FA: intervalos R-R

Page 19: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

9irregulares. A irregularidade dos intervalos R-R, apesar de característica, não é um

achado constante, pois os pacientes que apresentam uma dissociação AV podem

apresentar um ritmo ventricular regular, mesmo estando em FA10. A causa mais

freqüente de FA com ritmo ventricular regular é a presença de um bloqueio AV

completo, mas também pode ocorrer na presença de ritmos ventriculares acelerados

como ocorre nas taquicardias ventriculares (Figura 2).

A presença de FA com dissociação AV e com ritmos ventriculares acelerados

que dificultem a visualização das ondas f, pode dificultar o diagnóstico da FA a partir do

ECG. O diagnóstico pode ser facilitado com a diminuição da freqüência ventricular ou

através da demonstração intracavitária do átrio em fibrilação.

Eletrocardiograma de 12 derivações de uma fibrilação atrial associada a um bloqueio AV completo. Nota-se que o ritmo ventricular é bradicárdico, regular e comcomplexos QRS alargados. Ausência de ondas P e presença de irregularidades discretas na linha de base (especialmente em V1) correspondendo às ondas f.

Figura 2 – Eletrocardiograma de uma fibrilação atrial com bloqueio átrio-ventricular completo.

Page 20: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

10

O intervalo QRS é estreito na maioria dos casos, porém, em alguns pacientes

podemos identificar complexos QRS > 0,12 milissegundos (ms). As causas mais

freqüentes de FA com complexos QRS alargados são a presença de um bloqueio

intraventricular e a associação de FA e síndromes de pré-excitação. A FA está associada

em 70% dos casos à doença cardíaca estrutural. Desta forma, a associação de FA e

distúrbios de condução intraventricular como bloqueios de ramos não é infreqüente 11.

O bloqueio de ramo pode ser fixo ou secundário ao aumento da freqüência cardíaca.

Associação de FA e síndromes de pré-excitação também são freqüentes. Entre as

síndromes de pré-excitação, a síndrome de Wolff Parkinson White (SWPW) é a mais

prevalente, estando a incidência de FA em pacientes com SWPW entre 10 e 38% 11.

Eletrocardiograficamente, estes pacientes podem apresentar, além de complexos QRS

alargados e com intervalo R-R irregulares, diferentes graus de pré-excitação dos

complexos QRS e com FC muito elevadas devido à condução AV ocorrer pela via

acessória que, caracteristicamente, apresenta uma velocidade de condução maior que o

nódulo AV. Em alguns casos, ainda pode-se identificar complexos QRS de diferentes

morfologias, secundários a conduções anterógradas que realizam-se de forma

intercalada pela via acessória e pelo nódulo AV (Figura 3).

Page 21: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

11

Eletrocardiograma de 12 derivações de fibrilação atrial com condução anterógrada por via acessória. Ausência de ondas P e presença de complexos QRS alargados com intervalos R-R irregulares, diferentes graus de pré-excitação e intercalados com complexos QRS estreitos (flechas), provenientes da condução pelo nódulo AV.

Figura 3 – Eletrocardiograma de fibrilação atrial associada à síndrome de pré-

excitação.

1.3.2 Diagnóstico clínico da fibrilação atrial

O ECG é a ferramenta básica para o diagnóstico de FA, no entanto, uma série de

achados clínicos foi descrita em pacientes portadores de FA.

A presença de um pulso arterial periférico irregular e de diferente amplitude,

seguramente é o achado clínico mais encontrado no exame clínico de um paciente com

FA 12. A FC encontrada depende da atividade do nódulo AV e da amplitude do pulso da

função sistólica e diastólica ventricular. Muitas vezes, nem todas as despolarizações

ventriculares registradas durante o mapeamento eletrocardiográfico de uma FA são

manifestadas mecanicamente pela presença de pulso. Este fenômeno ocorre devido ao

enchimento diastólico insuficiente durante algumas despolarizações ventriculares 12. A

FA é a arritmia mais freqüente manifestada com pulso periférico irregular, no entanto,

Page 22: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

12várias outras arritmias podem manifestar-se com este sinal como flutter atrial e

taquicardia atrial com condução AV variável 11.

A variação da intensidade da primeira bulha é um outro achado característico da

FA. Este fenômeno ocorre devido ao diferente grau de abertura da válvula mitral no

momento da contração do ventrículo esquerdo (VE). O mesmo fenômeno também se

manifesta através da alteração do padrão de pulso jugular, onde a onda a e a onda x

desaparecem e a onda v e a descendente y, tornam-se mais proeminentes 12.

Page 23: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

131.4 CLASSIFICAÇÕES DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

A FA apresenta um amplo espectro de apresentação clínica e a história natural

da doença está associada a sua forma de apresentação.

Desta forma, parece fundamental dispor-se de uma classificação adequada da FA

que traduza, de forma eficaz e simplificada, o tipo de FA. No entanto, a grande

variedade de apresentação desta arritmia dificulta sua classificação e, atualmente,

existem diversas formas de classificar a FA.

1.4.1 Classificação baseada na duração dos eventos

A classificação relacionada à apresentação clínica é a forma mais

freqüentemente utilizada para caracterizar a FA e vale-se do tempo de duração e do

número de episódios como base de sua classificação.

Os termos FA paroxística e FA crônica são amplamente utilizados para

classificar a FA. Entretanto, a definição destes termos já foi utilizada de diferentes

formas na literatura 10, 11. A definição mais freqüentemente empregada é a utilização do

termo paroxística para FA que se apresenta com tempo de duração do último episódio <

7 dias e crônica para FA que se apresenta de forma ininterrupta por > 7 dias 11.

A classificação da FA em duas formas (paroxística e crônica), apesar de ser de

fácil utilização, não diferencia de maneira adequada todos pacientes com FA, em

especial aqueles pacientes submetidos a algum tipo de intervenção. Por exemplo, um

paciente A que apresenta FA com 6 dias de evolução e revertida com cardioversão

elétrica (CVE), apresenta, em geral, história natural diferente quando comparada a um

pacientes B que apresenta FA de início e término espontâneos em < 48 h; ambas seriam

consideradas paroxísticas.

Page 24: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

14Na tentativa de classificar melhor a FA, em 1995, um grupo de especialistas no

estudo da FA reuniu-se para classificar, de forma mais completa, os episódios de FA

paroxística 13, sendo aceito como base para a classificação da FA utilizada pelo Working

Group on Arrhythmias of the European Society of Cardiology 10.

A classificação proposta por Lévy et al. divide a FA paroxística em 3 diferentes

grupos de acordo com a forma de apresentação e tratamento da FA. Cada grupo é ainda

subdividido em até 3 diferentes subclassificações de acordo com a sintomatologia e

freqüência dos episódios.

Grupo I - primeiro episódio sintomático de FA:

(a) reversão espontânea;

(b) requer tratamento farmacológico ou CVE para reversão.

Grupo II - episódios recorrentes de FA (sem tratamento):

(a) assintomático;

(b) sintomático ≤ 1 episódio/3 meses;

(c) sintomático > 1 episódio/3 meses.

Grupo III - episódios recorrentes de FA (pacientes com tratamento):

(a) assintomático;

(b) sintomático ≤ 1 episódio/3 meses;

(c) sintomático > 1 episódio/3 meses.

Consideram-se sintomáticos os pacientes que apresentem sintomas relacionados à

arritmia como palpitações, episódios de síncope, dispnéia, dor torácica, eventos

embólicos periféricos e que não são justificados por outra doença.

Page 25: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

15Utilizando esta nova classificação, o paciente hipotético A, seria considerado como

um pacientes Ib, enquanto o paciente B seria classificado como Ia.

Mais recentemente, Gallagher M. e Camm A. propuseram uma nova forma de

classificação da FA de acordo com a duração dos episódios da arritmia 14. Segundo

estes autores, a classificação inicial (crônica e paroxística) era muito simplista. Porém, a

classificação de Lévy et al.13 é muito complexa e de difícil aplicação na prática clínica.

Aqueles autores classificaram a FA em 4 diferentes grupos:

- primeiro episódio: inclui somente os pacientes com história clínica de um único

episódio de FA, já revertido a ritmo sinusal;

- paroxística: inclui os pacientes com FA recorrente com reversão da arritmia

espontânea em até 48 h após seu início. Os pacientes submetidos a algum tipo

de intervenção para reversão da arritmia em <48 h, em um dos episódios de FA,

e que, na maior parte de seus episódios, apresenta reversão espontânea também

devem ser classificados como paroxísticos;

- persistente: inclui pacientes com episódios recorrentes de FA que persistem por

mais de 48 h até sua reversão espontânea ou que necessitam, na maioria dos

casos, algum tipo de intervenção terapêutica para a reversão ao ritmo sinusal,

independente do tempo de curso da arritmia;

- permanente: inclui os pacientes com FA refratários às medidas iniciais de

reversão ao ritmo sinusal e na inexistência de um plano ou perspectiva de nova

tentativa de reversão para ritmo sinusal.

Posteriormente esta classificação foi utilizada e modificada pelas Diretrizes da

AHA/ACC/European Society of Cardiology para abordagem da FA, publicadas em

2001 11. Os autores mantiveram a mesma classificação para o primeiro episódio e não

estabeleceram um limite de tempo (48 h) para diferenciar a FA paroxística e persistente.

Page 26: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

16Nestas diretrizes, os autores mantiveram a definição original de FA persistente e

permanente, porém, acrescentaram como permanentes os pacientes que apresentassem,

de forma ininterrupta, FA por > 1 ano de duração, independente da tentativa terapêutica

de reversão a ritmo sinusal.

1.4.2 Classificação da fibrilação atrial de acordo com o substrato anatômico

A classificação da FA de acordo com o substrato anatômico baseia-se na

presença e tipo de doenças associadas à FA:

- “lone atrial fibrillation” (“FA solitária”): as diretrizes da

AHA/ACC/European Society of Cardiology 11 enfatizaram, em sua

classificação, o termo “fibrilação isolada”, devido às várias definições

existentes na literatura e a história natural distinta deste tipo de FA que

apresenta uma evolução mais benigna 15-17. O termo “fibrilação solitária”

deve ser reservado aos casos de FA em pacientes com < 60 anos, sem uma

causa aparente para FA e que não possuam evidência clínica e

ecocardiográfica de doenças cardiopulmonares. Este termo deve ser bem

diferenciado de FA idiopática que deve ser utilizado para FA sem causa

aparente, não considerando a idade ou presença de doença associada;

- FA associada a doenças cárdio-pulmonares: todas as enfermidades que

aumentem a pressão intracavitária atrial podem causar FA. As cardiopatias

mais freqüentemente relacionadas são a valvopatia mitral, a cardiopatia

hipertensiva e a insuficiência cardíaca (IC). As doenças não-cardíacas mais

freqüentes são as doenças crônicas pulmonares, em especial aquelas

relacionadas à hipertensão pulmonar. Dentro do termo FA associada a

doenças cardiopulmonares, existem as FA não relacionadas a valvopatias.

Page 27: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17Este termo se refere a FA com algum tipo de doença cardiopulmonar

diferente das valvopatias mitrais que foi utilizado freqüentemente até a

década de 70, época em que se acreditava que o risco de acidente vascular

encefálico (AVE) era reservado somente a esse tipo de FA 18;

- FA associada a fatores desencadeantes: caracteriza as FA não relacionadas à

doença estrutural e relacionadas a fatores desencadeantes como

hipertireoidismo, consumo de álcool em excesso, excesso de drogas como a

efedrina, entre outras;

- FA associada à doença exclusiva do sistema de condução: caracteriza a FA

relacionada à doença exclusivamente elétrica como síndrome de WPW e

síndrome de Brugada.

1.4.3 Classificação da fibrilação atrial de acordo com os achados eletrocardiográficos

Classificação proposta por Wells et al., em 1978, está baseada no detalhamento

eletrocardiográfico das ondas f a partir de registros epicárdicos do átrio direito e durante

cirurgia cardíaca 19.

- Tipo I: caracterizada por uma atividade elétrica mais organizada e separada

por linha isoelétrica.

- Tipo II: caracterizada por atividade elétrica organizada, mas sem linha

isoelétrica clara separando a atividade elétrica atrial.

- Tipo III: presença de atividade desorganizada quase contínua.

- Tipo IV: caracterizada pela presença dos diferentes tipos listados acima no

mesmo paciente.

Estudos eletrofisiológicos (EEF) posteriores de pacientes em FA demonstraram

que se pode obter diferentes traçados de ondas f a partir de diferentes locais de registro

Page 28: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18nos átrios e, inclusive, no mesmo local de registro em diferentes momentos. Desta

forma, atualmente, a classificação, a partir das ondas f, não apresenta maior importância

clínica 19.

1.5 FISIOPATOGENIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

1.5.1 Início de tudo: hipóteses teóricas na direção correta

O mecanismo exato da FA ainda permanece desconhecido apesar dos vários

avanços realizados nos últimos anos. A primeira tentativa de descrição da fisiopatogenia

da FA foi realizada por Wintenberg que descreveu a FA como uma arritmia secundária

ao automatismo de múltiplos focos espalhados pelos átrios 20. Em 1914, Mines foi o

primeiro autor que acreditou que a FA era secundária a um movimento circular

originado por um circuito de reentrada nas cavidades atriais 21. Ambas as teorias foram

completamente conjecturadas e formuladas há cerca de 100 anos atrás, no entanto, no

decorrer destes anos, os avanços mais significativos realizados giraram em tornos destas

duas hipóteses e ambas parecem estar implicadas no mecanismo da FA.

Sir Thomas Lewis foi um dos mais importantes pesquisadores da FA,

descrevendo seus aspectos eletrocardiográficos, clínicos e fisiopatológicos 4.

Inicialmente atribuiu que a FA deveria ser secundária à presença de “focos irritáveis

atriais”. Posteriormente, este mesmo autor, após suas descobertas em relação à

macroreentrada do flutter atrial, adere às teorias de Mines e descreve: “a FA é resultado

da presença de um rotor que, ao girar em alta freqüência, gera uma onda mãe

irregular” 5. A hipótese de Lewis, baseada na idéia de Mines, no momento mais

especulativa - porém, não menos correta – descrevia o que posteriormente foi chamado

de reentrada não-anatômica. Descrevia uma onda de excitação que girava por caminhos

Page 29: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

19sinuosos em torno da musculatura atrial e que, posteriormente, se reexcitavam quando a

frente de onda voltava a percorrer as mesmas células.

1.5.2 Hipótese das múltiplas frentes de ondas: do clássico experimento de Gordon Moe à comprovação por Mauritis Allessie

Quarenta anos mais tarde, Moe et al. realizam uma série de publicações

focalizadas na fisiopatogenia da FA 22,23 que culminaram no clássico artigo, onde

descrevem a hipótese das múltiplas frentes de ondas que serviu como inspiração a

diversas publicações posteriores 6. Com objetivo de tentar entender melhor a origem e a

manutenção da FA em alguns átrios, Moe et al. criaram um modelo matemático

computadorizado para simular essa arritmia. O motivo pelo qual este autor idealizou um

modelo computadorizado foi porque acreditava não possuir tecnologia suficiente,

naquele momento, para mapear eletrofisiologicamente uma FA in vivo.

O modelo computadorizado criado por Moe et al. se baseou nos resultados

obtidos em seus estudos experimentais. Desta forma, construiu um modelo de tecido

atrial que apresentava propriedades eletrofisiológicas matematicamente semelhantes às

células miocárdicas estudadas em seus experimentos in vivo. Este tecido atrial contraído

possuía velocidades de condução e períodos refratários semelhantes ao tecido atrial

cardíaco. Após a criação deste modelo, os autores tentaram induzir ondas de ativação

semelhantes às encontradas na FA (Figura 4).

Page 30: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

20

Foto esquemática do modelo matemático idealizado por Moe et al. 6.

Figura 4 – Modelo matemático do mecanismo de múltiplas ondas

Três foram as condições básicas e necessárias para a indução de FA a partir do

modelo matemático de Moe et al.:

1) necessidade de células com diferentes períodos refratários: a presença de

células atriais com diferentes períodos refratários foi considerada condição

fundamental para a sustentabilidade da arritmia. Experimentalmente, estes

autores já haviam demonstrado que as células atriais não apresentam o

mesmo período refratário, propriedade que denominaram de não

homogeneidade do período refratário celular;

2) necessidade de um número mínimo de frentes de ondas para a manutenção

da arritmia: o mecanismo responsável pela manutenção da arritmia foi a

reentrada não-anatômica e foi denominado por estes autores, posteriormente,

de hipótese de múltiplas frentes de ondas. A origem de múltiplas frentes de

ondas a partir de estímulos elétricos como as extra-sístoles, se transmitiria

Page 31: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

21para as células vizinhas do miocárdio atrial em velocidades diferentes,

devido às diferentes velocidades de condução e períodos refratários celulares

presentes nos átrios. As mesmas ondas seriam responsáveis por uma

reentrada não-anatômica capaz de manter a sustentabilidade da FA. Para a

manutenção desta reentrada, um número mínimo de frentes deveria ser

gerado durante a indução, possibilitando que a arritmia se perpetuasse em

caso da extinção de uma ou mais ondas;

3) necessidade de uma massa crítica atrial: o modelo experimental criado por

Moe et al. necessitava de um número mínimo de células presentes que

possibilitassem a transmissão e reentrada das múltiplas frentes de ondas.

Quando o número de células hipotéticas era reduzido, a manutenção da

arritmia se tornava impossível, por não haver substrato suficiente para as

múltiplas reentradas necessárias para a sustentabilidade da arritmia.

Após estabelecer matematicamente um possível modelo explicativo do

mecanismo da FA, estes autores tentaram modificar os parâmetros matemáticos e

fisiológicos estipulados para o programa com o objetivo de formular hipóteses de

alternativas terapêuticas para a FA. Entre as formas encontradas por Moe et al. para

impossibilitar a sustentação da FA estão:

1) diminuição da massa atrial: a partir da realização das incisões hipotéticas no

interior do tecido atrial e, desta forma, diminuindo o tecido em continuidade

capaz de transmitir as ondas de ativação, a FA se tornava autolimitada. Desta

forma, haveria a diminuição da massa atrial e a arritmia passaria a ser não-

sustentável. Esta hipótese serviu de modelo para a técnica “cirúrgica do

labirinto”, posteriormente proposta por Cox et al. 24, que se mostrou efetiva

Page 32: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

22na manutenção do ritmo sinusal em cerca de 70-80% dos pacientes. Esta

também foi a primeira alternativa terapêutica proposta para a cura da FA e,

atualmente, permanece sendo a técnica cirúrgica de eleição para o tratamento

da FA;

2) aumento do período refratário celular: o aumento e a diminuição dos

períodos refratários celulares também foram testados no modelo matemático.

A diminuição dos períodos refratários mostrou-se ineficaz na tentativa de

impedir a sustentação da FA e, ao contrário, aumentou a suscetibilidade à

manutenção da FA. No entanto, um aumento difuso dos períodos refratários

celulares não impediu totalmente, mas dificultou de maneira importante, o

início e sustentação da FA. Esta foi a base teórica para o tratamento

antiarritmico da FA com drogas que aumentam o período refratário na

tentativa de interromper e evitar o desenvolvimento da FA. Atualmente, a

terapêutica farmacológica permanece sendo a mais utilizada no tratamento

da FA com uma eficácia limitada na manutenção do ritmo sinusal (40-60%),

mas com uma baixa morbidade associada ao tratamento;

3) obtenção de períodos refratários homogêneos: como descrito anteriormente,

a homogeneidade dos períodos refratários celulares impede que se perpetuem

as reentradas sem barreira anatômica, no entanto, até o momento, se

desconhece uma forma de homogeneizar os períodos refratários das células

miocárdicas.

Vinte anos foram necessários para se obter a tecnologia não disponível à época

de Moe et al. Em 1985, Allessie et al. desenvolveram um modelo experimental

utilizando um mapeamento por eletrodos de alta resolução que possibilitavam o registro

Page 33: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

23simultâneo da atividade elétrica em >100 diferentes pontos atriais 25. Após induzir FA

por estimulação elétrica associada à infusão de acetilcolina em ovelhas, estes autores

demonstraram, pela primeira vez in vivo, a propagação de múltiplas frentes de ondas

durante a FA. Allessie et al. foram ainda capazes de comprovar que existe a necessidade

da propagação de um número mínimo de frentes de ondas para sustentar a FA que, no

coração de ovelhas, foi entre 4 e 6 frentes de ondas. Posteriormente, outros estudos

experimentais vieram validar a hipótese de múltiplas frentes de ondas descrita por Moe

et al. 26 e finalmente em humanos durante a “cirurgia do labirinto” para o tratamento da

FA 27.

Os estudos experimentais e as descobertas importantes realizadas posteriormente

alteraram algumas idéias previamente estabelecidas no modelo de Moe et al. O número

de frentes de ondas de ativação necessário em seu modelo para a manutenção da FA era

entre 15 e 30, e os estudos in vivo demonstraram que um número de 6 frentes de ondas

já era suficiente para sustentar uma FA 25, 26. Outra propriedade importante descrita por

Moe et al. foi a necessidade de uma não-homogeneidade dos potenciais de ação das

células que compõe o miocárdio atrial. Estudos experimentais recentes em relação à

eletrofisiologia celular demonstraram que a não-homogeneidade dos potenciais de ação

está presente, mas o principal mecanismo responsável pela diferença na velocidade de

condução das frentes de ondas, e que possibilita a reentrada não-anatômica, são as

diferentes conexões elétricas existentes entre as células atriais 28, 29.

Até o momento, a teoria de múltiplas frentes de ondas continua sendo a hipótese

mais aceita em relação à fisiopatogenia da sustentabilidade da FA, embora descobertas

recentes voltem a apontar na direção da presença de uma onda de rotor-mãe, como

inicialmente descrita por Mines e Lewis 4, 21.

Page 34: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

241.5.3 Questões ainda não esclarecidas pela teoria das múltiplas frentes de ondas

Sendo a FA a arritmia sustentada mais prevalente na população adulta e a sua

associação como maior causa de acidente vascular encefálico (AVE) de etiologia

embólica, naturalmente diversos estudos clínicos foram realizados na tentativa de

entender melhor a história natural da FA 30, 31, 32.

Desta forma, surgiram algumas questões relacionadas à fisiopatogenia da FA

que não estavam totalmente respondidas pela teoria das múltiplas frentes de ondas,

como:

a) a história natural da FA tem seu início com episódios autolimitados e que,

progressivamente, se tornam cada vez mais longos até evoluir para FA

incessante. Qual o mecanismo relacionado com a “cronificação” da FA?;

b) doenças que levam a um aumento da pressão intra-atrial como a hipertensão

arterial sistêmica (HAS), IC e a valvopatia mitral associam-se de forma clara

com o desenvolvimento da FA. Qual a fisiopatogenia da FA nestas doenças?;

c) a FA pode ser sustentada através do desencadeamento de múltiplas frentes

de ondas. No entanto, como inicia esta arritmia, ou seja, quais são os gatilhos

responsáveis pelo início da FA?

Diversas frentes de pesquisa foram desenvolvidas nas últimas décadas na

tentativa de esclarecer algumas destas dúvidas e descobertas importantes foram

realizadas para preencher estas lacunas.

1.5.4 Qual o mecanismo relacionado à “cronificação” da fibrilação atrial?

A observação clínica da história natural da FA demonstra claramente que, em

um grande número de casos, à medida que o tempo avança, os episódios de FA tornam-

Page 35: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

25se mais freqüentes e prolongados até chegar-se a um estado de FA ininterrupta ou FA

crônica. A FA crônica, por sua vez, caracteriza-se por ser mais estável, refratária às

medidas terapêuticas e ser precedida de episódios de FA paroxística 33-36.

Remodelamento elétrico

Em 1995, dois estudos experimentais independentes introduziram o conceito do

remodelamento elétrico para explicar a história natural da “cronificação” da FA 37, 38.

O estudo de Wijffels et al. identificou uma diminuição de 45% do período

refratário atrial (146 ±19 ms para 81±22ms) e uma perda ou inversão da propriedade de

adaptação do período refratário em relação à freqüência de estimulação em cabras

submetidas a um modelo experimental de FA crônica, através do implante de um MP

atrial 37. O estudo de Morillo et al. também encontrou uma diminuição progressiva e

inversamente proporcional ao período refratário em cachorros submetidos a uma

estimulação atrial elétrica rápida e contínua, através de um implante de um MP atrial 38.

Além dos achados semelhantes em relação às alterações elétricas ocorridas no

miocárdio atrial, ambos os estudos demonstraram um aumento da suscetibilidade para

indução e sustentabilidade da FA em relação ao tempo de taquicardia induzida. No

estudo de Morillo et al., após 6 semanas do implante do MP atrial, 82% dos cachorros

mantinham episódios de FA com duração > 15 min 38. No estudo de Wijffels et al. a

média de tempo dos episódios de FA induzidos inicialmente foi de 6 ±3 s, e após 2 dias

de FA eletricamente induzida, a média dos novos episódios foi de 241 ± 459 min, e

duas cabras das 12 apresentaram FA com duração > 24 h. Após 3 semanas, 90% das

cabras já apresentavam FA persistente 37. Este conceito do remodelamento elétrico

induzido através de taquicardia atrial foi denominado por um de seus principais

pesquisadores de “atrial fibrillation begets atrial fibrillation” (“FA causando FA”) 25.

Page 36: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

26O mecanismo implicado inicialmente como responsável pela “cronificação” da

FA secundária ao remodelamento elétrico foi a diminuição do comprimento de ondas 39-

41. A indução de múltiplas frentes de ondas com menor comprimento permitia a ativação

de zonas atriais menores e não atingidas por ondas de maior comprimento devido à

presença de zonas de bloqueio de condução. A ativação destas pequenas zonas

facilitaria a estabilidade da FA através de 3 mecanismos: 1) favorecimento da reentrada

através da ativação de pequenas zonas com locais de bloqueio de condução; 2) ativação

de uma maior massa atrial que propicia uma maior chance de sustentabilidade da

arritmia; 3) ativação de um número maior de frente de ondas, diminuindo a

possibilidade da extinção das mesmas.

Após a descrição da teoria “FA causando FA”, uma série de elegantes estudos

experimentais demonstraram que as alterações dos canais iônicos de membrana estão

relacionadas, de forma importante, com o remodelamento elétrico 42,43.

Alterações dos canais iônicos de sódio (Na+), potássio (K+) e cálcio (Ca2+) foram

encontradas em estudos experimentais de remodelamento elétrico, no entanto, a

associação mais evidente foi nas alterações dos canais lentos de Ca (L-Ca 2+) 43.

O estudo realizado por Van der Velden et al. demonstrou uma diminuição

importante do fluxo iônico através dos canais L-Ca2+ em cabras submetidas à indução

de episódios de FA paroxística 43. Estes achados podem explicar a diminuição do

potencial de ação e a perda da propriedade eletrofisiológica de modificação do potencial

de ação, de acordo com a freqüência de estimulação, encontrados no remodelamento

elétrico 40, 41. O estudo de Yue et al. corrobora com os achados descritos em relação às

alterações dos canais L-Ca2+ em um estudo experimental com cachorros e simula as

alterações elétricas encontradas nos cachorros submetidos ao remodelamento elétrico

com uso de nifedipina 44.

Page 37: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

27Os resultados do remodelamento elétrico em humanos foram observados antes

mesmo da descrição da teoria de “FA causando FA” por Attuel et al. 45. As células

miocárdicas normais fisiologicamente apresentam uma diminuição do período refratário

celular à medida que se aumenta a freqüência de estimulação elétrica. Attuel et al.

observaram em pacientes com arritmias atriais que esta propriedade não ocorria e,

inclusive, era revertida na maioria dos casos. Estes autores propuseram que esta perda

da adaptação do período refratário à freqüência de estimulação elétrica poderia estar

implicada no mecanismo destas arritmias 42 e, posteriormente, os estudos de Wijffelds et

al. e Morilo et al. confirmaram estes achados em modelos experimentais 37,38. Já em

humanos, Franz et al. demonstraram que pacientes com FA apresentavam um período

refratário, em média 140 ms, inferior ao grupo controle 46.

Os efeitos celulares do remodelamento elétrico também foram estudados em

humanos e apresentaram alterações semelhantes às encontradas em modelos animais.

Bosch et al. e Van Wangoner et al. demonstraram que, igualmente aos estudos

realizados em animais, existe uma diminuição da passagem iônica através dos canais L-

Ca2+ em átrios humanos com FA 47, 48.

A reversão do remodelamento elétrico após a reversão do ritmo cardíaco para

sinusal foi bem demonstrada em estudos experimentais e em humanos 45,49.

Independente do tempo de arritmia atrial - meses a anos – os efeitos da diminuição do

período refratário atrial e a perda da propriedade adaptativa do período refratário à

freqüência de estimulação são completamente reversíveis após dias de manutenção do

ritmo sinusal. Estes achados são muito significativos, pois não poderíamos associar uma

recorrência de FA ao fenômeno de remodelamento elétrico após uma semana de ritmo

sinusal. A propriedade de reversibilidade do remodelamento elétrico na perpetuação da

Page 38: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

28FA sugere a presença de um segundo fator responsável pela história natural de

“cronificação” da FA.

Os principais candidatos implicados como segundo fator são: aumento da

anisotropia celular – termo utilizado atualmente para descrever a não-homogeneidade

celular - levando à alteração das proteínas juncionais e à fibrose atrial.

Remodelamento estrutural

Morrilo et al. já demonstravam alterações estruturais em seu estudo experimental

com cachorros submetidos a um período prolongado de estimulação atrial rápida 37.

Diversos estudos posteriores demonstraram semelhantes alterações em modelos

experimentais e em células miocárdicas submetidas à isquemia crônica - miocárdio

hibernante. Ambos os achados demonstraram uma adaptação fenotípica semelhante à

apresentada em um estado fetal denominada estágio de dediferenciação celular 50-53. As

alterações caracteristicamente induzidas pela FA no miocárdio atrial são: 1) aumento do

tamanho celular; 2) acúmulo perinuclear de glicogênio; 3) perda do sarcômero central

(miólise); 4) alterações nas conexinas; 5) alterações na forma da mitocôndria; 6)

fragmentação do retículo sarcoplasmático; 7) distribuição homogênea da cromatina

nuclear; 8) alterações na quantidade e distribuição das proteínas estruturais. Entre todas

as alterações citadas, o aumento do tamanho celular associado à miólise e ao acúmulo

de glicogênio perinuclear são os achados mais freqüentemente encontrados 50 (Figura

5).

Page 39: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

29Eletromicroscopia (x11000) de amostras de tecido atrial de cachorros. A amostra A foi retirada de um cachorro normal e não apresenta nenhuma alteração. A amostra B foi retirada de um cachorro com fibrilação atrial crônica. Identificam-se alterações mitocondriais (cristais), nos discos intercalares (expansão dos vacúlolos) e nos sarcômeros (perda do padrão em bandas e da integridade dos elementos contrácteis) 50.

Figura 5 - Alterações celulares decorrentes da fibrilação atrial

Estas alterações presentes no miocárdio atrial apresentam-se de forma não-

homogênea, havendo células muito afetadas e células praticamente normais. A

dediferenciação celular apresentada parece ser resultado de uma reexpressão da actina

da musculatura alfa-lisa e pela perda de desmina 51. Em cabras o remodelamento das

junções celulares ocorreu devido à perda e distribuição heterogênea da conexina 40.

Apesar das diversas alterações celulares identificadas em pacientes com FA

crônica, não foram encontrados sinais de degeneração, irreversibilidade ou morte

celular 52.

Até o momento, o remodelamento celular devido a FA ainda é pouco conhecido

e somente um estudo demonstrou estas alterações em humanos portadores de FA

isolada 53. Os distúrbios dos canais L-Ca2+ podem estar relacionados com a formação

Page 40: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

30destas alterações, mas ainda não existem indícios concretos desta associação de causa-

efeito.

Remodelamento contrátil

Há quase 30 anos, Logan et al. documentaram uma perda da curva de pressão

atrial após a reversão da FA para ritmo sinusal 54. Estudos ecocardiográficos posteriores

comprovaram a presença de disfunção atrial e demonstraram que: 1) a disfunção atrial é

reversível; 2) o tempo de disfunção está relacionado com o tempo de FA prévio à

cardioversão, sendo, em média, de 2 semanas após 24 h de FA e 4 semanas após > 6

semanas de FA; 3) a disfunção atrial após reversão para ritmo sinusal pode ser

responsável pela formação de trombos intra-atriais 55-57.

O mecanismo responsável pela disfunção atrial após reversão a ritmo sinusal

ainda não está bem esclarecido. Inicialmente, atribuiu-se a disfunção atrial ao “nocaute”

do miocárdio após CVE, no entanto, a comprovação da disfunção atrial após reversão

química exclui esta possibilidade 56. Posteriormente, o mesmo modelo implicado à

taquicardiomiopatia atrial – diminuição do fluxo de Ca2+ ao retículo sarcoplasmático e

diminuição da responsividade dos receptores β-adrenérgicos - foi utilizado para

justificar o remodelamento contrátil atrial. Entretanto, estudos posteriores afastaram esta

hipótese por demonstrarem não existir uma disfunção diastólica importante e pela

ausência de responsividade do átrio a soluções catecolinérgicas estimulantes de

adenilciclase 58.

A utilização da solução agonista dos canais L-Ca2+, denominada de Bay K8644,

apresentou um efeito inotrópico positivo importante em átrios, em ritmo sinusal e

disfunção pós-reversão de FA 58. Apesar de um sinal indireto, parece que a disfunção

dos canais L-Ca2+ está relacionada ao remodelamento contrátil da FA e, diferentemente

Page 41: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

31do mecanismo da taquicardiomiopatia, não está relacionada com a infusão de Ca 2+ ao

retículo sarcoplasmático.

1.5.5 Mecanismo global da “cronificação” da fibrilação atrial: relação entre os remodelamentos elétrico, contrátil e estrutural

Com objetivo de estudar a relação entre os remodelamentos elétrico e contrátil,

Schotten et al. realizaram um estudo onde cabras foram mapeadas por eletrodos atriais

epicárdicos, juntamente com a monitorização hemodinâmica atrial 59. As curvas de

aferição do período refratário atrial e da contratilidade atrial foram superpostas tanto na

fase inicial, onde ocorreu a diminuição do período refratário atrial e da contratilidade,

quanto na fase de recuperação após ser restaurado o ritmo sinusal. Este achado sugere

existir um mecanismo comum como causa do remodelamento elétrico e contrátil na FA,

possivelmente causado pela a disfunção dos canais de L-Ca2+.

O mecanismo hipoteticamente implicado na formação de um substrato

arritmogênico, mais suscetível à estabilidade de um circuito de reentrada não-anatômica

por múltiplas frentes de onda, seria a associação dos seguintes efeitos:

- a diminuição do período refratário celular e a alteração da propriedade

eletrofisiológica de alteração do período refratário em relação à freqüência de

estimulação – secundários ao remodelamento elétrico – que aumentariam a anisotropia

celular, propriedade fundamental para a sustentabilidade da FA;

- as alterações celulares, em especial das junções celulares secundárias às

alterações das conexinas que aumentariam a anisotropia e diminuiriam a velocidade de

condução, colaborando para a sustentabilidade da FA;

- a perda da capacidade contrátil atrial, gerando um aumento do estiramento

das fibras atriais, com conseqüente fibrose e alterações estruturais como a dilatação e a

fibrose miocárdica. Alterações fortemente associadas à estabilidade do circuito da FA.

Page 42: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

32A associação entre os diferentes remodelamentos - elétrico, estrutural e contrátil

– e a FA já está bem estabelecida. No entanto, o mecanismo pelo qual essas alterações

são capazes de gerar uma FA mais estável e refratária à tentativa de reversão a ritmo

sinusal, ainda é parcialmente hipotético e está sintetizada na excelente revisão realizada

por Allessie et al., alguns dos principais pesquisadores da fisiopatogenia da FA 60.

1.5.6 Qual a fisiopatogenia da fibrilação atrial nas doenças que aumentam a pressão intra-atrial?

O desenvolvimento e a refratariedade terapêutica da FA em pacientes com

doenças que levam à distensão da parede atrial estão bem demonstrados em estudos

clínicos 61,62. Na Tabela 1 estão listadas as principais doenças relacionadas à FA e ao

aumento da pressão intra-atrial. O mecanismo relacionado com o desenvolvimento de

FA nestes pacientes parece ser multifatorial e decorrente de alterações celulares, suas

junções e uma fibrose atrial relacionada à distensão da parede, devido ao aumento da

pressão nas cavidades atriais.

Tabela 1 – Doenças associadas ao desenvolvimento da fibrilação atrial.

Doenças Associadas à Fibrilação Atrial

- Valvopatias

- Hipertensão arterial sistêmica

- Insuficiência cardíaca

- Doença arterial coronariana

- Diabetes mellitus

- Doença pulmonar obstrutiva crônica

- Hipertensão pulmonar

As alterações celulares secundárias ao aumento do estresse na parede atrial

também são denominadas de resposta mecânico-elétrica. O estiramento dos miócitos

atriais altera diretamente os miócitos por ativação dos canais L-Ca2+ e por estimulação

Page 43: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

33dos receptores muscarínicos. O aumento dos níveis de catecolaminas ativa os receptores

α e β-adrenérgicos e, adicionalmente, eleva a síntese de angiotensina II. Estes agonistas

ativam seus receptores e iniciam a via ligada a proteína G, na qual a ação dos receptores

β-adrenérgicos e muscarínicos se opõem durante a ativação da adenil-ciclase e

sintetizam a adenosina monofosfato ciclase (AMPc).

As proteinaquinases K e C são ativadas pela AMPc e modulam os canais de L-

Ca2+ e o retículo sarcoplasmático alterando a liberação do Ca2+. Adicionalmente, a

proteinaquinase C que, associada aos efeitos da angiontensina II, ativa quimicamente

uma via genética de rápida ação, a qual desencadeia um processo de hipertrofia

celular 63.

A presença de hipertrofia celular e as alterações dos potenciais de ação dos

miócitos atriais aumentam a anisotropia celular, propriedade que conhecidamente

estabiliza o circuito da FA, sendo um dos fatores relacionados com o desenvolvimento

da FA nestas doenças 6,8.

A fibrose celular é o segundo fator implicado no desenvolvimento da FA. A

presença de fibrose miocárdica, associada ao estresse da parede, já foi demonstrada

experimentalmente em cães e humanos 64,65. No entanto, diferentemente da fibrose da

cicatriz pós-infarto que gera arritmia através da criação de microcircuitos de reentrada, a

fibrose decorrente da distensão da parede celular gera zonas de descontinuidade de

condução elétrica, quebrando a arquitetura atrial. Assim, zonas de maior fibrose atrial

aumentam a estabilidade da FA e a refratariedade às medidas terapêuticas através da

formação de zonas estruturalmente alteradas que propiciam a manutenção da reentrada

por múltiplas frentes de ondas 65.

Assim, a hipertrofia celular e a alteração do potencial de ação miocárdico,

mediadas pela ativação dos canais de estiramento miocárdico, associados à fibrose e

Page 44: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

34perda da arquitetura atrial, são os mecanismos apontados como responsáveis ao

desenvolvimento da FA em pacientes com aumento da pressão intra-atrial. Estes

mecanismos, até o momento, parecem ser os determinantes para a maior suscetibilidade

ao desenvolvimento de FA e maior refratariedade à tentativa terapêutica de retorno ao

ritmo sinusal em pacientes com doenças como a estenose mitral, IC e HAS.

1.5.7 Focos atriais responsáveis pelo início da fibrilação atrial: na contramão da

história

Desde que o próprio Sir Thomas Lewis abandonou sua teoria inicial de FA

secundária a focos de hiperatividade atrial para unir-se a Mines no conceito de FA

secundária à reentrada, a maior parte das pesquisas realizadas para estudar a

fisiopatogenia da FA dirigiram-se à pesquisa da FA secundária à reentrada atrial (4). No

entanto, recentemente, a equipe do Hópital Cardiologique de Haut-Levéque de

Bordeaux - France voltou a pesquisar a importância dos focos ectópicos e publicou, em

setembro de 1988, uma das mais importantes descobertas nestes mais de 100 anos de

pesquisa da fisiopatogenia da FA 9.

No estudo de Haïssaguerre et al. 9, 45 pacientes com crises freqüentes de FA

paroxística, foram avaliados de forma não-invasiva e com estudo EEF, tendo o objetivo

de estudar o desencadeamento da FA. Estes autores identificaram, de forma não-

invasiva, através de monitorização eletrocardiográfica contínua (MEC) de 24 h, que a

maior parte dos episódios de FA eram precedidos de períodos freqüentes de extra-

sístoles supraventriculares ou taquicardias atriais. Desta forma, os pacientes foram

submetidos à EEF para cartografia dos focos de origem destas extra-sístoles e

taquicardias atriais. Três cateteres com múltiplos eletrodos foram introduzidos

percutaneamente através da punção por veia femoral direita. Os cateteres foram

Page 45: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

35introduzidos e colocados em diferentes pontos do átrio direito e seio coronário. O foco

ectópico foi localizado de acordo com a atividade atrial mais precocemente detectada

em relação às ondas P de superfície durante as extra-sístoles e episódios de taquicardia

atrial. Nos casos onde não foi detectada atividade atrial > 10 ms em relação à onda P de

superfície, foi seguida da punção transeptal para cartografia do átrio esquerdo (AE). Os

pacientes que não apresentavam extra-sístoles supraventriculares ou episódios de

taquicardia atrial espontâneos durante o procedimento, foram estimulados através de

manobras eletrofisiológicas e infusão de drogas como isoproterenol e adenosina. A

presença de focos de origem das extra-sístoles ou taquicardias atriais, também

denominados de focos ectópicos, foram encontrados em 48 dos 49 pacientes. Um único

foco ectópico foi encontrado em 29 pacientes, dois focos em 9, três focos em 6 e quatro

focos em 1 paciente. De um total de 69 focos ectópicos detectados, 65 (94%) foram

localizados no interior das VP, correspondendo a 41 dos 49 pacientes estudados. Trinta

e um focos foram localizados na VP superior esquerda, 17 na VP superior direita, 11 na

VP inferior esquerda e 6 focos na VP inferior direita. Os demais focos detectados

localizaram-se na parede posterior do AE (1 caso) e junto à crista terminalis no átrio

direito (3 casos) (Figura 6).

A atividade elétrica encontrada no interior das VP apresentava uma precocidade

média em relação à onda P de superfície de 106 ± 24 ms. Em 36 pacientes detectaram-

se de 1 a 8 episódios de FA iniciados espontaneamente. Dois pacientes apresentaram FA

após ciclos irregulares de taquicardia atrial com intervalos de acoplamento em torno de

230-250ms. Em 34 pacientes a FA foi desencadeada por episódios curtos de extra-

sístoles, originadas no interior das VP, com intervalos de acoplamento entre 110-270ms

(340 bpm) (Figura 7).

Page 46: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

36

Diagrama da localização dos 69 focos determinados como responsáveis pelo desencadeamento dos episódios de fibrilação atrial 9.

Figura 6 – Diagrama da localização dos focos ectópicos responsáveis pelo início de episódios de fibrilação atrial.

Exemplo de uma fibrilação atrial desencadeada por um episódio de taquicardia atrial. O eletrograma captado junto à veia pulmonar superior direita (RIPV) demonstra um episódio de taquicardia atrial com 5 batimentos e ciclo de 170 ms (asterisco) que levam ao desencadeamento de uma fibrilação atrial, detectada no eletrograma de superfície 9.

Figura 7 - Desencadeamento de fibrilação atrial a partir de episódios de taquicardia atrial.

Page 47: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

37Em nove pacientes não houve desencadeamento espontâneo da FA durante o

EEF, mas todos eles apresentaram freqüentes extra-sístoles atriais originadas do interior

da VP.

Durante o ritmo sinusal, detectou-se a presença de atividade atrial no interior das

VP, indicando a presença de uma conexão muscular que se prolongava até o interior das

mesmas, ligando-as com o miocárdio atrial.

Após a detecção dos focos ectópicos, Haïssaguerre et al. realizaram a ablação

por RF desses focos ectópicos para a avaliação da importância dos mesmos na origem

da FA. A ablação foi realizada na musculatura atrial, nos 4 focos localizados no exterior

das VP, e os demais foram submetidos à ablação no interior das VP. Obteve-se a

ablação de todos os focos ectópicos em 36 pacientes. A MEC realizada posteriormente à

ablação indica uma diminuição da média de batimentos ectópicos supraventriculares de

4377 para 98 batimentos em 24 h.

O seguimento destes pacientes por um tempo médio de 8 meses, identificou que

28 (62%) deles apresentavam-se livres de recorrências de FA nesse período, sendo que

os nove pacientes onde a ablação dos focos ectópicos não foi obtida, estavam incluídos

no grupo onde a FA foi recorrente. O estudo de Haïssaguerre et al. foi seguido de vários

outros que encontraram resultados semelhantes, inclusive em relação ao êxito da

ablação 66-68. Retomou-se um conceito há décadas abandonado: a importância dos focos

ectópicos na origem da FA.

Page 48: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

38

1.5.8 Novas teorias desenvolvidas na fisiopatogenia da fibrilação atrial: retorno

ao movimento circular como mecanismo da fibrilação atrial

A primeira descrição do mecanismo da FA como uma onda de movimento

circular foi realizada por Mines et al. e, posteriormente, apoiada por Lewis 5,21.

Lewis descreveu que a onda de reentrada circular responsável pela manutenção

da FA era mais rápida e pequena que a onda de reentrada do flutter atrial. A hipótese

descrita por Lewis foi baseada na maior tecnologia disponível na época: a morfologia

das ondas f a partir do ECG de superfície.

A pouca base experimental apresentada por Lewis e a descrição da teoria das

múltiplas ondas descrita por Moe et al. e Allessie et al. 6,8 mantiveram a hipótese da

reentrada circular como menos provável durante muitos anos.

Mais recentemente, estudos realizados por Jalife et al. e outros autores

demonstram que, pelo menos em alguns casos de FA, as idéias teoricamente descritas

por Lewis possivelmente estavam corretas 69.

Jalife et al. demonstraram recentemente em ovelhas com coração normal a

hipótese denominada de “mother rotors” (“rotor mãe”). Através do mapeamento

elétrico dinâmico durante uma FA induzida, demonstraram uma atividade elétrica

organizada e contínua de alta freqüência localizada na parede posterior do AE 70. Esta

atividade elétrica de alta freqüência (60 ms) propagava-se pelo AE e encontrava o átrio

direito através do fascículo de Bachmann e parede ínfero-posterior atrial, junto ao seio

coronariano.

A determinação da hipótese de um “rotor mãe” como mecanismo de sustentação

da FA poderia ser importante, pois possibilitaria que a realização de cicatrizes na parede

posterior - cirurgicamente, ou através de cateter de RF- fosse uma outra alternativa

terapêutica curativa para a FA destes pacientes 71.

Page 49: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

391.5.9 Resumo do conhecimento atual na fisiopatogenia da fibrilação atrial

Depois de > 100 anos de pesquisa na fisiopatogenia da FA, atualmente, as

teorias iniciais e aparentemente contraditórias, da reentrada e focos de automatismo

aumentado somam-se para explicar o amplo espectro fisiopatológico da FA.

A hipótese das múltiplas frentes de ondas permanece como a teoria mais aceita

para explicar a sustentabilidade da FA. No entanto, a presença de múltiplos estímulos

elétricos, manifestados através de extra-sístoles freqüentes ou episódios de taquicardia

atrial, parecem possuir um papel fundamental no desencadeamento dos episódios de

FA, em especial na FA paroxística. Em mais de 90% dos casos, estes focos ectópicos

são originados no interior das VP.

A hipótese de “rotor mãe” ainda necessita de mais estudos, especialmente em

humanos, para sua comprovação como mecanismo fisiopatológico da FA. No entanto, a

idéia que a presença de um “rotor mãe” pode ser responsável pela manutenção de alguns

casos de FA, abre uma perspectiva para o surgimento de novas alternativas terapêuticas

para o tratamento da FA.

A presença de episódios repetidos de FA, extra-sístoles supraventriculares e

taquicardias atriais, gerariam remodelamentos elétrico, contrátil e estrutural

responsáveis pelo desenvolvimento de um substrato arritmogênico atrial mais suscetível

a sustentabilidade da FA. Esta soma de alterações ocorridas no miocárdio atrial - “FA

causando FA” - seria a responsável pela história natural de um grande número de casos

de FA que iniciam como episódios paroxísticos e que, progressivamente, tornam-se

mais freqüentes e prolongados até o desenvolvimento da FA crônica. O remodelamento

estrutural parece ter especial importância na maior refratariedade terapêutica deste tipo

de FA ao retorno ao ritmo sinusal.

Page 50: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

40A hipertrofia celular e a alteração do potencial de ação miocárdico, mediadas pela

ativação dos canais de estiramento miocárdico L-Ca2+ e aumento da síntese de

angiotensina II, associados à fibrose e perda da arquitetura atrial, são os mecanismos

apontados como responsáveis pelo desenvolvimento da FA em pacientes com aumento

da pressão intra-atrial. Estes mecanismos, até o momento, parecem ser os determinantes

para a maior suscetibilidade ao desenvolvimento de FA crônica em pacientes com

doenças como a estenose mitral, IC e HAS.

Na Figura 8, apresenta-se um desenho esquemático, na tentativa de sintetizar o

conhecimento atual da fisiopatogenia da FA.

Fibrilação atrial (FA), veias pulmonares (VP).

Figura 8 – Fisiopatogenia da fibrilação atrial

Page 51: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

411.6 EPIDEMIOLOGIA DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

Os resultados iniciais dos estudos provenientes da coorte de Framingham,

fizeram da década de 80 a mais importante, do ponto de vista epidemiológico, para o

estudo da FA 72. A prevalência da FA pôde ser mais bem estimada e houve uma

mudança no conceito de FA como uma arritmia benigna para uma FA associada a

importante morbimortalidade, em especial sua relação causa-efeito com o AVE 73,74.

1.6.1 Dados de prevalência de fibrilação atrial

O entendimento da FA como arritmia sustentada mais freqüente na população

adulta foi demonstrado ainda em 1982, quando se publicou a análise de prevalência de

FA do estudo Framingham que encontrou FA em 2% da população com idade >22

anos 72. Quando ajustado para a idade, a prevalência de FA em homens foi um pouco

superior às mulheres, respectivamente, 2,2 % e 1,7% e o dobro em caucasianos quando

comparado com negros 75. Na Tabela 2 identificam-se a prevalência de FA por idade em

Framingham.

Tabela 2 - Prevalência de fibrilação atrial de acordo com o sexo em Framingham.

Idade Prevalência de FA-homens Prevalência de FA-mulheres

25-34 anos 0,2% 0,2%

35-44 anos 1,9% 0,6%

45-54 anos 2,6% 3,1%

55-64 anos 3,7% 2,9%

Média 2,1% 1,7%

FA (fibrilação atrial).

O aumento da prevalência de FA com a idade também foi evidente, tendo uma

prevalência de FA de 0,5% na população entre 50-59 e de 8% na população entre 80-89

Page 52: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

42anos 73. Estudos posteriores demonstraram resultados semelhantes como uma

prevalência de FA < 1% na população com < 60 anos e em torno de 6% na população >

80 anos de idade 76. Mais recentemente, The Cardiovascular Health Study em pacientes

com idade > 65 anos encontrou uma prevalência de 5% de FA 77.

Quando estudada em pacientes hospitalizados por alterações do ritmo cardíaco, a

FA foi encontrada em 34,5% destes pacientes nos Estados Unidos da América (EUA) 78.

A prevalência de “FA solitária” é distinta nas diferentes séries apresentadas 16,

17,72. A falta de uniformidade na definição inicialmente proposta por Evans e Swann 15,

provavelmente é a responsável pela disparidade dos resultados. Na Tabela 3

identificam-se as diferentes prevalências de “FA solitária” em estudos populacionais

com as definições correspondentes.

Tabela 3 - Prevalência de “Fibrilação Atrial Solitária” em diferentes estudos

Autor – coorte Prevalência de

“FA solitária”

Definição de “FA solitária”

Brand, et al. - Framingham 16 30% FA não associada a doenças cardio-

pulmonares ou causas de FA

Kopecky, et al. - Mayo Clinic 17 2% FA não associada a doenças cardio-

pulmonares ou causas de FA em

pacientes com idade < 60 anos

Furberg et al. -

Cardiovascular Health Study 77

12%

-----

FA (fibrilação atrial).

1.6.2 Fatores de risco associados à fibrilação atrial

Várias são as doenças que podem levar a FA (Tabela 1), entretanto, algumas

delas não apresentam uma importância epidemiológica devido a sua menor prevalência,

servindo para diagnósticos em casos selecionados 79. Quando analisados do ponto de

Page 53: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

43vista epidemiológico as doenças que mais freqüentemente se associam a FA são a HAS,

IC, diabetes mellitus (DM), doença arterial coronariana (DAC) e as valvopatias, em

especial a valvopatia mitral 72. Na Tabela 4 verificam-se os resultados do estudo

Framingham para doenças associadas ao desenvolvimento de FA.

Tabela 4 - Doenças associadas à fibrilação atrial

Doenças Homens

com FA

Homens

controles

Risco

relativo

Mulheres

com FA

Mulheres

controle

Risco

relativo

DAC 16,3% 8,3% 2,0 4,1 4,1 1,0*

IC 14,3 0,8 17,5 14,3 2,9 5,7

Valvulares

reumáticos

10,2 1,2 8,3 26,5 3,3 15,3

HAS 45,7 28,3 2,1 51,2 36,7 1,9

DM 10,2 4,5 2,3 10,2 3,7 3,0

HVE 30,6 12,2 3,0 28,6 14,7 2,4

Tabagismo 55,1 61,6 0,8* 38,8 30,2 1,5*

AVE 10,2 2,4 4,2 2,0 3,3 0,6*

DAC (doença arterial coronariana), IC (insuficiência cardíaca), HAS (hipertensão arterial), DM (diabetes mellitus), hipertrofia ventricular esquerda em ecocardiografia (HVE), AVE (acidente vascular encefálico), FA (fibrilação atrial) * p >0,05.

A análise dos resultados aponta a HAS como a doença mais freqüentemente

associada à FA, porém, este resultado é devido a sua alta prevalência na população. O

maior poder de associação com FA foi a IC nos homens e a valvopatia reumática nas

mulheres. Surpreendentemente, a DAC apresentou uma fraca associação com FA no

estudo de Framingham na população masculina e nula na população feminina. O DM

apresentou uma associação moderada com o desenvolvimento de FA e o tabagismo uma

associação nula. A associação de FA com doenças pulmonares obstrutivas não foi

analisada nos primeiros resultados, mas, posteriormente, outros estudos demonstraram

sua associação 80.

Page 54: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

44Fica evidente a forte associação entre AVE e FA nesta série. A associação AVE

ou síndromes coronarianas agudas e FA deve ser interpretada de uma maneira distinta,

pois existe uma maior possibilidade de ocorrer uma inversão do binômio causa-efeito

dessa doença. Estudos posteriores analisaram a FA como causa de síndrome coronariana

aguda, mas os resultados das coronariografias e os estudos patológicos demonstram que

quase a totalidade destes pacientes apresentava doença aterotrombótica coronariana,

sendo raros os eventos isquêmicos secundários a êmbolos originados nos átrios 17. Por

outro lado, a análise detalhada dos pacientes com FA que apresentaram AVE, através de

tomografia de crânio e angiografia, identificou que em cerca de 60% dos casos, êmbolos

cardiogênicos são apontados como a causa mais provável do AVE 81. A associação entre

AVE e FA em pacientes com valvopatia mitral já havia sido bem estabelecida

anteriormente, mas não havia resultados contundentes que colocassem a FA como um

fator de risco independente para AVE 72.

1.6.3 Fibrilação atrial e acidente vascular encefálico

Atualmente, a associação independente entre AVE e FA já está bem definida

devido aos resultados de vários estudos 72-74,81. O risco geral de AVE em um paciente

com FA encontra-se em cerca de 5%/ano, apresentando um aumento do risco de 2-7

vezes maior que a população normal 81. A força de associação da FA e o AVE depende

da idade do paciente 72, da presença de cardiopatia associada 72,73 e existem resultados

conflitantes em relação ao maior risco de AVE na FA permanente 16,17.

A HAS é a doença mais fortemente associada ao AVE na população adulta. No

entanto, essa força de associação diminui com o aumento da idade. Este efeito ocorre de

maneira contrária em relação à FA, de forma que essa arritmia se torna a doença de

maior força de associação com AVE na população mais idosa 72,73. Na Tabela 5 pode-se

Page 55: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

45identificar este comportamento em diferentes doenças relacionadas ao AVE na

população de Framingham 73.

Tabela 5 - Risco relativo estimado para acidente vascular encefálico em pessoas com doença cardiovascular associada.

Doença 50-59 anos 60-69 anos 70-79 anos 80-89 anos

HAS 3,6 (1,1-5,7) 3,2 (2,1-4,7) 2,9 (1,8-4,7) 1,7 (0,7-4,0)

DAC 2,9 (1,8-4,6) 1,7 (1,2-2,5) 1,5 (1,1 - 2,2) 1,1 (0,6-2,1)

IC 4,1 (1,8-9,8) 2,5 (1,4-4,4) 2,1 (1,3-3,4) 1,5 (0,6-3,4)

FA 4,1 (1,5-10,8) 2,6 (1,4-4,9) 4,0 (2,6-6,2) 4,8 (2,5-9,2)

DAC (doença arterial coronariana), IC (insuficiência cardíaca), HAS (hipertensão arterial).

A análise do risco relativo (RR) e dos intervalos de confiança (ICo) demonstra

que, à medida em que aumenta a idade da população (>70 anos de idade), a FA

apresenta uma associação mais forte com a incidência de AVE. Propriedade que se

apresenta de forma inversa nas demais doenças analisadas, sendo que a partir dos 80

anos, somente a FA possui uma associação significativa para AVE, considerando-se um

ICo de 95%. Desta forma, a FA seria responsável por cerca de 6-7% dos AVE em uma

população entre 50-59 anos e de 36,2% em uma população acima dos 80 anos 73.

A força de associação entre FA e AVE também varia de acordo com a presença

de outras cardiopatias associadas. Na Tabela 6 pode-se identificar o risco de AVE em

pacientes com FA associada a diferentes doenças 82.

Page 56: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

46

Tabela 6 - Risco relativo de acidente vascular encefálico em diferentes associações entre fibrilação atrial e outras doenças.

Doença associada à FA Risco relativo Percentagem de AVE / ano

Valvopatia reumática 2,1 10,2%

IC 1,4 7%

HAS 1,6 8%

DM 1,7 8,5%

DAC 1,5 7,5%

IC (insuficiência cardíaca), HAS (hipertensão arterial), DM (diabetes mellitus), AVE (acidente vascular encefálico), DAC (doença arterial coronariana).

Pacientes com FA e que apresentam história prévia de eventos embólicos,

também apresentam um aumento do risco relativo de 1,5 para AVE durante o

seguimento 81. Estudos mais recentes demonstraram uma maior associação de FA e

AVE em pacientes com AE > 40 mm e FE diminuída, os quais apresentaram efeito de

contraste espontâneo no AE e aorta durante estudos ecocardiográficos 83-85.

Os resultados em relação ao risco de AVE em pacientes com “FA solitária” são

distintos em diferentes séries, em especial entre os estudos de Brand et al. que analisou

a população de Framingham 16 e de Kopecky et al. e que acompanhou 3 décadas de

pacientes com FA da Mayo Clinic 17. A série descrita por Brand et al. encontrou um

aumento 2 vezes maior no risco de AVE em relação à população controle, sendo que

dos 30 pacientes seguidos, 8 (28%) apresentaram um novo AVE durante o seguimento.

Outro dado alarmante da população de Framingham foi que 23% dos casos de “FA

solitária” apresentaram AVE como primeira manifestação diagnóstica. Na série de

Page 57: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

47Kopecky a taxa de AVE na população com “FA solitária” durante os 30 anos de

seguimento foi semelhante ao grupo controle, respectivamente, 0,5% e 0,35%.

Provavelmente, a diferença entre estas duas séries seja decorrente da população

analisada, pois a média de idade da população de Kopecky et al. foi de 44 anos,

enquanto que na população do estudo de Framingham a maior parte dos pacientes (95%

dos casos) apresentavam > 60 anos de idade no início do seguimento. Como descrito

anteriormente, a força de associação entre FA e AVE aumenta de forma importante e

independente da idade e, provavelmente, esta é uma característica que se mantém nos

pacientes com “FA solitária” 73.

Os resultados referentes à importância da classificação da FA com o risco de

AVE são conflitantes. Enquanto estudos observacionais demonstram uma maior

associação de AVE com FA permanente (6%/ano) em relação à FA paroxística

(3%/ano) 86, estudos mais recentes que analisaram os resultados de terapia profilática

com aspirina para AVE, demonstram uma taxa de AVE semelhante nos dois grupos,

respectivamente, 3,3 e 3,2% 87.

1.6.4 Fibrilação atrial e mortalidade

Os resultados mais consistentes na análise da associação da FA com aumento da

mortalidade também são derivados da população de Framingham, pois o conceito de FA

como uma doença benigna permitiu, eticamente, o acompanhamento desta população

sem intervenções terapêuticas 72. A mortalidade na população com FA comparada à

população controle na população de Framingham pode ser analisada na Tabela 7.

Page 58: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

48Tabela 7 - Mortalidade na fibrilação atrial

Mortalidade Homens com FA

Homens controles

Risco relativo

Mulheres com FA

Mulheres controle

Risco relativo

Mortalidade total

59,2% 34,3% 1,7 44,9% 25,3% 1,8

Mortalidade cardiovascular

42,9% 21,2% 2 40,8% 15,1% 2,7

Média de sobrevida

5,9 anos 7,7 anos 6,6 anos 6,7 anos

FA (fibrilação atrial).

Identifica-se um aumento de 2 vezes na mortalidade no grupo com FA

comparado ao grupo controle pareados por idade. Quase 60% dos homens e 45% das

mulheres morreram durante o seguimento e o aumento da mortalidade neste grupo foi

basicamente associado ao aumento no número de AVE 72.

Page 59: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

49

1.7 COMPLICAÇÕES SECUNDÁRIAS A PERMANÊNCIA DO ÁTRIO FIBRILADO

1.7.1 Hemodinâmicas

Conseqüências hemodinâmicas secundárias à fibrilação atrial: conceito

teórico

A FA, caracteristicamente, leva na maioria dos casos à irregularidade dos

batimentos cardíacos e aumento da FC. Estas propriedades podem levar à piora

hemodinâmica secundária à perda da sístole atrial com redução no volume sistólico final

88, aumento da pressão média diastólica atrial 89 e redução do intervalo de enchimento

diastólico passivo 90. A piora hemodinâmica secundária à FA varia em cada paciente,

estando dependente de variáveis como a forma de manifestação da arritmia e a presença

de doenças cardíacas associadas.

Estudos experimentais e em humanos

Estudos experimentais demonstraram a piora hemodinâmica secundária à

irregularidade dos batimentos cardíacos. Naito et al. reportaram uma piora do débito

cardíaco (DC) em cachorros estimulados eletricamente de forma irregular e regular com

a mesma freqüência média 91. Clark et al. realizaram um estudo semelhante em

humanos com FA submetidos à ablação do nódulo AV e implante de MP 92. Os

pacientes foram submetidos à monitorização hemodinâmica e ecocardiografia durante o

estudo, e as aferições foram realizadas sempre considerando uma similaridade em

relação à FC média. A irregularidade da contração ventricular levou à diminuição do

DC e aumento da pressão capilar pulmonar nos pacientes em FA e em ritmo sinusal 92.

Page 60: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

50Gosselink et al. relataram uma queda da FE inversamente proporcional ao

intervalo RR em pacientes com FA submetidos à cintilografia 93. Herbert et al.

demonstraram que em pacientes com FA crônica, existe piora hemodinâmica naqueles

com irregularidade maior dos intervalos RR, em especial nos intervalos mais curtos e

em pacientes que apresentavam FC média > 70 bpm 94. Estudos posteriores realizados

com cintilografia confirmaram uma maior deterioração hemodinâmica, traduzida por

queda na FE, secundária à maior irregularidade dos intervalos RR durante a FA 95.

1.7.2 Tromboembolismo: a mais importante das complicações da fibrilação atrial

O tromboembolismo periférico secundário à formação de um trombo no interior

de um átrio fibrilado é a mais importante manifestação clínica desta arritmia.

Atualmente a associação independente entre AVE e FA já está bem definida

devido aos resultados de vários estudos com risco geral de AVE em torno de 5%/ano,

apresentando aumento do risco de 2-7 vezes maior que a população normal 72. A força

de associação da FA e do AVE depende da idade do paciente e da presença de

cardiopatia associada 73 como descrito anteriormente nas Tabelas 5 e 6.

Fisiopatogenia do acidente vascular encefálico na fibrilação atrial

A formação de trombos no interior do átrio em pacientes com FA segue os

princípios da tríade de Wirchof: estase sangüínea, disfunção endotelial e

hipercoagulabilidade.

A perda da contratilidade do átrio gera estase sangüínea que, associada à

hipercoagulabilidade, é capaz de formar trombos no interior da cavidade atrial 96. O

apêndice atrial esquerdo é o local mais propício para formação destes trombos e estudos

ecocardiográficos demonstram ser o local mais comumente implicado 97. A visualização

de trombos no apêndice atrial esquerdo é realizada adequadamente com a

Page 61: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

51ecocardiografia transesofágica, e a presença de trombos é mais freqüentemente

detectada em pacientes com história de AVE quando comparados a pacientes sem

AVE 98. Estudos ecocardiográficos seriados demonstram perda da velocidade do fluxo

sangüíneo no AE de pacientes com FA, secundária a perda da contração mecânica

durante essa arritmia 99. Este substrato permite a formação de contraste espontâneo,

trombos e eventos embólicos nos pacientes com FA 100,101. Embora convencionalmente

exista a premissa de que são necessárias 48 h para a formação de trombos atriais em

pacientes com FA, já foram descritos casos de formações trombóticas mais precoces 102.

A disfunção endotelial não foi totalmente elucidada em pacientes com FA, ainda

que muitos pacientes apresentem um aumento do fator de Von Willebrand 103,104. Vários

estudos apontam para um estado de hipercoagulabilidade durante a FA. Marcadores de

hipercoagulabilidade sistêmica como D-dímeros, fibrinogênio sérico, tromboglobulina e

fator IV foram encontrados em níveis aumentados em pacientes com FA 105,106. No

entanto, estes resultados devem ser analisados com cuidado, devido ao alto número de

pacientes em tratamento com anticoagulantes e outras doenças associadas que podem

ser responsáveis por resultados falso-positivos 107.

Após a formação de trombos no interior do AE, cerca de 75% migram para os

vasos encefálicos, sendo que os demais trombos dirigem-se para os vasos

gastrintestinais, renais e membros 12.

Caracteristicamente, o AVE embólico na FA apresenta manifestações clínicas

severas. Quando analisado o AVE embólico secundário à FA, 71% dos casos

apresentaram morte ou seqüelas graves decorrentes do evento 73.

Estudos recentes demonstram a associação independente entre placas complexas

na aorta e AVE em pacientes com FA, sugerindo um outro caminho na formação dos

trombos nestes pacientes 108. Quando analisados os 3950 pacientes dos estudos SPAF

Page 62: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

52(Stroke Prevention in Atrial Fibrillation) I-III, observou-se 217 AVE isquêmicos, dos

quais 52% foram classificados como cardio-embólicos, 24% não-cardio-embólicos e

24% de causa incerta 109. A proporção dos AVE supostamente cardio-embólicos foi

menor em pacientes em uso de anticoagulantes, enquanto a proporção de não-cardio-

embólicos foi menor em pacientes em uso de ácido acetilsalisílico (AAS). A maior parte

dos AVE não-embólicos ocorreram no grupo utilizando warfarin (56%), enquanto 16%

ocorreram no grupo que utilizava AAS. Considerando que os anticoagulantes

diminuíram em 86% o risco de AVE nestes pacientes, este estudo sugeriu, de forma

indireta, que a maior parte dos AVE em pacientes com FA, ocorreram devido ao

deslocamento de um trombo formado no AE.

Estudos clínicos na prevenção de acidente vascular encefálico

A profilaxia primária de AVE em pacientes com FA foi estudada em cinco

grandes ensaios clínicos 110-114. A prevenção secundária foi testada em dois grandes

ensaios clínicos 115, 116.

Uma meta-análise destes 5 ensaios clínicos na profilaxia primária demonstra um

claro benefício no tratamento com anticoagulantes orais em relação ao placebo e AAS

na profilaxia primária de AVE com uma redução de risco de 61% (ICo 95%: 47-

71%) 117.

Os estudos realizados com profilaxia secundária apontam para a mesma direção

e demonstram uma diminuição de risco de um novo AVE de 79% (ICo 95%: 52-90%)

com tratamento com anticoagulantes 115,116.

A meta-análise dos resultados do AAS na prevenção de AVE em paciente com

FA demonstra uma menor proteção em relação ao tratamento com anticoagulantes e um

modesto benefício em relação ao placebo 117. O AAS foi mais eficaz na prevenção de

Page 63: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

53AVE em pacientes diabéticos e com HAS, provavelmente, decorrente da sua maior

proteção em AVE não-cardio-embólicos que são mais freqüentes nessas populações 117.

A anticoagulação dos pacientes com FA aumenta o risco de sangramento. A

idade e os níveis de RNI (international normalized ratio) são os fatores mais

relacionados com as taxas de sangramento 118,119. O objetivo principal do tratamento

anticoagulante é atingir um nível de anticoagulação que seja suficientemente eficaz para

a prevenção de AVE e que não aumente demasiadamente o risco de sangramento. A

análise dos diversos estudos realizados demonstra que os níveis mais seguros de

anticoagulação são RNI entre 2-3 113, 114, 118, 119.

A maior parte dos estudos citados foram realizados em profilaxia primária de

pacientes com FA, onde foram excluídos pacientes com estenose mitral (pelo claro

benefício dos anticoagulantes), contra-indicações ao uso de anticoagulantes e AAS,

alcoolismo e HAS não controlada. O único estudo exclusivamente desenhado para

avaliar a profilaxia secundária foi o EAFT (European Atrial Fibrillation Trial) 115 que

incluiu pacientes com FA não-reumática com AVE recente ou acidente isquêmico

transitório (AIT). Os pacientes foram randomizados para AAS 325 mg/dia, placebo, ou

anticoagulação convencional. Após um seguimento de 2,3 anos, a taxa de recorrência de

AVE foi de 8%/ano no grupo anticoagulante, 19% no grupo placebo e 15% no grupo

AAS. A redução de risco obtida com warfarin foi de 60% (ICo 95%: 41-87%) em

relação ao grupo AAS e ao grupo AAS em relação ao placebo de 83% (ICo 95%: 65-

105%). A taxa anual de sangramentos maiores foi de 2,3% no grupo anticoagulante e

0,9% no grupo AAS em relação ao placebo. Uma subanálise do estudo SPINAF (Stroke

Prevention In Nonrheumatic Atrial Fibrillation) - incluiu pacientes com AVE prévio -

também atingiu resultados semelhantes com uma taxa anual de AVE de 4,3% no grupo

placebo e 0,9% no grupo anticoagulante 116. O estudo CAFA (Canadian Atrial

Page 64: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

54Fibrillation Anticoagulant) 120 foi um ensaio clínico randomizado para placebo e

warfarin que realizou uma análise distinta, considerando o desfecho composto AVE

isquêmico e hemorrágico. Os resultados deste estudo demonstraram uma taxa de

sangramento de 2,5% no grupo warfarin e 0,5% no grupo placebo. Considerando os

desfechos AVE hemorrágico e isquêmico, o grupo do warfarin apresentou 3,5% e do

placebo 5,2% com uma redução de risco de 37% no desfecho composto a favor do

grupo warfarin e com um valor de p<0,05.

Os estudos AFASAK (The AFASAK Copenhagen study) 112 e SPAF 113 foram

desenhados comparando AAS na dose de 75 mg/dia com warfarin. Os resultados destes

estudos demonstraram que os pacientes seguiam beneficiando-se da anticoagulação com

uma taxa de 2,3% ao ano de AVE e que esta dose de AAS não demonstrava benefício

em relação ao placebo com taxas de AVE, respectivamente, de 4,7% e 5,3%.

O estudo SPAF II foi desenhado para comparar anticoagulantes com 325 mg de

AAS/dia e placebo 121. Foram realizados dois estudos paralelos com pacientes com FA

crônica e paroxística e idades de < 75 anos (715 pacientes) e > 75 anos (385 pacientes).

Os resultados em relação aos pacientes mais jovens demonstraram uma igualdade nos

efeitos do warfarin e AAS com taxas anuais de AVE, respectivamente, de 1,3% e 1,5%.

A análise de subgrupo demonstrou que pacientes sem e com outros fatores de risco -

como HAS, IC e tromboembolismo prévio - apresentaram, respectivamente, uma taxa

anual de AVE de 0,5% e 4,8% no grupo AAS.

Devido aos resultados do estudo SPAF II 121 e a maior taxa de sangramento com

warfarin apresentada em outros estudos, foi desenhado o estudo SPAF III 122 que

comparava a estratégia convencional de warfarin com RNI de 2-3 com a associação de

AAS 325 mg/dia e warfarin com RNI de 1,2-1,5. O RNI atingido no estudo foi de 2,4

no grupo warfarin e 1,3 no grupo associação. Após 1 ano de seguimento, o estudo foi

Page 65: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

55interrompido devido ao claro benefício no grupo warfarin isolado, o qual apresentou

uma taxa de AVE de 1,9%/ ano comparado aos 7,9%/ano no grupo associação. Este

estudo também demonstrou taxas de sangramento maior semelhantes nos dois grupos.

Devido ao número pequeno de pacientes submetidos à cirurgia ou ablação por

cateter de RF para tratamento curativo da FA, até o momento, não se dispõe de estudos

clínicos adequados para avaliar o risco de eventos cardioembólicos nestas populações.

Obviamente o tratamento com anticoagulante e antiplaquetários é mantido em pacientes

com recorrência de FA. Esta parcela corresponde, em média, a 30% dos pacientes

submetidos à ablação com cateter e 20% dos pacientes submetidos a “cirurgia do

labirinto” 9,24. O número de pacientes mantidos com anticoagulação após a “cirurgia do

labirinto” ainda é superior ao número de pacientes com recorrência, pois grande parte

dessa população necessita anticoagulação devido à presença de próteses valvares

metálicas, em especial a mitral.

Existe um particular interesse nas séries descritas por Cox et al. 24, onde a

“cirurgia do labirinto” foi realizada em pacientes sem cardiopatia estrutural e não houve

nenhum AVE durante o seguimento dos que foram considerados curados e sem

tratamento anticoagulante. Nos estudos de Bando K et al. a realização da “cirurgia do

labirinto” demonstrou uma redução da incidência de AVE durante o seguimento a

pacientes com doença estrutural 35,36. No entanto, ainda não se dispõe de dados

suficientes para a recomendação formal da suspensão dos anticoagulantes nestes

pacientes e a conduta ainda permanece em estudo e individualizada para cada centro.

O AVE tem sido uma complicação infreqüente na ablação por cateter de RF. A

maior parte dos AVE descritos ocorreu nas primeiras 24 h após o procedimento,

estando, provavelmente, ainda relacionados ao procedimento 9. A estratégia de

Page 66: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

56suspensão da anticoagulação oral em pacientes com manutenção do ritmo sinusal

também tem sido individualizada.

Page 67: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

57Estratificação de risco para eventos embólicos em pacientes com fibrilação atrial Baseados nos resultados dos diversos ensaios clínicos comentados e nos estudos

epidemiológicos em pacientes com FA, três das maiores instituições dedicadas ao

estudo dos eventos embólicos relacionados à FA 122-124 formularam as estratificações de

risco demonstradas na Tabela 8.

Tabela 8 - Estratificações de risco para acidente vascular encefálico na fibrilação atrial

Fonte Alto risco Risco intermediário Baixo risco

Atrial Fibrillation Investigators 124

- Idade > 65 anos

- História de HAS,

DAC, DM

------- Idade < 65 anos e ausência dos fatores citados

American College of Chest Physicuans 123

- Idade > 75 anos

- História de HAS, disfunção ventricular, > 1 fatores intermediários.

- Idade entre 65-75 anos

- História de DM, DAC, tireotoxicose.

Idade < 65 anos e ausência dos fatores citados

Stroke Prevention in Atrial Fibrillation 122

- Mulheres com idade > 75 anos

- Sistólica > 160mmHg

- Disfunção ventricular esquerda

- História de HAS

Ausência dos fatores citados

DAC (doença arterial coronariana), IC (insuficiência cardíaca), HAS (hipertensão arterial), DM (diabetes mellitus), AVE (acidente vascular encefálico), FA (fibrilação atrial).

A estratificação de risco da FA é fundamental, pois auxilia na decisão

terapêutica em relação ao uso de profilaxia para AVE. Como regra geral, recomenda-se

o tratamento com anticoagulantes - com RNI alvo entre 2-3 - para os pacientes com alto

risco para eventos embólicos. Os pacientes com risco intermediário podem ser

Page 68: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

58submetidos ao tratamento com anticoagulantes ou AAS e os pacientes de baixo risco

não requerem nenhum tratamento profilático para eventos embólicos 11.

1.7.3 Taquicardiomiopatia

Define-se taquicardiomiopatia como uma disfunção ventricular progressiva que

clinicamente manifesta-se com IC secundária à manutenção de um ritmo ventricular

anormalmente acelerado. Uma freqüência ventricular elevada pode produzir uma

disfunção ventricular severa em animais submetidos à estimulação elétrica constante 124.

A taquicardiomiopatia foi descrita inicialmente, em estudos experimentais com a

observação do desenvolvimento de forma acelerada de uma disfunção ventricular severa

em porcos e cachorros submetidos à estimulação elétrica constante com altas

freqüências 125. A IC secundária à taquicardiomiopatia apresenta caracteristicamente

disfunção diastólica (com altas pressões de enchimento), sistólica (diminuição

importante da FE) e normalmente atinge ambos os ventrículos 124. Estruturalmente,

existe uma dilatação de todas as câmaras cardíacas (coração com forma esférica),

preservando a espessura do miocárdio sem um aumento importante da massa ou peso

cardíacos 124.

Em nível celular ocorre um remodelamento dos miócitos e da matriz

extracelular. Existe uma perda da arquitetura da matriz celular com um desalinhamento

dos miócitos e diminuição da irrigação através dos vasos capilares 125.

As características mais marcantes da taquicardiomiopatia são o tempo rápido de

instalação da IC e sua reversibilidade. Estudos experimentais demonstram um aumento

das pressões de enchimento ventricular com apenas 24 h de estimulação elétrica

contínua e um deterioração importante da função ventricular depois de 4 semanas (126).

Após o controle da FC em estudos experimentais, observa-se uma melhora dramática da

Page 69: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

59função ventricular nas primeiras 48 h. Em 4 semanas as pressões de enchimento estão

quase normalizadas e em 12 semanas a função sisto-diastólica é normal 127.

O mecanismo exato da taquicardiomiopatia ainda não é totalmente conhecido.

Várias hipóteses foram inicialmente descritas como a depleção de energia miocárdica,

isquemia miocárdica, anormalidades da regulação do influxo de Ca+2 intracelular e o

remodelamento celular 124,126,127. Apesar da fisiopatogenia da taquicardiomiopatia ainda

não estar completamente definida, as alterações do fluxo de Ca+2 intracelular é a

hipótese mais bem fundamentada até o momento. Estudos em animais utilizando

estimulação cardíaca contínua demonstram um baixo fluxo de Ca+2 intracelular

secundário a uma diminuição do fluxo através do retículo sarcoplasmático 128. O

mecanismo pelo qual esta alteração do fluxo de Ca+2 leva à disfunção sistólica ainda é

discutido, alguns grupos acreditam numa dessensibilização dos receptores de Ca+2 e

outros, em uma perda no mecanismo da excitação - contração do miocárdio 128,129.

As primeiras descrições de taquicardiomiopatia em humanos datam de 1913. No

entanto, estudos prospectivos foram desenvolvidos somente a partir de 1990. Gossage et

al. relataram em 1913 o caso de um jovem com FA e miocardiopatia dilatada que

recuperou a função ventricular depois do controle da FC 130. Uma das maiores séries

prospectivas conta com 23 pacientes com FA e FC média >100 bpm. Os pacientes

foram submetidos à ablação do nódulo AV e implante de MP e observou-se uma

melhora da função sistólica nos que tinham disfunção sistólica prévia 131.

Apesar das evidências obtidas com estudos experimentais e as observações em

humanos, a taquicardiomiopatia ainda é uma doença a ser pesquisada. A ausência de

estudos comparativos, a heterogeneidade, o pequeno número de pacientes nas séries

descritas, os diferentes critérios para definição de controle da FC e o uso concomitante

Page 70: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

60de antiarritmicos depressores da função miocárdica são vieses importantes e limitam os

resultados obtidos até o momento.

No entanto, a possibilidade de uma taquicardiomiopatia deve estar presente em

paciente com miocardiopatia dilatada idiopática de rápida evolução, associada a

arritmias com FC elevadas como a FA. Ambos, o controle do ritmo e o controle apenas

da FC, são terapêuticas efetivas no tratamento desta conseqüência da FA 11,124,131.

1.8 DROGAS ANTIARRITMICAS PARA MANUTENÇÃO DO RITMO

SINUSAL

1.8.1 Conceito: do empírico ao experimental

O início da utilização da medicação antiarritmica no tratamento da FA foi

empírico. Jean Sénac inicialmente descreveu, em 1749, os efeitos da quinidina na

prevenção de crises de palpitações que, possivelmente, eram devidas a FA 1. A

descoberta das propriedades terapêuticas da digoxina (digitalis purpurea) foi realizada

ainda em 1785 por William Withering. Este autor comenta: “o tratamento com digitalis

purpurea traz aos pacientes com IC severa, uma regularização dos batimentos e ao

mesmo tempo torna-os mais cheios”.

Experimentalmente, Moe et al. 6 demonstraram em seu estudo clássico das

múltiplas frentes de onda que o aumento do período refratário atrial dificultava a

reentrada de ondas e diminuía a sustentabilidade da arritmia. O conceito teórico descrito

por estes autores descrevia que os pacientes com FA apresentavam um período

refratário atrial mais curto, capaz de diminuir o tamanho do comprimento das ondas de

ativação e facilitar as múltiplas reentradas. Desta forma, as drogas que prolongassem o

Page 71: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

61período refratário atrial aumentariam o comprimento de onda e dificultariam a

reentrada. Outros estudos experimentais demonstraram os efeitos descritos por Moe et

al., no entanto, a diminuição do período refratário atrial não é um achado constante em

todos os pacientes com FA 23,25. Caracteristicamente pacientes com átrio normal - e

animais utilizados em estudos experimentais - apresentam essa característica. Porém,

pacientes com IC e valvopatia mitral apresentam período refratário atrial normal ou

aumentado e pode ser um dos motivos da maior refratariedade às drogas antiarritmicas

usualmente utilizadas 25.

Mais recentemente, Chen et al. 66 demonstraram que a maior parte das drogas

antiarritmicas utilizadas são capazes de suprimir, temporalmente, a atividade dos focos

ectópicos originados nas VP. Séries de casos publicadas recentemente com a ablação

das VP demonstraram, também, a eficácia na associação das ablações das VP e drogas

antiarritmicas 67,68.

1.8.2 O Paradoxo das drogas antiarritmicas na fibrilação atrial

As drogas antiarritmicas são a terapêutica mais utilizada atualmente para a

manutenção do ritmo sinusal em pacientes com FA. A ampla utilização desta

terapêutica é facilmente justificada pela facilidade em sua utilização e por ser a

terapêutica mais bem estudada até o momento.

O paradoxo das drogas antiarritmicas encontra-se no contexto de que, apesar de

sua eficácia comprovada, sua limitação na manutenção do ritmo sinusal foi um dos

maiores estímulos na busca de alternativas terapêuticas no tratamento da FA como a

ablação por RF e a “cirurgia do labirinto”. As justificativas para este paradoxo

provavelmente são: 1) as drogas antiarritmicas não são capazes de curar, mas somente

tratar cronicamente os pacientes com FA, 2) apesar de melhores que placebo, as drogas

Page 72: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

62antiarritmicas apresentam uma eficácia limitada, sendo capazes de manter em média

60% dos pacientes em ritmo sinusal ao final de um ano; 3) resultados publicados

recentemente não demonstraram diferença nos resultados comparando controle do ritmo

com drogas antiarritmicas versus controle da FC 132,133.

Encontram-se disponíveis 19 ensaios clínicos randomizados publicados nos

últimos 10 anos, demonstrando a eficácia das drogas antiarritmicas na manutenção do

ritmo sinusal na FA. Na Tabela 9 estão listadas as drogas e doses que,

comprovadamente, demonstraram ser melhores que placebo na manutenção do ritmo

sinusal em pacientes com FA, considerando como valor de p <0,05 11.

Tabela 9 - Eficácia das drogas antiarritmicas na manutenção do ritmo sinusal.

Droga Dose diária Manutenção do ritmo sinusal ao final de 1 ano

Amiodarona 100-400 mg 60%

Disopiramida 400-750 mg 54%

Dofetilide 500-1000 mg 70%

Flecainida 200-300 mg 50%

Propafenona 450-900 mg 62%

Metroprolol 100 mg 52%

Quinidina 600-1500 mg 50%

Sotalol 240-320 mg 55%

Os resultados do tratamento com amiodarona foram apresentados nas séries de

Grosselink et al. 134 e Chun et al. 135. Na série de Grosselink et al. 53% dos pacientes

apresentavam-se livres de recorrência em um seguimento de um ano. No estudo de

Chun et al. 87% dos pacientes estavam em ritmo sinusal em um ano de seguimento,

70% em 3 anos e 55% em 5 anos.

Page 73: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

63A amiodarona também foi utilizada após recorrência da FA com uso de

antiarritmicos classe I (propafenona e disopiramida) em um estudo conduzido por

Kosior et al. 136. Os antiarritmicos classe I - classificação de Vaughan Williams 137 -

foram capazes de manter o ritmo sinusal em 48% dos casos no final de um ano de

seguimento. A amiodarona, quando utilizada posteriormente, manteve em ritmo sinusal

53% dos pacientes que apresentaram falha no primeiro tratamento.

Karlson et al. testaram a eficácia da disopiramida versus placebo na manutenção

do ritmo sinusal em um ensaio clínico randomizado 138. Após um mês de seguimento a

disopiramida demonstrou ser melhor que placebo, mantendo 70% dos pacientes em

ritmo sinusal, comparado a 39% no grupo placebo. Após um seguimento médio de um

ano a diferença persistiu sendo significativa, estando 54% dos pacientes no grupo

disopiramida e 30% do grupo placebo em ritmo sinusal.

A eficácia do dofetilide foi demonstrada em um subestudo do DIAMOND

(Danish Investigations of Arrhythmia and Mortality ON Dofetilide) 139, onde foi testado

contra placebo em pacientes com IAM recente ou disfunção ventricular severa. Após

um ano de seguimento, 79% dos pacientes tratados com dofetilide e 42% do grupo

placebo mantiveram-se em ritmo sinusal. Os excelentes resultados do dofetilide nesta

população devem ser interpretados com cautela, pois muitos pacientes foram incluídos

após o primeiro episódio de FA e em vigência de IAM recente e/ou IC descompensada.

Apesar da disfunção ventricular ser um fator de risco para recorrência da FA, a inclusão

de pacientes com episódios únicos de FA e durante períodos críticos da doença de base,

pode favorecer os resultados deste estudo. Entretanto, a segurança do dofetilide nesta

população e sua maior eficácia em relação ao placebo, apontam esta droga como uma

opção promissora a alguns pacientes.

Page 74: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

64O estudo DNFMS (Danish-Norwegian Flecainide Multicenter Study Group) foi

desenhado para testar a eficácia da flecainida na manutenção do ritmo sinusal em

pacientes com FA. Após um seguimento médio de 3 meses, a flecainida foi melhor que

placebo e apresentou uma eficácia na manutenção do ritmo sinusal de 50%.140.

A eficácia da quinidina na manutenção do ritmo sinusal em pacientes com FA

foi avaliada em uma meta-análise realizada por Coplen et al., utilizando os resultados de

6 ensaios clínicos randomizados 141. Após 3, 6 e 12 meses de seguimento, os pacientes

tratados com quinidina apresentavam-se em ritmo sinusal, respectivamente, em 69, 58 e

50% dos casos. A proporção de pacientes livres de FA no grupo placebo durante o

mesmo período de seguimento foi de 24%, 23% e 24%. Quando comparado com

placebo a quinidina apresentou uma razão de chance para a manutenção do ritmo

sinusal de 2,98.

Kochiadakis et al. 142 realizaram um ensaio clínico randomizado comparando

propafenona, amiodarona e sotalol, onde foram incluídos 246 pacientes com FA

recorrente. Após um seguimento médio de 12 meses, observou-se a manutenção do

ritmo sinusal em 66% no grupo amiodarona, 32% no grupo sotalol e 62,5% no grupo

propafenona. Posteriormente, os resultados da manutenção do ritmo sinusal com sotalol

foram comparados com d-l-sotalol e d-sotalol, demonstrando uma eficácia semelhante

entre as duas drogas 143. O d-sotalol é um isômero dextrorotatório do d-l-sotalol que

apresenta uma ação mais acentuada sobre os canais de K+ e perde sua ação β-

bloqueante. Os resultados semelhantes entre as duas drogas favorecem a importância da

ação β-bloqueante na manutenção do ritmo sinusal. Cruz et al. 144 analisaram os

resultados apenas do d-l-sotalol em pacientes com flutter atrial e FA e atingiram ritmo

sinusal em 58% dos pacientes em uma média de 7 meses de seguimento.

Page 75: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

65Juul-Müller et al. realizaram um ensaio clínico comparando os resultados do

sotalol com a quinidina 145. Após um seguimento médio de um ano, o resultado foi

semelhante em ambos os grupos com 52% dos pacientes do grupo sotalol e 48% no

grupo quinidina em ritmo sinusal.

Estudos retrospectivos mostravam resultados contraditórios em relação à

eficácia dos β-bloqueadores na manutenção do ritmo sinusal na FA 146. Kühlkamp et

al. 147 compararam metroprolol contra placebo em 394 pacientes com FA persistente.

Em um seguimento médio de 13 meses, o metoprolol foi superior ao placebo, mantendo

52% dos pacientes em ritmo sinusal, comparado com os 40% do grupo placebo.

Os resultados demonstrados anteriormente não devem ser comparados porque as

populações analisadas nos estudos são distintas, apresentando respostas variáveis ao

tratamento antiarritmico. No entanto, se pode verificar que, em diferentes estudos,

apesar das distintas populações, as drogas antiarritmicas apresentam uma eficácia

limitada na manutenção do ritmo sinusal que varia em torno dos 57% após um ano de

seguimento.

1.8.3 Controle da freqüência cardíaca na fibrilação atrial: qual o caminho certo?

A abordagem da FA vem se modificando ao longo das décadas. A idéia inicial

de uma arritmia benigna foi modificada com a descoberta da forte associação desta

arritmia a eventos embólicos periféricos, em especial os cerebrais, e a constatação da

alta morbidade associada à FA 72,73. Assim, se deveria tentar, com todos os esforços, a

manutenção de um ritmo sinusal. A nova premissa desencadeou uma série de estudos

observacionais, coorte e ensaios clínicos randomizados nas últimas décadas que

estabeleceram e elucidaram conceitos importantes como 74-76, 110,-114,143,144,147:

Page 76: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

66- a eficácia das drogas antiarritmicas na manutenção do ritmo sinusal é

limitada;

- o risco de eventos embólicos periféricos é aumentado em pacientes com FA,

independentemente de sua classificação, exceto na FA isolada;

- a alta resposta ventricular, característica da FA, é a principal responsável

pela morbidade da arritmia, exceto os eventos embólicos;

- as drogas anticoagulantes são a maneira mais eficaz de evitar os eventos

embólicos em pacientes com FA;

- algumas drogas antiarritmicas apresentam efeitos pró-arrítmicos e efeitos

adversos importantes, devendo ser utilizadas com cautela.

A partir destes resultados, novas questões foram levantadas e o conceito

“devemos sempre tentar manter os pacientes em ritmo sinusal” precisou ser revisado.

Seria mais vantajoso manter o paciente com drogas antiarritmicas para manutenção do

ritmo sinusal ou dever-se-ia manter apenas a FC controlada?

O estudo PIAF (Pharmacologic Intervention in Atrial Fibrillation) 132 foi o

primeiro ensaio clínico que abordou o controle da FC versus controle do ritmo. O PIAF

foi publicado no ano de 2000 e randomizou 252 pacientes com FA, comparando a

estratégia de manutenção do ritmo sinusal com amiodarona + CVE e controle da FC

com diltiazem. Todos os pacientes foram anticoagulados e acompanhados por um ano.

Não houve diferença na mortalidade e no número de eventos embólicos; os pacientes

que receberam diltiazem apresentaram menos internações hospitalares, justificadas no

grupo da amiodarona para a realização de CVE durante as recorrências de FA.

Posteriormente, dois outros ensaios clínicos apontaram para a mesma direção.

Page 77: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

67O ensaio clínico mais esperado na tentativa de definir o manejo ideal para os

pacientes com FA foi publicado em 2002. O AFFIRM (Atrial Fibrillation Follow-up

Investigation of Rhythm Management) 133 foi um ensaio clínico randomizado, aberto,

comparando a estratégia de controle da FC e manutenção do ritmo sinusal. Ambos os

braços do estudo foram anticoagulados. O desfecho principal observado foi mortalidade

por todas as causas. Os desfechos secundários observados foram o surgimento de novas

arritmias, eventos embólicos periféricos, status neurológico, número de internações,

qualidade de vida e custo-efetividade. Os critérios de inclusão foram um ou mais

episódios de FA com duração >6 h nos últimos seis meses e idade >65 anos ou a

presença de um fator de risco para AVE embólico. Foram excluídos pacientes com FA

de causa reversível, miocardiopatia hipertrófica, insuficiência cardíaca classe IV,

síndrome de WPW, portadores de valvopatia com intervenção cirúrgica programada

para menos que um ano, pacientes em diálise e pós-operatório imediato de cirurgia

cardíaca. Foram randomizados 4060 pacientes em ambos os grupos e os quais foram

seguidos por 3,5 anos. A primeira escolha entre as drogas utilizadas para a manutenção

do ritmo sinusal e controle da FC está exposta na Tabela 10.

Tabela 10 - Drogas inicialmente utilizadas no estudo AFFIRM 133.

Drogas utilizadas para manutenção do ritmo sinusal

Drogas utilizadas no controle da FC *

Amiodarona (39%) β-bloqueadores (49%)

Sotalol (33%) Bloqueadores dos canais de cálcio (41%)

Propafenona (10%) Digoxina (51%)

*Pacientes refratários ao controle da FC com drogas foram submetidos à ablação do nódulo atrioventricular e implante de marcapasso.

Page 78: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

68Obteve-se a manutenção do ritmo sinusal em 60% dos casos no final do

seguimento, e o controle da FC foi atingido satisfatoriamente em 80% dos pacientes.

Não houve diferença significativa no desfecho mortalidade entre os dois grupos com

tendência favorável ao grupo do controle da FC após 2,5 anos de seguimento. Em

relação aos desfechos secundários, também não ocorreram diferenças estatísticas entre

os grupos com tendência favorável para o controle da FC para os eventos número de

hospitalizações, novos AVE e novas arritmias.

Juntamente ao estudo AFFIRM foi publicado o estudo RACE (Rate Control

versus Electrical Cardioversion) que incluiu 522 pacientes, comparando controle da FC

versus controle do ritmo com sotalol e amiodarona. Após um seguimento de 3 anos,

10% dos pacientes do grupo placebo e 40% do grupo amiodarona apresentavam-se em

ritmo sinusal 148.

A análise dos resultados dos estudos PIAF, AFFIRM e RACE sugere a seguinte

questão: deve-se utilizar drogas antiarritmicas com efeitos adversos e pró-arrítmicos

importantes ou submeter os pacientes com FA a procedimentos invasivos analisando os

resultados dos estudos de controle da FC?

Vários editoriais publicados após os resultados do AFFIRM condenaram o

tratamento e as intervenções com objetivo de tentar manter o ritmo sinusal. No entanto,

alguns aspectos importantes devem ser observados.

Primeiramente, deve-se observar que a taxa de controle do ritmo sinusal nestes

estudos foi cerca de 60%. Assim, o controle da FC foi comparado a uma estratégia

farmacológica que não foi eficaz em manter uma grande parte dos pacientes no grupo

inicialmente randomizado, considerando que os 3 estudos utilizaram a estratégia de

intenção de tratar. No estudo AFFIRM, 32% dos pacientes do grupo controle da FC

estiveram em ritmo sinusal durante todo o seguimento133. Estes achados demonstram

Page 79: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

69um “cross-over” importante e que deve ser avaliado com cuidado, pois a análise do

AFFIRM foi realizada por intenção de tratamento. Os resultados de diversas séries de

pacientes submetidos à ablação das VP demonstram uma taxa de manutenção do ritmo

sinusal em torno de 70-90% 66-68. As séries de “cirurgia do labirinto” e seus derivados

também mostram que 80-90% dos pacientes apresentam-se livres de recorrência da FA

27.

Mais recentemente, foi publicada uma subanálise do estudo AFFIRM

comparando a evolução dos pacientes que efetivamente mantiveram-se em controle do

ritmo versus controle da FC 149. A análise multivariada demonstrou uma associação

independente entre manutenção do ritmo sinusal durante o seguimento e diminuição da

mortalidade, favorecendo a hipótese de que o controle adequado do ritmo sinusal pode

ser melhor que o controle exclusivo da FC.

Até o momento, não existe nenhum estudo comparando controle da FC versus

controle do ritmo com medidas invasivas e, desta forma, esta questão permanece sem

resposta.

A maioria das séries de ablação das VP inclui apenas pacientes refratários à

terapêutica medicamentosa e com uma sintomatologia importante 8,66-68. A maior parte

apresentava palpitações diárias apesar da terapêutica medicamentosa. O controle

adequado da FC é capaz de aliviar os sintomas em uma grande parte dos pacientes. No

entanto, em cerca de 20% dos pacientes, não se atinge um controle adequado da FC com

a terapêutica medicamentosa 11. A ablação do nódulo AV com implante de MP tornou-

se a terapêutica de escolha para estes pacientes. Vários estudos bem desenhados

demonstram uma melhora da qualidade de vida e de parâmetros como tolerância ao

esforço após este tipo de procedimento 150,151, no entanto, igualmente, a ablação de VP é

um procedimento invasivo.

Page 80: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

70A terceira questão relevante é que diversas populações não foram devidamente

avaliadas pelos estudos de controle da FC: pacientes com miocardiopatia hipertrófica,

pacientes jovens com FA paroxística, pacientes com valvopatias candidatos à cirurgia,

pacientes com IC. Os resultados dos estudos anteriormente descritos não analisaram

devidamente estas populações - entre outras - e seus resultados não podem ser

expandidos a todos os pacientes com FA.

Desta forma, parece existir uma tendência, cada vez maior, de individualizar-se a

abordagem da FA, devendo-se utilizar as várias alternativas terapêuticas disponíveis.

Page 81: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

711.9 TERAPÊUTICAS NÃO-FARMACOLÓGICAS PARA MANUTENÇÃO DO

RITMO SINUSAL

1.9.1 Marcapassos para o controle do ritmo sinusal

Conceito teórico e desenvolvimento tecnológico

Estudos realizados na última década demonstraram que os pacientes submetidos

a implante de MP dupla câmara (DDD) apresentavam uma menor incidência de FA

durante o seguimento quando comparados aos MP com estimulação ventricular

exclusiva (VVI) 152-154. A manutenção da sístole atrial, possivelmente, diminua os

remodelamentos mecânico, elétrico e celular do átrio, levando a maior facilitação da

manutenção do ritmo sinusal nestes pacientes 43, 44, 46.

A interrupção de arritmias como o flutter atrial e a taquicardia atrial, que

apresentam um circuito de reentrada anatômico definido e freqüências atriais mais

lentas em comparação a FA através de estimulação elétrica, já foi demonstrada 10,11. A

alta freqüência atrial e um mecanismo de reentrada complexo, característico da FA,

dificultam o tratamento através de estimulação elétrica. Estudos realizados com

estimulações elétricas em freqüências elevadas (50ms) apresentaram resultados

desapontadores 10,11. Mais recentemente, a descoberta da importância das extra-sístoles

e taquicardias atriais como gatilho para o desencadeamento da FA trouxe novamente

esta opção terapêutica para o tratamento da FA. Associado ao desenvolvimento

tecnológico dos MP, houve um interesse no desenvolvimento de algoritmos de

tratamento para os desencadeadores da FA - extra-sístoles e taquicardias atriais – com

intuito de intervir em uma fase mais vulnerável da arritmia.

Múltiplas programações de detecção e tratamento através de estimulação elétrica

foram criadas, sendo as mais importantes expostas na Tabela 11.

Page 82: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

72

Tabela 11 - Algoritmos de tratamento por estimulação elétrica atrial para a fibrilação

atrial.

Algoritmos de tratamento Mecanismo

Estimulação atrial preferencial Algoritmo designado a manter uma estimulação atrial um pouco superior ao ritmo normal do paciente, com objetivo de manter sempre a estimulação artificial do átrio.

Estabilização da freqüência atrial Evita a presença de longas pausas compensatórias após extra-sístoles supra ou ventriculares.

Sobre-estimulação após reversão de arritmias

Sobre-estimulação atrial com freqüências programáveis que são iniciadas após a reversão de episódios de arritmias atriais, tendo o objetivo de evitar uma recorrência precoce da arritmia.

Juntamente ao desenvolvimento de terapias de estimulação atrial para diminuir a

incidência de FA, foram também desenvolvidos desfibriladores atriais com objetivo de

desfibrilar ou cardioverter a FA. Mais recentemente, alguns dispositivos apresentam as

duas funções associadas (terapia por estimulação elétrica e desfibrilação atrial).

Resultados dos estudos clínicos com marcapassos na fibrilação atrial

Existem vários estudos pequenos de caso-controle e poucos ensaios clínicos

randomizados avaliando os MP com função de terapia associada para FA 155-158.

O estudo ATTEST (Atrial Therapy Efficacy and Safety Trial) foi um estudo

prospectivo, randomizado, que avaliou MP com propriedade antitaquicárdica (AT 500,

Meditronic Inc., Minneapolis, Minesota) com os três algoritmos de tratamento expostos

na Tabela 11 156. Foram avaliados 324 pacientes com indicação de implante de MP e

história de FA paroxística e/ou taquicardia atrial que foram submetidos ao implante do

MP, sendo randomizados para permanecer com a função de terapia antitaquicárdica

ligada ou desligada em um seguimento de 3 meses. Em 17.018 episódios de

Page 83: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

73FA/taquicardia atrial, o dispositivo foi capaz de detectar 99,9% dos episódios e reverter

a arritmia em 54% dos casos. No entanto, a carga arrítmica (horas de arritmia/horas de

seguimento sem arritmia) não foi modificada, sendo 4,2h/mês no grupo tratamento e

1,1h/mês no grupo placebo (p=0,20). A média de episódios de arritmias atriais também

foi semelhante nos dois grupos, sendo 1,3 episódios/mês no grupo tratado e 1,2

episódios/mês no grupo placebo.

Posteriormente, o estudo ADOPT (Atrial Dynamic Overdrive Pacing Trial)

testou o MP (St. Jude Medical Cardiac Rhythm Management Division, Sylmar,

Califórnia) em pacientes com doença do nódulo sinusal e história de FA paroxística 158.

O desenho do estudo foi semelhante ao estudo ATTEST e o tempo de seguimento foi de

6 meses. Apenas o algoritmo de estabilização da freqüência atrial foi utilizado,

demonstrando diminuir a carga arrítmica em 25% (2,50% no grupo controle e 1,87% no

grupo tratado) com p<0,001. O número de episódios de FA, hospitalizações e os testes

de qualidade de vida foram semelhantes nos dois grupos.

Estudos menores em relação ao número de pacientes inseridos e realizados com

desenhos metodológicos com menor poder estatístico, também demonstram resultados

conflitantes em relação à eficácia dos MP com função antitaquicárdica na FA 155, 157.

Devido aos resultados controversos da eficácia destes dispositivos no tratamento

da FA, atualmente, os mesmos permanecem como uma opção terapêutica a alguns

pacientes com indicação de implante de MP dupla-câmara e história de FA.

Page 84: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

741.9.2 Desfibriladores atriais para o controle do ritmo na fibrilação atrial

A dificuldade de reverter os episódios de FA com estimulação elétrica levou ao

desenvolvimento dos desfibriladores atriais. O primeiro dispositivo com estas

características foi o Metrix Atrioverter, In Control 159. O Metrix Atrioverter foi

projetado com a capacidade de detectar a FA e tratar com uma CVE interna, a qual pode

ser programada para ser realizada somente com ativação pelo médico assistente ou de

forma automática. Não foram verificados eventos proarrítmicos com as CVE e a

eficácia na reversão da FA foi, em média, de 90% 160.

Um dispositivo combinado de desfibrilação atrial e ventricular foi

posteriormente desenvolvido (Jewel AF device, Medtronic) 161. Atualmente, a versão

deste dispositivo é denominada de GEM III AT, Medtronic, sendo seu uso aprovado pela

Food and Drug Administration. Este dispositivo combinado é capaz de realizar uma

adequada discriminação entre as arritmias ventriculares e supraventriculares, realizando

cardioversão efetiva em 76% dos episódios de FA detectados. Os choques podem ser

ativados imediatamente ou programados para acontecer durante o período noturno -

durante o sono - evitando o desconforto do choque e a permanência da arritmia por > 24

h. O GEM III também possui a capacidade de realizar estimulações elétricas com alta

freqüência, sendo as mesmas capazes de reverter 16% dos episódios de FA, evitando a

necessidade do choque.

O desconforto do choque e a não eliminação dos episódios de FA permanecem

como limitações importantes dos desfibriladores atriais, em especial por serem CVE

realizadas na ausência de uma arritmia potencialmente fatal como a FA.

Atualmente estes dispositivos podem ser utilizados em uma pequena parcela de

pacientes com FA refratária aos tratamentos convencionais. No entanto, as

Page 85: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

75características da FA, como o número de episódios e a sensibilidade a CVE interna,

devem ser bem avaliados antes do implante destes dispositivos.

1.10 CIRURGIA CARDÍACA NA FIBRILAÇÃO ATRIAL

1.10.1 Desenvolvimento da técnica cirúrgica

A cirurgia cardíaca foi a primeira alternativa terapêutica utilizada com objetivo

curativo para a FA. A base teórica para o desenvolvimento da técnica cirúrgica foi ainda

sugerida no clássico artigo de Moe et al. que descreveu a hipótese das múltiplas frentes

de ondas 6. No modelo computadorizado de Moe et al., desenvolveu-se a hipótese da

massa crítica para a manutenção da arritmia. Sendo a FA uma arritmia derivada da

reentrada não-anatômica de múltiplas frentes de ondas, era necessária uma massa

miocárdica mínima para manter a sustentabilidade da arritmia. Desta forma, Moe et al.

realizaram incisões hipotéticas em seu modelo computadorizado com objetivo de

diminuir a massa miocárdica em continuidade e observaram a não-sustentabilidade da

FA.

Foi a partir do conceito da massa crítica para a manutenção da FA, que Cox et

al. desenvolveram a “cirurgia de labirinto” 7. A “cirurgia do labirinto” consiste na

realização de incisões e suturas em ambos os átrios com o objetivo de isolar de forma

mais efetiva as prováveis zonas de reentrada, diminuindo a massa crítica necessária para

sustentabilidade da FA. Posteriormente, Cox et al. propuseram duas modificações na

técnica original, diminuindo o número de incisões realizadas nos átrios com objetivo de

facilitar a técnica e reduzir as complicações relacionadas à cirurgia, em especial a

necessidade de implante de MP devido à disfunção sinusal 162,163.

Page 86: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

76Mais recentemente, uma variedade de técnicas cirúrgicas baseadas na “cirurgia

do labirinto” e incorporadas ao entendimento do papel das VP na FA, foi desenvolvida

com objetivo de facilitar a sua realização 164,165-172. Na Figura 9 pode-se identificar a

cirurgia de MAZE III e as diversas modificações propostas para o tratamento da FA.

Figura 9 – Técnicas cirúrgicas para o tratamento da fibrilação atrial

Em nosso meio, Kalil et al. desenvolveram uma técnica cirúrgica derivada da

“cirurgia do labirinto”, mas com um número menor de incisões no AE 173. Na cirurgia

proposta por Kalil, realizam-se incisões em torno das VP e adiciona-se uma incisão na

parede posterior do AE que une a incisão de isolamento das VP esquerdas ao anel da

valva mitral. Este procedimento tem como objetivo evitar a incidência de flutter atrial

no pós-operatório. Ainda na técnica descrita por Kalil et al., realiza-se a ressecção do

apêndice atrial esquerdo com objetivo de minimizar a possibilidade de futuros episódios

embólicos.

Paralelamente à realização da “cirurgia do labirinto”, Defauw et al.

desenvolveram a “cirurgia do corredor” 174. Nesta cirurgia, realizada por toracotomia,

ambas as paredes livres atriais foram isoladas do septo interatrial através de múltiplas

Page 87: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

77incisões e suturas. Diferente do conceito da “cirurgia do labirinto” de diminuir a massa

crítica em continuidade, essa técnica buscou isolar uma via de condução a partir do

nódulo sinusal ao nódulo AV. A “cirurgia do corredor” teve êxito na manutenção do

ritmo sinusal no eletrocardiograma de superfície em 85% dos casos. Porém, através do

ecocardiograma e do mapeamento intracavitário, verificou-se a manutenção da FA no

AE. O acompanhamento dos pacientes submetidos a “cirurgia do corredor”, a longo

prazo, demonstrou a permanência do risco de eventos embólicos secundários à

manutenção da FA no AE, uma contratilidade atrial inefetiva e o surgimento de

taquicardias e flutter atriais, originados de novos focos de reentrada criados a partir das

múltiplas incisões e a presença de disfunção sinusal com a necessidade de implante de

MP em um grande número de pacientes 175. Desta forma, esta técnica cirúrgica vem

sendo pouco utilizada nos dias de hoje.

1.10.2 Principais resultados da cirurgia cardíaca na fibrilação atrial

A “cirurgia do labirinto” vem apresentando bons resultados na manutenção do

ritmo sinusal em pacientes com FA crônica e paroxística. Vários centros realizam este

procedimento e a taxa de sucesso na manutenção do ritmo sinusal é, em média, de 80%,

chegando a 95% com o uso concomitante de drogas antiarritmicas 176.

Os resultados das principais séries de cirurgia para o tratamento da FA estão

resumidos na Tabela 12.

Page 88: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

78Tabela 12 – Resultados das principais séries cirúrgicas para o tratamento da

fibrilação atrial

Autor

Principal

n Tipo de FA (%)

Cirurgia associada

*

Sucesso imediato

Sucesso a longo prazo

Necessidade de implante

de MP

Morte hospitalar

Técnica

Cox 173 178 Cr: 42 Pa: 58

33% 93% 93% 30% 2% Maze

Kosakai 170 101 Cr: 93 Pa: 7

100% 63% 54% 4% 2% Maze.m

Kalil 177 61 Cr:100 97% 76,5% 70.5% 5% 2% Maze

Melo166 58 Cr: 79 Pa:21

89% 54% 61% 0% 0% Isol VP

Lin 164 39 Cr: 100 100% 95% 74% 0% 0% Inci AE

Benussi 167 33 Cr: 100 100% 95% 49% 0% 3% Isol VP

Sueda 165 32 Cr: 100 100% 71% 70% 12% 0% Isol VP

Jatene 171 20 Cr: 100 100% 95% NI NI 5% Maze

Kalil 172 15 Cr: 100 100% 92% 92% 6% 0% Isol VP

Kottkamp 169

12 Cr: 100 100% 75% 67% 25% 8% Les line

n (número de pacientes), FA (fibrilação atrial), Cr (fibrilação atrial crônica), Pa (fibrilação atrial

paroxística), MP (marcapasso definitivo), técnica de Maze (“cirurgia do labirinto”), Maze.m (“cirurgia do

labirinto” modificada), isol VP (isolamento das veias pulmonares), inci AE (incisões no átrio esquerdo), les

line (lesões lineares), NI (não informado), * Realização juntamente à cirurgia para tratamento da fibrilação

atrial, outras correções cirúrgicas como: válvula mitral, fechamento de comunicação interatrial e

revascularização miocárdica.

Após duas modificações na técnica cirúrgica inicialmente descrita por Cox et al.,

os mesmos autores avaliaram os resultados da cirurgia Cox III em 118 pacientes com

FA isolada e secundária, persistente e paroxística 173. As indicações do procedimento

foram a presença de tromboembolismo de repetição e FA refratária à utilização de

drogas antiarritmicas; em 26 casos havia doença mitral concomitante. Houve reversão

Page 89: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

79da FA para ritmo sinusal em 96% dos casos, persistindo 3% dos casos em FA e 1% com

flutter atrial. A mortalidade cirúrgica nesta série foi de 2% e houve necessidade de

implante de MP definitivo em 22% dos casos, a maioria por disfunção do nódulo

sinusal.

Em nosso meio Kalil et al. realizaram a cirurgia de Cox 3 em 61 pacientes 177. A

característica da população foi diversa em relação à população estudada por Cox et al.,

pois 59 pacientes apresentavam FA secundária à cardiopatia estrutural (2 casos de

comunicação interatrial e 57 casos de lesão mitral) e, em apenas 2 casos, havia FA

isolada. O seguimento médio de 14 meses revelou que 70% dos pacientes

permaneceram em ritmo sinusal, 4% com ritmo atrial, 4% em ritmo de MP sem FA e

19,5% em FA. Foi relatado um caso de taquicardia atrial incessante após a cirurgia,

sendo a mortalidade hospitalar de 4,9% e a tardia de 1,6%.

A transecção isolada do AE, proposta por Lin et al., obteve o sucesso de 71% na

manutenção do ritmo sinusal, aumentando para 85% de sucesso quando a ressecção foi

estendida ao átrio direito 164.

Vários outros centros desenvolveram diferentes técnicas cirúrgicas para o

tratamento da FA. A maior parte das técnicas mantém o isolamento das VP e

apresentam resultados absolutos, em relação à manutenção do ritmo sinusal,

semelhantes à “cirurgia do labirinto”. No entanto, em algumas destas séries, a

morbidade da cirurgia foi menor, assim como a necessidade de implante de MP no pós-

operatório 164,165,175.

Na série de Kalil et al. a cirurgia foi realizada em 15 pacientes com FA crônica e

valvopatia mitral. A manutenção do ritmo sinusal foi obtida em 92% dos pacientes, em

6 meses e em 85%, após 1 ano de seguimento 172. Um paciente necessitou de implante

de MP e, na análise de 6 e 12 meses, faziam uso de amiodarona, respectivamente, 36% e

Page 90: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

8020% dos pacientes. A análise da contração atrial efetiva, avaliada através do

ecocardiograma, não é descrita em todas as séries. Na série de Cox et al. 173 a contração

atrial esquerda e direita foi considerada efetiva em 94 e 98% dos casos e na série da

cirurgia modificada por Kalil et al. 172, obteve-se uma contração atrial efetiva em todos

os casos mantidos em ritmo sinusal. O menor número de incisões propostas com as

novas técnicas cirúrgicas pode ser responsável por uma melhor contração atrial no pós-

operatório, porém, ainda se necessita de estudos comparativos entre os dois métodos.

1.10.3 Risco de eventos embólicos após a cirurgia cardíaca da fibrilação atrial

Seguramente, os eventos embólicos periféricos são a manifestação clínica mais

importante da FA. Aproximadamente, em 75% dos casos o êmbolo originado no AE

atinge o encéfalo 73. A FA em pacientes com doença mitral é identificada como a

doença responsável por AVE embólico em 45 a 85% dos casos desta população 74.

Dados do estudo de Framingham sugerem um aumento independente na mortalidade,

1,5 -1,7 vezes em pacientes com essa arritmia, sendo o AVE a principal causa de morte

nessa população 72. Estima-se que a FA seja responsável por, aproximadamente, 80.000

novos casos de AVE/ano nos EUA 72.

Diferentemente da “cirurgia do corredor”, onde a incidência de AVE no pós-

operatório foi elevada e, provavelmente relacionada à persistência da fibrilação no AE,

a “cirurgia do labirinto” vem demonstrando bons resultados em relação à profilaxia de

novos eventos embólicos 174.

Na série de Bando et al. a incidência de AVE no pós-operatório da “cirurgia do

labirinto” foi de 6,4% nos pacientes livres de recorrência de FA e 9,1% nos pacientes

que apresentaram recorrência de FA (p=0,03). Estes resultados demonstram que, mesmo

os pacientes que não apresentam recorrências clínicas de FA, apresentam uma

Page 91: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

81incidência não desprezível de AVE e que, na presença de recorrência de FA, este risco

aumenta 35.

Os pacientes das séries de Cox et al. 173 e de Kalil et al. 177 apresentaram uma

incidência de AVE durante o período pré-operatório de, respectivamente, 18,9% (58

pacientes) e 13% (9 pacientes) e nenhum evento embólico no pós-operatório.

A série descrita por Jatene et al. avaliou um grupo de 20 pacientes submetidos à

cirurgia da válvula mitral e, como controle, um grupo de 20 pacientes submetidos à

correção cirúrgica da válvula mitral e “cirurgia do labirinto” 171. A incidência de AVE

no grupo controle foi de 20% e de 0% no grupo de pacientes submetidos à cirurgia do

labirinto associada.

1.10.4 Avaliação das principais diretrizes em relação à cirurgia cardíaca na

fibrilação atrial

Nas diretrizes da European Society of Cardiology, publicadas em 1989 10, foram

consideradas apenas a “cirurgia do labirinto III” e a cirurgia de transecção isolada do

AE como eficazes, mas julgaram o número de pacientes submetidos ao procedimento

ainda pequeno e não recomendaram este procedimento como rotina. No entanto,

sugerem ser esta técnica um procedimento com boas perspectivas para o futuro e que

poderia ser realizado em casos especiais de FA refratárias ao tratamento farmacológico.

As diretrizes recentemente formuladas para FA pela AHA/ACC, juntamente

com a European Society of Cardiology, publicadas em 2001 11, não classificaram esta

intervenção terapêutica e descreveram: “em pacientes muito sintomáticos com FA e que

requeiram uma cirurgia cardíaca com toracotomia, como cirurgias valvulares,

coronarianas ou correções de doenças cardíacas congênitas, podem ser avaliados para a

Page 92: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

82realização da “cirurgia do labirinto” para FA ou flutter atrial, embora este procedimento

aumente o risco cirúrgico.

Mais recentemente, as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o

tratamento da fibrilação atrial definem a “cirurgia do labirinto” como classe IIA para o

tratamento de pacientes com valvopatia mitral e FA e que necessitem de correção

cirúrgica da válvula mitral 178. A mesma cirurgia é classificada como IIB para pacientes

com FA, os quais necessitem cirurgia cardíaca por outra causa e para pacientes com FA

sintomática e refratária a tratamento medicamentoso e ablação por cateter. As Diretrizes

Brasileiras não consideram a cirurgia do labirinto como classe I em nenhuma situação.

No entanto, referem tratar-se da terapêutica curativa mais efetiva e estudada até o

momento para o tratamento da FA 178.

1.10.5 Resumo do aprendizado adquirido nos 12 anos de cirurgia da fibrilação atrial

Não esquecendo os bons resultados apresentados nas séries cirúrgicas, deve-se

estar atento ao fato de que existe uma morbimortalidade inerente ao procedimento. A

mortalidade da “cirurgia do labirinto”, quando associada a outros procedimentos

cirúrgicos, varia entre 2 e 5% e ocorre em torno de 1% dos pacientes submetidos à

mesma cirurgia de forma isolada 11. Somando-se à mortalidade não desprezível, a

morbidade da cirurgia da FA é importante pela toracotomia e a necessidade de implante

de MP definitivo devido à disfunção sinusal que varia entre 0-30% nas diferentes

séries 161-176.

Desta forma, exceto nas séries descritas por Cox et al., vemos que quase a

totalidade dos demais pacientes submetidos à cirurgia da FA foi operada

concomitantemente a outras doenças que necessitariam a toracotomia: correção de

válvula mitral, cirurgia de válvula mitral, revascularização miocárdica e correção de

Page 93: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

83comunicação interatrial. Entre as correções cirúrgicas associadas à cirurgia da FA a

reparação da válvula mitral se apresenta com maior freqüência e a anticoagulação no

pós-operatório destes pacientes - no caso de implante de válvula metálica - será

necessária independente da cura da FA.

Considerando estes últimos 10 anos de cirurgia cardíaca da FA, se pode observar

vários avanços relacionados a esse procedimento na terapêutica e entendimento desta

doença, tais como:

- as cirurgias iniciais do grupo de Cox et al. permitiram, pela primeira vez,

comprovar a hipótese das múltiplas frentes de ondas em humanos com FA 8;

- o AE apresenta um papel dominante na fisiopatogenia da FA em humanos 8;

- a diminuição da massa crítica atrial pode ser capaz de impedir a

sustentabilidade de FA in vivo e em humanos 8;

- “a cirurgia do labirinto”, e suas modificações, apresenta eficácia adequada para

a manutenção do ritmo sinusal e parecem diminuir o risco de eventos embólicos

no pós-operatório desses pacientes 173;

- as técnicas cirúrgicas, derivadas da “cirurgia do labirinto”, porém, mais

direcionadas ao isolamento das VP, apresentam bons resultados e morbidade

igual ou menor 165,166,175.

Page 94: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

84

1.11 ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA PARA O

TRATAMENTO CURATIVO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL

1.11.1 Desenvolvimento da técnica

A necessidade de uma toracotomia associada ao desenvolvimento da

eletrofisiologia impulsionou a busca por uma técnica que possibilitasse intervir por

cateter, visando o tratamento definitivo da FA. Apesar dos bons resultados oferecidos

com a “cirurgia do labirinto” e da mortalidade aceitável para o tipo de procedimento,

pode-se verificar que, exceto nas séries publicadas por Cox et al. 173, a maioria dos

centros realiza este procedimento apenas quando existem outras doenças associadas que

justifiquem a realização da toracotomia como a valvopatia mitral, revascularização

miocárdica, ou comunicação interatrial 165,174,169.

A evolução natural do procedimento foi a tentativa de realizar as incisões,

semelhantes às propostas pela “cirurgia do labirinto”, através de um cateter de RF com

objetivo de evitar a perpetuação da reentrada das múltiplas frentes de ondas.

Haïssaguerre et al. relataram os primeiros casos onde foram realizadas 3 linhas de

ablação no átrio direito: duas longitudinais e uma transversa, com interrupção da FA a

curto e a longo prazo 179. Os mesmos autores, posteriormente, publicaram uma série

maior de pacientes submetidos ao mesmo procedimento, porém, com resultados

desapontadores 180. Alguns pacientes da série de Haïssaguerre et al., com insucesso na

ablação linear do átrio direito, foram submetidos a uma linha de ablação da VP superior

direita ao anel mitral, incluindo as VP inferiores. Esta complementação do

procedimento melhorou os resultados, porém, aumentou, de forma expressiva, a

dificuldade técnica para a sua realização 180. Posteriormente, Swartz et al. descreveram

uma técnica de ablação semelhante, incluindo ambos os átrios, onde se realizavam 8

Page 95: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

85linhas de ablação: 3 em átrio direito, 4 em AE e uma linha no septo interatrial, também

com resultados desapontadores 181.

A impossibilidade de um bloqueio completo da condução elétrica nas regiões

submetidas à ablação linear foi o maior limitante dessa técnica. As linhas incompletas

não isolavam os focos de reentrada, não diminuindo, de forma adequada, a massa atrial

crítica em continuidade. Além de ineficazes no controle da FA, possibilitavam a

formação de novos focos de reentrada para flutter atrial e taquicardia atrial 180,181. A

tentativa da complementação das linhas de ablação também foi acompanhada de

maiores períodos de fluoroscopia e aumento do risco de embolias periféricas 180.

O retorno da valorização dos focos ectópicos como fator importante na

fisiopatogenia da FA foi acompanhado de uma nova perspectiva para o tratamento da

FA por cateter de RF. Após os primeiros casos descritos por Jaïs et al., este mesmo

grupo demonstrou a importância dos focos ectópicos como gatilho da FA paroxística e

que, a maior parte destes focos (96%), foi originada no interior das VP (estudo descrito

no Capítulo 7.5 - Fisiopatogenia da FA) 9.

Com o objetivo de confirmar a importância clínica dos focos ectópicos na

história natural da FA, a equipe do Hôpital Cardiologique du Haut-Lévêque realizou a

ablação por cateter de RF destes focos ectópicos no interior das VP (Figura 10).

Page 96: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

86

Angiografia da veia pulmonar inferior durante a procura e êxito da ablação de focos ectópicos. O eletrograma à direita demonstra as mudanças no traçado durante um batimento sinusal e extra-sístole onde se verificou uma maior precocidade do potencial captado pelo cateter localizado no átrio direito (3-4) durante um batimento sinusal e maior precocidade no cateter localizado no interior da veia pulmonar (1-2) durante o batimento ectópico. À esquerda verificamos o traçado durante a aplicação de radiofrequência que demonstra ausência de potencial no interior da veia pulmonar durante um batimento sinusal, bem como eliminação de novos batimento ectópicos. A linha está localizada sob a onda P do eletrocardiograma de superfície 9.

Figura 10 - Descoberta da importância das veias pulmonares no desencadeamento da fibrilação atrial.

A técnica, inicialmente descrita por Haïssaguerre et al., consistiu na realização

do seguinte procedimento:

1) introdução dos cateteres por punção percutânea: punção da veia femoral por

onde se introduzem 3 cateteres (um cateter de ablação 4 mm e 2 cateteres 4 mm

quadripolares);

2) cartografia atrial: um cateter diagnóstico foi introduzido no apêndice atrial

direito e o outro no interior do seio coronariano, sendo o cateter de ablação

movimentado, inicialmente, no átrio direito para localização dos focos

ectópicos;

3) punção transeptal: a não obtenção de um potencial intracavitário atrial com

uma precocidade >10 ms em relação à onda P - durante uma extra-sístole, ou

Page 97: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

87taquicardia atrial - no ECG de superfície era seguida de uma punção transeptal

para cartografia do AE;

4) localização dos focos ectópicos: a localização do foco ectópico através de

cartografia foi definida como o local onde se obteve uma maior precocidade do

potencial intracavitário atrial em relação à onda P - durante uma extra-sístole ou

taquicardia atrial - no ECG de superfície que, em 96%, foi localizado no interior

ou nos óstios das VP;

5) ablação por RF: após a localização do foco ectópico, foi realizada a ablação por

RF com uma temperatura de 70o Celsius (C) nas ablações em átrio direito e 55-

60o C nas ablações em AE. As aplicações de RF foram realizadas durante 60 a

120 s nas regiões onde cartograficamente originavam-se os focos ectópicos com

objetivo de eliminar os mesmos;

6) angiografia após a ablação em VP: as ablações por RF realizadas no interior

das VP foram seguidas de uma angiografia das mesmas com objetivo de

identificar a presença de estenoses agudas ou formação de trombos;

7) definição de efetividade da ablação: o objetivo buscado durante o procedimento

foi o desaparecimento dos focos ectópicos após a ablação por RF.

Após a ablação por RF, os pacientes foram seguidos por uma média de 7 meses

e 28 (62%) estavam livres de episódios de FA sem a utilização de drogas antiarritmicas.

O estudo de Haïssaguerre et al. foi fundamental devido à descoberta da

importância das VP na gênese da FA e a perspectiva de cura com ablação por cateter de

RF. A partir daquele momento, teríamos em tese um procedimento por cateter de RF,

tecnicamente mais simples, com resultados talvez superiores e com uma base teórica

distinta: tratamento do gatilho responsável pelo desencadeamento da FA.

Page 98: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

88Apesar dos excelentes resultados em relação ao procedimento inicial, o

procedimento do grupo de Bordeaux demonstrou duas importantes limitações. A

primeira foi que alguns pacientes apresentaram recorrência precoce da FA. Na série

inicial, 25 pacientes necessitaram de 2 procedimentos de ablação e 6 pacientes, 3

procedimentos. A recorrência acontecia devido ao retorno da atividade do foco

ectópico, previamente submetido à ablação, ou ao aparecimento de um foco ectópico

não detectado no primeiro procedimento. A segunda limitação foi um alto índice de

estenose das VP (23%) no local de aplicação de RF.

O desenvolvimento de cateteres com múltiplos eletrodos, desenhados

especialmente para ablação das VP, ajudou a facilitar o procedimento de ablação e a

diminuir o risco de estenose das VP. A cartografia, a partir dos cateteres com múltiplos

eletrodos (Lasso - Cordis Webster), permitiu identificar a localização exata da entrada

do estímulo elétrico no interior das VP. Em cerca de 80% dos casos, a musculatura

ocupa < 50% da circunferência do óstio da VP. A ablação por RF, do ponto de entrada

da musculatura para o interior das VP, isola eletricamente a VP e não permite que a

atividade elétrica originada no interior das VP influa eletricamente no átrio. O

isolamento da VP, a partir do óstio, evita a aplicação de RF no interior das VP e diminui

a incidência de estenose de VP para cifras em torno de 1% 66,68. A aplicação de RF com

potências de 20 a 30 watts (W), inferiores às utilizadas anteriormente (40-50W),

também foram associadas a uma incidência menor de estenose de VP 9,66,68.

A técnica de ablação com cateter de RF das VP e com cateter Lasso foi

denominada de isolamento elétrico segmentar das VP (IESVP) e consiste nos seguintes

passos:

Page 99: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

891) introdução dos cateteres no AE: a necessidade de introduzir 2 cateteres no

AE (cateter Lasso e cateter de RF) modifica o procedimento em relação à

punção transeptal. Alguns laboratórios realizam duas punções transeptais e

outros introduzem os 2 cateteres pela mesma punção:

2) cartografia do óstio das VP: após localizado o óstio da VP, o cateter Lasso é

colocado em poucos milímetros no interior da mesma com objetivo de

captar, em seus 10 eletrodos, a presença de dois potenciais elétricos

(potencial proveniente da musculatura atrial e potencial da musculatura

localizada no interior das VP) (Figura 11a);

3) localização do ponto de entrada do feixe muscular no interior das VP: com

o cateter Lasso localizado junto ao óstio das VP pode-se identificar o ponto

de entrada do feixe muscular no interior da VP. Este ponto é traduzido

eletricamente pela posição de maior precocidade do potencial em relação ao

potencial atrial;

4) ablação por RF do feixe muscular: após localizado o ponto de entrada do

feixe muscular, se realiza a ablação por RF junto à porção distal do óstio da

VP com objetivo de desconecta-la eletricamente, diminuindo a possibilidade

de estenose;

5) definição de sucesso da ablação: dois sinais podem ser obtidos após o

isolamento elétrico da VP dependendo da atividade do foco ectópico no

interior da VP. Durante a atividade do foco ectópico pode se identificar uma

dissociação entre o potencial elétrico do interior da VP e o atrial. Nos casos

onde não existe uma atividade do foco ectópico importante, obtém-se o

desaparecimento do potencial de VP, permanecendo apenas o potencial atrial

(Figura 12).

Page 100: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

90

Na figura acima verifica-se um radiograma antero-posterior do átrio esquerdo com o cateter Lasso posicionado junto ao óstio da veia pulmonar superior esquerda, através de punção transeptal. Na figura abaixo visualiza-se o eletrograma realizado durante a cartografia do óstio da veia pulmonar representado pelos traçados do eletrograma de superfície (D1-V6), do cateter Lasso (9-10) e do cateter de ablação (RF).Pode-se identificar a presença de um potencial mais precoce da veia pulmonar em relação ao potencial de átrio esquerdo entre os pólos 9-10 do cateter Lasso (seta). Esta é a posição mais provável de localização do feixe muscular que penetra no interior da veia pulmonar.

Figura 11 – Posicionamento do cateter Lasso e potenciais elétricos detectados através do cateter Lasso junto aos óstios das veias pulmonares.

Page 101: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

91

Traçados do eletrograma de superfície (D1-V6), do cateter Lasso (9-10) e do cateter de ablação (RF). Pode-se identificar dois critérios de sucesso na desconexão da veia pulmonar. No traçado acima verifica-se a presença de um duplo potencial no início da ablação (seta A) que, posteriormente à ablação, desaparece (seta B) devido à interrupção elétrica entre o átrio esquerdo e a veia pulmonar. No traçado abaixo verifica-se a presença de um potencial elétrico de veia pulmonar com atividade (seta B), porém, dissociado da atividade elétrica atrial (seta A) também devido à interrupção da comunicação elétrica entre o átrio e a veia pulmonar após a ablação.

Figura 12 – Sinais de êxito da desconexão elétrica segmentar das veias pulmonares por ablação de radiofreqüência.

A B

A A

B B

Page 102: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

92

A recorrência e aparecimento de novos focos ectópicos após o primeiro

procedimento de ablação, impulsionou alguns centros a realizarem, sistematicamente, a

ablação de todas as VP que apresentassem potenciais elétricos no seu interior 68.

Atualmente, diferentes séries vêm sendo publicadas com pequenas variações das

técnicas descritas inicialmente.

Oral et al. realizaram a ablação sistemática de três das quatro VP (superior

esquerda, inferior esquerda e superior direita) por IESVP 68. A não realização de rotina

da ablação da VP inferior direita foi justificada pela baixa incidência de focos ectópicos

no interior das mesmas. A ablação da VP inferior direita somente foi realizada quando

focos ectópicos foram detectados no interior da mesma durante o EEF. Todos os

pacientes foram submetidos à punção transeptal e a aplicação de RF foi realizada com

limitação de potência de 30-35W e por 30 a 45 s. As aplicações de RF foram realizadas

em ritmo sinusal, ou FA. A definição de sucesso do procedimento foi a demonstração

eletrofisiológica da desconexão das VP e a impossibilidade de indução de FA, após a

infusão de isoproterenol e estimulação elétrica com ciclos de 200 e 180 ms.

Chen et al. relataram uma série de 79 pacientes com FA paroxística submetidos

à ablação por cateter de RF diretamente sobre os focos ectópicos detectados 66. Estes

autores realizaram a ablação de RF com temperaturas de até 60o C e aplicações por 20-

40s no interior das VP.

Rocha et al. realizaram a monitorização simultânea das VP através da

introdução, ao mesmo tempo, de 4 cateteres octapolares no interior das mesmas 182.

Através da monitorização simultânea das 4 VP, identificaram os focos ectópicos e

realizaram a ablação sobre o foco ectópico. Estes autores definiram como sucesso a não

A B B

Page 103: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

93identificação de focos ectópicos após a realização da ablação, sob uso de manobras

eletrofisiológicas e infusão de isoproterenol.

Após cinco anos de evolução da técnica, o grupo de Bordeaux definiu o IESVP

de forma sistemática das 4VP como a técnica de escolha para o tratamento da FA 183. A

cartografia é realizada com cateter com múltiplos eletrodos (Lasso) e a ablação

realizada com cateter irrigado (CELSIUS thermo-cool, Biosense Webster); a potência é

limitada em 20-30W durante a aplicação de RF. A definição de êxito do procedimento,

atualmente, exige a demonstração eletrofisiológica da desconexão de todas as VP e

demais focos ectópicos se presentes, e a não indução de FA com manobras

eletrofisiológicas após a ablação.

No Brasil, Scanavaca et al. avaliaram os resultados após procedimento único da

ablação seqüencial das 4 VP por IESVP em 49 pacientes com FA paroxística. Após um

seguimento médio de 12 meses, 29 (51%) pacientes não apresentaram recorrência sem

drogas antiarritmicas. Após acrescentar drogas antiarritmicas, 15 (63%) pacientes não

apresentaram novas recorrências de FA 184.

Mangrun et al. introduziram o ecocardiograma intracardíaco na ablação das VP

com objetivo de auxiliar na determinação exata do ponto de entrada dos feixes

musculares no interior das VP e controlar a estenose de VP durante a aplicação de

RF 185. Mais recentemente, Marrouche et al. realizaram um estudo comparando os

resultados da ablação por IESVP isolado x IESVP associado ao uso do ecocardiograma

intracardíaco 186. O grupo que utilizou ecocardiograma intracardíaco apresentou uma

menor taxa de recorrência de FA após o procedimento. O ecocardiograma intracardíaco

também foi útil, neste estudo, para avaliar o grau de lesão tecidual. Os autores

descreveram que a visualização de microbolhas, através do ecocardiograma, foi um

marcador eficaz do grau de lesão tecidual. A visualização de microbolhas localizadas

Page 104: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

94junto à área de ablação (microbolhas tipo I), refletiram um marcador precoce de

superaquecimento tecidual, ao passo que a visualização de um jato denso de

microbolhas (microbolhas tipo II), refletiu um marcador precoce de aumento da

impedância tecidual. Estes autores sugerem que a temperatura de aplicação de RF seja

diminuída em 5ºC na presença de microbolhas tipo I e interrompida na presença de

microbolhas tipo II. Quando utilizado este protocolo, Marrouche et al. demonstraram

uma diminuição da incidência de estenose de VP após a ablação.

Apesar das diversas modificações existentes na técnica de ablação das VP, o

conceito teórico e o objetivo são semelhantes nas diferentes variantes: abolir o gatilho

responsável pelo desencadeamento da FA com a ablação dos focos ectópicos,

usualmente localizados no interior das VP.

Pappone et al. sugeriram uma nova abordagem para o tratamento da FA por

cateter de RF 67. A técnica descrita por estes autores utiliza o sistema de navegação

guiado por um campo eletromagnético (CARTO navigation system by Cordis Webster)

que permite reconstruir a cavidade atrial em um campo tridimensional. A técnica de

ablação por abordagem circunferencial (AC) consiste nos seguintes passos (Figura 13):

1) introdução dos cateteres: a introdução dos cateteres e punção transeptal são

semelhantes às descritas anteriormente;

2) cateter com dupla função: introduz-se no AE um cateter com ponta de 8 mm

que possui duas funções - cartografia e ablação;

3) reconstrução anatômica: após a introdução do cateter no AE movimenta-se

o mesmo por vários locais dentro do AE a fim de possibilitar informações

suficientes para reconstrução do mesmo tridimensionalmente. As VP são

Page 105: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

95reconstruídas com objetivo de identificar-se o ponto exato dos óstios das VP

(Figura 13);

Reconstrução anatômica antero-posterior do átrio esquerdo e inserção das veias pulmonares utilizando o sistema CARTO. Visualizam-se as inserções das veias pulmonares superior direita (cinza), inferior direita (amarela), superior esquerda (verde) e inferior esquerda (vermelha) que apresenta uma ramificação junto ao óstio de inserção no átrio esquerdo.

Figura 13 – Reconstrução anatômica tridimensional do átrio esquerdo com sistema

CARTO

4) ablação por RF: após a reconstrução anatômica do AE estes autores

realizaram linhas de ablação que formaram um círculo em torno dos óstios

das VP. As linhas são realizadas a >5 mm de distância dos óstios com

temperaturas de 60o C e potência de 50 W. A aplicação de RF é realizada até

obter-se uma diminuição de 80% do eletrograma intracavitário atrial. A

ablação é realizada ponto a ponto até a realização de uma linha completa em

torno dos óstios das VP (Figura 14);

5) mapa de ativação: após a ablação por RF, os autores definiram como sucesso

no isolamento elétrico das VP: 1) ausência de potenciais bipolares superiores

a 0,1 mV no interior do círculo realizado em torno dos óstios das VP; 2) um

atraso de >30 ms entre pontos contíguos no exterior e interior das linhas de

ablação.

Page 106: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

96

Mapa de voltagem do átrio esquerdo na visão antero-posterior (esquerda antes e direita após a ablação por radiofreqüência). Pontos vermelhos representam os locais de aplicação de radiofreqüência ao redor dos óstios das veias pulmonares. As áreas localizadas no interior do círculo de ablação demonstram uma marcada redução da voltagem elétrica. SL, lateral-superior; SS, septal-superior; IS, septal-inferior; IL, lateral-inferior67.

Figura 14 – Ablação por radiofreqüência utilizando a abordagem circunferencial

Inicialmente, a AC foi contestada duramente pelo grupo de Bordeaux. Em um

edital publicado junto à descrição da técnica Haïssaguerre et al. comentam: “Com este

procedimento não se criam linhas completas de bloqueio, não isolando eletricamente as

veias. Como o conceito inicial do tratamento da FA é o isolamento elétrico completo

das VP, este procedimento não pode funcionar” 187. Posteriormente, Pappone et al.

publicaram resultados com séries maiores de pacientes, demonstrando resultados

semelhantes à técnica de IESVP 188. A partir de 2003, outros autores foram capazes de

reproduzir os resultados de Pappone et al., consolidando sua técnica 189,190. No entanto,

Haïssaguerre et al. tinham razão quando afirmavam que a AC não era capaz de isolar

eletricamente as VP. Stabile et al., entre outros autores, publicaram, em 2004, um

estudo onde a desconexão elétrica das VP ocorreu em apenas 2 pacientes dos 51

submetidos à ablação por AC, mantendo os mesmos resultados de eficácia em relação à

recorrência da FA após procedimento 190.

Page 107: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

97Neste momento, se criou um paradoxo em relação à ablação por AC. A ablação

por AC, comprovadamente, diminui a recorrência da FA como foi demonstrado por

vários autores 187-190. No entanto, este procedimento não é capaz de isolar eletricamente

as VP 190. Sendo assim, como a AC funciona?

A partir deste momento várias publicações foram realizadas na tentativa de

explicar o mecanismo de ação da AC no tratamento da FA.

Uma possível explicação para o mecanismo de ação da AC seria a diminuição da

massa crítica em continuidade. Como já foi descrito por Moe et al., em 1960, é

necessária uma massa atrial mínima para sustentabilidade da FA, sendo esse mecanismo

a base teórica da “cirurgia do labirinto” 6,7. Realizando as linhas de ablação da AC é

possível que o miocárdio atrial compartimentalizado não seja capaz de sustentar a FA.

Pode-se facilmente comparar o desenho final das linhas de ablação por AC, realizadas

atualmente, com o desenho resultante no AE das cirurgias derivadas da “cirurgia do

labirinto” (Figura 15). Desta forma, é possível que a diminuição da massa crítica seja

um dos mecanismos de ação que justifiquem a eficácia da AC 189.

A descrição de Jalife et al. de uma “onda mãe” rotatória como mecanismo de

sustentabilidade da FA, também despertou interesse em alguns autores para explicar a

eficácia da AC 69. Em geral, a “onda mãe” encontra-se na parede posterior do AE, local

onde se realizam as linhas de ablação neste procedimento. Também é possível que estas

linhas de ablação não possibilitem a formação desta onda rotatória na parede posterior

do AE, impossibilitando a sustentabilidade da FA.

Page 108: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

98

À esquerda, visão coronal pósterio-anterior de um mapeamento tridimensional com sistema CARTO e com as linhas de ablação realizadas na abordagem circunferencial189. À direita, desenho esquemático do átrio esquerdo e linhas de incisão da “cirurgia do labirinto” (Cox III) e técnicas modificadas. Verifica-se uma semelhança do resultado final das técnicas cirúrgicas e da ablação circunferencial. LSPV, veia pulmonar superior esquerda; LIPV, veia pulmonar inferior;RSPV, veia pulmonar superior direita; RIPV, veia pulmonar inferior direita;la appendag, apêndice atrial esquerdo; mitral isthmus,istmo mitral; PV, veia pulmonar; SVC, veia cava superior.

Figura 15 – Comparação do desenho esquemático da técnica de ablação circunferencial e as técnicas de “cirurgia do labirinto” modificadas

Um questionamento sempre esteve presente no estudo da fisiopatogenia da FA:

por que alguns pacientes apresentam FA na ausência de cardiopatia estrutural e outros

não?

A presença de uma atividade automática muito importante nestes pacientes vem

sendo a hipótese defendida por vários autores como Haïssaguerre et al. 9. No entanto,

verifica-se frequentemente múltiplas extra-sístoles e taquicardias atriais em pacientes

que nunca apresentaram FA. Vários estudos demonstraram que os pacientes com FA

possuem uma maior diferença de potenciais de ação celular entre as células do

miocárdio atrial 8,23,25,37-39. Este conceito, denominado de heterogeneidade celular, foi

sugerido ainda por Moe et al. como fundamental para a sustentabilidade da FA 6.

Alguns autores acreditam que os receptores parassimpáticos localizados na parede

posterior do AE estejam implicados na origem da heterogeneidade celular nestes

pacientes 6,8,23,25. Desta forma, o mesmo grupo que descreveu a técnica da AC,

apresentou, em 2004, um estudo sugerindo a importância dos receptores

Page 109: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

99parassimpáticos na fisiopatogenia da FA 191. Comumente, são observadas reações vagais

durante a aplicação de RF para realização das linhas de ablação na AC. No estudo de

Pappone et al., reação vagal foi definida pela presença de um dos seguintes sinais:

bradicardia (<40 bpm), assistolia, bloqueio AV ou hipotensão poucos segundos após a

aplicação de RF. Na presença de reações vagais, os autores persistiram com a aplicação

de RF no mesmo ponto até o desaparecimento do reflexo vagal. Definiram como

desenervação parassimpática a impossibilidade de desencadear novos reflexos vagais

após a ablação em pacientes que previamente os apresentavam. Dos 297 pacientes

submetidos à ablação por AC, 102 (34%) apresentaram reações vagais durante o

procedimento. A desenervação parassimpática completa foi obtida em 101 pacientes. A

maioria dos pacientes apresentou mais de um local onde o reflexo vagal foi

desencadeado durante a aplicação de RF. Os óstios das VP foram os locais onde mais

comumente foram desencadeados os reflexos vagais (Figura 16).

Após 12 meses de seguimento, os pacientes que preencheram critérios para

desenervação parassimpática completa, apresentaram uma menor variabilidade da FC

no MEC, uma maior taxa de taquicardia sinusal inapropriada e uma menor taxa de

recorrência de FA. Desta forma, a ablação acidental dos gânglios simpáticos, durante a

realização das linhas de ablação na AC, vem sendo postulada como outra hipótese do

mecanismo de ação da AC para o tratamento da FA.

Page 110: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

100

Mapa tridimensional do átrio esquerdo (visão póstero-anterior à esquerda e coronal póstero-anterior à direita) mostrando a localização dos pontos onde se obteve reações vagais durante a aplicação de radiofrequência (pontos azuis). Nas figuras abaixo se visualizam, com as mesmas projeções, os locais de aplicação de radiofrequênica para a realização das linhas circunferenciais. LSPV, veia pulmonar superior esquerda; LIPV, veia pulmonar inferior esquerda; RSPV, veia pulmonar superior direita; RIPV, veia pulmonar inferior direita191.

Figura 16 – Localização dos focos de reação vagal durante ablação circunferencial

Mais recentemente, foram descritas duas novas técnicas de tratamento da FA por

ablação 192,193.

No Brasil, Pachón et al. seguiram a idéia da importância dos gânglios

parassimpáticos na fisiopatogenia da FA 192. Estudando o espectro dos potenciais atriais

através da transformação de Fourier, descreveram dois tipos de músculos atriais: o

compacto e o fibrilar. O músculo compacto se caracteriza por apresentar um grande

número de conexões intercelulares, períodos refratários longos e uma curva espectral

desviada para a esquerda na transformação de Fourrier. O músculo fibrilar apresenta

poucas conexões intercelulares, anisotropia importante com períodos refratários curtos e

uma curva espectral desviada para a direita. Este músculo fibrilar é intensamente

Page 111: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

101inervado por gânglios parassimpáticos e são os principais responsáveis pela

heterogeneidade celular e, conseqüentemente, pela sustentabilidade da FA. A presença

deste grupo muscular originaria “ilhas de FA”. A proposta terapêutica foi de mapear o

miocárdio atrial e realizar a ablação destas “ilhas de FA” e, por conseguinte, dos

gânglios parassimpáticos com objetivo de diminuir a heterogeneidade atrial e impedir a

sustentabilidade da FA.

A presença de potenciais fracionados no miocárdio atrial captados através de um

cateter bipolar pode ser observada em vários pacientes na vigência de FA. Alguns

autores sugeriram que estes potenciais podem representar zonas de condução lenta,

fundamentais para o fracionamento das múltiplas frentes de ondas e para

sustentabilidade da FA 194,195. Nademanee et al., utilizando o sistema CARTO,

propuseram a busca dos potenciais fracionados na vigência de FA e ablação por RF

dessas regiões 193.

Atualmente, existem diferentes técnicas de ablação por RF sendo desenvolvidas

no tratamento da FA. As técnicas mais comumente utilizadas são o IESVP 9,68,83,184,186 e

a AC 67,188,190,191. A ablação direta dos focos ectópicos no interior das VP vem sendo

abandonada devido à alta taxa de recorrência de FA e estenose de VP 6,66. Com as

informações disponíveis, parece existir uma clara diferença no mecanismo de ação

destas duas técnicas. O IESVP age no gatilho da FA, através da eliminação dos focos

ectópicos responsáveis pelo desencadeamento da FA, em especial na FA paroxística. A

técnica de ablação por AC não interfere de forma importante nos focos ectópicos, mas

na sustentabilidade da arritmia, através de mecanismos ainda incertos. As técnicas de

ablação das “ilhas de FA” 192 e dos potenciais fracionados 193 ainda estão em

desenvolvimento. Poucos pacientes foram submetidos à ablação por estas técnicas e a

Page 112: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

102experiência com estes procedimentos é exclusiva dos grupos responsáveis por suaa

descrições 192,193.

1.11.2 Principais resultados da ablação por cateter na fibrilação atrial

Resultados iniciais das ablações lineares por radioscopia

A incapacidade de criar linhas de bloqueio elétrico completo nas lesões lineares

guiadas, exclusivamente, por radioscopia levou aos maus resultados iniciais da ablação

por cateter de RF. Em média somente 20% dos pacientes permaneciam em ritmo sinusal

após o procedimento. Na maior série publicada por Haïssaguerre et al., onde a ablação

foi realizada em ambos os átrios, 33% dos pacientes permaneceram em ritmo sinusal em

uso concomitante de drogas antiarritmicas 180.

A análise dos resultados das técnicas de ablação linear por RF, baseada na

“cirurgia do labirinto”, permitiu as seguintes conclusões: 1) a criação de lesões lineares

contínuas é tecnicamente difícil; 2) a realização de lesões exclusivas em átrio direito é

ineficaz e a realização de lesões complementares no AE aumenta a taxa de sucesso às

custas de um aumento importante da morbidade - incluindo a formação de taquicardias

e flutter atriais, secundários às linhas de ablação 179-181.

Análise dos resultados do procedimento de ablação das veias pulmonares

Os principais resultados de séries com ablação das VP por cateter de RF estão

sumarizados em ordem cronológica na Tabela 13.

A análise da Tabela 13 possibilita uma avaliação geral dos resultados das

principais séries publicadas na ablação das VP. No entanto, é importante a avaliação de

variáveis específicas de cada estudo para um melhor entendimento.

Page 113: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

103Tabela 13 - Principais resultados da ablação por cateter das veias pulmonares

Série/ ano n Amostra Seguimento Livres de FA

+ de 1 ablação

Técnica de ablação Complicações

Haïssaguerre et al., 1998 9

45 FA paroxística, sem DCA

8 meses 62% 73% Ablação direta dos focos ectópicos

2 (5%) casos de estenose de VP

Chen et al., 199966

79 FA paroxística, com e sem DCA

6 meses 88% 15% Ablação direta dos focos ectópicos

27 (64%) estenoses de VP, 3

sintomáticos

Pappone et al.,

2000 67

26 FA paroxística e permanente, com

e sem DCA

9 meses 85% - AC com sistema CARTO

Nenhuma estenose VP e 1 (4%) caso de hemopericárdio

Haïssaguerre et al., 2000 196

90 FA paroxística 8 meses 71% 54% IESVP sistemático com Lasso

5 casos de estenose VP: 2 sintomáticos

Pappone et al., 2001 187

251 FA paroxística e permanente, com

e sem DCA

76% - AC com sistema CARTO

Nenhum caso de estenose VP e 4 (1,5%) casos de hemopericárdio

Oral et al.,

2002 68

70 FA paroxística e permanente

5 meses 70%

24%

10% IESVP sistemático de 3 VP com Lasso

2 (2,8%) casos de estenose VP

assintomáticos

Mangrund et al., 2002 185

61 FA paroxística 13 meses 66% 11% IESVP utilizando ecocardio

intracardíaco

4 (6,5%) casos de estenose de VP

Macle et al., 2002 197

136 FA paroxística e persistente

9 meses 83% 49% IESVP sistemático de 4 VP com Lasso

1 (0,7%) caso de AVE

Marrouche et al., 2003 186

152 FA paroxística, persistente e permanente

14 meses 92% - IESVP das 4 VP +ecocardio

intracardíaco

* nenhuma estenose de VP no grupo que utilizou ecocardio

intracardíaco

Stabile et al., 2003 190

51 FA paroxística e persistente

17 meses 80,4% - AC com sistema

CARTO

1 (1,9%) AVE e 1 (1,9%) perfuração

cardíaca

Pappone et al., 2004 191

297 FA paroxística 12 meses 89,9% - AC com sistema

CARTO

21 (8,4%) apresentaram TSI

Scanavacca et al., 2004 184

49 FA paroxística 12 meses 63% - IESVP sistemático de 4 VP com Lasso

-

Cappato et al., 2004 198

43 FA paroxística e persistente

9 meses 93% 100%* IESVP sistemático de 4 VP com Lasso

8 (18,6%) estenose de VP, 1 hemotórax

n (número de pacientes), FA (fibrilação atrial), DCA (doença cardíaca estrutural), VP (veias pulmonares), AC (abordagem circunferencial, IESVP (isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares), AVE (acidente vascular encefálico), TSI (taquicardia sinusal inapropriada). * A repetição do procedimento fez parte do protocolo de tratamento, independente da recorrência da FA.

Page 114: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

104Nas séries publicadas por Haïssaguerre et al. identificou-se alterações da técnica

de ablação nos distintos estudos. Enquanto nas primeiras duas séries publicadas a

ablação foi realizada diretamente sobre o foco ectópico 9, nas últimas séries, e hoje em

dia, esse grupo realiza o IESVP com a utilização do cateter Lasso, diminuindo, de forma

significativa, o número de estenoses de VP 196. A necessidade da repetição dos

procedimentos também foi particularmente alta nas primeiras séries de Haïssaguerre et

al. (41-73% dos casos) 9, devido à estratégia inicial adotada de realizar a ablação

somente nas VP que apresentassem focos ectópicos durante o EEF. Atualmente, estes

autores realizam o IESVP sistemático das 4 VP, medida que já demonstrou diminuir a

necessidade de um segundo procedimento em outras séries 197. Os critérios de inclusão

do grupo de Bordeaux, em seu estudo inicial, foram de pacientes com FA paroxística,

com episódios ocorrendo, no mínimo, a cada dois dias e com >700 extra-sístoles

supraventriculares/hora na MEC 9. As séries posteriores mantiveram a inclusão quase

exclusiva de pacientes com FA paroxística, porém, somente 1/3 da amostra

apresentaram >700 extra-sístoles supraventriculares/hora na MEC 186,196. As diferentes

séries destes autores também incluíram, preferencialmente, pacientes sem cardiopatia

associada (80-90% dos casos). O número de focos ectópicos, a possibilidade de ablação

de todos os focos ectópicos e a classificação da FA foram os marcadores independentes

de sucesso nas diferentes séries 68,196,197. Os pacientes que apresentaram apenas um foco

ectópico registrado como gatilho da FA tiveram 93% de sucesso, ao passo que os

pacientes com dois e três focos, subseqüentemente, 75% e 55% (9, 196). A

impossibilidade da ablação de todos os focos ectópicos foi correlacionada a uma maior

taxa de recorrência de FA 9,196. Apesar das séries apresentadas por Haïssaguerre et al.

serem compostas, em sua maioria, por pacientes com FA paroxística, esses autores

enfatizaram, em diversos editoriais e conferências, que seus resultados eram inferiores

Page 115: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

105nos pacientes com FA persistente e permanente, com uma recorrência de FA de 50%,

nesse grupo de pacientes 183.

Um trabalho recente publicado pelo grupo de Bordeaux, em 2003, apresentou os

resultados da ablação das VP com cateter irrigado 197. Em um seguimento médio de 9

meses, 83% mantiveram-se livres de recorrência de FA. Enfatiza-se a maior eficácia do

cateter irrigado na desconexão de todas as VP que foi de 100% nesta série, comparado a

uma média de 90% nas séries anteriores, e mantendo um número semelhante de

estenoses de VP (0,7%) 9,196,197.

Na série de Chen et al. foram selecionados 79 pacientes com FA paroxística

associada ou não a doença cardíaca estrutural, sendo que (30%) pacientes apresentaram

aumento do AE 66. A definição de sucesso no procedimento, proposta por estes autores,

foi a abolição dos focos ectópicos sob ação direta de RF e a não-inducibilidade da FA

após a ablação. Após um sucesso inicial de 94%, em um seguimento médio de 6 meses,

86% dos pacientes estavam livres de FA sem drogas antiarritmicas e 12% com

antiarritmicos. Em 4 pacientes realizou-se um segundo EEF, por recorrência da FA, que

demonstrou a presença de um novo foco ectópico não detectado durante o EEF anterior.

As variáveis que apresentaram associação, independente de sucesso do procedimento,

foram a abolição de todos os focos ectópicos e a impossibilidade de indução de FA após

a ablação. Estes achados ratificam a importância da abolição de todos os focos

ectópicos. Posteriormente, estes autores identificaram a importância da veia cava

superior como gatilho da FA que, em uma série posterior, foi origem de 6% dos focos

ectópicos, considerados como responsáveis pelo desencadeamento da FA 199.

Os estudos de Pappone et al. devem ser avaliados com especial atenção devido

às diferenças em relação à técnica e resultados em pacientes com FA persistente e

permanente 67,188. Pappone et al. também apresentaram bons resultados na ablação da

Page 116: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

106FA persistente e permanente 67,188,191. Na primeira série, incluíram 12 pacientes com FA

permanente e 14 com FA paroxística resistentes à terapia medicamentosa. Após 9 meses

de seguimento, 85% dos casos estavam livres de novos episódios de FA e não houve

diferença nos resultados encontrados entre os dois grupos 67. Na segunda série, com 251

pacientes, após 10 meses de seguimento, 85% dos pacientes com FA paroxística e 68%

com FA permanente apresentaram-se livres de recorrências 188. Entre as variáveis

associadas independentemente com uma taxa maior de recorrência da arritmia,

destacam-se no grupo de FA paroxística a menor FE e o menor tamanho da área isolada

junto aos óstios das VP. No grupo com FA permanente o maior diâmetro do AE, e a

menor área isolada pela linha de ablação em relação à área total do AE, foram as

variáveis independentemente relacionadas a uma maior taxa de recorrência de FA. Mais

recentemente, estes autores demonstraram uma associação entre a presença de reações

vagais e abolição das mesmas e eficácia na ablação realizada por AC 191. Segundo eles,

a eficácia da AC + desenervação parassimpática (explicado anteriormente no

subcapítulo: 1.11.1 - Desenvolvimento da técnica) foi de 99% em 12 meses de

seguimento. Na mesma publicação, a eficácia da AC isolada foi de 85% (p<0,001). No

entanto, este é um achado inicial e necessitamos de mais estudos que comprovem esta

observação.

Na série de Oral et al., identificam-se dois aspectos importantes 68.

Primeiramente se observa uma diminuição importante do número de pacientes, para os

quais foram necessários mais de um procedimento de ablação, provavelmente

secundário à técnica de ablação sistemática de 3 das 4 VP. Desta forma, dos 70

pacientes submetidos à IESVP, somente 6 casos foram submetidos a um segundo

procedimento. Em todos os casos a recorrência foi atribuída ao retorno da condução

entre a musculatura atrial e as VP. Outro aspecto importante na série de Oral et al., foi a

Page 117: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

107diferença entre os resultados da ablação na FA paroxística e persistente, corroborando

com os resultados de Haïssaguerre et al. 183. Em um seguimento médio de 5 meses, 70%

dos pacientes com FA paroxística apresentavam-se livres de FA e somente 24% dos

casos de FA persistente (p<0,001).

Utilizando o ecocardiograma intracardíaco, Mangrund et al. obtiveram, em 66%

dos casos, ausência de recorrência de FA após um seguimento médio de 13 meses 184. O

número alto de estenose de VP (6%) nesta série deve ser analisado com cautela, pois foi

baseado na diminuição de 50% do diâmetro luminal da VP após a ablação. O estudo de

Marrouche et al. comparou 3 diferentes grupos: grupo 1, IESVP somente com cateter

Lasso; grupo 2, IESVP com cateter Lasso e ecocardio intracardíaco; grupo 3, IESVP

com cateter Lasso e monitoramento da aplicação de RF pela visualização das

microbolhas 186 (explicado anteriormente no subcapítulo: 1.11.1 - Desenvolvimento da

técnica). Após um seguimento médio de 14 meses, 19,6% (11/56), 16,8% (18/107), e

9,8% (15/152) pacientes dos grupos 1, 2 e 3 apresentaram recorrência da FA (p=0,01).

O estudo de Stabile et al. 190 foi particularmente importante porque avaliou de

forma específica o isolamento elétrico das VP durante a ablação por AC. Este autor

utilizou a técnica descrita por Pappone et al. para realizar a ablação em 52 pacientes

com FA paroxística e persistente 67. Após a realização das linhas de ablação com

obtenção dos sinais de efetividade descritos por Pappone et al., estes autores

estimularam o miocárdio atrial dentro e fora das linhas de ablação e verificaram que em

apenas 2 (4%) pacientes se verificou um isolamento elétrico total das VP com o restante

do miocárdio atrial. Nos demais pacientes permanecia a condução atrial bilateral entre o

interior e exterior das linhas de ablação. No entanto, a eficácia do procedimento foi

similar às demais séries de AC com 80% dos pacientes livres de recorrências de FA em

um seguimento médio de 14 meses 188,189,191. Desta forma, este estudo confirmou as

Page 118: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

108afirmações de Haïssaguerre et al. de que não existe um isolamento elétrico completo das

VP durante a ablação por AC, no entanto, reproduz a eficácia da AC no tratamento da

FA 67,188,191.

Cappato et al. realizaram um estudo com objetivo de avaliar o retorno da

condução entre o miocárdio atrial e a musculatura dentro das VP previamente

isoladas 199. Realizaram a ablação por IESVP com critérios de sucesso em 43 pacientes:

17 pacientes foram submetidos a 2 procedimentos, 23 pacientes a 3 procedimentos e 3

pacientes a 4 procedimentos. O IESVP foi realizado com sucesso em 112 VP (95,7%)

durante o primeiro procedimento. Nos procedimentos subseqüentes (4,6 ±9 meses

após), houve recorrência da condução musculatura atrial-VP em 32 (82,1%) VP

superiores esquerdas, 29 (72,5%) VP superiores direitas, 20 (83,3%) VP inferiores

esquerdas e 7 (77,8%) VP inferiores direitas. Após nova ablação (5,1 ±2 meses após), a

taxa de retorno da condução musculatura atrial-VP ainda foi 59% nas VP superiores

esquerdas e 73% nas VP superiores direitas. Sendo assim, o retorno da condução

musculatura atrial-VP ocorreu em cerca de 80% dos casos após 4 meses de seguimento.

Os autores identificaram o retorno da condução musculatura atrial-VP e o intervalo

átrio-VP curto como marcadores de recorrência da FA 189. Curiosamente, o sucesso

clínico (ausência de recorrência da FA) foi atingido em 32% dos pacientes que

apresentavam retorno da condução musculatura atrial-VP. Este achado sugere que, em

alguns casos, o alentecimento da condução entre o átrio e a VP pode ser suficiente para

evitar que os estímulos ectópicos provenientes das VP sejam capazes de iniciar a FA.

Após um seguimento médio de 9 meses, 42 (93%) pacientes submetidos ao protocolo de

ablação seqüencial proposto no estudo, apresentavam-se livres de recorrência de FA. De

maneira geral, o estudo de Cappato et al. trouxe duas importantes informações: o

retorno da condução musculatura atrial-VP após ablação por IESVP é mais freqüente do

Page 119: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

109que se imaginava e corrobora com a hipótese de que a recorrência da FA após IESVP

está associada ao restabelecimento dessa condução.

No estudo de Pachón et al., 34 pacientes foram submetidos à ablação por RF de

ambos os átrios guiada pela análise espectral do eletrograma atrial. Após 9,9±5 meses

de seguimento, 34 (94%) pacientes apresentavam-se livres de recorrências de FA 192.

Nademanee et al. realizaram a ablação da FA através da eliminação de

potenciais fracionados obtidos através da cartografia dos eletrogramas atriais com

auxílio do sistema CARTO 193. Cento e vinte e um pacientes foram submetidos à ablação

por RF (57 com FA paroxística e 64 com FA crônica). Eletrogramas fracionados foram

obtidos em 7 de 9 regiões cartografadas em ambos os átrios, mas foram identificados

principalmente no septo interatrial, VP, teto do AE, região póstero-septal esquerda e

óstio do seio coronário. A ablação das áreas identificadas como portadoras dos

eletrogramas fracionados resultou na reversão da FA de 115 (94%) pacientes com FA,

sendo que 32 (28%) necessitaram tratamento concomitante com ibutilide para reversão

do ritmo. Após um seguimento médio de 1 ano, 92 dos 121 pacientes (76%)

apresentaram-se livres de recorrência de FA, sendo 47 desses com FA paroxística (2

necessitaram uso concomitante de amiodarona) e os demais apresentavam FA crônica (3

necessitaram uso concomitante de amiodarona). Dez pacientes (7 com FA paroxística e

11 com FA crônica) não apresentaram novas recorrências de FA após um segundo

procedimento de ablação. Ao todo, 110 pacientes (91%), apresentaram-se livres de

recorrências de FA após seguimento médio de 1 ano.

Os autores Pachón et al. e Nademanee et al. utilizaram técnicas de ablação para

tratamento da FA distintas daquelas comumente utilizadas 192,193. Desta forma, seus

resultados devem ser avaliados com cautela, pois foram realizados em um número

limitado de pacientes e ainda não foram reproduzidos por outros centros dedicados ao

Page 120: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

110tratamento da FA. Estes são resultados promissores com novas formas de abordagem

para o tratamento da FA, mas deve-se aguardar mais evidências que suportem estas

técnicas de ablação.

1.11.3 Principais complicações da ablação das veias pulmonares

A estenose das VP é a complicação mais importante relacionada ao

procedimento de ablação das VP por cateter de RF (Figura 15). A sofisticação da

técnica e a identificação de variáveis associadas à estenose das VP ajudaram a diminuir

a incidência desta complicação. Inicialmente, a ablação era preferencialmente realizada

no interior da VP com objetivo de atingir diretamente o foco ectópico 9, 66. A ablação no

interior da VP aumenta o risco de estenose e as séries iniciais apresentaram incidências

entre 5-64% 9,66. A identificação da associação entre estenose e potência no momento da

aplicação de RF, levou a maior parte dos eletrofisiologistas a limitarem a potência entre

20-30 W. Na série de Chen et al, onde se realizou a ablação com RF no interior das VP

com temperaturas de até 60o C, houve uma incidência de estenose de VP de 42% 66.

Atualmente, a realização do IESVP associada ao melhor controle da potência no

momento da aplicação de RF, leva a taxas de estenose de 1 a 10% 186, 188. A ablação por

AC por sistema CARTO é a técnica menos associada à estenose das VP, pois a ablação é

realizada, em geral, a uma distância média de 5 mm dos óstios das VP 64. A ablação por

AC, até o momento, está associada a um risco quase nulo de estenose de VP.

A estenose de VP após ablação por RF é assintomática na maior parte dos casos.

Na série de Haïssaguerre et al., dois casos apresentaram sintomas: um paciente

apresentou dispnéia aos grandes esforços e outro, hemoptise e derrame pleural 9. Entre

os 30 pacientes que apresentaram estenose das VP na série de Chen et al., 2

apresentaram sintomas de dispnéia aos grandes esforços 66. Em relação ao tratamento da

Page 121: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

111estenose das VP após RF, Robbins et al. descreveram dois casos tratados com sucesso

através de angioplastia das VP e, apesar da experiência ainda inicial, esta terapêutica

pode ser uma opção para os pacientes sintomáticos 200.

Ressonâncias magnéticas realizadas após 6 meses de ablação por radiofreqüência demonstrando estenose das veias pulmonares (seta).

Figura 17 – Estenose de veias pulmonares secundárias à ablação por radiofreqüência

Entre as complicações imediatas do procedimento de ablação por cateter de RF

na FA, verifica-se os efeitos inerentes à necessidade da punção transeptal. Quase todas

as séries referem episódios de hemopericárdio secundários à punção transeptal em uma

taxa que varia entre 1-6%, estando a maior parte em torno de 2% 66-68,188.

Naturalmente, o AVE é outra grave complicação que pode associar-se ao

procedimento, sendo seu risco valorizado pela maior parte dos autores.

A estratégia para profilaxia de AVE nas diversas séries é semelhante - com

pequenas variações - e consiste em:

1) uso de anticoagulação oral e/ou heparina nas 4 semanas que antecedem o

procedimento, quando existe fator de risco para AVE ou AAS nos casos de

baixo risco;

Page 122: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1122) realização de anticoagulação sistêmica com heparina não fracionada

intravenosa durante o procedimento, após a punção transeptal, com a

manutenção de um tempo de coagulação ativada entre 250-350 s;

3) anticoagulação plena após o procedimento com posterior substituição por

anticoagulante oral. O tempo de manutenção é variável, de acordo com os

fatores de risco e evolução clínica do paciente.

O AVE tem sido uma complicação infreqüente e a maior parte dos AVE

descritos após a ablação das VP ocorreram nas primeiras 24 h após o procedimento.

Oral et al. 68 descreveram um episódio de quadrantopsia 3 h após a ablação.

Haïssaguerre et al. e Chen et al. relataram 2 episódios de AVE após a ablação 9,66.

A estratégia de suspensão da anticoagulação oral em pacientes com manutenção

do ritmo sinusal tem sido individualizada. Pappone et al. e Mangrund et al. 67,185

suspenderam a anticoagulação após 3 meses de ritmo sinusal e Chen et al. e Marrouche

et al., após 2 meses livres de FA 66,186. Não foi descrito nenhum episódio de AVE tardio

nestas séries.

A taquicardias atrial macroreentrante é uma complicação, comumente, reservada aos

pacientes submetidos à ablação por AC devido à formação de circuitos de

macroreentrada ao redor das linhas de ablação. A incidência de flutter atrial após AC é

de 2-20% 189,190,201. Pappone et al. compararam de forma randomizada a ablação por AC

versus AC modificada pela relização de linhas de ablação na parede posterior (ligando

as duas linhas circunferenciais direita e esquerda) e no istmo mitral 202. Um total de 560

pacientes foram randomizados, 280 em cada grupo. Taquicardias atriais

macroreentrantes foram observadas em 28 (10%) pacientes no grupo AC e 11 (3,9%)

pacientes no grupo AC modificada. (p=0,005). A recorrência de FA foi semelhante nos

Page 123: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1132 grupos (p=0,57). Neste mesmo estudo, os pacientes que apresentaram taquicardia

atrial após AC, ou AC modificada, foram submetidos a um novo procedimento. A

macroreentrada junto as linhas de ablação foi o mecanismo responsável por 75% dos

casos. A presença de linhas incompletas de ablação foi um forte preditor de taquicardia

atrial macroreentrante durante o seguimento. O istmo mitral e a linha circunferencial

direita foram os locais onde o circuito de macroreentrada foi mais prevalente. A

complementação das linhas de ablação, em um segundo procedimento, foi capaz de

eliminar todos os casos de taquicardia atrial.

Mais recentemente, laboratórios de eletrofisiologia com grande experiência na

ablação da FA, reuniram-se para publicação e descrição de uma nova complicação

relacionada ao procedimento. A fístula esofágica é uma complicação rara, mas grave

devido a sua alta mortalidade. A ablação por AC está mais relacionada a este tipo de

complicação devido ao maior número de aplicações na região posterior do AE 203.

1.11.4 Panorama mundial da ablação por cateter na fibrilação atrial

Em fevereiro de 2002, 10 eletrofisiologistas, provenientes de diferentes centros no

mundo, reuniram-se com intuito de formular um questionário para avaliação da eficácia

e segurança da ablação de VP no cenário mundial 204. Um questionário (43 perguntas)

foi enviado para 777 centros de eletrofisiologia selecionados a partir do cadastramento

junto à North American Society of Pacing and Electrophysiology, The European Society

of Cardiology e listas oficiais de diferentes países da África, Ásia, Américas, Europa e

Oceania. Cento e oitenta e um centros responderam ao questionário, sendo que 100

centros realizavam ablação de FA (1995-2002), totalizando 2050 procedimentos.

A eficácia do procedimento foi definida como ausências de recorrência de FA e

dividida em 3 grupos: eficácia sem uso concomitante de drogas antiarritmicas, eficácia

Page 124: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

114com uso de drogas antiarritmicas e eficácia geral que incluiu os 2 grupos. Foram

consideradas complicações maiores aquelas que resultaram em prejuízo permanente da

saúde, prolongamento da internação, necessidade de intervenções para o tratamento ou

óbito.

Estratégia de ablação

Cinco diferentes estratégias de ablação foram descritas: compartimentalização

do átrio direito com 852 pacientes, AC em 1080 pacientes, ablação do foco ectópico em

1526 pacientes, IESVP em 6600 pacientes e combinação de 2 ou mais estratégias em

490 pacientes. Na Tabela 14 pode-se identificar a distribuição das estratégias entre 1995

e 2002, verificando uma tendência ao abandono da técnica de ablação dos focos

ectópicos e aumento das técnicas de AC e IESVP.

Tabela 14 – Distribuição das técnicas de ablação da fibrilação atrial utilizadas entre 1995 e 2002

Ano Compartimentalização do átrio direito

Compartimentalização do átrio esquerdo*

Ablação direta do foco ectópico

IESVP Outros Total

1995 13 2 0 0 3 18

1996 38 4 3 0 5 48

1997 67 32 23 0 0 122

1998 109 57 158 49 22 395

1999 142 89 332 88 28 679

2000 135 110 383 569 42 1239

2001 179 230 274 1534 31 2248

2002 169 556 355 4360 10 5450

Total 852 1080 1526 6600 141 10199

IESVP (isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares). *A partir de 2000 a compartimentalização do átrio esquerdo foi realizada basicamente com a técnica de ablação circunferencial 202.

Page 125: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

115Eficácia do procedimento

Em um seguimento médio de 11,6±7,7 meses dos 8745 pacientes submetidos à

ablação por FA, 4550 (52%) mantiveram-se livres de recorrências de FA na ausência de

drogas antiarritmicas e 1094 (23,9%) mantiveram-se livres de recorrências de FA com

uso concomitante de medicação antiarritmica. Desta forma, em 6644 (75,9%) pacientes

obteve-se a resolução dos sintomas com a ablação das VP. Necessitaram 2 e 3

procedimentos de ablação, respectivamente, 2122 (24,3%) e 277 (3,1%) pacientes. A

eficácia da ablação das VP foi maior em centros onde se realizaram mais procedimentos

(p<0,005) e quando foram utilizadas drogas antiarritmicas associadas (p<0,001).

Complicações

Complicações maiores ocorreram em 5124 (6%) pacientes (Tabela 15). Quatro

óbitos foram descritos: 2 por AVE, 1 por perfuração miocárdica e 1 por causa

desconhecida. Estenose de VP foi observada em 117 pacientes, sendo que 53 (0,7% do

total) pacientes necessitaram intervenções. Taquicardias atriais macroreentrantes foram

observadas em 340 (3,4%) pacientes, estando mais frequentemente associadas

(p<0,0001) à técnica de AC (8,4%) quando comparada à técnica de IESVP (0,8%).

Algumas limitações referentes a este estudo devem ser destacadas.

Primeiramente, já é conhecida a associação de vieses de aferição e alocação com

registros multicêntricos. Somente 24% dos centros contatados responderam ao

questionário; desta forma, os resultados obtidos não refletem a totalidade dos centros.

Um teste de heterogeneidade não foi utilizado para a exclusão de alguns registros e isto

pode ter prejudicado o resultado final do estudo. No entanto, a grande variação dos

resultados sugere que os dados obtidos possam representar o panorama mundial deste

procedimento. A análise em conjunto de diversas técnicas de ablação com diferentes

formas de apresentação de FA (classificação, presença de cardiopatia estrutural)

Page 126: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

116prejudica a avaliação dos resultados, considerando-se, por exemplo, que, atualmente, a

AC e o IESVP são as técnicas mais amplamente utilizadas e que apresentam diferentes

resultados em relação à classificação da FA. Contudo, o estudo representou a maior

série de pacientes submetidos à ablação de FA, podendo ser considerado como uma

forma razoável de avaliação do cenário mundial da ablação por FA.

Tabela 15 – Complicações maiores relacionadas à ablação da fibrilação atrial

Complicação n %

Para todos os procedimentos (n=8745)

Morte peri-procedimento 4 0,05

Tamponamento cardíaco 107 1,22

Sepsis, abscessos, endocardite 1 0,01

Pneumotórax 2 0,02

Hemotórax 14 0,16

Paralisia diafragmática permanente 10 0,11

Pseudoaneurisma femoral 47 0,53

Fístula arteriovenosa 37 0,42

Lesão valvular 1 0,01

Dissecção aórtica 3 0,03

Para procedimentos envolvendo ablação AE (n=7154)

Acidente vascular encefálico 20 0,28

Acidente vascular transitório 47 0,66

Estenose de veias pulmonares

Aguda 23 0,32

Crônica 94 1,31

Total 524 5,9

AE (átrio esquerdo) 202.

1.11.5 Estudos comparativos entre ablação de VP e outras técnicas de tratamento

da fibrilação atrial

Page 127: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

117Poucos estudos foram realizados comparando a técnica de ablação das VP com

outras terapêuticas. O constante desenvolvimento da técnica e a tentativa de adquirir

experiência com este tratamento provavelmente são os principais responsáveis por esta

falta de informação. Pappone et al. publicaram o primeiro estudo comparando ablação

de VP e tratamento farmacológico 205. Estes autores realizaram um estudo caso-

controle, prospectivo, onde 1171 pacientes consecutivos com FA foram alocados para

os grupos controle do ritmo por drogas (582) e ablação por AC (589) de acordo com a

decisão do médico assistente. Após seguimento médio de 900 dias, 340 (58%) pacientes

apresentaram recorrência de FA no grupo drogas e 120 (20%) no grupo ablação

(p<0,001). Os pacientes submetidos a ablação por AC apresentaram uma morbi-

mortalidade menor que o grupo tratado com drogas, com razão de chance de 0,46 (ICo

0,31-0,68) para o desfecho mortalidade total e 0,45 (ICo 95% 0,31 a 0,64) para o

descfecho combinado morbidade cardiovascular (IC e eventos cerebrovasculares). A

manutenção do ritmo sinusal foi associada a uma menor mortalidade com razão de

chance de 0,24 (ICo 95% 0,16 a 0,37) para população total, 0,21 (ICo 95% 0,09 a

0,48) para o grupo ablação e 0,33 (ICo 95% 0,16 a 0,68) para o grupo drogas. No

entanto, este estudo apresenta várias limitações como a forma de alocação dos pacientes

e a diversidade de drogas utilizadas no tratamento por drogas. Mais recentemente,

Wazni et al., realizaram um estudo multicêntrico, randomizado que comparou ablação

por IESVP versus tratamento por drogas para controle do ritmo na FA paxorística e

persistente 206. Os desfechos principais observados foram recorrência de FA,

necessidade de hospitalizações por FA e avaliação da qualidade de vida Short-Form

36 207. Após avaliação de 233 pacientes, 37 pacientes foram randomizados para o grupo

drogas e 33 pacientes para o grupo ablação. Ao final de um ano de seguimento, 22

(63%) pacientes do grupo drogas apresentaram pelo menos uma recorrência de FA e 4

Page 128: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

118(13%) pacientes no grupo ablação (p<0,001). Durante o mesmo período, 19 (54%)

pacientes necessitaram ser hospitalizados por FA no grupo drogas e 3 (9%) pacientes no

grupo ablação (p<0,001). Após 6 meses de seguimento o grupo ablação apresentou uma

melhora no escore de qualidade de vida quando comparado ao grupo drogas. Não se

observaram eventos embólicos nos 2 grupos e 2 (6%) pacientes apresentaram estenose

de VP moderadas (50-70% do lúmen), ambos assintomáticos.

Ainda são poucas as evidências relacionadas à comparação da ablação das VP

com os demais tratamentos disponíveis para FA e necessitamos mais estudos para

esclarecer esta questão. No entanto, os resultados observados até o momento apontam

para ablação das VP como o possível tratamento de eleição para algumas formas de FA.

1.11.6 Avaliação das principais diretrizes em relação à ablação por cateter de

radiofreqüência para tratamento da fibrilação atrial

As diretrizes formuladas para FA e publicadas em 2001 pela ACC/AHA/ The

European Society of Cardiology, não classificam esta a terapêutica e a descrevem

assim: “trata-se de uma terapêutica promissora, mas que ainda não deve ser realizada

correntemente devido aos riscos associados ao procedimento e os altos índices de

recorrência da arritmia” 11.

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia publicadas em 2003 são

precursoras na classificação da ablação por RF como terapêutica curativa para FA 178.

Segundo as diretrizes brasileiras a ablação por RF das VP recebe a seguinte

classificação:

- classe IIa: para tratamento de pacientes com FA paroxística sintomática sem

doença estrutural, ou disfunção sinusal, com resposta ventricular rápida refratária a

tratamento por, pelo menos, 2 drogas antiarritmicas (incluindo amiodarona);

Page 129: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

119- classe IIb: para tratamento de pacientes com FA paroxística ou persistente

sem cardiopatia estrutural, sintomática, de difícil controle clínico e evoluindo para

disfunção ventricular secundária à arritmia;

- classe IIb: para tratamento de FA persistente ou permanente, sintomática,

sem doença estrutural, ou disfunção sinusal, com resposta ventricular rápida, refratária a

tratamento de, pelo menos, 2 drogas antiarritmicas (incluindo amiodarona);

- classe III: tratamento de FA controlada com drogas antiarritmicas.

As diretrizes brasileiras citam as técnicas de IESVP e AC como as mais

utilizadas para o tratamento da FA, mas não especificam a necessidade de uma técnica

ou outra para o tratamento das diferentes indicações terapêuticas citadas acima.

1.11.7 Resumo do aprendizado adquirido em 9 anos de ablação por cateter como

opção curativa para fibrilação atrial

A tentativa de reprodução da “cirurgia do labirinto” por cateter de RF através

das ablações lineares foi um início difícil para este procedimento 179-181. A dificuldade

técnica e a impossibilidade de um bloqueio completo da condução elétrica nas regiões

submetidas à ablação linear foram os maiores limitantes. As linhas incompletas não

isolavam completamente o miocárdio atrial e possibilitavam a formação de novos focos

de reentrada para flutter e taquicardia atrial. A tentativa da complementação das linhas

de ablação também era acompanhada de maiores períodos de fluoroscopia e aumentava

o risco de embolias periféricas 179,180.

O retorno da hipótese dos focos ectópicos como gatilhos da FA, acompanhado

do descobrimento da importância das VP na gênese destes focos, trouxeram uma nova

esperança à ablação por cateter de RF 9. A ablação dos focos ectópicos passou a ser

Page 130: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

120tecnicamente mais fácil e os resultados foram superiores aos obtidos anteriormente

9,66,68,196. Neste momento, apresentava-se uma possibilidade de cura da FA por cateter de

RF que poderia ser utilizada correntemente.

Logo, surgiram dois problemas: a estenose das VP e a recorrência e necessidade

de repetir-se a ablação em vários casos 9,66. A possibilidade de isolamento das VP com

aplicações nos óstios das mesmas foi a melhor forma de prevenir a estenose das VP e a

ablação sistemática de todas VP e de prevenir a necessidade de um segundo

procedimento 68,183,189. No entanto, existe a possibilidade de retorno da condução VP-

musculatura atrial, mesmo após a ablação com sucesso, sendo esta a causa mais

provável da recorrência da FA após o IESVP 198.

A ablação somente do gatilho da FA foi suficiente para tratar a maior parte das

FA paroxísticas, no entanto, a abolição dos focos ectópicos ainda não foi suficiente para

o tratamento de pacientes com um maior substrato arritmogênico, ou seja, pacientes

com átrios estruturalmente anormais e naqueles com FA persistente e permanente 68,183.

Nestes pacientes, técnicas vêm sendo desenvolvidas na tentativa de, além de abolir o

gatilho da FA, atuar nos mecanismos de sustentabilidade da arritmia, em especial na

diminuição da massa miocárdica em continuidade e a desenervação

parassimpática 69,189,191. Até o momento, a AC descrita por Pappone et al. parece ser a

forma que mais se aproxima da perspectiva de atuar na sustentabilidade da FA 67,188,191.

No entanto, duas outras técnicas estão sendo desenvolvidas com objetivo de atuar no

substrato que possibilita a sustentabilidade da FA 192,193. Assim, durante estes 10 anos

de ablação por cateter de RF para FA, pode-se resumir os seguintes avanços para o

entendimento e tratamento dessa doença:

Page 131: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

121- as ablações lineares por cateter de RF realizadas, utilizando as técnicas

convencionais de radioscopia e com objetivo de reproduzir a “cirurgia do labirinto”,

são tecnicamente difíceis e apresentam resultados desapontadores 179,180;

- o EEF em pacientes com FA paroxística identificou a importância dos focos

ectópicos como desencadeadores da FA 9;

- o EEF em pacientes com FA paroxística demonstrou que as VP são o local

de origem dos focos ectópicos desencadeadores da FA na maioria dos casos 9, 66;

- a ablação por RF dos focos ectópicos originados nas VP é capaz de prevenir

a recorrência de FA em pacientes com FA paroxística 9,66-68;

- a aplicação de RF no interior das VP pode causar estenose dessas veias em

um número significativo de pacientes 9,66;

- a ablação por RF com o objetivo de isolar eletricamente as VP é

tecnicamente factível e apresenta resultados semelhantes à ablação direta dos focos

ectópicos em relação à prevenção de recorrência da FA, diminuindo a incidência de

estenoses das VP 68,186,189;

- o retorno da condução elétrica entre o interior da VP previamente isolada por

ablação e a musculatura atrial, provavelmente, seja a maior causa da recorrência da FA

nos pacientes submetidos à ablação por IESVP 198;

- a abolição por RF dos focos ectópicos em pacientes com FA persistente e

permanente, em especial quando acompanhada de doença cardíaca estrutural, não é

suficiente para prevenir a recorrência de FA em um grande número de casos 68,183;

- a realização de linhas de ablação em torno das VP por AC - utilizando o

sistema de navegação CARTO - é capaz de impedir a recorrência dessa arritmia em um

grande número de pacientes e em todas as formas de FA 67,187,189,190;

Page 132: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

122- o mecanismo exato da eficácia da ablação por AC para o tratamento da FA

permanece desconhecido 69,189-192.

- estudos comparativos entre ablação das VP e tratamento farmacológico em

pacientes com FA, apontam a ablação das VP como forma mais eficaz para controle do

ritmo sinusal 205,206.

Page 133: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

123

1.12 ESTADO DA ARTE NO TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL E

LACUNAS REMANESCENTES NO DESENVOLVIMENTO

TERAPÊUTICO

Atualmente não existe uma terapêutica definitiva para o tratamento da FA. No

entanto, o melhor entendimento da fisiopatogenia e o desenvolvimento progressivo do

arsenal terapêutico, levaram a um avanço rápido no tratamento desta arritmia nas

últimas décadas. Progressivamente, a abordagem terapêutica da FA torna-se mais

individualizada.

As drogas antiarritmicas seguem sendo a terapêutica mais utilizada e são

eficazes em manter cerca de 60% dos pacientes em ritmo sinusal 134,136,138. Estudos

recentes demonstram o controle da FC com drogas que bloqueiam o nódulo AV como

uma opção terapêutica com resultados semelhantes aos das drogas antiarritmicas para

uma população de pacientes com FA 132,133. Os casos onde não existe um controle

adequado da FC com drogas ainda podem ser submetidos à ablação do nódulo AV e

implante de MP, possibilitando o controle da FC em quase 100% dos casos e com bons

resultados no controle dos sintomas 149-151.

O desenvolvimento tecnológico dos dispositivos eletrônicos – MP e

desfibriladores – levou à inclusão destes aparelhos no arsenal terapêutico da FA155,

160). No entanto, os resultados em relação à eficácia na manutenção do ritmo sinusal

em pacientes com FA ainda são conflitantes 156-159,161. Desta forma, atualmente, os MP e

desfibriladores devem ser considerados como terapêuticas adjacentes na FA, sendo

reservados para casos específicos.

Page 134: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

124As drogas anticoagulantes e antiplaquetárias fazem parte da terapêutica

associada aos tratamentos descritos acima e possibilitam uma diminuição significativa

do risco de eventos embólicos, conseqüência mais importante da permanência do átrio

fibrilado 110, 114, 115, 121, 122.

Nas últimas décadas, muitos esforços foram realizados em busca da cura da FA.

Primeiramente, com o desenvolvimento da cirurgia para FA que permite o controle do

ritmo sinusal em cerca de 80-90% dos casos, possibilitando, inclusive, a suspensão das

drogas anticoagulantes em alguns pacientes 9,165,166,173,175. A necessidade de uma

toracotomia, associada a uma mortalidade não desprezível, faz com que a cirurgia para

o tratamento da FA, na maioria dos centros, ainda fique reservada a pacientes

submetidos a toracotomias por cirurgias adjacentes como a revascularização

miocárdica, fechamento de comunicação interatrial e, especialmente, correção da

válvula mitral 9,165,166,173,175.

A descoberta da importância das VP na gênese da FA e o desenvolvimento da

eletrofisiologia levaram ao desenvolvimento da ablação por cateter de RF para o

tratamento curativo da FA 6. A menor morbidade associada ao procedimento e os bons

resultados obtidos com controle do ritmo sinusal em cerca de 70-80% dos casos,

tornaram a ablação por cateter de RF a terapêutica curativa de eleição para o tratamento

da FA, em especial na FA paroxística 6,66,68. Atualmente, a ablação por cateter de RF é a

terapêutica curativa mais amplamente utilizada em pacientes com FA 6,64,66-68,185-188,204.

O IESVP e a AC são as técnicas mais amplamente utilizadas no tratamento da FA 204.

Embora não existam estudos comparativos, a AC parece superior ao IESVP no

tratamento da FA persistente e permanente 68,204. Por outro lado, ambas as técnicas

apresentam bons resultados no tratamento da FA paroxística 67,68,185-188,204. Os dois

estudos que compararam as técnicas de AC e IESVP para o tratamento da FA

Page 135: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

125paroxística apresentam resultados conflitantes 189,208. O estudo de Oral et al. randomizou

80 pacientes para as técnicas de AC e IESVP. Aos 6 meses de seguimento, 34 (88%)

pacientes estavam livres de FA no grupo AC e 27 (67%) no grupo de IESVP (p=0,02,

long-rank test) 189. Mansour et al. compararam as duas técnicas de forma não

randomizada em 80 pacientes, a maior parte com FA paroxística (80%), e não

encontraram diferenças significativas em relação à eficácia 208. Após um seguimento

médio superior a 10 meses em ambos os grupos, 75% dos pacientes no grupo AC e 60%

no grupo IESVP estavam livres de recorrência de FA .

Desta forma, ainda não dispomos de evidências suficientes para indicar a técnica

de ablação de eleição para o para o tratamento da FA paroxística, sendo esta uma lacuna

importante e que deve ser preenchida para o contínuo desenvolvimento em busca da

melhor forma de tratamento da FA.

Page 136: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

APÊNDICE

Page 137: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

127ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Abordagem circunferencial – AC

Acidente vascular encefálico - AVE

Ácido acetilsalisílico - AAS

American Heart Association / American College of Cardiology (AHA/ACC)

Átrio esquerdo-AE

Átrio-ventricular – AV

Batimentos por minuto - bpm

Cardioversão elétrica - CVE

Centímetros – cm

Débito Cardíaco - DC

Diabetes mellitus - DM

Doença arterial coronariana - DAC

Eletrocardiograma – ECG

Estados Unidos da América - EUA

Estudo eletrofisiológico – EEF

Fibrilação atrial - FA

Freqüência cardíaca - FC

Hipertensão arterial sistêmica - HAS

Horas - h

Intervalo de Confiança - ICo

Insuficiência cardíaca – IC

Isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares - IESVP

Marcapasso - MP

Milímetros – mm

Milisegundos - ms

Milivolts – mV

Monitorização eletrocardiográfica contínua - MEC

Segundos – s

Wolff Parkinson White - WPW

Veias pulmonares – VP

Ventrículo esquerdo – VE

Page 138: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

ARTIGO 1

ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO

TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA:

Abordagem Circunferencial Versus Isolamento Elétrico

Segmentar das Veias Pulmonares.

Page 139: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

129 ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO TRATAMENTO DA

FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: abordagem circunferencial versus

isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares.

Eduardo Bartholomay* , MD (1), Josep Brugada, MD, PhD (2), Lluís Mont, MD, PhD

(2), Antonio Berruezo, MD (2), Santiago Navas, MD (2), Andréa Scalise, MD (2),

David Nogueira (2), Renato A.K. Kalil, MD, PhD (1).

1 Programa de Pós-graduação em Cências da Saúde

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL /

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA, BRASIL. 2Seção de Arritmias, Instituto Cardiovascular, Hospital Clínic, Barcelona,

Espanha.

Endereço para correspondência:

Eduardo Bartholomay - Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da PUCRS

Av. Ipiranga 6690, CEP 90610-000, Porto Alegre, RS, Brasil.

Fone/Fax: (051) 33397366 / [email protected]

* Bolsista CNPq.

Page 140: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

130RESUMO

Introdução: As técnicas de ablação por cateter, mais utilizadas atualmente, para

o tratamento da fibrilação atrial (FA) são a ablação por abordagem circunferencial (AC)

e o isolamento elétrico segmentar das VP (IESVP). O objetivo deste estudo foi

comparar os resultados entre as técnicas de AC e IESVP para tratamento da FA

paroxística.

Métodos: Ensaio clínico não randomizado, unicêntrico, envolvendo 70 pacientes

de forma consecutiva. Os critérios de inclusão foram: idade > 18 anos e presença de FA

paroxística, sintomática e refratária ao tratamento com drogas. A técnica de IESVP foi

realizada com a utilização de um cateter Lasso (Biosense-Webster) e um cateter de

ablação por radiofreqüência 4 mm. Para a realização da técnica AC, foi utilizado um

cateter de ablação 8 mm e o sistema de navegação CARTO (Biosense-Webster). Os

pacientes foram revisados ambulatorialmente em 30 dias e, posteriormente, a cada 3

meses e até 12 meses pós-procedimento.

Resultados: Não houve diferenças significativas entre as duas amostras em

relação ao número de pacientes, idade, sexo, medidas ecocardiográficas e presença de

cardiopatia estrutural. Durante seguimento médio de 8,5±5 meses, 8 (23%) pacientes

apresentaram recorrência da FA no grupo da técnica de IESVP e 6 pacientes (17%) no

grupo da AC (p=0,68 long-rank test). Quando analisada a recorrência após

procedimento único, 11 (31%) pacientes do grupo IESVP e 7 (20%) pacientes no grupo

AC (p=0,36 long-rank test) apresentaram recorrência da FA.

Conclusões: Este estudo não detectou diferenças significativas entre as ablações

por IESVP e AC para o tratamento de FA paroxística na prevenção da recorrência dessa

arritmia após o procedimento.

Page 141: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

131ABSTRACT

Background: The most frequently used radiofrequency ablation techniques for

the treatment of paroxysmal atrial fibrillation (AF) are the circumferential approach

(CA) and the segmentary disconnection of pulmonary veins (SDPV). The objective of

this study was to compare the results of these techniques for the treatment of

paroxysmal AF.

Methods: Non-randomized unicenter clinical trial, with 70 consecutive patients.

Inclusion criteria: age > 18, presence of symptomatic paroxysmal drug-refractory AF.

The SDPV technique was performed with a Lasso catheter (Biosense-Webster) and a

4mm-ablation catheter. For the CA technique an 8mm-ablation catheter and the CARTO

navigation system (Biosense-Webster) were employed. Patients were assessed 30 days

after the procedure and every 3 months until a year of follow-up.

Results: Patients characteristics among groups were similar with respect to

number of patients, age, gender, echocardiography measures and presence of structural

heart disease. After a mean follow-up of 8.5±5 months, 8 (23%) patients had AF

recurrence in the SDPV group and 6 patients (17%) in the CA group (p=0.68 long-rank

test). Recurrence after one single procedure occurred in 11 (31%) patients in the SDPV

group and 7 (20%) patients in the CA group (p=0.36 long-rank test).

Conclusion: This study did not demonstrate any significant difference in the

prevention of AF recurrence after the use of the CA or SDPV ablation techniques for

the treatment of paroxysmal AF.

Page 142: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

132RESUMEN

Introducción: Las técnicas de ablación más utilizadas actualmente para el

tratamiento de la fibrilación auricular (FA) son el abordaje circunferencial (AC) y el

aislamiento eléctrico segmentar de las venas pulmonares (AESVP). El objetivo de este

estudio fue comparar los resultados entre las técnicas de AC y AESVP para el

tratamiento de la FA paroxística.

Métodos: Ensaio clínico no randomizado, un centro, envolviendo 70 pacientes

de forma consecutiva. Los criterios de inclusión fueron: edad > 18 años y FA

paroxística, sintomática y refractaria al tratamiento con drogas. La técnica de AESVP

fue realizada con la utilización de un catéter Lasso (Biosense-Webster) y un catéter de

ablación por radiofrecuencia 4mm. Para la realización de la técnica de AC, fue utilizado

un catéter de ablación 8 mm y el sistema de navegación CARTO (Biosense-Webster).

Los pacientes fueron revisados en el dispensario en 30 días y posteriormente a cada 3

meses hasta 12 meses después del procedimiento.

Resultados: No hubo diferencias significativas entre los dos grupos con relación

a el número de pacientes, edad, sexo, medidas ecocardiográficas y presencia de

cardiopatía estructural. Durante seguimiento medio de 8,5±5 meses, 8 (23%) pacientes

presentaron recurrencia da la FA en el grupo da la técnica de AESVP y 6 pacientes

(17%) en el grupo de la AC (p=0,68 long-rank test). En la evaluación de la recurrencia

después del procedimiento único, 11 (31%) pacientes del grupo AESVP y 7 (20%)

pacientes en el grupo AC (p=0,36 long-rank test) presentaron recurrencia de la FA.

Conclusiones: Este estudio no evidenció diferencias significativas entre las

técnicas de ablación por AC y AESVP con relación a la prevención de la recurrencia de

la arritmia después del procedimiento.

Page 143: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

133INTRODUÇÃO

A descoberta da importância das veias pulmonares (VP) na fisiopatogenia da

fibrilação atrial (FA), possibilitou o avanço de técnicas terapêuticas curativas para o

tratamento desta arritmia (1). As técnicas de ablação por cateter, mais utilizadas

atualmente, são a ablação por abordagem circunferencial (AC) e o isolamento elétrico

segmentar das VP (IESVP) (2,3). Apesar de muitos centros publicarem suas

experiências com os dois métodos, existe pouca informação disponível comparando

estas duas técnicas (4-10). O objetivo deste estudo foi comparar os resultados entre as

técnicas de AC e IESVP para tratamento da FA paroxística.

Page 144: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

134MÉTODOS

Delineamento

Ensaio clínico não randomizado e unicêntrico.

Amostra

Foram incluídos de forma consecutiva, 70 pacientes. Os primeiros 30 pacientes

foram alocados para o grupo IESVP e os 30 seguintes, para o grupo AC.

Posteriormente, realizaram-se 10 procedimentos intercalados com cada técnica. Os

critérios de inclusão foram: idade > 18 anos e presença de FA paroxística, sintomática e

refratária ao tratamento com drogas. Os critérios de exclusão foram a presença de um

átrio esquerdo > 50 mm, fração de ejeção < 30% ou história de um procedimento de

ablação prévio para o tratamento da FA. O protocolo de estudo foi aprovado pelo

Comitê de Ética do Hospital Clínic de Barcelona e todos os pacientes assinaram o termo

de consentimento informado.

Cuidados pré-ablação

Todos os pacientes realizaram ecocardiograma e monitorização

eletrocardiográfica contínua de 24 horas previamente ao procedimento de ablação. Os

pacientes com fatores de risco para eventos embólicos foram antecipadamente

anticoagulados por três semanas ou realizaram uma ecocardiografia transesofágica com

objetivo de excluir a presença de trombos no átrio esquerdo. A medicação antiarritmica

não foi suspensa e os pacientes em FA realizaram o procedimento na vigência da

arritmia.

Estudo eletrofisiológico

Todos os cateteres eletrofisiológicos foram introduzidos por veia femoral e um

cateter pigtail foi introduzido por artéria femoral com objetivo de facilitar a punção

transeptal. A punção transeptal foi realizada com uma agulha de Brockenbrough. Após a

Page 145: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

135punção transeptal, os pacientes foram anticoagulados com heparina endovenosa com

objetivo de manter um valor de tempo de coagulação ativada entre 250–350 ms. O

polígrafo utilizado para a realização do estudo eletrofisiológico foi o Electrophysiologic

Measurement System, Version 4.0.

Ablação por radiofreqüência

Isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares.

Através da punção transeptal, um cateter decapolar (Lasso, Biosense-Webster)

foi posicionado na região mais distal possível dos óstios das VP, de modo que

possibilitasse a obtenção de um duplo potencial intracavitário: potencial de VP e

potencial atrial. Após a realização da cartografia do óstio da VP, aplicou-se

radiofreqüência (RF) na posição onde se detectava uma maior precocidade do potencial

de VP em relação ao potencial atrial (Figura 1). A ablação por RF foi realizada através

de um gerador Stocker 70RF (Biosense-Webster) e um cateter controlado por

temperatura com ponta 4 mm (Biosense-Webster). O procedimento de ablação foi

realizado com o gerador programado para uma temperatura máxima de 50o C e potência

máxima de 50 W. As aplicações de RF foram realizadas por 30 segundos e repetidas até

a obtenção da desconexão elétrica das VP. Os critérios de sucesso para desconexão

elétrica das VP foram: dissociação do potencial das VP em relação ao potencial atrial e

o desaparecimento do potencial de VP com impossibilidade de captação do átrio a partir

de estímulos elétricos realizados no interior da VP tratada (Figura 1). Todas as VP com

atividade elétrica detectada foram tratadas, independente da presença ou não de extra-

sístoles originadas em seu interior. Não se utilizaram manobras de provocação para o

desencadeamento de FA e os pacientes que apresentavam FA durante o procedimento

foram submetidos a cardioversão elétrica para comprovação da dissociação elétrica das

VP.

Page 146: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

136

A B

Traçados do eletrograma de superfície (D1-V6) do cateter Lasso (lasso-9-10) e

do cateter de ablação (RF). Identificam-se dois critérios de sucesso na

desconexão da veia pulmonar. Na Figura 1A verifica-se a presença de um duplo

potencial no início da ablação (seta A) que, posteriormente à ablação,

desaparece (seta B), devido à interrupção elétrica entre o átrio esquerdo e a veia

pulmonar. Na Figura 1B verifica-se a presença de um potencial elétrico de veia

pulmonar com atividade (seta A), porém, dissociado da atividade elétrica atrial

(seta B), também devido à interrupção da comunicação elétrica entre o átrio e a

veia pulmonar após a ablação

Figura 1 – Ablação por isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares

Ablação por abordagem circunferencial

Um cateter com ponta de 8 mm (Navistar, Biosense-Webster) foi introduzido no

átrio esquerdo através de punção transeptal. Primeiramente foi realizada uma

reconstrução tridimensional do átrio esquerdo com a utilização do sistema de cartografia

eletro-anatômico (CARTO, Biosense-Webster). As linhas de ablação ponto a ponto em

torno das VP, cerca de 1-2 cm dos óstios das mesmas (Figura 2). A ablação por RF foi

realizada com uma temperatura máxima de 55o C e com uma potência máxima de 60 W.

BAB A

B

A B

A AB

B

Page 147: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

137A aplicação por RF foi mantida até atingir-se uma diminuição de 50% da amplitude do

eletrograma atrial localizado na área de ablação ou a obtenção de um eletrograma <0,1

mV. Após o término das linhas de ablação, foi construído um mapa de voltagem com

objetivo de detectar zonas dentro das linhas de ablação com propriedades condutoras

mantidas. Quando detectadas, as mesmas foram submetidas à nova ablação. Linhas

adicionais de ablação na região do istmo mitral e parede posterior do átrio esquerdo

foram realizadas rotineiramente nos últimos 5 casos.

A B

Visão póstero-anterior (Figura 2A) e lateral (Figura 2B) da reconstrução

tridimensional do átrio esquerdo por sistema CARTO (Biosense-Webster). Os pontos

vermelhos indicam os locais de aplicação de radiofreqüência. VPSE (veia pulmonar

superior esquerda), VPIE (veia pulmonar inferior esquerda), VPID (veia pulmonar

inferior direita).

Figura 2 – Ablação por abordagem circunferencial

Page 148: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

138Seguimento após ablação

Após o procedimento, os pacientes receberam, por dois meses, antiarrítmicos e

tratamento com ácido acetilsalisílico ou anticoagulantes orais, conforme o recomendado

(11). A flecainida foi o antiarritmico de primeira escolha, porém, na presença de contra-

indicação ao seu uso, outros antiarritmicos da classe I ou III foram utilizados.

Os pacientes que apresentaram recorrência da FA sem melhora clínica e optaram

pela realização de um segundo procedimento, foram submetidos à nova ablação

utilizando a mesma técnica do procedimento anterior.

Os pacientes foram revisados ambulatorialmente em 30 dias e, posteriormente, a

cada 3 meses e até 12 meses pós-procedimento. A cada consulta foram realizados

anamnese, exame físico e monitorização eletrocardiográfica contínua de 24 horas.

Ressonância nuclear magnética foi realizada rotineiramente 6 meses após a ablação para

detecção de estenoses de VP assintomáticas.

Definição dos desfechos

O desfecho principal do estudo foi a recorrência de FA após procedimento sem o

uso de antiarritmicos, exceto nos primeiros dois meses quando o uso de antiarrítmicos

foi utilizado de forma protocolar. A recorrência de FA foi definida como detecção da

arritmia através de um eletrocardiograma, monitorização eletrocardiográfica contínua de

24 horas, ou presença de sintomas característicos da FA semelhantes aos observados

anteriormente à ablação. O desfecho secundário foi à avaliação da segurança do

procedimento em relação à mortalidade, estenose de VP, taquicardias atriais

macroreentrantes, tamponamento cardíaco, acidente vascular encefálico, fístula átrio-

esofágica e acidentes vasculares periféricos. Cardiopatia estrutural foi considerada

presente na vigência de associação de dilatação das cavidades atriais e/ou ventriculares

e fração de ejeção <50%.

Page 149: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

139 Análise estatística

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado para um valor β de 0,80 para

detectar diferenças > 20% em relação ao desfecho principal com um valor α de 0,05. As

variáveis contínuas foram expressas por média e desvio padrão (DP) e analisadas por

teste t de Student. As variáveis categóricas foram comparadas com o teste do χ2 ou teste

exato de Fisher quando apropriado. A análise dos resultados foi realizada pela intenção

de tratar, a curva de Kaplan Meyer foi utilizada para avaliar o número de pacientes

livres de eventos de FA durante o seguimento, e a diferença entre as duas técnicas foi

avaliada utilizando-se o long-rank test. Um valor de p < 0,05 foi considerado como

estatisticamente significativo.

Page 150: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

140RESULTADOS

Características da população

As características da amostra estão resumidas na Tabela 1. Não houve diferenças

significativas entre os dois grupos. A maior parte dos pacientes apresentava mais de 3

episódios semanais de FA, não apresentava cardiopatia associada e já havia utilizado

mais de duas drogas antiarritmicas na tentativa de manutenção do ritmo sinusal. O

tempo médio de seguimento foi de 8±5 meses no grupo AC e 9±4 meses no grupo

IESVP, sendo que nenhum paciente foi perdido durante o seguimento.

Tabela 1 – Características da população

IESVP

n=35

AC

n=35

p

Idade (anos) 50 ±11 53 ±10 0,28

Sexo (masculino) 25 29 0,25

Duração da FA (anos) 6±6 7±7 0,39

Número de episódios/mês 21±7 17±12 0,32

Diâmetro AE (mm) 38±4 40±4 0,24

Número drogas utilizadas 2±1 2±1 0,78

Fração de ejeção (%) 60±9 60±11 0,60

Diâmetro diastólico VE (mm) 53±6 54±6 0,59

Diâmetro sistólico VE (mm) 34±6 35±6 0,14

Doença cardíaca estrutural associada 5 6 0,18

IESVP (isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares), AC (abordagem

circunferencial), FA (fibrilação atrial), AE (átrio esquerdo), VE (ventrículo esquerdo).

Procedimento

Foram abordadas 132 VP nos 35 pacientes (média de 3,7 VP/paciente),

obtendo-se a desconexão elétrica em 95% dos casos. Não foi possível avançar o cateter

Page 151: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

141Lasso até o óstio de 2 VP inferiores esquerdas e uma VP inferior direita. Três pacientes

apresentavam óstio comum para as VP esquerdas. Os demais resultados dos

procedimentos estão resumidos na Tabela 2.

Tabela 2 – Características do procedimento

IESVP AC P

Tempo total de procedimento (min) 107±33 145±38 0,001

Tempo de RF (min) 10±5 42±15 0,001

Tempo de Rx (min) 53±18 34±13 0,001

Potência média da RF (W) 44±8 49±6 0,007

IESVP (isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares), AC (abordagem

circunferencial), RF (radiofreqüência), Rx (radioscopia).

Recorrência da fibrilação atrial

Durante o seguimento, 8 (23%) pacientes apresentaram recorrência da FA no

grupo da técnica de IESVP e 6 pacientes (17%) no grupo da AC (p=0,68 long-rank

test). O procedimento foi repetido em 4 pacientes de cada grupo. Todos os pacientes

submetidos a um segundo procedimento no grupo de IESVP apresentavam retorno da

condução elétrica entre o átrio e, pelo menos, uma das VP previamente submetidas à

desconexão. No grupo AC, 3 pacientes submeteram-se a um segundo procedimento por

FA e um por taquicardia atrial macroreentrante. Após o segundo procedimento, 2

pacientes apresentaram recorrência da FA no grupo AC e 1 paciente no grupo IESVP.

Quando analisada a recorrência após procedimento único, 11 (31%) pacientes do grupo

IESVP apresentaram recorrência da FA e 7 (20%) pacientes no grupo AC (p=0,36 long-

rank test). Na Figura 3 observa-se as curvas de Kaplan Meyer de ambos os grupos para

as duas formas de análise de recorrência da FA. A recorrência da FA ocorreu, em

média, 2,2±0,7 meses após o procedimento no grupo IESVP e 2,6±1,7 meses no grupo

AC (p=0,28).

Page 152: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

142

A B FA (fibrilação atrial), AC (abordagem circunferencial), IESVP (isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares).

Figura 3 – Curvas de Kaplan Meyer para recorrência fibrilação atrial.

Segurança no procedimento

Quatro pacientes do grupo IESVP apresentaram estenose de VP detectadas na

ressonância nuclear magnética realizada no 6o mês após o procedimento e não houve

nenhum caso no grupo AC (p=0,06). Durante o seguimento, que variou de 6 a 12 meses,

todos estes pacientes permaneceram assintomáticos.

Dois pacientes do grupo de AC apresentaram taquicardias atriais

macroreentrantes durante o seguimento e nenhum no grupo IESVP (p=0,24). Um

paciente não realizou um segundo procedimento devido à melhora clínica após a

primeira ablação. O segundo paciente foi submetido à nova ablação utilizando o sistema

de navegação CARTO com a realização de duas linhas de ablação: na parede posterior

do átrio esquerdo e no istmo mitral. Após o segundo procedimento, o paciente não

apresentou mais episódios de taquicardia atrial macroreentrante em 8 meses de

seguimento.

Tempo de seguimento (meses)

121086420

Pac

ient

es li

vres

de

reco

rrên

cia

de F

A

1.1

1.0

.9

.8

.7

.6

.5

.4

.3

.2

.1

0.0

IESVP 8/35 (23%)

AC 6/35 (17%)

p=0,68

Tempo de seguimento (meses)

121086420

Pac

ient

es li

vres

de

reco

rrên

cia

de F

A

1.1

1.0

.9

.8

.7

.6

.5

.4

.3

.2

.1

.0

p=0,36

IESVP 11/35 (31%)

AC 7/35 (20%)

Page 153: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

143Um paciente do grupo AC apresentou um episódio de acidente vascular

encefálico durante o procedimento, evoluindo sem seqüelas. Um paciente no grupo de

IESVP apresentou uma fístula arterio-venosa na local da punção que foi corrigida

cirurgicamente.

Page 154: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

144DISCUSSÃO

Principais resultados

Este estudo não demonstrou diferenças significativas na taxa de recorrência de

FA após ablação por AC e IESVP. Após um seguimento médio de 8,5±5 meses, 83%

dos pacientes estavam livres de recorrência de FA no grupo AC e 77% no grupo IESVP.

Quando analisada a recorrência após procedimento único, 80% dos pacientes do grupo

AC apresentaram-se livres de FA e 69% no grupo IESVP. A curva de aprendizado para

realização do procedimento e as constantes mudanças em relação às técnicas de ablação

podem ser responsáveis pelos diferentes resultados apresentados em séries de casos de

ablação da FA (2-10). A efetividade a médio prazo da ablação por IESVP em relação à

não recorrência de FA varia de 60-88% e por AC de 60-90% (2-10). Oral et al.

compararam os resultados da ablação após procedimento único por IESVP versus AC

de forma randomizada. Aos 6 meses de seguimento dos 80 pacientes incluídos, 34

(88%) estavam livres de FA no grupo AC e 27 (67%) no grupo de IESVP (p=0,02,

long-rank test) (12). Por outro lado, o ensaio clínico não randomizado de Mansour et al,

igualmente ao nosso estudo, não encontrou diferenças significativas entre as técnicas de

AC e IESVP (13). Contudo, ambos os estudos encontraram uma taxa de recorrência de

FA inferior no grupo AC em relação ao grupo IESVP. O pequeno número de pacientes

incluídos nestes estudos pode ser responsável pela não-significância dos resultados.

Aspectos técnicos relacionados aos procedimentos de ablação

Os achados de maior tempo de exposição à radioscopia no grupo de IESVP e

maior número de aplicações e potência no grupo AC são achados esperados e inerentes

às diferentes técnicas. Embora ambos os procedimentos tenham como objetivo a

realização de ablações por RF junto aos óstios das VP, provavelmente o mecanismo de

ação de cada um seja diferente. O procedimento de IESVP baseia-se nos achados

Page 155: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

145inicialmente descritos por Haïssaguerre et al: a importância da atividade focal como

desencadeadores de FA paroxística (1). Pappone et al. buscaram, inicialmente, o mesmo

objetivo com a AC (2). No entanto, com o uso desta técnica, dificilmente as VP eram

totalmente isoladas do restante do miocárdio atrial (2, 6, 14), o que motivou a

contestação dos resultados iniciais descritos por estes autores (15). A análise dos

resultados das séries de AC parece deixar clara a não necessidade da desconexão

elétrica por completo das VP para o sucesso deste procedimento. Stabile et al.

realizaram a ablação por AC em 51 pacientes, demonstrando a desconexão elétrica das

VP em apenas 2 pacientes e uma taxa de pacientes livres de FA de 81% em uma média

de 16 ± 3,9 meses de seguimento (14). A modificação do substrato de sustentabilidade

da FA através da compartimentalização do miocárdio atrial – diminuição da massa

crítica - é o mecanismo mais provável de ação da AC (12, 14). No entanto, a descrição

por Jalife et al. da presença de uma “onda mãe” rotatória localizada junto à parede

posterior do átrio esquerdo e, mais recentemente, a demonstração da importância de

pontos de estimulação parassimpática nesta mesma região, possivelmente sejam parte

da resposta do mecanismo do êxito da AC no tratamento da FA (16, 17). No entanto,

mais estudos são necessários para elucidar por completo os efeitos da ablação por AC

no tratamento da FA.

Necessidade de repetição do procedimento

O retorno da condução elétrica de VP previamente submetida à ablação já está

bem descrito, sendo apontado como a principal causa de recorrência de FA no IESVP

(1, 5, 7). Em um estudo de Cappato et al., 117 pacientes com FA paroxística foram

submetidos, rotineiramente, a um segundo procedimento 4 meses após a primeira

ablação por IESVP (18). O retorno da condução em, pelo menos, uma das VP ocorreu

em 80% dos casos. A taxa de recorrência de FA após o primeiro procedimento neste

Page 156: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

146mesmo estudo foi de 32%. A realização de procedimentos posteriores até a

comprovação final da desconexão elétrica das VP, no mesmo estudo, diminuiu o

número de recorrências para 5% após o procedimento final (18). As informações

disponíveis até o momento apontam para o retorno da condução elétrica átrio-VP como

a principal causa de recorrência de FA e como um desafio ainda a ser transposto nos

procedimentos realizados com essa técnica.

A recorrência de FA após a AC, em geral, se relaciona com a realização de

linhas incompletas durante o primeiro procedimento (19, 20). A taquicardia atrial

macroreentrante é uma complicação, comumente, reservada aos pacientes submetidos à

ablação por AC, devido à formação de circuitos de macroreentrada ao redor das linhas

de ablação. A incidência de taquicardia atrial macroreentrante após AC é de 2-20% (12,

19-21). Pappone et al. compararam de forma randomizada a ablação por AC versus AC

modificada pela relização de linhas de ablação na parede posterior (ligando as duas

linhas circunferenciais direita e esquerda) e no istmo mitral (21). Um total de 560

pacientes foram randomizados, 280 em cada grupo. Taquicardias atriais

macroreentrantes foram observadas em 28 (10%) pacientes no grupo AC e 11 (3,9%)

pacientes no grupo AC modificada. (p=0,005). Em nosso estudo, estas linhas não foram

realizadas de forma rotineira na maioria dos pacientes, o que pode justificar a incidência

de 5,7% de taquicardias atriais macroreentrantes pós-ablação.

Estenose de veias pulmonares

A taxa de estenose de VP no grupo IESVP foi maior que no grupo AC obtendo-

se um valor de p=0,06 no limite da significância. A incidência de estenose de VP nas

demais séries de IESVP varia entre 0,7-6,5%. No entanto, na maioria destes estudos a

investigação de estenose de VP não foi realizada de forma rotineira (5, 8, 12, 22). Desta

forma, talvez a incidência de estenose de VP após IESVP ainda seja subestimada. Por

Page 157: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

147outro lado, o uso de aplicações de RF com potência superior (50 W) às utilizadas na

maioria das outras séries pode justificar uma maior incidência de estenose de VP em

nossa análise (5, 12, 22, 23). A ausência de estenose de VP no grupo AC é um achado

compatível com a maioria das séries publicadas com esta técnica (5, 13, 19, 22, 23). A

maior distância de aplicação de RF em relação ao óstio das VP com a AC,

provavelmente justifique a menor taxa de estenose de VP relacionadas a esse

procedimento.

Limitações do estudo

Este estudo não foi randomizado. No entanto, a realização dos procedimentos

pela mesma equipe em pacientes consecutivos originou dois grupos semelhantes em

relação às variáveis relevantes à eficácia do procedimento. O tamanho reduzido da

amostra apresentava um poder de detecção de diferenças superiores a 20% entre os dois

procedimentos, desta forma, diferenças menores que esta não foram estatisticamente

significativas. Recorrências assintomáticas podem não haver sido detectadas, sendo essa

uma limitação inerente a este tipo de análise (6-12). Contudo, recorrências

assintomáticas são infreqüentes nesta população de pacientes (24). A curva de

aprendizado na realização dos procedimentos pode ser determinante nos resultados (25).

Porém, nossos resultados foram semelhantes aos publicados pelos grupos com maior

experiência na realização destes procedimentos (6, 7, 12, 19).

Page 158: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

148CONCLUSÃO

Este estudo não detectou diferenças significativas entre as ablações por AC e

IESVP para o tratamento de FA paroxística na prevenção da recorrência dessa arritmia

após o procedimento. A técnica de ablação por AC apresentou uma tendência não

significativa de menor incidência de estenose de VP que o grupo IESVP.

Agradecimentos: agradeço ao Dr. Paulo Caramori e Vitor Gomes pela valiosa

ajuda na redação deste manuscrito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Haïssaguerre M, Jaïs P, Clementy J, et al. Spontaneous initiation of atrial fibrillation

by ectopy beats origination in the pulmonary veins. N Eng J Med 1998;339:659-66.

2- Pappone C, Salvatore R, Chierchia S, et al. Circuferencial radiofrequency ablation

of pulmonary vein ostia: a new approach for curing atrial fibrillation. Circulation

2000; 102:2619-28.

3- Jaïs P , Weerasooriya R, Shah D, et al. Ablation therapy for atrial fibrillation (AF):

Past, present and future. Cardiovasc Res 2002;54: 337–46.

4- Aragão P, Cavaco D, Aguiar P, et al. Ablation of pulmonary vein foci for the

treatment of atrial fibrillation. Europace 2002;4:391-99.

5- Oral H, Bradley K, Morady F, et al. Pulmonary vein isolation for paroxysmal and

persistent atrial fibrillation. Circulation 2002;105:1077-81.

6- Pappone C, Oreto G, Rosanio S, et al. Atrial electroanatomic remodeling after

circumferential radiofrequency pulmonary vein ablation: efficacy of an anatomic

approach in a large cohort of patients with atrial fibrillation. Circulation

2001;104:2539-44.

Page 159: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1497- Macle L, Jais P, Shah D, et al. Irrigation-tip catheter ablation pulmonary veins for

treatment of atrial fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 2002; 131:967-73.

8- Haïssaguerre M, Clement J, Jais P, et al. Electrophysiological end point for catheter

ablation of atrial fibrillation initiated from pulmonary foci. Circulation

2000;101:1409-17.

9- Marchlinski FE, Callans D, Dixit S, et al. Efficacy and safety of targeted focal

ablation versus PV isolation assisted by magnetic electroanatomic mapping. J

Cardiovasc Electrophysiol 2003;14:358-65.

10- Silva R, Mont L, Berruezo A, et al. Ablación por radiofrecuencia para el tratamiento

de la fibrilación auricular focal a través de cartografía circunferencial y aislamiento

segmentario de las venas pulmonares. Rev Esp Cardiol 2003;56:361-67

11- Fuster V, Gibbons R, Klein W, et al. American College of Cardiology/American

Heart Association/ European Society of Cardiology: Practice guidelines for atrial

fibrillation. J Am Coll Cardiol 2001;38:1266ii-1266Ivi.

12- Oral H, Scharf C, Chugh A, et al. Catheter ablation for paroxysmal atrial fibrillation:

segmental pulmonary vein ostial ablation versus left atrial ablation. Circulation

2003;108:2355-60.

13- Mansour M, Ruskin J, Keane D. Efficacy and safety of segmental ostial versus

circumferential extra-ostial pulmonary vein isolation for atrial fibrillation. J

Cardiovasc Electrophysiol 2004;15:532-7.

14- Stabile G, Turco P, La Rocca V, et al. Is pulmonary vein isolation necessary for

curing atrial fibrillation?. Circulation 2003; 108:657-60.

15- Haïssaguerre, M, Shah D, Jaïs P. Catheter-Mediated Linear Block in the Atria.

Circulation 2000;102:123.

Page 160: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

15016- Jalife J. Rotors and spiral waves in atrial fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol

2003;14:776-80.

17- Pappone C, Santinelli V, Manguso F, et al. Pulmonary vein denervation enhances

long-term benefit after circumferential ablation for paroxysmal atrial fibrillation.

Circulation 2004;109:327-34.

18- Cappato R, Negroni S, Pecora D, et al. Prospective assessment of late conduction

recurrence across radiofrequency lesions producing electrical disconnection at the

pulmonary vein ostium in patients with atrial fibrillation. Circulation

2003;108:1599-1604.

19- Ernst S. Schluter S, Ouyang F, et al. Modification of the substrate for maintenance

of idiopathic human atrial fibrillation: Efficacy of radiofrequency ablation using

nonfluoroscopic catheter guidance.Circulation 1999;100:2085-92.

20- Kanagaratnam L, Tomassoni G, Schweikert R, et al. Empirical pulmonary vein

isolation in patients with chronic atrial fibrillation using a three-dimensional

nonfluoroscopic mapping system: long-term follow-up. Pacing Clin Electrophysiol

2001;24:1774-9.

21- Pappone C, Manguso F, Vicedomini G, et al. Prevention of iatrogenic atrial

tachycardia after ablation of atrial fibrillation: a prospective randomized study

comparing circumferential pulmonary vein ablation with a modified approach.

Circulation 2004;110:3036-42.

22- Saad E, Rossillo A, Saad C, et al. Pulmonary vein stenosis after radiofrequency

ablation of atrial fibrillation: functional characterization, evolution, and influence of

the ablation strategy. Circulation 2003;108:3102-07.

23- Dill T, Neumann T, Ekinci O, et al. Pulmonary vein diameter reduction after

radiofrequency catheter ablation for paroxysmal atrial fibrillation evaluated by

Page 161: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

151contrast-enhanced three-dimensional magnetic resonance imaging. Circulation

2003;107:845-50.

24- Oral H, Veerareddy S, Good E, et al. Prevalence of asymptomatic recurrences of

atrial fibrillation after successful radiofrequency catheter ablation. J Cardiovasc

Electrophysiol 2004;15:920-24.

25- Knight B, Oral H, Chugh A. Effects of operator experience on the outcome and

duration of pulmonary vein isolation procedures for atrial fibrillation. Am J Cardiol

2003;91:673-77.

Page 162: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

ARTIGO 2

ABORDAGEM CIRCUNFERENCIAL VERSUS ISOLAMENTO

ELÉTRICO SEGMENTAR DAS VEIAS PULMONARES PARA

TRATAMENTO DA FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA:

uma Revisão Sistemática.

Page 163: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

153 ABORDAGEM CIRCUNFERENCIAL VERSUS ISOLAMENTO ELÉTRICO

SEGMENTAR DAS VEIAS PULMONARES PARA TRATAMENTO DA

FIBRILAÇÃO ATRIAL PAROXÍSTICA: Uma revisão sistemática.

Eduardo Bartholomay* , MD (1), Lídia Rosi Medeiros, MD, MS (2), Josep Brugada,

MD, PhD (3) Lluís Mont, MD, PhD (3), Stieve Horbach, MD (1), Manuela Cavalcanti,

MD, MS (2), Carlos Kalil, MD, MSc (1), Renato A.K. Kalil, MD, PhD (1).

1 Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL /

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA, Brasil. 2Programa de Pós-graduação em Epidemiologia e Estatística da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil.

3Seção de Arritmias, Instituto Cardiovascular, Hospital Clínic, Barcelona,

Espanha.

Endereço para Correspondência:

Eduardo Bartholomay. Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da PUCRS,

Av. Ipiranga 6690, CEP 90610-000, Porto Alegre, RS, Brasil. Fax: (051) 33397366

[email protected]

* Bolsista do CNPq.

Page 164: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

154RESUMO

Introdução: as técnicas de ablação mais utilizadas para o tratamento da

fibrilação atrial (FA) paroxística são a abordagem circunferencial (AC) e o isolamento

elétrico segmentar das veias pulmonares (IESVP). Devido ao pequeno número de

informações disponíveis, comparando estas técnicas, foi realizada uma revisão

sistemática com objetivo de ajudar a esclarecer qual a melhor técnica de ablação por

cateter para o tratamento da FA paroxística.

Métodos: a revisão sistemática foi realizada nos bancos de dados do MEDLINE

(PubMed), EMBASE, LILACS, Cochrane Library e resumos dos temas livres dos

principais congressos de cardiologia. Um ensaio clínico randomizado e 2 não-

randomizados foram identificados, envolvendo 215 pacientes, sendo 107 do grupo AC e

108 do grupo IESVP.

Resultados: após seguimento médio de 11 meses, 91 (85%) pacientes do grupo

AC e 76 (71%) pacientes do grupo IESVP, apresentavam-se livres de recorrência de

FA, com Peto OR 0,42 (IC 95% 0,22-0,78). Quando analisada a recorrência após

procedimento único, 88 (82%) pacientes no grupo AC e 68 (63%) pacientes no grupo

IESVP, não apresentaram recorrência de FA, com Peto OR 0,38 (IC 95% 0,21-0,69).

Em relação às complicações relacionadas aos procedimentos, a estenose de veias

pulmonares foi menos freqüente no grupo AC com Peto OR de 0,12 (IC 95% 0,02-

0,72). As demais complicações foram igualmente distribuídas entre os 2 grupos.

Conclusões: a técnica de ablação por AC para tratamento da FA paroxística

apresenta menor taxa de recorrência dessa arritmia e uma menor incidência de estenose

de VP quando comparada à técnica de ablação por IESVP.

Page 165: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

155ABSTRACT

Background: The most frequently used techniques for treatment of paroxysmal

atrial fibrillation (AF) are the circumferential approach (CA) and the segmentary

disconnection of pulmonary veins (SDPV). Since little information is available

comparing both these techniques, a systematic review was performed with the objective

of establishing the best radiofrequency ablation technique for the treatment of

paroxysmal AF.

Methods: A systematic review was performed using the MEDLINE (PubMed),

EMBASE, LILACS and Cochrane Library databases and the abstracts of the main

cardiology congresses. One randomized clinical trial and 2 non-randomized were

identified, enrolling a total of 215 patients, 107 in the CA group and 108 in the SDPV

group.

Results: After a mean follow-up of 11 months, 91 (85%) patients in the CA

group were free of AF events and 76 (71%) patients in the SDPV group, with Peto OR

0.42 (95%-CI 0.22-0.78). Analysis of recurrency after one single procedure: 88 (82%)

patients in the AC group were free of AF events and 68 (63%) patients in the SDPV

group, with Peto OR 0.38 (95%-CI 0.21-0.69). Pulmonary vein stenosis was less

frequent in the CA group with Peto OR 0.12 (95%-CI 0.02-0.72). Other procedure

complications were evenly distributed among the 2 groups.

Conclusions: The CA technique for the treatment of paroxysmal atrial

fibrillation demonstrated a lower rate of AF recurrence and a lower rate of pulmonary

veins stenosis when compared with the SDPV technique.

Page 166: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

156RESUMEN

Introducción: Las técnicas de ablación más utilizadas para el tratamiento de la

fibrilación auricular (FA) paroxística son el abordaje circunferencial (AC) y el

aislamiento eléctrico segmentar de las venas pulmonares (AESVP). Por el pequeño

numero de informaciones disponibles comparando las técnicas, fue realizada una

revisión sistemática con objetivo de ayudar a esclarecer cual la mejor técnica de

ablación por catéter para el tratamiento de la FA paroxística.

Métodos: La revisión sistemática fue realizada en los bancos de datos del

MEDLINE (PubMed), EMBASE, LILACS, Cochrane Library y los resúmenes de los

temas libres de los principales congresos de cardiología. Un estudio randomizado e 2 no

randomizados fueron identificados, envolviendo 215 pacientes, siendo 107 del grupo

AC y 108 pacientes del grupo AESVP.

Resultados: Después de un seguimiento medio de 11 meses, 91 (85%) pacientes

del grupo AC estaban libres de recurrencia de FA y 76 (71%) pacientes del grupo

AESVP, con Peto OR 0,42 (IC 95% 0,22-0,78). Cuando evaluada la recurrencia después

del procedimiento único, 88 (82%) pacientes del grupo AC no presentaron recurrencia

de la FA y 68 (63%) pacientes del grupo AESVP, con Peto OR 0,38 (IC 95% 0,21-

0,69). Con relación a las complicaciones relacionadas al procedimiento, la estenosis de

las venas pulmonares fue menos frecuente en el grupo AC con Peto OR 0,12 (IC 95%

0,02-0,72). Las demás complicaciones fueron igualmente distribuidas entre los 2

grupos.

Conclusiones: La técnica de ablación por AC para el tratamiento de la FA

paroxística presenta una menor taja de recurrencia de la FA y una menor taja de

estenosis de las venas pulmonares cuando comparada a la técnica de ablación por

AESVP.

Page 167: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

157INTRODUÇÃO

A ablação das veias pulmonares (VP) por radiofreqüência para o tratamento da

FA paroxística já faz parte do arsenal terapêutico dessa doença (1). As técnicas de

ablação mais utilizadas são a ablação por abordagem circunferencial (AC) e o

isolamento elétrico segmentar das VP (IESVP) (1,2,3). Apesar de muitos centros

publicarem suas experiências com os dois métodos, existem poucas informações

disponíveis comparando estas duas técnicas (4-8). Devido ao pequeno número de

pacientes incluídos nestes estudos, ainda permanece a dúvida de qual a melhor forma de

abordagem para o tratamento da FA paroxística. Desta forma, realizamos uma revisão

sistemática com objetivo de ajudar a esclarecer esta questão através da análise conjunta

da informação disponível até o momento.

Page 168: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

158MÉTODOS

Estratégias de busca

A revisão sistemática foi realizada em segundo as normas da “Cochrane Heart

Group” (9). A pesquisa foi realizada de maneira sistemática nos bancos de dados do

MEDLINE (PubMed) (1999 até março de 2005), EMBASE (1999 até março de 2005),

LILACS (1999 até março de 2005), Cochrane Library (1999 até março de 2005) e

resumos dos temas livres dos principais congressos de cardiologia (1999 até março de

2005). Foram utilizadas as seguintes palavra-chave: randomized control trial*;

controlled clinical trial*, clinical trial; crossover procedure; random allocation;

single-blind method; research design; comparative study; prospective studies; heart-

diseases; atrial-fibrillation; tachycardia-supraventricular; tachycardia; arrhythmia;

atrial* and fribrillat*; tachycardi*; fibrillat*[tw] AND ablation*. O símbolo “*” difere

em cada banco de dados e permite recuperar todas as variações com sufixos das

palavras de origem. Não houve restrição de idioma. A revisão sistemática foi realizada

de forma independente por dois investigadores.

Critérios de seleção

Todos os estudos randomizados que compararam a abordagem AC versus

IESVP para tratamento da FA paroxística foram selecionados para a avaliação de

desfechos dicotômicos (recorrência e complicações) e contínuos (tempo cirúrgico,

tempo de radiofreqüência, tempo de radioscopia). Na presença de um número pequeno

de estudos randomizados, ensaios clínicos não-randomizados também foram incluídos

na revisão sistemática.

Os estudos selecionados para a revisão sistemática foram aqueles onde se

compararam as técnicas de AC e IESVP com critérios de inclusão e exclusão

apropriadamente informados. Os estudos deveriam ter um tempo de seguimento mínimo

Page 169: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

159de 3 meses após procedimento e as técnicas utilizadas para ablação da FA deveriam ser

iguais, ou muito similares, às descritas por Pappone et al. e Haïssaguerre et al. (10, 11).

O desfecho primário considerado foi comparação da taxa de recorrência de FA após os

procedimentos de ablação por AC e IESVP. O desfecho secundário foi a segurança dos

procedimentos em relação à mortalidade, estenose de VP, acidentes vasculares

encefálicos, taquicardias atriais macroreentrantes, tamponamento cardíaco, fístula átrio-

esofágica, trombose venosa profunda, isquemia miocárdica, tempo de exposição à

radioscopia e eventos embólicos pulmonares e periféricos.

Os dados foram pesquisados de maneira independente por dois revisores usando

os critérios de inclusão. Estudos inadequados e duplicados foram excluídos. A decisão

final de inclusão e exclusão foi orientada por uma lista (cheklist). Discordâncias quanto

à inclusão ou exclusão de um estudo foram resolvidas por consenso.

Avaliação da qualidade

Todos os estudos relevantes foram analisados em seus níveis de evidência.

Tanto a qualidade metodológica dos estudos (validade interna e externa), quanto à

qualidade da alocação, foram categorizadas em: adequada (A), confusa (B), inadequada

(C) e não utilizada (D) segundo a “Cochrane Reviewers’ Handbook" (12).

Análise estatística dos dados

Na análise dos desfechos dicotômicos (recorrência e complicações) os dados

foram gerados em tabela 2 x 2, e o resultado de cada estudo foi expresso em Peto OR

com intervalo de confiança (IC) de 95%. Da mesma forma, foram calculados ainda a

redução do risco absoluto (RRA) e o número necessário para tratar (NNT) com seus

respectivos intervalos de confiança de 95% (13).

Na análise dos desfechos contínuos (tempo cirúrgico, tempo de radioscopia)

foram utilizados as médias e os desvios-padrão, a fim de se obter o “tamanho do efeito”,

Page 170: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

160mensurado através da diferença entre as médias com IC de 95%. A análise de

heterogeneidade entre os estudos foi realizada pelo teste do qui-quadrado (χ2). O

modelo de efeito fixo foi usado quando não havia heterogeneidade estatística

significativa (p > 0,1) (13). O programa Review Manager®12 (RevMan 4.2.7) foi

utilizado para análise dos dados estatísticos e elaboração dos gráficos dos achados da

meta-análise. O Peto OR e a média, com seus respectivos IC de 95% que se encontram à

esquerda na sumarização dos dados, foram considerados como sendo favoráveis ao

procedimento por AC. A análise de sensibilidade foi planejada a priori para comparar

os resultados conforme o desenho do estudo, em caso de randomizado, se a alocação foi

adequada ou incerta, e comparar resultados de estudos randomizados com estudos não-

randomizados.

Identificação dos estudos e elegibilidade

Durante a revisão sistemática, 704 estudos foram selecionados inicialmente para

avaliação. Seiscentos e noventa e dois estudos foram excluídos por não caracterizarem

ensaios clínicos. Dos 16 ensaios clínicos identificados, 12 foram excluídos por

avaliarem diferentes terapêuticas e desfechos. Após a avaliação detalhada dos 4 ensaios

clínicos selecionados, um estudo ainda foi excluído por comparar a AC com uma

técnica distinta de IESVP (14). Finalmente, 3 ensaios clínicos foram incluídos para

análise conjunta dos dados, sendo um estudo randomizado e dois estudos não-

randomizados (Figura 1) (15-17). A análise de heterogeneidade dos estudos em relação

ao desfecho principal não foi significativa (p=0,63).

Page 171: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

161

Figura 1 – Fluxograma da revisão sistemática

Desfecho principal

A recorrência de FA foi igualmente definida nos três estudos como detecção da

arritmia através de um eletrocardiograma, monitorização eletrocardiográfica contínua de

24 horas ou presença de sintomas característicos de FA semelhantes aos observados pré-

ablação. Nos três estudos, alguns pacientes foram submetidos a mais de um

procedimento na vigência de uma recorrência precoce de FA sem melhora clínica.

Sendo assim, a recorrência da FA foi analisada de duas formas: recorrência total e

recorrência após procedimento único.

Fibrilação atrial (FA), isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares (IESVP)

Estudos relevantes identificados para revisão inicial (n=704).

Estudos excluídos por não caracterizarem ensaios clínicos (n=692).

Ensaios clínicos selecionados para uma avaliação mais detalhada (n=16).

Ensaios clínicos excluídos por compararem diferentes intervenções e desfechos.

Ensaios clínicos potenciais (n=4).

Ensaios clínicos incluídos na meta-análise (n=3).

Ensaios clínicos excluídos por utilizar uma técnica distinta de IESVP (n=1).

Page 172: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

162Nos estudos de Mansour et al. e Bartholomay et al., a técnica de ablação

utilizada no segundo procedimento foi a mesma. Contudo, no estudo de Oral et al., os

pacientes que apresentaram recorrência após ablação por IESVP realizaram o segundo

procedimento utilizando a AC. Estes pacientes não foram incluídos na análise de

recorrência total devido à troca de grupo em relação à intervenção terapêutica.

Seguimento após ablação

Em relação ao uso de drogas antiarritmicas diferentes estratégias foram

utilizadas. No estudo de Oral et al. e Mansour et al, drogas antiarritmicas foram

utilizadas na presença de recorrência e no estudo de Bartholomay et al, de forma

rotineira até os 2 meses, quando, então, foram suspensas.

A média de tempo de seguimento foi variada nos diferentes estudos. No estudo

de Oral et al. e Bartholomay et al., foram semelhantes entre os dois grupos, com um

seguimento médio respectivamente de 6 e 9 meses. No estudo de Mansour et al., a

média de seguimento de 21 meses no grupo do IESVP foi maior que a média de 11

meses obtida no grupo da AC.

Complicações após ablação

As complicações foram igualmente descritas nos três estudos. No entanto,

somente no estudo de Bartholomay et al. foi realizado sistematicamente exame de

imagem (ressonância nuclear magnética) para detecção de estenoses de VP

assintomáticas no período pós-ablação. Os estudos de Oral et al. e Mansour et al.

realizaram exames de imagem para avaliação de estenose de VP somente na presença de

sintomas.

Page 173: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

163RESULTADOS

Características dos estudos

Duzentos e quinze pacientes foram submetidos à ablação, sendo 107 do grupo

AC e 108, do grupo IESVP. Os três estudos foram unicêntricos.

As características de cada estudo estão resumidas na Tabela 1. As populações

analisadas foram similares (Tabela 2).

Tabela 1 – Características dos estudos

Estudo

Oral et al.

2003

Mansour et al.

2004

Bartholomay et al.

2005

Métodos Randomizado Não-randomizado Não-randomizado

Amostra 80 pacientes com FA paroxística

80 pacientes com FA paroxística e persistente

70 pacientes com FA paroxística

Intervenção AC x IESVP AC x IESVP AC x IESVP

Desfecho

Primário

Secundário

Recorrência de FA após procedimento.

Segurança do procedimento em relação à mortalidade, AVE, estenose VP, acidentes vasculares, tamponamento.

Recorrência de FA após procedimento.

Segurança do procedimento em relação à mortalidade, AVE, estenose VP, acidentes vasculares, tamponamento.

Recorrência de FA após procedimento

Segurança do procedimento em relação à mortalidade, AVE, estenose VP, acidentes vasculares, tamponamento.

Randomização Não descrita classe-B* Não utilizada-classe D* Não utilizada-classe D*

Observações AC utilizada no segundo procedimento em ambos os grupos

FA persistente excluída na análise dos resultados

RNM de rotina após procedimento

IESVP (isolamento elétrico das veias pulmonares), AC (abordagem circunferencial),

FA (fibrilação atrial), AVE (acidente vascular encefálico, “*”classificação da alocação

do estudo segundo a “Cochrane Reviewers’ Handbook” (12).

Page 174: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

164

Tabela 2 – Características da população nos três estudos

Oral et al Mansour et al Bartholomay et al

Número de pacientes

AC

40

IESVP

40

AC

32

IESVP

33

AC

35

IESVP

35

Idade média (anos) 54 51 55 53 53 50

Sexo masculino 31 31 35 33 29 25

Tempo FA (anos) 7 7 - - 7 6

Episódios mensais 12 12 - - 17 21

Fração ejeção (%) 57 55 - - 60 60

Átrio esquerdo (mm) 41 39 40 39 40 38

Doença cardíaca estrutural

1 3 5 5 6 5

IESVP (isolamento elétrico das veias pulmonares), AC (abordagem circunferencial),

FA (fibrilação atrial).

Características do procedimento

Foram encontradas heterogeneidades significativas entre os três estudos em

relação ao tempo cirúrgico (p=0,004), tempo de radioscopia (p=0,001) e o tempo de

radiofreqüência (p=0,02). Também foram encontradas diferenças significativas entre as

duas técnicas (Tabela 3). Os pacientes que apresentaram recorrência da FA sem melhora

clínica foram submetidos a um segundo procedimento.

Page 175: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

165Tabela 3 – Características do procedimento

Oral et al Mansour et al Bartholomay et al

IESVP AC IESVP AC IESVP AC p

Tempo total (min) 156±45 149±43 - - 107±33 145±38 0,004

Tempo de RF (min) 18±9 42±14 44±26 71,4±5 10±5 42±15 0,00001

Tempo de Rx (min) 50±17 39±12 16±4,8 14,4±4,5 53±18 34±13 0,0002

Dois procedimentos 7 0 4 2 4 4 0,04

IESVP (isolamento elétrico das veias pulmonares), AC (abordagem circunferencial), RF

(radiofreqüência), Rx (radioscopia).

Recorrência da fibrilação atrial

Após um seguimento médio de 11 meses, 91 (85%) pacientes do grupo AC

apresentaram-se livres de recorrência de FA e 76 (71%) pacientes do grupo IESVP,

demonstrando uma maior eficácia no grupo de AC, com Peto OR 0,42 (IC 95% 0,22-

0,78) (Figura 2). Quando analisada a recorrência após procedimento único, 88 (82%)

pacientes no grupo AC não apresentaram recorrência de FA e 68 (63%) pacientes no

grupo IESVP com Peto OR 0,38 (IC 95% 0,21-0,69) (Figura 3).

Abordagem circunferencial (AC), isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares (IESV).

Figura 2 – Recorrência total de fibrilação atrial após procedimento

Page 176: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

166A análise de sensibilidade, comparando o estudo randomizado com os 2 não-

randomizados, não demonstrou diferenças significativas em relação ao tamanho do

efeito para o desfecho recorrência após procedimento único (p=0,48). O estudo

randomizado apresentou uma menor recorrência de FA após procedimento único no

grupo AC com Peto OR 0,27 (IC 95% 0,09-0,77) e um NNT de 4 (IC 95% 2,5-20)

pacientes. A análise conjunta dos 2 estudos não-randomizados demonstrou, a favor do

grupo AC, para o mesmo desfecho: um Peto OR 0,45 (0,22-0,77) e um NNT de 6 (IC

95% 3-50) pacientes.

Abordagem circunferencial (AC), isolamento elétrico segmentar das veias pulmonares (IESV).

Figura 3 – Recorrência total de fibrilação atrial após procedimento único

Complicações pós-procedimento

Foram realizados 236 procedimentos e as principais complicações estão

resumidas na Tabela 4. Quatro estenoses de VP foram diagnosticadas e todas ocorreram

no grupo de IESVP (p=0,04), correspondendo a 3,5% dos pacientes submetidos ao

IESVP. Quatro pacientes apresentaram taquicardias atriais macroreentrantes após

ablação, todos no grupo AC (p=0,08), correspondendo a 2,4% do grupo AC. Não houve

Page 177: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

167diferenças significativas entre os dois grupos nas demais complicações descritas. Em

relação aos AVE, 2 pacientes apresentaram recuperação total do déficit neurológico e 1

paciente permaneceu com seqüelas. Nenhum óbito foi registrado.

Tabela 4 – Complicações após procedimento

Complicações AC

123

IESVP

113

P

Óbito 0 0 -

Estenose de VP 0 4 0,04

Taquicardias atriais macroreentrantes 3 0 0,08

AVE 3 1 0,60

Tamponamento cardíaco 1 2 0,54

Vasculares periféricos 2 0 0,15

Soma dos eventos 9 7 0,56

IESVP (isolamento elétrico das veias pulmonares), AC (abordagem circunferencial),

VP (veias pulmonares), AVE (acidente vascular encefálico).

Page 178: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

168DISCUSSÃO

Resultados principais

Os resultados desta revisão sistemática demonstram que a AC foi mais eficaz na

diminuição da taxa de recorrência de FA após ablação quando comparada ao IESVP. A

recorrência de FA após procedimento único também foi menor no grupo da ablação por

AC. Embora, isoladamente, apenas um dos estudos apresentasse uma diferença

significativa a favor da AC, os demais estudos demonstraram menores taxas de

recorrência de FA com a AC. As evidências disponíveis em estudos de série de casos já

apontavam a AC com tratamento de escolha para FA persistente e permanente (18,19),

porém, os bons resultados com ambas as técnicas, deixavam dúvida em relação à

técnica de eleição para tratamento da FA paroxística (3-8,20). Neste estudo,

encontramos, a favor da técnica por AC, uma RRA de 16% (IC 95%, 5%-26%) para

recorrência total de FA e de 19% (IC 95%, 8%-31%) para recorrência de FA após

procedimento único. O NNT calculado foi de 6 (IC 95% 4-20) pacientes para o

desfecho recorrência total e 5 (IC 95% 3-12) pacientes para recorrência após

procedimento único.

Estudos de série de casos publicados previamente demonstram que cerca de 20%

dos pacientes submetidos à ablação por IESVP, necessitam um segundo procedimento

por recorrência da FA secundária ao retorno da condução elétrica entre átrio e a VP

(3,11,18,21,22). Possivelmente, seja este o motivo que justifique um maior tamanho do

efeito da diferença entre AC e o IESVP quando a recorrência é avaliada após

procedimento único.

Características dos procedimentos

Os estudos apresentaram diferenças significativas em relação às características

do procedimento. A recente descrição destas técnicas e a curva de aprendizado dos

Page 179: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

169diferentes serviços, possivelmente, justifiquem estas diferenças. No entanto, os

resultados em relação à eficácia do procedimento são similares aos centros de maior

experiência na ablação de FA (2,3,23). As diferenças encontradas em relação aos

tempos de procedimento, radioscopia e radiofreqüência são inerentes às técnicas, mas

devem ser avaliadas com cautela devido às diferenças apresentadas entre os estudos.

Segurança do procedimento

A estenose de VP após o procedimento foi menos freqüente no grupo AC com

Peto OR de 0,12 (IC 95% 0,02-0,72). A maior ocorrência de estenose de VP nos

pacientes submetidos ao IESVP é facilmente explicável pela maior proximidade da

aplicação de radiofreqüência do óstio das VP, sendo este achado encontrado em outras

séries (24-27). No entanto, chama atenção que todos os 4 pacientes com estenose de VP

foram provenientes do estudo de Bartholomay et al. Uma possível explicação seria a

utilização de ressonância nuclear magnética de rotina neste estudo. Os estudos de Oral

et al. e Mansour et al, assim como a maioria das séries publicadas, realizaram exames de

imagem após a ablação somente na presença de sintomas (3,5,8,14,16,18-22). Todas as

estenoses de VP foram diagnosticadas em pacientes assintomáticos, desta forma, talvez,

a incidência de estenose de VP após ablação por IESVP tenha sido subestimada. Séries

recentes, onde a investigação da estenose de VP foi realizada de forma rotineira,

também encontraram uma maior incidência desta complicação, no entanto, mais estudos

são necessários para esclarecer esta questão (23,26-28).

Taquicardias atriais macroreentrantes após procedimento foram identificadas

somente no grupo AC, atingindo uma significância limítrofe (p=0,08) em relação ao

grupo IESVP. A formação de macrocircuitos de reentrada ao redor das linhas de ablação

na AC seria o mecanismo responsável pelo efeito pró-arrítmico deste tipo de

intervenção (29,30,31). A ablação focal do IESVP dificilmente leva a formação de

Page 180: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

170circuitos de reentrada no átrio esquerdo. A realização de forma sistemática de linhas de

ablação entre as áreas de lesões que envolvem as VP e no istmo mitral demonstrou

diminuir a incidência deste tipo de complicação em um estudo randomizado realizado

por Pappone et al. (31). As linhas de ablação entre as áreas de lesões que envolvem as

VP e no istmo mitral foram realizadas de forma rotineira por Oral et al. e em 12 e 5

pacientes respectivamente nos estudos de Mansour et al. e Bartholomay et al. As demais

complicações descritas como o tamponamento cardíaco, acidentes vasculares

encefálicos e periféricos distribuíram-se igualmente nos 2 grupos e são bem

estabelecidas e relacionadas às duas técnicas de ablação (3-8, 15-19,21,22).

Limitações do estudo

Esta revisão sistemática apresenta limitações que devem ser observadas. A

análise em conjunto de estudos randomizados e não-randomizados pode favorecer o

aparecimento de vieses. No entanto, a homogeneidade dos três estudos e a não-

modificação do tamanho do efeito, quando os estudos randomizados e não-

randomizados foram analisados separadamente, favorecem a fidelidade dos resultados.

O maior tempo de seguimento no grupo IESVP no estudo de Mansour et al. pode ser

responsável por uma maior taxa de recorrência neste grupo. Porém, as curvas de Kaplan

Meier, nestes estudos, demonstram uma separação precoce das curvas (em torno dos 2

meses de seguimento) que permaneceu até o final do seguimento. Estes achados são

confirmados pelas curvas apresentadas nas demais séries, apontando que as

recorrências, quando presentes, ocorrem precocemente após o procedimento (2,19,15).

Page 181: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

171CONCLUSÃO

Analisando os resultados obtidos nesta revisão sistemática podemos concluir que

a ablação por AC, para tratamento da FA paroxística, apresenta uma menor taxa de

recorrência dessa arritmia quando comparada à técnica de ablação por IESVP.

Em relação à segurança do procedimento, a técnica de ablação por AC apresenta

uma menor incidência de estenose de VP e uma tendência não-significativa de maior

incidência de taquicardias atriais macroreentrantes quando comparada à técnica de

IESVP.

Agradecimentos: agradeço ao Dr. Paulo Caramori e Vitor Osório pela valiosa

ajuda na redação deste manuscrito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Cappato R, Calkins H, Chen S, et al. Worldwide survey on the methods, efficacy,

and safety of catheter ablation for human atrial fibrillation. Circulation

2005;111:1100-5.

2- Pappone C, Oreto G, Rosanio S, et al. Atrial Electroanatomic remodeling after

circumferential radiofrequency pulmonary vein ablation: efficacy of an anatomic

approach in a large cohort of patients with atrial fibrillation. Circulation

2001;104:2539-44.

3- Haïssaguerre M, Clement J, Jaïs P, et al. Electrophysiological end point for catheter

ablation of atrial fibrillation initiated from pulmonary foci. Circulation

2000;101:1409-17.

4- Macle L, Jais P, Shah D, et al. Irrigation-tip catheter ablation pulmonary veins for

treatment of atrial fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 2002; 131:967-73.

Page 182: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

1725- Marchlinski F, Callans D, Dixit S, et al. Efficacy and safety of targeted focal

ablation versus PV isolation assisted by magnetic electroanatomic mapping. J

Cardiovasc Electrophysiol 2003;14:358-65.

6- Silva R, Mont L, Berruezo A, et al. Ablación por radiofrecuencia para el tratamiento

de la fibrilación auricular focal a través de cartografía circunferencial y aislamiento

segmentario de las venas pulmonares. Rev Esp Cardiol 2003;56:361-67.

7- Aragão P, Cavaco D, Aguiar P, et al. Ablation of pulmonary vein foci for the

treatment of atrial fibrillation. Europace 2002;4:391-99.

8- Stabile G, Turco P, La Rocca V, et al. Is pulmonary vein isolation necessary for

curing atrial fibrillation?. Circulation 2003; 108:657-60.

9- Brunner E, Burke M, Cleland J, Conti A, Dans A, Ebrahim S (Coordinating Editor),

Gabriel R, Gensini GF, Gottlieb S, Higgins J, Hood W, Hooper L, Jacobs I, Lowe J,

Moore T, Sterne J, Schroeder K, West R, Wornell K. Heart Group. In: The

Cochrane Library, Issue 1, 2005. Oxford: Update Software

10- Pappone C, Salvatore R, Chierchia S, et al. Circunferencial radiofrequency ablation

of pulmonary vein ostia: a new approach for curing atrial fibrillation. Circulation

2000; 102:2619-28.

11- Jaïs P , Weerasooriya R, Shah D, et al. Ablation therapy for atrial fibrillation (AF):

Past, present and future. Cardiovasc Res 2002;54: 337–346.

12- Alderson P, Green S, Higgins JPT, editors. Collecting data. Study

characteristics.Cochrane Reviewers’ Handbook 4.2.2 [updated December 2003];

Section 7. http://www.cochrane.org/resources/handbook/hbook.htm (accessed 31st

January 2004).

Page 183: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17313- Alderson P, Green S, Higgins JPT, editors.. Analysing and presenting results

Cochrane Reviewers’ Handbook 4.2.2 [updated December 2003]; Section 8.

http://www.cochrane.org/resources/handbook/hbook.htm (accessed 31st January

2004).

14- Marchlinski F, Callans D, Dixit S, et al. Efficacy and safety of targeted focal

ablation versus PV isolation assisted by magnetic electroanatomic mapping. J

Cardiovasc Electrophysiol. 2003;14:358-65.

15- Oral H, Scharf C, Chugh A, et al. Catheter ablation for paroxysmal atrial

fibrillation: segmental pulmonary vein ostial ablation versus left atrial ablation.

Circulation 2003;108:2355-60.

16- Mansour M, Ruskin J, Keane D,. Efficacy and safety of segmental ostial versus

circunferencial extra-ostial pulmonary vein isolation for treatment of atrial

fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 2004; 15:532-37.

17- Bartholomay E, Mont L, Berruezo A, et al. Circunferential approach versus

segmental pulmonary vein ostial ablation for the treatment of atrial fibrillation

(abstr). Rev Esp Cardiol (Suppl I) 2003;56:95I.

18- Oral H, Bradley K, Morady F, et al. Pulmonary vein isolation for paroxysmal and

persistent atrial fibrillation. Circulation 2002;105:1077-81.

19- Pappone C, Santinelli V, Manguso F, et al. Pulmonary vein denervation enhances

long-term benefit after circumferential ablation for paroxysmal atrial fibrillation.

Circulation 2004;109:327-34.

20- Scanavacca M, Sartini R, Tondato F, et al. Pulmonary veins isolation to treat

patients with refractory paroxysmal atrial fibrillation: clinical results after a single

procedure. Arq Bras Cardiol 2004 82:160-64.

Page 184: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17421- Marrouche NF, Dresing T, Cole C, et al. Circular mapping and ablation of the

pulmonary vein for treatment of atrial fibrillation: impact of different catheter

technologies. J Am Coll Cardiol 2002;40:464-74.

22- Oral H, Knight BP, Ozaydin M, et al. Segmental ostial ablation to isolate the

pulmonary veins during atrial fibrillation: feasibility and mechanistic insights.

Circulation 2002;106:1256-62.

23- Knight B, Oral H, Chugh A, et al. Effects of operator experience on the outcome

and duration of pulmonary vein isolation procedures for atrial fibrillation. Am J

Cardiol 2003;91:673-77.

24- Scharf C, Sneider M, Case I, et al. Anatomy of the pulmonary veins in patients with

atrial fibrillation and effects of segmental ostial ablation analyzed by computed

tomography. J Cardiovasc Electrophysiol 2003;14:150-55.

25- Purerfellner H, Cihal R, Aichinger J, et al. Pulmonary vein stenosis by ostial

irrigated-tip ablation: incidence, time course, and prediction. J Cardiovasc

Electrophysiol 2003;14:158-64.

26- Dill T, Neumann T, Ekinci O, et al. Pulmonary vein diameter reduction after

radiofrequency catheter ablation for paroxysmal atrial fibrillation evaluated by

contrast-enhanced three-dimensional magnetic resonance imaging. Circulation

2003;107:845-50.

27- Kato R, Lickfett L, Meininger G, et al. Pulmonary vein anatomy in patients

undergoing catheter ablation of atrial fibrillation: lessons learned by use of magnetic

resonance imaging. Circulation 2003;107:2004-10.

28- Saad E, Rossillo A, Saad C, et al. Pulmonary vein stenosis after radiofrequency

ablation of atrial fibrillation: functional characterization, evolution, and influence of

the ablation strategy. Circulation 2003;108:3102-07.

Page 185: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17529- Ernst S. Schluter S, Ouyang F, et al. Modification of the substrate for maintenance

of idiopathic human atrial fibrillation: efficacy of radiofrequency ablation using

nonfluoroscopic catheter guidance.Circulation 1999;100:2085-92.

30- Kanagaratnam L, Tomassoni G, Schweikert R, et al. Empirical pulmonary vein

isolation in patients with chronic atrial fibrillation using a three-dimensional

nonfluoroscopic mapping system: long-term follow-up. Pacing Clin Electrophysiol

2001;24:1774-79.

31- Pappone C, Manguso F, Vicedomini G, et al. Prevention of iatrogenic atrial

tachycardia after ablation of atrial fibrillation: a prospective randomized study

comparing circumferential pulmonary vein ablation with a modified approach.

Circulation 2004;110:3036-42.

Page 186: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 187: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

177

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA BASE TEÓRICA

1- Gregory L, Beevers G. ABC of atrial fibrillation: history, epidemiology, and

importance of atrial fibrillation. BMJ 1995;311:1361-3.

2- Flegel K. Delirium cordis to atrial fibrillation: historical development of a disease

concept. Ann Intern Med 1995;122:867-73

3- Hering H. Das elektrocardiogramm de pulsus irregularis perpetuus. Deutsches

Archiv für Klinische Medizin 1908;94:205-58.

4- Lewis T. Auricular fibrillation: a comon clinical condition. BMJ 1909;2:1528.

5- Lewis T. In: The mechanism and graphic registration of the heart tribution beat,

3rd ed., London: Shaw; 1925:319–74.

6- Moe G, Rheinboldt C, Abildskow J. A computer model of atrial fibrillation. Am

Heart J 1964;67:200-20.

7- Cox J, Boineau J, Schussler R, et al. Successful surgical treatment of atrial

fibrillation. Review and clinical update. JAMA 1991;266:1976-80.

8- Alessie M, Rensma P, Brugada J, et al. Pathophysiology of atrial fibrillation. In

Zipes DP, Jalife J, editors. Cardiac Electrophysiology: From Cell to Beaside.

Phyladelphia:WB.Saunders; 1990:548-59.

9- Haïssaguerre M, Jais P, Clementy J, et al. Spontaneous initiation of atrial

fibrillation by ectopy beats origination in the pulmonary veins. N Eng J Med

1998;339:659-66.

10- Levy S, Breithardt G, Campbell R, et al. Working Group Report of Atrial

fibrillation: current knowledge and recommendations for management. Eur Heart J

1998;19:1294–320.

11- Fuster V, Gibbons R, Klein W, et al. American College of Cardiology/American

Heart Association/ European Society of Cardiology: Practice Guidelines for Atrial

Fibrillation. J Am Coll Cardiol 2001;38:1266ii-1266Ivi.

Page 188: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17812- Braunwald E, Perloff J. Physical examination of the heart and circulation. In

Braunwald E, Zipes D, Libby P editors, Heart Disease 6th ed. Boston: Saunders;

2001:445-79.

13- Levy S, Novella P, Richard P, et al. Paroxysmal atrial fibrillation: A need for

classification. J Cardiovasc Electrophysiol 1995; 6: 69–74.

14- Gallagher MG, Camm AJ. Classification of atrial fibrillation. Pacing Clin

Electrophysiol. 1997;20:1603–05

15- Evans W, Swan P. Lone auricular fibrillation. Br Heart J 1954; 16:189-94.

16- Brand F, Abbot R, Wolf P, et al. Characteristics and prognosis of lone atrial

fibrillation: 10 -years follow-up in the Framingham Study. JAMA 1985;254:3449-

53.

17- Kopecky S, Bernard G, Frye R, et al. The natural history of lone atrial fibrillation:

population-based study over three decades. N Eng J Med 1987;317:669-74.

18- Askwey J, Bernstein S. The management of rheumatic heart disease in relation to

systemic arterial embolism. Prog Cardiovasc Dis 1960;3:220-32.

19- Wells J, Karp R, Waldo A, et al. Characterization of atrial fibrillation in man:

studies following open heart surgery. Pacing Clin Electrophysiol 1978;1:426-38.

20- Winterberg H. Studien uber herzflimmern. I. Uber die wirkung des N. vagus und

accelerans auf das Flimmern des Herzens. Pflugers. Arch Physiol 1907;117:223–

56.

21- Mines GR. On dynamic equilibrium in the heart. J Physiol 1913;43:349–83.

22- Moe G, Abildskov J. Atrial fibrillation as a self-sustained arrhythmia independent

of focal discharge. Am Heart J 1959:58:59-70

23- Alessi R, Abildskov J, Moe G, et al. Nonuniform distribuiton of vagal effects on

the atrial refractory period. Am J Physiol 1958;194:406.

24- Cox J, Schuessler R, Boineau J. The development of the Maze procedure for the

treatment of atrial fibrillation. Semin Thorac Cardiovasc Surg 2000;12:2–14.

Page 189: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

17925- Allessie M, Lammers W, Bonke F, et al. Dynamics of wavelets and experimental

evaluation of Moe’s multiple wavelet hypothesis of atrial their role in atrial

fibrillation in the isolated sheep heart. In: Zipes DP, Jalife J, ed. Cardiac

electrophysiology and arrhythmias. Orlando: Grune and Stratton; 1985:265–75.

26- Kirchof C, Chorro F, Scheffer G, et al. Regional entrainment of atrial fibrillation

studied by high-resolution mapping in open-chest related to propagation of

excitation dogs. Circulation 1993;88:736–49.

27- Cox J, Canavan T, Schuessler R, et al. The surgical treatment of atrial fibrillation.

Intraoperative electrophysiologic mapping and the right atrium and the left atrium

via the musculature of the description of the electrophysiologic basis of atrial

flutter and atrial fibrillation. J Thorac Cardiovasc Surg 1991;101:406–26.

28- Lesh M, Pring M, Spear J. Cellular uncoupling can unmask dispersion of action

potential duration in ventricular myocardium. A computer modeling study. Circ

Res 1989;65:1426–40.

29- Akar F, Laurita K, Rosenbaum D. Cellular basis for dispersion of repolarization

underlying reentrant arrhythmias. J Electrocardiol 2000;33(Suppl.):23–31.

30- Hart R, Halperin J. Atrial fibrillation and stroke: concepts and controversies.

Stroke 2001;32:803–8.

31- Benjamin E, Wolf P, D’Agostino R, et al. Impact of atrial fibrillation on the risk

of death: Framingham Heart Study. Circulation 1998;98:946–52.

32- Middlekauff H, Stevenson W, Stevenson L. Prognostic significance of atrial

fibrillation in advanced heart failure. A study of 390 patients. Circulation

1991;84:40–8.

33- Godtfredsen J. Atrial Fibrillation: Etiology, Course and Prognosis: A Follow-up

Study of 1212 Cases. Copenhagen: Munksgaard; 1975.

34- Kopecky S, Gersh B, McGoon M, et al. The natural history of lone atrial

fibrillation: a population based study over three decades. N Engl J Med

1987;317:669-74.

35- Bando K, Kobayashi J, Sasako Y, et al. Effect of maze procedure in patients with

atrial fibrillation undergoing valve replacement. J Heart Valve Dis 2002;11:719-

24.

Page 190: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18036- Nakajima H, Kobayashi J, Bando K, et al. Consequence of atrial fibrillation and

the risk of embolism after percutaneous mitral commissurotomy: The necessity of

the maze procedure. Ann Thorac Surg 2004;78:800-5.

37- Wijffels M, Kirchhof C, Allessie M, et al. Atrial fibrillation begets atrial

fibrillation. A study in awake chronically instrumented goats. Circulation

1995;92:1954-68.

38- Morilo C, Klein G, Guiraudon C, et al. Chronic rapid atrial pacing. Structural,

functional, and electrophysiological characteristics of a new model of sustained

atrial fibrillation. Circulation 1995;91:1588-95.

39- Rensma P, Allessie M, Scalij M, et al. Lenght of excitation wave and

susceptibility to reentrant atrial arhythmias in normal conscious dog. Cir Res

1988;9:1378-93.

40- Allessie M. Atrial electrophisiologic remodeling: another vicious circle ? J

Cardiovasc Electrophysiol 1998;9:1378-93.

41- Konings K, Kirchhof C, Allessie M, et al. High density mapping of electrically

induced atrial fibrillation in humans. Circulation 1994;89:1665-8.

42- Gaspo R, Bosch R, Nattel S, et al. Tachycardia-induced changes in Na current in a

chronic dog model of atrial fibrillation. Cir Res 1997;81:1045-52.

43- Van der Velden H, Van de Zee L, Allessie M, et al. Atrial fibrillation in goat

induces changes in monophasic action potential and mRNA expression of ion

channels involved in repolarization. J Cardiovasc Electrophysiol 2000;11:1262-9.

44- Yue L, Feng J, Nattel S. Ionic remodeling underlying action potential changes in a

canine model atrial fibrillation. Cir Res 1997;81:512-25.

45- Attuel P, Childers R, Haïssaguerre M, et al. Failure in the rate adaptation of the

atrial refractory periods: new parameter to assess atrial vulnerability. Pacing Clin

Electrophysiol 1984;7:1382.

46- Franz M, Karasik P, Chavez M, et al. Electrical remodeling of the human atrium:

similar effects in patients with chronic atrial fibrillation and atrial flutter. J Am

Coll Cardiol 1997;30:1785-92.

Page 191: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18147- Van Wagoner D, Pond A, Nerbone J, et al. Atrial L-type Ca2+ currents and human

atrial fibrillation. Cir Res 1999;85:428-36.

48- Bosch R, Zeng X, Grammer J, et al. Ionic mechanism of electrical remodeling in

human atrial fibrillation. Cardiovasc Res 1999;44:121-31.

49- Yu W, Lee S, Chen S, et al. Reversal of atrial electrical remodeling following

cardioversion of long-standing atrial fibrillation in man. Cardiovasc Res

1999;42:470-6.

50- Everett T, Mangrum J, Haines D, et al. Electrical, morphological, and

ultrastructural remodeling and reverse remodeling in a canine model of chronic

atrial fibrillation. Circulation 2000;102:1454-60. 5.

51- Boregers M, Thone F, Flameng W, et al. Structural correlates of regional

myocardial dysfunction in patients with critically coronary artery stenosis.

Chronic hibernation?. Cardiovasc Pathol 1993;2:237-4

52- Dispersyn G, Ausma J, Borgers M, et al. Cardiomyocyte remodeling during

myocardial hibernation and atrial fibrillation: prelude to apoptosis. Cardiovasc Res

1999;43:947-57.

53- Frustaci A, Chimenti C, Maseri A. Histological substrate of atrial biopsies in

patients with lone atrial fibrillation. Circulation 1997;96:1180-4.

54- Logan W, Rowlands D, Holmes A, et al. Left atrial activity following

cardioversion. Lancet 1965;ii:471-7.

55- Manning W, Silverman D, Douglas , et al. Impaired left atrial mechanical function

after cardioversion: relation to the duration of atrial fibrillation. J Am Coll Cardiol

1994;23:1535-40.

56- Grimm R, Leung D, Klein A, et al. Left atrial appendage stunning after spontaneus

conversion of atrial fibrillation demonstrated by transesophageal doppler

echocardiography. Am Heart J 1995;130:1446-7.

57- Fatkin D, Kuchar D, Fenely M, et al. Transesophageal echocardiography before

and during direct current cardioversion of atrial fibrillation: evidence for atrial

stunning as a mechnism of thromboembolic complications. J Am Coll Cardiol

1994;23:307-16.

Page 192: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18258- Schottet U, Greiser M, Allessie M, et al. Atrial fibrillation-induced atrial

contractile dysfunction: a tachymiocardiopathy of a different sort. Cardiovasc Res

2002;53:192-201.

59- Schotten U, Allessie M. Electrical and contractile remodeling during atrial

fibrillation go hand-in-hand. Pacing Clin Electrophysiol 2001;24:572.

60- Alessie M, Ausma J, Schotten U. Electrical, contractile and structural remodelin

during atrial fibrillation. Cardiovasc Res 2002;54:230-46.

61- Benjamin E, Levy D, Vazri S, et al. Independent risk factors for atrial fibrillation

in a population-based cohort: the Framingham Heart Study. JAMA 1994;271:840-

44

62- Horstkotte D. Arrhythmias in the natural history of mitral stenosis. Acta Cardiol

1992;47:105-13.

63- Allessie M, Penelope A, Waldo A, et al. Pathophysiology and prevention of atrial

fibrillation. Circulation 2001;103:769-77.

64- Li D, Farch S, Leung T, et al. Promotion of atrial fibrillation by heart failure in

dogs: atrial remodeling of a diferent sort. Circulation 1999;100:87-95.

65- Kucera J, Kleber A, Rohr S. Slow conduction in cardiac tissue II: effects of

branching tissue geometry. Cir Res 1998;83:795-805.

66- Chen A, Hsieh M, Tai C, et al. Initiation of atrial fibrillation by ectopic beats

originating from pulmonary veins: Electrophysiological characteristics,

pharmacological responses, and effects of radiofrequency ablation. Circulation

1999;100:1879-1886.

67- Pappone C, Salvatore R, Chierchia S, et al. Circunferencial radiofrequency

ablation of pulmonary vein ostia: a new approach for curing atrial fibrillation.

Circulation 2000; 102:2619-28.

68- Oral H, Bradley K, Morady F, et al. Pulmonary vein isolation for paroxysmal and

persistent atrial fibrillation. Circulation 2002;105:1077-81.

69- Jalife J, Berenfeld O, Mandapati R, et al. Mechanisms of atrial fibrillation: mother

rotors or multiple daughter wavelets, or both? J Cardiovasc Electrophysiol

1998;9;:S2-S12.

Page 193: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18370- Mandapati R, Skames A, Jalife J, et al. Stable microreentrant sources as a

mechanism of atrial fibrillation in the isolated sheep heart. Circulation

2001;101:194-99.

71- Jalife J, Brenfeld O, Mansour M. Mother rotors and fibrillatory conduction: a

mechanism of atrial fibrillation. Cardiovasc Res 2002;54:204-216.

72- Kannel B, Abbot R, Savage D, et al. Epidemiologic features of chronic atrial

fibrillation. N Eng J Med 1982;306:1018-22.

73- Wolf P, Abbot R, Kannel W. Atrial fibrilation: a major contribuitor to stroke in the

elderly: the Framingham study. Arch Intern Med 1987;147:1561-64.

74- Wolf P, Abbot R, Kannel W. Atrial fibrillation as an independent risk factor for

stroke: the Framingham study. Stroke 1991;22:983-88.

75- Party B, Manolio T, KullerL, et al. Incidence of and risk factors for atrial

fibrillation in olders adults. Circulation 1997;96:2455-61.

76- Manolio T, Furberg C, Rautaharju P, et al. Cardiac arrhythmias on 24 hours

ambulatory electrocardiography in older women and men. The Cardiovascular

Health Study. J Am Coll Cardiol 1984;23:916–25.

77- Furberg C, Psaty B, Manolio T, et al. For the CHS Collaborative Research Group.

Prevalence of atrial fibrillation in elderly subjects (The Cardiovascular Health

Study). Am J Cardiol 1994;74:236–41.

78- Bialy D, Lehmann M, Schumacher D, et al. Hospitalization for arrhythmias in the

United States; importance of atrial fibrillation(abst). J Am Coll Cardiol

1992;19:41A.

79- Bartholomay E, Kalil C, Halperin C. Arritmias Cardíacas. In: Michelin F, ed.

Doenças do Coração. Rio de Janeiro:Robe;2003:705-34.

80- Kalil C, Cavalcanti M, Bartholomay E. Manejo das arritmias cardíacas nas

doenças pulmonares. In: Teixeira P, ed. Doenças Respiratórias Graves. Rio de

Janeiro: Revinter; 2003:339-50.

81- Briton M, Gustafsson C. Non-rheumatic atrial fibrillation as a risk for a stroke.

Stroke 1985;16:182-88.

Page 194: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18482- Stroke Prevention in Atrial Fibrillation Investigators. Predictors of

thromboembolism in atrial fibrillation:Clinical features of patients at risk. The

stroke prevention in atrial fibrillation. Ann Inter Med 1992;116:6-12.

83- Stoddard M, Dawkins P, Prince C, et al. Left atrial appendage thrombus is not

uncommon in patients with acute atrial fibrillation and a recent embolic event: A

transesophageal echocardiographic study. J Am Coll Cardiol 1995; 25: 452–9.

84- Mügge A, Kühn H, Nikutta P, et al. Assessment of left atrial appendage function

by biplane transesophageal echocardiography in patients with nonrheumatic atrial

fibrillation: Identification of a subgroup of patients at increased embolic risk. J

Am Coll Cardiol 1994; 23: 599–607.

85- Velho F, Dotta F, Bartholomay E, et al. Association between the effect of

spontaneous contrast in the thoracic aorta and recent ischemic stroke determined

by transesophageal echocardiography. Arq Bras Cardiol 2004;82:47-51.

86- Petersen P, Godtfredsen J. Embolic complications in paroxysmal atrial fibrillation.

Stroke 1986; 17: 622–6.

87- Hart R, Pearce L, Rothbart R, et al. Stroke with intermitent atrial fibrillation:

incidence and predictors with aspirin therapy. Stroke Prevention in Atrial

Fibrillation Investigators. J Am Coll Cardiol 2000;35:183-7.

88- Resnekov L, McDonald L. Electroversion of lone atrial fibrillation and flutter

including haemodynamic studies at rest and on exercise. Br Heart J 1971;33:339 –

50.

89- Samet P, Bernstein W, Levine S. Significance of the atrial contribution to

ventricular filling. Am J Cardiol 1965;15:195–202.

90- Skinner N, Mitchell J, Wallace A, Sarnoff S. Hemodynamic consequences of atrial

fibrillation at constant ventricular rates. Am J Med 1964;36:342–50.

91- Naito M, David D, Michelson E, et al. The hemodynamic consequences of cardiac

arrhythmias: evaluation of the relative roles of abnormal atrioventricular sequence,

irregularity of ventricular rhythm and atrial fibrillation in a canine model. Am

Heart J 1983;106:284.

Page 195: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

18592- Clark D, Plumb V, Epstein A, et al. Hemodynamic Effects of an Irregular

Sequence of Ventricular Cycle Lengths During Atrial Fibrillation J Am Coll

Cardiol 1997;30:1039 –45.

93- Gosselink A, Blanksma P, Crijns H, et al. Left ventricular beat-to-beat

performance in atrial fibrillation: contribution of Frank-Starling mechanism after

short rather than long RR intervals. J Am Coll Cardiol 1995;26:1516 –21.

94- Herbert W. Cardiac output and the varying R-R interval of atrial fibrillation. J

Electrocardiol 1973;6:131–5.

95- Sawayama T, Nezuo S, Tsuda T, Mitani K. Noninvasive evaluation of diastolic

filling patterns in patients with atrial fibrillation by ejection time and preceding

cycle length. Am J Cardiol 1980;45:1005–12.

96- Bogousslavsky J, Van Melle G, Regli F, et al. Pathogenesis of anterior circulation

stroke in patients with nonvalvular atrial fibrillation: the Lausanne Stroke

Registry. Neurology 1990;40:1046-50.

97- Aschemberg W, Scluter M, Kremer P, et al. Transesopheal two-dimensional

echocardiography for the detection of left atrial appendage thrombus. J Am Coll

Cardiol 1986;7:136-46.

98- Chimowitz M, DeGeorgia M, Poole R, et al. Left atrial spontaneous echo contrast

is highly associated with previous stroke in patients with atrial fibrillation or

mitral stenosis. Stroke 1993;24:1015–9.

99- Manning W, Leeman D, Gotch P, et al. Pulsed Doppler evaluation of atrial

mechanical function after electrical cardioversion of atrial fibrillation. J Am Coll

Cardiol 1989;13: 617–23.

100- Fatkin D, Kelly R, Feneley M. Relations between left atrial appendage blood flow

velocity, spontaneous echocardiographic contrast and thromboembolic risk in

vivo. J Am Coll Cardiol 1994;23:961–9.

101 - Seidl K, Hauer B, Schwick N, et al. Risk of thrombembolic events in patientes

with atrial flutter. Am J Cardiol 1998, 82:580-3.

102- Stoddard M, Dawkins P, Prince C, et al. Left atrial appendage thrombus is not

uncommon in patients with acute atrial fibrillation and a recent embolic event: a

transesophageal echocardiographic study. J Am Coll Cardiol 1995;25:452–9.

Page 196: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

186103- Gustafsson C, Blomback M, Britton M, et al. Coagulation factors and the increased

risk of stroke in nonvalvular atrial fibrillation. Stroke 1990; 21:47–51.

104- Al-Saady N, Davies M, Luddington L, et al. Tissue factor and von Willebrand

factor expressions increased in the atrial tissue of the fibrillating atrium (Abstr).

Circulation 2000;100(Suppl I): I-285.

105- Heppell R, Berkin K, McLenachan J, et al. Haemostatic and haemodynamic

abnormalities associated with left atrial thrombosis in non-rheumatic atrial

fibrillation. Heart 1997;77:407–11

106- Asakura H, Hifumi S, Jokaji H, et al. Prothrombin fragment F1+2 and thrombin-

antithrombin III complex are useful markers of the hypercoagulable state in atrial

fibrillation. Blood Coagul Fibrinolysis 1992;3:469–73.

107- Lip G, Lip P, Zarifis J, et al. Fibrin D-dimer and beta-thromboglobulin as markers

of thrombogenesis and platelet activation in atrial fibrillation: effects of

introducing warfarin and aspirin. Circulation 1996;94:425–31.

108- Blackshear J, Pearce L, Heart R, et al. Aortic plaque in atrial fibrillation:

prevalence, predictors, and thromboembolic implications. Stroke 1999;30:834-40.

109- Hart G, Pearce L, Rose G, et al. Cardioembolic vs noncardioembolic strokes in

atrial fibrillation: Frequency and effect of antithrombotic agents in the stroke

prevention in atrial fibrillation studies. Cerebrovasc Dis 2000;10:39-43.

110- Stroke Prevention in Atrial Fibrilation Investigators. Stroke Prevention in Atrial

Fibrilation Study. Final results. Circulation 1991;84:527-39.

111- Pearce L, McBride R, Rothbart R, et al. The Stroke Prevention in Atrial

Fibrillation (SPAF) Investigators. Factors associated with ischemic stroke during

aspirin therapy in atrial fibrillation: analysis of 2012 participants in the SPAF I-III

clinical trials. Stroke 1999; 30:1223–9.

112- Petersen P, Boysen G, Godtfredsen J, et al. Placebo-controlled, randomised trial of

warfarin and aspirin for prevention of thromboembolic complications in chronic

atrial fibrillation. The Copenhagen AFASAK study. Lancet 1989;1:175-9.

Page 197: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

187113- Ezekowiyz M, Bridgers S, James K, et al. Warfarin in the prevention of stroke

associated with nonrheumatic atrial fibrillation. Veterans Affaris Stroke

Prevention in Nonrheumatic Atrial Fibrillation Investigators. (published erratum

appears in N Eng J Med 1993;328:148). N Eng J Med 1992;327:1406-12.

114- No authors listed. The effect of low dose warfarin on the risk of stroke in patients

with atrial fibrillation. The Boston Area Anticoagulation Trial of Atrial

Fibrillation Investigators. N Eng J Med 1990;323:1504-11.

115- Ezekowiyz M, Bridgers S, James K, et al. Warfarin in the prevention of stroke

associated with nonrheumatic atrial fibrillation (SPINAF). N Eng J Med

1992;327:1406-12

116- EAFT (European Atrial Fibrillation Trial) Study Group. Secondary prevention in

non-rheumatic atrial fibrillation after transient ischaemic attack or minor stroke.

Lancet 1993;342:1255-62.

117- Hart G, Benavente O, McBride R, et al. Antithrombotic therapy to prevent stroke

in patients with atrial fibrillation: a meta-analysis. Ann Intern Med 1999;131:492-

501.

118- Stroke Prevention in Atrial Fibrilation Investigators. Bleeding during

antithrombotic therapy in patients with atrial fibrillation. Stroke Prevention in

Atrial Fibrilation Study. N Eng J Med 1990;323:1501-11.

119- Gorter J. Major bleeding during anticoagulation after cerebral ischemia: patterns

and risk factors. Stroke Prevention in Reversible Ischemia Trial (SPIRIT).

European Atrial Fibrillation Trial (EAFT) study group. Neurology 1999;53:1319-

27.

120- Connolly S, Laupacis A, Gent M, et al. Canadian atrial fibrillation anticoagulation

(CAFA). J Am Coll Cardiol 1991;18:349-55.

121- Stroke Prevention in Atrial Fibrilation Investigators. Warfarin vs aspirin for

prevention of thromboembolism in atrial fibrillation. Stroke Prevention in Atrial

Fibrillation Study II.Lancet 1994;343:687-91.

Page 198: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

188122- The SPAF III Writing Comittee for the Stroke Prevention in Atrial Fibrillation

Investigators. Patients with nonvalvular atrial fibrillation at low risk of stroke

during treatment with aspirin. Stroke Prevention in Atrial Fibrillation III Study.

JAMA 1998;23:570-4.

123- Laupacis A, Albers G, Dalen J, Dunn MI, Jacobson AK, Singer DE.

Antithrombotic therapy in atrial fibrillation. Chest 1998;114:579S– 89S.

124- Shinbane J, Wood M, Jensen N, et al. Tachycardia induced-cadiomiopathy: a

review of animal models and clinical studies. J Am Coll Cardio 1997;29:709-15.

125- Coleman N, Taylos R, Pool E, et al. Congestive heart failure following chronic

tachycardia. Am Heart J 1971:81:790-8.

126- Spinale L, Tanaka R, Crawford F, et al. Changes in myocardio blood flow during

development and recovery from tachycardia-induced cadiomiopathy. Circulation

1992;85:719-21.

127- Perreault C, Shannon R, Komamura K, et al. Abnormalities in intracellular calcium

regulation and contractile function in myocardium from dogs with pacing-induced

heart failure. J Clin Invest 1992;89:932-8.

128- O´Brien P, Moe G, Cory R, et al. Myocardial sarcoplasmic reticulum function in

the development and recovery from heart failure (abstract). J Am Coll Cardiol

1993;21:255A.

129- Wolff M, Whitesel L, Moss R, et al. Calcium sensitivity of isometric tension is

increased in canine experimental heart failure. Cir Res 1995;76:781-9.

130- Gossage A, Baxton H. On auricular fibrillation. Q J Med 1913;6:176-85.

131- Kieny J, Sacrez A, Facello A, et al. Increase in radionuclide left ventricular

ejection fraction after cardioversion of chronic atrial fibrillation in dilated

cardiomyopathy. Eur Heart J 1992;13:1290-5.

132- Hohnloser S, Kuck K, Lilienthal J, et al. Pharmacological intervention in atrial

fibrillation (PIAF): a randomised trial. Lancet 2000; 356: 1789–94.

133- Van Gelder I, Hagens V, Bosker A, et al. A comparison of rate control and rhythm

control in patients with recurrent persistent atrial fibrillation (AFFIRM). N Eng J

Med 2002; 347:1834-40.

Page 199: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

189134- Grosselink A, Crijns J, Van Gelder I, et al. Low-dose of amiodarone for

maintenance of sinus rhythm after cardioversion of atrial fibrillation and flutter.

JAMA 1992;267:3289-93.

135- Chun S, Sager P, Stevenson W, et al. Long-term efficacy of amiodarone for the

maintance of normal sinus rhythm in patients with refractory atrial fibrillation or

flutter. Am J Cardiol 1995;76:47-50.

136- Kosior D, Szulc M, Zawadzka M, et al.Role amiodarone in sinus rhythm

maintenance after successful cardioversion in patients with chronic non-valvular

atrial fibrillation. Pol Arch Med Wewn 2002;108(6):1151-60.

137- Williams V. Classification of anthiarrhytmic action reassessed after a decade of

new drugs. J Clin Pharmacol 1984;24:129-47.

138- Karlson B, Torstensson I, Abjorn C, et al. Disopyramide in the maintenance of

sinus rhythm after electroconversion of atrial fibrillation. A placebo-controlled

one-year follow-up study. Eur Heart J 1988;9:284-90.

139- Pedersen O, Bagger H, Keller N, et al. Efficacy of dofetilide in the treatment of

atrial fibrillation-flutter in patients with reduced left ventricular function: A

Danish Investigations of Arrhythmia and Mortality ON Dofetilide (DIAMOND)

Substudy. Circulation. 2001;104:292-96.

140- Pietersen A, Hellemann H. Usefulness of flecainide for prevention of paroxysmal

atrial fibrillation and flutter.Am J Cardiol 1991;67(8):713-7.

141- Coplen S, Antman E, Berlin J, et al. Efficacy and safety of quinidine therapy for

maintenance of sinus rhythm after cardioversion. A meta-analysis of randomized

control trials. Circulation 1990;82:1106-16.

142- Kochiadakis G, Marketou M, Igoumenidis N, et al. Amiodarone, sotalol, or

propafenone in atrial fibrillation: which is preferred to maintain normal sinus

rhythm? Pacing Clin Electrophysiol 2000;23:1883-7.

143- Edvardsson N, Huikkuri H, Kenneback G, et al. Antiarrhythmic efficacy by a class

III agent with and without betablockade in chronic atrial fibrillation: a double-

blind randomized comparison of d,l sotalol, d sotalol and placebo (abstr). J Am

Coll Cardiol 1996;27(Suppl):46A.

Page 200: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

190144- Cruz C, Torres I, Bovio P, et al. The effectiveness and safety of d,l-sotalol in the

ambulatory treatment of atrial fibrillation and flutter. Arch Inst Cardiol Mex

1998;68:482-91.

145- Juul-Moller S, Edvardsson N, Rehnqvist-Ahlberg N. Sotalol versus quinidine for

the maintenance of sinus rhythm after direct current conversion of atrial

fibrillation. Circulation 1990;82:1932-9.

146- Benjamin E, Levy D, Vaziri E, et al. Controlled release metoprolol. Clinical

pharmacokinetics and therapeutic implications. Clin Pharmacokinet 1991;21:319 –

30.

147- Kühlkamp V, Scirdewan A, Stang K, et al. Use of metoprolol CR/XL to maintain

sinus rhythm after conversion from persistent atrial fibrillation: a randomized,

double-blind, placebo-controlled study. J Am Coll Cardiol 2000;36:139 –46.

148- Coletta A, Thackray S, Nikitin N, et al. Clinical trials update: highlights of the

scientific sessions of The American College of Cardiology, 2002: LIFE,

DANAMI 2, MADIT-2, MIRACLE-ICD, OVERTURE, OCTAVE, ENABLE 1&

2, CHRISTMAS, AFFIRM, RACE, WIZARD, AZACS, REMATCH, BNP trial

and HARDBALL. Eur J Heart Fail 2002;4:381–88.

149- Corley S, Epstein A, DiMarco J, Relationships between sinus rhythm, treatment,

and survival in the Atrial Fibrillation Follow-Up Investigation of Rhythm

Management (AFFIRM) Study. Circulation 2004;109:1509-13

150- Brignole M, Menozzi C, Gianfranchi L, et al. Assessment of atrioventricular

junction ablation and VVIR pacemaker versus pharmacological treatment in

patients with heart failure and chronic atrial fibrillation: a randomized, controlled

study. Circulation 1998;98: 953–60.

151- Marshall H, Harris Z, Gri M, et al. Atrio-ventricular nodal ablation and

implantation of mode switching dual chamber pacemakers: effective treatment for

drug refractory paroxysmal atrial fibrillation. Heart 1998; 79:543–7.

152- Andersen H, Nielsen J, Thomsen P, et al. Long-term follow-up of patients from a

randomized trial of atrial ventricular pacing for sick-sinus syndrome. Lancet

1997;350:1210-6.

Page 201: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

191153- Connolly S, Kerr C, Gent M, et al. Effects of physiologic pacing versus ventricular

pacing on the risk of stroke and death due to cardiovascular causes. N Eng J Med

2000;342:1385-91.

154- Lamas G, Lee K, Sweeney M, et al. Ventricular pacing or dual chamber pacing for

sinus node dysfunction. N Eng J Med 2002;346:1854-62.

155- Kale M, Bennett H. Pacemaker prevention therapies for the control of drug-

refractory paroxysmal atrial fibrillation. Europace 2003;5:123-31.

156- Stepheson E, Casavant D, Tuzi J, et al. Efficacy of atrial antitachycardia pacing

using the Medtronic AT 500 pacemaker in patients with congenital heart disease.

Am J Cardiol 2003;92:871-6.

157- Lee M, Weachter R, Pollak S, et al. The effect of atrial pacing therapies on atrial

tachyarrhytmia burden and frequency. J Am Coll Cardiol 2003;41:1926-32.

158- Carlson M, Ip J, Messenger J, et al. A new pacemaker algorithm for the treatment

of atrial fibrillation. Results of the Atrial Dynamic Overdrive Pacing Trial

(ADOPT). J Am Coll Cardioll 2003;43:627-33.

159- Wellens H, Lau C, Luderitz B, et al. Atrioverter: an implantable device for the

treatment of atrial fibrillation. Circulation 1998;98:1651-6.

160- Doaoud E, Timmermans C, Fellows C, et al. Initial clinical experience with the

ambulatory use of an implantable atrial defibrillation for conversion of atrial

fibrillation. Circulation 2000;102:1407-13.

161- Schoels W, Swerdlow, Jung W, et al. Worldwide clinical experience with a new

dual-chamber implantable cardioverter defibrillation system. J Cardiovasc

Electrophysiol 2001;12:521-8.

162- Cox J, Schuessler R, D’Agostino H et al. The surgical treatment of atrial

fibrillation. III. Development of a definitive surgical procedure. J Thorac

Cardiovasc Surg 1991;101:569–583.

163- Cox J, Jaquiss R, Schuessler R, et al. Modification of the Maze procedure for atrial

flutter and fibrillation II. Surgical technique of the maze III procedure. J Thorac

Cardiovasc Surg 1995;110:485-95.

Page 202: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

192164- Lin J, Lin F, Lin J, et al. Influence of additional partition on the recovery of atrial

function after atrial compartment operation for atrial fibrillation. Am J Cardiol

1997;79:497–99.

165- Sueda T, Katushiko I, Orihashi K, et al. Midterm results of pulmonary vein

isolation for the elimination of chronic atrial fibrillation. Ann Thorac Surg

2005;79:521-5.

166- Melo J, Adragao P, Neves J, et al. Endocardial and epicardial radiofrequency

ablation in the treatment of atrial fibrillation with a new intra-operative device.

Eur J Cardiothorac Surg 2000;18:182–6.

167- Benussi S, Pappone C, Nascimbene S, et al. A simple way to treat chronic atrial

fibrillation during mitral valve surgery: the epicardial radiofrequency approach.

Eur J Cardiothorac Surg 2000;17:524–9.

168- Gaita F, Gallotti R, Calo L, et al. Limited posterior left atrial cryoablation in

patients with chronic atrial fibrillation valvular heart surgery. J Am Coll Cardiol

2000;36:159–66.

169- Kottkamp H, Hindricks G, Hammel D, et al. Intraoperative radiofrequency

ablation of chronic atrial fibrillation: a left atrial curative approach by elimination

of anatomic ‘anchor’ reentrant circuits. J Cardiovasc Electrophysiol 1999;10:772–

80.

170- Kosakai Y. Maze results in Tarazuka City Hospital.

Web:http/www.ctsnet.org/forum/81/0/2292. Apr, 1999, on internet.

171- Jatene M, Marcial M, Jatene A, et al. Influência da operação de Cox no tratamento

da fibrilação atrial em valvopatia mitral reumática: análise comparativa de

resultados imediatos e tardios. Rev Bras Cir Cardiovasc 1998;13:105-19.

172- Kalil R, Lima G, Nesralla I, et al. Simple surgical isolation of pulmonary veins for

trating secondary atrial fibrillation in mitral valve disease. Ann Thorac Surg

2002;73:1169-73

173- Kalil R, Lima G, Nesrralla I, et al. Técnica cirúrgica simplificada pode ser eficaz

no tratamento da fibrilação atrial crônica secundária a lesão valvar mitral? Rev

Bras Cir Cardiovasc 2000;15:129-35.

Page 203: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

193174- Defauw J, Guiraudon GM, Van Hemel N, et al. Surgical therapy of paroxismal

atrial fibrillation with of the “corridor”operation. Ann Thorac Surg 1992;53:564-

71.

175- Van Hemel N, Defauw J, Kingma J et al. Long-term results of the corridor

operation for atrial fibrillation. Br Heart J 1994;71:170–6.

176- Cox J, Schussler R, Lappas D, et al. An 81/2 years clinical experience with surgery

for atrial fibrillation. Ann Surg 1996;224:267-73.

177- Kalil R, Albrecht A, Nesralla I, et al. Resultados do tratamento cirúrgico da

fibrilação atrial crônica. Arq Bras Cardiol 1999;73:139-43.

178- Martinelli M, Moreira D, Lorga A, et al. Diretrizes brasileiras de fibrilação atrial.

Arq Bras Cardiol. 2003;81(Suppl):3-24.

179- Haïssaguerre M, Gencel L, Fischer B, et al. Successful catheter ablation of atrial

fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 1994;4:1045-52.

180- Haïssaguerre M, Jais P, Shah D, et al. Right and left atrial radiofrequency catheter

therapy of paroxismal atrial fibrillation. J Cardiovasc Electrophysiol 1996;7:1132-

44.

181- Swartz JF, Pellersels G, Silvers J, et al. A catheter-based curative approach to atrial

fibrillation in humans (abstr). Circulation 1994;90 (pt III):1-335.

182- Rocha A, Farias R, Paola A, et al. Treatment of Atrial Fibrillation with

Radiofrequency Ablation and Simultaneous Multipolar Mapping of the Pulmonary

Veins. Arq Bras Cardiol 2001;77: 418-28.

183- Jaïs P,Weerasooriya R, Shah D, et al. Ablation therapy for atrial fibrillation: Past,

present and future. Cardiovasc Res 2002;54: 337–46.

184- Scanavacca M, Sartini R, Tondato F, et al. Pulmonary veins isolation to treat

patients with refractory paroxysmal atrial fibrillation. Clinical results after a single

procedure. Arq Bras Cardiol 2004;82:160-4.

185- Mangrun J, Mounsey J, Haines D, et al. Intracardiac echocardiography-guided,

anatomically based radiofrequency ablation of focal atrial fibrillation origination

from pulmonary veins. J Am Coll Cardiol 2002;39:1964-72.

Page 204: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

194186- Marrouche , Martin D, Wazni O,et al. Phased-array intracardiac echocardiography

monitoring during pulmonary vein isolation in patients with atrial fibrillation:

Impact on outcome and complications. Circulation 2003;107:2710-16.

187- Haïssaguerre, M, Shah D, Jaïs P. Catheter-Mediated Linear Block in the Atria.

Circulation 2000;102:123.

188- Pappone C, Oreto G, Rosanio S, et al. Atrial electroanatomic remodeling after

circumferential radiofrequency pulmonary vein ablation: efficacy of an anatomic

approach in a large cohort of patients with atrial fibrillation. Circulation

2001;104:2539-44.

189- Oral H, Scharf C, Chugh A, et al. Catheter ablation for paroxysmal atrial

fibrillation: segmental pulmonary vein ostial ablation versus left atrial ablation.

Circulation 2003;108:2355-60.

190- Stabile G, Turco P, La Rocca V, et al. Is pulmonary vein isolation necessary for

curing atrial fibrillation?. Circulation 2003; 108:657-60.

191- Pappone C, Santinelli V, Manguso F, et al. Pulmonary vein denervation enhances

long-term benefit after circumferential ablation for paroxysmal atrial fibrillation.

Circulation 2004;109:327-34.

192- Pachon M, Pachon M, Pachon M, et al. A new treatment for atrial fibrillation

based on spectral analysis to guide the catheter RF-ablation. Europace 2004;6:590-

601.

193-Nademanee K, McKensie J, Kosar E, et al. A new approach for catheter ablation of

atrial fibrillation: mapping of the electrophysiologic substrate. J Am Coll Cardiol

2004;43:2044-53.

194- Konings, K, Kirchhof C, Smeets J, et al. High-density mapping of electrically

induced atrial fibrillation in humans. Circulation 1994;89:1665-80.

195- Gerstenfeld E, Sahakian A, Swiryn S. Evidence for transient linking of atrial

excitation during atrial fibrillation in humans. Circulation 1992;86:375-82.

196- Haïssaguerre M, Clement J, Jais P, et al. Electrophysiological end point for

catheter ablation of atrial fibrillation initiated from pulmonary foci. Circulation

2000;101:1409-17.

Page 205: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

195197- Macle L, Jaïs P, Shah D, et al. Irrigation-tip catheter ablation pulmonary veins for

treatment of atrial fibrillation, J Cardiovasc Electrophysiol 2002; 131:967-73.

198- Cappato R, Negroni S, Pecora D, et al. Prospective assessment of late conduction

recurrence across radiofrequency lesions producing electrical disconnection at the

pulmonary vein ostium in patients with atrial fibrillation. Circulation

2003;108:1599-1604.

199- Tsai C, Tai C, Chen S, et al. Initiation of atrial fibrillation by ectopic beats

originating from the superior vena cava. Circulation 2000;102:67-74.

200 - Robbins I, Colvin E, Doyle T, et al. Pulmonary vein stenosis after catheter

ablation of atrial fibrillation. Circulation 1998;98:1769-75.

201- Kanagaratnam L, Tomassoni G, Schweikert R, et al. Empirical pulmonary vein

isolation in patients with chronic atrial fibrillation using a three-dimensional

nonfluoroscopic mapping system: long-term follow-up. Pacing Clin

Electrophysiol 2001;24:1774-9.

202- Pappone C, Manguso F, Vicedomini G, et al. Prevention of iatrogenic atrial

tachycardia after ablation of atrial fibrillation: a prospective randomized study

comparing circumferential pulmonary vein ablation with a modified approach.

Circulation 2004;110:3036-42.

203 – Pappone C, Oral H, Santinelli V, et al. Atrial-esophageal fistula as a complication

of percutaneos transcatheter ablation for atrial fibrillation. Circulation

2004;109:2724-26.

204 - Cappato R, Calkins H, Chen S, et al. Worldwide survey on the methods, efficacy,

and safety of catheter ablation for human atrial fibrillation. Circulation

2005;111:1100-5.

205- Pappone C, Rosanio S, Augello G, et al. Mortality, Morbidity, and quality of life

after circumferential pulmonary vein ablation for atrial fibrillation: outcomes from

a controlled nonrandomized long-term study. J Am Coll Cardiol 2003;42:185–97.

206- Wazni O, Marrouche N, Martin D, et al. Radiofrequency ablation vs

antiarrhythmic drugs as first-line treatment of symptomatic atrial fibrillation

JAMA. 2005;293:2634-40.

Page 206: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

196207- Ware J, Sherbourne C. The MOS 36-item short-form health survey (SF-36), I:

conceptual frame-work and item selection. Med Care 1992;30:473-83.

208- Mansour M, Ruskin J, Keane D. Efficacy and safety of segmental ostial versus

circumferential extra-ostial pulmonary vein isolation for atrial fibrillation. J

Cardiovasc Electrophysiol 2004;15:532-7.

Page 207: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 208: ABLAÇÃO POR CATETER DE RADIOFREQÜÊNCIA NO …livros01.livrosgratis.com.br/cp068224.pdf · disponibilidade. O que posso dizer é que sem ela não vejo como seria possível realizar

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo