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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA
LUCIENE DE VASCONCELOS CASADO
PROF. DR. ANIERES BARBOSA DA SILVA ORIENTADOR:
NATAL/RN
NOVEMBRO - 2010
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LUCIENE DE VASCONCELOS CASADO
AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINAMICA TERRITORIAL EM VERA CRUZ/RN
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, atendendo a uma das exigências para a obtenção do titulo de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva.
NATAL/RN NOVEMBRO - 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
FOLHA DE APROVAÇÃO
A dissertação “Agricultura familiar, políticas públicas e dinâmica territorial em Vera Cruz-RN”, apresentada por Luciene de Vasconcelos Casado, foi aprovada e aceita como um requisito para a obtenção do titulo de Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela seguinte banca examinadora:
_________________________________________________________ Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva - UFPB
Orientador
________________________________________________________________
Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza - UFPB (Examinador externo)
________________________________________________________________
Profª. Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes - UFRN (Examinador suplente)
NATAL/RN NOVEMBRO - 2010
A Rita, Hilca, Janaina e Polyana
Por todos os momentos vívidos!
AGRADECIMENTOS
Na caminhada pelo conhecimento, nos deparamos com momentos de
vitórias, de angustias, de alegrias e mesmo de sentirmos incapazes de
alcançar os nossos objetivos. Mas para tanto, chegamos a uma conclusão bem
fortalecedora... não estamos sós.
Para cada passo, existiu um gesto, um comentário, um sorriso, uma
lagrima, um conselho e uma mão estendida a nos acolher e guiar. E aqui
chegamos para dar mais um passo, e para aqueles que propiciaram o meu
caminhar menos monologo, meus agradecimentos. Para tanto, existiram
aqueles à quem preciso destacar alguma palavras...
À Deus, sempre em primeiro lugar nas minhas caminhadas e
responsável pela vida que me concede todos os dias, eternamente grata.
À minha família, em particular, meus pais e irmãos, minha eterna
gratidão pela compreensão e incentivo nas minhas escolhas, que com amor
incondicional e apoio, estão sempre presente com um sorriso de fortaleza nos
momentos de conquista, ou uma mão estendida nas horas difíceis. Minha
vitória seria sem cor sem a existência de vocês.
A todos os professores do Departamento de Geografia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, o meu reconhecimento pela dedicação e
compromisso na disseminação do saber na academia.
Aos professores Celso Locatel e Fernando Bastos, por suas valorosas
contribuições na banca de qualificação, muito obrigada.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva, que acolheu-me
em meus objetivos e concedendo-me tempo, atenção, contribuições e
principalmente, paciência para a finalização deste trabalho. Obrigado por tudo,
meu imenso respeito e eterna gratidão.
Aos meus queridos amigos (as) pelo privilégio de tê-los no convívio
diário, na busca de ser a cada dia um ser melhor e de tornar a cada momento
um eterno aprendizado. A vocês minha eterna alegria de viver.
A amizade sincera, a paciência fortalecedora, as alegrias contagiantes e
as conversas pelas quais crescemos e amadurecemos enquanto pessoas.
Assim com essas palavras agradeci quando do termino da monografia, e hoje
reafirmo meu agradecimento à minha irmã do coração, à qual a palavra
amizade se materializa e se fortalece a cada momento. Meu eterno
agradecimento a Janaina Silveira, por todos os momentos de nossa amizade.
À Claudio André, Beatriz e Polyana, pelo apoio técnico e incentivo, pelos
risos e alegria que contagiaram nos momentos difíceis, modificando-os para a
certeza que tudo iria dar certo. Muito obrigada.
Meus sinceros agradecimentos a Fátima Viegas, pelo apoio e
acolhimento no município de Vera Cruz/RN, em nome de quem estendo meus
agradecimentos a todos que contribuem para o desenvolvimento de melhores
oportunidades para os citadinos Veracruzenses.
Em especial, ao amigo Edvaldo pela alegria de compartilhar junto a sua
família, o apoio, as conversas e ajuda mais que necessária em campo. Você é
parte integrante desse trabalho de forma incondicional. Muito obrigada.
Enfim, a duas pessoas mais que especiais, a profª. Rita de Cássia da C.
Gomes e Hilca Honorato, pela insistência em acreditar em mim e ter me
disponibilizado um espaço em suas vidas, depositando por mais uma vez, o
voto de confiança na minha pessoa; agradeço-as também pela paciência e
incentivo integral nos momentos que mais precisei. Muito obrigado por tudo.
A todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para a execução
dessa dissertação!
Meus sinceros agradecimentos!
“Entre o "fio da navalha" da
exclusão/inclusão social coloco
em debate o papel do território
enquanto um possível "fio da
meada" que possa dar início a
uma nova trama de tecer as
políticas públicas brasileiras
em direção à justiça social".
Dirce Koga
CASADO, Luciene de Vasconcelos Casado. Agricultura familiar, políticas públicas e dinâmica territorial em Vera Cruz/RN. Dissertação. (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Natal, 2010.
RESUMO
A agricultura familiar hoje desempenha um papel social, marcada de relações político-econômicas, importantes para o desenvolvimento do Brasil e principalmente, para as pequenas cidades, quem tem nessa atividade, sua principal fonte de renda. Para tanto, a ação do Estado intervindo nos territórios rurais, através das políticas públicas, vem implementando estratégias de forma a dinamizar, reconhecer e “proteger” a agricultura familiar. Nessa perspectiva o presente trabalho objetiva analisar a dinâmica do território, tendo em vista a aplicação e efetivação de políticas públicas, como o PRONAF e o compra direta, destinadas a agricultura familiar do município de Vera Cruz. Com base nesse enfoque, buscou-se discutir na continuidade temporal da inserção das políticas públicas no âmbito municipal, a atual configuração e dinâmica da agricultura familiar, suas fragilidades em solver as políticas localizadas e direcionadas a esse seguimento, questionando os entraves e as influências de políticas que nesse território se dá. Como aporte teórico, utilizamos o conceito de Território, segundo Santos, visto considerarmos a abordagem territorial um caminho importante a subsidiar o entendimento, a análise e a critica na trama territorial que envolve o espaço rural. Como metodologia utilizou-se levantamento bibliográfico, em periódicos, livros, documentos digitais e entrevistas in loco, com técnicos, agricultores e pessoas ligadas à esfera governamental, para se obter uma análise qualitativa da atual situação da agricultura familiar no município. Constatou-se que a agricultura familiar se faz presente no município, como um dos principais motores ao seu desenvolvimento, e nesse, as políticas públicas aí inseridas desempenham um papel importante para a inserção de capital, bem como na própria comercialização dos produtos aqui produzidos. Porém faz-se necessário um maior envolvimento de todos os agentes e atores sociais, na busca de se apropriarem melhor dos recursos a eles destinados, e mesmo, de se articularem e fortalecerem, dando impulso à dinâmica local, não permitindo que os benefícios aqui inseridos, estejam restritos a alguns grupos. Palavras chaves: Território. Agricultura Familiar. Políticas Públicas.
ABSTRACT
Familiar agriculture today plays a social role, marked of politician-economic, important relations for the development of Brazil and mainly, for the small cities, who has in this activity, its main source of income. To in such a way, the action of the State intervined in the agricultural territories, through the public politics, comes implementing form strategies to dinamise, to recognize and “to protect” familiar agriculture. In this perspective the present objective this paper, to analyze the dynamics of the territory, in view of the application and effectivetion of public politics, as the PRONAF and the direct purchase, destined the familiar agriculture of the town of Vera Cruz. On the basis of this approach searched to argue in the secular continuity of the insertion of the public politics in the municipal scope, the current configuration and dynamics of familiar agriculture, its fragilities in solving the politics located and directed to this pursuing, questioning the impediments and the influences of politics that in this territory if of. As it arrives in port theoretical, we use the concept of Territory, according to Saints, seen to consider the territorial boarding a way important to subsidize the agreement, the analysis and it criticizes it in the territorial tram that involves the agricultural space. As methodology bibliographical survey was used, in periodic, books, digital documents and interviews in loco with technician, agriculturists and on people to the governmental sphere, to get a qualitative analysis of the current situation of familiar agriculture in the city. It was evidenced that familiar agriculture if makes gift in the town, as one of the main engines to its development, and in this, there inserted the public politics play an important role for the capital insertion, as well as in the proper commercialization of the products produced here. However a bigger envolvement of all becomes necessary the social agents and actors, in the search of if better appropriating of the resources they destined, and same of if articulating and fortifying, giving to impulse the local dynamics, not allowing that the here inserted benefits, are restricted to some groups. Words keys: Territory. Familiar agriculture. Public politics.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Primeira residência em alvenaria 45
Figura 02 - Igreja de Vera Cruz 45
Figura 03 - Território de Vera Cruz no âmbito da Micro-região Agreste, Rio
Grande do Norte e Brasil 46
Figura 04 - Mapa de localização dos distritos municipais no território de Vera
Cruz/RN no âmbito do Rio Grande do Norte 50
Figura 05 - Distribuição de estabelecimentos rurais no Brasil segundo dados
do censo agropecuário de 2006. 68
Figura 06 - Mapa da produção agrícola e outras atividades econômicas nos
distritos de Vera Cruz-RN 83
Figura 07 - Linha de evolução relativa aos números de contratos e ano
respectivamente 89
Figura 08 - Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores 89
Figura 09 - Imagem da plantação de feijão com sistema de irrigação na comunidade de Araça II 90 Figura 10 - Imagem de tanques para o sistema de irrigação na comunidade de
Areias - Vera Cruz-RN 90
LISTA DE TABELAS
Tabela 01- Número de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram
financiamento por motivo da não obtenção do financiamento. ........................ 78
Tabela 02- Número de estabelecimento agropecuários que não obtiveram
financiamento por motivo da não obtenção do financiamento ......................... 79
LISTA DE SIGLAS
ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural
CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento
CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
EMATER/RN – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio
Grande do Norte
FPM - Fundo de Participação Municipal
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA - Instituto de Colonização e Reforma Agrária
MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário
PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor rural
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PGPAF - Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15
1. RELEITURAS: território, agricultura familiar e políticas públicas ......... 22
1.1. Território e suas dinâmicas ....................................................................... 23
1.2. Territórios rurais e agricultura familiar: uma face nesse processo ............ 29
1.3. Políticas públicas: Ação do Estado intervindo no território ........................ 38
1.4. Vera Cruz/RN: perspectivas e realidades na formação territorial .............. 43
2. POLÍTICA PÚBLICA E USOS DO TERRITÓRIO RURAL .......................... 56
2.1. Espaço rural e territorialidades: os usos e as solidariedades .................... 57
2.2. Políticas públicas e agricultura familiar: faces políticas e sociais .............. 65 2.3 Vera Cruz/RN: entre oportunidades e desigualdades ............................... 69
3. VERA CRUZ/RN: situações geográficas do passado ao presente ......... 77
3.1. Agricultura familiar, estrutura produtiva e dinâmica territorial .................... 77
3.2. Vera Cruz: dinâmica local e configuração de um território ........................ 83
PREMISSAS DE CONCLUSÃO ...................................................................... 97
REFERÊNCIAS IBLIOGRÁFICA...................................................................102
APÊNDICE A...................................................................................................107
APÊNDICE B........................................................................................109
APÊNDICE C .............................................................................................111
Introdução
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INTRODUÇÃO
Este trabalho estuda a agricultura familiar, as políticas públicas e a
dinâmica territorial em Vera Cruz, Rio Grande do Norte. A área objeto de
estudo foi escolhida, visto sua dinâmica econômica estar atrelada à agricultura
familiar, e essa, por sua vez, materializar no uso de seu território, reflexos da
efetivação de políticas públicas de ordem federal bem como as contradições
socioterritoriais, faces da questão do desenvolvimento rural.
Os estudos sobre espaços rurais sempre estiveram na pauta das
agendas políticas e econômicas, devido a sua importância para a realidade
brasileira. Nessa perspectiva, a década de 90 foi marcada por avanços quanto
ao reconhecimento da importância da agricultura, possibilitando ações mais
efetivas para se obter o desenvolvimento do campo. Nesse contexto, crescem
as pesquisas e os estudos com vista a qualificar e quantificar o que estaria
acontecendo nos espaços rurais, direcionando-se o conhecimento para se
estabelecerem novas bases para a formulação de políticas públicas destinadas
a esse segmento econômico.
Surgem novos conceitos, na busca de melhor compreender a
complexidade existente, principalmente no que diz respeito a necessidade de
se rever o papel dos espaços rurais e da agricultura no processo de
desenvolvimento social e produtividade econômica, respondendo às demandas
de mercado e diminuindo as desigualdades evidentes entre a agricultura
patronal e a familiar.
Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda
impõem limites às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo
e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos a agricultura familiar
vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,
o que indica o reconhecimento do papel dessa agricultura e sua contribuição
para a economia brasileira.
E são essas mudanças, de caráter institucional e territorial, que dão
fundamento a nossos questionamentos e a este estudo. Assim, o universo
desta pesquisa se insere no tema da agricultura familiar e articula-se com a
área de concentração “Dinâmica e (re) estruturação do território”, do curso de
pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Dessa forma, a categoria de análise “território” perpassa por toda a pesquisa,
propondo-se um estudo teórico-empírico denominando-se teoricamente
geográfico.
Nesse contexto, o estudo busca analisar a dinâmica do território tendo
em vista as políticas públicas, que se fazem relevantes para a dinâmica
territorial executada pela agricultura familiar do município de Vera Cruz. E,
ainda, refletir sobre como as políticas públicas direcionadas à agricultura
familiar se materializam nas ações políticas, econômicas, sociais, culturais e
geográficas nesse território.
Um ponto de extrema importância, que fundamenta e justifica o
desenvolvimento deste estudo, diz respeito às lacunas ainda existentes no Rio
Grande do Norte quanto a estudos voltados para analisar a relação entre
agricultura familiar e políticas públicas, sobretudo se considerarmos a
importância da unidade familiar na dinâmica territorial dos espaços rurais no
Brasil, bem como a ausência de estudos sobre o recorte espacial que
escolhemos, tal situação confirma, portanto, a observação feita por diversos
pesquisadores quanto à necessidade de se colocar em evidência a importância
dessa agricultura na produção do território.
A escolha do município de Vera Cruz-RN para o desenvolvimento desta
pesquisa justifica-se pela história do município, o qual desde seu povoamento,
tem a agricultura como principal atividade econômica. Desde então, destaca-se
aí a forte presença de pequenos produtores, que são os responsáveis pela
produção que impulsiona a economia do local e contribuem para a expansão
da infraestrutura rural / urbana.
O município de Vera Cruz está localizado no estado do Rio Grande do
Norte e, pela classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), está inserido na microrregião do Agreste Potiguar. Situa-se a 37 Km da
cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Possui uma área de 92,12
Km², equivalente a 0,19 % da superfície estadual, tendo como limites político-
administrativos os seguintes municípios: Macaíba, ao norte; Monte Alegre e
Lagoa Salgada, ao sul; São José de Mipibú, a leste; e Boa Saúde e Macaíba, a
oeste.
Nosso interesse é acrescentar algo às análises referentes à
problemática da agricultura familiar, constituindo o espaço rural como do
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debate sobre essa questão de forma a contribuirmos para a academia, e para a
ciência à nos dedicamos, a Geografia.
O nosso recorte espacial que exploraremos compreende o espaço rural
do município de Vera Cruz, composto por catorze comunidades – Cobé,
Papagaio, Araçá (I, II e III), Ponta de Várzea, Pitombeira, Jacaré, Euzébio,
Jenipapo, Sítio Santa Cruz, Pororocas, Areias e Vera Cruz – as quais foram
contempladas por políticas públicas destinadas à agricultura familiar.
Buscaremos informações junto aos agentes sociais envolvidos e/ou excluídos
da dinâmica de desenvolvimento territorial, bem como aos gestores dessas
políticas nos municípios, especialmente as organizações civis que atuam na
área de estudo promovendo aí o desenvolvimento da agricultura familiar.
A investigação compreende uma análise qualitativa, que visa promover e
ampliar o entendimento da temática em tela e responder aos questionamentos
propostos para o estudo, visto que será na análise dos dados obtidos durante a
pesquisa que a representação de um universo de significados, atitudes e
relações políticas e socioterritoriais, se tornará mais compreensível.
Para a produção de informações sobre a realidade da dinâmica territorial
foram realizadas entrevistas, com perguntas abertas, com os diversos agentes
sociais envolvidos no estudo em tela. Entrevistamos os assistentes técnicos,
secretários municipais, prefeito e agricultores.
Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram assim distribuídos:
Etapa 1: Fontes (levantamento e obtenção de dados bibliográficos,
documentais e cartográficos)
Essa etapa da pesquisa foi contínua, e objetivou tomarmos
conhecimento dos trabalhos já publicados e relacionados com o presente
estudo no âmbito local e no geral, fornecendo-nos um arsenal teórico-
conceitual referente à análise que pretendíamos realizar. Para a obtenção de
informações referentes a dados estatísticos e documentos que abordavam os
principais eventos que contribuíram para a realidade que estava sendo
analisada e aos contextos em que estavam inseridos, recorrermos a órgãos
com competência para isso.
Apreendemos, também conhecimentos dos trabalhos já publicados
relacionados com o presente em estudo disponíveis no acervo da biblioteca
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central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nas
bibliotecas setoriais dos Departamentos de Geografia e de Ciências Sociais,
bem como; de sites oficiais, como: o portal da CAPES, que contém
dissertações e teses, o site da revista de geografia e ciências sociais Scripta
Nova, o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), e o
portal do Governo brasileiro; e dos ministérios que participam da discussão e
implementação de políticas públicas diretamente relacionadas com a temática
do estudo.
Nessa etapa, buscamos também documentos cartográficos, mapas e
informações relacionadas aos eventos que configuraram a atual situação
geográfica em questão, em jornais e revistas de circulação local bem como em
órgãos ou instituições não elencados aqui.
Etapa 2: Procedimentos (Produção de informações)
Essa etapa da pesquisa, associada à etapa anterior, consistiu numa
significativa busca de informações, visando ao alcance de nossos objetivos,
com a realização da pesquisa in loco. Entre conversas informais, aplicação de
entrevistas e observações diretas (Anexo A), foi feito o levantamento de
campo.
Etapa 3: Análise dos dados levantados em campo e produção do texto
final
Os dados obtidos através da pesquisa de campo serviram de base para
a construção de uma matriz de periodização e para as análises, as quais foram
construídas à luz de um arcabouço teórico-metodológico.
Esperávamos desse modo compreender como o território é usado e
dinamizado pela agricultura familiar com a aplicação de políticas públicas em
Vera Cruz-RN.
A presente dissertação está organizada em três partes. A primeira tem
como objetivo a apreensão de uma matriz de periodização dos principais
eventos que constituíram a formação territorial do município de Vera Cruz-RN.
Nesse percurso, realizamos releituras conceituais, bases teóricas que nos
permitiram melhor compreender o tema em estudo e elaborar nossas análises,
ao passo que foi na inter-relação teórico-empírico que se ancoraram nossas
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reflexões. A “trama territorial”, que se fundamenta nas relações entre a
agricultura familiar, as políticas públicas e as ações correspondentes no uso do
território, é a peça-chave deste estudo. Nesse sentido, seguimos na
perspectiva de uma discussão conceitual intercalada com dados da situação
geográfica do recorte espacial que escolhemos para a análise – o município de
Vera Cruz-RN.
Na segunda parte, analisamos os usos e as solidariedades que ocorrem
no espaço rural, principalmente aquelas, que estão diretamente relacionadas
com a situação da agricultura familiar. As políticas públicas a ela direcionadas,
também aqui se fazem importantes tendo-se em vista os entraves encontrados
nos territórios, quanto ao acesso a elas, a sua aplicação e efetivação, ainda
que tudo isso seja reflexo de transformações benéficas ao desenvolvimento do
espaço rural. Para atingir nossos objetivos, buscamos, na bibliografia
relacionada a nossa análise, reflexões, propostas e respostas para a discussão
em curso.
Na terceira parte, analisamos a atual situação do território de Vera Cruz,
a partir da dinâmica que a agricultura familiar promove no município. Iniciamos
nossas reflexões com base numa discussão teórica sobre a agricultura familiar
e a estrutura produtiva, considerando a primeira responsável por uma parcela
significativa da dinâmica territorial do Brasil e, especificamente, da dinâmica e
da configuração do território de Vera Cruz-RN.
As reflexões que conseguimos fazer nos levam a considerar que, ainda
que as políticas e os programas governamentais desenvolvidas no espaço rural
tenham o objetivo de oportunizar melhores condições ao pequeno produtor, a
sua produção e consequentemente, a melhoria de sua vida, permitindo, assim
sua permanência no campo, há, ainda, uma grande parcela de agricultores que
não se inserem nesse contexto, perpetuando as condições de atraso
historicamente construídas no Brasil, principalmente no nordeste brasileiro.
É, contudo, pertinente frisarmos a importância de tais políticas para o
desenvolvimento do espaço rural brasileiro, embora fazendo algumas ressalvas
quanto a particularidades ainda existentes, principalmente em pequenas
cidades, nas quais a agricultura de subsistência continua presente.
Partimos do pressuposto de que, diante de movimentos contraditórios,
nos quais o capital se faz presente na economia e, principalmente, na política,
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os eventos que configuram a atual situação da agricultura familiar ainda são
permeados de uma cultura clientelista, que proporciona a permanência de
tantas já conhecidas realidades socioculturais.
.
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1 RELEITURAS: TERRITÓRIO, AGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS PÚBLICAS
Nosso objetivo aqui é a apreensão de uma matriz de periodização dos
principais eventos que constituíram a formação territorial de nosso recorte
geográfico de estudo – o município de Vera Cruz-RN. Fizemos releituras
conceituais, as quais são nossas bases teóricas, que nos permitem melhor
compreender o tema em tela e apresentar nossas análises, pois é na inter-
relação teórica e empírica que se ancoram nossas reflexões.
A “trama territorial” que se fundamenta nas relações entre a agricultura
familiar, as políticas públicas e as ações destas no uso do território são as
peças-chave deste estudo. Seguimos na perspectiva de uma discussão
conceitual intercalada com os dados concretos que dizem respeito à situação
geográfica do município de Vera Cruz-RN.
Essa é mais uma oportunidade de colocar em evidência o conceito de
território, que vem sendo motivo de diversas análises e de divergências, tanto
no meio acadêmico-científico quanto no quadro institucional, tendo em vista a
maneira como vem sendo utilizado na formulação de políticas, programas e
projetos de cunho econômico-social. Nestes o conceito de território é utilizado
como uma “noção espacial”, como unidade de planejamento para execução de
ações governamentais. Na reflexão que substancia nossas análises, temos o
entendimento de que a abordagem territorial orienta e facilita o entendimento
do movimento, das contradições, ou das dominações, contemplando como
resultado as desigualdades socioterritoriais existentes no Brasil.
Geograficamente, as ações, os objetos e mesmo as subjetividades se
materializam num dado espaço, que, ao ser compreendido como uma instância
social, se configura um espaço geográfico. Nessa linha de reflexão, o estudo
problematiza um objeto construído – a agricultura familiar – elegendo como
categoria de análise o território — e consequentemente seus “usos e abusos”
(SOUZA, 2003). E as políticas públicas, aqui entendidas como um discurso
institucional, configurado nas normas, nas técnicas e nas juridicidades,
implicando nesse território e na relação com a agricultura familiar, uma
dinamicidade, dando forma e que tem consequências políticas, sociais e
econômicas.
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As formas geográficas, são objetos materializados e localizados no
território (fazendas, casas, tratores, animais, igreja, prefeitura, praça,
associações, etc.), distribuídos em relação uns aos outros, o que gera uma
trama, ou seja, produz uma idéia de estrutura, definida pela configuração das
formas se dão. Esses objetos são portadores de sentido, em si mesmos, de
informação, de significados. Formam uma trama relacional – uma trama
territorial – que dá valor à construção, à estruturação e à dinâmica de um
território.
Entendemos que para conhecer uma dinâmica – neste estudo,
especificamente, a dinâmica territorial – é necessário que se saiba como ela se
configura, isto é, neste caso, como a trama territorial, a agricultura familiar e as
políticas publicas estão relacionadas e fazem uso do território.
Tal uso dinamiza e conforma, em suas estruturas fixas (prédios,
transportes, estradas, etc.) e em seus fluxos (pessoas, mercadorias,
comunicação), suas contradições, dominações, velocidades e/ou lentidão.
Influenciados pelas características do próprio território e influenciadores delas,
ou seja, a dimensão política, a social, a econômica, e principalmente a
geográfica.
A análise que realizamos estrutura-se na reflexão teórica, com base na
bibliografia referente ao tema proposto, versando sobre território, agricultura
familiar e políticas públicas. Dialogando a partir dos eventos que se
circunscreveram nos espaços rurais do município de Vera Cruz-RN, abarcando
também eventos externos que se combinaram aos internos e constituíram a
formação territorial desse município.
1.1 Território e suas dinâmicas
A complexidade de se estabelecer um pensamento capaz de abarcar
uma totalidade, na teoria geográfica, leva-nos a nos questionar a respeito do
caminho pelo qual devemos seguir. Colocar o espaço geográfico em evidência,
procurando refletir sobre sua essência, composição, existência e tempo, faz-se
pertinente nos dias atuais, principalmente para nossa disciplina.
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Nos últimos tempos, com mais veemência, os geógrafos têm-se
preocupado em abordar a epistemologia da ciência geográfica, principalmente
em torno do espaço geográfico, visando elucidar lacunas existentes na própria
ciência geográfica.
Um dos principais teóricos que mostraram essa preocupação foi o
geógrafo Milton Santos, ao apresentar o conceito de espaço como “uma união
indissolúvel de sistema de objetos e sistemas de ações, e suas formas
hibridas, as técnicas” (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p. 11), indicando, assim,
como, onde, por quem, para quem e por que o território é usado.
Diante dessa compreensão acerca do espaço geográfico, a categoria de
análise “território”, na visão desse autor, aparece como sinônimo de espaço
habitado – ou seja, como território usado, humanizado, como um produto que é
produzido e consumido pela prática social vez que seu processo de ocupação
é determinado pela infraestrutura econômica e, ao mesmo tempo, sua
regulação se dá por interesses políticos da sociedade.
E ainda: “o território não é apenas condição da ação tática e estratégica.
Manifesta, ao contrário, outras dimensões da experiência humana, envolvidas
no propósito teórico-político de apreensão da totalidade concreta”. (RIBEIRO,
2003, p. 35). Para nosso estudo, o território de Vera Cruz esclarece o
entendimento de que temos sobre tal conceito. Além das dimensões
meramente fisiográficas e administrativas, como em qualquer outro espaço
geográfico, é inerente a esse território, o uso por meio de relações
heterogêneas entre os agentes sociais. Os aspectos econômico, social e
político (este principalmente) têm em Vera Cruz uma conotação interna
culturalmente estabelecida; no entanto, estando sob o reflexo da dinâmica
externa, inserem nesse território certas relações de poder que o dinamizam e o
marcam. Entre essas relações, damos destaque a dinâmica territorial, com foco
na agricultura familiar e nas políticas públicas implementadas.
Tais reflexos externos advêm da dinâmica regional do Agreste Potiguar
bem como da dinâmica político-social que se efetiva em escala
nacional/estadual, e mesmo da metropolitana, visto que o município integra a
região metropolitana de Natal (capital).
Dessa forma, percebemos que há toda uma configuração política, de
interesses que combinam contradições e combinações, gestadas na
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perspectiva de manter o sistema vigente e dar-lhe continuidade, e no uso do
território.
Retomando as questões teóricas, vale salientar, que a discussão em
torno do conceito de território é antiga e conforma em seus conceitos a
temporalidade e as características dos anseios com os quais estes eram
formulados.
O conceito de território foi, assim, sendo construído e desconstruído ao
longo das diversas correntes de pensamento geográfico: determinismo,
possibilismo, nova geografia, geografia crítica e geografia humanista. Na
construção de um entendimento acerca do território, para alguns teóricos o
conceito de território se diferencia, e não se deve confundi-lo com o conceito de
espaço, tendo-se em vista as especificidades do primeiro como categoria de
análise.
No entanto, fica claro que o território se constitui numa objetivação
multidimensional da apropriação social do espaço (CARA, 1994 apud SILVA,
2008) e, ainda, que o território não é espaço, mas o espaço é o cerne para sua
existência; ou seja, o território é uma produção do espaço, uma das dimensões
singulares do espaço geográfico. (SILVA, 2008). Entendemos, assim, que ele é
construído nas mais diversas escalas de tempo, dependendo das
características que o território apresenta. As transformações político-
econômicas ocorridas no final do século XX retomaram as discussões sobre o
território, chamando atenção para ele.
Limitar o conceito de território às identidades, ou aos recortes físicos, já
não comporta toda a amplitude que esse conceito contempla. Poder,
movimento e competição são noções que parecem ter mais a ver, nos dias
atuais, com a complexidade existente nos territórios, e, por meio delas tentar
decifrar a dinâmica neles existente.
A questão política – em especial para nosso estudo, (institucionalizado
pelas políticas públicas ou socializado pela construção histórica e cultural que
se dá pela sociedade) – tem no território um ponto-chave para a compreensão
dos movimentos, nos quais encontramos os atores que “produzem” e os
agentes que “usam” o território.
Assim sendo, o “poder” normatizado está posto: o Estado, tem a função
de organizar o território nacional/local através de novos mecanismos, (leis,
| 27
programas, projetos, etc.), e o indivíduo, por sua vez, procede da mesma forma
ao construir e usar o território segundo suas necessidades.
Acerca desse processo de construção, o entendimento de Santos (2000)
é indispensável, principalmente quando ele nos faz refletir sobre o território
como o chão da população, isto é, sua identidade, o sentimento de
pertencermos àquilo que nos pertence. Sendo assim, o território é a base do
trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais da vida, sobre as
quais ele influi. E, ainda, conforme Santos (2002, p. 84),
Não é apenas um conjunto de formas naturais, mas um conjunto de sistemas naturais e artificiais, junto com as pessoas, as instituições e as empresas que abriga, não importa o seu poder. O território deve ser considerado em suas divisões jurídico-políticas, suas heranças históricas e seu atual conteúdo econômico, financeiro, fiscal e normativo. É desse modo que ele constitui, pelos lugares, aquele quadro da vida social onde tudo é interdependente, lavando também, à fusão entre o local, o global invasor e o nacional sem defesa
(no caso do Brasil).
É nessa relação entre local e global que se intensifica a importância de
analisar o território, encontrar explicações para seu desenvolvimento e para as
desigualdades em nosso mundo globalizado, bem como para as configurações
locais.
Essas desigualdades são características intrínsecas do território usado e
traduzem o dinamismo dos lugares, sua relação com o mundo e sua
funcionalidade, ou seja, zonas de densidade e zonas de rarefação (densidade
demográfica), territórios de fluidez e territórios de viscosidade (condições de
circulação dos homens, dos produtos, mercadorias, do dinheiro, da informação,
etc.), espaços da rapidez e espaços da lentidão (espaços que mandam e que
obedecem), e espaços luminosos e espaços opacos, (Santos e Silveira, 2008).
Assim, a compreensão de território usado se dá a partir da dinâmica existente
nos lugares, estes em constante transformação.
Com esse conceito de território usado, formulado por Santos e Silveira
(2008), é possível compreender as discussões sobre o espaço rural e, nele, a
agricultura familiar, considerando-se suas mudanças, suas permanências e
| 28
suas descontinuidades. Nesse processo, as contradições, as imbricações
políticas e as heterogeneidades resultantes do contexto histórico, político e
social, que influencia e é influenciado pela dinâmica territorial.
O território, em sua dinamicidade, ainda é um elemento decisivo no
estabelecimento do poder (GOMES, 2006a). Segundo esse entendimento, ele
é visto apenas como uma extensão física do espaço, expressão de domínio.
Diante de tantas transformações que vem sofrendo, o território, hoje, segue
influências que extrapolam suas barreiras físicas, e estas, por sua vez, se
configuram nas redes subjetivas e imateriais do capital, das técnicas e das
informações.
Percebemos, que, mesmo aqueles que pensam diferentemente acerca
do que seja território têm a necessidade de dialogar com os que adotam o
pensamento do território como campo de relações marcadas pelo poder
(RAFFESTIN, 1993). Isso porque, nos espaços rurais, ainda existe uma intensa
ação do capital. Os elementos culturais enraizados nas questões políticas,
sociais e econômicas expressam, no território físico, seu poder, suas
estratégias e suas ações, materializando-as em suas subjetividades. Ou seja, a
medida que essas relações se materializam no espaço e na sociedade,
circunscritas no território, este se torna dinâmico e flexível, dependendo de
cada momento e de cada realidade social. (SACK, 1986, apud SILVA, 2008).
Enfatizando a dinamicidade do território, Sack (1986 apud SILVA, 2008)
nos diz que o território é um lugar demarcado como área de influência e de
controle. Para ele, um lugar pode, um determinado momento, ser um território e
não ser mais em outro. Assim, o território pode criar-produzir lugar. Sobre a
territorialidade, Sack (1986, apud SILVA, 2008) enfatiza, numa visão
geográfica, que é uma forma espacial de comportamento espacial, ou seja, a
territorialidade está intimamente relacionada à utilização da terra por
determinado grupo de indivíduos, as suas estratégias, ações e ao
estabelecimento do poder, que, ao mesmo tempo, se mantêm e reforça a
organização da sociedade no espaço e no tempo. (SILVA, 2008)
Assim, é possível afirmar que a territorialidade é uma forma espacial que
nos oferece condições de compreender as relações existentes entre
determinada sociedade e o território onde ela está inserida.
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Em nosso estudo, esse entendimento é muito importante, porque dá
suporte à compreensão da dinâmica existente no território do município de
Vera Cruz, pois as relações entre a agricultura familiar e as políticas a ela
direcionadas tem rebatimentos em sua organização sociopolítica, em seu
território e na socioeconomia local, mesmo que esta se disponha de forma
implícita.
Assim, dentro das linhas de reflexão de Sack, Paulo César da Costa
Gomes em seu livro A condição urbana, considera o território como “uma
parcela de um terreno utilizado como forma de expressão e exercício de poder”
(GOMES, 2006a, p. 12) e, nesse território, devido à expressão de poder, há um
exercício de controle, uma imposição de “regras de acesso, de normatização
de usos, de atitudes e comportamentos” (GOMES, 2006a, p.12). Esse exercício
de controle, nos territórios rurais, evidencia-se na historicidade construída, na
qual sua dinamicidade, de longe é regida pela excludente diferenciação social e
econômica em relação aos espaços urbanos, e dentro do próprio espaço rural.
A inserção de políticas públicas nesses territórios, sem averiguarem-se
suas especificidades, suas potencialidades e fragilidades tem resultado num
grande esvaziamento dos espaços rurais.
Grandes fluxos migratórios e intensificação das desigualdades sociais
são os efeitos deixados nesses espaços, visto a burocracia ser ainda o
problema-chave para os mais desfavorecidos. Além, claro, de uma imposição
política, neles culturalmente enraizada. As estratégias político-econômicas,
consignadas nas mãos de grandes proprietários de terra, e/ou agentes da
gestão pública, acabam por restringir o acesso ainda mais para os pequenos
agricultores. Estes agora enfrentam uma serie de normas, de juridicidades, não
compatíveis até com seu nível social (posto os excludentes níveis de
escolaridade, saúde, renda), dificultando sua inserção no mercado, entre tantos
outros problemas.
As características de num dado território traduzem seu uso e suas
especificidades. Até períodos recentes de nossa história, poder-se-ia falar no
mundo da lentidão, onde as práticas se direcionavam numa velocidade
praticada em diferentes ritmos, mas, não incompatíveis entre si, não
separavam seus agentes. Hoje, vivemos no mundo da rapidez e da fluidez, no
qual os territórios se compartimentam pela presença de sistemas de técnicas,
| 30
de informações e da própria normatização, que se efetiva, principalmente, na
ação de instituições e empresas privadas. Isso porque, ideologicamente, a
informação transparece como um bem comum, contudo está acessível apenas
a alguns agentes (SANTOS e SILVEIRA, 2008). Nesses sistemas de ações, a
que se referem Santos e Silveira (2008), o território implica a ação das
técnicas, por um lado, e da política de outro, exercício que se dá pela
existência de materiais e técnicas, que se substanciam na materialidade
geográfica de seus fixos e fluxos.
Seguimos, então, no entendimento e na perspectiva da complexidade
que se confere ao conceito de território e ao deste. Assim, as diferentes
vertentes e categorias de análise irão configurar o território, conformando, em
suas formas, seus objetos e, em suas ações, as dinâmicas territoriais.
Neste estudo específico, a compreensão do uso do território pela
agricultura familiar em Vera Cruz-RN.
1.2 Territórios rurais e agricultura familiar: uma face desse processo
No processo de formação socioespacial, a agricultura sempre esteve na
pauta das políticas governamentais. Além de ser uma atividade que, como
nenhuma outra, se revela em ações e relações humanas, absorvendo em seus
territórios profundas transformações, é um dos focos importantes das ações
políticas e econômicas, que determinam seus ritmos, tanto em sua produção
(comercial ou de subsistência) como em sua função sociocultural, instalando-se
também nesse espaço os processos da racionalidade internos e externos às
práticas.
Caberia então indagar, com base na própria agricultura, a definição de
agricultura familiar, que está posta na agendas dos debates político, econômico
e social, na atualidade. Insere-se, nesses espaços, uma nova forma de olhar
para essa unidade produtiva, diferente da própria configuração econômica que
hoje se dinamiza nos espaços rurais produzindo e conformando em territórios
usados.
Evidencia-se que
| 31
Não existe um padrão universal para definir a 'agricultura familiar' que identifique de forma clara a qual estamos nos referindo. À referência dessa expressão pode se pensar na concepção utilizada pela política setorial brasileira; à destinação do crédito; a alguns indicadores de escala de empreendimentos; à exploração pessoal do imóvel pelo agricultor e sua família; ao tamanho das lavouras; à renda bruta anual obtida; à quantidade produzida; à produtividade da terra; à intensidade do uso da terra e do trabalho; aos contingentes beneficiários dos programas de financiamento dirigido. (NAVARRO, 2001, p.03)
Diante disso faz-se pertinente esclarecer qual a definição que
adotaremos, haja vista, fazer-se presente em nossas análises uma
conformação dos agricultores familiares em estudo e o entendimento que o
governo faz dessa categoria, posto direcionar-lhe políticas e programas
governamentais.
Identifiquemos, portanto, nosso universo: a situação dos espaços rurais
de Vera Cruz e a própria realidade que transcende esses espaços, mas que
interfere pontualmente em sua dinâmica material, além das relações sociais
existentes. Incluímos por tanto, nesse debate local/global:
Os agricultores familiares, [como] unidades de produção em que se usa intensivamente os fatores de produção; a grande maioria que continua enfrentando restrições e dificuldades para sobreviver em mercados cada vez mais competitivos e exigentes. Aqueles - mais de um milhão - que nos últimos dez anos têm sido expulsos do campo e certamente já não encontram ocupação nos meios urbanos. A agricultura familiar com toda a sua diversidade está representada por 24 milhões de pessoas, o equivalente a 16% da população brasileira. É responsável pela produção da maior parte dos alimentos ofertados aos demais 150 milhões de brasileiros, ou seja, 87% da mandioca, 67% do feijão, 49% do milho, 46% do arroz, 54% do rebanho bovino de leite, 40% de aves e ovos e 58% dos suínos. (NAVARRO, 2001, p 03)
Conforme essas estatísticas1, no vasto cenário de transformações
sociais, políticas e econômicas ocorridas nos últimos tempos, a agricultura
familiar se coloca frente a uma disputa com as transformações que vêm
ocorrendo no espaço rural. Isso tem possibilitado afirmar-se que:
1 Considerando-se o ano da publicação desse estudo, as atuais estatísticas acerca da agricultura familiar e
a representatividade dela na economia brasileira, ainda são em números significativos.
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No Brasil as políticas e as visões dominantes sobre a agricultura familiar e a pequena produção familiar rural foram historicamente conformadas pela ideologia de subsistência, com base na ideologia nas relações sociais, da morada de favor do nordeste açucareiro. (MOREIRA, 2007 pag. 86)
O autor frisa, ainda, que essa visão é complementada pelo entendimento
dos agricultores familiares – “como incapazes do progresso econômico e
social”, (MOREIRA, 2007). E alguns autores problematizam entendendo a
agricultura familiar como
Uma categoria de ação política que nomeia um amplo e diferenciado segmento mobilizado à construção de novas posições sociais mediante engajamento político. Por este engajamento ele se torna concorrente na disputa de créditos e serviços sociais [...] (NEVES, 2002, pág. 137)
Ou seja, dada sua construção social ou categoria de ação política,
percebe-se a fragilidade dos espaços rurais em sua própria construção social,
em construção ideológica, como também no entendimento e direcionamento
das normatizações que regulam a dinâmica e a configuração político-
econômica, direcionada aos agricultores familiares e seu território em
particular. Nesse cenário de contradições, dominações e estratégias, o
conceito de território nos dá bases sólidas para nosso estudo. Isto porque
visualizamos, na relação entre a agricultura familiar e as políticas públicas, uma
trama territorial, em que a
Idéia de território traduz, ao mesmo tempo, uma classificação que exclui e inclui; um exercício de gestão que é objeto de mecanismos de controle e de subversão; e uma qualificação do espaço que cria valores diferenciais, redefinindo uma morfologia de cunho socioespacial. Estes pares – exclusão/inclusão, submissão/subversão, e valorização/desvalorização – criam tensões e resultam em lutas territoriais que almejam modificar seus limites, sua dinâmica, suas regras, ou seus valores (GOMES, 2006a, pag. 13)
| 33
Diante desse contexto, coloca-se, ainda, a conservação de precárias
estruturas institucionais, e mesmo as benesses das políticas agrícolas
direcionadas a poucos, e poucos que, dialeticamente, seriam os que menos
precisariam, instituindo e efetivando ainda hoje a perpetuação da desigualdade
que nos espaços rurais se instaura.
Para os homens do campo, o assistencialismo tende a assumir um papel
importante, porque para eles, o pouco que têm se faz sua própria subsistência,
não constituindo uma prática que logre ascensão socioeconômica. Assim,
colocou-se na pauta das discussões e mesmo das políticas públicas,
transformações quanto à formulação teórica destas e ações direcionadas à
agricultura familiar.
A partir do início da década de 1990, foram elaboradas diversas
propostas de dinamização dos espaços rurais, com o objetivo de reordenar o
território, reduzir as desigualdades sociais, inserir no mercado os agricultores
familiares, até de consolidar o conceito de desenvolvimento local.
Com o passar do tempo, o conceito de desenvolvimento local foi
substituído pela concepção de desenvolvimento territorial, sendo colocado,
portanto, a noção de “território”, como um recorte espacial, que é visto por suas
particularidades e “estratégias” políticas, econômicas, sociais e mesmo
culturais.
A periodização das políticas pressupõe um caráter político-ideológico,
por trás das configurações, políticas, sociais e territoriais, que neste estudo não
cabe aprofundar. Contudo, ele permite compreender tais conformações
políticas no uso do território, materializando nas formas – fixas e fluxos –
técnicas e normas, a fim de promover suas “dominações” e seus objetivos.
Transformados e transformadores de toda uma construção social e do próprio
espaço geográfico. Fica claro, para nós, e seria importante frisar que
A idéia central é que o território, mais que simples base física para as relações entre indivíduos e empresas, possui um tecido social, uma organização complexa feita por laços que vão muito além de seus atributos naturais, dos custos de transportes e de comunicações. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda
| 34
pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico. (ABRAMOVAI, 2001, pag. 3)
Por essas transformações dadas nos territórios rurais, se consolidou
uma precária situação de condições sociais e econômicas, precárias condições
de moradia, de saúde ambiental e coletiva, de lazer e de trabalho impostas
pela competição perversa dos mercados nos dias atuais, pelas transformações
técnicas inseridas no espaço rural. Disso resulta o intenso atraso estrutural que
se dá e que se substancia numa precária escolarização dos habitantes desses
espaços, refletindo-se no atraso deles e na incapacidade de acompanhar os
avanços técnico-científico-informacionais. Uma bola de neve vai se
acumulando, e esses entraves, impõem aos agricultores e seus familiares
realidades diversas, como a fuga para a cidade, ou a busca de outras fontes de
renda.
A agricultura aí estaria exposta a uma existência simultânea de
continuidade e descontinuidades. Ela se faz presente no urbano, e o urbano se
faz presente nos territórios rurais, nas mais variadas formas – de serviços, de
funções e de materialidades.
Fixos e fluxos são instaurados na produção socioterritorial pelas
relações políticas, econômicas, sociais e culturais, relações que instituem
poder, acessibilidade, liberdade e trocas, reordenando e dinamizando os
espaços, promovendo um novo olhar e novas perspectivas de ação e de uso
no/do território, bem como de possibilidades de representatividade no próprio
mercado.
Dessa forma, a política, como veículo que detém o exercício de legitimar
a organização do território, se faz presente na própria racionalidade de
mercado, que impõe suas estratégias. Isto é, pela própria perspectiva de
pensar aí a territorialidade – “como um conjunto de estratégias, de ações
utilizadas, para estabelecer [um] poder, mantê-lo e reforçá-lo” (GOMES, 2006a,
pag. 12) – percebemos que o discurso institucional de reduzir as desigualdades
sociais e conformar nesses espaços rurais, a mesma dinâmica, ou mesmo a
possibilidade de se alcançar um desenvolvimento [local] territorial, estaria em
consonância com a própria racionalidade do período em que nos situamos, isto
é, a ordem global, das técnicas, da informação.
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Visto haver no desenvolvimento rural, uma série de fragilidades, quanto
às instituições que se direcionam ao objetivo de diminuir as desigualdades
socioeconômicas vislumbradas historicamente pelo homem do campo, as
políticas públicas localizadas ainda não são acessíveis a todos, ou melhor, não
se materializam como questão de base, ou seja, na capacidade de promover
um real desenvolvimento com melhoria da qualidade de vida e aumento da
justiça social construídos em comum acordo com os agentes locais.
Nesse aspecto, torna-se um grande desafio a criação de condições para
a permanência do homem no campo, de enfrentamento de estruturas,
historicamente construídas, no que diz respeito a ter-se nos territórios uma vida
digna e uma dinamicidade econômica e social. Sendo assim, concordamos
com o pensamento de Gomes (2006a), que, ao discutir as desigualdades
socioespaciais do Rio Grande do Norte, faz a seguinte afirmação:
Temos então a compreensão de que as desigualdades socioespaciais reforçam as tendências a transformações sociais e econômicas provocadas pela reestruturação produtiva em curso, um novo sistema mundializado e ainda uma nova ordem urbana. Essa nova ordem tem sido marcada, principalmente, por uma intensa desigualdade socioespacial que tem se apresentado como um produto e, ao mesmo tempo condição de um ambiente social desfavorável, resultante de uma política de desenvolvimento seletiva e excludente que privilegia alguns espaços enquanto negligencia outros. (GOMES, 2006b, pag. 15)
Essa condição está visível nas constatações nacionais e locais, o que
nos leva a refletir sobre a, forma como tais problemas se materializam e se
subjetivam expressas por diversos meios de caráter social. Ou seja, a falta de
moradia, o analfabetismo, a falta de acesso a equipamentos e atividades de
lazer, precárias condições de infraestrutura de equipamentos de saúde,
associadas à ausência de emprego, tudo isso aponta a existência de espaços
de dinamicidade econômica e social bastante diferenciada, resultando numa
intensa e concentrada pobreza.
Para nós, pensar o desenvolvimento significa efetivar a inserção social,
o que perpassa pela construção de novos pensamentos, pela integralização do
| 36
aprendizado e do conhecimento popular e técnico, por remover as inquietudes
e transformá-las em participação e autonomia social. (GOMES, 2007)
Os espaços rurais sempre estiveram marcados pelas concepções
econômicas, diferenciando-se não como espaços de vida, de singularidades
próprias, e sim pelas dinâmicas econômicas, as quais também acabavam por
deixá-las esse espaço à margem da evolução técnico-informacional.
Pensar, conceitualmente e empiricamente, o desenvolvimento do espaço
rural é repensar esse espaço de vida e acompanhar novas concepções e
medidas que venham a propiciar a construção de novos parâmetros e novas
possibilidades de vida para seus beneficiários, bem como de novos olhares
analítico-reflexivos sobre a temática.
Paulatinamente, crescem as indagações acerca das novas valorizações
do rural, de sua dinamicidade e da situação da agricultura familiar, em sua
territorialidade e em seu desenvolvimento territorial, tido como sustentável, se é
que pode sustentar-se dentro da ideologia de mercado que se vigora em
nossos dias.
Propõe-se então o caminho da sustentabilidade como a tese para se
alcançar em níveis sociais satisfatórios no tocante à qualidade de vida “como
síntese das novas intenções de uma política que seja verdadeiramente de
crescimento com desenvolvimento” (GOMES DA SILVA, p. 167, 2002), na qual
é importante a troca de saberes. Isto porque:
Não basta a difusão de informações. O processo é de
formação de novas atitudes e percepções, que propiciem aos protagonistas agricultores administrarem a relação com os representantes das instâncias de intervenção e dominação econômica, política e simbólica, a negociação e a pressão no sentido da incorporação de seus interesses (NEVES, 2002, p. 145).
É nesses espaços rurais, de variados estudos e indagações, que a
ruralidade brasileira sintetiza, no âmbito social, as carências e potencialidades
que nele se materializam. Nessa vertente, um processo de desenvolvimento
que logre êxito deve nesse território, contemplar, conceber e implementar
ações específicas de interação entre os agentes sociais e a própria política
pública. Deve implementar procedimentos produtivos os quais dinamizem o
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território de forma a promover uma distribuição equitativa de sua riqueza para
os próprios detentores da terra, assegurando sua permanência.
Faz-se necessário “compreender, mesmo que tardiamente, que o rural
longe de ser um setor, um território decadente, poderá ainda vir a ser um motor
do desenvolvimento a partir de dentro” (SACHS, 2001 p. 75). É preciso levar
em conta que
os níveis mais graves de pobreza e exclusão social no campo e a consolidação de um padrão de desenvolvimento rural não excludente passam necessariamente pela conclusão do processo de reforma agrária e da capacitação dos agricultores a fim de obter padrões mais elevados da produção e produtividade e inserção nos mercados com garantia de preços compensatórios, além de garantia de acesso a todos os bens e serviços necessários a todas as comunidades urbanas ou rurais (educação de qualidade, saúde, transporte, saneamento básico e segurança, entre outros). (IPEA, 2007. p. 22)
Tal compreensão nos leva a refletir acerca da agricultura familiar e seu
papel na dinâmica do território, tendo em vista que se trata “de uma categoria
de ação política, um amplo e diferenciado segmento mobilizado para a
construção de novas posições sociais mediante engajamento político” (NEVES,
2002 p.137).
Destaca-se, assim a própria reprodução da família e não apenas a
unidade de produção, visto a própria reprodução familiar é um viés que
influencia a agricultura familiar de forma mais contundente. (Neves, 1995;
1996)
Historicamente, um dos entraves para o desenvolvimento, do espaço
rural são as práticas políticas econômicas. É limitante para o desenvolvimento
das iniciativas pensadas e propostas para o meio rural, a falta da objetividade
das políticas públicas, nas quais, não se identifica a preocupação com as
especificidades do espaço rural.
Muitas vezes, ao invés de proporcionarem atividades dinâmicas,
autonomia e qualidade de vida, os limita a créditos compensatórios, não
contemplando a operacionalização, critérios de acesso e acompanhamento na
execução dessas políticas, persistindo a triste estatística do espaço rural a
margem do desenvolvimento.
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Nesse contexto, quando nos remetemos à agricultura familiar a vemos
como “uma categoria que se define não pelo tamanho da área disponível, mas
sim pelas características organizacionais que lhes são inerentes” (VEIGA 2001,
Apud PESSOA 2006 p.217) e posto ainda que a mesma se insere num
território de lutas, relações de poder, as quais a participação social inserida
nesse campo de forças identifica estratégias que se subscreve nas identidades
ao próprio território elegendo aí a liberdade substantiva.
Abrimos aqui um parentes e nos remetemos a pensar nessa liberdade
igualmente às colocações de Amartya Sen (2000) ao analisar o processo de
desenvolvimento. Para ele tal processo consiste na superação de privações de
liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer
ponderadamente sua condição de agente.
E para tanto aqui, a “liberdade” exerce um papel instrumental: “liberdade
de participação política, facilidades econômicas, oportunidades sociais e
segurança protetora” (SEN, 2000 p. 54); a qual concerne ao modo como
diferentes tipos de direitos e oportunidades contribuem para a expansão da
liberdade humana em geral e, assim, para o desenvolvimento.
Desenvolvimento esse que sempre parece ser o foco e objetivo a ser
alcançado em todas as segmentações político econômicas, nem sempre
efetivado nas esferas sociais mais necessitadas desses objetivos. As reflexões
até aqui colocadas procura sinalizar às faces em que a agricultura familiar se
coloca, posto a realidade atual. Conseguir, quem sabe, considerar a partir
desse pensamento, na subjetividade, a autonomia do espaço rural, como
espaço de vida, de qualidade de vida, de liberdade ainda a ser alcançada, e
sobre tudo, vivida.
1.3 Políticas públicas: Ação do Estado intervindo no território
As intervenções do Estado no ordenamento territorial brasileiro e,
mesmo em sua dinâmica, têm raízes históricas, conformando em suas ações,
resultados em diferentes contextos e transformações / consequências em
diferentes escalas.
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A bibliografia existente acerca do tema aqui colocado – políticas públicas
– nos coloca frente a particularidades inerentes a diferentes realidades, as
quais estão diretamente relacionadas aos objetivos propostos e a formulação /
implementação de políticas públicas a determinados setores da sociedade.
Não seria por tanto, realizar aqui uma análise mais profunda, quanto às
discussões que discorrem na ciência política, acerca da análise política que
envolve a teorização das Políticas Públicas. No entanto, evidenciamos a breves
considerações a própria noção de políticas públicas, antes mesmo, de
determos as considerações quanto a efetivação dessas à agricultura familiar,
nosso foco nesse estudo.
Consideremos então a complexidade existente na sociedade e para
tanto, a necessidade de administrar diferentes interesses os quais geram
conflitos. Nesse contexto, toda política comporta-se como um conjunto de
procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que
destinam a resolução pacifica dos conflitos quanto a bens públicos.
Nesse sentido, àquelas geradas pelo setor público, por mais específica
que seja, pode ser considerada como uma política pública. Mesmo que os
benefícios visados pela política atinjam, tão somente, um grupo restrito da
sociedade.
Considerada como uma estrutura com diferentes compartimentos, a
política pública envolve mais que uma decisão e requer diversas ações
estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas.
Por isso mesmo, alguns autores ao analisar tais contextos, classificam e
segmentam as políticas públicas sobre diferentes dimensões: por área
substantiva (social, urbana, de saúde, agrícola); por jurisdição político
administrativa; por parâmetros (monetária, fiscal, cambial); por grupos (social,
econômicas, compensatórias) e mesmo por clientela. Ressalta se sempre,
como um dos integrantes no seu conjunto, a interação com a política
econômica do governo.
Algumas teorias atentam para a avaliação a partir da realidade
conjuntural, internas e externas, influenciando direta e indiretamente, a tomada
de decisões para não entrar em conflitos com grupos setoriais.
Os conceitos e modelos explicativos acerca das políticas públicas têm
sempre como objetivo, avançar na busca de causas e consequências que
| 40
contribuam para um melhor entendimento, de todo o processo da política
pública. Nesse contexto, nos chama atenção a teoria das elites2 e a teoria dos
grupos3, visto as relações e uso de poder, intrínsecas na análise territorial.
Para a nossa análise, destacamos que, mesmo diante de toda uma
dinâmica histórica de lutas sociais para a diminuição das desigualdades
socioespaciais, o que vemos na realidade, são casos pontuais de grupos
sociais menos favorecidos, de interesses coletivos, cooperados e organizados,
para juntos obterem força na construção de projetos e mesmo políticas
capazes de efetivar a equidade econômica e social. Nesses casos, evidencia-
se um grau de participação mais contundente e sucesso quanto a participação
nas políticas públicas á esses grupo destinadas.
O Estado, institucionalizado governamentalmente, representa um grupo
que exerce grande importância e influência na política pública. Principalmente
quando normatizado na burocracia, limitando ou dando acesso a formulação de
políticas e efetivação das mesmas (MONTEIRO, 1990, 1994), e/ou a partir do
momento que é adotada, implementada e imposta por alguma instituição
governamental.
No Brasil, a ação do Estado em seu território torna-se um processo
complexo. A sua grande diversidade, seja ela, social, econômica e ambiental
nos distintos espaços geográficos, necessita de políticas públicas que, de certa
forma, contemple nas suas regiões, as especificidades inerentes a cada uma e
ao mesmo tempo o todo.
Contextualizando tamanha complexidade, coloca-se em evidencia para
as nossas análises a política pública destinada ao desenvolvimento dos
2 A teoria das elites dispõe a existência sempre de uma minoria que detém do poder e
governa em contraposição a uma maioria sem poder e que não governa. Destaca-se
assim, as formas de poder: econômico, ideológico e político as quais fica evidente a
indiferença e a má informação em relação à política pública das massas, deixando
espaço mais efetivo para que as elites expressem a opinião das massas a respeito de
questões políticas, muito mais do que as massas expressem a opinião das elites. Os
sentimentos das massas são manipulados pelas elites muito mais frequentemente do que
os valores das elites são influenciados pelos sentimentos das massas. 3 De acordo com a teoria dos grupos, a política pública é sempre o resultado do equilíbrio
alcançado na luta entre grupos. Mudanças nas políticas ocorrerão com alterações na influência
relativa de qualquer grupo de interesse (sindicatos, partidos, grupos econômicos,...). A política
pública se orientará na direção desejada pelos grupos que ganham influencias e se afastará dos
anseios dos grupos que perdem influencia e poder. O grupo se revela como o elo principal entre
o indivíduo e seu governo.
| 41
territórios rurais e nesse, aquelas direcionadas especificamente a agricultura
familiar. Para essa categoria, “pode-se admitir que há no Brasil modelos
diversos de agricultura familiar, que se distinguem pelas oportunidades
oferecidas aos agricultores e pela própria atuação diferenciada do Estado em
cada região”. WANDERLEY (1995, P.57).
Nesse contexto, historicamente, o Estado, por meio de suas ações, nos
espaços rurais, determinou mudanças no âmbito técnico, econômico e muito
mais no social, visto as questões políticas tornarem-se fatores determinantes
para ditar quem “manda” e quem “obedece”.
Para tanto, a década de 70 tornou-se um período importante para a
agricultura, visto ser nesse período, se dar o reconhecimento devido à
agricultura pelo seu papel na economia. Período também, em que as políticas
destinadas a tal segmento da economia ganha força, principalmente com
respaldos financeiros e sociopolíticos.
Data desse período, também, o Sistema Nacional de Crédito Rural,
criado no ano de 1965. Vale destacar que tal inserção do capital no campo,
privilegiaria, quase que na sua totalidade, ao grande proprietário, e em futuras
crises, os mais afetados seria a pequena produção, esta a margem e na
dependência daqueles beneficiários das políticas econômicas (COSTA, 2005).
As políticas públicas estariam aí inseridas nos espaços rurais, na
preocupação do seu desenvolvimento, o que na época se consolidava na troca
da inchada pelo uso de insumos e técnicas modernas para o aumento da
produtividade, respondendo assim a égide do mercado consumidor, cada vez
mais urbano.
Assim, o credito financeiro, as relações de trabalho, o acesso a terra,
foram e são, alguns dos mecanismos institucionais, os quais, o Estado detém
para a manutenção e regulamentação do campo.
O capital, aí inserido, proporciona a retirada de algumas barreiras
importantes, ao mesmo tempo em que, estando acessível a um determinado
grupo, acaba por criar outras barreiras, àqueles que não têm o mesmo acesso
a tais políticas.
Tal realidade corroborou para as mudanças ocorridas nos espaços
rurais, as quais estiveram muito mais ligadas aos interesses de elites agrárias,
do que as reais necessidades da maioria dos produtores rurais. Assim,
| 42
Esse poder de mando das elites agrárias veio dar caráter definitivo à presença do Estado no meio rural, de forma que o acesso às classes subalternas só poderia ocorrer pelas mãos dessas elites e resguardadas suas prioridades. Estava sendo erguida a base de sustentação do ambiente institucional que permearia a implementação das intervenções públicas para o meio rural fundadas na cultura da subordinação ao poder oligárquico. (COSTA, 2005, p.28)
Caberia então ressaltar aqui, a conotação de ambiente institucional
“como um conjunto de organismos, regras, convenções e valores que, na
medida em que intermedeiam a implementação das políticas públicas vis a vis
demandas locais, confeccionam determinados resultados na intervenção do
Estado.” (COSTA,2005, p.29)
No processo de industrialização brasileira e, consequentemente, a
inserção da agricultura nesse contexto, a mesma, passa então a fazer parte
como elemento da reestruturação produtiva, estando essa subordinada ao
lucro e as intensas mudanças que viriam a se refletir nas questões
socioespaciais.
Nessa perspectiva, confere então para a agricultura familiar, a imposição
de se adaptar as exigências do mercado para a agricultura moderna, na qual,
os incentivos gerados pelos financiamentos bancários, ou pelas linhas de
credito cedidas pelo estado se fazem importante para a sua efetivação.
(FRANÇA, 2005).
A partir dos anos 90, as estratégias do governo que orientam suas
ações, são focalizadas para a agricultura sob duas vertentes: o fortalecimento
da agricultura empresarial e o fortalecimento da agricultura familiar. Ressalta se
aqui, a importância da formulação e implementação de políticas públicas para
afirmação da agricultura familiar, as quais se intensificaram nesse período.
Enaltece, para tanto aqui4, a criação do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o qual veio a configurar
como o reconhecimento da importância da agricultura familiar, bem como, ao
mesmo tempo, possibilitar abarcar, em meio aos seus objetivos, inserir e
4 Política agrícola, foco de nosso estudo que será melhor analisada no próximo capítulo.
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beneficiar, um numero maior de agricultores, às ações da política agrícola do
país. (BUAINAIN, 2005)
Assim, em meio, a vasta análise já existente, quanto a atual situação da
agricultura familiar, e principalmente, quanto sua importância atrelada a ação
do estado através das políticas públicas a ela direcionada, damos destaque a
noção de que, como nos lembra Martins, ao revisitar seu pensamento quanto a
definição da agricultura familiar, que
Aos poucos vai se definindo o deslocamento da condição
transitória de ator histórico, social e político de trabalhador sem terra, para a condição permanente de agricultor familiar, a família e o trabalho modernizado, e não a luta, como núcleos da identidade desse novo sujeito social. (...) Atualmente, menos amplo, porém mais definido no reconhecimento da agricultura familiar como sujeito de políticas públicas e de vontade política. (MARTINS. 2002, p. 218)
Faz assim, em cada uso territorial pelas políticas públicas, para cada
realidade existente na agricultura familiar, relações externas, inerentes a esse
processo, inserindo ai ações, estratégias, e mesmo a efetivação de outras
políticas que, articuladas às já existentes, são capazes de prover e modificar a
atual situação.
Bem como, relações internas, bem mais complexas, sejam elas, sociais,
políticas, econômicas e culturais, que tornam cada território, um espaço
singular, substanciado nos objetos, nas ações e muito mais, nas relações entre
os agentes sociais. Evidenciar, por tanto, um cenário sem desigualdades e com
redução da pobreza instalada no campo, requer mudanças advindas das
articulações políticas e suas ações, bem como, de uma dinâmica local, pautada
na gestão e participação dos agentes sociais pelo acesso e efetivação de seus
direitos substantivos.
1.4 Vera Cruz/RN: perspectivas e realidades na formação territorial
É na base territorial que tudo acontece, mesmo as configurações e
reconfigurações mundiais influenciando o espaço territorial. Com essa
| 44
percepção e para tanto, registra-se em determinados períodos, a formação do
território evidenciando nesse, os processos que são externo ao território, o que
irá conformar nas normas internas, inovações e transformações abstratas nas
ações, bem como, materializadas nas formas no/do espaço geográfico.
A periodização dos eventos se faz presente e importante para a
pesquisa geográfica contemplando, no recorte temporal do estudo, um conjunto
de variáveis — políticas públicas, economia, agricultura familiar — que se
organizam, funcionam, relacionam e impõe uma dinâmica ao território
estudado.
Segundo Santos (1985) a periodização da história é que define como
será organizado o território, ou seja, o que será o território e como serão as
suas configurações econômicas, políticas e sociais.
O autor evidencia o espaço como variável a partir de seus elementos
quantitativos e qualitativos, partindo de uma análise histórica. O que nos
interessa é o fato de que, em cada momento histórico, os elementos mudam
seus papeis e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial; e a
cada momento, o valor dos mesmos, deve ser tomado da sua relação com os
demais elementos e com o todo (SANTOS, 1985, p. 09). Para SANTOS
(2002a), a formação do território perpassa pelo espaço e a forma do espaço é
encaminhada segundo as técnicas vigentes e utilizadas no mesmo.
O território para SANTOS (2002a) configura-se pelas técnicas, pelos
meios de produção, pelos objetos e coisas, pelo conjunto territorial e pela
dialética do próprio espaço. Somado a tudo isto, o autor vai mais adiante e
consegue penetrar, conforme suas proposições e metas, na intencionalidade
humana. O território pode ser distinguido pela intensidade das técnicas
trabalhadas, bem como pela diferenciação tecnológica das técnicas, uma vez
que os espaços são heterogêneos.
Por tanto, é guiado por esse entendimento que apresentamos o
município de Vera Cruz/RN, lócus de nossas análises e consequentemente, a
periodização histórica e principalmente geográfica, dos eventos, os quais foram
propulsores da formação territorial desse município.
O município de Vera Cruz, uma localidade que desde o século XIX, é
datada a sua localidade, teve inicialmente o nome de Periperí, e ficava às
margens do riacho Vera Cruz. Historicamente, a sua povoação segue os
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passos da colonização do Rio Grande do Norte, a qual deixou marcas no
“Território do Rio Grande” ao penetrar no interior da capitania e fixar seus
colonizadores as margens dos rios e riachos.
Na aldeia de São José do Mipibú, foram construídas casas, capelas,
introduzidos os engenhos e as fazendas, cenários comuns a colonização e bem
características pela dinamização espacial advindas das atividades econômicas
da época. Uma realidade que, se faz significativa para a história, pretérita e
atual, conferindo principalmente ao fato de que, assim como no caso do
Nordeste brasileiro, a colonização do Rio Grande do Norte, deve-se
principalmente ao posseiro, como nos bem fala Cascudo (1968, p.24 – 25):
[...] o verdadeiro colonizador do Rio Grande do Norte foi o posseiro, fundando os primeiros currais, as primeiras casas, fazendo os primeiros cercados, plantando as primeiras roças, construindo os primeiros engenhos de açúcar, fabricando as primeiras rapaduras, destilando aguardente nos velhos alambiques de barro, assentando afinal os primeiros fundamentos da nossa economia agrária e pastoril, (CASCUDO, 1968, p.24-25).
Dessa forma, é na interiorização da colonização portuguesa que se deu
início ao povoamento de Vera Cruz no território de São José de Mipibú e desse
se emancipou, ao passo que ganhou dimensões e destaque, devido às
condições ambientais e oferta na mão de obra (olarias, engenho, casas de
farinha e nas atividades agropastoril como um todo), no ano de 1963.5
Fatos históricos, que se materializaram na geografia desses lugarejos,
principalmente quanto ao uso do território. Materialidade essa, visivelmente
presenciada, na primeira casa construída em alvenaria (figura 01); na igreja
com data de construção do ano de 1895 (figura 02), erguida pelos seus
primeiros constituintes de propriedade; bem como, nas ações inseridas nesse
espaço, na cultura e na sociedade quando da prática de cultivar as lavouras de
milho, feijão, mandioca e cana de açúcar nas várzeas dos riachos, edificando
currais. Atividades econômicas que se efetivam até os dias atuais.
5 Data-se no dia 24 de novembro de 1953 que Vera Cruz foi elevada à categoria de vila, de acordo com a
lei Estadual de número 910. Após dez anos, precisamente no dia 26 de março de 1963, através da lei
Estadual de número 2.850, Vera Cruz foi emancipada, tendo suas terras desmembradas de São José de
Mipibú, tornando-se, pois município independente da jurisdição de São José de Mipibú. (LOPES, 2009)
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Figura 01: Primeira residência em alvenaria Figura 02: Igreja de Vera Cruz6
Foto: Markelly, dezembro de 2008. Foto: GPEUR/UFRN, junho de 2010.
Diante desse contexto, e dada à constituição do território do RN, Vera
Cruz, passou a ter como limites políticos ao Norte o município de Macaíba; ao
Sul, os municípios de Monte Alegre e Lagoa Salgada; a leste, o município de
São José de Mipibú e a Oeste, com os municípios de Boa Saúde e Macaíba.
(Figura 03).
Geograficamente, Vera Cruz localiza-se entre as coordenadas: latitude
6º02`39`` e longitude 35º25`42``, conferindo ao município, características
físicas e biológicas referentes ao semi-árido nordestino por está localizado no
mesmo. Possuindo em suas especificidades o clima tropical-úmido, o que
favorece a prática da agricultura e as culturas aqui cultivadas.
O município está a 37 Km da cidade de Natal, capital do Estado do Rio
Grande do Norte. Possui uma área de 92,12 Km², o equivalente a 0,19 % da
superfície estadual e atualmente, quanto a sua “organização espacial”, o
mesmo se insere, para fins Político-administrativos e para estratégias de cunho
socioeconômico, dentro da divisão da mesorregião agreste, e nessa a
microrregião agreste potiguar7.
6 Relatos históricos descrevem que “por volta de 1855, o capitão Teodósio Xavier de Paiva, considerado
maior proprietário local, demoliu a antiga capela e deu início à construção de uma nova capela – também
nas proximidades da residência de Rodolfo de Vasconcelos, sendo que numa área mais elevada do terreno
– com a colaboração do padre Bernadino de Sena Lustosa. No entanto, esta obra só foi concluída em
1895, após quarenta anos, pelo padre Antônio Xavier de Paiva”. (LOPES, 2009, p.21) 7 Divisão das microrregiões também visualizadas na figura 3
Figura 01: primeira residência em alvenaria Foto: Markelly, dezembro de 2008.
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Figura 03: Território de Vera Cruz no âmbito da Micro-região Agreste, Rio Grande do Norte e Brasil.
Fonte: GPEUR, 2010.
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E ainda, através da Lei Complementar 391, de 22 de julho de 2009, a
qual inseriu a participação do município como integrante da região
metropolitana de Natal, conferindo benefícios administrativos, vantagens
políticas, econômicas e sociais, como por exemplo, a inserção do município em
programas habitacionais e sociais voltados para áreas metropolitanas; a
integração do SAMU para se dispor dos atendimentos de urgência, além de
contar com a extinção do DDD para a capital do Estado e demais municípios
da Grande Natal, ações que serão implementadas de forma gradual.
Cabe aqui, abri um parênteses, haja vista, haver uma diversidade
conceitual e mesmo empírica para entender a complexidade, quanto ao
entendimento e colocações para o conceito de Região8 e consequentemente
no seu uso.
Por hora, percebe-se que tal conceito é revisitado e permeado pelas
ações e estratégias as quais buscam atuar em novas escalas territoriais.
Hoje, a complexidade em que se configuram tais territórios/região,
organizados espacialmente, nos remete a pensar nesses, como novos arranjos
territoriais, os quais seguem a dinâmica do local e do global, da produção de
mercado que faz emergir a noção de ser periférico, dependente da dinâmica
econômica que prevalecem, instaurando ai, interesses locais, globais e
regionais, espaços contestados e contestadores das desigualdades e
desequilíbrios existentes.
Realidades em que as políticas de cunho nacional buscam na
mobilização das forças endógenas das regiões, ferramentas a facilitar a
atuação integrada entre administrações municipais, estadual e federal;
fomentando ações com enfoques territoriais, esse tido como lócus da atuação e
sobrevivência dos atores sociais, e articulação inter-setoriais presentes na
mediação, promoção e implementação de planos, programas, ações e
instrumentos financeiros, retirando a atenção exclusiva à escala
macrorregional; realidade que confere grande importância para nossas
análises.
8 Nosso interesse não é fazer uma discussão conceitual sobre Região, visto o mesmo não ser objetivo do
trabalho, mas, deixar evidente qual o nosso pensamento a cerca do mesmo, haja vista, ser de importância
enquanto uma discussão que permeia as políticas públicas de um modo geral.
| 49
Economicamente, desde o seu povoamento, o município tem na
agricultura, a principal atividade econômica. Desde então, destaca-se a forte
presença de pequenos produtores, os quais são os responsáveis pela
produção que impulsiona a economia do local e contribuem para a expansão
da infra-estrutura rural / urbana.
Nesse contexto, é pertinente destacar em sua extensão física, a
utilização dos seus espaços pela agricultura, consideradas áreas rurais e estas,
não difere da realidade do território nacional, o qual ao longo da história
assistiu a progressivas transformações em detrimento as questões políticas e
econômicas que influenciaram decisivamente para a configuração da ruralidade
brasileira, e em particular a realidade do espaço rural de Vera Cruz.
Espaço esse que consta de 14 comunidades rurais: Cobé, Papagaio,
Araçá (I, II e III), Ponta de Várzea, Pitombeira, Jacaré, Euzébio, Jenipapo, Sítio
Santa Cruz, Pororocas, Areias e Vera Cruz (figura 4), com um total
populacional de 4.597.
Dados do IBGE (contagem de população residente no município de
2009) revelaram que o município tem uma população de 10.861 habitantes,
sendo, portanto, classificada pelo IBGE como pequena cidade9.
Evidencia-se ainda, enquanto extensão física dos seus espaços, um
problema quanto aos limites geográficos. Problema que é enfrentado a cada
censo demográfico, quando o município perde parte de seu contingente
populacional para os municípios circunvizinhos. O fato explica-se pelos seus
limites serem reconhecidos culturalmente como um, e reconhecidos para as
instancias político-administrativas como outro.
É um fato que tem reflexos no território, politicamente e socialmente. Visto as
pessoas se sentirem pertencer a Vera Cruz, bem como, utilizar e usufruir dos
benefícios que o município oferece aos seus citadinos.
Ressalta-se ainda a outra questão, que recorre à própria economia do
município. Ao perder contingente populacional aos municípios limítrofes, o
município regride quanto à transferência constitucional (art. 159) feita pela
união aos municípios à realização de seus serviços e obras, recurso financeiro
conhecido como Fundo de Participação Municipal – FPM; o qual é realizado
9 Pequena cidade segundo o IBGE define-se por conter até 20 mil habitantes.
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com base nas estimativas, realizadas anualmente, pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE.
Para uma pequena cidade, na qual sua administração tem como
principal fonte de recursos financeiros, os repasses do governo, ou políticas de
ordem setoriais, é preocupante, para sua autogestão essa situação. No
contexto social, reflete diretamente, nos projetos sociais e investimentos a
dinamizar o município.
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Araçá II
Araçá I
Ponta deVárzea
Jenipapo
Pitombeira
Cobé
Areias
LagoaGrande
Pituba
Várzea doMeio
La. dosPorcos
Lagoa Jacaré
Jacaré
Lagoa da Cruz
Euzébio
Lagoa do Jenipapo
Lagoa Pontada Várzea
Vera Cruz
SítioSanta Cruz
Papagaio
Asfalto
Estrada de Barro
Limites
Lagoas
S
O L
LIMITES:
ORTE: Macaíba
UL: Monte AlegreESTE: São José de Mipibu
ESTE: Boa Saúde e Lagoa Salgada
NSL
O
N
Araçá III
Sede Municipal
Comunidades Rurais
Pororocas
Figura 4 – Mapa de localização dos distritos municipais no território de Vera Cruz/RN no âmbito do Rio Grande do Norte Fonte: Base cartográfica digital do município de Vera Cruz, 2008. Adaptado pela autora.
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A formação territorial de Vera Cruz está atrelada, além das
configurações físicas, históricas e sociais, também perpassa, e principalmente,
pelas relações políticas. A dinâmica aqui está pautada em praticas
democrática, quem vem sendo perpetuadas nas mãos de grupos familiares, os
quais reversão entre si o poder.
Para tanto, ressalta-se que algumas práticas, já bem conhecidas, como
o assistencialismo e as trocas de favores, ainda são comuns na história desse
país, e principalmente nas regiões de produção agrícola, as quais o poder na
mão de oligarquias, ditavam a própria dinâmica local, conferem nos dias atuais,
resquícios de suas práticas, culturalmente enraizadas e absorvidas pela
população menos favorecidas.
Tal realidade também confere a Vera Cruz, particularidades, quem vêm
a desencadear direcionamentos as ações tomadas, conferindo aos aliados do
poder vigente, benefícios, facilidades, ou mesmo vantagens quanto ao acesso
de determinados serviços e a algumas políticas públicas. Dentro desse
contexto, Silva (2006) afirma que
[...] se em um passado não muito distante a propriedade da terra era (embora continue sendo importante) o principal elemento que dava poder político a determinados grupos familiares, atualmente é o controle das políticas implementadas pelo governo federal, estadual ou municipal que se sobressai também como intermediador, mantedor e reprodutor do poder em sua dimensão política, (SILVA, 2006, p. 68)
Segundo Lopes (2009), aliada a essas práticas políticas, a inserção de
políticas públicas no território de Vera Cruz, veio a conferir mudanças
socioculturais e econômicas, a própria dinâmica territorial. Visto a desencadear
incrementos ao desenvolvimento agrícola, a modernização da agricultura e
acesso a política de credito a uma abrangência maior de agricultores.
Foco desse estudo, essa realidade citada acaba por conferir reflexos
dessas ações no território, como por exemplo, a uma maior dinamização no
processo produtivo da farinha de mandioca, uma das principais atividades
econômicas do município e consequentemente nas relações de trabalho que
compõe essa atividade. Análise que será melhor visualizada nos capítulos a
seguir.
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2 POLÍTICAS PÚBLICAS E USOS DO TERRITÓRIO RURAL Embora não acompanhando o padrão de crescimento urbano que o
Brasil vem experimentando nas últimas décadas, os espaços rurais brasileiros
vêm driblando as históricas estatísticas de decadência, alcançando melhores
índices em sua diversidade econômica bem como em sua dinâmica
socioterritorial.
A agricultura patronal e o agronegócio lideram, a longos passos, um
crescimento de mercado, com benefícios econômicos e repercussões políticas
já bem claras e expostas na mídia. O que hoje se tornou alvo de análise, e
mesmo de interesses políticos econômicos, foi o grau de importância que a
agricultura familiar vem desempenhando (e sempre desempenhou) não apenas
para a realidade daqueles que a desenvolvem, mas também, e principalmente,
para a economia local, regional e nacional.
Podemos, então considerar, não generalizando, que o crescimento
urbano acrescentaria importantes oportunidades, ou seja, oportunidades de se
tecer uma rede de relações para desencadear o crescimento e o
desenvolvimento do meio rural.
Nesse contexto, as políticas voltadas para o fortalecimento da agricultura
familiar e a diversificação nas atividades desenvolvidas nas unidades familiares
no meio rural são oportunidades as quais hoje se tornaram realidades
importantes e fatores da intensificação de sua dinâmica territorial.
Destacamos, assim, nesta parte do trabalho, os usos e as solidariedades
que ocorrem no espaço rural, principalmente aquelas que estão diretamente
relacionadas com a situação da agricultura familiar. As políticas públicas a ela
direcionadas, nesses casos, conferem a tais territórios um uso diferenciado,
comportando, em sua dinâmica, formas, objetos e ações que aqui se faz
importante evidenciar, tendo em vista os entraves encontrados, nos territórios,
para o acesso a essas políticas e sua aplicação e sua efetivação, ainda que
esses entraves sejam reflexo de transformações benéficas ao desenvolvimento
do espaço rural.
Na bibliografia que trata desse tema buscamos elementos para a análise
que realizamos, observando reflexões, propostas e respostas. Buscamos,
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ainda, relacionar a discussão em curso à realidade em estudo – a agricultura
familiar do município de Vera Cruz-RN.
Assim, delineamos nossas reflexões com base numa discussão sobre
políticas públicas inter-relacionada com a agricultura familiar, tendo esta como
uma categoria política de análise no uso do território rural.
2.1. Espaço rural e territorialidades: os usos e as solidariedades
Nos dias atuais muitos dos que nos espaços rurais trabalham
dependem, em grande medida, da agricultura. Esse fato, por si só, já justificaria
as ações e as estratégias implementadas para a diminuição da pobreza rural e
de apoio ao crescimento agrícola e ao desenvolvimento socioterritorial do meio
rural.
Tendo em vista essa realidade, percebe-se que “os lugares quando
territórios, isto é como normas, transformaram-se na grande mediação entre o
que penetra como normas do mundo, do mercado, e o que a sociedade
nacional e local em interação pretende como futuro” (TURRA, 2003, p. 386).
O que se pretende como futuro está intimamente relacionado à utilização
da terra por determinado grupo de indivíduos, as suas estratégias, suas ações
e ao estabelecimento de poder, que, ao mesmo tempo, reforça a organização
da sociedade no espaço e no tempo, ou seja, as territorialidades. (SILVA,
2008)
Evidencia-se aí uma multiplicidade de solidariedade, entre as quais
chamamos a atenção, para a solidariedade orgânica, conceito formulado por
Emile DurKheim (1960, 1978) para a compreensão da vida social.
Solidariedade orgânica significa a “interdependência em razão da divisão social
do trabalho, inicialmente divisão técnica mas, tão logo o processo de
reprodução do capital se torna complexo, toda sociedade dela participa,
ultrapassando a cooperação e instituindo a coesão social”. (TURRA, 2003, p.
387).
Nessa complexidade das solidariedades e das territorialidades, a
pobreza se insere na formação socioterritorial, uma vez que nem todos os
agentes sociais participam dessa coesão social. Os agricultores familiares são
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dependentes, ao mesmo tempo que, são excluídos, e muito mais necessários
para a reprodução do capital.
Essa realidade é visível nos espaços rurais e, desde a década 80, tanto
nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos, esses espaços se
tornariam alvo de estudos que visam entender o que estaria acontecendo no
meio rural, direcionando-se as intervenções para estabelecer novas bases para
o desenvolvimento dessas áreas. Nesse sentido, varias correntes de
pensamento embasaram tais estudos de forma a estabelecer estratégias para
dinamizar o meio rural.
A corrente que vê o desenvolvimento dos espaços rurais como resultado
da integração entre todas as atividades agrícolas ou não, chamando a atenção
para a importância da agricultura familiar, ganha respaldo nos anos 90 advém
da preocupação e da necessidade de se rever o papel dos espaços rurais e da
agricultura no processo de desenvolvimento e passa a ter relevância na
sociedade civil e no Estado, culminando no processo que veio a influenciar na
formulação e implementação do PRONAF.
A partir desse momento, além das políticas e dos esforços político-
econômicos direcionadas ao agronegócio, uma nova estratégia de
desenvolvimento rural passa a ser gestada no Brasil, centrada no
fortalecimento da agricultura familiar, através de um processo de reforma
agrária e da criação de um ambiente institucional favorável à consolidação
desse tipo de agricultura, com linhas de crédito rural para custeio e
investimento, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural e
infraestrutura para dar suporte à produção da agricultura familiar (FAO/INCRA,
1994).
Atualmente, as crescentes taxas de desemprego e os elevados índices
de miséria ainda se refletem no meio rural brasileiro com severa intensidade.
Contudo, um novo cenário apresenta-se, dando a esse meio novas
possibilidades econômicas e de moradia, (re) configurando novos acessos,
novos limites, e (re) territorializando a heterogeneidade do espaço rural.
Insere-se, nesse contexto, um discurso no qual “o novo”, o moderno,
aparece como sendo capaz de resolver todos os problemas sociais e,
principalmente, os econômicos.
| 57
No entanto é nas contradições existentes nos espaços urbanos e/ou nos
rurais que se reproduz o modo de produção capitalista, o que requer dos
pesquisadores cautela nos estudos sobre os “novos” e velhos cenários que se
(re) produzem nos territórios, visto os resultados já serem bem conhecidos:
intensas desigualdades sociais, em contraposição aos benefícios, que poucos
detêm.
A agricultura familiar é apresentada como “atividade com um potencial a
ser dinamizado e que pode vir a contribuir para o desenvolvimento rural”
(PESSOA, 2006, p. 214), e para isso, ressalta-se a importância das políticas
públicas direcionadas aos espaços rurais que incentivam e disseminam esse
quadro de referência da agricultura familiar na dinâmica territorial.
Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda
impõem limite às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo
e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos, a agricultura familiar
vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,
o que indica o reconhecimento de seu papel e de sua contribuição para a
economia brasileira, antes ausente da pauta das “notícias importantes”.
Nesse sentido, reveste-se a agricultura familiar de um caráter político
institucional, estando sob a égide das estratégias políticas, econômicas e
sociais toda a sua histórica formação socioeconômica e cultural. Isso porque os
órgãos formuladores de políticas públicas passaram a disseminar a ideia e a
investir na proposta de tornar a agricultura familiar, ligada a outros programas
governamentais, a alavanca dinamizadora do espaço rural e,
consequentemente, propiciar a redução das desigualdades sociais
historicamente presentes no campo.
A atual configuração econômica da agricultura familiar não comporta
apenas atividades estritamente rurais, conformando-se em seus espaços uma
dinâmica e complexa realidade, o que dificulta uma conceituação específica
para agricultura familiar distinguindo-a pelo “familiar” conceitualmente, pois
“não se pode explicar o que se distingue” (NEVES, 2002, pag.136), e a
agricultura familiar aglutina muito mais critérios e princípios, não se referindo
apenas à vida familiar.
Nesse contexto, insere-se, portanto, a pluriatividade que hoje está
presente (e sempre esteve) de forma mais contundente, deixando uma
| 58
incerteza para alguns, e confirmando, para outros estudiosos, o papel da
agricultura familiar frente às dinamicidades do espaço rural.
A estrutura familiar, sem ser reduzida a sua dimensão econômica,
perpassa por uma questão cultural e configura-se como uma organização
patriarcal. Assim,
essa estrutura e esses valores têm funções sociais auto protetivas em face de uma sociedade que desenraíza e exclui como meio de forçar a integração rápida dessas populações residuais no ritmo e nas relações próprias das novas estruturas de referência que a cada momento se propõem em consequência do desenvolvimento econômico. A agricultura familiar, além da produção agrícola propriamente dita, inclui as retribuições rituais dos filhos e netos em relação aos pais e avós e dos pais e avós em relação a filhos e netos. Isso quer dizer doações periódicas e remessas econômicas oriundas de ganhos obtidos em outros setores da economia. Sem contar subsídios compartilhados pela família com base nos deveres da reciprocidade e da dependência pessoal, desde a aposentadoria ou a pensão até a bolsa-trabalho. (MARTINS, 2001, p.3)
Ainda de acordo com o pensamento de Martins (2001), a agricultura,
ainda que comportando toda uma história enraizada na dinâmica do espaço
rural, está inserida em meio à autonomia das novas e das velhas atividades,
atreladas a políticas sociais e econômicas que, ao se inserirem no espaço
rural, ganham expressão própria e influenciam a dinâmica territorial.
Fica clara, portanto, a importância que a agricultura familiar tem, e como
ela esta tem que ser levada em conta, tendo-se em vista a formulação de
políticas econômicas e, principalmente, sociais direcionadas a essa atividade,
que tem reflexos não apenas locais, mas em nível nacional.
Institucionalmente, ressalta-se a criação de instrumentos com caráter
político-social a evidenciar essa importância e resguardar, ainda que com
fragilidades, a dinamização da agricultura familiar junto às estatísticas
econômicas e ao próprio mercado. Posto isso como exemplo, encontramos o
discurso político, que encaminha estratégias econômicas sociais com tal
objetivo, como encontramos no portal da Secretaria da Agricultura Familiar do
governo federal, que explicita:
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A Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam serem implementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Sem dúvida, o papel do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais estas políticas conseguirem se transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade conjuntural, mais adequadamente cumprirão o seu papel. (Portal da Secretaria de Agricultura Familiar, 2008)
E são essas mudanças, de caráter institucional e territorial, que
fundamentam muitos dos atuais questionamentos em torno do
desenvolvimento rural do país.
A ideia de desenvolvimento como processo de mudança social advém
de concepções originadas desde a revolução industrial, nos séculos XVIII e
XIX, e desde então segue uma trajetória em que ele é tido como sinônimo de
desenvolvimento econômico, ou, propriamente, em crescimento econômico, já
que tem como característica principal a acumulação de riqueza dos países
centrais e o sacrifício dos países pobres, não configurando, assim, um
“desenvolvimento”.
Nesse contexto, que, no emergir de novos pensamentos políticos na
sociedade e nas ações que esses pensamentos delineiam – entendendo-se
tais pensamentos políticos como a ligação, a aproximação com o real, quando
este se configura como autônomo, abarcando as ideologias, as filosofias e o
conhecimento de mundo – logo começamos a questionar e refletir em torno das
políticas.
No que diz respeito à realidade brasileira, as políticas públicas desde
sua constituição, não apresentam uma autonomia enquanto pensamento
político. No Brasil, muito se discute e se constrói negando-se a realidade
vivenciada neste país.
Numa periodização de políticas, planos e projetos, o Estado brasileiro
perpassou por mudanças significativas, política e economicamente, as quais
refletiram na formação econômica e social brasileira e, principalmente, nas
desigualdades existentes e no desequilíbrio entre os lugares, as regiões, os
| 60
territórios, a nação brasileira. Tudo isso é consequência, entre outras coisas,
das especificidades históricas do surgimento de um complexo econômico que
fomenta o mercado nacional e dá início aos conflitos e às disparidades locais,
regionais e nacionais.
Conceitos, noções e teses são construídos e rebatidos na teoria social,
originados empiricamente na geografia dos territórios10, nos quais a sociedade
acaba por se moldar, constituindo-se em reflexo da dinamicidade local,
nacional e até mesmo internacional.
Configuram-se conceitos e práticas, que são muito discutidos, criticados
e analisados pelos economistas e cientistas sociais. São planejados e
delineados, por gestores e instituições, pelo viés dos interesses econômicos e
políticos, e mesmo pelas características fisiográficas locais, perpassando por
toda uma complexidade inerente às questões políticas e econômicas vividas
em cada período histórico. Estas por sua vez, são delimitadas e discutidas no
âmbito nacional, bem como localmente, falando de uma realidade da qual a
sociedade se apropria, vendo nela a possibilidade de mudança.
Consideramos, o acesso à terra como um dos principais entraves para o
desenvolvimento rural, e mesmo para a efetivação das políticas publicas e
também uma das condições básicas para a alteração dessa realidade.
Acompanhado por um conjunto de condições que permitam um ambiente
institucional capaz de revelar os potenciais que os territórios detêm, ele é o viés
para que os agricultores negligenciados quanto a posse da terra venham a
participar do processo de desenvolvimento. Tal realidade, como frisa
Abramovay,
não depende apenas da iniciativa e da transferência de recursos por parte do Estado, mas fundamentalmente da mobilização das próprias forças sociais interessadas na valorização do meio rural: é daí que poderão nascer as novas instituições capazes de impulsionar o desenvolvimento de
10
Território aqui “não é apenas um conjunto de formas naturais, mas um conjunto de
sistemas naturais e artificiais, junto com as pessoas, as instituições e as empresas que abriga, não importa o seu poder. O território deve ser considerado em suas divisões jurídico-políticos, suas heranças históricas e seu atual conteúdo econômico, financeiro, fiscal e normativo. É desse modo que ele constitui, pelos lugares, aquele quadro da vida social onde tudo é interdependente, levando também, à fusão entre o local, o global invasor e o nacional sem defesa (no caso do Brasil)”. (SANTOS, 2002, pag. 84)
| 61
regiões vistas socialmente como condenadas ao atraso e ao abandono. (ABRAMOVAY, 1999, pag. 1)
Tal reflexão nos dá indícios para respondermos sobre como a dinâmica
de alguns territórios parece estar marcada pelos fatos históricos em que se deu
a formação socioespacial do campo. Noções de desenvolvimento e de
subdesenvolvimento se inserem nesse contexto. A extensão ideológica nesses
conceitos ajuda a responder às mudanças e transformações às quais os
espaços – urbanos e rurais – de acordo com interesses antagônicos
econômicos e sociais.
Nessa perspectiva, adentra-se, como exemplo, a questão emergente da
sustentabilidade ambiental, que vai muito além das questões naturais e
fisiográficas. Ou seja, perpassa realidades políticas, econômicas, e mesmo
sociais e culturais. Essa questão é objeto de “lutas” e da “descrença” de
alguns, (há, realmente, desenvolvimento sustentável?).
Nessa construção de entendimento, coloca-se o desenvolvimento como
processo de transformação socioambiental com vistas à satisfação das
necessidades e à realização das potencialidades do homem (CANDEIAS,
1941). Complementando-se esse conceito com a noção da sustentabilidade,
consideremos o desenvolvimento sustentável de acordo com a visão da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da
Organização das Nações Unidas, que o focaliza como um conjunto de
processos e atitudes que atendem às necessidades presentes sem
comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam suas
próprias necessidades.
Tais colocações nos remetem a questões estruturais e funcionalistas,
políticas e econômicas postas em nossa sociedade, as quais remontam a
questões históricas e antecipam possibilidades futuras acerca do
desenvolvimento11.
Em termos de proposição metodológica para o desencadeamento do
desenvolvimento sustentável, colocam como favorável a sua efetivação o
11
Não adentramos aqui a construção teórica acerca do termo “desenvolvimento”, do qual, existe toda uma
discussão e construção política nacional, sob influencia local, bem como internacional, sobre como o
conceito foi tratado e influenciou as implementações político-econômicas brasileiras.
| 62
planejamento estratégico e participativo como um instrumento de negociação
técnico-política, cuja implementação requer ativa participação da sociedade em
suas diferentes etapas.
Nesse cenário, o estado do Rio Grande do Norte adotou uma política de
planejamento regional baseada nas premissas do desenvolvimento com
sustentabilidade, seguindo uma lógica nacional de planejamento regional, a
qual aponta para as especificidades locais, suas estratégias, no entanto,
colocando a participação social como vetor forte para sua implementação.
Compreendemos, portanto, não esgotando aqui a complexidade da
questão – como não o dizem mesmo as teses que se aplicam ao uso territorial,
e neste, á dinâmica que a agricultura familiar implica nesses espaços para
todos os seus envolvidos (direta ou indiretamente) – que a diversidade a dos
conceitos se insere na perspectiva de se chegar a um ponto comum quanto ao
melhor desenvolvimento rural.
É verdade que tais projetos são essencialmente políticos e, assim,
envolvem seus atores, instituições, agentes sociais, os quais, acabam por
defender suas ideias e trabalham articulados para chegarem aos objetivos
pretendidos. Iniciativas locais, ações coletivas e o poder público, articulados,
são, ainda, a referência para se falar em um desenvolvimento territorial que
traduza a responsabilidade de crescimento econômico e as reais possibilidades
de acesso.
A solidariedade orgânica aí poderia articular-se a outras solidariedades,
como a institucional12, a mecânica13 e mesmo a organizacional14 e, assim,
articular também alianças políticas, respeitando aí as ações locais e adotando
uma prática de negociação de modo que todos fossem partícipes dos mesmos
objetivos, compondo o entendimento da formação socioterritorial (TURRA,
2003)
Não se perde, mas, sim, se intensifica, portanto, o desenvolvimento
territorial com vistas a sua real complexidade, inerente às práticas sociais,
políticas, econômicas, bem como, e principalmente, culturais, examinando-se
as estratégias internas e externas ao processo.
12
Permite que a cooperação e a coesão estejam direcionadas ao território. 13
Noção de pertencimento a um grupo. 14
O foco está nas empresas, mas condições de compreensão do funcionamento do mundo e do lugar.
| 63
2.2. Políticas públicas e agricultura familiar: faces políticas e sociais “o alcance de novas perspectivas para os processos sociais no
meio rural passa pelo reconhecimento da agricultura familiar, como uma forma social de trabalho e de produção e desenvolvimento rural. Isso implica um processo que busca alternativas ao tradicional padrão agrícola de desenvolvimento.” (Shneider, p.13)
Até aqui tecemos breves reflexões quanto a esse reconhecimento da
importância da agricultura familiar, para o qual chama a atenção Shneider na
passagem acima. É eminente tal processo, que busca alternativas para o
desenvolvimento dos espaços rurais. Visualiza-se, nas políticas públicas
criadas e efetivadas nesses espaços, a “porta” aberta para se inserir a
dinâmica desenvolvida pela agricultura familiar no mercado, embora ainda seja
evidente sua desvantagem em relação à agricultura patronal executada em
nosso território nacional.
Uma das preocupações seria, então, diminuir e equilibrar, perante o
mercado e as próprias práticas sociais, as desigualdades geradas pelas
dinâmicas econômicas dominantes. Perseguindo esse entendimento, fazem-se
necessárias políticas territoriais ou regionais que viabilizem programas de
desenvolvimento de territórios rurais ou com entrada pela dimensão ambiental,
focalizando a atenção nas especificidades que cada território contempla.
Poderíamos citar, dentro desse enfoque social e territorial, para enfrentar
exatamente a questão da diminuição das desigualdades existentes,
contemplando a agricultura familiar e suas multi-funções, as atuais políticas
territoriais aplicadas em conjunto com diferentes programas públicos e mesmo
associadas a outras políticas vigentes, como as políticas sociais.
Em nosso estudo, sem prejudicar a análise, faremos menção àquelas
políticas que se destacam em nossa dinâmica, contribuindo para uma efetiva
ação no território. No entanto, antes de adentrarmos diretamente essas
políticas, ressaltamos a importância de se ter, mesmo que implicitamente, a
noção da construção histórica dos eventos socioculturais cujos reflexos estão
materializados nos territórios, principalmente quanto às questões políticas, à
| 64
distribuição da terra, e ao acesso a ela, criando situações geográficas mais que
atuais.
Na aplicação e efetivação de tais políticas, encontra-se, em sua base,
uma estrutura político-administrativa, composta de ministérios, secretarias e
órgãos, cada um com suas competências, articulando suas ações com o intuito
de fortalecê-las. O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério de
Desenvolvimento Social se destacam, pois suas ações estão diretamente
relacionadas e direcionadas à agricultura familiar e às estratégias de combate à
fome nos espaços rurais, respectivamente, apresentando como programas
importantes para tal objetivo a política de fortalecimento da agricultura familiar
– PRONAF – e o Fome Zero.
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, em
vários sentidos, sobressai em importância, comportando-se como uma política
setorial diferenciada e direcionada à agricultura familiar, ressalta a importância
conferida à agricultura familiar para a economia, porém, muito mais, para a
complexidade que a envolve nos espaços rurais, situando-se principalmente no
social seus reflexos aqui.
Nos espaços rurais, os movimentos sociais têm visto algumas de suas
reivindicações serem contempladas, a saber: a participação nas decisões, com
a criação de conselhos, e a prática das negociações para a implementação das
políticas públicas com a participação social. Nem precisaríamos falar da
importância que tais ações têm para esses espaços, principalmente na região
Nordeste do Brasil, devido às excludentes realidades que historicamente têm
sido aí vivenciadas.
A inserção de capital no campo, principalmente por meio da apropriação
do crédito, converteu-se em possibilidades para aqueles que conseguiram o
acesso a essa política, reproduzindo a capacidade de dinamizar as práticas
econômicas locais, mesmo em suas possibilidades multifuncionais.
Os espaços rurais agora seriam contemplados, de acordo os objetivos
do programa, por diferentes linhas de crédito, as quais beneficiariam diferentes
focos de investimento. Nesse contexto, a multifuncionalidade da agricultura
familiar estaria somada à própria capacidade de acesso à pluriatividade,
dinamizando ainda mais esses espaços, antes tidos como estagnados.
| 65
O município – território e normas – comporta-se, nesse contexto como a
unidade político-administrativa básica para as inferências jurídicas e, nele, o
território é usado segundo seu próprio ordenamento, constituindo-se como
cidade. A esta, ele confere seus usos, urbano e/ou rurais, os quais
permanecerão conectados. Percebe-se aí a importância de, enquanto recorte
administrativo, tendo evidência nessa esfera jurídica normativa, nele se
realizarem ações significativas para a aplicação e a efetivação das políticas
públicas.
Compreendemos que a dinâmica territorial, existente na combinação de
ações externas e internas, envolve, ainda, e principalmente “as normas –
técnicas, políticas e jurídicas – que podem ser internas, podem ser locais, mas
nas condições do meio técnico-cientifico-informacional, são igualmente
externas e, quando técnicas, são também políticas” (TURRAS, 2003, p.389).
Tal compreensão das relações complexas que aí se instauram é
relevante para que se faça, na própria realidade local, uma conexão com as
externas, geridas por normas externas, em contraposição ás instigantes
imposições políticas culturalmente praticadas nesses territórios.
Destacamos a expansão do acesso a essas políticas, entre elas, o
PRONAF, com uma marca de 2 milhões de contratos, num universo estimado
de 4 milhões de estabelecimentos familiares no Brasil. Salientamos, ainda: as
novas ações, direcionadas a novos temas; a diversificação do financiamento
conferido aos pronafianos, com novas possibilidades – como, por exemplo,
financiamento para as mulheres, para os jovens, para a agroecologia, para o
Semi-Árido, a pesca, o desenvolvimento florestal, o turismo, entre outras –
estimulando cada vez mais a participação no mercado, bem como a
valorização e respeito às diversidade existentes.
Há portanto que se considerar a importância das relações existentes no
meio rural, a substanciar-se em novas possibilidades o dinamizam. Nesse
contexto, merecem destaque todos os agentes sociais e atores, na relação com
os gestores públicos.
Em tudo o que aqui foi dito, percebe-se sempre o destaque que a
agricultura familiar confere aos territórios rurais, não se questionando a
diversidade que ocorre na organização dessa atividade, sabendo-se que tal
| 66
organização é fundamental para a configuração do próprio território em suas
faces substantivas.
As políticas públicas aí configuram-se como instrumentos de intervenção
que foram criados a partir de referenciais dos próprios espaços rurais, para,
assim, contribuírem para a dinamização de um meio rural mais produtivo e com
qualidade de vida. A essência da política é indispensável para que ocorra a sua
efetivação, mas, muito mais, para que sejam reduzidas as barreiras e
fragilidades institucionais enfrentadas quando postas na prática.
A demanda do capital, sua dinâmica e os processos de sua reprodução,
emergem como principais veiculadores da inserção de capital também nos
espaços rurais, bem como de regras e normas de mercado, ditando-as nesses
espaços. As demandas sociais de direitos equitativos são deixadas em
segundo plano. Observa-se que são insuficientes algumas ações, nesse
contexto, devido à fragilidade instaurada nos territórios, barreiras
materializadas na infraestrutura, nas ações, nos objetos, nas relações
existentes.
Além do PRONAF, apresentado aqui como uma política importante e já
ostentando resultados favoráveis à dinâmica da agricultura familiar no meio
rural de nosso Brasil, outras iniciativas têm também obtido resultados que se
destacam e que criam novas perspectivas para se ampliar o dinamismo da
agricultura familiar, e sua produtividade, consequentemente.
O programa Território da Cidadania, por meio de uma estratégia de
desenvolvimento regional, procura a inclusão produtiva das populações pobres
dos territórios, integrando e planejando a integração das políticas publicas com
a participação social, buscando a cidadania para todos.
Sua efetivação, no entanto, depende muito da participação ativa de seus
agentes sociais, por vezes sendo exatamente essa a dificuldade, do trabalho
em organizações e cooperativas rurais. Os interesses particulares sobressaem
em relação à qualidade e à veracidade de se construìrem melhores resultados
coletivamente.
O programa Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER – é essencial
no apoio aos contemplados por ele, pois vem capacitando seus técnicos, para
melhor assistirem e atenderem as demandas solicitadas. Questões estruturais
| 67
são ainda, no entanto, empecilhos para uma melhor efetivação das ações
desse programa.
A Arca das Letras e o Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária – PRONERA – são iniciativas que vêm suprir uma carência básica nos
espaços rurais, a educação. Ações assim evidenciam ainda mais as lacunas
existentes nos espaços rurais, os quais dificultam e impedem o crescimento
social, e mesmo o acesso a outras políticas públicas, que necessitam de uma
participação mais efetiva, não apenas assinando papéis, mas compreendendo
e participando de decisões que contemplem a melhoria do campo.
Uma das principais dificuldades hoje para a agricultura familiar é a
inserção dos agricultores, no mercado econômico, comercializando sua
produção. O Programa Garantia de Preços para a Agricultura Familiar –
PGPAF – e o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA – dão segurança e
garantia de compra aos alimentos produzidos e ainda beneficiam a outros
programas sociais, quando da compra desses produtos para a destinação da
segurança alimentar de populações em risco, assistidas por outras políticas
sociais. Infelizmente, ainda assim, existem algumas dificuldades para a
participação nesse programa.
Por tudo isso, não se nega a importância das políticas públicas
implementadas nos territórios rurais, com vista a alcançar o desenvolvimento
social e o crescimento econômico para todos. No entanto, cabem aqui várias
ressalvas, que dizem respeito a particularidades de cada caso, de cada
realidade existente no território nacional. A aplicação dessas políticas, desses
programas e projetos nem sempre é eficaz, ou mesmo aceito nos territórios
com elas contemplados.
A complexidade territorial perpassa por todo o processo que se
substancia nas práticas sociais, econômicas e políticas. Uma trama de relações
nas quais se faz uso do território e que neste – nas normas, instituídas pelas
políticas públicas – irá conformar, nas técnicas, na informação e na reprodução
social, a dinâmica territorial.
2.3 Vera Cruz-RN: entre oportunidades e desigualdades
| 68
A estrutura agrária brasileira tem raízes históricas e vem sendo de longa
data, discutida. A intervenção do Estado nela resultou, historicamente, em
mudanças no espaço rural, em diferentes contextos regionais, no entanto não
conseguiu democratizar o acesso à terra, nem tampouco modificar a estrutura
fundiária.
Nesse aspecto, na região Nordeste – portanto também no Rio Grande
do Norte, a questão agrária passou por um processo conflituoso, no qual as
ações do Estado acabaram por privilegiar a grande propriedade, em detrimento
dos pequenos produtores, não garantindo a estes o direito do acesso à terra,
dentro da qual se desenvolve o principal meio de sobrevivência. (FRANÇA,
2005)
A distribuição dos estabelecimentos rurais no Brasil, visualizada aqui na
figura 5, ainda carrega resquícios históricos de sua formação socioterritorial.
Segundo os dados do censo agropecuário do IBGE do ano de 2006, essa
distribuição se caracteriza por uma grande concentração.
Contudo a dinâmica existente na área utilizada pela pequena produção é
representativa pelos números apresentados tornando-se, assim alvo das
políticas agrícolas e agrárias, também relacionadas às de desenvolvimento
social e combate à fome. No Rio Grande do Norte, a situação da agricultura
familiar não difere da apresentada nas estatísticas nacionais e regionais: a
atividade se apresenta como responsável por 1/3 da produção do setor
agropecuário, constatação feita pelo senso do IBGE de 2006.
| 69
Figura 5: Distribuição de estabelecimentos rurais no Brasil segundo dados do censo agropecuário de
2006.
Fonte: IBGE, 2010.
| 70
Segundo o superintendente do Instituto de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA – no Rio Grande do Norte, numa entrevista concedida à
revista online Nominuto, alguns dados se fazem representativos para a
realidade do estado, como é o caso daqueles publicados pelo censo 2006. O
Superintendente atribuiu esse desempenho à mudança na dinâmica territorial
da agricultura familiar no RN, resultante do planejamento de distribuição de
áreas.
Diz, ainda, o superintendente que, "a quantidade das grandes
propriedades reduziu dos anos 90 para cá e, em contrapartida, aumentou o
número de estabelecimentos entre 10 e 100 hectáres, fruto da política de
reforma agrária bem desenvolvida no Estado".
No Rio Grande do Norte, a agricultura familiar compreende 83 mil
estabelecimentos agropecuários, 85% são da agricultura familiar. Esses
estabelecimentos ocupam uma área de 32% da área total, realidade que segue
a nacional. Ou seja, no Rio Grande do Norte, salienta-se a concentração de
terras: apenas um terço de todas as unidades, é de agricultura familiar.
Os dados revelam que a agricultura familiar participa com 1/3 da
economia na produção de grãos e na cultura agropecuária. Nestes, 90% do
arroz que é produzido, é fruto da agricultura familiar. O milho produzido
corresponde a 83%, e a mandioca 61% da produção potiguar. Na criação de
animais, os estabelecimentos familiares são responsáveis por 75% da criação
de suínos, pela produção de 64% do leite de cabra e 45% do leite bovino.
Ainda de acordo com o censo, 77% do pessoal ocupado no setor agropecuário
faz parte da agricultura familiar. "Esse setor revela para o Rio Grande do Norte
o seu peso e sua importância que até então não eram conhecidos e nem os
resultados na economia do Estado", conforme ponderou o superintendente
acima citado.
Diante dessa realidade, e das oportunidades e desigualdades que se
instalam nos espaços rurais nordestinos – especialmente, o norteriograndense
– Vera Cruz se apresenta com algumas particularidades, principalmente quanto
às questões políticas e econômicas direcionadas à agricultura familiar.
Segundo um técnico em agropecuária que atua em Vera Cruz – RN,
analisando a situação da agricultura familiar no município, comentou: “A
agricultura familiar aqui não tem problemas!”. Seria, então, essa a realidade
| 71
que em Vera Cruz, atualmente, se configura? Partimos dessa afirmação, para
analisar e questionar tal afirmação destarte a situação da agricultura familiar no
município.
Assim, de acordo com os nossos encaminhamentos teóricos,
percebemos materializado nas ações e nos objetos organizados
espacialmente, o uso do território nas relações sociais instituídas no exercício
de poder. Em Vera Cruz-RN, o território evidencia, em suas instâncias, uma
forte influência em todas as ações destinadas ao favorecimento de grupos. A
influência política está em determinados setores, e diretamente ligada à
atividade econômica que dinamiza o território, ou seja, à agricultura familiar.
Nesse contexto, a prática política revela exatamente o que Silva fala quanto à
reprodução de poder nos territórios:
[...] se em um passado não muito distante a propriedade da terra era (embora continue sendo importante) o principal elemento que dava poder político a determinados grupos familiares, atualmente é o controle das políticas implementadas pelos governos federal, estadual e municipal que se sobressai também como intermediador, mantedor e reprodutor do poder em sua dimensão política (SILVA, 2006, p. 68)
Diz, ainda, que,
[...] fazem parte de uma estrutura de poder que ainda está associada a formas de manifestação expressas pelo coronelismo, pelas oligarquias ou pela dominação de parentela, cujas práticas políticas, referenciadas nessas formas de poder, vão estruturar e delimitar os territórios, os quais se apresentam como espaços fundamentais nna reprodução de poder. (SILVA, 2006, p. 50)
Percebe-se que a efetivação das políticas públicas e a evolução destas,
no território de Vera cruz, trouxeram, sim, benefícios para a dinâmica
econômica e social do município. No entanto constam parcerias políticas
articuladas à solidariedade mecânica; isto é, a coesão social existe entre
aqueles que compartilham e apoiam o poder exercido pelo grupo dominante,
ao mesmo tempo que a participação de seus agentes no processo de decisão
emerge do favorecimento dos que fazem parte desse mesmo grupo.
| 72
Porém não se esvai aí a possibilidade daqueles que não se inserem
nessa configuração política de ter acesso à dinâmica produtiva, de usufruir dos
benefícios das políticas aplicadas. Mas as dificuldades são percebidas, pois o
acesso a essas instâncias já não se configura no mesmo compasso de tempo e
de facilidades.
Faz-se, contudo, necessário aqui colocar, sem aderir à defesa de
qualquer instituição, que o poder exercido pelo governo vigente vem
demonstrando avançar com ações que concretizem os objetivos propostos
pelas políticas direcionadas especialmente à agriculta familiar.
Esse fato é constatado pelos próprios agricultores, ao reconhecerem
que, nos últimos cinco anos, a realidade vivida nesse território vem sendo
modificada com vista a possibilitar um melhor crescimento na agricultura e na
própria dinâmica produtiva do município, contemplando não somente essa
atividade, mas a economia como um todo. No entanto, não se pode esquecer
que ainda existem práticas que negligenciam os avanços e fazem
perpetuarem-se as velhas práticas clientelistas.
Se para entender a dinâmica territorial, é necessário compreender a
situação que se configurava no passado, no território analisado, bem como as
ações externas que se impõem sobre as internas, então preenchemos uma
lacuna quanto ao entendimento das relações políticas que se instauram nessa
dinâmica.
As normas, substanciadas nas políticas públicas, têm sua efetivação
orientada por práticas determinantes na implementação dessas politicas.
Assim, uma lacuna se preenche quanto à compreensão das relações
sociopolíticas que, direta ou indiretamente, orientam, facilitam, impõem ou
negam os resultados que dinamizam a agricultura familiar nesse território.
Tratamos, portanto, de uma realidade culturalmente estabelecida pelas
práticas sociais no uso do território, colaborando para a complexidade que nele
se estabelece. Para tanto, ressalta-se que parece atrasado ou impossível, que
tal realidade ainda seja praticada. A atual política federal disponibiliza novos
arranjos institucionais, novos instrumentos, os quais, por si sós, são desafios,
na superação das velhas políticas, que têm bloqueado o crescimento das
práticas agrícolas.
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Sem colocar aqui um ponto final na discussão sobre essa questão,
percebemos no pensamento de Santos uma conexão entre a realidade de
outrora e a atual, pois,
“Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela política” (SANTOS, 2000, p. 173-174)
Portanto, são pertinentes as colocações feitas aqui, para se pensar no
que é possível, no que está disponível e nas mutações desejadas para que a
agricultura familiar seja dinâmica, produtiva e praticada, principalmente para o
beneficio do agricultor e de sua família.
| 74
| 75
3. VERA CRUZ-RN: SITUAÇÃO GEOGRÁFICA – DO PASSADO AO
PRESENTE
Na terceira parte deste trabalho, analisaremos a atual situação do
território de Vera Cruz, sob o aspecto da atuação da agricultura familiar
promove no município. Iniciamos nossas reflexões com uma discussão teórica
sobre a agricultura familiar e a estrutura produtiva, considerando a primeira
como responsável por uma parcela significativa da dinâmica territorial do Brasil
– especificamente, daquela que ocorre no território de Vera Cruz-RN.
As reflexões até aqui apresentadas nos levam a considerar que, apesar
das políticas e dos programas governamentais, implantados no espaço rural
com o objetivo de oportunizar melhores condições ao pequeno produtor, a sua
produção e, consequentemente, melhoria de vida, possibilitando, assim, sua
permanência no campo, há, ainda, uma grande parcela de agricultores que não
foram inseridos nesse contexto, perpetuando-se as condições de atraso
historicamente construídas no Brasil e principalmente, no Nordeste.
Partimos do pressuposto de que, devido a movimentos contraditórios,
nos quais o capital se faz presente na economia e, principalmente, na política,
os eventos que configuram a atual situação da agricultura familiar ainda são
permeados por uma cultura clientelista, que faz permanecerem de tantas já
conhecidas realidades socioculturais.
Contudo, torna-se frisar a importância de tais políticas para o
desenvolvimento do espaço rural brasileiro, embora colocando algumas
ressalvas quanto às particularidades ainda existentes, principalmente em
pequenas cidades, em que a agricultura de subsistência ainda é praticada.
Assim, com base nas entrevistas realizadas com alguns agentes sociais
do município de Vera Cruz, seguem nossas análises, que tiveram como
objetivo responder a nossos questionamentos iniciais.
3.1 Agricultura familiar, estrutura produtiva e dinâmica territorial
A agricultura familiar, hoje, faz parte da agenda política do Estado, das
organizações sociais ligadas a questões do espaço rural, e do próprio espaço
| 76
rural. Destaca-se sua dinamicidade, a importância que ela tem na produção de
alimentos, na geração de renda e nos movimentos sociais, reivindicando para
os seus maior participação na economia, acesso às políticas públicas e aos
direitos substantivos inseridos na dinâmica socioeconômica local, regional e
nacional.
Atualmente, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança
alimentar de uma parcela significativa de brasileiros, apresentando dados
significativos no fornecimento de alimentos para o mercado interno. Reflexo
dessa importância foi mostrado no ultimo censo, realizado em 2006, no qual a
agricultura familiar teve, pela primeira vez, sua estatística oficial. Esse
documento apresenta números que evidenciam a realidade atual dos espaços
agrários brasileiros.
Existem, atualmente, no país, 4.367.902 estabelecimentos com
produção de agricultura familiar, cerca de 84,4% do total de estabelecimentos
agrícolas. Porém, esse número ainda não supera a concentração da estrutura
agrária, historicamente presente nos espaços agrários brasileiros, visto o
número de estabelecimentos representar apenas 24,3% da área ocupada, o
que significa uma área média de 18,37 ha. para a agricultura familiar, contra
309,18 há. para os agricultores não familiares.
Apesar da perpetuação da concentração de terras, a agricultura familiar,
hoje, representa 38% do valor bruto da produção agrícola gerada no país
ocupa, em sua produção, 74,4% de mão-de-obra, percentual significativo,
tendo-se em vista a dificuldade de se reterem pessoas ocupadas nos espaços
rurais, uma tendência visível nos dias atuais, diante da urbanização das
cidades e da transferência dos moradores do campo para os centros urbanos.
Esses números tornam-se ainda mais representativos na região
Nordeste, onde estão 50% do total de estabelecimentos registrados no país,
cerca de 35% da distribuição de área dos estabelecimentos da agricultura
familiar por região.
Nas estatísticas, algumas culturas se destacam, entre elas a produção
de mandioca, a qual representa 87% da produção nacional. (IBGE, 2006).
Nesse quadro, nossa área de estudo é relevante e representativa para a
dinâmica em nível, estadual, regional e, principalmente, local. A produção de
mandioca, atualmente, reflete as mudanças ocorridas no campo, no qual, a
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inserção do capital e sua lógica de produção reorganizaram espacialmente o
processo produtivo à mercê de interesses capitalistas, aumentando a produção
de farinha de mandioca.
Nesse contexto, o cultivo da mandioca, em 1990, com uma área colhida
de 540 ha., tinha uma produção de 4.320 toneladas; em 2008, a área colhida já
perfazia 2200 ha. Obtendo-se uma produção de 33.000 toneladas. Toda essa
produção, agora destinada às casas de farinha locais, como também da região,
dinamiza a agricultura e toda a cadeia produtiva que envolve o processo.
Podemos, então, ressaltar que, para essa dinamização da agricultura
familiar, as políticas públicas vêm tendo resultados indiscutíveis, sendo,
responsáveis por grande parte desse desempenho, que é visualizado,
principalmente, quando comparados os números do desempenho apresentado
no censo de 1996 como o de 2006. Poderiam ser citados, outros aspectos da
realidade existente em nosso país, os quais se fizeram relevantes para que a
dinâmica territorial respondesse às novas demandas do mercado e aos
modernos sistemas de produção. A organização, a informação frente ao
mercado, as ações coletivas e a participação real do agente social na gestão
de sua produção são o diferencial na produção, na valorização dos produtos, e
na própria relação social existente.
A questão da terra diferencia-se nesse contexto. É, ainda, um grande
impasse nesse processo, principalmente para aqueles que não a possuem,
tornando-se uma das principais barreiras para que o produtor tenha acesso ao
capital, por meio das políticas de crédito. Mesmo assim, é significativo o
número de financiamentos destinados à agricultura familiar, como procuramos
demonstrar nas tabelas 1 e 2, que existem os números referentes ao Rio
Grande do Norte.
| 78
Tabela 1: Numero de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não obtenção do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006
Número de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não
obtenção do financiamento e agricultura familiar Motivo da não
obtenção do
financiamento Agricultura familiar
Variável
Numero de estabelecimentos que
não receberam financiamentos
(Números)
Numero de estabelecimentos que não
receberam financiamentos (Números)
Total
Total 66.119 100,00
Não Familiar 9.844 14,89
Agricultura familiar 56.275 85,11
Falta de garantia
pessoal
Total 837 1,27
Não Familiar 93 0,14
Agricultura familiar 744 1,13
Não sabe como
Conseguir
Total 760 1,15
Não Familiar 96 0,15
Agricultura familiar 664 1,00
Burocracia
Total 7.307 11,05
Não Familiar 928 1,40
Agricultura familiar 6.379 9,65
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Tabela 2: Numero de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não obtenção do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006
Número de estabelecimentos agropecuários que obtiveram financiamento por finalidade do
financiamento e agricultura familiar
Finalidade do
financiamento Agricultura familiar
Variável
Numero de estabelecimentos que
obtiveram financiamentos
(Números)
Numero de estabelecimentos que
obtiveram financiamentos (Números)
Total
Total 16.923 100,00
Não Familiar 1.996 11,79
Agricultura familiar 14.927 88,21
Investimento
Total 11.875 70,17
Não Familiar 1.368 8,08
Agricultura familiar 10.507 62,09
Custeio
Total 3.478 20,55
Não Familiar 493 2,91
Agricultura familiar 2.985 17,64
Comercialização
Total 321 1,90
Não Familiar 31 0,18
Agricultura familiar 290 1,71
| 80
Caberia, no entanto, ressaltar, que ainda há necessidade de ações que
dinamizem e desenvolvam os espaços rurais brasileiros. As dificuldades
enfrentadas, decorrem da fragilidade que se instaura na participação dos
agentes no poder de decisão, e mesmo na construção de arranjos institucionais
dos quais eles sejam participes.
Não se podem considerar, sobretudo, os problemas já enfrentados, que
são os impactos socioambientais, os quais, aliados a outros já citados,
desestruturam e inibem o acesso dos agentes à dinâmica produtiva local.
Permanecem, ainda, mesmo que essas informações não estejam presentes
nas estatísticas oficiais, a dependência e a continuidade do paternalismo, do
clientelismo e o assistencialismo gerido nas instâncias políticas, perpetuando a
falta de autonomia do agricultor.
As decisões tomadas de cima para baixo, negligenciando as
características subjetivas e a heterogeneidade existente em cada território,
impõem barreiras ao acesso às políticas públicas, e mesmo à efetivação e à
evolução do quadro de desenvolvimento dos espaços rurais. Outro fator
relevante nesse processo é o apresentado por Abramovay, ao analisar a
agricultura familiar e o desenvolvimento territorial. Diz esse autor:
O acesso à terra é uma das condições básicas para esta alteração: mas ele só faz sentido, se for acompanhado do acesso a um conjunto de condições que alterem o ambiente institucional local e regional e permitam a revelação dos potenciais com que cada território pode participar do processo de desenvolvimento. Isso não depende apenas da iniciativa e da transferência de recursos por parte do Estado, mas fundamentalmente da mobilização das próprias forças sociais interessadas na valorização do meio rural: é daí que poderão nascer as novas instituições capazes de impulsionar o desenvolvimento de regiões vistas socialmente como condenadas ao atraso e ao abandono. (ABRAMOVAY, 1999, p.1)
* Nesse contexto, o capital inserido nos espaços rurais é significativo,
mesmo quando em valor baixo, pois as estratégias encontradas pelos
agricultores para enfrentar sua situação socioeconômica permitem o sucesso
de seu trabalho. Assim, concordamos com Carneiro, quando expõe que
Tabela 2: Numero de estabelecimentos agropecuários que obtiveram financiamento por finalidade do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006
| 81
As estratégias familiares vão depender, além do capital econômico disponível, obviamente, das condições de mercado (trabalho, sobretudo) – do patrimônio familiar, ou seja, das capacidades (individuais e coletivas) existentes para enfrentar a situação de queda do rendimento familiar e, então, inovar ou reinventar a tradição (CARNEIRO, p. 339)
Nessa perspectiva é necessário que haja a ação do Estado, articulada
com a de outros organismos civis, e a própria participação do agricultor familiar,
como agente social desse processo, para que as políticas públicas venham a
dinamizar os territórios bem como que para estimular a formulação de projetos
capazes de valorizar os atributos locais e regionais no processo de
desenvolvimento. (ABRAMOVAY, 1999.)
Não se esgota aqui a diversidade existente na agricultura familiar e em
sua estrutura produtiva, em nossa própria realidade de um país de dimensões
continentais. Em cada região, devido à história de sua formação socioespacial,
configuram-se diferentes realidades, às quais comportaram demandas,
necessidades, mercados, políticas, atores e agentes sociais, que, por si sós, se
distinguem.
Por isso a necessidade de se realizarem estudos mais localizados, na
busca de se compreenderem diferentes realidades e, assim, chegar-se a
entender a situação de nossos agricultores.
Sem relativizar sua importância para a dinâmica territorial nacional, nem
generalizar o contexto, como se fosse uniforme, a agricultura familiar continua
em todos os casos, a fazer parte do processo de reprodução do capital, que se
dá na relação local-global, na desigualdade vigente, no uso do território, que é
vivido, habitado, “compartido e compartilhado” (TURRA, 2003, p.386), nas
normas, nas técnicas, na informação e na atualidade, principalmente, no
“permanente e no fugaz” dos espaços geográficos, que são relacionais.
3.3 Vera Cruz: dinâmicas locais e configuração de um território
| 82
Dentro da realidade de como a agricultura familiar se apresenta em
nosso estado, colocamos nossos olhares em direção à dinâmica territorial em
que a agricultura se faz presente no que diz respeito a nosso recorte de estudo.
Em outras partes de nosso trabalho, vinculado com as discussões mais
teóricas, apresentamos as características da formação socioterritorial,
ressaltando algumas que são relevantes para nossa análise. Posto isso,
tratando da realidade da agricultura familiar em nosso país, vinculando-a ao
uso do território através da aplicação e efetivação das políticas públicas,
apresentaremos a seguir algumas falas daqueles que realmente fazem a
dinâmica desse território rural. Realizaremos análise qualitativa de todas as
conversas formais e informais, e mesmo da atenção direta, no conviver
diretamente com a área de estudo e sua realidade.
As perguntas que formulamos tiveram sempre o objetivo de incentivar a
explicitação do uso do território veracruzense, ou seja, de analisar a dinâmica
do uso do território tendo em vista políticas públicas destinadas à agricultura
familiar e que se fazem relevantes para a dinâmica territorial executada pela
agricultura familiar do município de Vera Cruz. E, ainda, de refletir sobre como
as políticas públicas direcionadas à agricultura familiar se materializam nas
ações políticas, econômicas, sociais, culturais e geográficas.
Posto isso, lembramos que nosso território compreende, em sua
territorialidade, como já citado anteriormente, 14 comunidades rurais, tendo um
contingente populacional de 4.597 habitantes. Os agricultores familiares
representam 70% desse total – cerca de 800 a 1000 produtores nos
estabelecimentos rurais do território – e são responsáveis pela ocupação de
cerca de 4.000 ha de terra plantada com mandioca, principal produção
agrícola.
Segundo informações obtidas no Instituto de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Rio Grande do Norte – EMATER – no município de Vera
Cruz, dessa área ocupada cerca de 2.500 ha são assistidos pelo órgão,
verificando-se que a renda gerada nessa atividade tem aumentado de forma
significante.
A agricultura familiar se efetiva no município na produção da mandioca
destinada às casas de farinha localizadas no próprio município, encontrando-se
também outras culturas, como feijão, milho e bata-doce, uma produção em
| 83
pequena escala, em geral para consumo familiar; Também encontramos,
nesses espaços, a produção de frutas, como manga, banana, jaca, acerola e
abacate, além das pastagens, conforme se vê na figura 6.
| 84
Araçá II
Araçá I
Ponta deVárzea
Jenipapo
Cobé
Areias
LagoaGrande
Pituba
La. dosPorcos
Lagoa Jacaré
Jacaré
Lagoa da Cruz
Lagoa do Jenipapo
Lagoa Pontada Várzea
Vera Cruz
Lagoa Grande
SítioSanta Cruz
Papagaio
Asfalto
Estrada de Barro
Limites
Lagoas
S
O L
N
Araçá III
Sede Municipal
Melão
Caju/Castanha
Acerola
M am ão
Mandioca
Feijão
Milho
Batata doce
Criação animal
Casa de Farinha
Olária
Sem informação
Pororocas
Figura 6: Mapa da produção agrícola e outras atividades econômicas nos distritos de Vera Cruz/RN
Fonte: Base cartográfica digital do município de Vera Cruz cedida pela secretária de educação do município, 2008. Adaptado pela autora.
| 85
A agricultura familiar, nesse território está, direta e indiretamente,
influenciando vários segmentos produtivos locais. Na fala de todos aqueles
com quem conversamos sobre a dinâmica socioeconômica atual do município,
a realidade que se configura é que essa modalidade da agricultura tem
melhorado muito nos últimos anos.
Quanto à estrutura administrativa, poderíamos dizer que os agricultores
familiares hoje dispõem de um escritório da EMATER-RN em Vera Cruz, o qual
conta com cinco funcionários. Três técnicos agropecuários e duas assistentes
sociais. Cada um deles a responsabilidade de prestar assistência técnica os
agricultores familiares.
Além desses funcionários, os agricultores contam com ações (diretas)
das secretárias de Agricultura, de Educação e de Assistência Social,
viabilizando as políticas a eles destinadas.
Nas entrevistas com alguns dos técnicos da EMATER, a fala era de
melhores resultados, poucas evidências de problemas e existência de uma
parceria saudável da assistência técnica com o agricultor. A instituição tem
atuado no fomento da agricultura local através de cursos de capacitação para
os agricultores bem como nas visitas técnicas às propriedades e na assistência
na própria sede da EMATER, quando esta é procurada.
Destaca-se, nesse sentido, a informação de que quem procura a
assistência dos técnicos da EMATER são exatamente aqueles que têm acesso
ao PRONAF e que se beneficiam dele. Estes, por sua vez, perfazem 1000
agricultores, dos quais 500 se enquadram na linha do PRONAF B15.
O técnico entrevistado afirmou que alguns agricultores são sensíveis as
orientações dadas para mudança de hábitos, mas outros são resistentes às
inovações que os técnicos tentam demonstrar na prática.
Atualmente a EMATER direciona sua atuação para a execução do
PRONAF, em todas as suas linhas; para o Programa de Aquisição de
Alimentos, através do Projeto Compra direta, na execução do projeto de
inclusão digital; para a execução do Fundo Constitucional de Financiamento do
Nordeste – FNE; e para a administração, no município, do banco de sementes.
15
GRUPO B: agricultores que tenham uma renda bruta anual de até R$4.000,00; GRUPO C: agricultores
familiares que obtenham uma renda bruta anual entre R$4.000,00 e R$18.000,00.
| 86
As maiores alterações ocorridas na agricultura familiar local, nos últimos
dez anos, foram: a introdução de novas variedades de mandioca (principal
cultivo) mais produtivas; a modernização das agroindústrias; a modernização
do sistema de irrigação, diretamente ligado às parcerias; e, principalmente, as
políticas públicas destinadas à agricultura familiar, dando acesso ao
financiamento consequentemente, injetando capital no espaço rural.
Ao mesmo tempo, os principais problemas apontados que os
agricultores familiares enfrentam são exatamente, a fata de condições de
dispor de um sistema de irrigação bem como a dificuldade de cesso à posse
terra e à regularização desta (caso de posseiros, meeiros, arrendatários).
Esses motivos, aliados às questões climáticas e a não permanência dos jovens
no campo, fazem com que haja um esvaziamento no espaço rural do
município.
Dados do Banco do Central e do MDA revelam que o crédito rural
destinado ao município de Vera Cruz vem aumentando. No período de 1990 a
2010, registra-se de R$823.982,21 em 2010, existindo aí uma taxa de
inadimplência de 6,5%. No PRONAF, os agrupamentos com maior número de
agricultores cadastrados são B e C, também encontrando-se alguns registros
de D e no E16. Esses benefícios, em sua maioria são revertidos em custeio e
investimento, sendo relevante a aplicação do crédito em sistemas de irrigação
nas plantações, o que é perceptível ao percorrerem-se as comunidades.
Atualmente, as politicas, os programas e os projetos implementados no
município e que, direta e indiretamente, são direcionados à agricultura familiar
são: o PRONAF, o PAA, o FNE, o AGRO AMIGO, o CRED AMIGO (Banco do
Nordeste), o MAIS ALIMENTO, o FOME ZERO, O AUXILIO MATERNIDADE e
o BOLSA FAMILIA.
O PAA conhecido no Estado como Compra Direta, é outra politica que
no município se faz diferenciar, visto a aquisição de alimentos produzidos nos
espaços rurais de Vera Cruz e destinados à merenda escolar a rede municipal
de educação, com 49 produtores registrados no período de 2009 a 2010.
Contudo a efetivação do programa diminuiu em números por causa da própria
burocracia, mas ele ainda funciona, em parceria com o programa da CONAB.
16
GRUPO D: agricultores familiares que obtenham renda bruta anual entre R$18.000,00 e R$50.000,00;
GRUPO E: agricultores familiares que obtenha renda bruta anual entre R$50.000,00 e R$110.000,00.
| 87
Sua importância se dá em evitar o “intermediário”, vendendo a um preço justo,
por vezes acima do que é oferecido no mercado e em ser, para alguns, a
principal fonte de renda.
Assim, não se fala “ainda” em haver problemas quanto à efetivação o
programa no município. Ao contrário, ele atende as necessidades das
entidades que compram de alimentos, além de criar um sistema de benefícios,
no qual o agricultor, ao vender sua produção à prefeitura, por exemplo, se auto
beneficiará, tanto pela venda quanto pela boa alimentação que é destinada à
merenda escolar que seus filhos receberão na escola.
Já o PRONAF representa, para o município, um aumento na renda e,
consequentemente, uma melhora na qualidade de vida do agricultor e na de
sua família. Reflexo disso é a dinâmica gerada no mercado local, influenciando
na modernização da agricultura e na produção.
Assim, na fala do técnico, que o PRONAF trouxe apenas benefícios para
o município. Ele aponta apenas o desvio dos benefícios para “outras coisas”,
sem relação com a produção da agricultura, como um ponto negativo. Entre
outros fatores, seria esse um dos motivos que levam o produtor a se inserir na
lista de inadimplentes, além, claro, das dificuldades encontradas hoje pelos
agricultores no município de acessar essas politicas, devido ao de não terem a
posse da terra.
Ainda, assim, a agricultura familiar continua a se fazer presente no
município, destacando-se sua importância para a economia local, mesmo com
o crescimento urbano e as transformações em seu modo de produzir; devido à
geração de trabalho com a utilização da mão-de-obra familiar. Ao fazer um
balanço quanto à efetivação dessas politicas no município, o técnico
entrevistado aponta que “só traz benefícios”, ao inserir no município uma renda
significativa.
Entre outras coisas, essa realidade reflete diretamente no comércio
local, uma vez que a atividade que dinamiza a economia local, produção da
farinha de mandioca, tem sua base na agricultura familiar. Além disso, há a
renda advinda da previdência social, dos programas sociais e do funcionalismo
público. Não é possível, portanto, inferir em sua totalidade, os benefícios
advindos das politicas aplicadas no município e, consequentemente, seu
| 88
reflexo na dinâmica territorial. Chamamos a atenção para as duas principais
comunidades produtoras: Cobé e Sítio Santa Cruz.
Nesse contexto, articuladas com a realidade da agricultura no município,
encontramos também algumas iniciativas de cunho social, como, por exemplo,
própria relação da prática educativa com projetos que são desenvolvidos com
os alunos, desenvolvendo nestes o conhecimento e a valorização dos espaços
rurais, bem como ações de outras secretárias, com o objetivo de trazer
melhorias para o município, não excluindo do desenvolvimento, os espaços
rurais.
Prosseguindo com as análises referentes ao material colhido em campo,
comentaremos aqui três falas, que se diferenciam entre si. Com base nelas,
explicitaremos o que se vivência nesse território. Ressaltamos a importância de
destacarmos o interesse e o pensamento desses agentes, confrontando-os em
suas “inquietudes”.
Trataremos, primeiramente, do que chamaremos aqui de Agente Social
1 – AS¹, que representa a fala dos agentes que influenciam as relações de
poder que se inserem nessa dinâmica, ou são influenciados por ela.
Atualmente, a economia do município de Vera Cruz, segundo AS¹,
evolve a agricultura familiar, direta ou indiretamente, apresentando um maior
desenvolvimento desde 2005, quando as politicas e os programas direcionados
à agricultura familiar foram implementados no município. Essa situação
beneficiou não apenas aqueles que obtiveram acesso aos programas, haja
vista possibilitar uma maior dinâmica na produção e viabilizar, àqueles que não
obtiveram acesso ao crédito, melhorias em outras esferas socioeconômicas.
Disponibilizam-se, ainda, aos agricultores, assistência técnica, quatro
máquinas de corte de terra para uso daqueles que não possuem esse
equipamento para sua produção, e eventos que proporcionam a qualificação e
conhecimentos mais atuais quanto a cultivo e colheita e, principalmente, para o
acesso aos agentes financeiros, o almejado acesso ao crédito.
Nesse contexto, a ajuda com que os agricultores contam, da parte do
governo municipal, se dá de forma mais estrutural, sendo ele um veículo que
administra, e dissemina entre os interessados, as politicas de âmbito estadual e
federal, no município. Quanto ao apoio e cunho mais social, disponibiliza
| 89
transporte para os estudantes, para os feirantes, além de prestar assistência à
saúde.
Contudo percebe-se que, para a realização de tais ações, existem
algumas barreiras, quanto à falta de informação, e de conscientização por parte
daqueles mais experientes, para absorver novas práticas agrícolas bem como
a dinâmica econômica e mesmo a politica. Além disso, faz-se necessário que o
agricultor procure a assistência.
Ainda segundo AS¹, “a agricultura familiar encontra-se em ótimo
momento: a inadimplência é zero. Para ele, que viu a agricultura parada, na
estão anterior à sua (2000 a 2003), sem incentivos, sem financiamento e sem
apoio técnico por parte da EMATER, hoje ela já dá sinais de desenvolvimento”.
Vale salientar que essa opinião está pautada pelos benefícios
acumulados pelos agricultores, advindos do apoio que o Banco do Brasil, o
Banco do Nordeste e a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) lhes
dão, no tocante ao acesso a financiamentos, haja vista isso ser, para ele, o
mais importante para o desenvolvimento da agricultura, pois o “agricultor precis
de dinheiro, de recurso para poder sobreviver e produzir”; sem isso “ele não é
nada”.
Um problema apontado por AS¹ é a falta de organização dos produtores
familiares e a própria cultura de não “acreditar” no apoio técnico da EMATER.
Dados do Banco Central e do MDA revelam que o crédito rural destinado ao
município de Vera Cruz vem aumentando. Há 767 registros de aptidão, no
período de 1999 a 2008, no PRONAF, conforme nos mostram as figuras 4 e 5
(tabela e gráfico) Na linha ascendente do gráfico, estão registrados os valores
financiados.
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Figura 07 – Linha de evolução relativa aos números de contratos e ano respectivamente
Fonte: http://www.mda.gov.br/saf
Figura 08 – Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores Fonte: http://www.mda.gov.br/saf
Figura 08 – Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores Fonte: http://www.mda.gov.br/saf
Tais benefícios são, em sua maioria, revertidos em custeio e
investimento, sendo relevante a aplicação do crédito em sistemas de irrigação
nas plantações, o que é claramente perceptível ao se percorrerem as
comunidades. Vejam-se, como exemplos, as fotografias a seguir.
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Figura 09: Imagem da plantação de feijão com sistema de irrigação na comunidade de Araçá II Foto: Luciene Casado, fevereiro de 2009
Em todas as 14 comunidades, segundo AS¹, são aplicadas as políticas
públicas a que vimos nos referindo. Para ele, não existe nenhuma política em
nível estadual ou municipal. Em suas palavras, é perceptível que a questão
politica se faz presente na dinâmica dos espaços rurais, seja para conseguir
recurso, para conseguir parcerias, e mesmo na relação comunidade e
instituição, dado que nos faz questionar sobre o montante de financiamentos
destinados à agricultura familiar no município; ou seja, para quem o crédito
rural está sendo destinado e como isso reflete na dinâmica territorial do
município de Vera Cruz.
O Agente Social 2 – AS² - aparece como aquele que, mesmo estando
sob a influência das relações de poder, tem acesso aos benefícios, mas suas
condições, como agricultor, também estão à mercê das adversidades externas
ao agricultor, não permitindo grande evolução de sua participação na dinâmica
produtiva.
Sua fala se mistura à dos outros agentes aqui analisados. Sua situação
é estável: ele reconhece as dificuldades, no entanto não deixa de valorizar os
benefícios adquiridos. Evidencia o pensamento de que ainda há muito o que
melhorar, mas, ao pensar no que já foi um dia essa realidade, reconhece que
muito melhorou a vida nesse território.
Figura 10: Imagem de tanques para o sistema de de irrigação na comunidade de Areias – Vera Cruz-RN Fonte: Luciene Casado, fevereiro de 2009
| 92
Fica claro que, mesmo com algumas adversidades, vale a pena viver
no campo. Isso muito mais pelas questões socioculturais, que acabam por
influenciar diretamente nas determinações econômicas da família. A qualidade
de vida aí é colocada em primeiro lugar. A paz, o sossego, a ato de
compartilhar nas trocas sociais, ainda são importantes para os que aqui ali
vivem, segundo AS² não se “troca essa vida pela da cidade de forma alguma,
aqui ainda se consegue criar seus filhos, sem a violência tão perturbadora das
cidades maiores”.
Tal avaliação não está presente apenas na fala desse agente social,
mas também na de todos os que foram observados e entrevistados.
E, por último, a figura do Agente Social 3 – AS³ denota-se como aquele
que não está sob a influência das relações de poder que se instauram,
situando-se à margem da dinâmica produtiva. Poderíamos, assim, considerar
esse agente como aquele que não possui a terra, não tem acesso às políticas
de crédito, nem alguns benefícios locais.
Na fala desse agente social, as informações dadas, começam a
divergir das até aqui apresentadas, mostrando uma nova configuração da
dinâmica vivida no espaço rural analisada. No caso dele, os problemas já são
mais evidentes, o que nos faz considerar como importantes suas informações,
visto que, mesmo não estando apto a obter crédito junto aos órgão
financiadores, ele é participe da dinâmica territorial, foco de nosso estudo.
Partimos, então, das dificuldades vividas por esse tipo de agente na
“lida do campo”. Seu trato com a terra é diferente, colocando-se em prática
apenas a “velha experiência de cuidar do roçado”. Exemplo disso é a
insistência em usar o adubo químico, pela praticidade, descuidando-se dos
males que ele pode trazer ao próprio agricultor bem como à produção, o que
está explicitado na fala a seguir.
“A questão tá voltada à pratica, forma melhor de trabalhar o manuseio. É mais simples, o orgânico é mais complicado, demora mais tempo pra espalhar o adubo no solo, e isso tudo encarece. O orgânico é mais caro e o químico é mais barato; as pessoas acham melhorar comprar o mais barato. Porém provoca mal para o solo como pra saúde bem como para as pessoas.”
| 93
Nesse contexto, é evidente que a prática agrícola, nesse caso, se
distancia das informações dadas pela assistência técnica quanto ao manuseio
do solo. Em alguns casos, esse fato ocorre devido às divergências políticas, ou
mesmo à rejeição em aceitar novas técnicas no plantio. Isso fica mais evidente,
quando esse agricultor aponta como carências vividas a falta de incentivo à
produção, a falta de acompanhamento técnico e as questões relacionadas à
comercialização da produção.
Diz ele:
“A maioria não possuem terra. Como o preço da mandioca [para venda] fica além do aceitável, não se vê com condições de possuir a plantação da mandioca. Não compensa. Se a renda recebida por um hectare é de 240,00R$, vai gastar 500,00R$ com adubo, 300,00R$ com corte de terra, 1.000,00 R$ com limpa. No final, vai ficar com saldo negativo. Apresenta se como grande problema na produção questão do clima não influencia na mandioca”.
Destaca-se aí um problema já levantado anteriormente. A posse da
terra, uma realidade vivida em Vera Cruz - RN pela maioria dos agricultores.
Nas terras arrendadas, produz-se mais mandioca e milho; feijão é produção
secundária. A produção da mandioca é toda beneficiada no município e
repassada aos proprietários das casas de farinha, sendo distribuída, no final,
para o comércio de Natal, Mossoró, Currais Novos, Caicó, Fortaleza,
Parnamirim e para a CONAB.
Não há destino certo para o repasse da produção do agricultor, que fica
à mercê do preço oferecido pelos donos das casas de farinha, o que mostra a
dificuldade para a comercialização da produção. Parte daí uma informação
importante: “O Compra Direta só beneficia os proprietários da casa de farinha.
Eles estão enricando comprando propriedades, concentrando renda e terra”.
Os agricultores dizem que a assistência técnica dada pela EMATER
local é quase inexistente. Alguns têm assistência técnica, porém os mais
beneficiados são exatamente aqueles que não precisariam dessa assistência
da forma como é feita, visto terem melhores condições financeiras – os
grandes proprietários.
| 94
Em Vera Cruz – RN, a EMATER, tem-se voltado para a execução do
PRONAF e para os grandes produtores rurais; o pequeno produtor rural fica a
mercê das condições naturais, não recebendo acompanhamento nem
benefícios das esferas municipal, estadual e federal. Portanto não é tão
acessível assim a assistência financeira, conforme é ressaltada nesta fala:
“são poucos que conseguem e o valor é muito irrisório. São
basicamente destinados pra cada hectare 700 reais. O agricultor faz pouca coisa e as despesas são maiores e sem lucro, eles não conseguem pagar com sua produção esses empréstimos. Para se fazer empréstimo é obrigatório se ter o título da terra. Dificuldades em obtenção de créditos.
As informações aqui levantadas, tanto as positivas quanto as negativas,
mostram como se desenvolvem as práticas, que determinam uma articulação
de ações, desiguais e combinadas, nas quais a ação do capital se faz presente
na reprodução deste; pelas práticas na divisão social do trabalho, bem como, e
muito mais, nas práticas substanciadas nas relações sociais que constitui a
complexidade desse território. Não são desenvolvidas ações que viriam a
dinamizar tais territórios, como, por exemplo, a própria execução das políticas
públicas, o que diz respeito a seus objetivos primordiais, em contraposição, à
perpetuação histórica das relações sociais estabelecidas com base no tráfico
de influências e exercício de poder.
Vê-se, ainda, que, com a falta de articulação e organização por parte
dos agricultores, estes ficam sem voz de decisão e fadados a receber
imposições, ditadas de “cima para baixo”. Compreendem-se, portanto, desde
já, nossas observações feitas quando das referências teóricas que embasaram
nossas análises. Procuramos deixar claro que é no interior de cada território,
na complexidade que perpassa seu uso, pelas praticas sociais, econômicas e,
principalmente, substanciadas nas normas, veiculadas pelas relações políticas,
e nas solidariedades existentes, que se dá a formação socioterritorial e, por
conseguinte, a sua dinâmica do território.
Na fala do AS³, ele sempre faz referência à real valorização dos
benefícios que as políticas públicas desempenham nos espaços rurais, com
vista à valorização social deles, e, principalmente, na dinâmica econômica.
| 95
Contudo ele reafirma que tais beneficiamentos não são acessíveis a todos os
agricultores. Os problemas mais evidentes são a falta da terra, que se constitui
numa barreira para se conseguir financiamento pelas políticas de crédito; as
dificuldades sociais, que aumentam a cada dia, para os que insistem na
permanência da vida no campo; e, ainda, aquelas impostas nas arbitrariedades
exercidas por alguns grupos de influência.
“A vocação é a produção agrícola. No desenvolvimento econômico do
município a administração está deixando a desejar”. Assim, é repassada às
esferas governamentais a responsabilidade de melhor gerir as demandas
econômicas e sociais, para que haja um real desenvolvimento e crescimento
econômico no território. AS³ reconhece, no entanto, a falta de articulação e de
reivindicações com mais força de decisão, que inviabilizam o sucesso nas suas
lutas empreendidas.
A partir das falas dos agentes sócias reconhecidos na dinâmica territorial
de Vera Cruz, analisaremos as divergências aí encontradas, que diversificam
muito essa. Criam-se territorialidades e, na dinâmica existente, preponderam
solidariedades diferentes, constituindo relações antagônicas.
Assim, a agricultura familiar se faz presente no município,
evidenciando-se sua importância para a economia local – mesmo com o
crescimento urbano e as transformações no modo de produzir –, devido à
continuação de aspectos sociais na geração de trabalho utilizando a mão-de-
obra familiar. Emergem, no entanto, novas possibilidades na realidade
desafiadora dos espaços rurais nos dias atuais. Percebe-se que o
desenvolvimento desses é resultado da integração entre todas as atividades,
agrícolas ou não, de modo que esse meio adquire novas possibilidades
econômicas e de moradia, configurando novos acessos, novos limites, e
(re)territorializando a heterogeneidade do espaço rural.
Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda
impõem limites às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo
e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos a agricultura familiar
vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,
sinalizando, desse modo, o reconhecimento de seu papel e sua contribuição
para a economia brasileira, que antes não constava na pauta das “noticias
importantes”.
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Dessa forma, fica claro a importância que a agricultura familiar tem para
o município de Vera Cruz-RN, para o Agreste Potiguar e para o
desenvolvimento socioterritorial o que contemple uma melhor distribuição de
oportunidades e qualidade de vida. Ressaltamos aqui, a complexidade
existente no uso do território. Este se faz diferenciar em sua formação
sociocultural, porém muito mais na configuração de sua dinâmica.
A importância dos espaços rurais, e nestes, a da agricultura familiar,
principalmente nas pequenas cidades, tem uma complexidade sociocultural
que ainda diferencia, em sua dinâmica, as cidades ditas mais urbanas. A
efetivação das políticas públicas nesses espaços é de muita utilidade.
Procuramos, assim analisar de forma qualitativa, as inferências feitas a
partir dos números expostos, carregando de sentidos as respostas dadas.
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Premissas de Conclusão
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PREMISSAS DE CONCLUSÃO
Todos os espaços são geográficos porque são determinados pelo movimento da sociedade, da produção. Mas tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos superficiais e de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações de formas, funções e sentidos. (SANTOS, 1998, p. 61)
Vera Cruz é, por assim dizer, esse mosaico a que se refere Santos,
configurado num espaço que tem dimensões simples e complexas, distintas e
contraditórias ao mesmo tempo. Apresenta características naturais e sociais,
que convivem numa constante relação dialética, numa dinamicidade regida
pelos diferentes níveis de forças produtivas, materiais e não materiais,
impulsionando a constante produção e reprodução dos lugares.
Conforme as análises do conteúdo obtido em campo, realizadas, a
fundamentação teórica, foi o alicerce que nos possibilitou compreender a
situação geográfica de nosso recorte geográfico, Vera Cruz-RN, território que,
em suas disparidades, revela seus usos.
Política, sociedade, economia, cultura – território – são inter-relações
que determinam a configuração; e esta, por sua vez, está direta, ou
indiretamente, delineada pelas/nas ações, materializações e subjetividades.
Tal realidade é a que ocorre na construção e no desenvolvimento do
território do Rio Grande do Norte, os quais tiveram como quadro de referência
atividades – como a pecuária e as culturas de subsistência - que se
constituíram à margem de atividades, determinantes da dinâmica espacial.
Estas têm sido de grande relevância para os agricultores locais, até os dias
atuais.
Percebe-se, assim, que, no longo processo de desenvolvimento
socioespacial, o território aqui apresentado passou por várias transformações,
por usos que lhe deram um caráter de território consumido. Em sua
espacialidade, encontram-se pontos materializados de técnicas, de
informações, por meio das quais as relações de trabalho, bem como as sociais
e as econômicas, extrapolam os usos do território.
A realidade é esclarecida no discurso de agentes ligados a agricultura
familiar do município e, inclusive o próprio agricultor, com informações que
| 99
diferem umas das outras, sendo colocadas em evidencia as dificuldades
enfrentadas por uns, e, em contrapartida, as alegrias de outros por terem
alcançado benefícios para sua produção e, consequentemente, para qualidade
de vida.
Ainda que as estatísticas mostrem dados que denotem uma dinâmica
eminente e importante para o quadro estadual, destacando-se o município pela
produção de gêneros alimentícios, de matérias-primas e de mercadorias para o
abastecimento de outros territórios, não se pode negar uma realidade que
persiste em sua dinâmica. Configurada historicamente por uma base produtiva
de subsistência (mandioca, feijão, milho, inhame, etc.) correlacionada nos
aspectos político, econômico, social e cultural, distintos ou correlacionados
entre si, percebe-se um território ainda marcado por desemprego, pobreza,
baixos índices escolares e outros indicadores de conteúdo socioespacial com
graves problemas.
Em Vera Cruz, as territorialidades são constituídas pelos seus usos do
território, porém o são muito mais pela (re)produção de poder, sendo
demarcadas pelos limites físicos, uma realidade muito evidente ainda nos dias
atuais, principalmente nos espaços rurais e nas pequenas cidades do nordeste
do Brasil.
O poder instituído nesse território além das questões financeiras, vai
perpassando as relações sociais, suas identidades. Poder, movimento e
competição são noções que parecem ter mais a ver, nos dias atuais, com a
complexidade existente. Velhas e novas formas de reproduzir as forças de
estruturas políticas bem como das eventuais perpetuações de poder social
ainda são instituídas pela/na econômica local, pelos/nos latifúndios, pelos/nos
agentes econômicos.
Com todos esses elementos, e, ainda , tendo em vista a regionalização,
que situa Vera Cruz na região Agreste, percebe-se aí, a própria diversidade
existente no Agreste Potiguar.
Ainda que a dinâmica do território em estudo seja representada, na
literatura escrita, como a de uma região estagnada economicamente,
apreciamos a colocação de Salvador (2010), quando o mesmo analisa tal
situação como a confirmação de que o crescimento econômico capitalista se
| 100
faz presente, visto ser na seletividade e na desigualdade que o capitalismo se
reproduz.
Ao mesmo tempo, a produção é fundamental na dinâmica de mercado
interno, para a reprodução de outras atividades, como é o caso das casas de
farinhas, bem como no suprimento das próprias necessidades de subsistência
do agricultor e de sua família. Aqueles que possuem sua terra, mesmo tendo
nível técnico baixo sem produção intensiva para o mercado, em geral a
vendem para comprar o que não produzem; outros, aqueles que não possuem
a terra, continuam na atividade, por uma questão de sobrevivência, e nas
práticas culturais, mais históricas, de autosubsistencia. Estes, não tendo
acesso à dinâmica produtiva local, ficam na dependência das políticas
assistencialistas e vão se reproduzindo, nas trocas sociais, a mercê da prática
de favores políticos.
Na divisão social e territorial do trabalho, cada vez mais complexa,
ocorre o desenvolvimento desigual do capitalismo (e vice-versa), que não se
circunscreve apenas às atividades capitalistas clássicas, mas produz e
envolve, simultaneamente, relações e produções não especificamente
capitalistas, com lógica e trabalho basicamente familiar.
É nesse contexto que visualizamos a dinâmica territorial do município de
Vera Cruz, no qual a diferença entre a materialidade de outrora e a vigente,
corresponde apenas às transformações de cunho técnico-científico-
informacional, vislumbradas por alguns, e substanciadas na ilusão de muitos
com as beneces políticas, as quais não passam dos próprios direitos dos
agricultores como cidadãos.
Em nosso entendimento, os produtores agropecuários familiares que se
mecanizam, produzindo para o mercado (feijão, milho, mandioca...), vivem
permanências e mudanças em suas unidades produtivas e de vida, em que a
lógica familiar sofre metamorfoses. Há, aí, continuidades e descontinuidades.
Através de elementos da economia, da política e da cultura, que se
territorializam em diferentes formas e intensidades, a territorialização ocorre,
com trabalho familiar (do proprietário, parceiro, rendeiro ou posseiro) em
pequenas propriedades, onde se produzem mercadorias e se consomem
produtos industrializados. Há a proletarização de filhos de agricultores
| 101
familiares, impossibilitando a reprodução de jovens no espaço agrário, devido a
migração destes para as cidades.
Ou seja, esses elementos da economia, da política e da própria cultura
se materializam territorialmente, mesmo em atividades produtivas sem alto
índice de mecanização e produção de mercadorias, sem o trabalho
assalariado. De maneira sutil ou mais intensa, o capital se expande, re-produz-
se, concentrando-se nas mãos (e nas contas bancárias, aplicações,
investimentos) de uma minoria que conseguiu, as condições necessárias para
isso.
Nem todos conseguem acumular capital na mesma quantidade. Nem
mesmo aqueles que têm acesso às políticas de crédito direcionadas a essa
categoria. Muitos nem sequer conseguem acumular algum capital. Por isso,
muitas famílias não têm casa, carro, um terreno urbano ou rural, máquinas para
trabalhar na lavoura; muitas não têm assistência médica nem odontológica.
É essa a dinâmica territorial, constituída por forças econômicas, políticas
e culturais, pela exclusão de muitas pessoas, pela concentração de terra e de
riqueza, enfim pela dominação social, que impõe alguns limites e dificuldades à
atuação em projetos alternativos de desenvolvimento no espaço rural, voltados
aos produtores da agricultura familiar em Vera Cruz-RN.
| 102
Referências Bibliográficas
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Apêndices
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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA
TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN
ENTREVISTADO(A):______________________________________________ I. IDENTIFICAÇÃO:
1. DATA:
2. COMUNIDADE:
3. IDADE:
4. ESTADO CIVIL:
5. MUNICIPIO DE ORIGEM:
6. ESCOLARIDADE: ( ) ANALFABETO ( )ENS. FUND. INCOMP ( ) ENS. FUND. COMPLETO ( ) ENS. MEDIO INCOMP. ( )ENS. MEDIO COMPLETO ( ) ENS SUPERIOR
7. DE QUE MODO OBTEVE O ACESSO A TERRA: ( ) COMPRA ( )HERANÇA ( )DOAÇÃO ( ) OUTRA
8. QUANTO TEMPO TEM A PROPRIEDADE:
II. DADOS SOBRE A ESTRUTURA FAMILIAR
1. NUMERO TOTAL DE PESSOAS DA FAMILIA QUE RESIDE NA COMUNIDADE? 2. NUMERO DE PESSOAS DA FAMILIA QUE EXERCEM ATIVIDADE REMUNERADA?
3. NA PROPRIEDADE?
4. FORA DA PROPRIEDADE? LOCAL?
5. EM QUAIS ETAPAS DA PRODUÇÃO OS MEMBROS DA FAMILIA PARTICIPAM?
6. EXISTE ALGUM APOSENTADO QUE MORA NA PROPRIEDADE?
7. QUAL A RENDA FAMILIAR: ( ) ATÉ 1 SALARIO ( ) DE 1 A 3 SALARIOS ( ) MAIS DE 3 A CINCO SALARIOS ( ) MAIS DE 6 A 10 SALARIOS
8. HÁ CRIANÇAS OU JOVENS NA FAMILIA?
9. ESTÃO FREQUENTANDO A ESCOLA?
10. ELES PRETENDEM CONTINUAR COM A AGRICULTURA?
III. UTILIZAÇÃO DAS TERRAS
TIPO CULTURA
LAVOURAS TEMPORÁRIAS
LAVOURAS PERMANENTES
PASTAGENS
VEGETAÇÃO NATIVA
OBS: _______________________________
1. QUAL É A ATIVIDADE QUE PROPORCIONA MAIOR RENDA NA PROPRIEDADE?
IV.DESTINO DA PRODUÇÃO AGRICOLA
OBS:_______________________________________
CULTURA/QUANT. VENDA PARA? (NOME/LOCAL)
V. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS NA COMERCIALIZAÇÃO DA SUA PRODUÇÃO? ____________________________________________________________________________________________ VI. QUAL É A FORMA DE PAGAMENTO FEITA PELOS PRODUTOS COMERCIALIZADOS? ( ) A VISTA ( ) A PRAZO ( ) OUTRO______________________________________________________________ VII. COMO É FEITO O TRANSPORTE DOS PRODUTOS ATÉ O LOCAL DE COMERCIALIZAÇÃO? ____________________________________________________________________________________________ VIII. ORGANIZAÇÃO DOS AGRICULTORES É ASSOCIADO À ALGUMA COOPERATIVA, SINDICATO OU ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES? QUAL? DESDE QUANDO? _________________________________________________________________________________________ QUAIS SÃO OS SERVIÇOS DISPONIBILIZADOS AOS ASSOCIADOS? ____________________________________________________________________________________________ NÃO? POR QUE? _________________________________________________________________________________________
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O SENHOR(A) RECEBE ASSISTENCIA TECNICA? ____________________________________________________________________________________________ QUAL A AVALIAÇÃO QUE O SENHOR FAZ DA ATUAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELA ASSISTENCIA TECNICA? ____________________________________________________________________________________________ QUAL A SUA OPNIÃO SOBRE O PRONAF? ____________________________________________________________________________________________ IX. FINA NCIAMENTO TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO. TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO 12. INFRA-ESTRUTURA DA UNIDADE: DOS ITENS ABAIXO, QUAIS EXISTEM NA PROPRIEDADE? ( ) ENERGIA ELÉTRICA ( ) ÁGUA CANALIZADA ( ) FOSSA PARA ESGOTO DOMÉSTICO ( ) DEPÓSITOS PARA ESTOCAR/GUARDAR A PRODUÇÃO (AMPLIAR LISTAGEM. VER ITENS 09 E 15) 16. TEM PLANOS PARA AMPLIAR A ÁREA CULTIVADA? SIM ( ) QUAIS CULTURAS PRETENDE AMPLIAR?_____________________________________________________ NÃO ( ) 18. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO AGRICULTOR FAMILIAR PARA O DESENVOLVIMENTO DE SUAS ATIVIDADES NO CAMPO? ___________________________________________________________________________________________ APESAR DAS DIFICULDADES ENFRENTADAS, VALE A PENA VIVER NO CAMPO? ( ) SIM. PORQUE ? ___________________________________________________________________________ ( ) NÃO. POR QUÊ? ___________________________________________________________________________ O QUE O(A) SENHOR(A) ESPERA DO FUTURO PARA SEUS FILHOS? ( ) PERMANEÇA NO CAMPO E SEJA AGRICULTOR COMO O PAI ( ) VÁ ESTUDAR, TRABALHAR E MORAR NA CIDADE. ( ) VÁ PARA A CIDADE ESTUDAR E DEPOIS RETORNE PARA O CAMPO OBSERVAÇÕES EXTRAS:
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA
TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN
ENTREVISTADO(A):______________________________________________
1. COMO A EMATER TEM ATUADO NO FOMENTO DA AGRICULTURA LOCAL? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. QUAIS TIPOS DE PROPRIETÁRIOS MAIS PROCURAM A EMATER ? PARA QUE? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. COMO OS AGRICULTORES TÊM RECEBIDO AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DOS AGRÔNOMOS? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. QUAIS OS PROJETOS QUE ESTÃO SENDO EXECUTADOS PELA EMATER COM O OBJETIVO DE MELHORAR O NÍVEL DE VIDA DO AGRICULTOR? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. QUAIS FORAM OS MAIORES ALTERAÇÕES OCORRIDAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ , A PARTIR DE 1990? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS ENFRENTADOS PELOS AGRICULTORES DO MUNICÍPIO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. NA SUA OPINIÃO, HÁ ESVAZIAMENTO POPULACIONAL NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ? EM CASO DE RESPOSTA POSITIVA, QUAIS SERIAM AS PRINCIPAIS CAUSAS DESSE ESVAZIAMENTO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. QUAL É O NÚMERO DE AGRICULTORES FAMILIARES CADASTRADOS PELA EMATER ATÉ 2009 ? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA A ECONOMIA DO MUNICÍPIO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. QUAIS SÃO AS POLÍTICAS HOJE IMPLEMENTADAS NO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ DESTINADAS A AGRICULTURA FAMILIAR?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO PRONAF PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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13. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O PRONAF HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O PRONAF NO MUNICIPIO? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO COMPRA DIRETA PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O COMPRA DIRETA HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O COMPRA DIRETA NO MUNICIPIO? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. O QUE SIGNIFICA ENQUANTO RECEITA PARA O MUNICIPIO A PREVIDENCIA SOCIAL DOS AGRICULTORES? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 20. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ OUTRAS OBSERVAÇÕES _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA
TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN
ENTREVISTADO(A):______________________________
1.QUAIS FORAM OS MAIORES ALTERAÇÕES OCORRIDAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ, A PARTIR DE 1990? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA A ECONOMIA DO MUNICÍPIO? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. QUAIS OS PROJETOS QUE ESTÃO SENDO EXECUTADOS PELA SECRETÁRIA COM O OBJETIVO DE MELHORAR O NÍVEL DE VIDA DO AGRICULTOR? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. QUAIS SÃO AS POLÍTICAS HOJE IMPLEMENTADAS NO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ DESTINADAS A AGRICULTURA FAMILIAR? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. NO MUNICÍPIO HÁ O CONSELHO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL? QUEM O COMPÕE? (ESPECIFICAR AS FUNÇÕES DAS PESSOAS) _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. COMO É A ATUAÇÃO DA PREFEITURA NO INCENTIVO A AGRICULTURA E A OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO MEIO RURAL? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA SECRETARIA MUNICIPAL DE AGRICULTURA? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. EXISTEM PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA PREFEITURA, OU EM PARCERIA COM OUTRAS EMPRESAS, VOLTADOS PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR? EM CASO DE RESPOSTA POSITIVA, QUAIS E COMO ESTÃO SENDO EXECUTADAS? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. QUANTOS FUNCIONÁRIOS ESPECIALIZADOS (TÉCNICOS AGRÍCOLAS, ENGENHEIROS AGRÔNOMOS) DA PREFEITURA PRESTAM SERVIÇOS JUNTO AOS AGRICULTORES LOCAIS? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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10. QUAIS OS EQUIPAMENTOS QUE A PREFEITURA DISPONIBILIZA PARA O ATENDIMENTO DOS AGRICULTORES? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. DE QUE FORMA O AGRICULTOR TEM ACESSO A ESSES EQUIPAMENTOS? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. QUAIS SÃO OS SERVIÇOS OFERECIDOS PELA PREFEITURA PARA ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO QUE MORA NA ZONA RURAL, PRINCIPALMENTE OS AGRICULTORES FAMILIARES? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES FEITAS PELOS AGRICULTORES? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. QUAIS AS POLÍTICAS EM QUE A SECRETÁRIA VEM TRABALHANDO E INSERINDO OS AGRICULTORES LOCAIS? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO PRONAF PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O PRONAF HOJE EM VERA CRUZ? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O PRONAF NO MUNICIPIO? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO COMPRA DIRETA PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 20. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 21. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O COMPRA DIRETA HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ 22. O QUE SIGNIFICA ENQUANTO RECEITA PARA O MUNICIPIO A PREVIDENCIA SOCIAL DOS AGRICULTORES? _____________________________________________________________________________________________