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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA Abimael de Assis Barreto A industrialização como resultado de uma política de substituição das importações do período (1930-1955) Natal (RN) 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

Abimael de Assis Barreto

A industrialização como resultado de uma política de substituição das importações do

período (1930-1955)

Natal (RN)

2015

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Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN BCZM

Barreto, Abimael de Assis.

A industrialização como resultado de uma política de substituição das importações do período (1930-

1955) / Abimael de Assis Barreto. - Natal, RN, 2015.

53 f.

Orientador: Prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva.

Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de Graduação em Ciências Econômicas.

1. Economia – Brasil - Monografia. 2. Industrialização - Brasil - Monografia. 3. Política de substituição

- Monografia. 4. Importações – Monografia. 5. Estado Novo - Monografia. I. Silva, Zivanilson Teixeira e.

II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 339(81)

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Abimael de Assis Barreto

A industrialização como resultado de uma política de substituição das importações do período

(1930-1955)

Monografia de Graduação apresentada ao

Departamento de Economia da UFRN como

requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel em Economia.

Orientador (a): Dr. Zivanilson Teixeira e

Silva

Natal (RN)

2015

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Abimael de Assis Barreto

A industrialização como resultado de uma política de substituição das importações do

período (1930-1955)

Monografia de Graduação apresentada ao

DEPEC/UFRN como parte dos requisitos para

obtenção do título de Bacharel em Economia

Aprovada em: __/__/____

_________________________________________

Prof (a).

Dr. Zivanilson Teixeira e Silva/DEPEC

UFRN

__________________________________________

Prof. (a)MSC. Francisco de Assis Pedrosa/DIAC IFRN

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a...

Meus pais, João Lourenço e Sônia Mirian, que

sempre incentivaram minha educação.

minha querida avó Ivanete, pelo amor e respeito

Kalinne Medeiros, esposa, companheira, e grande incentivadora para realização deste trabalho

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AGRADECIMENTOS

A Deus pоr minha vida, família е amigos, agradeço ao incentivo da minha

esposa, Kalinne Medeiros, para realização deste trabalho, pelo tempo que abriu

mão, para que pudesse me dedicar aos estudos, agradeço a minha avó Ivanete, a

quem prometi a conclusão da graduação nos momentos difíceis.

Agradeço aos meus pais, João Lourenço Barreto e Sônia Mirian de Assis

Barreto, responsáveis pela minha educação, por todo investimento nos meus

estudos, serei eternamente grato por tudo que fizeram e ainda fazem mim, ao meu

sobrinho Gabriel pelas orações.

Ao meu orientador prof. Dr. Zivanilson, pelo suporte, nо pouco tempo qυе lhe

coube, pelas suas correções е incentivos.

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Meu raciocínio supõe que, divorciada da história, a

economia é um navio desgovernado e os economistas sem

história não tem muita noção para onde o navio navega.

Eric Hobsbawm

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RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de fazer uma análise histórica e bibliográfica da

industrialização brasileira, no período de 1930 a 1955, descrevendo o processo

histórico do primeiro Governo Vargas, durante o Estado Novo, até seu segundo

Governo. A industrialização no Brasil ocorreu como resultado das substituições das

importações de modo tardio e retardatário. O Brasil ainda era colônia, enquanto na

Europa quase um século antes acontecia a primeira revolução industrial. No Brasil

somente a partir de 1930, ocorre o início do processo de industrialização. O projeto

de pesquisa busca historiar a industrialização como resultado de uma política de

substituição das importações, através de uma pesquisa bibliográfica e documental,

tendo como base a literatura brasileira, pra fundamentar essa afirmação. Para isto

recorreu-se a contribuição de autores que trataram do tema da substituição de

importações, bem como da análise exploratória sobre este processo de substituição

de produtos que não requeriam uma elevada complexidade na produção.

PALAVRAS-CHAVES: Industrialização, substituição das importações, Estado Novo.

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ABSTRACT

This work aims to make a historical and bibliographical analysis of the Brazilian

industrialization in the period from 1930 to 1955, describing the historical process of

the first Vargas government during the New State up his second government.

Industrialization in Brazil occurred as a result of substitution of imports of late and

tardy manner. Industrialization in Brazil occurred as a result of substitution of imports

of late and tardy manner. Brazil was still the colony, while in Europe almost a century

before going on the first industrial revolution. In Brazil only from 1930, it is the

beginning of the industrialization process. The research project seeks storying

industrialization as a result of import substitution policy through a bibliographic and

documentary research, based on Brazilian literature, to substantiate this claim. The

research project seeks storying industrialization as a result of import substitution

policy through a bibliographic and documentary research, based on Brazilian

literature, to substantiate this claim. For this appealed to the contribution of authors

who dealt with the theme of import substitution, and the exploratory analysis of this

process of substitution of products that did not require a high complexity in

production.

KEYWORDS : industrialization , import substitution , New State.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1:

Brasil: principais produtos de exportação (%) – 1889/1933 ............................. 15

Tabela 2:

Brasil: estrutura industrial (distribuição do valor adicional) e participação das importações na oferta segundo categorias de uso (% baseados em valores) – 1919 ......................................................................................................................... 18

Tabela 3:

Brasil: índices de preço e quantum para importação e exportações, relação de trocas e capacidade para importar (índices tipo Fisher, diretos, base móvel, 1928 = 100) – 1928/39 ............................................................................................................ 20

Tabela 4:

poder de compra das exportações, 1928/29 a 1959

1955=100 ......................................................................................................... 21

Tabela 5:

Brasil: Receita e despesa no balanço de pagamento ...................................... 22

Tabela 6:

Brasil: preços de importação do café nos Estados Unidos em cents/libra-peso -1911/1940 ........................................................................................................ 23

Tabela 7:

Área colhida, quantidade produzida e valor da produção de café-1920-37 ..... 24

Tabela 8:

Brasil: valor da produção agrícola segundo as principais culturas-1925/1943 . 31

Tabela 9:

Brasil: importações por grupos principais de bens, valores absolutos, ìndices de “quantum” (base 1929=100) e participação porcentual

(Milhões de cruzeiros de 1948) ........................................................................ 33

Tabela 10:

Brasil: taxas anuais de crescimento da produção industrial e do quantum das importações por gênero de industrias – 1933/1939 ......................................... 34

Tabela 11:

Brasil: Banco do Brasil, empréstimos industriais (preços correntes)

- 1935/1945 ...................................................................................................... 37

Tabela 12:

Brasil: Índices da produção real na indústria de transformação (1939 = 100) – 1946/1950 ........................................................................................................ 41

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Tabela 13:

Brasil:participação relativa das importações na oferta respectiva segundo gêneros industriais – 1946/1950 .................................................................................... 42

Tabela 14:

Brasil: índices anuais da produção industrial, base: 1949 = 100 (série FGV) – 1951/1954 ........................................................................................................ 47

Tabela 15:

Brasil: Índices de quantum das importações por grupos principais (1948 = 100) -1951/1954 ........................................................................................................ 48

Tabela 16:

Brasil: participação relativa das importações (M) na oferta industrial total (M+P-X), (em % baseadas em valores constantes de 1939) – 1928/1955 ...................... 49

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Sumário

Introdução ..................................................................................................................... 12

Capitulo 2 – Modelo agroexportador brasileiro ....................................................... 14

2.1 – Estrangulamento externo ............................................................................. 14

2.2 – Crise no modelo agroexportador ................................................................. 22

Capitulo 3 – processo de substituição de importação ........................................... 26

3.1 – PSI no primeiro governo de Getúlio Vargas durante o novo Estado. (1930-

1945) .......................................................................................................................... 28

Capítulo 4 – A substituição das importações nos governos Dutra(1946-1951) e

Getúlio Vargas(1951-1954) ........................................................................................ 39

4.1 – Governo Dutra. (1946-1951) ........................................................................ 35

4.2 - A industrialização no 2° governo Vargas, sobe a lógica das substituições

das importações. (1951-1954) ........................................................................... 43

4.3 – Política de industrialização ........................................................................... 49

5 –Considerações finais ............................................................................................. 51

Referências Bibliográficas .......................................................................................... 53

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo de historiar o processo de industrialização

através do impacto das políticas de substituições das importações na

industrialização brasileira entre 1930 e 1955, as características políticas,

econômicas e sociais desse período, assim como descrever as medidas tomadas

pelo Estado nessa mudança de eixo econômico, de um país agroexportador para um

país industrializado. Tem como objetivos específicos fazer o relato histórico da

industrialização no Governo Vagas e no Governo Dutra.

Para Tavares (1977), existia uma alta dependência das economias

periféricas, com as economias centrais, pois as economias periféricas primário

exportadoras tinham seu crescimento condicionada ao crescimento das economias

centrais e somente teria seu crescimento determinado endogenamente se investisse

em inovações tecnológicas, garantindo a diversificação e integralização capacidade

produtiva.

Sônia Draibe (2004), mostra a relação entre Estado e industrialização,

responsáveis por mudar completamente a estrutura econômica do Brasil, no período

entre 1930 e 1960, desde seu passado colonial, passando pela crise de 1929 e pela

transição capitalista, e descrevendo conceitos importantes sobre a revolução

burguesa. Outro ponto importante a ser apontado e sua análise da política

centralizadora do Estado voltada para industrialização e sua estruturação.

Conforme os objetivos anteriormente descritos (geral e específicos),

podemos caracterizar esta pesquisa como sendo de caráter histórico descritivo,

envolvendo dados da economia brasileira no período que vai de 1930 a 1955,

correspondendo aos Governos Vagas e Dutra.

No tocante a metodologia foi utilizada a análise documental através da

literatura referente aos dados constantes nos trabalhos dos autores referidos ao

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longo deste trabalho. Trata-se de estatísticas oriundas das tabelas sobre dados da

performance da economia brasileira em estudo, onde fora feita uma análise desses

dados.

O presente trabalho além dessa introdução contém os capítulos seguintes: no

capitulo 2, analisamos o modelo de desenvolvimento econômico no Brasil, antes de

1930, a importância da produção do café no Brasil seu auge e declínio, informações

necessárias para o correto entendimento de como o Brasil conseguiu romper com

seu modelo agroexportador. No capítulo 3, O processo de substituições das

importações no Estado Novo, tratamos do conceito da Substituição das importações,

de um modo geral, como ocorreu na América latina e no caso do Brasil, como as

mudanças políticas e reaparelhamento econômico do Estado que influenciaram na

economia, procurando mostrar através das tabelas as evoluções que ocorreram

economia global e brasileira, associando a todo momento, o Brasil com o setor

externo, pois as transformações ocorrida no Brasil, são influenciadas e influenciam a

economia como um todo. ´

No capítulo 4 tratamos da substituição das importações nos governos Dutra

(1946-1951) e Getúlio Vargas (1951-1954), mostrando as semelhanças e diferenças

entre os governos, e o aparelhamento do Estado nesse período. Um período

analisado de 25 anos, que mudaram completamente a estrutura economia do país.

Finalmente no capitulo 5 tratamos das considerações finais.

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2 - MODELO AGROEXPORTADOR BRASILEIRO

Segundo Luiz Carlos Bresser Pereira, o modelo primário exportador, é a

característica dominante na economia brasileira, desde a abertura dos portos em

1808, até 1930, sendo o responsável por inserir o Brasil de forma retardatária no

capitalismo industrial. Apesar de já existir no final do século, algumas indústrias, estas

eram de bens de consumo não duráveis, e não uma indústria de insumos básicos.

Não existia uma política especifica para industrialização, e o país ainda tinha como

principal característica, a economia baseada na exportação de produtos primários.

O café desde 1840 já era o principal produto de exportação do Brasil, a

atividade cafeeira passou por diversas crises e momentos de grande expansão, a

análise do conjunto dessas mudanças, será de grande importância para o

entendimento das bases necessárias para a implantação da indústria nascente.

..., O período da história econômica brasileira aqui estudado caracteriza-se pelo desenvolvimento e a crise do desenvolvimento da economia cafeeira; mas esse é também da substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, do desenvolvimento do mercado, da rápida expansão das estradas de ferro, da aparição das primeiras industrias. Esse período precede e cria condições necessárias à industrialização no Brasil. (Sergio Silva, 1976 p. 18)

Iniciar o estudo sobre industrialização brasileira a partir da atividade cafeeira,

se faz necessário, por reconhecer, que exportação do café foi responsável por criar

uma estrutura econômica e social para a implantação de um novo modelo de

desenvolvimento, a industrialização baseada na substituição das importações.

O café teve grande importância no processo de industrialização na economia

brasileira, antes 1930, por ser o único produto exportado, e ser capaz de estabelecer

um sistema de reprodução ampliada, capaz de gerar o capital necessário para

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instalação de um novo modelo de desenvolvimento, por fornecer força de trabalho

no campo e na cidade, criar um mercado interno e também uma alternativa de

ampliação dos lucros. A investigação do início da implantação do capital industrial,

se faz importante para esclarecer pelo menos três problemas nas palavras de João

Manoel:

(1) de que modo uma classe social pode dispor, numa conjuntura determinada, de uma massa de capital monetário capaz de se transformar em capital industrial. (2) por que esta classe portadora de capacidade de acumulação se sentiu estimulada a converter capital monetário em capital industrial, tomando decisões de investir distintas das tradicionais; e (3) como foi possível transformar o capital monetário em força de trabalho e meios de produção, constituindo a grande indústria. (João Manoel 1998 p. 105)

A implantação do capital industrial tem sua origem no capital cafeeiro, desde

a produção e beneficiamento do café até às atividades comercias, incluindo também

as importações, serviços financeiros e de transporte. Alguns incentivos também

foram importantes para esse evento, como condições favoráveis de financiamento,

criação de instrumentos para mobilizar e concentrar capitais.

A tabela 1 mostra os principais produtos exportados, tendo o café como

principal produto de exportação, em média 61,4%, dos produtos exportados, seguido

pela borracha, couros e pele e cacau, com participações bem menores, abaixo de

19% somados. Essa especialização de alguns poucos produtos, tornava o Brasil

mais vulnerável às oscilações do mercado.

Tabela 1: Brasil: principais produtos de exportação (%) – 1889/1933

Períodos Café Açúcar Cacau Mate Fumo Algodão Borracha Couro

e Pele

Outros

1989-1897 67,6 6,5 1,1 1,2 1,7 2,9 11,8 2,4 4,8

1898-1910 52,7 1,9 2,7 2,7 2,8 2,1 25,7 4,2 5,2

1911-1913 61,7 0,3 2,3 3,1 1,9 2,1 20 4,2 4,4

1914-1918 47,4 3,9 4,2 3,4 2,8 1,4 12 7,5 17,4

1919-1923 58,8 4,7 3,3 2,4 2,6 3,4 3 5,3 16,5

1924-1929 72,5 0,4 3,3 2,9 2 1,9 2,8 4,5 9,7

1930-1933 69,1 0,6 3,5 3 1,8 1,4 0,8 4,3 15,5

Fonte: Viillela e Suzigan (1973, p. 70)

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O crescimento do comércio mundial foi bastante acelerado em meados do

século XIX. Com o advento dos barcos a vapor, as relações comerciais de longa

distância tornaram-se mais intensas, favorecendo o desenvolvimento de economias

consideradas de baixo crescimento capitalista, do mesmo modo no caso da

atividade cafeeira no Brasil criando condições favoráveis nas relações comercias

com outros países da Europa e com os Estado Unidos.

Tavares (1977), explica o papel do setor externo na economia periférica, em

contraste com a economia central.

É comum acentuar-se o alto peso relativo do setor externo nas economias primário exportadoras dando ênfase ao papel desempenhado por suas duas variáveis básicas: as exportações como variável exógena responsável pela geração de importante parcela da renda nacional e pelo crescimento da mesma e as importações como fonte flexível de suprimento dos vários tipos de bens e serviços necessários ao atendimento de parte apreciável da demanda interna. (...) assim para avaliarmos corretamente o significado do papel do setor externo em nossas economias periféricas, devemos contrastá-lo com o que historicamente desempenhou nas economias centrais. (TAVARES, 1977, p. 29)

Para Tavares (1977), no caso das economias centrais, elas não dependiam

unicamente das exportações como fonte de crescimento, a esse fator exógeno, é

acrescentado o fato dessas economias, investirem em inovações tecnológicas,

garantindo assim a diversificação e a integralização, da capacidade produtiva,

combinando assim, as variáveis exógenas e endógenas como alternativa de

crescimento.

Sergio Silva, 1976, p.76 indica duas datas importantes, para a burguesia

comercial no Brasil, a independência política do Brasil em 1822 e a abertura dos

portos em 1808, que fizeram com que se desenvolve-se rapidamente o comércio no

país, permitindo que o Brasil pudesse ter suas próprias práticas comerciais com

nações amigas, sem ter que passar pelas alfândegas em Portugal.

Houve no Brasil uma aumento significativo de mão de obra, baseado no

trabalho assalariado de imigrantes, vindos da Europa, em especial da Itália e o

principal destino era São Paulo, cerca de 65% dos imigrantes, de 1880 em diante a

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imigração tornou-se mais acentuada. Sergio Silva 1976 p.44, relata que cerca de

1.300.000 de imigrantes chegaram ao Brasil, entre 1887 e 1897.

Na América Latina, a economia se baseava na exportação de produtos

primários, e em indústrias tradicionais, de baixa produtividade. As economias

periféricas diferente das economias centrais se tornam dependentes da demanda

por produtos agrícolas das economias centrais, que utilizavam para suprir as

necessidades de alimento e matéria prima, porém nas economias periféricas as

importações servia para adquirir bens de consumo terminados e bens de capital.

Os bens de maior complexidade e maior capital eram importados, para

atender a demanda da alta classe agrária e da burguesia, onde existia uma

dependência muito grande do setor externo, por determinar a renda nacional como

variável exógena e por ser a principal fonte de produtos manufaturados. Com o

surgimento da burguesia comercial, criava-se condições favoráveis para que fosse

possível dar dinamicidade endógena a economia, para desenvolver a indústria

nacional. Na tabela 2, podemos perceber que na tabela de produtos de bens de

consumo duráveis, o material elétrico era totalmente importado, em 1919. É bem

parecido com os materiais de mecânica, como bens de capital, que representavam

96,7% era importadas, o mesmo não acontecia com os bens de consumo não

duráveis, onde o gênero alimentício respondia por 32,9% da parcela de produção

nacional, sendo importado 11,5%, a segunda maior produção era a têxtil, que

representava 24,4% contra 13,7% de produtos comprados de outros países.

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Tabela 2: Brasil: estrutura industrial (distribuição do valor adicional) e participação das importações

na oferta segundo categorias de uso (% baseados em valores) – 1919.

Categorias e gêneros

indústrias

Estrutura industrial (%) Importação/oferta (%)

BENS DE CONSUMO NÃO

DURÁVEIS

80 -

Têxtil 24,4 13,7

Vestuário e calçado 7,3 6,2

Alimentos 32,9 11,5

Bebidas

5,4 23,8

Fumo 3,4 0,3

Editorial e Gráfica Nd Nd

Química 4,2 57

Couro e peles 0,2 32

Minerais não metálicos 1,2 40,5

Diversas 1,2 53,4

BENS DE CONSUMO

DURÁVEIS

1,8 -

Material elétrico Nd 100

Material de transporte Nd 53,5

Mobiliário 1,8 2,2

BENS INTERMEDIÁRIOS 16,5 -

Metalúrgica 3,8 64,2

Minerais não metálicos 2,8 40,5

Couros e peles 2 32

Química 0,8 57

Madeira 5,7 6,1

Papel 1,4 58,3

Borracha Nd 70,7

Material elétrico Nd 100

BENS DE CAPITAL 1,5 -

Mecânica 0,1 96,7

Material elétrico Nd 100

Material de transporte 1,4 53,5

TOTAL 100 24,7

Fonte: Malan ET alii (1977, p. 281)

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2.1 - ESTRANGULAMENTO EXTERNO

Ao examinar o modelo de substituição das importações, Tavares, relata uma

característica presente em quase todas as economias latino americanas, a perda de

dinamismo do setor externo. Existem pelo menos duas formas em que se apresenta

o estrangulamento externo, uma de caráter “absoluto e outra de caráter relativo”. No

absoluto a capacidade para importar é declinante, geralmente vinculada ao

encolhimento do comércio internacional pelas quais tem passado os produtos

primários. Na relativa, a capacidade para importar cresce num ritmo lento e tem um

crescimento inferior ao do produto, está associada ás tendências de longo prazo,

das exportações.

Após a grande crise, até 1945, a economia mundial não havia ainda

recuperado os níveis de exportação antes da crise. Com o fim da Segunda Guerra

Mundial, houve um aumento em termos absolutos das exportações. A partir de 1954,

as exportações se mantiveram estagnadas, como resultado da deterioração dos

termos de troca, no caso do Brasil. As exportações de produtos primários, o

tornavam bastante vulnerável a choques internos e externos, mesmo sendo o Brasil,

semi-monopolista no comércio internacional, não o livrava dessa condição. Até por

não ser o único produtor de café, onde tinha como concorrente a Colômbia e alguns

países africanos. A baixa diversificação da sua produção e a alta dependência do

setor externo, o tornavam bastante vulneráveis a superproduções, crises externas,

eventos climáticos e crises externas. Basear toda expectativa de pagamentos de

juros, importações de bens de consumo e bens de capital, em uma baixa

diversidade de produtos, tinha um risco muito alto.

Para a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o

fato do Brasil ser um país agroexportador, quase exclusivamente de café, possui

uma tendência a deterioração dos termos de troca. Somando a isso as crises e as

guerras, a superprodução do café causava uma tendência ao desequilíbrio na

balança de pagamentos, ocasionando um estrangulamento externo.

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A tabela 3, mostra a dificuldade do Brasil para importar após a crise de 1929,

onde houve uma redução nas importações, uma redução na relação do termo de

troca, de 55,4% após 10 anos e uma redução de 25,9% na capacidade para

importar.

Tabela 3: Brasil: índices de preço e quantum para importação e exportações, relação de trocas e

capacidade para importar (índices tipo Fisher, diretos, base móvel, 1928 = 100) – 1928/39

Anos IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO

Índice

de

preço

Índice

de

quantum

Índice

de

preço

Índice

de

quantum

Relação

de trocas

Capacidade

para

importar

1928 100 100 100 100 100 100

1929 96,3 100,9 94,3 104,9 97,9 102,7

1930 104,7 61,9 63,7 111 60,8 67,5

1931 122 43,5 68,5 120,4 56,1 67,5

1932 106 39,1 75,7 83,6 71,4 59,7

1933 104,8 56,6 67,2 104,7 64,1 67,1

1934 111,2 62 75,8 113,9 68,2 77,7

1935 151,2 71,1 78,1 125,9 51,7 65,1

1936 161 73,4 87 134,3 54 72,5

1937 167,2 88,3 91,9 130,1 55 71,6

1938 174,6 82,9 74,8 159,5 42,8 68,3

1939 176,4 77,1 78,6 166,1 44,6 74,1

Fonte: Malan ET alii (1977, p. 18)

O Brasil durante os períodos da grande depressão e da Segunda Guerra

Mundial sofreu reduções nas quantidades para importar de cerca de 50%, situação

que também sofreram os países da América Latina. Entretanto, no Brasil houve uma

recuperação melhor em termos absolutos da capacidade para importar, do que

países como Chile e Argentina. Ao examinar a tabela 4, verificamos que a situação

do Brasil é mais favorável em relação ao período do pós-guerra.

Tabela 4: poder de compra das exportações, 1928/29 a 1959

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1955=100

Total Total Total “per

capita”

“per

capita”

“per

capita”

Anos Brasil Argentina Chile Brasil Argentina Chile

1928/29 78 242 123 140 405 195

1932 44 148 23 73 228 35

1940 42 112 64 60 151 85

1945 70 118 75 88 147 92

1950/51 117 139 81 130 102 89

1955 100 100 100 100 100 100

1959 104 136 103 94 126 94

FONTE: Dados do informe da CEPAL do ano 1949 e Boletim Econômico de América Latina, vol. V n°

2, elaborados em “Inflación y crescimiento: resumen de La experiencia em América Latina”

(E/CN.12/563)

Segundo Tavares, o Brasil foi um dos poucos países da América Latina que

conseguiram se recuperar rapidamente, após o fim da segunda Guerra, devido a sua

capacidade de importar, tanto em termos absolutos quanto relativos. Por isso pode

aproveitar uma melhoria nas suas relações de troca. Até 1954 cresceu num patamar

maior que aos demais países da América Latina. A melhoria foi significativa a ponto

de permitir uma recuperação em termos per capita até níveis próximos de antes da

segunda Guerra.

Depois de 1954, as condições para o Brasil voltam a ficar desfavoráveis, com

a queda no preço do café e a reação pouco elástica do quantum exportado,

diminuindo o quantum exportado, que só se manteve por causa do financiamento

externo. Na tabela 5 podemos observar à diminuição substancial da participação

relativa das exportações entre os componentes da receita cambial e ao aumento

considerável dos movimentos de capitais. Nas palavras de Tavares:

Na realidade, isso significa que, durante o primeiro período, o processo de desenvolvimento se deu em condições de maior

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dinamismo do setor exportador, enquanto no período final a perda desse dinamismo teve que ser compensada pela entrada substancial de capital estrangeiro autônomo e compensatório. Em face ao exposto, compreende-se que a situação do estrangulamento externo brasileiro se agravou extraordinariamente de qualquer dos pontos de vista. (TAVARES, 1977, P.66)

Tabela 5: Brasil: Receita e despesa no balanço de pagamento

1948-52 1948-52 1956-60 1956-60

Milhões de

dólares

Porcentagem Milhões de

dólares

Porcentagem

Rendas totais 1.477 100,0 2.001 100,0

Exportações

(fob)

1.366 92,5 1.334 66,7

Serviços 61 4,1 170 8,5

Doações 3 0,2 14 0,7

Capitais 47 3,2 483 24,1

Despesas totais 1.704 100,0 2.091 100,0

Importações

(fob)

1,238 72,6 1.203 57.5

Serviços 380 22,3 546 26.1

Doações 6 0,4 24 1,1

Capitais 80 4,7 318 15,3

Fonte: SUMOC, Departamento econômico (Divisão de balanço de pagamento)

2.2 - CRISE NO MODELO AGRO-EXPORTADOR

O Brasil enfrentou uma grave crise no seu modelo de desenvolvimento

agroexportador, nas primeiras décadas do século XX, tanto pelo lado da oferta, com

as superproduções e quebra de safras como pelo lado demanda, com as crises

externas.

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Na Tabela 6, podemos notar a grande variação nos preços do café para o

mercado americano, no início da Primeira Guerra Mundial, nos anos de 1913 e

1914, tornando a aumentar logo após o fim da guerra em 1918, por causa da

demanda reprimida e da geada de 1918, que quebrou a safra do café no Brasil. Em

1921 uma queda de 45% no preço do café foi reflexo da superprodução de 1920 e

1921, e somado a isso o redirecionamento do capital para a reconstrução da

Europa. Com a grande crise de 1929, começa a cair muito o preço do café. Em 1930

a maior queda foi de -35,78%, tornando o modelo de desenvolvimento

agroexportador insustentável.

Tabela 6: Brasil: preços de importação do café nos Estados Unidos em cents/libra-peso -

1911/1940

ANO PREÇO VAR

PREÇO

(%)

ANO PREÇO VAR

PREÇO

(%)

ANO PREÇO VAR

PREÇO

(%)

1911 13,3 - 1921 10,7 -45,13 1931 10,1 -22,90

1912 13,8 3,76 1922 12,9 20,56 1932 9,1 -9,90

1913 11,1 -19,57 1923 13,5 4,65 1933 7,9 -13,19

1914 9,6 -13,51 1924 17,5 29,63 1934 8,8 11,39

1915 9,6 0 1925 22,3 27,43 1935 7,6 -13,64

1916 10,1 5,21 1926 21,6 -3,14 1936 7,7 1,32

1917 9 -10,89 1927 18,5 -14,35 1937 8,9 15,58

1918 14,1 56,67 1928 21,3 15,14 1938 6,9 -22,47

1919 19,5 38,30 1929 20,4 -4,23 1939 6,9 0,00

1920 19,5 0,00 1930 13,1 -35,78 1940 6,9 0,00

Fonte: Delfim Netto(1981, p. 347)

O governo precisava enfrentar a grave crise que passava o Brasil. A

superprodução do café causa a baixa nos preços do café, o endividamento e a

desvalorização da moeda. Algumas medidas foram tomadas como a política de

valorização do café, medidas que foram estabelecidas no convênio de Taubaté, que

permitia ao governo intervir no mercado comprando o excedente de café, com

empréstimos externos, viabilizados através da cobrança de um imposto em ouro

sobre a saca do café exportado. Os estados tinham a responsabilidade de inibir o

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cultivo de café, a fim de evitar superproduções em longo prazo e outra importante

medida foi a desvalorização cambial, desvalorizando a moeda, quando o preço do

café sofria redução. Ao fazer a conversão aumentava o ganho dos cafeicultores,

entretanto causava outros problemas, pois incentivava os produtores a produzirem

mais, e não observando os sinais de preço que o mercado dava. Na tabela 7, dá

para observar que a quantidade produzida de 1921 a 1937, e a desvalorização da

moeda causavam um aumento nos preços dos produtos importados, que eram muito

importantes para o mercado interno, causando uma inflação. Nas palavras de

Furtado:

O processo de correção do desequilíbrio externo significava, em última instância, uma transferência de renda daqueles que pagavam as importações para aqueles que vendiam as importações. Como as exportações eram pagas pela coletividade em seu conjunto, os empresários exportadores estavam na realidade logrando socializar as perdas que os mecanismos econômicos tendiam a concentrar em seus lucros. (FURTADO, 2005, p. 172)

Tabela 7: Área colhida, quantidade produzida e valor da produção de café — 1921-37

ANOS AREA COLHIDA(ha) QUANTIDADE

PRODUZIDA(t)

VALOR DA PRODUÇÃO

1921 - 1 026 935 1 068 890

1922 - 856 557 1 321 724

1923 - 857 331 1 688 229

1924 - 951 715 2 415 025

1925 - 888 069 2 995 806

1926 - 959 847 2 473 842

1927 - 1 100 883 2 500 603

1928 - 1 670 892 4 445 789

1929 - 1 576 565 4 146 327

1930 - 1 634 145 3 471 376

1931 3 651 880 1 301 670 1 360 929

1932 3 971 200 1 535 745 1 837 823

1933 3 960 000 1 776 600 2 073 058

FONTES — Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a

1988. 2 ed. rev. e atual. do v. 3 de Séries estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990

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Portanto tornou-se insustentável o modelo de desenvolvimento

agroexportador altamente especializado, porém, não na mesma proporção de antes

da grande crise de 1929. A crise nesse modelo exigia urgência na tomada de

medidas que não fossem somente paliativas.

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3 – PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES

Grosso modo a “substituição das importações” poderia significar que um país

deixa de importar certos produtos e passar a produzir internamente. Essa

interpretação é muito simplista, e não fornece o correto entendimento da dinâmica

do processo em questão. Tavares escreve sobre essa questão onde diz que:

... O processo de substituição não visa diminuir o quantum de importação global; essa diminuição, quando ocorre, é imposta pelas restrições do setor externo e não desejada. Dessas restrições (absolutas e relativas) decorre a necessidade de produzir internamente alguns bens que antes se importava. Por outro lado, no lugar desses bens substituídos aparecem outros e a medida que o processo avança isso acarreta um aumento da demanda derivada por importações (de produtos intermediários e bens de capital) que pode resultar numa maior dependência do setor exterior, em comparações com as primeiras fases do processo de substituição (Tavares 1977 p. 39)

O processo de substituições das importações, para a CEPAL, é um modelo

de desenvolvimento, que pode ser observado nas economias latino americanas, no

início da década de 1930. Após a crise de 1929, as economias periféricas que

baseavam sua economia nas exportações de poucas variedades de produtos

primários, tiveram suas receitas nas exportações bastante afetadas pela crise, que

ao atingir os países centrais, estes diminuíram sua demanda por estes produtos,

pois mesmo após a crise esta não voltou ao normal.

Os governos tomam medidas protecionistas para enfrentar a crise,

desvalorizando a moeda, comprando o excedente dos produtos agrários e

controlando as importações no primeiro momento após a crise. Em seguida, os

países começam a expandir seus parques industriais internos, que foi sendo

incentivado pelo controle das importações. De modo gradual o modo de produção

baseado na exportação de produtos primários foi cedendo lugar para produção

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interna, tendo o investimento como uma variável endógena. Isto não significa que

estes países tenham deixado de ser dependentes do setor externo, as exportações

geravam divisas, bens de capital para a indústria nacional, que para Fonseca:

Convém salientar, portanto, que se entende por substituição das importações simplesmente o fato de o país começar a produzir internamente o que antes importava, o que ocorrera no Brasil com certa expressão na República velha. O que usualmente se denomina PSI, todavia, significa mais que isso: que a liderança do crescimento econômico repouse no setor industrial, que esta seja responsável pela dinâmica da economia, ou seja, que crescentemente seja responsável pela determinação dos níveis de renda e de emprego. (FONSECA, 2003, p. 249)

No início das substituições das importações, não significa que os países não

dependem mas do setor externo e sim que houve uma mudança na forma dessa

dependência. A produção inicial era voltada para produção de bens de consumo não

duráveis, pois os custos para produção de produtos mais complexos eram muito

altos, resultado da desvalorização da moeda que o governo utilizava para beneficiar

os agroexportadores, em que tornavam mais caro importação de bens de capital,

necessários para diversificar a produção industrial.

O processo de desenvolvimento, que se baseava na substituição das

importações foi acontecendo de forma gradual na medida em que os

estrangulamentos externos se intensificavam e provocaram uma grande mudança

nas estruturas da economia, que segundo Tavares:

Resumindo, podemos concluir que, nas condições do modelo de substituição das importações, é praticamente impossível que o processo de substituição se dê da base para o vértice da pirâmide produtiva, isto é, partindo dos bens de consumo menos elaborados e progredindo lentamente até atingir os bens de capital. É necessário – para usar uma linguagem figurada – que o edifício seja construído em vários andares simultaneamente, mudando apenas o grau de concentração em cada um deles de período para período. (TAVARES, 1983, p. 46)

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À medida que a economia brasileira vai se industrializando, é preciso

entender o que estava acontecendo no setor externo, e suas influências no modo de

produção capitalista. As disponibilidades de divisas externas, crises cambiais com

desvalorizações que chegaram a 55% entre 1930 e 1931, deterioração dos termos

de troca, entre outros. A grande crise findou sendo um fator importante para

redirecionar a trajetória econômica do Brasil, pois em virtude da queda do preço do

café, superprodução, redução de crédito internacional, incentivou-se a demanda

interna por produtos nacionais e forçaram empresas nacionais a investirem em

produtos que antes eram importados, e agora não tinham condições financeiras para

comprar certos produtos, que foram gradativamente sendo produzidos internamente,

dando ao país a oportunidade de um crescimento endógeno, diferente do modelo

primário exportador.

O Brasil, segundo Tavares, cresceu mais que a maioria dos países da

América Latina. No processo de substituição das importações, algumas condições

foram mais favoráveis ao Brasil, como o mercado interno consumidor, e

desenvolvimento de certas indústrias tradicionais, como alimentos, bebidas, roupas

e mobiliário. Alguns produtores de café passaram a investir no capital industrial, na

expectativa de maiores lucros, fazendo aumentar a diversificação de indústria no

Brasil, o que garantiu ao país uma maior capacidade para importar em relação aos

demais países da América Latina.

3.2 – PSI NO PRIMEIRO GOVERNO DE GETÚLIO VARGAS DURANTE O NOVO

ESTADO. (1930-1945)

No momento em que Vargas assumiu o Governo Provisório, no dia 03 de

novembro de 1930, o Brasil já estava a mais de um ano em profunda crise

econômica. O café que representava cerca de 70% da pauta de exportação nacional,

já passava por problemas antes da crise internacional, tendo o Governo como

incentivador da produção, numa política de manutenção do preço, que durante 20

anos incentivou a produção. Entretanto, a produção manteve-se praticamente

constante, a capacidade para importar sofreu uma queda de aproximadamente 40%,

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no período de 1928 à 1932, com os índices de preços das importações de 1928 à

1931, de 22%.

A participação do governo foi importante para impedir o aprofundamento da

crise, onde ele tomou uma atitude diferente dos anteriores, de não recorrer a

empréstimos externos para financiar o produto, Fonseca relata que:

Mesmo porque estes estavam de difícil acesso com a crise internacional. Com a dificuldade de encontrar internamente outro setor capaz de fornecer a vultosa soma de recursos exigidos, a solução foi buscada dentro do próprio setor cafeeiro, criando-se impostos que iriam suprir, pelo menos parcialmente, com os recursos necessários. Em fevereiro de 1931, o Governo Federal comprava parte do café estocado e o retirava temporariamente do mercado, tendo o Estado de São Paulo contribuído com parte do pagamento. Ao mesmo tempo determinou o pagamento do imposto de 20%, em espécie, de todo café exportado. Ainda como política de prazo mais longo de adequação de oferta à demanda, criou-se outro imposto, de um mil réis, sobre cada novo cafeeiro plantado no Estado de São Paulo. (Fonseca 1999, p. 150)

Em São Paulo, no ano de 1931, houve uma produção de cerca de 18 milhões

de sacas, com uma estimativa de 17,5 milhões de sacas, para a safra de 1931-1932,

levando a um excesso da oferta em relação a demanda de 26 milhões de sacas,

sendo que as estimativas sobre as exportações eram de cerca de 9,5 milhões de

sacas. Foi criado um imposto, estabelecido pelos estados produtores de café, o

shillins, que tinham que ser pagos em moeda estrangeira, por saca de café exportado,

para criação de um fundo, que servia para pagar parte da produção que não fosse

vendida. Foi criado o Conselho Nacional do Café, responsável por administrar esse

imposto. A venda do café estocado e o programa de ajuda ao setor cafeeiro, foram

substituídos em 1933, pelo Departamento Nacional do Café, que tinha no seu controle

o Governo Federal.

Algumas políticas industrializantes estavam sendo tomadas, para garantir a

substituição de alguns produtos. Para isso era necessário garantir que o setor

cafeeiro fosse capaz de retomar a sua capacidade de gerar renda nos níveis de

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períodos anteriores a grande crise. Uma das medidas tomadas pelo governo foi

desestimular novas plantações a fim de evitar superproduções. Através de taxas, o

governo também comprou e queimou estoques de café em grandes quantidades. “A

destruição, iniciada em julho de 1931 e terminada em julho de 1944, eliminou nada

menos do que 78,2 milhões de sacas de café, ou seja, uma quantidade equivalente a

três vezes o consumo mundial num ano.” (Delfim Netto 1981, p. 151). Essas políticas

foram responsáveis por manter a demanda por produtos internos, numa época em

que o preço das importações estava mais alto, resultado das políticas cambiais,

incentivando assim a produção e desenvolvimento da industrialização.

O aparelhamento do Estado, voltado para políticas centralizadoras foi

necessário para tomadas de decisões econômicas capazes de garantir a produção e

comercialização de produtos, principalmente de certos produtos agrícolas.

Nos inícios dos anos de 1930, como resposta à crise geral dos setores de exportação, além de encampar definitivamente a política cafeeira por meio do Departamento Nacional do Café (1933), o governo federal criou o Instituto Nacional do Açúcar e do álcool (1933) para “ordenar” o setor açucareiro e evitar que a expansão da dinâmica agricultura paulista, em busca de alternativas para o café, ameaçasse vitalmente a velha oligarquia nordestina. Posteriormente, outros institutos específicos – de expressão estadual ou regional – foram sendo criados, tais como o Instituto Nacional do Mate (1938), o Instituto Nacional do Pinho (1941), o Instituto Nacional do Sal (1941) e o Instituto do cacau na Bahia (1931). (Sônia Draibe, 2004, p.79)

A tabela abaixo mostra uma diminuição relativa na cultura do café, que era de

48% entre os anos 1925 e 1929, passou a ser de 16,1% entre 1939 e 1943. O

algodão teve um aumento nesses períodos, seguidos do arroz, cana de açúcar e a

mandioca.

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Tabela 8: Brasil: valor da produção agrícola segundo as principais culturas – 1925/1943

Produtos Percentagens Médias

dos Períodos

1925/29 1932/36 1939/43

Algodão (em caroço) 5,9 14 21,6

Arroz 5,2 6,7 11

Cacau 1,4 1,8 2,2

Café 48 29,5 16,1

Cana-de-açúcar 3,5 5,7 7,5

Feijão 5,4 3,8 5,5

Fumo 2,9 2,6 2,2

Mandioca 4,7 6,8 7

Milho 16,3 15,9 16

Trigo 0,9 0,8 1,3

Outros 5,8 12,4 9,6

Total 100 100 100

Fonte: Villela e Suzigan (1973, p. 189)

A tabela 08 mostra os principais períodos históricos do processo de

substituição de importações brasileiras, apresentando apenas as características mais

relevantes. As datas escolhidas por Tavares foram relevantes, porque 1929 foi antes

da crise, 1931 antes de chegar ao máximo da depressão 1937-38 anos da

recuperação e 1948 foi o ano inicial de um novo período. Na tabela 09 é possível

notar que até 1948, o país não retoma os níveis de importações do período de 1929.

Quase 19 anos após a grande crise o país consegue voltar ao antigo patamar de

importações. Em 1931 as importações caem 50% em relação a 1929. Um impacto

maior foi nos bens de consumo com uma queda de 70% e nos de capital com uma

queda de 80% e uma queda menos acentuada nas importações de combustíveis de

35% e de 36% nas matérias primas, respectivamente.

Os bens de consumo duráveis foram bastante afetados pela crise, com uma

queda nas importações de 88%, melhorando no período seguinte em 1937-38, e em

1948 ultrapassa as importações realizadas antes da crise. No caso das importações

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dos bens de consumo não duráveis, houve uma queda de 57% nas importações, uma

pequena melhora em 1937-38 e em 1948 não ultrapassa os níveis de 1929. Diferente

do que ocorreu com os bens de consumo duráveis, a produção interna conseguiu

substituir uma parte do que antes eram importados, principalmente alimentos de

origem animal, bebidas e algumas manufaturas simples.

No caso das importações dos combustíveis e lubrificantes, não houve grandes

perdas no período de crise, um queda inicial nas importações em 1931 de 35%, um

acréscimo de 44% no período de 1937-38 e quase chega a dobrar a quantidade

importada em 1948, em relação 1938, por causa da melhora do crescimento

econômico e da ausência de uma indústria de petróleo no país. As importações de

matérias primas e materiais intermediários com uma queda de 36% nas importações

se recuperam no período seguinte, a níveis próximos dos importados em 1929, e em

1948, a menos de 20% de voltar a quantidade anterior à crise. Faltavam internamente

indústrias responsáveis por matérias primas importantes. Em alguns setores

estratégicos desse grupo houve uma substituição de importação, principalmente os

produtos metálicos, que segundo Tavares teve uma queda de 40% entre 1929 e 1948

e a indústria siderúrgica com uma queda nas importações de 50% no mesmo período,

resultado da implantação e ampliação de uma produção siderúrgica nacional, tendo

uma produção maior nos anos da Segunda Guerra Mundial, em Volta Redonda. No

mesmo período houve uma diminuição de importação para alguns produtos como o

couro e pele, fibras e fios têxteis, manufaturas de papel e borracha, vidro plano e

cimento. Em relação aos bens de capital, foi a que teve a segunda maior queda nas

importações, recuperando-se somente em 1948.

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Tabela 09:brasil: importações por grupos principais de bens, valores absolutos, índices de “quantum” (base 1929=100) e participação porcentual (Milhões de cruzeiros de 1948) Grupos de bens Valores Índices

1929

Porcentagem

Bens de consumo 3.204 100 18,7

Duráveis 1.277 100 7,5

Não-duráveis 1.927 100 11,2

Combustíveis e lubrificantes 1.443 100 8,4

Matéria primas e produtos

intermediários

7.909 100 46,2

Metálicos 1.814 100 10,6

Não metálicos 6.095 100 35,6

Bens de capital 4.564 100 26,7

Total da amostra 17.121 100 100,0

1931

Bens de consumo 966 30 12,3

Duráveis 147 12 1,9

Não duráveis 819 43 10,4

Combustíveis e lubrificantes 940 65 11,9

Matéria primas e produtos

intermediários

5.076 64 64,4

Metálicos 516 28 6,5

Não metálicos 4.560 75 57,9

Bens de capital 894 20 11,4

Total da amostra 7.876 46 100,0

1937-38

Bens de consumo 1.835 57 13,3

Duráveis 861 67 6,2

Não duráveis 974 51 7,1

Combustíveis e lubrificantes 1.355 94 9,8

Matéria primas e produtos

intermediários

7.366 93 53,2

Metálicos 1.303 72 9,4

Não metálicos 6.063 100 43,8

Bens de capital 3.281 72 23,7

Total da amostra 13.837 81 100

1948

Bens de consumo 3.877 121 21,2

Duráveis 1.964 154 10,8

Não duráveis 1.913 99 10,5

Combustíveis e lubrificantes 2.616 181 14,4

Matéria primas e produtos

intermediários

6.402 81 35,2

Metálicos 1.087 60 6,0

Não metálicos 5.315 87 29,2

Bens de capital 5.277 116 29,1

Total da amostra 18.172 106 100

FONTE: Anuários de comercio exterior do Brasil. valor da amostra

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Os incentivos do governo para o crescimento de setores de indústrias

substitutivas de importações podem ser observados na tabela abaixo, crescimentos

principalmente nas indústrias de papel e papelão, metalúrgicas, minerais não-

metálicos e têxteis. Nesta tabela é possível observar o crescimento dessas indústrias

e a diminuição das importações nesses setores. O maior percentual de queda no

quantum importado pode ser observado no setor têxtil com diminuição de -6,6%,

seguidos pelos setores de vestuário e calçados e alimentares, cada um com -4,9% e -

4,7%, respectivamente.

Tabela 10: Brasil: taxas anuais de crescimento da produção industrial e do quantum das importações por gênero de indústrias – 1933/1939

Produção Industrial 1933/1939

Importações (quantum) 1933/1939(%)

A. Extrativa mineral 8,1 3,8

B. Indústria de transformação 11,3 -

Minerais não-metálicos 19,9 -4,3

Metalurgia 20,6 3,6

Mecânica - 10,5

Material elétrico - 3,7

Material de transporte - 9,1

Papel e papelão 22 4,1

Química - 3,1

Produtos farmacêuticos - -1,1

Têxtil 11,2 -6,6

Vestuário e calçados 9,8 -4,9

Alimentares 1,9 -4,7

Bebidas 8,4 1,8

Editorial e gráfica - -3,8

Diversas - -7

Fonte: Villela e Suzigan (1973, p. 214).

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Após a grande crise internacional, a atividade interna se recupera, como

resultado da política de defesa diante da crise. Até a Segunda Guerra Mundial, o

Brasil ampliou sua produção, grande parte por causa da capacidade produtiva

instalada, que foi possível substituir alguns produtos que antes eram importados.

A análise da relação entre o Estado e a industrialização, a favor do

planejamento, da estruturação dos aparelhos regulatórios, com intenções voltadas

para políticas centralizadoras e voltadas para indústria, feita por Sônia Draibe, é

importante para a compreensão da organização e aparelhamento econômico do

Estado:

A construção dos aparelhos estatais no processo de formação do Estado capitalista – permeada pelos movimentos de centralização, burocratização e racionalização- está referida a uma determinada estrutura de classe e sua transformação ao longo do processo de constituição do capitalismo. O organismo material do Estado (órgãos, códigos etc.) traduz, a seu modo, essas características e os conteúdos pelos quais vão adquirindo atualidade as questões da revolução burguesa. (Draibe 2004 p.53)

As articulações dos agentes nacionais em torno de uma centralização

nacional, no período de 1930 a 1945, para criação de um Estado capitalista

industrial no Brasil, seguem, segundo Sônia Draibe, algumas características que

obedecem a certo padrão. Foram necessárias as intervenções econômicas, nesse

período, pois após a crise de 1929. Com a instabilidade econômica mundial, o Brasil

não podia depender apenas do setor agroexportador, surgindo assim a emergência

nos planos de criação de um aparelho econômico centralizado que oferecesse

suporte ao surgimento do Estado capitalista no Brasil.

O Governo teve a preocupação de modernizar administrativamente e

aparelhar o Estado, para que fosse capaz de gerar políticas com alto grau de

generalidade, expressas como “políticas do Estado” e “para toda nação”. Em 1936,

foi criado o Conselho Federal do serviço público civil, que foi sucedido pelo

Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, em 1938. Este

departamento tinha a responsabilidade de tomar medidas para controlar a carreira

do funcionalismo público e a organização do serviço público, onde tinha a

responsabilidade de elaborar e controlar o orçamento no Estado Novo. Foram

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criados também os Departamentos Estaduais do Serviço Público, os “daspinhos”

que eram subordinados à administração do DASP, que junto com os interventores e

o ministro da justiça, constituía segundo Sônia Draibe, a expressão local do poder

centralizado no Executivo Federal.

Alguns órgãos de política econômica foram criados, para enfrentar a crise, no

período de 1930 e 1945. Órgãos que segundo Sônia Draibe foram responsáveis pela

instauração de políticas gerais, compreendendo regulação e controle das áreas

cambial e do comércio exterior, monetário creditício e de seguros.

O Banco do Brasil teve uma participação importante. Como núcleo central do

sistema creditício comercial, requereu um profundo estudo para que o Banco do

Brasil fosse capaz de desenvolver expansão agrícola e o crescimento agrícola, pois

após 1933, o banco deu um suporte decisivo, onde foi criada também a

Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), em 1945, que absorveu parte

das funções das carteiras de câmbio e Redesconto do Banco do Brasil e da sua

caixa de Mobilização e fiscalização bancária. E mais atribuições importantes, que

não tiraram do Banco do Brasil seu caráter centralizador, já que essas operações

continuavam a efetuar-se no e pelo Banco do Brasil:

1. Requerer emissões de papel moeda para o Tesouro.

2. Controlar e receber com exclusividade depósitos dos bancos, pelo Banco do

Brasil.

3. Delimitar taxas de juros dos bancos.

4. Fixar as taxas de redesconto e juros de empréstimos aos bancos comerciais.

5. Autorizar compra e venda de ouro e cambiais.

6. Orientar a política cambial etc.

Os bancos nacionais e estrangeiros tiveram um papel importante para o

desenvolvimento capitalista no Brasil, financiando as atividades agrícolas, as

importações, e a indústria nascente. Segundo Sergio Silva 1976 p. 68, o capital

desses bancos em 1913, sobe para 3,23 bilhões de mil-réis, mais de 4,5 vezes o

capital industrial em 1910. E com a Primeira Guerra Mundial, os capitais antes

aplicados nas importações e exportações migram para os bancos, chegando a

atingir 11,3 bilhões de mil-réis. Para comparar a indústria tinha um capital de 3

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bilhões em 1920. Para as novas indústrias, dos trinta primeiros anos do século XX,

um forte sistema bancário, é um aliado fundamental para o financiamento das novas

estruturas.

Tabela 11: Brasil: Banco do Brasil, empréstimos industriais (preços correntes) – 1935/1945

Anos Total (Cr$ 1000) Empréstimos ao setor privado(%)*

Carteira Agrícola e industrial(Cr$ 1000)

1935 159** 19,7 -

1936 139** 17,9 -

1937 110 15,6 -

1939 141 15,8 18

1940 292 17,2 54

1941 362 15,2 237

1942 424 14,7 147

1943 676 20,5 236

1944 1317 21,6 142

1945 1377 15,6 157

Fonte: Villela e Suzigan (1973, p. 353). * Percentagem do total dos empréstimos ao setor privado, que segundo a classificação usada, abrange os seguintes subsetores: (agricultura, ind. florestal, mineração, indústria manufatureira, indústria de construção, indústria de transportes, comércio, diversas). ** Inclui indústria de construção.

Foi criado em 1941, Carteira de exportação e importação do Banco do Brasil,

a Cexim, que tinha o objetivo de amparar e estimular as exportações e assegurar

condições para o controle das importações. A Cexim, não era totalmente

independente em suas ações ela, obedecia a um orçamento cambial fixado pela

Sumoc.

Algumas instituições foram decisivas para aumento do crédito estatal, de

alcance nacional que teve seu auge com a criação do decreto de nacionalização dos

bancos de depósito em 1941, instituições como:

1. Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, em 1937.

2. Banco de Crédito da Borracha, em 1942.

3. Comissão de Financiamento da Produção, em 1943.

4. Comissão de Financiamento de Investimento, em 1944.

5. Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalizações, em 1934.

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Na área industrial Sônia Draibe destaca que, foram criadas comissões

responsáveis por organizar as diretrizes para o avanço na industrialização no novo

Estado, com:

1. Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional (1940)

2. Comissão Executiva Têxtil (1942)

3. Comissão Nacional de Combustíveis e Lubrificantes (1941)

4. Comissão Nacional de Ferrovias (1941)

5. Comissão Vale do Rio Doce (1942)

6. Comissão da Indústria de Materiais Elétricos (1944)

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4 – A SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES NOS GOVERNOS DUTRA(1946-1951) E GETÚLIO VARGAS(1951-1954) 4.1 – GOVERNO DUTRA. (1946-1951)

Após o termino da Segunda Guerra Mundial, em 1946, quem assume o

Governo é o General Eurico Gaspar Dutra. Em seu governo se manteve os mesmos

instrumentos de intervenção estatal e seu padrão intervencionista desde 1930,

porém, não na mesma dinâmica. Segundo Sônia Draibe, não houve uma ruptura no

movimento de concentração e centralização que ocorreu em 1930. Foram ampliados

a quantidade de órgãos do aparelho do Estado com a criação de novas agências:

1. Comissão Central de Preços, para o combate a inflação, no ministério do

trabalho. (1946)

2. Comissão Nacional do Trigo, no Itamarati (1946)

3. Fundação da Casa Popular (1946)

4. Divisão da Economia Cafeeira, que substitui o Departamento Nacional do

café. (1946)

5. Comissão Executiva de Defesa da Borracha. (1947)

6. Comissão Consultiva de Intercâmbio Comercial com o Exterior. (1947)

7. Comissão do Xisto Betuminoso. (1950)

8. Conselho Nacional de Economia previsto pela Constituição de 1946. (1950)

9. Comissão do Vale do São Francisco (1950)

10. Conselho Nacional de Pesquisa (1951)

Alguns órgãos foram excluídos, após a queda de Vargas, principalmente

aqueles que expressavam o caráter ditatorial do antigo regime, com exceção da

legislação trabalhista e da estrutura sindical corporativa. Com a reestruturação do

aparelho econômico ocorrida nesse período, houve a extinção ou neutralização de

órgão com maior capacidade de coordenação de políticas centralizadoras. O

Conselho do Comércio Exterior, responsável por elaborar projetos de lei em âmbito

nacional entre 1934 e 1945, ficou mantido. Entretanto, a partir de 1946, sofreu

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limitações em suas atuações. O Conselho Nacional de Economia foi instalado

somente no final do período do Governo Dutra, apesar de ser previsto pela carta

constitucional de 1946, que só foi aprovada depois de longos debates parlamentares

e regulamentada em dezembro de 1949. Não era um órgão de planejamento

econômico e teve suas atividades iniciadas somente no Governo de Vargas.

Segundo Sônia Draibe (2004, p.131) “A presença dos mecanismos de regulação do

crédito, dos juros, salários, institutos e autarquias de regulação e, finalmente, das

empresas públicas, comprovam a presença decisiva do “setor público” nesse

período”

O Plano Salte foi a terceira tentativa de estabelecer de forma coordenada e

sistematizada o planejamento do crescimento econômico do Brasil. O primeiro foi, o

Plano Especial de Obras Públicas e Reaparelhamento da Defesa Nacional em 1939,

e o segundo foi o Plano de Obras e equipamentos (1943). Entretanto, o Plano Salte

é considerado um avanço, do ponto de vista técnico de planejamento e pelos

instrumentos estatísticos mais avançados que utilizava, O Plano Salte foi elaborado

pelo Dasp em 1948, para investimentos voltados para transporte, energia,

alimentação e saúde e foi considerado junto com Plano de Metas como as primeiras

tentativas de planejamento econômico no Brasil.

É verdade que estabelecia metas de expansão e diversificação industrial: é verdade que identificava e buscava superar os entraves mais dramáticos que então se colocava ao processo de desenvolvimento econômico – a precária infra-estrutura de energia e transporte. Mas não é menos verdade que, seguindo a tônica do Governo Dutra, definia uma forma lenta e conservadora de desenvolvimento, suprimindo de seu horizonte as metas mais avançadas que marcaram o projeto econômico do Estado Novo e que emergiriam, transfiguradas, nos anos de 1950. (Sônia Draibe, 2004, p.133)

O Plano Salte deixou de enfrentar questões importantes para o crescimento

industrial, como a base de infraestrutura e o transporte ferroviário. Pois havia no

Governo a intenção de intervir em todo território Nacional, não priorizando obras

mais importantes. Essa falta de hierarquia não beneficiou a expansão industrial, e

era prejudicial no sentido de que não havia volume de recursos suficientes para

realizar diversas obras simultaneamente.

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No período de 1946 a 1950, houve um crescimento anual do produto

industrial, 11,6%, que se deve ao uso intensivo da capacidade ociosa, que chegou a

operar com 3% de capacidade ociosa em 1945, num contexto em que aumentou a

demanda por produtos nacionais, graças ao crescimento dos grandes centros

urbanos e as barreiras impostas às importações. Conforme a tabela abaixo é

possível notar que a metalurgia, material elétrico e material de transporte tiveram

crescimento do indicador acima de 20% ao ano, no período de 1947 a 1950. Nesses

setores o processo de substituição das importações aconteceu em ritmo acelerado,

tornando o Brasil cada vez menos dependente do setor externo.

Tabela 12: Brasil: Índices da produção real na indústria de transformação (1939 = 100) –

1946/1950

Gêneros 1946 1947 1948 1949 1950

Minerais

Não-metálicos

254,4 256,5 281,4 319,3 359,3

Metalurgia 247,8 308,8 378 422,8 557,7

Mecânica 114,6 115,2 123,8 119,3 149,2

Material

elétrico

120,9 145 175 197 266,2

Material de

transporte

127,8 184,8 236,2 271,2 313,2

Mobiliário - - - - -

Papel 139,4 152,7 167,7 193,7 221,6

Borracha 549 538 580,5 661,2 768,4

Couros e peles 99 105 113 116,1 118

Química e

farmacêutica

235,7 234,4 245,8 266,2 301

Têxtil 147,3 138,6 146,4 156 166,6

Alimentos 111,4 115,8 127,2 114,8 161,5

Bebidas 1831,1 182,2 195,2 198,1 233,2

Editorial e

gráfica

134 139 138 153,1 173,1

Total (“Fisher”) 170,7 177,2 194,6 213,8 243,3

Fonte: Malan et alii (1980, p. 499)

A partir de 1949, houve uma grande valorização do café, tornando possível o

aumento do quantum importado, em quase 10% em 1950. Para os setores de

metalúrgica, materiais elétricos e material de transporte, a tabela abaixo mostra a

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diminuição das importações nesses setores de maior crescimento, na metalúrgica, a

porcentagem que era de 40,3% em 1946, foi caindo gradativamente, passou para

23,4% em 1949, e chegou a 18,3% em 1950. O material elétrico teve um aumento

de 20% na produção nacional e queda nas importações de 22% entre 1946 e 1950.

O setor de transporte tinha como porcentagem de importação de 69,3% em 1946,

caiu gradativamente até atingir 50,7% em 1950. Era muito importante não somente a

queda nas importações, porém tinha que ser acompanhada do aumento da

produção interna, dos respectivos produtos para que acontecesse a real substituição

das importações.

Tabela 13: Brasil: participação relativa das importações na oferta respectiva segundo gêneros industriais – 1946/1950

Fonte:Malan et alii (1980, p. 346) *Refere-se ao total dos 10 gêneros selecionados.

**Refere-se ao total da indústria de transformação.

Gêneros 1946 1947 1948 1949 1950

Minerais não-

metálicos

12,6 15,4 11,4 8,9 7,9

Metalúrgica 40,3 38,9 23,9 23,4 18,3

Mecânica 52,2 65,4 59,4 63,4 60,3

Material elétrico 52,1 63,5 53,5 47,5 40,4

Material de

transporte

69,3 76,8 66,6 55,8 50,7

Papel 26,5 28,6 16,9 18,6 26,1

Química e

Farmacêutica

35,8 43,7 44,9 46,3 47,5

Têxtil 1,9 4,5 4,8 4,2 2,4

Alimentos 6,1 7,3 6,4 3 2,7

Bebidas 8 8,4 5,9 2,4 2,7

Soma* 17,9 24,4 19,6 16,6 15,5

Total** 15,7 21,3 17,1 14,7 13,5

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4.2 – A INDUSTRIALIZAÇÃO NO SEGUNDO GOVERNO VARGAS SOB A LÓGICA DAS SUBSTITUIÇÕES DAS IMPORTAÇÕES. (1951-1954)

“Voltarei para os braços do povo.” Getúlio Vargas, ao renunciar em 1945.

A queda de Vargas pelos militares foi apenas temporária. Vargas se elegeu

presidente em 3 de outubro de 1950, assumindo o cargo em janeiro de 1951, e

tendo Café Filho como Vice-Presidente. O segundo governo presidencial de Vargas,

agora eleito pelo voto do povo, com quase 50% dos votos, durou até 24 de agosto

de 1954, com o seu suicídio.

Ao assumir novamente o Governo, Vargas procurou colocar em prática as

políticas de incentivo a industrialização e desenvolvimento social e econômico, que

havia implantado no seu primeiro governo, só que mais profundo e complexo do que

havia implantado em 1930. Os principais problemas enfrentados por Vargas ao

assumir novamente o governo foram a inflação, que vinha desde o Governo Dutra e

déficits do setor externo e do orçamento público.

Sônia Draibe destaca quatro elementos fundamentais para organização da

nova estrutura criada no segundo Governo Vargas:

1. Rede de mecanismos de centralização efetiva dos comandos.

2. A empresa pública como fator de dinamização do desenvolvimento.

3. Banco de investimentos.

4. Novo desenho do empresariado com o Estado.

Definiram-se ao mesmo tempo, um programa de desenvolvimento capitalista da agricultura, um bloco integrado de inversões visando a industrialização pesada, um projeto de desenvolvimento urbano e de vinculações orgânicas entre o campo e as cidades e, finalmente, uma concepção de “integração” das massas trabalhadoras urbanas no processo de desenvolvimento, através de políticas especificas de bem estar social. (Sônia Draibe 2004, p.169)

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Apesar de terem existido anteriormente, projetos de direção política na área de

industrialização, no primeiro governo de Vargas e no governo Dutra, somente a

partir de 1951, segundo Sônia Draibe(2004), é que ocorrem de modo explícito,

integrado e compatibilizado, diferente do modo parcial e fragmentado que haviam

sido tratadas, concentrados principalmente em cinco eixos.

1. A Industrialização, implantado do modo rápido e concentrado, com

investimentos públicos e privados em infraestrutura e indústria de base,

sendo de responsabilidade da empresa estatal, ter um papel dinâmico e

estratégico.

2. Investimentos estatais em melhorias técnicas, mecanização, créditos e

financiamento às empresas agrícolas, e estruturas integradas de

armazenamento e comercialização, para apoiar a agricultura.

3. Redistribuição de renda e melhorias na qualidade de vida nos centros

urbanos, principalmente em transporte e alimentação

4. Organização de um sistema financeiro, apoiado na criação de bancos

regionais e de um banco central, e também na ampliação dos impostos, para

melhor gerenciar melhor, os fluxos de investimentos públicos e privados.

5. Uma nova forma de negociação da economia brasileira com o capitalismo

internacional, capaz de indicar as preferências para entrada de capital

externo, nos investimentos, e limites à remessa de lucro.

Os investimentos em infraestrutura, energia e transporte, continuavam sendo

as metas centrais no segundo governo de Vargas, sendo agora mais aparelhados

por comissões técnicas, entre 1951-54. No setor elétrico ficou estabelecida uma

meta de instalação anual de 200 mil quilowatts, já que o déficit era de meio milhão

de quilowatts, diante da implantação de novas indústrias e grandes obras. O Plano

Nacional de Eletrificação, foi enviado ao Congresso, em 1954, com o objetivo de

expandir, de 2 para 4 milhões de quilowatts a capacidade energética do país, num

prazo de dez anos e a criação de uma indústria pesada de material elétrico, além da

organização de dois grupos de sistema: o das grandes centrais elétricas, no centro-

sul e o das usinas isoladas não interconectáveis. Entretanto Sônia Draibe

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45

acrescenta que, nem todos os objetivos foram concretizados no plano, sendo

implantados somente em 1964, no governo de Kubitschek, parte pelo Plano de

Metas.

Na área do petróleo, foram realizadas pesquisas e investimentos, com a

intenção de refinar e armazenagem desse refino, com intenção de transformar o

Brasil de grande importador de refinados em importado do óleo cru, para transformá-

lo internamente. Esses objetivos foram conquistados no longo prazo, em virtude do

tempo e do volume de recurso. Inicialmente, foi duplicada a refinaria de Mataripe e

intensificado a construção de Cubatão. Foi enviado em dezembro de 1951, ao

Congresso, pelo executivo, o Programa do petróleo Nacional, propondo a criação da

Petrobras, pois as previsões eram de que até 1955, o consumo do país passaria de

100 mil para 200 mil barris diários.

Na área do transporte, havia muitas melhorias a serem realizadas, pois era um

dos maiores entraves para o crescimento industrial. As distâncias e as dificuldades

topográficas estavam longe de serem solucionadas, mas havia uma proposta de

enfrentamento a esse problema:

As diretrizes para enfrentar tais questões foram apontadas: revisão do velho Plano Nacional de Viação, datado de 1934, e a adoção de um novo, que previsse a expansão, integração e consolidação de todas as redes; programas de reaparelhamento dos portos, eletrificação acelerada das ferrovias, renovação dos equipamentos, revestimentos das estradas de rodagem, melhorias das condições de navegabilidade dos rios e, finalmente, aperfeiçoamento do transporte aéreo nacional. (Sônia Draibre 2004, p. 173)

A Comissão de Desenvolvimento Industrial apresentou, em 1952, o Plano Geral

da industrialização, o documento que descrevia as diretrizes para o crescimento

industrial. As atividades industriais foram divididas em três grupos: indústrias de

infraestrutura, de base e as indústrias de transformação, e receberam incentivos do

governo, como: isenções de tarifas; impostos e proteção aduaneira, de

responsabilidade do Ministro da fazenda e do poder Legislativo; na política cambial,

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de responsabilidade da Cexim; e medidas de assistência financeira, concedidas

principalmente pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil.

A implantação da indústria pesada no Brasil enfrentaria problemas de

financiamento interno e externo, necessários para sua implantação. Existia uma

preferência pelo financiamento externo, disponíveis nas instituições, Eximbank e o

BIRD, pois o financiamento externo, segundo Sônia Draibe (2004 p. 183), abria ao

governo brasileiro a possibilidade de decidir sobre o uso dos fundos e era

complemento em divisas indispensáveis ao investimento estatal na área de

infraestrutura.

Foi criada em 1951, a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU),

responsável por tratar das relações entre os dois países, composta de técnicos do

Brasil e dos Estados Unidos, para formular projetos em infraestrutura. Os

financiamentos dos projetos foram realizados pelos Banco Internacional de

Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o de Exportação e Importação

(Eximbank) americano. O montante de financiamento aprovado pelo Plano de

Reaparelhamento Econômico, foi de US$ 387 milhões. Porém, devido os atritos

entres os dois governos, chegou-se ao fim em 1954 com financiamentos de parte do

valor US$ 186 milhões.

Na tabela abaixo podemos perceber os índices de crescimentos industriais no

Brasil no período de 1951 a 1954. Os minerais não-metálicos cresceram 58%, nesse

período Editorial e gráfica tiveram um crescimento de 34%.

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Tabela 14: Brasil: índices anuais da produção industrial, base: 1949 = 100 (série FGV) – 1951/1954.

Classe e gêneros

de indústria

ÍNDICES ANUAIS DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

1951 1952 1953 1954

Indústria geral 118,7 125,2 136,8 149,2

Indústrias

extrativas

118,2 114,3 123,3 120,7

Industria de

transformação

118,8 125,4 137,1 149,8

Produtos de

minerais não-

metálicos

113,7 125,3 150,7 180,3

Metalúrgica 139,7 145,8 166,5 179,9

Mecânica - - - -

Material elétrico e

de comunicação

- - - -

Material de

transporte

- - - -

Madeira - - - 82,5

Mobiliário - - - -

Papel e papelão 120,6 121,0 134,6 145,2

Borracha 127,5 135,4 151,2 172,1

Couros e peles e

produtos similares

109,0 103,6 109,9 110,7

Química 150,8 137,9 164,4 183,6

Têxtil 102,8 108,4 114,0 134,6

Vestuário,

calçados e tecidos

- - - -

Produtos

alimentares

115,6 117,0 124,5 122,1

Bebidas 140,3 152,1 158,0 161,9

Fumo 134,5 148,3 154,4 177,8

Editorial e gráfica 146,1 174,4 177,9 196,0

Diversas - - - -

Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. 2. Ed. ver. e atual. do v.3 de Séries estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

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Bresser analisa que:

Todo o desenvolvimento industrial brasileiro no período em foco ocorreu fundamentalmente através de um processo de substituição das importações. Esta era, aliás, a única alternativa para o Brasil, dadas as limitações as possibilidades de aumento de nossas exportações. O Brasil, durante o período da sua revolução industrial, voltou-se para dentro. A industrialização ocorreu aproveitando-se o mercado interno já existente para produtos industriais importados que eram substituídos por produtos fabricados no país. Tivemos, assim, uma drástica redução do coeficiente de importações, que baixou de 12,6% no período de 50-54 para 8,6% no período de 55-61. Isso significa que, á medida que crescia a renda, cresciam menos do que proporcionalmente as importações, que iam sendo substituídas pela produção nacional. (Bresser, 1972, p.52)

Tabela 15: Brasil: Índices de quantum das importações por grupos principais (1948 = 100) -1951/1954

1951 1952 1953 1954

Bens de consumo final

Duráveis 164,4 101 21,7 23,8

Não duráveis 164,7 162,1 113,3 131,4

Subtotal 164,6 128,4 62,8 72,1

Combustíveis e lubrificantes

163,5 180,8 178,2 214,4

Produtos intermediários

Metálicos 221,3 188,7 163,4 319,4

Não metálicos 187,8 159,9 140,2 181,8

Partes complementares

158,3 122 17,7 73,4

Subtotal 186,6 156 115,3 180,1

Bens de capital 207 236,4 116,9 134,7

Total 186,2 179,2 115,2 152,7

Fonte: Tavares (1977, p. 81)

Ao analisar a tabela, é possível ver a queda de 3,2% no quantum de

importação nos produtos intermediários não-metálicos. Já nos metálicos houve um

aumento de 44%. Entre os crescimentos mais destacados estão, a indústria química

com um crescimento de 21% e a indústria têxtil com um crescimento de 30%.

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4.3 A POLITICA DE INDUSTRIALIZAÇÃO

A industrialização no Brasil entre 1930 e 1955, foi resultado de uma política de

incentivo à expansão e diversificação do parque industrial, para suprir a deficiência

gerada pela crise no setor agroexportador, durante a crise de 1929 e romper seu

passado agrário, e de caráter basicamente colonial. Ou seja, uma industrialização

como resultado do processo de substituição das importações.

Nos primeiro governo Vargas (1930/45), ocorrem diversas transformações

políticas, econômicas e sociais no país. As importações de produtos de bens não

duráveis foram as primeiras a serem substituídas pela produção interna, por exigir

uma complexidade menos para sua produção.

Tabela 16: Brasil: participação relativa das importações (M) na oferta industrial total (M+P-X), (em % baseadas em valores constantes de 1939) – 1928/1955

Anos M/(M+P-X) Anos M/(M+P-X)

1928 44,6 1942 11,2

1929 44,3 1943 11,2

1930 35,5 1944 13,2

1931 25,1 1945 13,2

1932 22,6 1946 18,2

1933 28,2 1947 24,4

1934 27,4 1948 19,6

1935 23,8 1949 17

1936 21,3 1950 15,8

1937 25,1 1951 20,1

1938 21,4 1952 18,6

1939 19,7 1953 12,1

1940 16,6 1954 14,7

1941 15,9 1955 9,5

Fonte: Malan et alii (1980, p. 287)

Na tabela 16, indicam-se os efeitos das política de industrialização, entre 1930

e 1955, nas quantidades de importações. Antes da grande crise, as importações

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correspondiam a 44,6% do total da oferta industrial. Em 1932, já representava

22,6%, e em 1946. No início do Governo Dutra 18,2%. Em 1953, no segundo

Governo Vargas chegaram a 12,1%, e no final do período analisado. Em 1955 a

queda já representava 9,5% da oferta industrial total. Segundo Bresser 1972, p. 52

entre 1930 e 1961, o crescimento da produção industrial brasileira foi de 683%, de

1940 a 1961. O Produto Interno Bruto cresceu 232%, em 22 anos. A produção

industrial brasileira aumentou quase seis vezes mais, e com ritmo de

desenvolvimento mais que o dobro do ritmo de desenvolvimento global da

economia.

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5 – CONSIDERAÇOES FINAIS

O Brasil antes de 1930 era um país predominantemente primário exportador,

tendo o café como principal produto, na pauta de exportação, sendo o maior

produtor do mundo. O café foi responsável pela criação de um sistema de

reprodução ampliada capaz de gerar capital necessário para implantação da

indústria no Brasil.

A baixa diversidade de produção e a alta dependência do setor externo

tornavam o Brasil bastante vulnerável às superproduções, crises e eventos

climáticos. O Brasil enfrentou uma grave crise no seu modelo de desenvolvimento

agroexportador, em 1930, tanto pelo lado da oferta, com as superproduções e

quebra de safras como pelo lado demanda, com as crises externas. Com a grande

depressão econômica de 1929 completou o aprofundamento da crise cafeeira. A

participação do governo foi muito importante para evitar o aprofundamento da crise.

Portanto tornou-se insustentável o modelo de desenvolvimento

agroexportador, altamente especializado, pelo menos não na mesma proporção de

antes da grande crise de 1929. A crise nesse modelo exigia urgência na tomada de

medidas que não fossem somente paliativas. Sem condições de recorrer a

empréstimos externos, por causa da crise internacional, a solução foi encontrar os

recursos internamente, aumentado os impostos no setor cafeeiro.

A substituição das importações aconteceu de forma gradual em diversos

setores, as primeiras indústrias implantadas exigiam uma menor complexidade na

produção. Aconteceu de forma rápida, coordenada pelo governo, que tinha um papel

estratégico e dinâmico. Foram realizados também melhorias técnicas, mecanização

e financiamento ao setor agrícola. O governo investiu na melhoria da qualidade de

vida nos centros urbanos, na organização do setor financeiro e inovou na forma de

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negociação com o capitalismo internacional, indicando as preferências para entrada

de capital externo, nos investimentos.

A substituição das importações deu início a implantação da indústria leve, no

Brasil, de início com produção de produtos que não exigiam alta complexidade na

produção, com investimentos públicos em infraestrutura (ex.: siderurgia), Forneceu

as condições necessárias para implantação da industrialização pesada no governo

de Juscelino Kubitschek.

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