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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MESTRADO EM GEOGRAFIA LUCIENE DE VASCONCELOS CASADO PROF. DR. ANIERES BARBOSA DA SILVA ORIENTADOR: NATAL/RN NOVEMBRO - 2010 A A g g r r i i c c u u l l t t u u r r a a F F a a m m i i l l i i a a r r , , P P o o l l í í t t i i c c a a s s P P ú ú b b l l i i c c a a s s e e D D i i n n â â m m i i c c a a T T e e r r r r i i t t o o r r i i a a l l e e m m V V e e r r a a C C r r u u z z / / R R N N

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

MESTRADO EM GEOGRAFIA

LUCIENE DE VASCONCELOS CASADO

PROF. DR. ANIERES BARBOSA DA SILVA ORIENTADOR:

NATAL/RN

NOVEMBRO - 2010

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LUCIENE DE VASCONCELOS CASADO

AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINAMICA TERRITORIAL EM VERA CRUZ/RN

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, atendendo a uma das exigências para a obtenção do titulo de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva.

NATAL/RN NOVEMBRO - 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação “Agricultura familiar, políticas públicas e dinâmica territorial em Vera Cruz-RN”, apresentada por Luciene de Vasconcelos Casado, foi aprovada e aceita como um requisito para a obtenção do titulo de Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela seguinte banca examinadora:

_________________________________________________________ Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva - UFPB

Orientador

________________________________________________________________

Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza - UFPB (Examinador externo)

________________________________________________________________

Profª. Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes - UFRN (Examinador suplente)

NATAL/RN NOVEMBRO - 2010

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A Rita, Hilca, Janaina e Polyana

Por todos os momentos vívidos!

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AGRADECIMENTOS

Na caminhada pelo conhecimento, nos deparamos com momentos de

vitórias, de angustias, de alegrias e mesmo de sentirmos incapazes de

alcançar os nossos objetivos. Mas para tanto, chegamos a uma conclusão bem

fortalecedora... não estamos sós.

Para cada passo, existiu um gesto, um comentário, um sorriso, uma

lagrima, um conselho e uma mão estendida a nos acolher e guiar. E aqui

chegamos para dar mais um passo, e para aqueles que propiciaram o meu

caminhar menos monologo, meus agradecimentos. Para tanto, existiram

aqueles à quem preciso destacar alguma palavras...

À Deus, sempre em primeiro lugar nas minhas caminhadas e

responsável pela vida que me concede todos os dias, eternamente grata.

À minha família, em particular, meus pais e irmãos, minha eterna

gratidão pela compreensão e incentivo nas minhas escolhas, que com amor

incondicional e apoio, estão sempre presente com um sorriso de fortaleza nos

momentos de conquista, ou uma mão estendida nas horas difíceis. Minha

vitória seria sem cor sem a existência de vocês.

A todos os professores do Departamento de Geografia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, o meu reconhecimento pela dedicação e

compromisso na disseminação do saber na academia.

Aos professores Celso Locatel e Fernando Bastos, por suas valorosas

contribuições na banca de qualificação, muito obrigada.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Anieres Barbosa da Silva, que acolheu-me

em meus objetivos e concedendo-me tempo, atenção, contribuições e

principalmente, paciência para a finalização deste trabalho. Obrigado por tudo,

meu imenso respeito e eterna gratidão.

Aos meus queridos amigos (as) pelo privilégio de tê-los no convívio

diário, na busca de ser a cada dia um ser melhor e de tornar a cada momento

um eterno aprendizado. A vocês minha eterna alegria de viver.

A amizade sincera, a paciência fortalecedora, as alegrias contagiantes e

as conversas pelas quais crescemos e amadurecemos enquanto pessoas.

Assim com essas palavras agradeci quando do termino da monografia, e hoje

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reafirmo meu agradecimento à minha irmã do coração, à qual a palavra

amizade se materializa e se fortalece a cada momento. Meu eterno

agradecimento a Janaina Silveira, por todos os momentos de nossa amizade.

À Claudio André, Beatriz e Polyana, pelo apoio técnico e incentivo, pelos

risos e alegria que contagiaram nos momentos difíceis, modificando-os para a

certeza que tudo iria dar certo. Muito obrigada.

Meus sinceros agradecimentos a Fátima Viegas, pelo apoio e

acolhimento no município de Vera Cruz/RN, em nome de quem estendo meus

agradecimentos a todos que contribuem para o desenvolvimento de melhores

oportunidades para os citadinos Veracruzenses.

Em especial, ao amigo Edvaldo pela alegria de compartilhar junto a sua

família, o apoio, as conversas e ajuda mais que necessária em campo. Você é

parte integrante desse trabalho de forma incondicional. Muito obrigada.

Enfim, a duas pessoas mais que especiais, a profª. Rita de Cássia da C.

Gomes e Hilca Honorato, pela insistência em acreditar em mim e ter me

disponibilizado um espaço em suas vidas, depositando por mais uma vez, o

voto de confiança na minha pessoa; agradeço-as também pela paciência e

incentivo integral nos momentos que mais precisei. Muito obrigado por tudo.

A todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para a execução

dessa dissertação!

Meus sinceros agradecimentos!

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“Entre o "fio da navalha" da

exclusão/inclusão social coloco

em debate o papel do território

enquanto um possível "fio da

meada" que possa dar início a

uma nova trama de tecer as

políticas públicas brasileiras

em direção à justiça social".

Dirce Koga

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CASADO, Luciene de Vasconcelos Casado. Agricultura familiar, políticas públicas e dinâmica territorial em Vera Cruz/RN. Dissertação. (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Natal, 2010.

RESUMO

A agricultura familiar hoje desempenha um papel social, marcada de relações político-econômicas, importantes para o desenvolvimento do Brasil e principalmente, para as pequenas cidades, quem tem nessa atividade, sua principal fonte de renda. Para tanto, a ação do Estado intervindo nos territórios rurais, através das políticas públicas, vem implementando estratégias de forma a dinamizar, reconhecer e “proteger” a agricultura familiar. Nessa perspectiva o presente trabalho objetiva analisar a dinâmica do território, tendo em vista a aplicação e efetivação de políticas públicas, como o PRONAF e o compra direta, destinadas a agricultura familiar do município de Vera Cruz. Com base nesse enfoque, buscou-se discutir na continuidade temporal da inserção das políticas públicas no âmbito municipal, a atual configuração e dinâmica da agricultura familiar, suas fragilidades em solver as políticas localizadas e direcionadas a esse seguimento, questionando os entraves e as influências de políticas que nesse território se dá. Como aporte teórico, utilizamos o conceito de Território, segundo Santos, visto considerarmos a abordagem territorial um caminho importante a subsidiar o entendimento, a análise e a critica na trama territorial que envolve o espaço rural. Como metodologia utilizou-se levantamento bibliográfico, em periódicos, livros, documentos digitais e entrevistas in loco, com técnicos, agricultores e pessoas ligadas à esfera governamental, para se obter uma análise qualitativa da atual situação da agricultura familiar no município. Constatou-se que a agricultura familiar se faz presente no município, como um dos principais motores ao seu desenvolvimento, e nesse, as políticas públicas aí inseridas desempenham um papel importante para a inserção de capital, bem como na própria comercialização dos produtos aqui produzidos. Porém faz-se necessário um maior envolvimento de todos os agentes e atores sociais, na busca de se apropriarem melhor dos recursos a eles destinados, e mesmo, de se articularem e fortalecerem, dando impulso à dinâmica local, não permitindo que os benefícios aqui inseridos, estejam restritos a alguns grupos. Palavras chaves: Território. Agricultura Familiar. Políticas Públicas.

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ABSTRACT

Familiar agriculture today plays a social role, marked of politician-economic, important relations for the development of Brazil and mainly, for the small cities, who has in this activity, its main source of income. To in such a way, the action of the State intervined in the agricultural territories, through the public politics, comes implementing form strategies to dinamise, to recognize and “to protect” familiar agriculture. In this perspective the present objective this paper, to analyze the dynamics of the territory, in view of the application and effectivetion of public politics, as the PRONAF and the direct purchase, destined the familiar agriculture of the town of Vera Cruz. On the basis of this approach searched to argue in the secular continuity of the insertion of the public politics in the municipal scope, the current configuration and dynamics of familiar agriculture, its fragilities in solving the politics located and directed to this pursuing, questioning the impediments and the influences of politics that in this territory if of. As it arrives in port theoretical, we use the concept of Territory, according to Saints, seen to consider the territorial boarding a way important to subsidize the agreement, the analysis and it criticizes it in the territorial tram that involves the agricultural space. As methodology bibliographical survey was used, in periodic, books, digital documents and interviews in loco with technician, agriculturists and on people to the governmental sphere, to get a qualitative analysis of the current situation of familiar agriculture in the city. It was evidenced that familiar agriculture if makes gift in the town, as one of the main engines to its development, and in this, there inserted the public politics play an important role for the capital insertion, as well as in the proper commercialization of the products produced here. However a bigger envolvement of all becomes necessary the social agents and actors, in the search of if better appropriating of the resources they destined, and same of if articulating and fortifying, giving to impulse the local dynamics, not allowing that the here inserted benefits, are restricted to some groups. Words keys: Territory. Familiar agriculture. Public politics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Primeira residência em alvenaria 45

Figura 02 - Igreja de Vera Cruz 45

Figura 03 - Território de Vera Cruz no âmbito da Micro-região Agreste, Rio

Grande do Norte e Brasil 46

Figura 04 - Mapa de localização dos distritos municipais no território de Vera

Cruz/RN no âmbito do Rio Grande do Norte 50

Figura 05 - Distribuição de estabelecimentos rurais no Brasil segundo dados

do censo agropecuário de 2006. 68

Figura 06 - Mapa da produção agrícola e outras atividades econômicas nos

distritos de Vera Cruz-RN 83

Figura 07 - Linha de evolução relativa aos números de contratos e ano

respectivamente 89

Figura 08 - Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores 89

Figura 09 - Imagem da plantação de feijão com sistema de irrigação na comunidade de Araça II 90 Figura 10 - Imagem de tanques para o sistema de irrigação na comunidade de

Areias - Vera Cruz-RN 90

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01- Número de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram

financiamento por motivo da não obtenção do financiamento. ........................ 78

Tabela 02- Número de estabelecimento agropecuários que não obtiveram

financiamento por motivo da não obtenção do financiamento ......................... 79

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LISTA DE SIGLAS

ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural

CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

EMATER/RN – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio

Grande do Norte

FPM - Fundo de Participação Municipal

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA - Instituto de Colonização e Reforma Agrária

MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário

PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor rural

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PGPAF - Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15

1. RELEITURAS: território, agricultura familiar e políticas públicas ......... 22

1.1. Território e suas dinâmicas ....................................................................... 23

1.2. Territórios rurais e agricultura familiar: uma face nesse processo ............ 29

1.3. Políticas públicas: Ação do Estado intervindo no território ........................ 38

1.4. Vera Cruz/RN: perspectivas e realidades na formação territorial .............. 43

2. POLÍTICA PÚBLICA E USOS DO TERRITÓRIO RURAL .......................... 56

2.1. Espaço rural e territorialidades: os usos e as solidariedades .................... 57

2.2. Políticas públicas e agricultura familiar: faces políticas e sociais .............. 65 2.3 Vera Cruz/RN: entre oportunidades e desigualdades ............................... 69

3. VERA CRUZ/RN: situações geográficas do passado ao presente ......... 77

3.1. Agricultura familiar, estrutura produtiva e dinâmica territorial .................... 77

3.2. Vera Cruz: dinâmica local e configuração de um território ........................ 83

PREMISSAS DE CONCLUSÃO ...................................................................... 97

REFERÊNCIAS IBLIOGRÁFICA...................................................................102

APÊNDICE A...................................................................................................107

APÊNDICE B........................................................................................109

APÊNDICE C .............................................................................................111

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Introdução

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INTRODUÇÃO

Este trabalho estuda a agricultura familiar, as políticas públicas e a

dinâmica territorial em Vera Cruz, Rio Grande do Norte. A área objeto de

estudo foi escolhida, visto sua dinâmica econômica estar atrelada à agricultura

familiar, e essa, por sua vez, materializar no uso de seu território, reflexos da

efetivação de políticas públicas de ordem federal bem como as contradições

socioterritoriais, faces da questão do desenvolvimento rural.

Os estudos sobre espaços rurais sempre estiveram na pauta das

agendas políticas e econômicas, devido a sua importância para a realidade

brasileira. Nessa perspectiva, a década de 90 foi marcada por avanços quanto

ao reconhecimento da importância da agricultura, possibilitando ações mais

efetivas para se obter o desenvolvimento do campo. Nesse contexto, crescem

as pesquisas e os estudos com vista a qualificar e quantificar o que estaria

acontecendo nos espaços rurais, direcionando-se o conhecimento para se

estabelecerem novas bases para a formulação de políticas públicas destinadas

a esse segmento econômico.

Surgem novos conceitos, na busca de melhor compreender a

complexidade existente, principalmente no que diz respeito a necessidade de

se rever o papel dos espaços rurais e da agricultura no processo de

desenvolvimento social e produtividade econômica, respondendo às demandas

de mercado e diminuindo as desigualdades evidentes entre a agricultura

patronal e a familiar.

Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda

impõem limites às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo

e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos a agricultura familiar

vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,

o que indica o reconhecimento do papel dessa agricultura e sua contribuição

para a economia brasileira.

E são essas mudanças, de caráter institucional e territorial, que dão

fundamento a nossos questionamentos e a este estudo. Assim, o universo

desta pesquisa se insere no tema da agricultura familiar e articula-se com a

área de concentração “Dinâmica e (re) estruturação do território”, do curso de

pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Dessa forma, a categoria de análise “território” perpassa por toda a pesquisa,

propondo-se um estudo teórico-empírico denominando-se teoricamente

geográfico.

Nesse contexto, o estudo busca analisar a dinâmica do território tendo

em vista as políticas públicas, que se fazem relevantes para a dinâmica

territorial executada pela agricultura familiar do município de Vera Cruz. E,

ainda, refletir sobre como as políticas públicas direcionadas à agricultura

familiar se materializam nas ações políticas, econômicas, sociais, culturais e

geográficas nesse território.

Um ponto de extrema importância, que fundamenta e justifica o

desenvolvimento deste estudo, diz respeito às lacunas ainda existentes no Rio

Grande do Norte quanto a estudos voltados para analisar a relação entre

agricultura familiar e políticas públicas, sobretudo se considerarmos a

importância da unidade familiar na dinâmica territorial dos espaços rurais no

Brasil, bem como a ausência de estudos sobre o recorte espacial que

escolhemos, tal situação confirma, portanto, a observação feita por diversos

pesquisadores quanto à necessidade de se colocar em evidência a importância

dessa agricultura na produção do território.

A escolha do município de Vera Cruz-RN para o desenvolvimento desta

pesquisa justifica-se pela história do município, o qual desde seu povoamento,

tem a agricultura como principal atividade econômica. Desde então, destaca-se

aí a forte presença de pequenos produtores, que são os responsáveis pela

produção que impulsiona a economia do local e contribuem para a expansão

da infraestrutura rural / urbana.

O município de Vera Cruz está localizado no estado do Rio Grande do

Norte e, pela classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), está inserido na microrregião do Agreste Potiguar. Situa-se a 37 Km da

cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Possui uma área de 92,12

Km², equivalente a 0,19 % da superfície estadual, tendo como limites político-

administrativos os seguintes municípios: Macaíba, ao norte; Monte Alegre e

Lagoa Salgada, ao sul; São José de Mipibú, a leste; e Boa Saúde e Macaíba, a

oeste.

Nosso interesse é acrescentar algo às análises referentes à

problemática da agricultura familiar, constituindo o espaço rural como do

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debate sobre essa questão de forma a contribuirmos para a academia, e para a

ciência à nos dedicamos, a Geografia.

O nosso recorte espacial que exploraremos compreende o espaço rural

do município de Vera Cruz, composto por catorze comunidades – Cobé,

Papagaio, Araçá (I, II e III), Ponta de Várzea, Pitombeira, Jacaré, Euzébio,

Jenipapo, Sítio Santa Cruz, Pororocas, Areias e Vera Cruz – as quais foram

contempladas por políticas públicas destinadas à agricultura familiar.

Buscaremos informações junto aos agentes sociais envolvidos e/ou excluídos

da dinâmica de desenvolvimento territorial, bem como aos gestores dessas

políticas nos municípios, especialmente as organizações civis que atuam na

área de estudo promovendo aí o desenvolvimento da agricultura familiar.

A investigação compreende uma análise qualitativa, que visa promover e

ampliar o entendimento da temática em tela e responder aos questionamentos

propostos para o estudo, visto que será na análise dos dados obtidos durante a

pesquisa que a representação de um universo de significados, atitudes e

relações políticas e socioterritoriais, se tornará mais compreensível.

Para a produção de informações sobre a realidade da dinâmica territorial

foram realizadas entrevistas, com perguntas abertas, com os diversos agentes

sociais envolvidos no estudo em tela. Entrevistamos os assistentes técnicos,

secretários municipais, prefeito e agricultores.

Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram assim distribuídos:

Etapa 1: Fontes (levantamento e obtenção de dados bibliográficos,

documentais e cartográficos)

Essa etapa da pesquisa foi contínua, e objetivou tomarmos

conhecimento dos trabalhos já publicados e relacionados com o presente

estudo no âmbito local e no geral, fornecendo-nos um arsenal teórico-

conceitual referente à análise que pretendíamos realizar. Para a obtenção de

informações referentes a dados estatísticos e documentos que abordavam os

principais eventos que contribuíram para a realidade que estava sendo

analisada e aos contextos em que estavam inseridos, recorrermos a órgãos

com competência para isso.

Apreendemos, também conhecimentos dos trabalhos já publicados

relacionados com o presente em estudo disponíveis no acervo da biblioteca

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central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nas

bibliotecas setoriais dos Departamentos de Geografia e de Ciências Sociais,

bem como; de sites oficiais, como: o portal da CAPES, que contém

dissertações e teses, o site da revista de geografia e ciências sociais Scripta

Nova, o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), e o

portal do Governo brasileiro; e dos ministérios que participam da discussão e

implementação de políticas públicas diretamente relacionadas com a temática

do estudo.

Nessa etapa, buscamos também documentos cartográficos, mapas e

informações relacionadas aos eventos que configuraram a atual situação

geográfica em questão, em jornais e revistas de circulação local bem como em

órgãos ou instituições não elencados aqui.

Etapa 2: Procedimentos (Produção de informações)

Essa etapa da pesquisa, associada à etapa anterior, consistiu numa

significativa busca de informações, visando ao alcance de nossos objetivos,

com a realização da pesquisa in loco. Entre conversas informais, aplicação de

entrevistas e observações diretas (Anexo A), foi feito o levantamento de

campo.

Etapa 3: Análise dos dados levantados em campo e produção do texto

final

Os dados obtidos através da pesquisa de campo serviram de base para

a construção de uma matriz de periodização e para as análises, as quais foram

construídas à luz de um arcabouço teórico-metodológico.

Esperávamos desse modo compreender como o território é usado e

dinamizado pela agricultura familiar com a aplicação de políticas públicas em

Vera Cruz-RN.

A presente dissertação está organizada em três partes. A primeira tem

como objetivo a apreensão de uma matriz de periodização dos principais

eventos que constituíram a formação territorial do município de Vera Cruz-RN.

Nesse percurso, realizamos releituras conceituais, bases teóricas que nos

permitiram melhor compreender o tema em estudo e elaborar nossas análises,

ao passo que foi na inter-relação teórico-empírico que se ancoraram nossas

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reflexões. A “trama territorial”, que se fundamenta nas relações entre a

agricultura familiar, as políticas públicas e as ações correspondentes no uso do

território, é a peça-chave deste estudo. Nesse sentido, seguimos na

perspectiva de uma discussão conceitual intercalada com dados da situação

geográfica do recorte espacial que escolhemos para a análise – o município de

Vera Cruz-RN.

Na segunda parte, analisamos os usos e as solidariedades que ocorrem

no espaço rural, principalmente aquelas, que estão diretamente relacionadas

com a situação da agricultura familiar. As políticas públicas a ela direcionadas,

também aqui se fazem importantes tendo-se em vista os entraves encontrados

nos territórios, quanto ao acesso a elas, a sua aplicação e efetivação, ainda

que tudo isso seja reflexo de transformações benéficas ao desenvolvimento do

espaço rural. Para atingir nossos objetivos, buscamos, na bibliografia

relacionada a nossa análise, reflexões, propostas e respostas para a discussão

em curso.

Na terceira parte, analisamos a atual situação do território de Vera Cruz,

a partir da dinâmica que a agricultura familiar promove no município. Iniciamos

nossas reflexões com base numa discussão teórica sobre a agricultura familiar

e a estrutura produtiva, considerando a primeira responsável por uma parcela

significativa da dinâmica territorial do Brasil e, especificamente, da dinâmica e

da configuração do território de Vera Cruz-RN.

As reflexões que conseguimos fazer nos levam a considerar que, ainda

que as políticas e os programas governamentais desenvolvidas no espaço rural

tenham o objetivo de oportunizar melhores condições ao pequeno produtor, a

sua produção e consequentemente, a melhoria de sua vida, permitindo, assim

sua permanência no campo, há, ainda, uma grande parcela de agricultores que

não se inserem nesse contexto, perpetuando as condições de atraso

historicamente construídas no Brasil, principalmente no nordeste brasileiro.

É, contudo, pertinente frisarmos a importância de tais políticas para o

desenvolvimento do espaço rural brasileiro, embora fazendo algumas ressalvas

quanto a particularidades ainda existentes, principalmente em pequenas

cidades, nas quais a agricultura de subsistência continua presente.

Partimos do pressuposto de que, diante de movimentos contraditórios,

nos quais o capital se faz presente na economia e, principalmente, na política,

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os eventos que configuram a atual situação da agricultura familiar ainda são

permeados de uma cultura clientelista, que proporciona a permanência de

tantas já conhecidas realidades socioculturais.

.

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1 RELEITURAS: TERRITÓRIO, AGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS PÚBLICAS

Nosso objetivo aqui é a apreensão de uma matriz de periodização dos

principais eventos que constituíram a formação territorial de nosso recorte

geográfico de estudo – o município de Vera Cruz-RN. Fizemos releituras

conceituais, as quais são nossas bases teóricas, que nos permitem melhor

compreender o tema em tela e apresentar nossas análises, pois é na inter-

relação teórica e empírica que se ancoram nossas reflexões.

A “trama territorial” que se fundamenta nas relações entre a agricultura

familiar, as políticas públicas e as ações destas no uso do território são as

peças-chave deste estudo. Seguimos na perspectiva de uma discussão

conceitual intercalada com os dados concretos que dizem respeito à situação

geográfica do município de Vera Cruz-RN.

Essa é mais uma oportunidade de colocar em evidência o conceito de

território, que vem sendo motivo de diversas análises e de divergências, tanto

no meio acadêmico-científico quanto no quadro institucional, tendo em vista a

maneira como vem sendo utilizado na formulação de políticas, programas e

projetos de cunho econômico-social. Nestes o conceito de território é utilizado

como uma “noção espacial”, como unidade de planejamento para execução de

ações governamentais. Na reflexão que substancia nossas análises, temos o

entendimento de que a abordagem territorial orienta e facilita o entendimento

do movimento, das contradições, ou das dominações, contemplando como

resultado as desigualdades socioterritoriais existentes no Brasil.

Geograficamente, as ações, os objetos e mesmo as subjetividades se

materializam num dado espaço, que, ao ser compreendido como uma instância

social, se configura um espaço geográfico. Nessa linha de reflexão, o estudo

problematiza um objeto construído – a agricultura familiar – elegendo como

categoria de análise o território — e consequentemente seus “usos e abusos”

(SOUZA, 2003). E as políticas públicas, aqui entendidas como um discurso

institucional, configurado nas normas, nas técnicas e nas juridicidades,

implicando nesse território e na relação com a agricultura familiar, uma

dinamicidade, dando forma e que tem consequências políticas, sociais e

econômicas.

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As formas geográficas, são objetos materializados e localizados no

território (fazendas, casas, tratores, animais, igreja, prefeitura, praça,

associações, etc.), distribuídos em relação uns aos outros, o que gera uma

trama, ou seja, produz uma idéia de estrutura, definida pela configuração das

formas se dão. Esses objetos são portadores de sentido, em si mesmos, de

informação, de significados. Formam uma trama relacional – uma trama

territorial – que dá valor à construção, à estruturação e à dinâmica de um

território.

Entendemos que para conhecer uma dinâmica – neste estudo,

especificamente, a dinâmica territorial – é necessário que se saiba como ela se

configura, isto é, neste caso, como a trama territorial, a agricultura familiar e as

políticas publicas estão relacionadas e fazem uso do território.

Tal uso dinamiza e conforma, em suas estruturas fixas (prédios,

transportes, estradas, etc.) e em seus fluxos (pessoas, mercadorias,

comunicação), suas contradições, dominações, velocidades e/ou lentidão.

Influenciados pelas características do próprio território e influenciadores delas,

ou seja, a dimensão política, a social, a econômica, e principalmente a

geográfica.

A análise que realizamos estrutura-se na reflexão teórica, com base na

bibliografia referente ao tema proposto, versando sobre território, agricultura

familiar e políticas públicas. Dialogando a partir dos eventos que se

circunscreveram nos espaços rurais do município de Vera Cruz-RN, abarcando

também eventos externos que se combinaram aos internos e constituíram a

formação territorial desse município.

1.1 Território e suas dinâmicas

A complexidade de se estabelecer um pensamento capaz de abarcar

uma totalidade, na teoria geográfica, leva-nos a nos questionar a respeito do

caminho pelo qual devemos seguir. Colocar o espaço geográfico em evidência,

procurando refletir sobre sua essência, composição, existência e tempo, faz-se

pertinente nos dias atuais, principalmente para nossa disciplina.

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Nos últimos tempos, com mais veemência, os geógrafos têm-se

preocupado em abordar a epistemologia da ciência geográfica, principalmente

em torno do espaço geográfico, visando elucidar lacunas existentes na própria

ciência geográfica.

Um dos principais teóricos que mostraram essa preocupação foi o

geógrafo Milton Santos, ao apresentar o conceito de espaço como “uma união

indissolúvel de sistema de objetos e sistemas de ações, e suas formas

hibridas, as técnicas” (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p. 11), indicando, assim,

como, onde, por quem, para quem e por que o território é usado.

Diante dessa compreensão acerca do espaço geográfico, a categoria de

análise “território”, na visão desse autor, aparece como sinônimo de espaço

habitado – ou seja, como território usado, humanizado, como um produto que é

produzido e consumido pela prática social vez que seu processo de ocupação

é determinado pela infraestrutura econômica e, ao mesmo tempo, sua

regulação se dá por interesses políticos da sociedade.

E ainda: “o território não é apenas condição da ação tática e estratégica.

Manifesta, ao contrário, outras dimensões da experiência humana, envolvidas

no propósito teórico-político de apreensão da totalidade concreta”. (RIBEIRO,

2003, p. 35). Para nosso estudo, o território de Vera Cruz esclarece o

entendimento de que temos sobre tal conceito. Além das dimensões

meramente fisiográficas e administrativas, como em qualquer outro espaço

geográfico, é inerente a esse território, o uso por meio de relações

heterogêneas entre os agentes sociais. Os aspectos econômico, social e

político (este principalmente) têm em Vera Cruz uma conotação interna

culturalmente estabelecida; no entanto, estando sob o reflexo da dinâmica

externa, inserem nesse território certas relações de poder que o dinamizam e o

marcam. Entre essas relações, damos destaque a dinâmica territorial, com foco

na agricultura familiar e nas políticas públicas implementadas.

Tais reflexos externos advêm da dinâmica regional do Agreste Potiguar

bem como da dinâmica político-social que se efetiva em escala

nacional/estadual, e mesmo da metropolitana, visto que o município integra a

região metropolitana de Natal (capital).

Dessa forma, percebemos que há toda uma configuração política, de

interesses que combinam contradições e combinações, gestadas na

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perspectiva de manter o sistema vigente e dar-lhe continuidade, e no uso do

território.

Retomando as questões teóricas, vale salientar, que a discussão em

torno do conceito de território é antiga e conforma em seus conceitos a

temporalidade e as características dos anseios com os quais estes eram

formulados.

O conceito de território foi, assim, sendo construído e desconstruído ao

longo das diversas correntes de pensamento geográfico: determinismo,

possibilismo, nova geografia, geografia crítica e geografia humanista. Na

construção de um entendimento acerca do território, para alguns teóricos o

conceito de território se diferencia, e não se deve confundi-lo com o conceito de

espaço, tendo-se em vista as especificidades do primeiro como categoria de

análise.

No entanto, fica claro que o território se constitui numa objetivação

multidimensional da apropriação social do espaço (CARA, 1994 apud SILVA,

2008) e, ainda, que o território não é espaço, mas o espaço é o cerne para sua

existência; ou seja, o território é uma produção do espaço, uma das dimensões

singulares do espaço geográfico. (SILVA, 2008). Entendemos, assim, que ele é

construído nas mais diversas escalas de tempo, dependendo das

características que o território apresenta. As transformações político-

econômicas ocorridas no final do século XX retomaram as discussões sobre o

território, chamando atenção para ele.

Limitar o conceito de território às identidades, ou aos recortes físicos, já

não comporta toda a amplitude que esse conceito contempla. Poder,

movimento e competição são noções que parecem ter mais a ver, nos dias

atuais, com a complexidade existente nos territórios, e, por meio delas tentar

decifrar a dinâmica neles existente.

A questão política – em especial para nosso estudo, (institucionalizado

pelas políticas públicas ou socializado pela construção histórica e cultural que

se dá pela sociedade) – tem no território um ponto-chave para a compreensão

dos movimentos, nos quais encontramos os atores que “produzem” e os

agentes que “usam” o território.

Assim sendo, o “poder” normatizado está posto: o Estado, tem a função

de organizar o território nacional/local através de novos mecanismos, (leis,

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programas, projetos, etc.), e o indivíduo, por sua vez, procede da mesma forma

ao construir e usar o território segundo suas necessidades.

Acerca desse processo de construção, o entendimento de Santos (2000)

é indispensável, principalmente quando ele nos faz refletir sobre o território

como o chão da população, isto é, sua identidade, o sentimento de

pertencermos àquilo que nos pertence. Sendo assim, o território é a base do

trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais da vida, sobre as

quais ele influi. E, ainda, conforme Santos (2002, p. 84),

Não é apenas um conjunto de formas naturais, mas um conjunto de sistemas naturais e artificiais, junto com as pessoas, as instituições e as empresas que abriga, não importa o seu poder. O território deve ser considerado em suas divisões jurídico-políticas, suas heranças históricas e seu atual conteúdo econômico, financeiro, fiscal e normativo. É desse modo que ele constitui, pelos lugares, aquele quadro da vida social onde tudo é interdependente, lavando também, à fusão entre o local, o global invasor e o nacional sem defesa

(no caso do Brasil).

É nessa relação entre local e global que se intensifica a importância de

analisar o território, encontrar explicações para seu desenvolvimento e para as

desigualdades em nosso mundo globalizado, bem como para as configurações

locais.

Essas desigualdades são características intrínsecas do território usado e

traduzem o dinamismo dos lugares, sua relação com o mundo e sua

funcionalidade, ou seja, zonas de densidade e zonas de rarefação (densidade

demográfica), territórios de fluidez e territórios de viscosidade (condições de

circulação dos homens, dos produtos, mercadorias, do dinheiro, da informação,

etc.), espaços da rapidez e espaços da lentidão (espaços que mandam e que

obedecem), e espaços luminosos e espaços opacos, (Santos e Silveira, 2008).

Assim, a compreensão de território usado se dá a partir da dinâmica existente

nos lugares, estes em constante transformação.

Com esse conceito de território usado, formulado por Santos e Silveira

(2008), é possível compreender as discussões sobre o espaço rural e, nele, a

agricultura familiar, considerando-se suas mudanças, suas permanências e

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suas descontinuidades. Nesse processo, as contradições, as imbricações

políticas e as heterogeneidades resultantes do contexto histórico, político e

social, que influencia e é influenciado pela dinâmica territorial.

O território, em sua dinamicidade, ainda é um elemento decisivo no

estabelecimento do poder (GOMES, 2006a). Segundo esse entendimento, ele

é visto apenas como uma extensão física do espaço, expressão de domínio.

Diante de tantas transformações que vem sofrendo, o território, hoje, segue

influências que extrapolam suas barreiras físicas, e estas, por sua vez, se

configuram nas redes subjetivas e imateriais do capital, das técnicas e das

informações.

Percebemos, que, mesmo aqueles que pensam diferentemente acerca

do que seja território têm a necessidade de dialogar com os que adotam o

pensamento do território como campo de relações marcadas pelo poder

(RAFFESTIN, 1993). Isso porque, nos espaços rurais, ainda existe uma intensa

ação do capital. Os elementos culturais enraizados nas questões políticas,

sociais e econômicas expressam, no território físico, seu poder, suas

estratégias e suas ações, materializando-as em suas subjetividades. Ou seja, a

medida que essas relações se materializam no espaço e na sociedade,

circunscritas no território, este se torna dinâmico e flexível, dependendo de

cada momento e de cada realidade social. (SACK, 1986, apud SILVA, 2008).

Enfatizando a dinamicidade do território, Sack (1986 apud SILVA, 2008)

nos diz que o território é um lugar demarcado como área de influência e de

controle. Para ele, um lugar pode, um determinado momento, ser um território e

não ser mais em outro. Assim, o território pode criar-produzir lugar. Sobre a

territorialidade, Sack (1986, apud SILVA, 2008) enfatiza, numa visão

geográfica, que é uma forma espacial de comportamento espacial, ou seja, a

territorialidade está intimamente relacionada à utilização da terra por

determinado grupo de indivíduos, as suas estratégias, ações e ao

estabelecimento do poder, que, ao mesmo tempo, se mantêm e reforça a

organização da sociedade no espaço e no tempo. (SILVA, 2008)

Assim, é possível afirmar que a territorialidade é uma forma espacial que

nos oferece condições de compreender as relações existentes entre

determinada sociedade e o território onde ela está inserida.

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Em nosso estudo, esse entendimento é muito importante, porque dá

suporte à compreensão da dinâmica existente no território do município de

Vera Cruz, pois as relações entre a agricultura familiar e as políticas a ela

direcionadas tem rebatimentos em sua organização sociopolítica, em seu

território e na socioeconomia local, mesmo que esta se disponha de forma

implícita.

Assim, dentro das linhas de reflexão de Sack, Paulo César da Costa

Gomes em seu livro A condição urbana, considera o território como “uma

parcela de um terreno utilizado como forma de expressão e exercício de poder”

(GOMES, 2006a, p. 12) e, nesse território, devido à expressão de poder, há um

exercício de controle, uma imposição de “regras de acesso, de normatização

de usos, de atitudes e comportamentos” (GOMES, 2006a, p.12). Esse exercício

de controle, nos territórios rurais, evidencia-se na historicidade construída, na

qual sua dinamicidade, de longe é regida pela excludente diferenciação social e

econômica em relação aos espaços urbanos, e dentro do próprio espaço rural.

A inserção de políticas públicas nesses territórios, sem averiguarem-se

suas especificidades, suas potencialidades e fragilidades tem resultado num

grande esvaziamento dos espaços rurais.

Grandes fluxos migratórios e intensificação das desigualdades sociais

são os efeitos deixados nesses espaços, visto a burocracia ser ainda o

problema-chave para os mais desfavorecidos. Além, claro, de uma imposição

política, neles culturalmente enraizada. As estratégias político-econômicas,

consignadas nas mãos de grandes proprietários de terra, e/ou agentes da

gestão pública, acabam por restringir o acesso ainda mais para os pequenos

agricultores. Estes agora enfrentam uma serie de normas, de juridicidades, não

compatíveis até com seu nível social (posto os excludentes níveis de

escolaridade, saúde, renda), dificultando sua inserção no mercado, entre tantos

outros problemas.

As características de num dado território traduzem seu uso e suas

especificidades. Até períodos recentes de nossa história, poder-se-ia falar no

mundo da lentidão, onde as práticas se direcionavam numa velocidade

praticada em diferentes ritmos, mas, não incompatíveis entre si, não

separavam seus agentes. Hoje, vivemos no mundo da rapidez e da fluidez, no

qual os territórios se compartimentam pela presença de sistemas de técnicas,

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de informações e da própria normatização, que se efetiva, principalmente, na

ação de instituições e empresas privadas. Isso porque, ideologicamente, a

informação transparece como um bem comum, contudo está acessível apenas

a alguns agentes (SANTOS e SILVEIRA, 2008). Nesses sistemas de ações, a

que se referem Santos e Silveira (2008), o território implica a ação das

técnicas, por um lado, e da política de outro, exercício que se dá pela

existência de materiais e técnicas, que se substanciam na materialidade

geográfica de seus fixos e fluxos.

Seguimos, então, no entendimento e na perspectiva da complexidade

que se confere ao conceito de território e ao deste. Assim, as diferentes

vertentes e categorias de análise irão configurar o território, conformando, em

suas formas, seus objetos e, em suas ações, as dinâmicas territoriais.

Neste estudo específico, a compreensão do uso do território pela

agricultura familiar em Vera Cruz-RN.

1.2 Territórios rurais e agricultura familiar: uma face desse processo

No processo de formação socioespacial, a agricultura sempre esteve na

pauta das políticas governamentais. Além de ser uma atividade que, como

nenhuma outra, se revela em ações e relações humanas, absorvendo em seus

territórios profundas transformações, é um dos focos importantes das ações

políticas e econômicas, que determinam seus ritmos, tanto em sua produção

(comercial ou de subsistência) como em sua função sociocultural, instalando-se

também nesse espaço os processos da racionalidade internos e externos às

práticas.

Caberia então indagar, com base na própria agricultura, a definição de

agricultura familiar, que está posta na agendas dos debates político, econômico

e social, na atualidade. Insere-se, nesses espaços, uma nova forma de olhar

para essa unidade produtiva, diferente da própria configuração econômica que

hoje se dinamiza nos espaços rurais produzindo e conformando em territórios

usados.

Evidencia-se que

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Não existe um padrão universal para definir a 'agricultura familiar' que identifique de forma clara a qual estamos nos referindo. À referência dessa expressão pode se pensar na concepção utilizada pela política setorial brasileira; à destinação do crédito; a alguns indicadores de escala de empreendimentos; à exploração pessoal do imóvel pelo agricultor e sua família; ao tamanho das lavouras; à renda bruta anual obtida; à quantidade produzida; à produtividade da terra; à intensidade do uso da terra e do trabalho; aos contingentes beneficiários dos programas de financiamento dirigido. (NAVARRO, 2001, p.03)

Diante disso faz-se pertinente esclarecer qual a definição que

adotaremos, haja vista, fazer-se presente em nossas análises uma

conformação dos agricultores familiares em estudo e o entendimento que o

governo faz dessa categoria, posto direcionar-lhe políticas e programas

governamentais.

Identifiquemos, portanto, nosso universo: a situação dos espaços rurais

de Vera Cruz e a própria realidade que transcende esses espaços, mas que

interfere pontualmente em sua dinâmica material, além das relações sociais

existentes. Incluímos por tanto, nesse debate local/global:

Os agricultores familiares, [como] unidades de produção em que se usa intensivamente os fatores de produção; a grande maioria que continua enfrentando restrições e dificuldades para sobreviver em mercados cada vez mais competitivos e exigentes. Aqueles - mais de um milhão - que nos últimos dez anos têm sido expulsos do campo e certamente já não encontram ocupação nos meios urbanos. A agricultura familiar com toda a sua diversidade está representada por 24 milhões de pessoas, o equivalente a 16% da população brasileira. É responsável pela produção da maior parte dos alimentos ofertados aos demais 150 milhões de brasileiros, ou seja, 87% da mandioca, 67% do feijão, 49% do milho, 46% do arroz, 54% do rebanho bovino de leite, 40% de aves e ovos e 58% dos suínos. (NAVARRO, 2001, p 03)

Conforme essas estatísticas1, no vasto cenário de transformações

sociais, políticas e econômicas ocorridas nos últimos tempos, a agricultura

familiar se coloca frente a uma disputa com as transformações que vêm

ocorrendo no espaço rural. Isso tem possibilitado afirmar-se que:

1 Considerando-se o ano da publicação desse estudo, as atuais estatísticas acerca da agricultura familiar e

a representatividade dela na economia brasileira, ainda são em números significativos.

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No Brasil as políticas e as visões dominantes sobre a agricultura familiar e a pequena produção familiar rural foram historicamente conformadas pela ideologia de subsistência, com base na ideologia nas relações sociais, da morada de favor do nordeste açucareiro. (MOREIRA, 2007 pag. 86)

O autor frisa, ainda, que essa visão é complementada pelo entendimento

dos agricultores familiares – “como incapazes do progresso econômico e

social”, (MOREIRA, 2007). E alguns autores problematizam entendendo a

agricultura familiar como

Uma categoria de ação política que nomeia um amplo e diferenciado segmento mobilizado à construção de novas posições sociais mediante engajamento político. Por este engajamento ele se torna concorrente na disputa de créditos e serviços sociais [...] (NEVES, 2002, pág. 137)

Ou seja, dada sua construção social ou categoria de ação política,

percebe-se a fragilidade dos espaços rurais em sua própria construção social,

em construção ideológica, como também no entendimento e direcionamento

das normatizações que regulam a dinâmica e a configuração político-

econômica, direcionada aos agricultores familiares e seu território em

particular. Nesse cenário de contradições, dominações e estratégias, o

conceito de território nos dá bases sólidas para nosso estudo. Isto porque

visualizamos, na relação entre a agricultura familiar e as políticas públicas, uma

trama territorial, em que a

Idéia de território traduz, ao mesmo tempo, uma classificação que exclui e inclui; um exercício de gestão que é objeto de mecanismos de controle e de subversão; e uma qualificação do espaço que cria valores diferenciais, redefinindo uma morfologia de cunho socioespacial. Estes pares – exclusão/inclusão, submissão/subversão, e valorização/desvalorização – criam tensões e resultam em lutas territoriais que almejam modificar seus limites, sua dinâmica, suas regras, ou seus valores (GOMES, 2006a, pag. 13)

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Diante desse contexto, coloca-se, ainda, a conservação de precárias

estruturas institucionais, e mesmo as benesses das políticas agrícolas

direcionadas a poucos, e poucos que, dialeticamente, seriam os que menos

precisariam, instituindo e efetivando ainda hoje a perpetuação da desigualdade

que nos espaços rurais se instaura.

Para os homens do campo, o assistencialismo tende a assumir um papel

importante, porque para eles, o pouco que têm se faz sua própria subsistência,

não constituindo uma prática que logre ascensão socioeconômica. Assim,

colocou-se na pauta das discussões e mesmo das políticas públicas,

transformações quanto à formulação teórica destas e ações direcionadas à

agricultura familiar.

A partir do início da década de 1990, foram elaboradas diversas

propostas de dinamização dos espaços rurais, com o objetivo de reordenar o

território, reduzir as desigualdades sociais, inserir no mercado os agricultores

familiares, até de consolidar o conceito de desenvolvimento local.

Com o passar do tempo, o conceito de desenvolvimento local foi

substituído pela concepção de desenvolvimento territorial, sendo colocado,

portanto, a noção de “território”, como um recorte espacial, que é visto por suas

particularidades e “estratégias” políticas, econômicas, sociais e mesmo

culturais.

A periodização das políticas pressupõe um caráter político-ideológico,

por trás das configurações, políticas, sociais e territoriais, que neste estudo não

cabe aprofundar. Contudo, ele permite compreender tais conformações

políticas no uso do território, materializando nas formas – fixas e fluxos –

técnicas e normas, a fim de promover suas “dominações” e seus objetivos.

Transformados e transformadores de toda uma construção social e do próprio

espaço geográfico. Fica claro, para nós, e seria importante frisar que

A idéia central é que o território, mais que simples base física para as relações entre indivíduos e empresas, possui um tecido social, uma organização complexa feita por laços que vão muito além de seus atributos naturais, dos custos de transportes e de comunicações. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda

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pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico. (ABRAMOVAI, 2001, pag. 3)

Por essas transformações dadas nos territórios rurais, se consolidou

uma precária situação de condições sociais e econômicas, precárias condições

de moradia, de saúde ambiental e coletiva, de lazer e de trabalho impostas

pela competição perversa dos mercados nos dias atuais, pelas transformações

técnicas inseridas no espaço rural. Disso resulta o intenso atraso estrutural que

se dá e que se substancia numa precária escolarização dos habitantes desses

espaços, refletindo-se no atraso deles e na incapacidade de acompanhar os

avanços técnico-científico-informacionais. Uma bola de neve vai se

acumulando, e esses entraves, impõem aos agricultores e seus familiares

realidades diversas, como a fuga para a cidade, ou a busca de outras fontes de

renda.

A agricultura aí estaria exposta a uma existência simultânea de

continuidade e descontinuidades. Ela se faz presente no urbano, e o urbano se

faz presente nos territórios rurais, nas mais variadas formas – de serviços, de

funções e de materialidades.

Fixos e fluxos são instaurados na produção socioterritorial pelas

relações políticas, econômicas, sociais e culturais, relações que instituem

poder, acessibilidade, liberdade e trocas, reordenando e dinamizando os

espaços, promovendo um novo olhar e novas perspectivas de ação e de uso

no/do território, bem como de possibilidades de representatividade no próprio

mercado.

Dessa forma, a política, como veículo que detém o exercício de legitimar

a organização do território, se faz presente na própria racionalidade de

mercado, que impõe suas estratégias. Isto é, pela própria perspectiva de

pensar aí a territorialidade – “como um conjunto de estratégias, de ações

utilizadas, para estabelecer [um] poder, mantê-lo e reforçá-lo” (GOMES, 2006a,

pag. 12) – percebemos que o discurso institucional de reduzir as desigualdades

sociais e conformar nesses espaços rurais, a mesma dinâmica, ou mesmo a

possibilidade de se alcançar um desenvolvimento [local] territorial, estaria em

consonância com a própria racionalidade do período em que nos situamos, isto

é, a ordem global, das técnicas, da informação.

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Visto haver no desenvolvimento rural, uma série de fragilidades, quanto

às instituições que se direcionam ao objetivo de diminuir as desigualdades

socioeconômicas vislumbradas historicamente pelo homem do campo, as

políticas públicas localizadas ainda não são acessíveis a todos, ou melhor, não

se materializam como questão de base, ou seja, na capacidade de promover

um real desenvolvimento com melhoria da qualidade de vida e aumento da

justiça social construídos em comum acordo com os agentes locais.

Nesse aspecto, torna-se um grande desafio a criação de condições para

a permanência do homem no campo, de enfrentamento de estruturas,

historicamente construídas, no que diz respeito a ter-se nos territórios uma vida

digna e uma dinamicidade econômica e social. Sendo assim, concordamos

com o pensamento de Gomes (2006a), que, ao discutir as desigualdades

socioespaciais do Rio Grande do Norte, faz a seguinte afirmação:

Temos então a compreensão de que as desigualdades socioespaciais reforçam as tendências a transformações sociais e econômicas provocadas pela reestruturação produtiva em curso, um novo sistema mundializado e ainda uma nova ordem urbana. Essa nova ordem tem sido marcada, principalmente, por uma intensa desigualdade socioespacial que tem se apresentado como um produto e, ao mesmo tempo condição de um ambiente social desfavorável, resultante de uma política de desenvolvimento seletiva e excludente que privilegia alguns espaços enquanto negligencia outros. (GOMES, 2006b, pag. 15)

Essa condição está visível nas constatações nacionais e locais, o que

nos leva a refletir sobre a, forma como tais problemas se materializam e se

subjetivam expressas por diversos meios de caráter social. Ou seja, a falta de

moradia, o analfabetismo, a falta de acesso a equipamentos e atividades de

lazer, precárias condições de infraestrutura de equipamentos de saúde,

associadas à ausência de emprego, tudo isso aponta a existência de espaços

de dinamicidade econômica e social bastante diferenciada, resultando numa

intensa e concentrada pobreza.

Para nós, pensar o desenvolvimento significa efetivar a inserção social,

o que perpassa pela construção de novos pensamentos, pela integralização do

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aprendizado e do conhecimento popular e técnico, por remover as inquietudes

e transformá-las em participação e autonomia social. (GOMES, 2007)

Os espaços rurais sempre estiveram marcados pelas concepções

econômicas, diferenciando-se não como espaços de vida, de singularidades

próprias, e sim pelas dinâmicas econômicas, as quais também acabavam por

deixá-las esse espaço à margem da evolução técnico-informacional.

Pensar, conceitualmente e empiricamente, o desenvolvimento do espaço

rural é repensar esse espaço de vida e acompanhar novas concepções e

medidas que venham a propiciar a construção de novos parâmetros e novas

possibilidades de vida para seus beneficiários, bem como de novos olhares

analítico-reflexivos sobre a temática.

Paulatinamente, crescem as indagações acerca das novas valorizações

do rural, de sua dinamicidade e da situação da agricultura familiar, em sua

territorialidade e em seu desenvolvimento territorial, tido como sustentável, se é

que pode sustentar-se dentro da ideologia de mercado que se vigora em

nossos dias.

Propõe-se então o caminho da sustentabilidade como a tese para se

alcançar em níveis sociais satisfatórios no tocante à qualidade de vida “como

síntese das novas intenções de uma política que seja verdadeiramente de

crescimento com desenvolvimento” (GOMES DA SILVA, p. 167, 2002), na qual

é importante a troca de saberes. Isto porque:

Não basta a difusão de informações. O processo é de

formação de novas atitudes e percepções, que propiciem aos protagonistas agricultores administrarem a relação com os representantes das instâncias de intervenção e dominação econômica, política e simbólica, a negociação e a pressão no sentido da incorporação de seus interesses (NEVES, 2002, p. 145).

É nesses espaços rurais, de variados estudos e indagações, que a

ruralidade brasileira sintetiza, no âmbito social, as carências e potencialidades

que nele se materializam. Nessa vertente, um processo de desenvolvimento

que logre êxito deve nesse território, contemplar, conceber e implementar

ações específicas de interação entre os agentes sociais e a própria política

pública. Deve implementar procedimentos produtivos os quais dinamizem o

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território de forma a promover uma distribuição equitativa de sua riqueza para

os próprios detentores da terra, assegurando sua permanência.

Faz-se necessário “compreender, mesmo que tardiamente, que o rural

longe de ser um setor, um território decadente, poderá ainda vir a ser um motor

do desenvolvimento a partir de dentro” (SACHS, 2001 p. 75). É preciso levar

em conta que

os níveis mais graves de pobreza e exclusão social no campo e a consolidação de um padrão de desenvolvimento rural não excludente passam necessariamente pela conclusão do processo de reforma agrária e da capacitação dos agricultores a fim de obter padrões mais elevados da produção e produtividade e inserção nos mercados com garantia de preços compensatórios, além de garantia de acesso a todos os bens e serviços necessários a todas as comunidades urbanas ou rurais (educação de qualidade, saúde, transporte, saneamento básico e segurança, entre outros). (IPEA, 2007. p. 22)

Tal compreensão nos leva a refletir acerca da agricultura familiar e seu

papel na dinâmica do território, tendo em vista que se trata “de uma categoria

de ação política, um amplo e diferenciado segmento mobilizado para a

construção de novas posições sociais mediante engajamento político” (NEVES,

2002 p.137).

Destaca-se, assim a própria reprodução da família e não apenas a

unidade de produção, visto a própria reprodução familiar é um viés que

influencia a agricultura familiar de forma mais contundente. (Neves, 1995;

1996)

Historicamente, um dos entraves para o desenvolvimento, do espaço

rural são as práticas políticas econômicas. É limitante para o desenvolvimento

das iniciativas pensadas e propostas para o meio rural, a falta da objetividade

das políticas públicas, nas quais, não se identifica a preocupação com as

especificidades do espaço rural.

Muitas vezes, ao invés de proporcionarem atividades dinâmicas,

autonomia e qualidade de vida, os limita a créditos compensatórios, não

contemplando a operacionalização, critérios de acesso e acompanhamento na

execução dessas políticas, persistindo a triste estatística do espaço rural a

margem do desenvolvimento.

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Nesse contexto, quando nos remetemos à agricultura familiar a vemos

como “uma categoria que se define não pelo tamanho da área disponível, mas

sim pelas características organizacionais que lhes são inerentes” (VEIGA 2001,

Apud PESSOA 2006 p.217) e posto ainda que a mesma se insere num

território de lutas, relações de poder, as quais a participação social inserida

nesse campo de forças identifica estratégias que se subscreve nas identidades

ao próprio território elegendo aí a liberdade substantiva.

Abrimos aqui um parentes e nos remetemos a pensar nessa liberdade

igualmente às colocações de Amartya Sen (2000) ao analisar o processo de

desenvolvimento. Para ele tal processo consiste na superação de privações de

liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer

ponderadamente sua condição de agente.

E para tanto aqui, a “liberdade” exerce um papel instrumental: “liberdade

de participação política, facilidades econômicas, oportunidades sociais e

segurança protetora” (SEN, 2000 p. 54); a qual concerne ao modo como

diferentes tipos de direitos e oportunidades contribuem para a expansão da

liberdade humana em geral e, assim, para o desenvolvimento.

Desenvolvimento esse que sempre parece ser o foco e objetivo a ser

alcançado em todas as segmentações político econômicas, nem sempre

efetivado nas esferas sociais mais necessitadas desses objetivos. As reflexões

até aqui colocadas procura sinalizar às faces em que a agricultura familiar se

coloca, posto a realidade atual. Conseguir, quem sabe, considerar a partir

desse pensamento, na subjetividade, a autonomia do espaço rural, como

espaço de vida, de qualidade de vida, de liberdade ainda a ser alcançada, e

sobre tudo, vivida.

1.3 Políticas públicas: Ação do Estado intervindo no território

As intervenções do Estado no ordenamento territorial brasileiro e,

mesmo em sua dinâmica, têm raízes históricas, conformando em suas ações,

resultados em diferentes contextos e transformações / consequências em

diferentes escalas.

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A bibliografia existente acerca do tema aqui colocado – políticas públicas

– nos coloca frente a particularidades inerentes a diferentes realidades, as

quais estão diretamente relacionadas aos objetivos propostos e a formulação /

implementação de políticas públicas a determinados setores da sociedade.

Não seria por tanto, realizar aqui uma análise mais profunda, quanto às

discussões que discorrem na ciência política, acerca da análise política que

envolve a teorização das Políticas Públicas. No entanto, evidenciamos a breves

considerações a própria noção de políticas públicas, antes mesmo, de

determos as considerações quanto a efetivação dessas à agricultura familiar,

nosso foco nesse estudo.

Consideremos então a complexidade existente na sociedade e para

tanto, a necessidade de administrar diferentes interesses os quais geram

conflitos. Nesse contexto, toda política comporta-se como um conjunto de

procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que

destinam a resolução pacifica dos conflitos quanto a bens públicos.

Nesse sentido, àquelas geradas pelo setor público, por mais específica

que seja, pode ser considerada como uma política pública. Mesmo que os

benefícios visados pela política atinjam, tão somente, um grupo restrito da

sociedade.

Considerada como uma estrutura com diferentes compartimentos, a

política pública envolve mais que uma decisão e requer diversas ações

estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas.

Por isso mesmo, alguns autores ao analisar tais contextos, classificam e

segmentam as políticas públicas sobre diferentes dimensões: por área

substantiva (social, urbana, de saúde, agrícola); por jurisdição político

administrativa; por parâmetros (monetária, fiscal, cambial); por grupos (social,

econômicas, compensatórias) e mesmo por clientela. Ressalta se sempre,

como um dos integrantes no seu conjunto, a interação com a política

econômica do governo.

Algumas teorias atentam para a avaliação a partir da realidade

conjuntural, internas e externas, influenciando direta e indiretamente, a tomada

de decisões para não entrar em conflitos com grupos setoriais.

Os conceitos e modelos explicativos acerca das políticas públicas têm

sempre como objetivo, avançar na busca de causas e consequências que

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contribuam para um melhor entendimento, de todo o processo da política

pública. Nesse contexto, nos chama atenção a teoria das elites2 e a teoria dos

grupos3, visto as relações e uso de poder, intrínsecas na análise territorial.

Para a nossa análise, destacamos que, mesmo diante de toda uma

dinâmica histórica de lutas sociais para a diminuição das desigualdades

socioespaciais, o que vemos na realidade, são casos pontuais de grupos

sociais menos favorecidos, de interesses coletivos, cooperados e organizados,

para juntos obterem força na construção de projetos e mesmo políticas

capazes de efetivar a equidade econômica e social. Nesses casos, evidencia-

se um grau de participação mais contundente e sucesso quanto a participação

nas políticas públicas á esses grupo destinadas.

O Estado, institucionalizado governamentalmente, representa um grupo

que exerce grande importância e influência na política pública. Principalmente

quando normatizado na burocracia, limitando ou dando acesso a formulação de

políticas e efetivação das mesmas (MONTEIRO, 1990, 1994), e/ou a partir do

momento que é adotada, implementada e imposta por alguma instituição

governamental.

No Brasil, a ação do Estado em seu território torna-se um processo

complexo. A sua grande diversidade, seja ela, social, econômica e ambiental

nos distintos espaços geográficos, necessita de políticas públicas que, de certa

forma, contemple nas suas regiões, as especificidades inerentes a cada uma e

ao mesmo tempo o todo.

Contextualizando tamanha complexidade, coloca-se em evidencia para

as nossas análises a política pública destinada ao desenvolvimento dos

2 A teoria das elites dispõe a existência sempre de uma minoria que detém do poder e

governa em contraposição a uma maioria sem poder e que não governa. Destaca-se

assim, as formas de poder: econômico, ideológico e político as quais fica evidente a

indiferença e a má informação em relação à política pública das massas, deixando

espaço mais efetivo para que as elites expressem a opinião das massas a respeito de

questões políticas, muito mais do que as massas expressem a opinião das elites. Os

sentimentos das massas são manipulados pelas elites muito mais frequentemente do que

os valores das elites são influenciados pelos sentimentos das massas. 3 De acordo com a teoria dos grupos, a política pública é sempre o resultado do equilíbrio

alcançado na luta entre grupos. Mudanças nas políticas ocorrerão com alterações na influência

relativa de qualquer grupo de interesse (sindicatos, partidos, grupos econômicos,...). A política

pública se orientará na direção desejada pelos grupos que ganham influencias e se afastará dos

anseios dos grupos que perdem influencia e poder. O grupo se revela como o elo principal entre

o indivíduo e seu governo.

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territórios rurais e nesse, aquelas direcionadas especificamente a agricultura

familiar. Para essa categoria, “pode-se admitir que há no Brasil modelos

diversos de agricultura familiar, que se distinguem pelas oportunidades

oferecidas aos agricultores e pela própria atuação diferenciada do Estado em

cada região”. WANDERLEY (1995, P.57).

Nesse contexto, historicamente, o Estado, por meio de suas ações, nos

espaços rurais, determinou mudanças no âmbito técnico, econômico e muito

mais no social, visto as questões políticas tornarem-se fatores determinantes

para ditar quem “manda” e quem “obedece”.

Para tanto, a década de 70 tornou-se um período importante para a

agricultura, visto ser nesse período, se dar o reconhecimento devido à

agricultura pelo seu papel na economia. Período também, em que as políticas

destinadas a tal segmento da economia ganha força, principalmente com

respaldos financeiros e sociopolíticos.

Data desse período, também, o Sistema Nacional de Crédito Rural,

criado no ano de 1965. Vale destacar que tal inserção do capital no campo,

privilegiaria, quase que na sua totalidade, ao grande proprietário, e em futuras

crises, os mais afetados seria a pequena produção, esta a margem e na

dependência daqueles beneficiários das políticas econômicas (COSTA, 2005).

As políticas públicas estariam aí inseridas nos espaços rurais, na

preocupação do seu desenvolvimento, o que na época se consolidava na troca

da inchada pelo uso de insumos e técnicas modernas para o aumento da

produtividade, respondendo assim a égide do mercado consumidor, cada vez

mais urbano.

Assim, o credito financeiro, as relações de trabalho, o acesso a terra,

foram e são, alguns dos mecanismos institucionais, os quais, o Estado detém

para a manutenção e regulamentação do campo.

O capital, aí inserido, proporciona a retirada de algumas barreiras

importantes, ao mesmo tempo em que, estando acessível a um determinado

grupo, acaba por criar outras barreiras, àqueles que não têm o mesmo acesso

a tais políticas.

Tal realidade corroborou para as mudanças ocorridas nos espaços

rurais, as quais estiveram muito mais ligadas aos interesses de elites agrárias,

do que as reais necessidades da maioria dos produtores rurais. Assim,

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Esse poder de mando das elites agrárias veio dar caráter definitivo à presença do Estado no meio rural, de forma que o acesso às classes subalternas só poderia ocorrer pelas mãos dessas elites e resguardadas suas prioridades. Estava sendo erguida a base de sustentação do ambiente institucional que permearia a implementação das intervenções públicas para o meio rural fundadas na cultura da subordinação ao poder oligárquico. (COSTA, 2005, p.28)

Caberia então ressaltar aqui, a conotação de ambiente institucional

“como um conjunto de organismos, regras, convenções e valores que, na

medida em que intermedeiam a implementação das políticas públicas vis a vis

demandas locais, confeccionam determinados resultados na intervenção do

Estado.” (COSTA,2005, p.29)

No processo de industrialização brasileira e, consequentemente, a

inserção da agricultura nesse contexto, a mesma, passa então a fazer parte

como elemento da reestruturação produtiva, estando essa subordinada ao

lucro e as intensas mudanças que viriam a se refletir nas questões

socioespaciais.

Nessa perspectiva, confere então para a agricultura familiar, a imposição

de se adaptar as exigências do mercado para a agricultura moderna, na qual,

os incentivos gerados pelos financiamentos bancários, ou pelas linhas de

credito cedidas pelo estado se fazem importante para a sua efetivação.

(FRANÇA, 2005).

A partir dos anos 90, as estratégias do governo que orientam suas

ações, são focalizadas para a agricultura sob duas vertentes: o fortalecimento

da agricultura empresarial e o fortalecimento da agricultura familiar. Ressalta se

aqui, a importância da formulação e implementação de políticas públicas para

afirmação da agricultura familiar, as quais se intensificaram nesse período.

Enaltece, para tanto aqui4, a criação do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o qual veio a configurar

como o reconhecimento da importância da agricultura familiar, bem como, ao

mesmo tempo, possibilitar abarcar, em meio aos seus objetivos, inserir e

4 Política agrícola, foco de nosso estudo que será melhor analisada no próximo capítulo.

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beneficiar, um numero maior de agricultores, às ações da política agrícola do

país. (BUAINAIN, 2005)

Assim, em meio, a vasta análise já existente, quanto a atual situação da

agricultura familiar, e principalmente, quanto sua importância atrelada a ação

do estado através das políticas públicas a ela direcionada, damos destaque a

noção de que, como nos lembra Martins, ao revisitar seu pensamento quanto a

definição da agricultura familiar, que

Aos poucos vai se definindo o deslocamento da condição

transitória de ator histórico, social e político de trabalhador sem terra, para a condição permanente de agricultor familiar, a família e o trabalho modernizado, e não a luta, como núcleos da identidade desse novo sujeito social. (...) Atualmente, menos amplo, porém mais definido no reconhecimento da agricultura familiar como sujeito de políticas públicas e de vontade política. (MARTINS. 2002, p. 218)

Faz assim, em cada uso territorial pelas políticas públicas, para cada

realidade existente na agricultura familiar, relações externas, inerentes a esse

processo, inserindo ai ações, estratégias, e mesmo a efetivação de outras

políticas que, articuladas às já existentes, são capazes de prover e modificar a

atual situação.

Bem como, relações internas, bem mais complexas, sejam elas, sociais,

políticas, econômicas e culturais, que tornam cada território, um espaço

singular, substanciado nos objetos, nas ações e muito mais, nas relações entre

os agentes sociais. Evidenciar, por tanto, um cenário sem desigualdades e com

redução da pobreza instalada no campo, requer mudanças advindas das

articulações políticas e suas ações, bem como, de uma dinâmica local, pautada

na gestão e participação dos agentes sociais pelo acesso e efetivação de seus

direitos substantivos.

1.4 Vera Cruz/RN: perspectivas e realidades na formação territorial

É na base territorial que tudo acontece, mesmo as configurações e

reconfigurações mundiais influenciando o espaço territorial. Com essa

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percepção e para tanto, registra-se em determinados períodos, a formação do

território evidenciando nesse, os processos que são externo ao território, o que

irá conformar nas normas internas, inovações e transformações abstratas nas

ações, bem como, materializadas nas formas no/do espaço geográfico.

A periodização dos eventos se faz presente e importante para a

pesquisa geográfica contemplando, no recorte temporal do estudo, um conjunto

de variáveis — políticas públicas, economia, agricultura familiar — que se

organizam, funcionam, relacionam e impõe uma dinâmica ao território

estudado.

Segundo Santos (1985) a periodização da história é que define como

será organizado o território, ou seja, o que será o território e como serão as

suas configurações econômicas, políticas e sociais.

O autor evidencia o espaço como variável a partir de seus elementos

quantitativos e qualitativos, partindo de uma análise histórica. O que nos

interessa é o fato de que, em cada momento histórico, os elementos mudam

seus papeis e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial; e a

cada momento, o valor dos mesmos, deve ser tomado da sua relação com os

demais elementos e com o todo (SANTOS, 1985, p. 09). Para SANTOS

(2002a), a formação do território perpassa pelo espaço e a forma do espaço é

encaminhada segundo as técnicas vigentes e utilizadas no mesmo.

O território para SANTOS (2002a) configura-se pelas técnicas, pelos

meios de produção, pelos objetos e coisas, pelo conjunto territorial e pela

dialética do próprio espaço. Somado a tudo isto, o autor vai mais adiante e

consegue penetrar, conforme suas proposições e metas, na intencionalidade

humana. O território pode ser distinguido pela intensidade das técnicas

trabalhadas, bem como pela diferenciação tecnológica das técnicas, uma vez

que os espaços são heterogêneos.

Por tanto, é guiado por esse entendimento que apresentamos o

município de Vera Cruz/RN, lócus de nossas análises e consequentemente, a

periodização histórica e principalmente geográfica, dos eventos, os quais foram

propulsores da formação territorial desse município.

O município de Vera Cruz, uma localidade que desde o século XIX, é

datada a sua localidade, teve inicialmente o nome de Periperí, e ficava às

margens do riacho Vera Cruz. Historicamente, a sua povoação segue os

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passos da colonização do Rio Grande do Norte, a qual deixou marcas no

“Território do Rio Grande” ao penetrar no interior da capitania e fixar seus

colonizadores as margens dos rios e riachos.

Na aldeia de São José do Mipibú, foram construídas casas, capelas,

introduzidos os engenhos e as fazendas, cenários comuns a colonização e bem

características pela dinamização espacial advindas das atividades econômicas

da época. Uma realidade que, se faz significativa para a história, pretérita e

atual, conferindo principalmente ao fato de que, assim como no caso do

Nordeste brasileiro, a colonização do Rio Grande do Norte, deve-se

principalmente ao posseiro, como nos bem fala Cascudo (1968, p.24 – 25):

[...] o verdadeiro colonizador do Rio Grande do Norte foi o posseiro, fundando os primeiros currais, as primeiras casas, fazendo os primeiros cercados, plantando as primeiras roças, construindo os primeiros engenhos de açúcar, fabricando as primeiras rapaduras, destilando aguardente nos velhos alambiques de barro, assentando afinal os primeiros fundamentos da nossa economia agrária e pastoril, (CASCUDO, 1968, p.24-25).

Dessa forma, é na interiorização da colonização portuguesa que se deu

início ao povoamento de Vera Cruz no território de São José de Mipibú e desse

se emancipou, ao passo que ganhou dimensões e destaque, devido às

condições ambientais e oferta na mão de obra (olarias, engenho, casas de

farinha e nas atividades agropastoril como um todo), no ano de 1963.5

Fatos históricos, que se materializaram na geografia desses lugarejos,

principalmente quanto ao uso do território. Materialidade essa, visivelmente

presenciada, na primeira casa construída em alvenaria (figura 01); na igreja

com data de construção do ano de 1895 (figura 02), erguida pelos seus

primeiros constituintes de propriedade; bem como, nas ações inseridas nesse

espaço, na cultura e na sociedade quando da prática de cultivar as lavouras de

milho, feijão, mandioca e cana de açúcar nas várzeas dos riachos, edificando

currais. Atividades econômicas que se efetivam até os dias atuais.

5 Data-se no dia 24 de novembro de 1953 que Vera Cruz foi elevada à categoria de vila, de acordo com a

lei Estadual de número 910. Após dez anos, precisamente no dia 26 de março de 1963, através da lei

Estadual de número 2.850, Vera Cruz foi emancipada, tendo suas terras desmembradas de São José de

Mipibú, tornando-se, pois município independente da jurisdição de São José de Mipibú. (LOPES, 2009)

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Figura 01: Primeira residência em alvenaria Figura 02: Igreja de Vera Cruz6

Foto: Markelly, dezembro de 2008. Foto: GPEUR/UFRN, junho de 2010.

Diante desse contexto, e dada à constituição do território do RN, Vera

Cruz, passou a ter como limites políticos ao Norte o município de Macaíba; ao

Sul, os municípios de Monte Alegre e Lagoa Salgada; a leste, o município de

São José de Mipibú e a Oeste, com os municípios de Boa Saúde e Macaíba.

(Figura 03).

Geograficamente, Vera Cruz localiza-se entre as coordenadas: latitude

6º02`39`` e longitude 35º25`42``, conferindo ao município, características

físicas e biológicas referentes ao semi-árido nordestino por está localizado no

mesmo. Possuindo em suas especificidades o clima tropical-úmido, o que

favorece a prática da agricultura e as culturas aqui cultivadas.

O município está a 37 Km da cidade de Natal, capital do Estado do Rio

Grande do Norte. Possui uma área de 92,12 Km², o equivalente a 0,19 % da

superfície estadual e atualmente, quanto a sua “organização espacial”, o

mesmo se insere, para fins Político-administrativos e para estratégias de cunho

socioeconômico, dentro da divisão da mesorregião agreste, e nessa a

microrregião agreste potiguar7.

6 Relatos históricos descrevem que “por volta de 1855, o capitão Teodósio Xavier de Paiva, considerado

maior proprietário local, demoliu a antiga capela e deu início à construção de uma nova capela – também

nas proximidades da residência de Rodolfo de Vasconcelos, sendo que numa área mais elevada do terreno

– com a colaboração do padre Bernadino de Sena Lustosa. No entanto, esta obra só foi concluída em

1895, após quarenta anos, pelo padre Antônio Xavier de Paiva”. (LOPES, 2009, p.21) 7 Divisão das microrregiões também visualizadas na figura 3

Figura 01: primeira residência em alvenaria Foto: Markelly, dezembro de 2008.

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Figura 03: Território de Vera Cruz no âmbito da Micro-região Agreste, Rio Grande do Norte e Brasil.

Fonte: GPEUR, 2010.

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E ainda, através da Lei Complementar 391, de 22 de julho de 2009, a

qual inseriu a participação do município como integrante da região

metropolitana de Natal, conferindo benefícios administrativos, vantagens

políticas, econômicas e sociais, como por exemplo, a inserção do município em

programas habitacionais e sociais voltados para áreas metropolitanas; a

integração do SAMU para se dispor dos atendimentos de urgência, além de

contar com a extinção do DDD para a capital do Estado e demais municípios

da Grande Natal, ações que serão implementadas de forma gradual.

Cabe aqui, abri um parênteses, haja vista, haver uma diversidade

conceitual e mesmo empírica para entender a complexidade, quanto ao

entendimento e colocações para o conceito de Região8 e consequentemente

no seu uso.

Por hora, percebe-se que tal conceito é revisitado e permeado pelas

ações e estratégias as quais buscam atuar em novas escalas territoriais.

Hoje, a complexidade em que se configuram tais territórios/região,

organizados espacialmente, nos remete a pensar nesses, como novos arranjos

territoriais, os quais seguem a dinâmica do local e do global, da produção de

mercado que faz emergir a noção de ser periférico, dependente da dinâmica

econômica que prevalecem, instaurando ai, interesses locais, globais e

regionais, espaços contestados e contestadores das desigualdades e

desequilíbrios existentes.

Realidades em que as políticas de cunho nacional buscam na

mobilização das forças endógenas das regiões, ferramentas a facilitar a

atuação integrada entre administrações municipais, estadual e federal;

fomentando ações com enfoques territoriais, esse tido como lócus da atuação e

sobrevivência dos atores sociais, e articulação inter-setoriais presentes na

mediação, promoção e implementação de planos, programas, ações e

instrumentos financeiros, retirando a atenção exclusiva à escala

macrorregional; realidade que confere grande importância para nossas

análises.

8 Nosso interesse não é fazer uma discussão conceitual sobre Região, visto o mesmo não ser objetivo do

trabalho, mas, deixar evidente qual o nosso pensamento a cerca do mesmo, haja vista, ser de importância

enquanto uma discussão que permeia as políticas públicas de um modo geral.

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Economicamente, desde o seu povoamento, o município tem na

agricultura, a principal atividade econômica. Desde então, destaca-se a forte

presença de pequenos produtores, os quais são os responsáveis pela

produção que impulsiona a economia do local e contribuem para a expansão

da infra-estrutura rural / urbana.

Nesse contexto, é pertinente destacar em sua extensão física, a

utilização dos seus espaços pela agricultura, consideradas áreas rurais e estas,

não difere da realidade do território nacional, o qual ao longo da história

assistiu a progressivas transformações em detrimento as questões políticas e

econômicas que influenciaram decisivamente para a configuração da ruralidade

brasileira, e em particular a realidade do espaço rural de Vera Cruz.

Espaço esse que consta de 14 comunidades rurais: Cobé, Papagaio,

Araçá (I, II e III), Ponta de Várzea, Pitombeira, Jacaré, Euzébio, Jenipapo, Sítio

Santa Cruz, Pororocas, Areias e Vera Cruz (figura 4), com um total

populacional de 4.597.

Dados do IBGE (contagem de população residente no município de

2009) revelaram que o município tem uma população de 10.861 habitantes,

sendo, portanto, classificada pelo IBGE como pequena cidade9.

Evidencia-se ainda, enquanto extensão física dos seus espaços, um

problema quanto aos limites geográficos. Problema que é enfrentado a cada

censo demográfico, quando o município perde parte de seu contingente

populacional para os municípios circunvizinhos. O fato explica-se pelos seus

limites serem reconhecidos culturalmente como um, e reconhecidos para as

instancias político-administrativas como outro.

É um fato que tem reflexos no território, politicamente e socialmente. Visto as

pessoas se sentirem pertencer a Vera Cruz, bem como, utilizar e usufruir dos

benefícios que o município oferece aos seus citadinos.

Ressalta-se ainda a outra questão, que recorre à própria economia do

município. Ao perder contingente populacional aos municípios limítrofes, o

município regride quanto à transferência constitucional (art. 159) feita pela

união aos municípios à realização de seus serviços e obras, recurso financeiro

conhecido como Fundo de Participação Municipal – FPM; o qual é realizado

9 Pequena cidade segundo o IBGE define-se por conter até 20 mil habitantes.

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com base nas estimativas, realizadas anualmente, pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE.

Para uma pequena cidade, na qual sua administração tem como

principal fonte de recursos financeiros, os repasses do governo, ou políticas de

ordem setoriais, é preocupante, para sua autogestão essa situação. No

contexto social, reflete diretamente, nos projetos sociais e investimentos a

dinamizar o município.

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Araçá II

Araçá I

Ponta deVárzea

Jenipapo

Pitombeira

Cobé

Areias

LagoaGrande

Pituba

Várzea doMeio

La. dosPorcos

Lagoa Jacaré

Jacaré

Lagoa da Cruz

Euzébio

Lagoa do Jenipapo

Lagoa Pontada Várzea

Vera Cruz

SítioSanta Cruz

Papagaio

Asfalto

Estrada de Barro

Limites

Lagoas

S

O L

LIMITES:

ORTE: Macaíba

UL: Monte AlegreESTE: São José de Mipibu

ESTE: Boa Saúde e Lagoa Salgada

NSL

O

N

Araçá III

Sede Municipal

Comunidades Rurais

Pororocas

Figura 4 – Mapa de localização dos distritos municipais no território de Vera Cruz/RN no âmbito do Rio Grande do Norte Fonte: Base cartográfica digital do município de Vera Cruz, 2008. Adaptado pela autora.

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A formação territorial de Vera Cruz está atrelada, além das

configurações físicas, históricas e sociais, também perpassa, e principalmente,

pelas relações políticas. A dinâmica aqui está pautada em praticas

democrática, quem vem sendo perpetuadas nas mãos de grupos familiares, os

quais reversão entre si o poder.

Para tanto, ressalta-se que algumas práticas, já bem conhecidas, como

o assistencialismo e as trocas de favores, ainda são comuns na história desse

país, e principalmente nas regiões de produção agrícola, as quais o poder na

mão de oligarquias, ditavam a própria dinâmica local, conferem nos dias atuais,

resquícios de suas práticas, culturalmente enraizadas e absorvidas pela

população menos favorecidas.

Tal realidade também confere a Vera Cruz, particularidades, quem vêm

a desencadear direcionamentos as ações tomadas, conferindo aos aliados do

poder vigente, benefícios, facilidades, ou mesmo vantagens quanto ao acesso

de determinados serviços e a algumas políticas públicas. Dentro desse

contexto, Silva (2006) afirma que

[...] se em um passado não muito distante a propriedade da terra era (embora continue sendo importante) o principal elemento que dava poder político a determinados grupos familiares, atualmente é o controle das políticas implementadas pelo governo federal, estadual ou municipal que se sobressai também como intermediador, mantedor e reprodutor do poder em sua dimensão política, (SILVA, 2006, p. 68)

Segundo Lopes (2009), aliada a essas práticas políticas, a inserção de

políticas públicas no território de Vera Cruz, veio a conferir mudanças

socioculturais e econômicas, a própria dinâmica territorial. Visto a desencadear

incrementos ao desenvolvimento agrícola, a modernização da agricultura e

acesso a política de credito a uma abrangência maior de agricultores.

Foco desse estudo, essa realidade citada acaba por conferir reflexos

dessas ações no território, como por exemplo, a uma maior dinamização no

processo produtivo da farinha de mandioca, uma das principais atividades

econômicas do município e consequentemente nas relações de trabalho que

compõe essa atividade. Análise que será melhor visualizada nos capítulos a

seguir.

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2 POLÍTICAS PÚBLICAS E USOS DO TERRITÓRIO RURAL Embora não acompanhando o padrão de crescimento urbano que o

Brasil vem experimentando nas últimas décadas, os espaços rurais brasileiros

vêm driblando as históricas estatísticas de decadência, alcançando melhores

índices em sua diversidade econômica bem como em sua dinâmica

socioterritorial.

A agricultura patronal e o agronegócio lideram, a longos passos, um

crescimento de mercado, com benefícios econômicos e repercussões políticas

já bem claras e expostas na mídia. O que hoje se tornou alvo de análise, e

mesmo de interesses políticos econômicos, foi o grau de importância que a

agricultura familiar vem desempenhando (e sempre desempenhou) não apenas

para a realidade daqueles que a desenvolvem, mas também, e principalmente,

para a economia local, regional e nacional.

Podemos, então considerar, não generalizando, que o crescimento

urbano acrescentaria importantes oportunidades, ou seja, oportunidades de se

tecer uma rede de relações para desencadear o crescimento e o

desenvolvimento do meio rural.

Nesse contexto, as políticas voltadas para o fortalecimento da agricultura

familiar e a diversificação nas atividades desenvolvidas nas unidades familiares

no meio rural são oportunidades as quais hoje se tornaram realidades

importantes e fatores da intensificação de sua dinâmica territorial.

Destacamos, assim, nesta parte do trabalho, os usos e as solidariedades

que ocorrem no espaço rural, principalmente aquelas que estão diretamente

relacionadas com a situação da agricultura familiar. As políticas públicas a ela

direcionadas, nesses casos, conferem a tais territórios um uso diferenciado,

comportando, em sua dinâmica, formas, objetos e ações que aqui se faz

importante evidenciar, tendo em vista os entraves encontrados, nos territórios,

para o acesso a essas políticas e sua aplicação e sua efetivação, ainda que

esses entraves sejam reflexo de transformações benéficas ao desenvolvimento

do espaço rural.

Na bibliografia que trata desse tema buscamos elementos para a análise

que realizamos, observando reflexões, propostas e respostas. Buscamos,

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ainda, relacionar a discussão em curso à realidade em estudo – a agricultura

familiar do município de Vera Cruz-RN.

Assim, delineamos nossas reflexões com base numa discussão sobre

políticas públicas inter-relacionada com a agricultura familiar, tendo esta como

uma categoria política de análise no uso do território rural.

2.1. Espaço rural e territorialidades: os usos e as solidariedades

Nos dias atuais muitos dos que nos espaços rurais trabalham

dependem, em grande medida, da agricultura. Esse fato, por si só, já justificaria

as ações e as estratégias implementadas para a diminuição da pobreza rural e

de apoio ao crescimento agrícola e ao desenvolvimento socioterritorial do meio

rural.

Tendo em vista essa realidade, percebe-se que “os lugares quando

territórios, isto é como normas, transformaram-se na grande mediação entre o

que penetra como normas do mundo, do mercado, e o que a sociedade

nacional e local em interação pretende como futuro” (TURRA, 2003, p. 386).

O que se pretende como futuro está intimamente relacionado à utilização

da terra por determinado grupo de indivíduos, as suas estratégias, suas ações

e ao estabelecimento de poder, que, ao mesmo tempo, reforça a organização

da sociedade no espaço e no tempo, ou seja, as territorialidades. (SILVA,

2008)

Evidencia-se aí uma multiplicidade de solidariedade, entre as quais

chamamos a atenção, para a solidariedade orgânica, conceito formulado por

Emile DurKheim (1960, 1978) para a compreensão da vida social.

Solidariedade orgânica significa a “interdependência em razão da divisão social

do trabalho, inicialmente divisão técnica mas, tão logo o processo de

reprodução do capital se torna complexo, toda sociedade dela participa,

ultrapassando a cooperação e instituindo a coesão social”. (TURRA, 2003, p.

387).

Nessa complexidade das solidariedades e das territorialidades, a

pobreza se insere na formação socioterritorial, uma vez que nem todos os

agentes sociais participam dessa coesão social. Os agricultores familiares são

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dependentes, ao mesmo tempo que, são excluídos, e muito mais necessários

para a reprodução do capital.

Essa realidade é visível nos espaços rurais e, desde a década 80, tanto

nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos, esses espaços se

tornariam alvo de estudos que visam entender o que estaria acontecendo no

meio rural, direcionando-se as intervenções para estabelecer novas bases para

o desenvolvimento dessas áreas. Nesse sentido, varias correntes de

pensamento embasaram tais estudos de forma a estabelecer estratégias para

dinamizar o meio rural.

A corrente que vê o desenvolvimento dos espaços rurais como resultado

da integração entre todas as atividades agrícolas ou não, chamando a atenção

para a importância da agricultura familiar, ganha respaldo nos anos 90 advém

da preocupação e da necessidade de se rever o papel dos espaços rurais e da

agricultura no processo de desenvolvimento e passa a ter relevância na

sociedade civil e no Estado, culminando no processo que veio a influenciar na

formulação e implementação do PRONAF.

A partir desse momento, além das políticas e dos esforços político-

econômicos direcionadas ao agronegócio, uma nova estratégia de

desenvolvimento rural passa a ser gestada no Brasil, centrada no

fortalecimento da agricultura familiar, através de um processo de reforma

agrária e da criação de um ambiente institucional favorável à consolidação

desse tipo de agricultura, com linhas de crédito rural para custeio e

investimento, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural e

infraestrutura para dar suporte à produção da agricultura familiar (FAO/INCRA,

1994).

Atualmente, as crescentes taxas de desemprego e os elevados índices

de miséria ainda se refletem no meio rural brasileiro com severa intensidade.

Contudo, um novo cenário apresenta-se, dando a esse meio novas

possibilidades econômicas e de moradia, (re) configurando novos acessos,

novos limites, e (re) territorializando a heterogeneidade do espaço rural.

Insere-se, nesse contexto, um discurso no qual “o novo”, o moderno,

aparece como sendo capaz de resolver todos os problemas sociais e,

principalmente, os econômicos.

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No entanto é nas contradições existentes nos espaços urbanos e/ou nos

rurais que se reproduz o modo de produção capitalista, o que requer dos

pesquisadores cautela nos estudos sobre os “novos” e velhos cenários que se

(re) produzem nos territórios, visto os resultados já serem bem conhecidos:

intensas desigualdades sociais, em contraposição aos benefícios, que poucos

detêm.

A agricultura familiar é apresentada como “atividade com um potencial a

ser dinamizado e que pode vir a contribuir para o desenvolvimento rural”

(PESSOA, 2006, p. 214), e para isso, ressalta-se a importância das políticas

públicas direcionadas aos espaços rurais que incentivam e disseminam esse

quadro de referência da agricultura familiar na dinâmica territorial.

Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda

impõem limite às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo

e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos, a agricultura familiar

vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,

o que indica o reconhecimento de seu papel e de sua contribuição para a

economia brasileira, antes ausente da pauta das “notícias importantes”.

Nesse sentido, reveste-se a agricultura familiar de um caráter político

institucional, estando sob a égide das estratégias políticas, econômicas e

sociais toda a sua histórica formação socioeconômica e cultural. Isso porque os

órgãos formuladores de políticas públicas passaram a disseminar a ideia e a

investir na proposta de tornar a agricultura familiar, ligada a outros programas

governamentais, a alavanca dinamizadora do espaço rural e,

consequentemente, propiciar a redução das desigualdades sociais

historicamente presentes no campo.

A atual configuração econômica da agricultura familiar não comporta

apenas atividades estritamente rurais, conformando-se em seus espaços uma

dinâmica e complexa realidade, o que dificulta uma conceituação específica

para agricultura familiar distinguindo-a pelo “familiar” conceitualmente, pois

“não se pode explicar o que se distingue” (NEVES, 2002, pag.136), e a

agricultura familiar aglutina muito mais critérios e princípios, não se referindo

apenas à vida familiar.

Nesse contexto, insere-se, portanto, a pluriatividade que hoje está

presente (e sempre esteve) de forma mais contundente, deixando uma

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incerteza para alguns, e confirmando, para outros estudiosos, o papel da

agricultura familiar frente às dinamicidades do espaço rural.

A estrutura familiar, sem ser reduzida a sua dimensão econômica,

perpassa por uma questão cultural e configura-se como uma organização

patriarcal. Assim,

essa estrutura e esses valores têm funções sociais auto protetivas em face de uma sociedade que desenraíza e exclui como meio de forçar a integração rápida dessas populações residuais no ritmo e nas relações próprias das novas estruturas de referência que a cada momento se propõem em consequência do desenvolvimento econômico. A agricultura familiar, além da produção agrícola propriamente dita, inclui as retribuições rituais dos filhos e netos em relação aos pais e avós e dos pais e avós em relação a filhos e netos. Isso quer dizer doações periódicas e remessas econômicas oriundas de ganhos obtidos em outros setores da economia. Sem contar subsídios compartilhados pela família com base nos deveres da reciprocidade e da dependência pessoal, desde a aposentadoria ou a pensão até a bolsa-trabalho. (MARTINS, 2001, p.3)

Ainda de acordo com o pensamento de Martins (2001), a agricultura,

ainda que comportando toda uma história enraizada na dinâmica do espaço

rural, está inserida em meio à autonomia das novas e das velhas atividades,

atreladas a políticas sociais e econômicas que, ao se inserirem no espaço

rural, ganham expressão própria e influenciam a dinâmica territorial.

Fica clara, portanto, a importância que a agricultura familiar tem, e como

ela esta tem que ser levada em conta, tendo-se em vista a formulação de

políticas econômicas e, principalmente, sociais direcionadas a essa atividade,

que tem reflexos não apenas locais, mas em nível nacional.

Institucionalmente, ressalta-se a criação de instrumentos com caráter

político-social a evidenciar essa importância e resguardar, ainda que com

fragilidades, a dinamização da agricultura familiar junto às estatísticas

econômicas e ao próprio mercado. Posto isso como exemplo, encontramos o

discurso político, que encaminha estratégias econômicas sociais com tal

objetivo, como encontramos no portal da Secretaria da Agricultura Familiar do

governo federal, que explicita:

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A Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam serem implementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Sem dúvida, o papel do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais estas políticas conseguirem se transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade conjuntural, mais adequadamente cumprirão o seu papel. (Portal da Secretaria de Agricultura Familiar, 2008)

E são essas mudanças, de caráter institucional e territorial, que

fundamentam muitos dos atuais questionamentos em torno do

desenvolvimento rural do país.

A ideia de desenvolvimento como processo de mudança social advém

de concepções originadas desde a revolução industrial, nos séculos XVIII e

XIX, e desde então segue uma trajetória em que ele é tido como sinônimo de

desenvolvimento econômico, ou, propriamente, em crescimento econômico, já

que tem como característica principal a acumulação de riqueza dos países

centrais e o sacrifício dos países pobres, não configurando, assim, um

“desenvolvimento”.

Nesse contexto, que, no emergir de novos pensamentos políticos na

sociedade e nas ações que esses pensamentos delineiam – entendendo-se

tais pensamentos políticos como a ligação, a aproximação com o real, quando

este se configura como autônomo, abarcando as ideologias, as filosofias e o

conhecimento de mundo – logo começamos a questionar e refletir em torno das

políticas.

No que diz respeito à realidade brasileira, as políticas públicas desde

sua constituição, não apresentam uma autonomia enquanto pensamento

político. No Brasil, muito se discute e se constrói negando-se a realidade

vivenciada neste país.

Numa periodização de políticas, planos e projetos, o Estado brasileiro

perpassou por mudanças significativas, política e economicamente, as quais

refletiram na formação econômica e social brasileira e, principalmente, nas

desigualdades existentes e no desequilíbrio entre os lugares, as regiões, os

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territórios, a nação brasileira. Tudo isso é consequência, entre outras coisas,

das especificidades históricas do surgimento de um complexo econômico que

fomenta o mercado nacional e dá início aos conflitos e às disparidades locais,

regionais e nacionais.

Conceitos, noções e teses são construídos e rebatidos na teoria social,

originados empiricamente na geografia dos territórios10, nos quais a sociedade

acaba por se moldar, constituindo-se em reflexo da dinamicidade local,

nacional e até mesmo internacional.

Configuram-se conceitos e práticas, que são muito discutidos, criticados

e analisados pelos economistas e cientistas sociais. São planejados e

delineados, por gestores e instituições, pelo viés dos interesses econômicos e

políticos, e mesmo pelas características fisiográficas locais, perpassando por

toda uma complexidade inerente às questões políticas e econômicas vividas

em cada período histórico. Estas por sua vez, são delimitadas e discutidas no

âmbito nacional, bem como localmente, falando de uma realidade da qual a

sociedade se apropria, vendo nela a possibilidade de mudança.

Consideramos, o acesso à terra como um dos principais entraves para o

desenvolvimento rural, e mesmo para a efetivação das políticas publicas e

também uma das condições básicas para a alteração dessa realidade.

Acompanhado por um conjunto de condições que permitam um ambiente

institucional capaz de revelar os potenciais que os territórios detêm, ele é o viés

para que os agricultores negligenciados quanto a posse da terra venham a

participar do processo de desenvolvimento. Tal realidade, como frisa

Abramovay,

não depende apenas da iniciativa e da transferência de recursos por parte do Estado, mas fundamentalmente da mobilização das próprias forças sociais interessadas na valorização do meio rural: é daí que poderão nascer as novas instituições capazes de impulsionar o desenvolvimento de

10

Território aqui “não é apenas um conjunto de formas naturais, mas um conjunto de

sistemas naturais e artificiais, junto com as pessoas, as instituições e as empresas que abriga, não importa o seu poder. O território deve ser considerado em suas divisões jurídico-políticos, suas heranças históricas e seu atual conteúdo econômico, financeiro, fiscal e normativo. É desse modo que ele constitui, pelos lugares, aquele quadro da vida social onde tudo é interdependente, levando também, à fusão entre o local, o global invasor e o nacional sem defesa (no caso do Brasil)”. (SANTOS, 2002, pag. 84)

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regiões vistas socialmente como condenadas ao atraso e ao abandono. (ABRAMOVAY, 1999, pag. 1)

Tal reflexão nos dá indícios para respondermos sobre como a dinâmica

de alguns territórios parece estar marcada pelos fatos históricos em que se deu

a formação socioespacial do campo. Noções de desenvolvimento e de

subdesenvolvimento se inserem nesse contexto. A extensão ideológica nesses

conceitos ajuda a responder às mudanças e transformações às quais os

espaços – urbanos e rurais – de acordo com interesses antagônicos

econômicos e sociais.

Nessa perspectiva, adentra-se, como exemplo, a questão emergente da

sustentabilidade ambiental, que vai muito além das questões naturais e

fisiográficas. Ou seja, perpassa realidades políticas, econômicas, e mesmo

sociais e culturais. Essa questão é objeto de “lutas” e da “descrença” de

alguns, (há, realmente, desenvolvimento sustentável?).

Nessa construção de entendimento, coloca-se o desenvolvimento como

processo de transformação socioambiental com vistas à satisfação das

necessidades e à realização das potencialidades do homem (CANDEIAS,

1941). Complementando-se esse conceito com a noção da sustentabilidade,

consideremos o desenvolvimento sustentável de acordo com a visão da

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da

Organização das Nações Unidas, que o focaliza como um conjunto de

processos e atitudes que atendem às necessidades presentes sem

comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam suas

próprias necessidades.

Tais colocações nos remetem a questões estruturais e funcionalistas,

políticas e econômicas postas em nossa sociedade, as quais remontam a

questões históricas e antecipam possibilidades futuras acerca do

desenvolvimento11.

Em termos de proposição metodológica para o desencadeamento do

desenvolvimento sustentável, colocam como favorável a sua efetivação o

11

Não adentramos aqui a construção teórica acerca do termo “desenvolvimento”, do qual, existe toda uma

discussão e construção política nacional, sob influencia local, bem como internacional, sobre como o

conceito foi tratado e influenciou as implementações político-econômicas brasileiras.

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planejamento estratégico e participativo como um instrumento de negociação

técnico-política, cuja implementação requer ativa participação da sociedade em

suas diferentes etapas.

Nesse cenário, o estado do Rio Grande do Norte adotou uma política de

planejamento regional baseada nas premissas do desenvolvimento com

sustentabilidade, seguindo uma lógica nacional de planejamento regional, a

qual aponta para as especificidades locais, suas estratégias, no entanto,

colocando a participação social como vetor forte para sua implementação.

Compreendemos, portanto, não esgotando aqui a complexidade da

questão – como não o dizem mesmo as teses que se aplicam ao uso territorial,

e neste, á dinâmica que a agricultura familiar implica nesses espaços para

todos os seus envolvidos (direta ou indiretamente) – que a diversidade a dos

conceitos se insere na perspectiva de se chegar a um ponto comum quanto ao

melhor desenvolvimento rural.

É verdade que tais projetos são essencialmente políticos e, assim,

envolvem seus atores, instituições, agentes sociais, os quais, acabam por

defender suas ideias e trabalham articulados para chegarem aos objetivos

pretendidos. Iniciativas locais, ações coletivas e o poder público, articulados,

são, ainda, a referência para se falar em um desenvolvimento territorial que

traduza a responsabilidade de crescimento econômico e as reais possibilidades

de acesso.

A solidariedade orgânica aí poderia articular-se a outras solidariedades,

como a institucional12, a mecânica13 e mesmo a organizacional14 e, assim,

articular também alianças políticas, respeitando aí as ações locais e adotando

uma prática de negociação de modo que todos fossem partícipes dos mesmos

objetivos, compondo o entendimento da formação socioterritorial (TURRA,

2003)

Não se perde, mas, sim, se intensifica, portanto, o desenvolvimento

territorial com vistas a sua real complexidade, inerente às práticas sociais,

políticas, econômicas, bem como, e principalmente, culturais, examinando-se

as estratégias internas e externas ao processo.

12

Permite que a cooperação e a coesão estejam direcionadas ao território. 13

Noção de pertencimento a um grupo. 14

O foco está nas empresas, mas condições de compreensão do funcionamento do mundo e do lugar.

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2.2. Políticas públicas e agricultura familiar: faces políticas e sociais “o alcance de novas perspectivas para os processos sociais no

meio rural passa pelo reconhecimento da agricultura familiar, como uma forma social de trabalho e de produção e desenvolvimento rural. Isso implica um processo que busca alternativas ao tradicional padrão agrícola de desenvolvimento.” (Shneider, p.13)

Até aqui tecemos breves reflexões quanto a esse reconhecimento da

importância da agricultura familiar, para o qual chama a atenção Shneider na

passagem acima. É eminente tal processo, que busca alternativas para o

desenvolvimento dos espaços rurais. Visualiza-se, nas políticas públicas

criadas e efetivadas nesses espaços, a “porta” aberta para se inserir a

dinâmica desenvolvida pela agricultura familiar no mercado, embora ainda seja

evidente sua desvantagem em relação à agricultura patronal executada em

nosso território nacional.

Uma das preocupações seria, então, diminuir e equilibrar, perante o

mercado e as próprias práticas sociais, as desigualdades geradas pelas

dinâmicas econômicas dominantes. Perseguindo esse entendimento, fazem-se

necessárias políticas territoriais ou regionais que viabilizem programas de

desenvolvimento de territórios rurais ou com entrada pela dimensão ambiental,

focalizando a atenção nas especificidades que cada território contempla.

Poderíamos citar, dentro desse enfoque social e territorial, para enfrentar

exatamente a questão da diminuição das desigualdades existentes,

contemplando a agricultura familiar e suas multi-funções, as atuais políticas

territoriais aplicadas em conjunto com diferentes programas públicos e mesmo

associadas a outras políticas vigentes, como as políticas sociais.

Em nosso estudo, sem prejudicar a análise, faremos menção àquelas

políticas que se destacam em nossa dinâmica, contribuindo para uma efetiva

ação no território. No entanto, antes de adentrarmos diretamente essas

políticas, ressaltamos a importância de se ter, mesmo que implicitamente, a

noção da construção histórica dos eventos socioculturais cujos reflexos estão

materializados nos territórios, principalmente quanto às questões políticas, à

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distribuição da terra, e ao acesso a ela, criando situações geográficas mais que

atuais.

Na aplicação e efetivação de tais políticas, encontra-se, em sua base,

uma estrutura político-administrativa, composta de ministérios, secretarias e

órgãos, cada um com suas competências, articulando suas ações com o intuito

de fortalecê-las. O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério de

Desenvolvimento Social se destacam, pois suas ações estão diretamente

relacionadas e direcionadas à agricultura familiar e às estratégias de combate à

fome nos espaços rurais, respectivamente, apresentando como programas

importantes para tal objetivo a política de fortalecimento da agricultura familiar

– PRONAF – e o Fome Zero.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, em

vários sentidos, sobressai em importância, comportando-se como uma política

setorial diferenciada e direcionada à agricultura familiar, ressalta a importância

conferida à agricultura familiar para a economia, porém, muito mais, para a

complexidade que a envolve nos espaços rurais, situando-se principalmente no

social seus reflexos aqui.

Nos espaços rurais, os movimentos sociais têm visto algumas de suas

reivindicações serem contempladas, a saber: a participação nas decisões, com

a criação de conselhos, e a prática das negociações para a implementação das

políticas públicas com a participação social. Nem precisaríamos falar da

importância que tais ações têm para esses espaços, principalmente na região

Nordeste do Brasil, devido às excludentes realidades que historicamente têm

sido aí vivenciadas.

A inserção de capital no campo, principalmente por meio da apropriação

do crédito, converteu-se em possibilidades para aqueles que conseguiram o

acesso a essa política, reproduzindo a capacidade de dinamizar as práticas

econômicas locais, mesmo em suas possibilidades multifuncionais.

Os espaços rurais agora seriam contemplados, de acordo os objetivos

do programa, por diferentes linhas de crédito, as quais beneficiariam diferentes

focos de investimento. Nesse contexto, a multifuncionalidade da agricultura

familiar estaria somada à própria capacidade de acesso à pluriatividade,

dinamizando ainda mais esses espaços, antes tidos como estagnados.

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O município – território e normas – comporta-se, nesse contexto como a

unidade político-administrativa básica para as inferências jurídicas e, nele, o

território é usado segundo seu próprio ordenamento, constituindo-se como

cidade. A esta, ele confere seus usos, urbano e/ou rurais, os quais

permanecerão conectados. Percebe-se aí a importância de, enquanto recorte

administrativo, tendo evidência nessa esfera jurídica normativa, nele se

realizarem ações significativas para a aplicação e a efetivação das políticas

públicas.

Compreendemos que a dinâmica territorial, existente na combinação de

ações externas e internas, envolve, ainda, e principalmente “as normas –

técnicas, políticas e jurídicas – que podem ser internas, podem ser locais, mas

nas condições do meio técnico-cientifico-informacional, são igualmente

externas e, quando técnicas, são também políticas” (TURRAS, 2003, p.389).

Tal compreensão das relações complexas que aí se instauram é

relevante para que se faça, na própria realidade local, uma conexão com as

externas, geridas por normas externas, em contraposição ás instigantes

imposições políticas culturalmente praticadas nesses territórios.

Destacamos a expansão do acesso a essas políticas, entre elas, o

PRONAF, com uma marca de 2 milhões de contratos, num universo estimado

de 4 milhões de estabelecimentos familiares no Brasil. Salientamos, ainda: as

novas ações, direcionadas a novos temas; a diversificação do financiamento

conferido aos pronafianos, com novas possibilidades – como, por exemplo,

financiamento para as mulheres, para os jovens, para a agroecologia, para o

Semi-Árido, a pesca, o desenvolvimento florestal, o turismo, entre outras –

estimulando cada vez mais a participação no mercado, bem como a

valorização e respeito às diversidade existentes.

Há portanto que se considerar a importância das relações existentes no

meio rural, a substanciar-se em novas possibilidades o dinamizam. Nesse

contexto, merecem destaque todos os agentes sociais e atores, na relação com

os gestores públicos.

Em tudo o que aqui foi dito, percebe-se sempre o destaque que a

agricultura familiar confere aos territórios rurais, não se questionando a

diversidade que ocorre na organização dessa atividade, sabendo-se que tal

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organização é fundamental para a configuração do próprio território em suas

faces substantivas.

As políticas públicas aí configuram-se como instrumentos de intervenção

que foram criados a partir de referenciais dos próprios espaços rurais, para,

assim, contribuírem para a dinamização de um meio rural mais produtivo e com

qualidade de vida. A essência da política é indispensável para que ocorra a sua

efetivação, mas, muito mais, para que sejam reduzidas as barreiras e

fragilidades institucionais enfrentadas quando postas na prática.

A demanda do capital, sua dinâmica e os processos de sua reprodução,

emergem como principais veiculadores da inserção de capital também nos

espaços rurais, bem como de regras e normas de mercado, ditando-as nesses

espaços. As demandas sociais de direitos equitativos são deixadas em

segundo plano. Observa-se que são insuficientes algumas ações, nesse

contexto, devido à fragilidade instaurada nos territórios, barreiras

materializadas na infraestrutura, nas ações, nos objetos, nas relações

existentes.

Além do PRONAF, apresentado aqui como uma política importante e já

ostentando resultados favoráveis à dinâmica da agricultura familiar no meio

rural de nosso Brasil, outras iniciativas têm também obtido resultados que se

destacam e que criam novas perspectivas para se ampliar o dinamismo da

agricultura familiar, e sua produtividade, consequentemente.

O programa Território da Cidadania, por meio de uma estratégia de

desenvolvimento regional, procura a inclusão produtiva das populações pobres

dos territórios, integrando e planejando a integração das políticas publicas com

a participação social, buscando a cidadania para todos.

Sua efetivação, no entanto, depende muito da participação ativa de seus

agentes sociais, por vezes sendo exatamente essa a dificuldade, do trabalho

em organizações e cooperativas rurais. Os interesses particulares sobressaem

em relação à qualidade e à veracidade de se construìrem melhores resultados

coletivamente.

O programa Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER – é essencial

no apoio aos contemplados por ele, pois vem capacitando seus técnicos, para

melhor assistirem e atenderem as demandas solicitadas. Questões estruturais

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são ainda, no entanto, empecilhos para uma melhor efetivação das ações

desse programa.

A Arca das Letras e o Programa Nacional de Educação na Reforma

Agrária – PRONERA – são iniciativas que vêm suprir uma carência básica nos

espaços rurais, a educação. Ações assim evidenciam ainda mais as lacunas

existentes nos espaços rurais, os quais dificultam e impedem o crescimento

social, e mesmo o acesso a outras políticas públicas, que necessitam de uma

participação mais efetiva, não apenas assinando papéis, mas compreendendo

e participando de decisões que contemplem a melhoria do campo.

Uma das principais dificuldades hoje para a agricultura familiar é a

inserção dos agricultores, no mercado econômico, comercializando sua

produção. O Programa Garantia de Preços para a Agricultura Familiar –

PGPAF – e o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA – dão segurança e

garantia de compra aos alimentos produzidos e ainda beneficiam a outros

programas sociais, quando da compra desses produtos para a destinação da

segurança alimentar de populações em risco, assistidas por outras políticas

sociais. Infelizmente, ainda assim, existem algumas dificuldades para a

participação nesse programa.

Por tudo isso, não se nega a importância das políticas públicas

implementadas nos territórios rurais, com vista a alcançar o desenvolvimento

social e o crescimento econômico para todos. No entanto, cabem aqui várias

ressalvas, que dizem respeito a particularidades de cada caso, de cada

realidade existente no território nacional. A aplicação dessas políticas, desses

programas e projetos nem sempre é eficaz, ou mesmo aceito nos territórios

com elas contemplados.

A complexidade territorial perpassa por todo o processo que se

substancia nas práticas sociais, econômicas e políticas. Uma trama de relações

nas quais se faz uso do território e que neste – nas normas, instituídas pelas

políticas públicas – irá conformar, nas técnicas, na informação e na reprodução

social, a dinâmica territorial.

2.3 Vera Cruz-RN: entre oportunidades e desigualdades

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A estrutura agrária brasileira tem raízes históricas e vem sendo de longa

data, discutida. A intervenção do Estado nela resultou, historicamente, em

mudanças no espaço rural, em diferentes contextos regionais, no entanto não

conseguiu democratizar o acesso à terra, nem tampouco modificar a estrutura

fundiária.

Nesse aspecto, na região Nordeste – portanto também no Rio Grande

do Norte, a questão agrária passou por um processo conflituoso, no qual as

ações do Estado acabaram por privilegiar a grande propriedade, em detrimento

dos pequenos produtores, não garantindo a estes o direito do acesso à terra,

dentro da qual se desenvolve o principal meio de sobrevivência. (FRANÇA,

2005)

A distribuição dos estabelecimentos rurais no Brasil, visualizada aqui na

figura 5, ainda carrega resquícios históricos de sua formação socioterritorial.

Segundo os dados do censo agropecuário do IBGE do ano de 2006, essa

distribuição se caracteriza por uma grande concentração.

Contudo a dinâmica existente na área utilizada pela pequena produção é

representativa pelos números apresentados tornando-se, assim alvo das

políticas agrícolas e agrárias, também relacionadas às de desenvolvimento

social e combate à fome. No Rio Grande do Norte, a situação da agricultura

familiar não difere da apresentada nas estatísticas nacionais e regionais: a

atividade se apresenta como responsável por 1/3 da produção do setor

agropecuário, constatação feita pelo senso do IBGE de 2006.

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Figura 5: Distribuição de estabelecimentos rurais no Brasil segundo dados do censo agropecuário de

2006.

Fonte: IBGE, 2010.

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Segundo o superintendente do Instituto de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA – no Rio Grande do Norte, numa entrevista concedida à

revista online Nominuto, alguns dados se fazem representativos para a

realidade do estado, como é o caso daqueles publicados pelo censo 2006. O

Superintendente atribuiu esse desempenho à mudança na dinâmica territorial

da agricultura familiar no RN, resultante do planejamento de distribuição de

áreas.

Diz, ainda, o superintendente que, "a quantidade das grandes

propriedades reduziu dos anos 90 para cá e, em contrapartida, aumentou o

número de estabelecimentos entre 10 e 100 hectáres, fruto da política de

reforma agrária bem desenvolvida no Estado".

No Rio Grande do Norte, a agricultura familiar compreende 83 mil

estabelecimentos agropecuários, 85% são da agricultura familiar. Esses

estabelecimentos ocupam uma área de 32% da área total, realidade que segue

a nacional. Ou seja, no Rio Grande do Norte, salienta-se a concentração de

terras: apenas um terço de todas as unidades, é de agricultura familiar.

Os dados revelam que a agricultura familiar participa com 1/3 da

economia na produção de grãos e na cultura agropecuária. Nestes, 90% do

arroz que é produzido, é fruto da agricultura familiar. O milho produzido

corresponde a 83%, e a mandioca 61% da produção potiguar. Na criação de

animais, os estabelecimentos familiares são responsáveis por 75% da criação

de suínos, pela produção de 64% do leite de cabra e 45% do leite bovino.

Ainda de acordo com o censo, 77% do pessoal ocupado no setor agropecuário

faz parte da agricultura familiar. "Esse setor revela para o Rio Grande do Norte

o seu peso e sua importância que até então não eram conhecidos e nem os

resultados na economia do Estado", conforme ponderou o superintendente

acima citado.

Diante dessa realidade, e das oportunidades e desigualdades que se

instalam nos espaços rurais nordestinos – especialmente, o norteriograndense

– Vera Cruz se apresenta com algumas particularidades, principalmente quanto

às questões políticas e econômicas direcionadas à agricultura familiar.

Segundo um técnico em agropecuária que atua em Vera Cruz – RN,

analisando a situação da agricultura familiar no município, comentou: “A

agricultura familiar aqui não tem problemas!”. Seria, então, essa a realidade

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que em Vera Cruz, atualmente, se configura? Partimos dessa afirmação, para

analisar e questionar tal afirmação destarte a situação da agricultura familiar no

município.

Assim, de acordo com os nossos encaminhamentos teóricos,

percebemos materializado nas ações e nos objetos organizados

espacialmente, o uso do território nas relações sociais instituídas no exercício

de poder. Em Vera Cruz-RN, o território evidencia, em suas instâncias, uma

forte influência em todas as ações destinadas ao favorecimento de grupos. A

influência política está em determinados setores, e diretamente ligada à

atividade econômica que dinamiza o território, ou seja, à agricultura familiar.

Nesse contexto, a prática política revela exatamente o que Silva fala quanto à

reprodução de poder nos territórios:

[...] se em um passado não muito distante a propriedade da terra era (embora continue sendo importante) o principal elemento que dava poder político a determinados grupos familiares, atualmente é o controle das políticas implementadas pelos governos federal, estadual e municipal que se sobressai também como intermediador, mantedor e reprodutor do poder em sua dimensão política (SILVA, 2006, p. 68)

Diz, ainda, que,

[...] fazem parte de uma estrutura de poder que ainda está associada a formas de manifestação expressas pelo coronelismo, pelas oligarquias ou pela dominação de parentela, cujas práticas políticas, referenciadas nessas formas de poder, vão estruturar e delimitar os territórios, os quais se apresentam como espaços fundamentais nna reprodução de poder. (SILVA, 2006, p. 50)

Percebe-se que a efetivação das políticas públicas e a evolução destas,

no território de Vera cruz, trouxeram, sim, benefícios para a dinâmica

econômica e social do município. No entanto constam parcerias políticas

articuladas à solidariedade mecânica; isto é, a coesão social existe entre

aqueles que compartilham e apoiam o poder exercido pelo grupo dominante,

ao mesmo tempo que a participação de seus agentes no processo de decisão

emerge do favorecimento dos que fazem parte desse mesmo grupo.

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Porém não se esvai aí a possibilidade daqueles que não se inserem

nessa configuração política de ter acesso à dinâmica produtiva, de usufruir dos

benefícios das políticas aplicadas. Mas as dificuldades são percebidas, pois o

acesso a essas instâncias já não se configura no mesmo compasso de tempo e

de facilidades.

Faz-se, contudo, necessário aqui colocar, sem aderir à defesa de

qualquer instituição, que o poder exercido pelo governo vigente vem

demonstrando avançar com ações que concretizem os objetivos propostos

pelas políticas direcionadas especialmente à agriculta familiar.

Esse fato é constatado pelos próprios agricultores, ao reconhecerem

que, nos últimos cinco anos, a realidade vivida nesse território vem sendo

modificada com vista a possibilitar um melhor crescimento na agricultura e na

própria dinâmica produtiva do município, contemplando não somente essa

atividade, mas a economia como um todo. No entanto, não se pode esquecer

que ainda existem práticas que negligenciam os avanços e fazem

perpetuarem-se as velhas práticas clientelistas.

Se para entender a dinâmica territorial, é necessário compreender a

situação que se configurava no passado, no território analisado, bem como as

ações externas que se impõem sobre as internas, então preenchemos uma

lacuna quanto ao entendimento das relações políticas que se instauram nessa

dinâmica.

As normas, substanciadas nas políticas públicas, têm sua efetivação

orientada por práticas determinantes na implementação dessas politicas.

Assim, uma lacuna se preenche quanto à compreensão das relações

sociopolíticas que, direta ou indiretamente, orientam, facilitam, impõem ou

negam os resultados que dinamizam a agricultura familiar nesse território.

Tratamos, portanto, de uma realidade culturalmente estabelecida pelas

práticas sociais no uso do território, colaborando para a complexidade que nele

se estabelece. Para tanto, ressalta-se que parece atrasado ou impossível, que

tal realidade ainda seja praticada. A atual política federal disponibiliza novos

arranjos institucionais, novos instrumentos, os quais, por si sós, são desafios,

na superação das velhas políticas, que têm bloqueado o crescimento das

práticas agrícolas.

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Sem colocar aqui um ponto final na discussão sobre essa questão,

percebemos no pensamento de Santos uma conexão entre a realidade de

outrora e a atual, pois,

“Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela política” (SANTOS, 2000, p. 173-174)

Portanto, são pertinentes as colocações feitas aqui, para se pensar no

que é possível, no que está disponível e nas mutações desejadas para que a

agricultura familiar seja dinâmica, produtiva e praticada, principalmente para o

beneficio do agricultor e de sua família.

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3. VERA CRUZ-RN: SITUAÇÃO GEOGRÁFICA – DO PASSADO AO

PRESENTE

Na terceira parte deste trabalho, analisaremos a atual situação do

território de Vera Cruz, sob o aspecto da atuação da agricultura familiar

promove no município. Iniciamos nossas reflexões com uma discussão teórica

sobre a agricultura familiar e a estrutura produtiva, considerando a primeira

como responsável por uma parcela significativa da dinâmica territorial do Brasil

– especificamente, daquela que ocorre no território de Vera Cruz-RN.

As reflexões até aqui apresentadas nos levam a considerar que, apesar

das políticas e dos programas governamentais, implantados no espaço rural

com o objetivo de oportunizar melhores condições ao pequeno produtor, a sua

produção e, consequentemente, melhoria de vida, possibilitando, assim, sua

permanência no campo, há, ainda, uma grande parcela de agricultores que não

foram inseridos nesse contexto, perpetuando-se as condições de atraso

historicamente construídas no Brasil e principalmente, no Nordeste.

Partimos do pressuposto de que, devido a movimentos contraditórios,

nos quais o capital se faz presente na economia e, principalmente, na política,

os eventos que configuram a atual situação da agricultura familiar ainda são

permeados por uma cultura clientelista, que faz permanecerem de tantas já

conhecidas realidades socioculturais.

Contudo, torna-se frisar a importância de tais políticas para o

desenvolvimento do espaço rural brasileiro, embora colocando algumas

ressalvas quanto às particularidades ainda existentes, principalmente em

pequenas cidades, em que a agricultura de subsistência ainda é praticada.

Assim, com base nas entrevistas realizadas com alguns agentes sociais

do município de Vera Cruz, seguem nossas análises, que tiveram como

objetivo responder a nossos questionamentos iniciais.

3.1 Agricultura familiar, estrutura produtiva e dinâmica territorial

A agricultura familiar, hoje, faz parte da agenda política do Estado, das

organizações sociais ligadas a questões do espaço rural, e do próprio espaço

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rural. Destaca-se sua dinamicidade, a importância que ela tem na produção de

alimentos, na geração de renda e nos movimentos sociais, reivindicando para

os seus maior participação na economia, acesso às políticas públicas e aos

direitos substantivos inseridos na dinâmica socioeconômica local, regional e

nacional.

Atualmente, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança

alimentar de uma parcela significativa de brasileiros, apresentando dados

significativos no fornecimento de alimentos para o mercado interno. Reflexo

dessa importância foi mostrado no ultimo censo, realizado em 2006, no qual a

agricultura familiar teve, pela primeira vez, sua estatística oficial. Esse

documento apresenta números que evidenciam a realidade atual dos espaços

agrários brasileiros.

Existem, atualmente, no país, 4.367.902 estabelecimentos com

produção de agricultura familiar, cerca de 84,4% do total de estabelecimentos

agrícolas. Porém, esse número ainda não supera a concentração da estrutura

agrária, historicamente presente nos espaços agrários brasileiros, visto o

número de estabelecimentos representar apenas 24,3% da área ocupada, o

que significa uma área média de 18,37 ha. para a agricultura familiar, contra

309,18 há. para os agricultores não familiares.

Apesar da perpetuação da concentração de terras, a agricultura familiar,

hoje, representa 38% do valor bruto da produção agrícola gerada no país

ocupa, em sua produção, 74,4% de mão-de-obra, percentual significativo,

tendo-se em vista a dificuldade de se reterem pessoas ocupadas nos espaços

rurais, uma tendência visível nos dias atuais, diante da urbanização das

cidades e da transferência dos moradores do campo para os centros urbanos.

Esses números tornam-se ainda mais representativos na região

Nordeste, onde estão 50% do total de estabelecimentos registrados no país,

cerca de 35% da distribuição de área dos estabelecimentos da agricultura

familiar por região.

Nas estatísticas, algumas culturas se destacam, entre elas a produção

de mandioca, a qual representa 87% da produção nacional. (IBGE, 2006).

Nesse quadro, nossa área de estudo é relevante e representativa para a

dinâmica em nível, estadual, regional e, principalmente, local. A produção de

mandioca, atualmente, reflete as mudanças ocorridas no campo, no qual, a

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inserção do capital e sua lógica de produção reorganizaram espacialmente o

processo produtivo à mercê de interesses capitalistas, aumentando a produção

de farinha de mandioca.

Nesse contexto, o cultivo da mandioca, em 1990, com uma área colhida

de 540 ha., tinha uma produção de 4.320 toneladas; em 2008, a área colhida já

perfazia 2200 ha. Obtendo-se uma produção de 33.000 toneladas. Toda essa

produção, agora destinada às casas de farinha locais, como também da região,

dinamiza a agricultura e toda a cadeia produtiva que envolve o processo.

Podemos, então, ressaltar que, para essa dinamização da agricultura

familiar, as políticas públicas vêm tendo resultados indiscutíveis, sendo,

responsáveis por grande parte desse desempenho, que é visualizado,

principalmente, quando comparados os números do desempenho apresentado

no censo de 1996 como o de 2006. Poderiam ser citados, outros aspectos da

realidade existente em nosso país, os quais se fizeram relevantes para que a

dinâmica territorial respondesse às novas demandas do mercado e aos

modernos sistemas de produção. A organização, a informação frente ao

mercado, as ações coletivas e a participação real do agente social na gestão

de sua produção são o diferencial na produção, na valorização dos produtos, e

na própria relação social existente.

A questão da terra diferencia-se nesse contexto. É, ainda, um grande

impasse nesse processo, principalmente para aqueles que não a possuem,

tornando-se uma das principais barreiras para que o produtor tenha acesso ao

capital, por meio das políticas de crédito. Mesmo assim, é significativo o

número de financiamentos destinados à agricultura familiar, como procuramos

demonstrar nas tabelas 1 e 2, que existem os números referentes ao Rio

Grande do Norte.

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Tabela 1: Numero de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não obtenção do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006

Número de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não

obtenção do financiamento e agricultura familiar Motivo da não

obtenção do

financiamento Agricultura familiar

Variável

Numero de estabelecimentos que

não receberam financiamentos

(Números)

Numero de estabelecimentos que não

receberam financiamentos (Números)

Total

Total 66.119 100,00

Não Familiar 9.844 14,89

Agricultura familiar 56.275 85,11

Falta de garantia

pessoal

Total 837 1,27

Não Familiar 93 0,14

Agricultura familiar 744 1,13

Não sabe como

Conseguir

Total 760 1,15

Não Familiar 96 0,15

Agricultura familiar 664 1,00

Burocracia

Total 7.307 11,05

Não Familiar 928 1,40

Agricultura familiar 6.379 9,65

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Tabela 2: Numero de estabelecimentos agropecuários que não obtiveram financiamento por motivo da não obtenção do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006

Número de estabelecimentos agropecuários que obtiveram financiamento por finalidade do

financiamento e agricultura familiar

Finalidade do

financiamento Agricultura familiar

Variável

Numero de estabelecimentos que

obtiveram financiamentos

(Números)

Numero de estabelecimentos que

obtiveram financiamentos (Números)

Total

Total 16.923 100,00

Não Familiar 1.996 11,79

Agricultura familiar 14.927 88,21

Investimento

Total 11.875 70,17

Não Familiar 1.368 8,08

Agricultura familiar 10.507 62,09

Custeio

Total 3.478 20,55

Não Familiar 493 2,91

Agricultura familiar 2.985 17,64

Comercialização

Total 321 1,90

Não Familiar 31 0,18

Agricultura familiar 290 1,71

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Caberia, no entanto, ressaltar, que ainda há necessidade de ações que

dinamizem e desenvolvam os espaços rurais brasileiros. As dificuldades

enfrentadas, decorrem da fragilidade que se instaura na participação dos

agentes no poder de decisão, e mesmo na construção de arranjos institucionais

dos quais eles sejam participes.

Não se podem considerar, sobretudo, os problemas já enfrentados, que

são os impactos socioambientais, os quais, aliados a outros já citados,

desestruturam e inibem o acesso dos agentes à dinâmica produtiva local.

Permanecem, ainda, mesmo que essas informações não estejam presentes

nas estatísticas oficiais, a dependência e a continuidade do paternalismo, do

clientelismo e o assistencialismo gerido nas instâncias políticas, perpetuando a

falta de autonomia do agricultor.

As decisões tomadas de cima para baixo, negligenciando as

características subjetivas e a heterogeneidade existente em cada território,

impõem barreiras ao acesso às políticas públicas, e mesmo à efetivação e à

evolução do quadro de desenvolvimento dos espaços rurais. Outro fator

relevante nesse processo é o apresentado por Abramovay, ao analisar a

agricultura familiar e o desenvolvimento territorial. Diz esse autor:

O acesso à terra é uma das condições básicas para esta alteração: mas ele só faz sentido, se for acompanhado do acesso a um conjunto de condições que alterem o ambiente institucional local e regional e permitam a revelação dos potenciais com que cada território pode participar do processo de desenvolvimento. Isso não depende apenas da iniciativa e da transferência de recursos por parte do Estado, mas fundamentalmente da mobilização das próprias forças sociais interessadas na valorização do meio rural: é daí que poderão nascer as novas instituições capazes de impulsionar o desenvolvimento de regiões vistas socialmente como condenadas ao atraso e ao abandono. (ABRAMOVAY, 1999, p.1)

* Nesse contexto, o capital inserido nos espaços rurais é significativo,

mesmo quando em valor baixo, pois as estratégias encontradas pelos

agricultores para enfrentar sua situação socioeconômica permitem o sucesso

de seu trabalho. Assim, concordamos com Carneiro, quando expõe que

Tabela 2: Numero de estabelecimentos agropecuários que obtiveram financiamento por finalidade do financiamento Fonte: IBGE – Censo 2006

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As estratégias familiares vão depender, além do capital econômico disponível, obviamente, das condições de mercado (trabalho, sobretudo) – do patrimônio familiar, ou seja, das capacidades (individuais e coletivas) existentes para enfrentar a situação de queda do rendimento familiar e, então, inovar ou reinventar a tradição (CARNEIRO, p. 339)

Nessa perspectiva é necessário que haja a ação do Estado, articulada

com a de outros organismos civis, e a própria participação do agricultor familiar,

como agente social desse processo, para que as políticas públicas venham a

dinamizar os territórios bem como que para estimular a formulação de projetos

capazes de valorizar os atributos locais e regionais no processo de

desenvolvimento. (ABRAMOVAY, 1999.)

Não se esgota aqui a diversidade existente na agricultura familiar e em

sua estrutura produtiva, em nossa própria realidade de um país de dimensões

continentais. Em cada região, devido à história de sua formação socioespacial,

configuram-se diferentes realidades, às quais comportaram demandas,

necessidades, mercados, políticas, atores e agentes sociais, que, por si sós, se

distinguem.

Por isso a necessidade de se realizarem estudos mais localizados, na

busca de se compreenderem diferentes realidades e, assim, chegar-se a

entender a situação de nossos agricultores.

Sem relativizar sua importância para a dinâmica territorial nacional, nem

generalizar o contexto, como se fosse uniforme, a agricultura familiar continua

em todos os casos, a fazer parte do processo de reprodução do capital, que se

dá na relação local-global, na desigualdade vigente, no uso do território, que é

vivido, habitado, “compartido e compartilhado” (TURRA, 2003, p.386), nas

normas, nas técnicas, na informação e na atualidade, principalmente, no

“permanente e no fugaz” dos espaços geográficos, que são relacionais.

3.3 Vera Cruz: dinâmicas locais e configuração de um território

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Dentro da realidade de como a agricultura familiar se apresenta em

nosso estado, colocamos nossos olhares em direção à dinâmica territorial em

que a agricultura se faz presente no que diz respeito a nosso recorte de estudo.

Em outras partes de nosso trabalho, vinculado com as discussões mais

teóricas, apresentamos as características da formação socioterritorial,

ressaltando algumas que são relevantes para nossa análise. Posto isso,

tratando da realidade da agricultura familiar em nosso país, vinculando-a ao

uso do território através da aplicação e efetivação das políticas públicas,

apresentaremos a seguir algumas falas daqueles que realmente fazem a

dinâmica desse território rural. Realizaremos análise qualitativa de todas as

conversas formais e informais, e mesmo da atenção direta, no conviver

diretamente com a área de estudo e sua realidade.

As perguntas que formulamos tiveram sempre o objetivo de incentivar a

explicitação do uso do território veracruzense, ou seja, de analisar a dinâmica

do uso do território tendo em vista políticas públicas destinadas à agricultura

familiar e que se fazem relevantes para a dinâmica territorial executada pela

agricultura familiar do município de Vera Cruz. E, ainda, de refletir sobre como

as políticas públicas direcionadas à agricultura familiar se materializam nas

ações políticas, econômicas, sociais, culturais e geográficas.

Posto isso, lembramos que nosso território compreende, em sua

territorialidade, como já citado anteriormente, 14 comunidades rurais, tendo um

contingente populacional de 4.597 habitantes. Os agricultores familiares

representam 70% desse total – cerca de 800 a 1000 produtores nos

estabelecimentos rurais do território – e são responsáveis pela ocupação de

cerca de 4.000 ha de terra plantada com mandioca, principal produção

agrícola.

Segundo informações obtidas no Instituto de Assistência Técnica e

Extensão Rural do Rio Grande do Norte – EMATER – no município de Vera

Cruz, dessa área ocupada cerca de 2.500 ha são assistidos pelo órgão,

verificando-se que a renda gerada nessa atividade tem aumentado de forma

significante.

A agricultura familiar se efetiva no município na produção da mandioca

destinada às casas de farinha localizadas no próprio município, encontrando-se

também outras culturas, como feijão, milho e bata-doce, uma produção em

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pequena escala, em geral para consumo familiar; Também encontramos,

nesses espaços, a produção de frutas, como manga, banana, jaca, acerola e

abacate, além das pastagens, conforme se vê na figura 6.

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Araçá II

Araçá I

Ponta deVárzea

Jenipapo

Cobé

Areias

LagoaGrande

Pituba

La. dosPorcos

Lagoa Jacaré

Jacaré

Lagoa da Cruz

Lagoa do Jenipapo

Lagoa Pontada Várzea

Vera Cruz

Lagoa Grande

SítioSanta Cruz

Papagaio

Asfalto

Estrada de Barro

Limites

Lagoas

S

O L

N

Araçá III

Sede Municipal

Melão

Caju/Castanha

Acerola

M am ão

Mandioca

Feijão

Milho

Batata doce

Criação animal

Casa de Farinha

Olária

Sem informação

Pororocas

Figura 6: Mapa da produção agrícola e outras atividades econômicas nos distritos de Vera Cruz/RN

Fonte: Base cartográfica digital do município de Vera Cruz cedida pela secretária de educação do município, 2008. Adaptado pela autora.

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A agricultura familiar, nesse território está, direta e indiretamente,

influenciando vários segmentos produtivos locais. Na fala de todos aqueles

com quem conversamos sobre a dinâmica socioeconômica atual do município,

a realidade que se configura é que essa modalidade da agricultura tem

melhorado muito nos últimos anos.

Quanto à estrutura administrativa, poderíamos dizer que os agricultores

familiares hoje dispõem de um escritório da EMATER-RN em Vera Cruz, o qual

conta com cinco funcionários. Três técnicos agropecuários e duas assistentes

sociais. Cada um deles a responsabilidade de prestar assistência técnica os

agricultores familiares.

Além desses funcionários, os agricultores contam com ações (diretas)

das secretárias de Agricultura, de Educação e de Assistência Social,

viabilizando as políticas a eles destinadas.

Nas entrevistas com alguns dos técnicos da EMATER, a fala era de

melhores resultados, poucas evidências de problemas e existência de uma

parceria saudável da assistência técnica com o agricultor. A instituição tem

atuado no fomento da agricultura local através de cursos de capacitação para

os agricultores bem como nas visitas técnicas às propriedades e na assistência

na própria sede da EMATER, quando esta é procurada.

Destaca-se, nesse sentido, a informação de que quem procura a

assistência dos técnicos da EMATER são exatamente aqueles que têm acesso

ao PRONAF e que se beneficiam dele. Estes, por sua vez, perfazem 1000

agricultores, dos quais 500 se enquadram na linha do PRONAF B15.

O técnico entrevistado afirmou que alguns agricultores são sensíveis as

orientações dadas para mudança de hábitos, mas outros são resistentes às

inovações que os técnicos tentam demonstrar na prática.

Atualmente a EMATER direciona sua atuação para a execução do

PRONAF, em todas as suas linhas; para o Programa de Aquisição de

Alimentos, através do Projeto Compra direta, na execução do projeto de

inclusão digital; para a execução do Fundo Constitucional de Financiamento do

Nordeste – FNE; e para a administração, no município, do banco de sementes.

15

GRUPO B: agricultores que tenham uma renda bruta anual de até R$4.000,00; GRUPO C: agricultores

familiares que obtenham uma renda bruta anual entre R$4.000,00 e R$18.000,00.

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As maiores alterações ocorridas na agricultura familiar local, nos últimos

dez anos, foram: a introdução de novas variedades de mandioca (principal

cultivo) mais produtivas; a modernização das agroindústrias; a modernização

do sistema de irrigação, diretamente ligado às parcerias; e, principalmente, as

políticas públicas destinadas à agricultura familiar, dando acesso ao

financiamento consequentemente, injetando capital no espaço rural.

Ao mesmo tempo, os principais problemas apontados que os

agricultores familiares enfrentam são exatamente, a fata de condições de

dispor de um sistema de irrigação bem como a dificuldade de cesso à posse

terra e à regularização desta (caso de posseiros, meeiros, arrendatários).

Esses motivos, aliados às questões climáticas e a não permanência dos jovens

no campo, fazem com que haja um esvaziamento no espaço rural do

município.

Dados do Banco do Central e do MDA revelam que o crédito rural

destinado ao município de Vera Cruz vem aumentando. No período de 1990 a

2010, registra-se de R$823.982,21 em 2010, existindo aí uma taxa de

inadimplência de 6,5%. No PRONAF, os agrupamentos com maior número de

agricultores cadastrados são B e C, também encontrando-se alguns registros

de D e no E16. Esses benefícios, em sua maioria são revertidos em custeio e

investimento, sendo relevante a aplicação do crédito em sistemas de irrigação

nas plantações, o que é perceptível ao percorrerem-se as comunidades.

Atualmente, as politicas, os programas e os projetos implementados no

município e que, direta e indiretamente, são direcionados à agricultura familiar

são: o PRONAF, o PAA, o FNE, o AGRO AMIGO, o CRED AMIGO (Banco do

Nordeste), o MAIS ALIMENTO, o FOME ZERO, O AUXILIO MATERNIDADE e

o BOLSA FAMILIA.

O PAA conhecido no Estado como Compra Direta, é outra politica que

no município se faz diferenciar, visto a aquisição de alimentos produzidos nos

espaços rurais de Vera Cruz e destinados à merenda escolar a rede municipal

de educação, com 49 produtores registrados no período de 2009 a 2010.

Contudo a efetivação do programa diminuiu em números por causa da própria

burocracia, mas ele ainda funciona, em parceria com o programa da CONAB.

16

GRUPO D: agricultores familiares que obtenham renda bruta anual entre R$18.000,00 e R$50.000,00;

GRUPO E: agricultores familiares que obtenha renda bruta anual entre R$50.000,00 e R$110.000,00.

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Sua importância se dá em evitar o “intermediário”, vendendo a um preço justo,

por vezes acima do que é oferecido no mercado e em ser, para alguns, a

principal fonte de renda.

Assim, não se fala “ainda” em haver problemas quanto à efetivação o

programa no município. Ao contrário, ele atende as necessidades das

entidades que compram de alimentos, além de criar um sistema de benefícios,

no qual o agricultor, ao vender sua produção à prefeitura, por exemplo, se auto

beneficiará, tanto pela venda quanto pela boa alimentação que é destinada à

merenda escolar que seus filhos receberão na escola.

Já o PRONAF representa, para o município, um aumento na renda e,

consequentemente, uma melhora na qualidade de vida do agricultor e na de

sua família. Reflexo disso é a dinâmica gerada no mercado local, influenciando

na modernização da agricultura e na produção.

Assim, na fala do técnico, que o PRONAF trouxe apenas benefícios para

o município. Ele aponta apenas o desvio dos benefícios para “outras coisas”,

sem relação com a produção da agricultura, como um ponto negativo. Entre

outros fatores, seria esse um dos motivos que levam o produtor a se inserir na

lista de inadimplentes, além, claro, das dificuldades encontradas hoje pelos

agricultores no município de acessar essas politicas, devido ao de não terem a

posse da terra.

Ainda, assim, a agricultura familiar continua a se fazer presente no

município, destacando-se sua importância para a economia local, mesmo com

o crescimento urbano e as transformações em seu modo de produzir; devido à

geração de trabalho com a utilização da mão-de-obra familiar. Ao fazer um

balanço quanto à efetivação dessas politicas no município, o técnico

entrevistado aponta que “só traz benefícios”, ao inserir no município uma renda

significativa.

Entre outras coisas, essa realidade reflete diretamente no comércio

local, uma vez que a atividade que dinamiza a economia local, produção da

farinha de mandioca, tem sua base na agricultura familiar. Além disso, há a

renda advinda da previdência social, dos programas sociais e do funcionalismo

público. Não é possível, portanto, inferir em sua totalidade, os benefícios

advindos das politicas aplicadas no município e, consequentemente, seu

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reflexo na dinâmica territorial. Chamamos a atenção para as duas principais

comunidades produtoras: Cobé e Sítio Santa Cruz.

Nesse contexto, articuladas com a realidade da agricultura no município,

encontramos também algumas iniciativas de cunho social, como, por exemplo,

própria relação da prática educativa com projetos que são desenvolvidos com

os alunos, desenvolvendo nestes o conhecimento e a valorização dos espaços

rurais, bem como ações de outras secretárias, com o objetivo de trazer

melhorias para o município, não excluindo do desenvolvimento, os espaços

rurais.

Prosseguindo com as análises referentes ao material colhido em campo,

comentaremos aqui três falas, que se diferenciam entre si. Com base nelas,

explicitaremos o que se vivência nesse território. Ressaltamos a importância de

destacarmos o interesse e o pensamento desses agentes, confrontando-os em

suas “inquietudes”.

Trataremos, primeiramente, do que chamaremos aqui de Agente Social

1 – AS¹, que representa a fala dos agentes que influenciam as relações de

poder que se inserem nessa dinâmica, ou são influenciados por ela.

Atualmente, a economia do município de Vera Cruz, segundo AS¹,

evolve a agricultura familiar, direta ou indiretamente, apresentando um maior

desenvolvimento desde 2005, quando as politicas e os programas direcionados

à agricultura familiar foram implementados no município. Essa situação

beneficiou não apenas aqueles que obtiveram acesso aos programas, haja

vista possibilitar uma maior dinâmica na produção e viabilizar, àqueles que não

obtiveram acesso ao crédito, melhorias em outras esferas socioeconômicas.

Disponibilizam-se, ainda, aos agricultores, assistência técnica, quatro

máquinas de corte de terra para uso daqueles que não possuem esse

equipamento para sua produção, e eventos que proporcionam a qualificação e

conhecimentos mais atuais quanto a cultivo e colheita e, principalmente, para o

acesso aos agentes financeiros, o almejado acesso ao crédito.

Nesse contexto, a ajuda com que os agricultores contam, da parte do

governo municipal, se dá de forma mais estrutural, sendo ele um veículo que

administra, e dissemina entre os interessados, as politicas de âmbito estadual e

federal, no município. Quanto ao apoio e cunho mais social, disponibiliza

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transporte para os estudantes, para os feirantes, além de prestar assistência à

saúde.

Contudo percebe-se que, para a realização de tais ações, existem

algumas barreiras, quanto à falta de informação, e de conscientização por parte

daqueles mais experientes, para absorver novas práticas agrícolas bem como

a dinâmica econômica e mesmo a politica. Além disso, faz-se necessário que o

agricultor procure a assistência.

Ainda segundo AS¹, “a agricultura familiar encontra-se em ótimo

momento: a inadimplência é zero. Para ele, que viu a agricultura parada, na

estão anterior à sua (2000 a 2003), sem incentivos, sem financiamento e sem

apoio técnico por parte da EMATER, hoje ela já dá sinais de desenvolvimento”.

Vale salientar que essa opinião está pautada pelos benefícios

acumulados pelos agricultores, advindos do apoio que o Banco do Brasil, o

Banco do Nordeste e a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) lhes

dão, no tocante ao acesso a financiamentos, haja vista isso ser, para ele, o

mais importante para o desenvolvimento da agricultura, pois o “agricultor precis

de dinheiro, de recurso para poder sobreviver e produzir”; sem isso “ele não é

nada”.

Um problema apontado por AS¹ é a falta de organização dos produtores

familiares e a própria cultura de não “acreditar” no apoio técnico da EMATER.

Dados do Banco Central e do MDA revelam que o crédito rural destinado ao

município de Vera Cruz vem aumentando. Há 767 registros de aptidão, no

período de 1999 a 2008, no PRONAF, conforme nos mostram as figuras 4 e 5

(tabela e gráfico) Na linha ascendente do gráfico, estão registrados os valores

financiados.

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Figura 07 – Linha de evolução relativa aos números de contratos e ano respectivamente

Fonte: http://www.mda.gov.br/saf

Figura 08 – Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores Fonte: http://www.mda.gov.br/saf

Figura 08 – Linha de evolução de financiamentos e respectivos valores Fonte: http://www.mda.gov.br/saf

Tais benefícios são, em sua maioria, revertidos em custeio e

investimento, sendo relevante a aplicação do crédito em sistemas de irrigação

nas plantações, o que é claramente perceptível ao se percorrerem as

comunidades. Vejam-se, como exemplos, as fotografias a seguir.

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Figura 09: Imagem da plantação de feijão com sistema de irrigação na comunidade de Araçá II Foto: Luciene Casado, fevereiro de 2009

Em todas as 14 comunidades, segundo AS¹, são aplicadas as políticas

públicas a que vimos nos referindo. Para ele, não existe nenhuma política em

nível estadual ou municipal. Em suas palavras, é perceptível que a questão

politica se faz presente na dinâmica dos espaços rurais, seja para conseguir

recurso, para conseguir parcerias, e mesmo na relação comunidade e

instituição, dado que nos faz questionar sobre o montante de financiamentos

destinados à agricultura familiar no município; ou seja, para quem o crédito

rural está sendo destinado e como isso reflete na dinâmica territorial do

município de Vera Cruz.

O Agente Social 2 – AS² - aparece como aquele que, mesmo estando

sob a influência das relações de poder, tem acesso aos benefícios, mas suas

condições, como agricultor, também estão à mercê das adversidades externas

ao agricultor, não permitindo grande evolução de sua participação na dinâmica

produtiva.

Sua fala se mistura à dos outros agentes aqui analisados. Sua situação

é estável: ele reconhece as dificuldades, no entanto não deixa de valorizar os

benefícios adquiridos. Evidencia o pensamento de que ainda há muito o que

melhorar, mas, ao pensar no que já foi um dia essa realidade, reconhece que

muito melhorou a vida nesse território.

Figura 10: Imagem de tanques para o sistema de de irrigação na comunidade de Areias – Vera Cruz-RN Fonte: Luciene Casado, fevereiro de 2009

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Fica claro que, mesmo com algumas adversidades, vale a pena viver

no campo. Isso muito mais pelas questões socioculturais, que acabam por

influenciar diretamente nas determinações econômicas da família. A qualidade

de vida aí é colocada em primeiro lugar. A paz, o sossego, a ato de

compartilhar nas trocas sociais, ainda são importantes para os que aqui ali

vivem, segundo AS² não se “troca essa vida pela da cidade de forma alguma,

aqui ainda se consegue criar seus filhos, sem a violência tão perturbadora das

cidades maiores”.

Tal avaliação não está presente apenas na fala desse agente social,

mas também na de todos os que foram observados e entrevistados.

E, por último, a figura do Agente Social 3 – AS³ denota-se como aquele

que não está sob a influência das relações de poder que se instauram,

situando-se à margem da dinâmica produtiva. Poderíamos, assim, considerar

esse agente como aquele que não possui a terra, não tem acesso às políticas

de crédito, nem alguns benefícios locais.

Na fala desse agente social, as informações dadas, começam a

divergir das até aqui apresentadas, mostrando uma nova configuração da

dinâmica vivida no espaço rural analisada. No caso dele, os problemas já são

mais evidentes, o que nos faz considerar como importantes suas informações,

visto que, mesmo não estando apto a obter crédito junto aos órgão

financiadores, ele é participe da dinâmica territorial, foco de nosso estudo.

Partimos, então, das dificuldades vividas por esse tipo de agente na

“lida do campo”. Seu trato com a terra é diferente, colocando-se em prática

apenas a “velha experiência de cuidar do roçado”. Exemplo disso é a

insistência em usar o adubo químico, pela praticidade, descuidando-se dos

males que ele pode trazer ao próprio agricultor bem como à produção, o que

está explicitado na fala a seguir.

“A questão tá voltada à pratica, forma melhor de trabalhar o manuseio. É mais simples, o orgânico é mais complicado, demora mais tempo pra espalhar o adubo no solo, e isso tudo encarece. O orgânico é mais caro e o químico é mais barato; as pessoas acham melhorar comprar o mais barato. Porém provoca mal para o solo como pra saúde bem como para as pessoas.”

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Nesse contexto, é evidente que a prática agrícola, nesse caso, se

distancia das informações dadas pela assistência técnica quanto ao manuseio

do solo. Em alguns casos, esse fato ocorre devido às divergências políticas, ou

mesmo à rejeição em aceitar novas técnicas no plantio. Isso fica mais evidente,

quando esse agricultor aponta como carências vividas a falta de incentivo à

produção, a falta de acompanhamento técnico e as questões relacionadas à

comercialização da produção.

Diz ele:

“A maioria não possuem terra. Como o preço da mandioca [para venda] fica além do aceitável, não se vê com condições de possuir a plantação da mandioca. Não compensa. Se a renda recebida por um hectare é de 240,00R$, vai gastar 500,00R$ com adubo, 300,00R$ com corte de terra, 1.000,00 R$ com limpa. No final, vai ficar com saldo negativo. Apresenta se como grande problema na produção questão do clima não influencia na mandioca”.

Destaca-se aí um problema já levantado anteriormente. A posse da

terra, uma realidade vivida em Vera Cruz - RN pela maioria dos agricultores.

Nas terras arrendadas, produz-se mais mandioca e milho; feijão é produção

secundária. A produção da mandioca é toda beneficiada no município e

repassada aos proprietários das casas de farinha, sendo distribuída, no final,

para o comércio de Natal, Mossoró, Currais Novos, Caicó, Fortaleza,

Parnamirim e para a CONAB.

Não há destino certo para o repasse da produção do agricultor, que fica

à mercê do preço oferecido pelos donos das casas de farinha, o que mostra a

dificuldade para a comercialização da produção. Parte daí uma informação

importante: “O Compra Direta só beneficia os proprietários da casa de farinha.

Eles estão enricando comprando propriedades, concentrando renda e terra”.

Os agricultores dizem que a assistência técnica dada pela EMATER

local é quase inexistente. Alguns têm assistência técnica, porém os mais

beneficiados são exatamente aqueles que não precisariam dessa assistência

da forma como é feita, visto terem melhores condições financeiras – os

grandes proprietários.

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Em Vera Cruz – RN, a EMATER, tem-se voltado para a execução do

PRONAF e para os grandes produtores rurais; o pequeno produtor rural fica a

mercê das condições naturais, não recebendo acompanhamento nem

benefícios das esferas municipal, estadual e federal. Portanto não é tão

acessível assim a assistência financeira, conforme é ressaltada nesta fala:

“são poucos que conseguem e o valor é muito irrisório. São

basicamente destinados pra cada hectare 700 reais. O agricultor faz pouca coisa e as despesas são maiores e sem lucro, eles não conseguem pagar com sua produção esses empréstimos. Para se fazer empréstimo é obrigatório se ter o título da terra. Dificuldades em obtenção de créditos.

As informações aqui levantadas, tanto as positivas quanto as negativas,

mostram como se desenvolvem as práticas, que determinam uma articulação

de ações, desiguais e combinadas, nas quais a ação do capital se faz presente

na reprodução deste; pelas práticas na divisão social do trabalho, bem como, e

muito mais, nas práticas substanciadas nas relações sociais que constitui a

complexidade desse território. Não são desenvolvidas ações que viriam a

dinamizar tais territórios, como, por exemplo, a própria execução das políticas

públicas, o que diz respeito a seus objetivos primordiais, em contraposição, à

perpetuação histórica das relações sociais estabelecidas com base no tráfico

de influências e exercício de poder.

Vê-se, ainda, que, com a falta de articulação e organização por parte

dos agricultores, estes ficam sem voz de decisão e fadados a receber

imposições, ditadas de “cima para baixo”. Compreendem-se, portanto, desde

já, nossas observações feitas quando das referências teóricas que embasaram

nossas análises. Procuramos deixar claro que é no interior de cada território,

na complexidade que perpassa seu uso, pelas praticas sociais, econômicas e,

principalmente, substanciadas nas normas, veiculadas pelas relações políticas,

e nas solidariedades existentes, que se dá a formação socioterritorial e, por

conseguinte, a sua dinâmica do território.

Na fala do AS³, ele sempre faz referência à real valorização dos

benefícios que as políticas públicas desempenham nos espaços rurais, com

vista à valorização social deles, e, principalmente, na dinâmica econômica.

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Contudo ele reafirma que tais beneficiamentos não são acessíveis a todos os

agricultores. Os problemas mais evidentes são a falta da terra, que se constitui

numa barreira para se conseguir financiamento pelas políticas de crédito; as

dificuldades sociais, que aumentam a cada dia, para os que insistem na

permanência da vida no campo; e, ainda, aquelas impostas nas arbitrariedades

exercidas por alguns grupos de influência.

“A vocação é a produção agrícola. No desenvolvimento econômico do

município a administração está deixando a desejar”. Assim, é repassada às

esferas governamentais a responsabilidade de melhor gerir as demandas

econômicas e sociais, para que haja um real desenvolvimento e crescimento

econômico no território. AS³ reconhece, no entanto, a falta de articulação e de

reivindicações com mais força de decisão, que inviabilizam o sucesso nas suas

lutas empreendidas.

A partir das falas dos agentes sócias reconhecidos na dinâmica territorial

de Vera Cruz, analisaremos as divergências aí encontradas, que diversificam

muito essa. Criam-se territorialidades e, na dinâmica existente, preponderam

solidariedades diferentes, constituindo relações antagônicas.

Assim, a agricultura familiar se faz presente no município,

evidenciando-se sua importância para a economia local – mesmo com o

crescimento urbano e as transformações no modo de produzir –, devido à

continuação de aspectos sociais na geração de trabalho utilizando a mão-de-

obra familiar. Emergem, no entanto, novas possibilidades na realidade

desafiadora dos espaços rurais nos dias atuais. Percebe-se que o

desenvolvimento desses é resultado da integração entre todas as atividades,

agrícolas ou não, de modo que esse meio adquire novas possibilidades

econômicas e de moradia, configurando novos acessos, novos limites, e

(re)territorializando a heterogeneidade do espaço rural.

Percebe-se, dessa forma, que, apesar das adversidades que ainda

impõem limites às possibilidades de desenvolvimento socioeconômico contínuo

e diversificado nos territórios rurais, nos últimos tempos a agricultura familiar

vem recebendo maior atenção por parte dos formuladores de políticas públicas,

sinalizando, desse modo, o reconhecimento de seu papel e sua contribuição

para a economia brasileira, que antes não constava na pauta das “noticias

importantes”.

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Dessa forma, fica claro a importância que a agricultura familiar tem para

o município de Vera Cruz-RN, para o Agreste Potiguar e para o

desenvolvimento socioterritorial o que contemple uma melhor distribuição de

oportunidades e qualidade de vida. Ressaltamos aqui, a complexidade

existente no uso do território. Este se faz diferenciar em sua formação

sociocultural, porém muito mais na configuração de sua dinâmica.

A importância dos espaços rurais, e nestes, a da agricultura familiar,

principalmente nas pequenas cidades, tem uma complexidade sociocultural

que ainda diferencia, em sua dinâmica, as cidades ditas mais urbanas. A

efetivação das políticas públicas nesses espaços é de muita utilidade.

Procuramos, assim analisar de forma qualitativa, as inferências feitas a

partir dos números expostos, carregando de sentidos as respostas dadas.

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Premissas de Conclusão

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PREMISSAS DE CONCLUSÃO

Todos os espaços são geográficos porque são determinados pelo movimento da sociedade, da produção. Mas tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos superficiais e de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações de formas, funções e sentidos. (SANTOS, 1998, p. 61)

Vera Cruz é, por assim dizer, esse mosaico a que se refere Santos,

configurado num espaço que tem dimensões simples e complexas, distintas e

contraditórias ao mesmo tempo. Apresenta características naturais e sociais,

que convivem numa constante relação dialética, numa dinamicidade regida

pelos diferentes níveis de forças produtivas, materiais e não materiais,

impulsionando a constante produção e reprodução dos lugares.

Conforme as análises do conteúdo obtido em campo, realizadas, a

fundamentação teórica, foi o alicerce que nos possibilitou compreender a

situação geográfica de nosso recorte geográfico, Vera Cruz-RN, território que,

em suas disparidades, revela seus usos.

Política, sociedade, economia, cultura – território – são inter-relações

que determinam a configuração; e esta, por sua vez, está direta, ou

indiretamente, delineada pelas/nas ações, materializações e subjetividades.

Tal realidade é a que ocorre na construção e no desenvolvimento do

território do Rio Grande do Norte, os quais tiveram como quadro de referência

atividades – como a pecuária e as culturas de subsistência - que se

constituíram à margem de atividades, determinantes da dinâmica espacial.

Estas têm sido de grande relevância para os agricultores locais, até os dias

atuais.

Percebe-se, assim, que, no longo processo de desenvolvimento

socioespacial, o território aqui apresentado passou por várias transformações,

por usos que lhe deram um caráter de território consumido. Em sua

espacialidade, encontram-se pontos materializados de técnicas, de

informações, por meio das quais as relações de trabalho, bem como as sociais

e as econômicas, extrapolam os usos do território.

A realidade é esclarecida no discurso de agentes ligados a agricultura

familiar do município e, inclusive o próprio agricultor, com informações que

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diferem umas das outras, sendo colocadas em evidencia as dificuldades

enfrentadas por uns, e, em contrapartida, as alegrias de outros por terem

alcançado benefícios para sua produção e, consequentemente, para qualidade

de vida.

Ainda que as estatísticas mostrem dados que denotem uma dinâmica

eminente e importante para o quadro estadual, destacando-se o município pela

produção de gêneros alimentícios, de matérias-primas e de mercadorias para o

abastecimento de outros territórios, não se pode negar uma realidade que

persiste em sua dinâmica. Configurada historicamente por uma base produtiva

de subsistência (mandioca, feijão, milho, inhame, etc.) correlacionada nos

aspectos político, econômico, social e cultural, distintos ou correlacionados

entre si, percebe-se um território ainda marcado por desemprego, pobreza,

baixos índices escolares e outros indicadores de conteúdo socioespacial com

graves problemas.

Em Vera Cruz, as territorialidades são constituídas pelos seus usos do

território, porém o são muito mais pela (re)produção de poder, sendo

demarcadas pelos limites físicos, uma realidade muito evidente ainda nos dias

atuais, principalmente nos espaços rurais e nas pequenas cidades do nordeste

do Brasil.

O poder instituído nesse território além das questões financeiras, vai

perpassando as relações sociais, suas identidades. Poder, movimento e

competição são noções que parecem ter mais a ver, nos dias atuais, com a

complexidade existente. Velhas e novas formas de reproduzir as forças de

estruturas políticas bem como das eventuais perpetuações de poder social

ainda são instituídas pela/na econômica local, pelos/nos latifúndios, pelos/nos

agentes econômicos.

Com todos esses elementos, e, ainda , tendo em vista a regionalização,

que situa Vera Cruz na região Agreste, percebe-se aí, a própria diversidade

existente no Agreste Potiguar.

Ainda que a dinâmica do território em estudo seja representada, na

literatura escrita, como a de uma região estagnada economicamente,

apreciamos a colocação de Salvador (2010), quando o mesmo analisa tal

situação como a confirmação de que o crescimento econômico capitalista se

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faz presente, visto ser na seletividade e na desigualdade que o capitalismo se

reproduz.

Ao mesmo tempo, a produção é fundamental na dinâmica de mercado

interno, para a reprodução de outras atividades, como é o caso das casas de

farinhas, bem como no suprimento das próprias necessidades de subsistência

do agricultor e de sua família. Aqueles que possuem sua terra, mesmo tendo

nível técnico baixo sem produção intensiva para o mercado, em geral a

vendem para comprar o que não produzem; outros, aqueles que não possuem

a terra, continuam na atividade, por uma questão de sobrevivência, e nas

práticas culturais, mais históricas, de autosubsistencia. Estes, não tendo

acesso à dinâmica produtiva local, ficam na dependência das políticas

assistencialistas e vão se reproduzindo, nas trocas sociais, a mercê da prática

de favores políticos.

Na divisão social e territorial do trabalho, cada vez mais complexa,

ocorre o desenvolvimento desigual do capitalismo (e vice-versa), que não se

circunscreve apenas às atividades capitalistas clássicas, mas produz e

envolve, simultaneamente, relações e produções não especificamente

capitalistas, com lógica e trabalho basicamente familiar.

É nesse contexto que visualizamos a dinâmica territorial do município de

Vera Cruz, no qual a diferença entre a materialidade de outrora e a vigente,

corresponde apenas às transformações de cunho técnico-científico-

informacional, vislumbradas por alguns, e substanciadas na ilusão de muitos

com as beneces políticas, as quais não passam dos próprios direitos dos

agricultores como cidadãos.

Em nosso entendimento, os produtores agropecuários familiares que se

mecanizam, produzindo para o mercado (feijão, milho, mandioca...), vivem

permanências e mudanças em suas unidades produtivas e de vida, em que a

lógica familiar sofre metamorfoses. Há, aí, continuidades e descontinuidades.

Através de elementos da economia, da política e da cultura, que se

territorializam em diferentes formas e intensidades, a territorialização ocorre,

com trabalho familiar (do proprietário, parceiro, rendeiro ou posseiro) em

pequenas propriedades, onde se produzem mercadorias e se consomem

produtos industrializados. Há a proletarização de filhos de agricultores

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familiares, impossibilitando a reprodução de jovens no espaço agrário, devido a

migração destes para as cidades.

Ou seja, esses elementos da economia, da política e da própria cultura

se materializam territorialmente, mesmo em atividades produtivas sem alto

índice de mecanização e produção de mercadorias, sem o trabalho

assalariado. De maneira sutil ou mais intensa, o capital se expande, re-produz-

se, concentrando-se nas mãos (e nas contas bancárias, aplicações,

investimentos) de uma minoria que conseguiu, as condições necessárias para

isso.

Nem todos conseguem acumular capital na mesma quantidade. Nem

mesmo aqueles que têm acesso às políticas de crédito direcionadas a essa

categoria. Muitos nem sequer conseguem acumular algum capital. Por isso,

muitas famílias não têm casa, carro, um terreno urbano ou rural, máquinas para

trabalhar na lavoura; muitas não têm assistência médica nem odontológica.

É essa a dinâmica territorial, constituída por forças econômicas, políticas

e culturais, pela exclusão de muitas pessoas, pela concentração de terra e de

riqueza, enfim pela dominação social, que impõe alguns limites e dificuldades à

atuação em projetos alternativos de desenvolvimento no espaço rural, voltados

aos produtores da agricultura familiar em Vera Cruz-RN.

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Referências Bibliográficas

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Apêndices

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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA

TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN

ENTREVISTADO(A):______________________________________________ I. IDENTIFICAÇÃO:

1. DATA:

2. COMUNIDADE:

3. IDADE:

4. ESTADO CIVIL:

5. MUNICIPIO DE ORIGEM:

6. ESCOLARIDADE: ( ) ANALFABETO ( )ENS. FUND. INCOMP ( ) ENS. FUND. COMPLETO ( ) ENS. MEDIO INCOMP. ( )ENS. MEDIO COMPLETO ( ) ENS SUPERIOR

7. DE QUE MODO OBTEVE O ACESSO A TERRA: ( ) COMPRA ( )HERANÇA ( )DOAÇÃO ( ) OUTRA

8. QUANTO TEMPO TEM A PROPRIEDADE:

II. DADOS SOBRE A ESTRUTURA FAMILIAR

1. NUMERO TOTAL DE PESSOAS DA FAMILIA QUE RESIDE NA COMUNIDADE? 2. NUMERO DE PESSOAS DA FAMILIA QUE EXERCEM ATIVIDADE REMUNERADA?

3. NA PROPRIEDADE?

4. FORA DA PROPRIEDADE? LOCAL?

5. EM QUAIS ETAPAS DA PRODUÇÃO OS MEMBROS DA FAMILIA PARTICIPAM?

6. EXISTE ALGUM APOSENTADO QUE MORA NA PROPRIEDADE?

7. QUAL A RENDA FAMILIAR: ( ) ATÉ 1 SALARIO ( ) DE 1 A 3 SALARIOS ( ) MAIS DE 3 A CINCO SALARIOS ( ) MAIS DE 6 A 10 SALARIOS

8. HÁ CRIANÇAS OU JOVENS NA FAMILIA?

9. ESTÃO FREQUENTANDO A ESCOLA?

10. ELES PRETENDEM CONTINUAR COM A AGRICULTURA?

III. UTILIZAÇÃO DAS TERRAS

TIPO CULTURA

LAVOURAS TEMPORÁRIAS

LAVOURAS PERMANENTES

PASTAGENS

VEGETAÇÃO NATIVA

OBS: _______________________________

1. QUAL É A ATIVIDADE QUE PROPORCIONA MAIOR RENDA NA PROPRIEDADE?

IV.DESTINO DA PRODUÇÃO AGRICOLA

OBS:_______________________________________

CULTURA/QUANT. VENDA PARA? (NOME/LOCAL)

V. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS NA COMERCIALIZAÇÃO DA SUA PRODUÇÃO? ____________________________________________________________________________________________ VI. QUAL É A FORMA DE PAGAMENTO FEITA PELOS PRODUTOS COMERCIALIZADOS? ( ) A VISTA ( ) A PRAZO ( ) OUTRO______________________________________________________________ VII. COMO É FEITO O TRANSPORTE DOS PRODUTOS ATÉ O LOCAL DE COMERCIALIZAÇÃO? ____________________________________________________________________________________________ VIII. ORGANIZAÇÃO DOS AGRICULTORES É ASSOCIADO À ALGUMA COOPERATIVA, SINDICATO OU ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES? QUAL? DESDE QUANDO? _________________________________________________________________________________________ QUAIS SÃO OS SERVIÇOS DISPONIBILIZADOS AOS ASSOCIADOS? ____________________________________________________________________________________________ NÃO? POR QUE? _________________________________________________________________________________________

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O SENHOR(A) RECEBE ASSISTENCIA TECNICA? ____________________________________________________________________________________________ QUAL A AVALIAÇÃO QUE O SENHOR FAZ DA ATUAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELA ASSISTENCIA TECNICA? ____________________________________________________________________________________________ QUAL A SUA OPNIÃO SOBRE O PRONAF? ____________________________________________________________________________________________ IX. FINA NCIAMENTO TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO. TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO TEM (OU TEVE) DIFICULDADES PARA OBTER CREDITO/FINANCIAMENTO? ( )SIM. QUAIS? ____________________________________________________________________________________________ ( )NÃO 12. INFRA-ESTRUTURA DA UNIDADE: DOS ITENS ABAIXO, QUAIS EXISTEM NA PROPRIEDADE? ( ) ENERGIA ELÉTRICA ( ) ÁGUA CANALIZADA ( ) FOSSA PARA ESGOTO DOMÉSTICO ( ) DEPÓSITOS PARA ESTOCAR/GUARDAR A PRODUÇÃO (AMPLIAR LISTAGEM. VER ITENS 09 E 15) 16. TEM PLANOS PARA AMPLIAR A ÁREA CULTIVADA? SIM ( ) QUAIS CULTURAS PRETENDE AMPLIAR?_____________________________________________________ NÃO ( ) 18. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO AGRICULTOR FAMILIAR PARA O DESENVOLVIMENTO DE SUAS ATIVIDADES NO CAMPO? ___________________________________________________________________________________________ APESAR DAS DIFICULDADES ENFRENTADAS, VALE A PENA VIVER NO CAMPO? ( ) SIM. PORQUE ? ___________________________________________________________________________ ( ) NÃO. POR QUÊ? ___________________________________________________________________________ O QUE O(A) SENHOR(A) ESPERA DO FUTURO PARA SEUS FILHOS? ( ) PERMANEÇA NO CAMPO E SEJA AGRICULTOR COMO O PAI ( ) VÁ ESTUDAR, TRABALHAR E MORAR NA CIDADE. ( ) VÁ PARA A CIDADE ESTUDAR E DEPOIS RETORNE PARA O CAMPO OBSERVAÇÕES EXTRAS:

______________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________

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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA

TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN

ENTREVISTADO(A):______________________________________________

1. COMO A EMATER TEM ATUADO NO FOMENTO DA AGRICULTURA LOCAL? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. QUAIS TIPOS DE PROPRIETÁRIOS MAIS PROCURAM A EMATER ? PARA QUE? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. COMO OS AGRICULTORES TÊM RECEBIDO AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DOS AGRÔNOMOS? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. QUAIS OS PROJETOS QUE ESTÃO SENDO EXECUTADOS PELA EMATER COM O OBJETIVO DE MELHORAR O NÍVEL DE VIDA DO AGRICULTOR? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. QUAIS FORAM OS MAIORES ALTERAÇÕES OCORRIDAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ , A PARTIR DE 1990? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS ENFRENTADOS PELOS AGRICULTORES DO MUNICÍPIO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. NA SUA OPINIÃO, HÁ ESVAZIAMENTO POPULACIONAL NA ÁREA RURAL DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ? EM CASO DE RESPOSTA POSITIVA, QUAIS SERIAM AS PRINCIPAIS CAUSAS DESSE ESVAZIAMENTO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. QUAL É O NÚMERO DE AGRICULTORES FAMILIARES CADASTRADOS PELA EMATER ATÉ 2009 ? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA A ECONOMIA DO MUNICÍPIO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. QUAIS SÃO AS POLÍTICAS HOJE IMPLEMENTADAS NO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ DESTINADAS A AGRICULTURA FAMILIAR?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO PRONAF PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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13. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O PRONAF HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O PRONAF NO MUNICIPIO? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO COMPRA DIRETA PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O COMPRA DIRETA HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O COMPRA DIRETA NO MUNICIPIO? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. O QUE SIGNIFICA ENQUANTO RECEITA PARA O MUNICIPIO A PREVIDENCIA SOCIAL DOS AGRICULTORES? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 20. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ OUTRAS OBSERVAÇÕES _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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AGRICULTURA FAMILIAR, POLITICAS PÚBLICAS E DINÂMICA

TERRITORIAL EM VERA CRUZ-RN

ENTREVISTADO(A):______________________________

1.QUAIS FORAM OS MAIORES ALTERAÇÕES OCORRIDAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ, A PARTIR DE 1990? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA A ECONOMIA DO MUNICÍPIO? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. QUAIS OS PROJETOS QUE ESTÃO SENDO EXECUTADOS PELA SECRETÁRIA COM O OBJETIVO DE MELHORAR O NÍVEL DE VIDA DO AGRICULTOR? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. QUAIS SÃO AS POLÍTICAS HOJE IMPLEMENTADAS NO MUNICÍPIO DE VERA CRUZ DESTINADAS A AGRICULTURA FAMILIAR? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. NO MUNICÍPIO HÁ O CONSELHO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL? QUEM O COMPÕE? (ESPECIFICAR AS FUNÇÕES DAS PESSOAS) _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. COMO É A ATUAÇÃO DA PREFEITURA NO INCENTIVO A AGRICULTURA E A OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO MEIO RURAL? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA SECRETARIA MUNICIPAL DE AGRICULTURA? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. EXISTEM PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA PREFEITURA, OU EM PARCERIA COM OUTRAS EMPRESAS, VOLTADOS PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR? EM CASO DE RESPOSTA POSITIVA, QUAIS E COMO ESTÃO SENDO EXECUTADAS? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. QUANTOS FUNCIONÁRIOS ESPECIALIZADOS (TÉCNICOS AGRÍCOLAS, ENGENHEIROS AGRÔNOMOS) DA PREFEITURA PRESTAM SERVIÇOS JUNTO AOS AGRICULTORES LOCAIS? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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10. QUAIS OS EQUIPAMENTOS QUE A PREFEITURA DISPONIBILIZA PARA O ATENDIMENTO DOS AGRICULTORES? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. DE QUE FORMA O AGRICULTOR TEM ACESSO A ESSES EQUIPAMENTOS? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. QUAIS SÃO OS SERVIÇOS OFERECIDOS PELA PREFEITURA PARA ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO QUE MORA NA ZONA RURAL, PRINCIPALMENTE OS AGRICULTORES FAMILIARES? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES FEITAS PELOS AGRICULTORES? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. QUAIS AS POLÍTICAS EM QUE A SECRETÁRIA VEM TRABALHANDO E INSERINDO OS AGRICULTORES LOCAIS? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO PRONAF PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 16. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O PRONAF HOJE EM VERA CRUZ? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18. QUAL BALANÇO É FEITO SOBRE O PRONAF NO MUNICIPIO? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. QUAL A IMPORTANCIA HOJE DO COMPRA DIRETA PARA O MUNICIPIO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 20. O QUE ISSO SIGINIFICA EM NUMERO? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 21. QUAIS AS DIFICULDADES EM IMPLEMENTAR O COMPRA DIRETA HOJE EM VERA CRUZ? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ 22. O QUE SIGNIFICA ENQUANTO RECEITA PARA O MUNICIPIO A PREVIDENCIA SOCIAL DOS AGRICULTORES? _____________________________________________________________________________________________