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ADVOCACIA ADVOCACIA EMPRESARIAL EMPRESARIAL PREVIDENCIÁRIA PREVIDENCIÁRIA Análise Teórica e Prática sobre a (não) Incidência de Contribuição Previdenciária

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ADVOCACIA ADVOCACIA EMPRESARIAL EMPRESARIAL

PREVIDENCIÁRIAPREVIDENCIÁRIAAnálise Teórica e Prática sobre a (não)

Incidência de Contribuição Previdenciária

THEODORO VICENTE AGOSTINHODoutorando e Mestre em Direito Previdenciário pela PUC/SP. Professor e Coordenador da Pós-Graduação em Direito Previdenciário da EBRADI. Ex-Conselheiro do CARF — Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Advogado.

MARCELINO ALVES DE ALCÂNTARAAdvogado. Especialista em Direito Previdenciário e em Direito Tributário pela Escola Paulista de Direito (EPD). Mestre em Di-reito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP). Professor e Coordenador dos Cursos de Pós-graduação em Direito Previdenciário e Direito Previdenciário e do Trabalho da Escola Paulista de Direito (EPD).

MARCO DULGHEROFF NOVAISAdvogado. Especialista em Direito Tributário pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP. Professor dos Cursos de Pós-graduação em Direito Previdenciário da Escola Paulista de Direito (EPD).

THEODORO VICENTE AGOSTINHOMARCELINO ALVES DE ALCÂNTARA

MARCO DULGHEROFF NOVAIS

ADVOCACIA ADVOCACIA EMPRESARIAL EMPRESARIAL

PREVIDENCIÁRIAPREVIDENCIÁRIAAnálise Teórica e Prática sobre a (não)

Incidência de Contribuição Previdenciária

R

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brJunho, 2018

Produção Gráfi ca e Editoração Eletrônica: RLUXProjeto de capa: FABIO GIGLIO Impressão: FORMA CERTA

Versão impressa — LTr 6073.3 — ISBN 978-85-361-9689-3Versão digital — LTr 9409.1 — ISBN 978-85-361-9740-1

© Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Agostinho, Theodoro Vicente Advocacia empresarial previdenciária : análise teórica e prática sobre

a (não) incidência de contribuição previdenciária / Theodoro Vicente Agostinho, Marcelino Alves de Alcântara, Marco Dulgheroff Novais. — São Paulo : LTr, 2018.

Bibliografi a.

1. Contribuições previdenciárias — Brasil 2. Direito empresarial — Brasil 3. Direito previdenciário — Brasil 4. Previdência social — Brasil 5. Seguridade social —Brasil 6. Seguridade social — Leis e legislação I. Alcân-tara, Marcelino Alves de. II. Novais, Marco Dulgheroff . III. Título.

18-15980 CDU-34:364.3 (81)

1. Brasil : Direito previdenciário 34:364.3(81)

Este livro é dedicado a todos os alunos que acompanham e acreditam no nosso trabalho.

AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos e queridas de todo o Brasil, pois como sempre digo, são meus maiores propulsores.

Theodoro Vicente Agostinho

Aos meus queridos pais, Wisley e Lucy, agradeço os exemplos de vida, amor e dedicação aos filhos.

À minha amada esposa Priscila, pela compreensão nos muitos momentos de ausência em virtude da dedicação ao

trabalho e aos estudos.

Às minhas lindas filhas Bianca e Ana Luiza, motivo de imenso amor, alegria e felicidade.

Marcelino Alves de Alcântara

Аоs meus pais, irmãos, sobrinhas e esposa, pelo amor incondicional.

Aos amigos da NAAL Advogados, pelo apoio e profissionalismo.Marco Dulgheroff Novais

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SUMÁRIO

Apresentação ...................................................................................................................................................... 11

Prefácio ................................................................................................................................................................ 13

1. Introdução....................................................................................................................................................... 15

2. Princípios constitucionais gerais do Sistema da Seguridade Social ........................................................... 16

2.1. Dignidade da pessoa humana ........................................................................................................................ 21

2.2. Do mínimo existencial .................................................................................................................................... 24

2.3. Da isonomia .................................................................................................................................................. 27

2.4. Solidariedade ................................................................................................................................................. 31

2.5. Legalidade ..................................................................................................................................................... 33

3. Princípios constitucionais específicos da Seguridade Social ....................................................................... 36

3.1. Universalidade da cobertura e do atendimento .............................................................................................. 36

3.2. Uniformidade dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais ......................................................... 39

3.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços ............................................................ 40

3.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios .......................................................................................................... 41

3.5. Equidade na forma de participação do custeio............................................................................................... 43

3.6. Diversidade da base de financiamento ........................................................................................................... 49

3.7. Caráter democrático e descentralizado da administração ............................................................................... 52

3.8. Regra da contrapartida .................................................................................................................................. 54

4. Salário e remuneração ................................................................................................................................... 56

5. Salário de contribuição .................................................................................................................................. 58

5.1. Parcelas integrantes e não integrantes ao salário de contribuição .................................................................. 59

6. Previsão constitucional sobre a incidência da folha de salários e demais rendimentos do trabalho ...... 61

6.1. Previsão legal da contribuição incidente sobre folha de salários e demais rendimentos do trabalho — Cota patronal ......................................................................................................................................................... 62

6.2. Desoneração da folha de salários inserida pela MP n. 540/2011.................................................................... 64

6.3. Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) .......................................................................................................... 65

6.4. Risco Ambiental do Trabalho (RAT) ................................................................................................................ 68

6.5. Fator Acidentário de Prevenção (FAP) ............................................................................................................ 68

6.6. Contribuições das entidades terceiras............................................................................................................. 71

7. Métodos de utilização do crédito previdenciário ........................................................................................ 75

7.1. Compensação ................................................................................................................................................ 75

7.2. Compensação de créditos previdenciários ...................................................................................................... 78

7.3. Compensação e o art. 170-A do Código Tributário Nacional .......................................................................... 81

7.4. Compensação indevida .................................................................................................................................. 86

7.5. Restituição ..................................................................................................................................................... 88

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8. Influência do recurso repetitivo (REsp n. 1.230.957) em determinadas contribuições sociais ................. 90

8.1. Do aviso-prévio indenizado ............................................................................................................................. 91

8.2. Terço constitucional de férias......................................................................................................................... 95

8.3. 15 dias anteriores à concessão do auxílio-doença/acidente ............................................................................ 97

8.4. Abono pecuniário........................................................................................................................................... 99

8.5. Férias indenizadas ......................................................................................................................................... 99

8.6. Férias pagas em dobro .................................................................................................................................. 100

9. Dos reflexos do art. 28 da Lei n. 8.212/1991 ................................................................................................ 102

9.1. Os benefícios da Previdência Social, nos termos e limites legais, salvo o salário-maternidade ......................... 102

9.2. Ajudas de custo e o adicional mensal recebido pelo aeronauta nos termos da Lei n. 5.929, de 30 de outubro de 1973 ......................................................................................................................................................... 107

9.3. Parcela in natura — Vale-alimentação/refeição ............................................................................................... 108

9.4. Importância prevista no art. 10, I, do ADCT (multa 40% do FGTS) ................................................................. 114

9.5. Indenização por tempo de serviço, anterior a 5 de outubro de 1988, do empregado não optante pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ....................................................................................................... 117

9.6. Contrato de aprendizagem — Indenização do art. 479 da CLT ....................................................................... 119

9.7. Indenização do art. 14 da Lei n. 5.889/1973 ................................................................................................. 122

9.8. Importâncias recebidas a título de incentivo à demissão ................................................................................. 123

9.9. Ganhos eventuais e abonos desvinculados dos salários .................................................................................. 125

9.10. Licença-prêmio indenizada ........................................................................................................................... 129

9.11. Indenização do art. 9º da Lei n. 7.238/1984 ................................................................................................ 131

9.12. A parcela recebida a título de vale-transporte, na forma da legislação própria .............................................. 133

9.13. Ajuda de custo em decorrência de mudança de local de trabalho ................................................................ 137

9.14. Diárias para viagens que não excedam 50% (cinquenta por cento) da remuneração mensal ........................ 140

9.15. Bolsa de complementação educacional de estagiário nos termos da Lei n. 6.494/1977 ............................... 143

9.16. Participação nos lucros e resultados ............................................................................................................. 147

9.17. Abono do Programa de Integração Social — PIS e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público — PASEP ......................................................................................................................................................... 160

9.18. Os valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho ................................................................................................................................ 164

9.19. Complementação de auxílio-doença ............................................................................................................. 167

9.20. Assistência ao trabalhador da agroindústria canavieira ................................................................................. 171

9.21. Programa de previdência complementar ...................................................................................................... 172

9.22. Do valor relativo à assistência prestada por serviço médico e odontológico .................................................. 175

9.23. Ressarcimento de despesas pelo uso de veículo pelo empregado e o reembolso-creche ............................... 188

9.24. Valor relativo a plano educacional ou bolsa de estudos ................................................................................ 198

9.25. Cessão de direitos autorais ........................................................................................................................... 213

9.26. O valor da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT................................................................................... 217

9.27. Vale-cultura .................................................................................................................................................. 220

10. Bônus de contratação — Impactos previdenciários ................................................................................... 223

11. Stock option .................................................................................................................................................. 234

12. Horas extras ................................................................................................................................................. 237

13. Referências bibliográficas ............................................................................................................................ 241

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APRESENTAÇÃO

A Advocacia Empresarial Previdenciária no Brasil, atualmente, encontra-se em inafastável evidência, uma vez que os efeitos de uma carga tributária exacerbada, principalmente em momentos de crise, justificam um estudo mais acurado da incidência das contribuições previdenciárias da folha de salários.

Apesar de a Previdência Social ensejar diversos campos de atuação (concessão e revisão de benefícios, implantação de regimes específicos, concessão de imunidades etc.), que, inclusive, já foram devidamente explicitadas por muitos doutrinadores, entendemos que a específica situação dos aspectos empresariais da previdência (recolhimento de contribuições, incidências, compensação, restituição etc.), não fora, da forma necessária, objeto de um estudo vertical.

Nesse contexto, devemos esclarecer que nos parece ser indiscutível que a Previdência tem necessidade de um estudo que aprofunde estes aspectos, de modo a possibilitar aos estudiosos e aos profissionais uma ferramenta que lhes auxiliem no entendimento e enfrentamento da matéria.

Ademais, no momento de crise em que vivemos, cuja previdência é alçada à categoria de responsável pelas mazelas do país, a questão do pagamento das contribuições sociais e, em específico, a possibilidade de não recolher (em determinadas hipóteses, como demonstraremos neste livro) estes tributos, pode ensejar uma rejeição por parte de alguns estudiosos.

Não nos falta discernimento de que, no momento, se discutem várias alternativas para o financiamento do sistema de seguridade vigente. De qualquer forma, entendemos ser fundamental que as discussões trazidas ao presente estudo, sejam separadas dos aspectos da questão da proteção social ao indivíduo, pois esta decorre de uma relação jurídica distinta (INSS vs. Segurado), que, até mesmo pela base constitucional, possui viés distinto.

As contribuições são tributos e, sob este ângulo, assim devem ser interpretadas. A Previdência Social e sua evolução histórica, bem como a situação atual, as reformas realizadas e as pretendidas, e as perspectivas futuras do problema devem ser objeto de estudo específico (que não abordaremos).

Reiteramos que esta obra tem por objeto fornecer elementos àqueles que, iniciantes ou versados em seu conteúdo, objetivem, na prática, desonerar as empresas e/ou segurados.

Dessa forma, organizamos este livro de modo a abordar tais temas.

Nos primeiros capítulos do livro, buscamos analisar os princípios gerais norteadores da Seguridade Social, bem como os específicos da Previdência Social. Esta abordagem é essencial, uma vez que os atuais posiciona-mentos judiciais, regra geral, são lastreados nos princípios constitucionais e legais.

Na segunda parte da obra, investigamos as normas gerais a respeito dos elementos intrínsecos da advo-cacia empresarial previdenciária: conceitos de folha de salários, remuneração, compensação, restituição, entre outros, que permitem uma melhor compreensão da matéria, em especial, as relações jurídicas disciplinadas pelo Direito Previdenciário Empresarial.

Na derradeira parte deste estudo, apresentamos os posicionamentos administrativos e judicias sobre as várias verbas que compõem a base de cálculo da contribuição incidente sobre a folha de salários. Buscamos explicitar aquelas que são passíveis de serem excluídas do conceito de remuneração, possibilitando uma redu-ção dos encargos previdenciários, assim como uma rentável alternativa aos profissionais que militarem nesta seara.

Prezados leitores, nosso trabalho é decorrente de muitos anos de prática e intensa pesquisa, aliada ao exercício da atividade docente.

Em síntese, com esta obra, pretendemos colaborar com a divulgação da Advocacia Empresarial Previden-ciária, vertente pouco explorada, porém, muito promissora da Previdência Social no Brasil.

Theodoro Vicente Agostinho, Marcelino Alves de Alcântara e Marco Dulgheroff Novais.

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PREFÁCIO

Recebi honrada o convite para redigir o Prefácio desta obra.

Os autores são profissionais de destaque na área do Direito Previdenciário, na advocacia e na área acadê-mica. Vão além dos estudos cotidianos da matéria e enveredam pelo caminho da área empresarial, em que as questões previdenciárias assumem importância para aqueles que fazem girar a atividade econômica, produzin-do e gerando empregos. Convidam à análise do Direito Previdenciário sob a ótica do custeio e das empresas.

Em tempos de crise política e econômica de espectro internacional e de discussões sobre a reforma da Previdência, é necessário aprofundar o estudo sobre o custeio do sistema que paga a cobertura previdenciária dos trabalhadores.

A compreensão da proteção previdenciária impõe conhecer o seu financiamento, para que o sistema tenha coerência e se possa buscar o equilíbrio financeiro e atuarial exigido pela Constituição Federal.

Embora as contribuições previdenciárias sejam objeto de estudos no campo do Direito Tributário e Pre-videnciário, os autores fazem abordagem prática e inovadora, trazendo explicação clara e precisa de termos técnicos importantes para a correta apuração dos créditos fazendários na área empresarial: bases de cálculo — salário de contribuição para os segurados, folha de salários, desoneração da folha de salários, Seguro de Acidente do Trabalho — SAT, Risco Ambiental do Trabalho — RAT e Fator Acidentário de Prevenção — FAP.

Questões previdenciárias relevantes sob a ótica da proteção ao segurado são abordadas com clareza sob o ponto de vista das empresas e apontada a sua repercussão no campo tributário: a concessão do auxílio--doença e do salário-maternidade ao(à) segurado(a) empregado(a).

Mas os autores foram além. Fizeram um diagnóstico da repercussão dos direitos trabalhistas na base de cálculo das contribuições previdenciárias. Assim é que férias e terço constitucional, férias indenizadas, aviso-prévio indenizado, o período de 15 dias que antecede a concessão do auxílio-doença — a cargo do em-pregador, ajuda de custo, vale-transporte, horas extras etc., — são facilmente compreendidos também sob a ótica do custeio.

De forma inovadora, o livro aborda direitos do trabalhador que não costumam ser detalhados no estudo da Previdência Social: ajuda de custo e adicional mensal recebidos pelo aeronauta, indenização pelo FGTS, contrato de aprendizagem, incentivo à demissão, vale-transporte, PIS/PASEP, diárias para viagem, auxílio--creche etc.

Sem descuidar dos princípios constitucionais que regem a Seguridade Social, a obra conduz o leitor pelo caminho do financiamento do sistema de forma inovadora, mostrando e enfatizando as questões práticas enfrentadas pela atividade empresarial.

Não poderia ser diferente: além de estudiosos do Direito Previdenciário, a atividade profissional coloca os autores em contato direto com as questões abordadas, dando-lhes o crédito de quem, na prática e não apenas teoricamente, conhece em profundidade as questões abordadas.

O livro será material importante para todos que se dediquem à advocacia previdenciária empresarial.

Marisa Ferreira dos Santos

Professora, Doutrinadora, Mestre em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e Desembargadora do

Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3)

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1. INTRODUÇÃO

O estudo dos princípios constitucionais e legais, que são relacionados (direta ou indiretamente) à Previ-dência Social (no campo empresarial), é elemento essencial para o perfeito entendimento da matéria.

Sabemos (até mesmo, por se tratar de regra geral) que o ordenamento jurídico é formado por um con-junto de normas, dispostas hierarquicamente, ou seja, não estão dispostas num mesmo patamar, de forma que as superiores regulam e dão validade às inferiores, que, dessa forma, não podem contrariá-las, sob pena de deixarem de ter validade.

Nesta escada, a Constituição Federal sempre ocupa nível supremo na ordem jurídica, motivo pelo qual é reconhecida como fundamento de todo o sistema jurídico.

Como as contribuições previdenciárias são exigidas em decorrência da competência outorgada pela Constituição(1), também, foram elencados princípios constitucionais que, além de regularem as relações jurí-dicas previdenciárias, limitam o exercício do poder de tributar e serão eles o objeto de estudo deste trabalho.

Essas limitações principiológicas, acabam por ser importantíssimas ao presente estudo, uma vez que irão dar base de sustentação aos fundamentos jurídicos da não incidência das contribuições previdenciárias.

Da mesma forma, existem normas legais (cuja essência denota características de princípios) que também serão estudadas, tendo em vista a sua adoção pelos órgãos administrativos e judiciais de julgamento.

Ressalte-se que, como nossa obra busca analisar institutos de Direito Público, entendemos ser necessário estender a nossa análise para os principais princípios previdenciários (ainda que não relacionados ao custeio da previdência).

Como afirmamos que “o ordenamento é formado pelo conjunto das normas”, mister se faz a análise (pelo menos dos princípios) que a integrem.

(1) Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

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2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS DO SISTEMA DA SEGURIDADE SOCIAL

Em primeiro plano, para conceder legitimidade ao estudo, mister se faz destacar a etimologia da palavra “sistema”.

Pode-se afirmar que o vocábulo sistema é polissêmico. Tal assertiva é facilmente identificável mediante singela verificação de seu conteúdo morfológico, disposto nos dicionários de língua portuguesa, in verbis:

Sis.te.ma — s.m.1. conjunto de elementos, concretos ou abstratos, relacionados entre si 2. Conjunto de unidades organizadas de determinadas forma para alcançar um fim <s. eleitoral> <s. financeiro> 3. Qualquer conjunto natural de partes interdependentes <s. auditivo> <s. planetário> 4. P. ext. constituição política, econômica ou social de um estado, de uma comunidade, etc.<s. capitalista> 5. Método, modo. Sistema internacional de unidades loc. subs. Sistema de unidades de medida utilizado internacionalmente, composto por unidade de base (quilograma, metro, segundo, kelvin, mol, ampere e candela) e unidades derivadas {sigla: SI}. S. métrico decimal. loc. subs. Sistema de unidades de medida que emprega o metro e seus múltiplos e submúltiplos decimais. S. nervoso loc. subs. Nos vertebrados, conjunto dos centros nervosos (cérebro, medula, gânglios) e dos nervos que agem no comando e coordenação dos órgãos e do aparelho locomotor, na recepção dos estímulos sensoriais e, nos humanos, nas funções psíquicas e intelectuais. S. operacional loc. subs. Software que controla a operação de hardwares e outros softwares instalados no computador. S. solar loc. subs. Conjunto de corpos celestes (planetas, satélites, cometas etc.) que gravitam em torno do sol ~ sistematicidade s.f(2).

Percebe-se, neste ínterim, a diversidade de conteúdo que comporta esta palavra. Em primeiro lugar, iremos analisar, de forma mais aprofundada, o sentido da palavra sistema no que é pertinente a conjunto, ordenação.

Podemos, então, conceituar sistema, primeiramente, como um elemento que tem por característica aglutinar (sob específicos aspectos) determinadas situações ou coisas. Nestes termos, tudo é possível de se organizar sob a forma de um sistema, bastando ao intérprete encontrar o específico elo de ligação.

É interessante, assim, a lição do doutrinador GERALDO ATALIBA que com precisão destaca:

O caráter orgânico das realidades dos componentes do mundo que nos cerca e o caráter lógico do pensamento humano conduzem o homem a abordar as realidades que pretendem estudar, sob critérios unitários, de alta utilidade científica e conveniência pedagógica, em tentativa de reconhecimento coerente e harmônico da composição de diversos elementos de um todo unitário, integrado em uma realidade maior. A esta composição de elementos, sob perspectiva unitária, se denomina, ‘sistema’.(3).

Segundo os ensinamentos de JOSÉ ARTUR DE LIMA GONÇALVES, “sistema é um conjunto harmônico, ordenado e unitário de elementos reunidos em torno de um conceito fundamental ou aglutinante”(4). O autor cita o doutrinador mexicano JUAN MANOEL TERÁN, professor da Universidade do México, segundo o qual “Sistema é um conjunto ordenado de elementos segundo uma perspectiva unitária(5)”.

(2) HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Sales. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 692.(3) ATALIBA, Geraldo. Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: RT, 1968. p. 04. (4) GONÇALVES, José Artur Lima. Imposto sobre a renda — pressupostos constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 40.(5) GONÇALVES, José Artur Lima. Op. cit., p. 41.

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Ao se catalogar, criar ou compor um sistema, é importante atentar-se à perspectiva unitária que serve de vetor ao mesmo, mediante inafastável respeito à sistemática que os engendrou. Isto porque um sistema só pode ser assim considerado quando os elementos que o compõem encontram-se harmonizados de forma tal que o fim almejado é comum.

Isto porque “os elementos integrantes de um sistema não lhe constituem o todo mediante sua soma, mas desempenham funções coordenadas, uns em função dos outros e todos harmonicamente, em função do todo”(6).

Nessa mesma esteira, PAULO DE BARROS CARVALHO discorre sobre o conceito fundamental de sistema:

O sistema aparece como o objeto formado por porções que se vinculam debaixo de um princípio unitário único ou como a composição de partes orientadas por um vetor comum. Onde houver um conjunto de elementos relacionados entre si e aglutinados perante uma referência determinada, teremos a noção fundamental de sistema.

Fixados os nortes principais pelos quais se assenta o conteúdo (e conceito) fundamental de sistema, mis-ter se faz, agora, analisar seu alcance e aplicação com relação ao estudo do direito.

Neste diapasão, podemos falar em sistema em “sentido amplo, enquanto conjunto normativo, e tam-bém como método, como instrumento metódico do pensamento, ou melhor, da ciência jurídica”(7).

O primeiro encontra-se como instrumento de organização, arrumação lógica e coerente do sistema nor-mativo(8).

As normas jurídicas formam um sistema, na medida em que se relacionam de várias maneiras, segundo um princípio unificador. Essas normas estão dispostas em uma estrutura hierarquizada, regida por critério de fundamentação ou derivação. Ademais, todas buscam validade formal e material na Constituição Federal, convergindo, todas elas, inclusive a Constituição, para a norma hipotética fundamental, que dá fundamento de validade à constituição positiva(9).

Esse reconhecimento coerente e harmônico de elementos para composição de um sistema deve ser feito, antes de mais nada, pela verificação do que TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR, denominou de “estrutura” e “repertório”(10).

Repertório é o conjunto de elementos que integram um determinado sistema, enquanto que estrutura é o conjunto de regras de relacionamento entre os elementos componentes do sistema.

Isso traz como consequência que, existindo situações de incompatibilidades e inconsistência nos ele-mentos que compõem o sistema normativo, o mesmo perde seu objetivo último que é de organização e harmonização.

Do ponto de vista de WAGNER BALERA, “a colocação de regra qualquer em um lugar que não lhe cabe poderia provocar desajustamento estrutural do sistema, que passaria a funcionar como um mecanismo defeituoso”(11).

Sob a mesma vertente da necessidade de coerência do sistema, a sempre abalizada opinião de CARLOS MAXIMILIANO destaca a questão de que o “direito não é um conglomerado caótico de preceitos; constitui

(6) ATALIBA, Geraldo. Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: RT, 1968. p. 04. (7) BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 4. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 11.(8) GERALDO ATALIBA ressalta que: “Essencialmente, em última análise, reduzido o objeto à sua mais simples estrutura, o direito não é senão um conjunto de normas (conjunto este a que se convencionou designar sistema jurídico, ordenação jurídica).” (ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 25.)(9) JOSÉ ARTUR LIMA GONÇALVES citando KELSEN, assevera que o sistema de normas é tratado como “uma ordem na qual uma norma retira seu fundamento de validade de outra norma, e assim sucessivamente, até encontrar-se a norma fundamental, que funciona como vínculo e origem comum de todas as normas integrantes do sistema.” (GONÇALVES, José Artur Lima. Imposto sobre a Renda — pressupostos constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 41.)(10) FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 1990. p. 165.(11) BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 4. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 148.