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Código Florestal os riscos para o meio ambiente e biodiversidade brasileira DEPUTADO FEDERAL

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  • Cdigo Florestal os riscos para o meio ambiente

    e biodiversidade brasileira

    DEPUTADO FEDERAL

  • O Brasil possui, at hoje, uma das mais avanadas legislaes ambientais do mundo. Mas deixar de t-la caso o projeto de novo Cdigo Florestal, j aprovado em Comisso Especial, passe tambm no plenrio da Cmara dos Deputados. As mudanas previstas no chamado relatrio Aldo Rebelo so extremamente temerrias no s para o meio ambiente mas para toda a sociedade brasileira, que corre srio risco de ver agravadas as condies de vida, produo e ocupao do territrio nacional. As mudanas atentam contra as reas de Preservao Permanente e Reservas Legais, levando ao desmatamento e a no recuperao de

    reas de risco e de florestas nativas. Os prejuzos so incalculveis para a nossa rica biodiversidade, a gua e o solo, comprometendo o futuro das prximas geraes. Trata-se, portanto, de uma imensa irresponsabilidade.

    Por trs do discurso de apoio ao pequeno agricultor e agricultura familiar esto, na verdade, nefastos interesses em prol da explorao acelerada dos recursos naturais. O relatrio

    Introduo

    Por trs do discurso de apoio ao pequeno agricultor e agricultura familiar esto, na verdade, nefastos interesses em prol da explorao acelerada dos recursos naturais.

  • Cdigo Florestal

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    fragiliza reas estratgicas para o desenvolvimento nacional, como a biodiversidade brasileira, os recursos hdricos e florestais, e desrespeita a diversidade sociocultural e o conjunto dos ecossistemas, comprometendo o ambiente global. uma deciso estrategicamente equivocada para o desenvolvimento do pas.

    Esse caderno quer informar, denunciar e chamar a sociedade brasileira a dizer NO a estas mudanas no Cdigo Florestal. No queremos e no precisamos de reformas que fragilizem ainda mais as condies de vida em nosso pas e que priorizem mais uma vez o grande capital e a monocultura de exportao. No queremos deixar impunes aqueles que se acostumaram a descumprir sistematicamente a lei ambiental e a mud-la quando lhes convm, segundo seus prprios interesses.

    Mudanas no Cdigo Florestal devem caminhar no sentido de moderniz-lo e aperfeio-lo

    luz dos avanos cientficos acerca da preservao da natureza, da questo climtica e das funes institucionais das reas de Preservao Permanente e Reservas Legais; de ampliar a educao ambiental dos produtores e da populao em geral. Como est, o relatrio Aldo Rebelo um convite impunidade e representa uma drstica flexibilizao legislao ambiental.

    Para barrar as alteraes previstas, preciso muita mobilizao popular. A correlao de foras estabelecida no Congresso Nacional desfavorvel, com uma enorme bancada suprapartidria de fazendeiros defendendo seus interesses, tambm expressos pela grande mdia, que financiada por esses grupos. Somada omisso do governo federal, sempre em busca de uma governabilidade conservadora, tal conjuntura mostra que somente a luta pela defesa do interesse pblico pode evitar que o Brasil cometa tamanho retrocesso.

    Para barrar as alteraes previstas, preciso muita mobilizao popular. A correlao de foras estabelecida

    no Congresso Nacional desfavorvel, com uma enorme bancada suprapartidria de fazendeiros

    defendendo seus interesses, tambm expressos pela grande mdia, que financiada por esses grupos.

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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    Institudo pela Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, o Cdigo Florestal Brasileiro considerado o principal instrumento de proteo das flores-tas no territrio nacional. Foi ela-borado por um Grupo de Trabalho ligado ao Ministrio da Agricultu-ra com o objetivo de aprimorar o Cdigo Florestal ento existente, de 1934, principalmente no que dizia respeito efetiva imple-mentao da norma em vi-gor na poca.

    quele tempo, grupos li-gados agricultura e ao comrcio j percebiam que suas atividades econmi-cas dependiam da conser-vao das florestas. Mas no era s isso. Tambm j ficava claro que o papel da vege-tao como forma de preservao

    dos recursos hdricos, da estabilida-de geolgica e de proteo do solo tambm tinham relao direta com a vida nas cidades e o bem estar das populaes.

    Em outras palavras, crescia a conscincia de que a conserva-

    o ambiental era condio para a manuteno da vida, tanto

    nas zonas urbanas quanto rurais, e a criao de um

    Cdigo Florestal que per-mitisse ao Estado atuar em prol dessa conser-vao era uma medida

    que interessava a todos. A exposio de motivos

    do Cdigo Florestal de 1965, escrito por enge-

    nheiros florestais e espe-cialistas de diversas reas,

    deixa isso claro:

    Pra que serve um Cdigo Florestal?

    H um clamor nacional contra o descaso em que se encontra o problema florestal no Brasil, gerando calamidades cada vez mais graves e mais nocivas eco-nomia do pas. Muitos rios esto secando (...). Ocorrem inundaes cada vez mais destruidoras, pela re-moo desordenada de florestas (...). O presente Anteprojeto disciplina as flo-restas que no podem ser removidas,

    seja por sua funo hidrogeol-gica ou antierosiva, seja como

    fonte de abastecimento de madeira. Assim como cer-

    tas matas seguram pedras que ameaam rolar, outras

    protegem fontes que poderiam secar, outras conservam o calado

    de um rio que poderia deixar de ser navegvel, etc. So restries impos-tas pela prpria natureza ao uso da terra, ditadas pelo bem estar social.

  • Cdigo Florestal

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    Foi com base nesses princpios e com o respaldo do Artigo 186 da Constituio Federal de 1988 que o Cdigo Florestal estabeleceu que toda propriedade privada deve cumprir sua funo social. Isso pressupe que o proprietrio faa a utilizao racional e adequada dos recursos naturais e preserve o meio ambiente, respeite as relaes trabalhistas legais e promova o bem-estar coletivo.

    O Art.2035 pargrafo nico do Cdigo Civil tambm determina que nenhuma conveno prevalecer se contrariar preceitos de ordem pblica, tais como os estabelecidos por este Cdigo para assegurar a funo social da propriedade e dos contratos. Assim, o Cdigo Florestal atualmente em vigor buscou garantir e legitimar a funo social da terra, impondo limites ao seu uso como propriedade privada individual e coibindo atividades que pudessem ferir os princpios do interesse pblico.

    A lgica da posse de propriedade como direito individual e absoluto sobre um determinado pedao de terra trabalha somente a favor da idia do lucro imediato e contra o bem comum e o interesse coletivo. Por isso, necessrio regulamentar o uso da terra e sua funo social. A existncia de reas de Preservao Permanente e Reservas Legais responde a esse princpio e aponta no sentido da valorizao da prpria propriedade, com suas inmeras funes ecolgicas.

    Mas o relatrio que quer mudar o Cdigo Florestal no compreende esses princpios. Em pleno sculo XXI e diante da evidncia trgica do aquecimento global e de sucessivos desastres ambientais, prope alteraes significativas na legislao ambiental, fragilizando a proteo do meio ambiente e colocando em segundo plano os interesses da sociedade e a preservao da vida.

    A funo social da propriedade

    Uma histria de desrespeito lei

    Apesar da instituio do Cdigo Florestal nos anos 60, ao longo das ltimas dcadas a busca pelo lucro a qualquer custo levou a inmeras violaes da lei, com o aumento do desflorestamento e a devastao de vrios biomas em nosso pas. Do bioma Mata Atlntica, por exemplo,

    restaram apenas 7% de sua cobertura original. Da Amaznia, cerca de 20% do territrio j foram derrubados com a ao de madeireiras e a expanso da fronteira agrcola. Para conter o avano das agresses ao meio ambiente, os legisladores brasileiros aumentaram as restries na

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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    aumentou e o Ministrio Pblico passou a agir com mais vigor em suas denncias.

    1999 Comea a tramitar no Congresso um projeto para criar uma nova lei florestal e liberar o desmatamento em todos os biomas brasileiros. O texto foi apresentado pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), em parceria com a Confederao Nacional da Agricultura (CNA).

    2000 aprovada a Lei 9985/2000, que cria o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC). As unidades de conservao do SNUC dividem-se em dois grupos, com caractersticas especficas:I - Unidades de Proteo Integral,

    cujo objetivo bsico preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais.II - Unidades de Uso Sustentvel,

    com o objetivo de compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos naturais.

    2006 Resoluo 369 do CONAMA estabelece excees autorizando a supresso da vegetao nativa de reas de Preservao Permanente e reas de Preservao Ambiental: casos de utilidade pblica e relevante interesse social (regularizao

    explorao do territrio:

    1989 Aps enchentes devastadoras no Vale do Itaja (SC), o Congresso Nacional aprovou a Lei 7.803, que aumenta o tamanho das faixas de terra ao longo dos rios que no devem ser ocupadas, e determina a averbao da Reserva Legal na matrcula do imvel para evitar a sua diviso.

    1996 O Brasil registra o maior ndice de desmatamento da Amaznia e o ento presidente Fernando Henrique Cardoso edita a Medida Provisria 1.511, aumentando a Reserva Legal nas reas de Floresta Amaznica para 80%.

    1998 aprovada a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/1998), que estabelece sanes penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Ela define, por exemplo, que destruir ou danificar floresta considerada de preservao permanente, mesmo que em formao, ou utiliz-la com infringncia das normas de proteo, pode resultar em uma pena de deteno de um a trs anos. Quem causar poluio de qualquer natureza em nveis que resultem em danos sade humana ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruio significativa da flora pode ser preso por at quatro anos. Depois da lei, a fiscalizao no campo

  • Cdigo Florestal

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    ambiental de reas urbanas) e baixo impacto (pequenas vias de acesso interno; instalaes para captao de gua; corredor de acesso de pessoas e animais para obteno de gua; trilhas para ecoturismo; rampa para barcos e pequeno ancoradouro; moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e populaes tradicionais; cercas de divisa e plantio de espcies nativas produtoras de frutos, sementes e castanhas).

    2008 Um conjunto de medidas voltadas a fazer valer o que diz o

    Cdigo Florestal foi editado pelo governo federal, incluindo a restrio de financiamento bancrio para fazendas que no tivessem seu passivo ambiental regularizado. O Decreto 6514, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, definiu como prazo para a averbao da Reserva Legal o dia 22 de janeiro de 2009.

    2010 Resoluo 425 do CONAMA dispe sobre critrios para a caracterizao de atividades e empreendimentos agropecurios sustentveis para fins de interveno e recuperao de APPs.

    Por que resolveram mudar o Cdigo Florestal agora

    Uma das medidas de proteo adotadas com as mudanas na legislao ambiental brasileira foi a determinao de que a rea de Reserva Legal de cada propriedade deveria ser averbada, ou seja, registrada em cartrio. A partir de ento, deveria ser preservada e seu uso no poderia mais ser alterado. Caso esta rea j tenha sido devastada, caberia ao proprietrio recomp-la, plantando novas rvores na regio.

    O Decreto 6514 de 2008 definiu como prazo para a averbao da Reserva Legal o dia 22 de janeiro de 2009. Os proprietrios que no registrassem a rea de Reserva Legal de suas propriedades at ento estariam sujeitos a multas de R$ 50,00 a R$

    500,00 por hectare. Ou seja, a partir de 2009, a legislao de proteo ambiental estaria regulamentada e dotada de capacidade de multar os proprietrios que no a respeitassem.

    Mas este prazo foi prorrogado duas vezes e, atravs do decreto 7029 de 2009, estendido at o dia 11 de junho de 2011. Desta data em diante, os proprietrios que no tiverem registrado e preservado ou recomposto a rea de Reserva Legal de suas terras podero se tornar irregulares, sendo multados e perdendo acesso a benefcios governamentais e incentivos fiscais. isso o que est de fato em jogo.

    Os defensores das mudanas no atual Cdigo Florestal alegam que, com a entrada em vigor desta regra,

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    As reas de Preservao Permanente (APPs) e as Reservas Legais (RL) esto no centro do debate em torno do cdigo florestal. Apesar de ambas se referirem a reas de proteo, no cumprem a mesma funo. Por isso mesmo, a atual legislao limita a sobreposio dessas reas s situaes em que a soma da APP e da RL ultrapasse 80% da propriedade na Amaznia Legal, 50% nas demais regies do pas e 25% nas pequenas propriedades rurais. Entender a especificidade de cada uma importante para a discusso em torno das medidas propostas pelo relatrio.

    a imensa maioria dos pequenos produtores estaria na ilegalidade. No entanto, uma pesquisa da Escola de Engenharia de So Carlos (EESC/USP) mostra, por exemplo, que 80% da rea que deveria ser averbada - e que pode ser considerada ilegal - no estado de So Paulo encontra-se em mdias e grandes propriedades.

    Alm disso, como veremos adiante, o prprio Cdigo Florestal oferece uma srie de alternativas para aqueles que, de fato, pretendem recompor suas reas devastadas.

    Ou seja, so os grandes proprietrios de terra que querem fugir da obrigao legal de registrar e preservar a Reserva Legal. Vem da a pressa em se votar uma proposta de novo Cdigo Florestal, que diminua as Reservas Legais e reas de Preservao Permanente em cada propriedade. Ao contrrio do que se espera daqueles que deveriam defender o interesse pblico, o relatrio defende mudanas na lei

    para no para reverter a ilegalidade, mas para reforar e legitimar prticas predatrias e anistiar aqueles que at hoje ignoraram o Cdigo Florestal Brasileiro.

    O que uma APP e qual sua funo

    No Cdigo Florestal Brasileiro, chama-se rea de Preservao Permanente a rea coberta ou no por vegetao nativa que tem a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, o solo e assegurar o bem estar das populaes

    Topo de morro

    + de 45 de declividade

    Mnimo de 30 mcada margem

  • Cdigo Florestal

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    Segundo o Cdigo Florestal Brasileiro, a Reserva Legal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas. Trata-se, portanto, de uma rea de vegetao nativa dentro de uma propriedade rural que deve ser preservada, sem desmatamento.

    De acordo com a legislao atual, incluindo as resolues do CONAMA implementadas a partir de 2002, a

    O que a Reserva Legal e qual a sua funo

    rea correspondente Reserva Legal deve ser de, no mnimo, 80% da propriedade rural situada em rea de floresta localizada na Amaznia legal, 35% nas propriedades sem rea de cerrado localizada na Amaznia legal; 25% para reas de floresta ou outras formas de vegetao nativa localizada nas demais regies do pas; e 20% para as propriedades com campos gerais

    Reservas Legais (RL)

    humanas. Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente, consideram-se APPs as florestas e demais formas de vegetao natural situadas ao longo dos rios ou de outro qualquer curso dgua; ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua, naturais ou artificiais; no topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45; nas

    restingas, como fixadoras e dunas ou estabilizadoras de mangues. No caso dos rios com menos de 10 metros de largura, a APP deve ser de 30 metros em cada margem, crescendo de forma proporcional largura do curso dgua. As APPs no so exclusivamente rurais. As reas urbanas tambm devem respeitar, na formulao de seus Planos Diretores, os limites de proteo definidos pelo Cdigo Florestal.

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    localizada em qualquer regio do pas. Alm de garantir a biodiversidade,

    as Reservas Legais tambm contribuem para a manuteno do equilbrio climtico e ecolgico, com o controle natural de pragas, a polinizao, a umidificao, a proteo contra o vento e oferta de abrigo para fauna, possibilitando a realizao dos processos ecolgicos; evitam o isolamento de fragmentos florestais e a carncia de reserva de madeira manejvel; reduzem

    o impacto sobre a paisagem; valorizam a propriedade e tem um valor inestimvel para a prpria agricultura.

    Segundo a Sociedade Brasileira de Pesquisa Cientfica, a preservao dessas reas como servio ambiental possibilitaria inclusive um aumento na produtividade agrcola. Nas plantaes de soja, por exemplo, a produo poderia ser at 50% maior com a ajuda da polinizao. Nas de caf, 40%; de laranja, 35%.

    As ameaas das mudanas propostas ao Cdigo Florestal

    Apesar de levantar argumentos pretensamente em favor dos pequenos proprietrios e do desenvolvimento nacional, o relatrio Aldo Rebelo expressa um conjunto de conceitos, vises de mundo e esquemas de ordenamento territorial e gesto ambiental claramente pr agronegcio.

    Destacamos aqui algumas das principais medidas defendidas pelo relatrio e suas possveis conseqncias para a preservao do meio ambiente:

    1. Reduo dAs ReAs de PReseRvAo PeRmAnente

    1.1. Restrio das reas definidas como APPs

    O relatrio exclui deste conceito os topos de morros, montes, montanhas

    e as reas com altitude superior a 1800 m, a menos que os estados assim o definam. A justificativa dada proteger as plantaes de espcies lenhosas, como o caf em Minas Gerais e a ma e a uva na regio Sul. J em nome dos interesses dos plantadores de arroz, o relatrio tambm retira as vrzeas das reas de Preservao Permanente. Estudo realizado em cinco municpios produtores de tais espcies revelou, no entanto, que o impacto do respeito aos limites das APPs muito baixo na produo agrcola analisada. Menos de 5% da produo atual est localizada em APPs de hidrografia ou declividade. Ou seja, a partir da exceo, o relatrio permite que todas essas reas sejam invadidas e degradadas. A proposta de Aldo Rebelo tambm exclui o Pantanal das APPs. Como o bioma no est

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    includo em nenhuma outra categoria protegida, passa a ser rea de risco de devastao.

    Nas negociaes com a bancada ruralista, o governo federal tambm concordou em retirar as APPs urbanas do relatrio do novo Cdigo Florestal. uma medida ainda mais irresponsvel, pois acaba com a proteo a reas de risco nas cidades, aumentando as possibilidades de tragdias ambientais urbanas.

    1.2. Reduo das matas ciliaresAo longo das negociaes em torno

    do relatrio do novo Cdigo, a bancada ruralista chegou a propor a reduo das matas ciliares - reas no entorno das margens dos rios que devem ser preservadas sem edificaes - para apenas 7,5m no caso de rios com at 5m de largura, que so a maioria. Vale lembrar que todo rio mdio ou grande nasce pequeno, e que proteger as nascentes desses cursos dgua significa proteger a qualidade das guas como um todo, incluindo o abastecimento das cidades.

    Agora o relator aponta um recuo que no resolve o problema. Prope que culturas de todos os tipos como biocombustveis e leguminosas - e a criao de gado de grande porte, consideradas como de interesse social, sejam mantidas numa faixa de 15 metros das matas ciliares. Isso significa, desnecessariamente, manter atividades agropecurias onde no se deve, em vez de propor a

    recomposio desses territrios. Segundo a Agncia Nacional

    de guas (ANA), 30m a mnima proteo necessria para reduzir o assoreamento nos rios e reservatrios, o impacto de fertilizantes e agrotxicos e melhorar a quantidade e a qualidade das guas. O Programa Produtor de gua, da ANA, j paga ao agricultor cerca de R$150 por hectare/ano por servios ambientais de manuteno das APPs hdricas. Esse valor definido como o custo de oportunidade caso a rea estivesse desmatada e sendo utilizada como pastagem. Um hectare de APP hdrica equivale a 167 metros de margens de rio protegidas plenamente, com 30 metros de cada lado. Ou seja, para cada real/ano aplicado, um metro de margem de rio seria protegido.

    1.3 sobreposio de APPs e Reservas Legais

    Por possurem funes diferentes, as reas de Preservao Permanente e as Reservas Legais so contabilizadas separadamente em cada propriedade. Como dito anteriormente, a legislao atual prev apenas excees autorizando o computo conjunto APPs + Reservas Legais. o caso dos imveis rurais com at 150 hectares, cuja somatria mxima de APPs e RLs deve ser de 25% da rea da propriedade. O relatrio do novo Cdigo prope, no entanto, liberar a sobreposio das reas para o conjunto das

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    propriedades rurais.De acordo com o Ministrio Pblico

    Federal, se isso for autorizado, pelo menos 50% das atuais APPs podero perder o status de proteo, abrindo caminho para a legalizao da ocupao irresponsvel de amplas reas de encostas. O prejuzo ecolgico a mdio e longo prazo seria enorme. Infelizmente, o governo federal, submetido s presses do agronegcio, cedeu neste ponto e autorizou mudanas no computo das reas de preservao.2. dImInuIo dA ReseRvA LegAL

    2.1 Iseno para propriedades com menos de 4 mdulos fiscais

    Pelo relatrio, essas propriedades no precisariam mais recompor reas de Reserva Legal anteriormente desmatadas. Em regies como a Amaznia, 4 mdulos fiscais podem passar de 400 hectares. Ou seja, vigoraria a impunidade por derrubadas ilegais e o caminho para o desmatamento ficaria aberto nessas propriedades. Tal iseno dispensaria da Reserva Legal cerca de 90% de todas as propriedades rurais, com impacto sobre mais de 70 milhes de hectares. A medida tambm abre uma brecha para que propriedades maiores sejam artificialmente divididas e, assim, fiquem desobrigadas de proteger a Reserva Legal. Com a fragmentao, o clculo da Reserva Legal ser feito apenas com base no restante da rea da propriedade. Por

    exemplo: um imvel com 10 mdulos fiscais em MT ter a Reserva Legal calculada sobre 6 mdulos apenas, e no mais sobre a rea total.

    A simples aprovao do relatrio Aldo Rebelo na Comisso Especial que debateu o Cdigo Florestal na Cmara j levou a uma corrida dos proprietrios aos cartrios. A justificativa novamente ajudar o pequeno produtor, mas a medida beneficiar toda e qualquer propriedade de 4 mdulos, independentemente da condio econmica e social do proprietrio. Como veremos adiante, hoje o Cdigo Florestal define como pequena propriedade aquela que, entre outros fatores, responsvel pela subsistncia da famlia.

    2.2 Ampliao das regras de compensao

    Pelo Cdigo atual, a compensao de reas de Reserva Legal desmatadas deve ser feita no mesmo ecossistema e na mesma micro-bacia hidrogrfica da rea original. A compensao em outras condies s autorizada nos casos em que, comprovadamente, no mais possvel delimitar a Reserva Legal original de uma determinada propriedade. O relatrio permite que a compensao acontea em qualquer estado e at em outro bioma, o que atenta contra os objetivos originais da Reserva Legal: o uso sustentvel dos recursos naturais, a conservao e

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    realizao dos processos ecolgicos e a preservao da biodiversidade.

    A medida tambm altera o princpio da equivalncia ecolgica e atenta contra o pacto federativo. O relatrio tambm prev que, havendo medida compensatria, o proprietrio pode suprimir a vegetao de qualquer rea, mesmo que essa abrigue espcies de flora ou fauna ameaada de extino.

    Segundo o Ministrio Pblico, com a modificao, um conjunto de proprietrios canavieiros, por exemplo, estaria autorizado a alterar ecologicamente toda a extenso territorial da parcela do Bioma Mata Atlntica pertencente regio de Ribeiro Preto (SP), substituindo as espcies florestais nativas de APP e Reserva Legal por plantaes de cana-de-acar, e fazer a compensao na Amaznia, o que inviabilizaria a biodiversidade nativa.

    3. desCentRALIzAo AdmInIstRAtIvA AmbIentAL e FLexIbILIzAo dA LegIsLAo

    Outra mudana proposta no relatrio dar autonomia aos Estados e Municpios para que eles prprios decidam os parmetros mnimos de proteo e precauo ambiental em seus territrios. A medida gera distores significativas no conjunto da legislao ambiental nacional, construda principalmente a partir dos biomas ambientais, e no das fronteiras administrativas entre os

    estados. Com a mudana, determinado bioma poderia ter um tipo de proteo num estado e outro, no estado vizinho. O mesmo vale para os rios que cruzam fronteiras estaduais. A medida desqualifica as avaliaes ambientais tcnicas e universais e transforma a gesto do espao em um conceito de ocasio regional.

    A proposta tambm pode levar a uma corrida fiscal ambiental, onde Estados ofeream melhores condies de desmatamento com o objetivo de atrair empresas para suas regies. Uma legislao de mbito estadual tambm est mais suscetvel a presses polticas e econmicas de segmentos locais (fazendeiros e especulao imobiliria), com enormes prejuzos ao meio ambiente e a toda a sociedade.

    Desconsiderando a tragdia ocorrida em 2008, Santa Catarina aprovou um Cdigo Florestal Estadual reduzindo restries para desmatamentos em relao lei nacional. O Cdigo catarinense j est sendo contestado no Supremo Tribunal Federal.

    4. AnIstIA Aos desmAtAdoResO relatrio do novo Cdigo Florestal

    cria o Programa de Regularizao Ambiental (PRA), anistiando os imveis que tiveram reas desmatadas antes de 22 de julho de 2008. A data se refere publicao do Decreto 6514/08, que regulamentou a Lei de Crimes Ambientais de 1998. Qualquer derrubada antes desta data, portanto,

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    estaria perdoada. Tambm ficam suspensas as cobranas de multas decorrentes de infraes cometidas at julho de 2008 e assegurada a manuteno das atividades agropecurias estabelecidas at esta data em reas de APPs e Reservas Legais. A concesso de anistia queles que descumpriram a legislao ambiental uma medida antipedaggica, que isenta de aes criminais, cveis e administrativas os responsveis pela degradao ambiental, antes e depois da aprovada da Lei de Crimes Ambientais.

    Desde que a possibilidade de anistia foi anunciada, por exemplo, pararam as averbaes de terras desde 2008; o desmatamento no estado do Amazonas cresceu trs vezes em 2010 em relao a 2009; e polticas pblicas de fomento, crdito, assistncia tcnica e comercializao, antes construdas em dilogo com o governo, foram paralisadas.

    Vale ressaltar que o atual Cdigo Florestal prev um processo gradual para a adequao das propriedades aos parmetros de preservao estabelecidos. O proprietrio de imvel rural com rea de floresta nativa, natural ou primitiva com extenso inferior ao estabelecido no Cdigo tem diferentes alternativas para recompor a rea devastada. possvel:

    I - recompor a Reserva Legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada trs anos, de no mnimo

    1/10 da rea total necessria sua complementao;

    II - onduzir a regenerao natural da Reserva Legal; e

    III - compensar a Reserva Legal por outra rea equivalente em importncia ecolgica e extenso, desde que pertena ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia.

    Ou seja, o Cdigo Florestal atual no intransigente. Mas o relatrio Aldo Rebelo prefere ignorar tais alternativas e inverter a lgica do princpio da funo social da propriedade e da reparao do dano ambiental causado. Em vez de estimular a recomposio das reas devastadas, ele anistia os desmatadores e consolida reas ocupadas irregularmente. O relatrio ainda prev que o Poder Pblico instituir medidas indutoras para a preservao voluntria de vegetao nativa, recuperao de APP, Reservas Legais e reas degradadas; e manter programas de pagamento por servios ambientais em razo da captura e reteno de carbono, proteo da biodiversidade, proteo hdrica, beleza cnica, etc. Ou seja, o que era obrigao do priorietrio passa a ser obrigao apenas do Estado. fundamental que o Estado desempenhe um papel pedaggico, de educao ambiental, e incentivador da preservao, sobretudo para os pequenos produtores. Mas os proprietrios tambm tem sua obrigao.

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    Aumento da produo agrcola: uma justificativa descabida

    Para justificar as alteraes propostas no Cdigo Florestal e defender mudanas na legislao ambiental brasileira que, caso aprovadas, levaro o pas a cometer um enorme retrocesso em termos de proteo do meio ambiente, o relator parte de uma premissa equivocada: a de que seria necessrio ocupar todas as reas agricultveis do territrio nacional inclusive as de Reserva Legal e de APPs para garantir a competio agrcola e a produo de alimentos para todos os brasileiros. Inmeras pesquisas demonstram, no entanto, que h terras disponveis suficientes para se elevar a produo agrcola sem que seja necessrio aumentar o desmatamento. Ou seja, no preciso enfraquecer a atual lei ambiental para garantir o desenvolvimento da agricultura no nacional.

    Segundo o professor do departamento de solos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de So

    Paulo, Gerd Sparovek, mesmo com a aplicao de todas as regras institudas pelo atual Cdigo Florestal, ainda sobrariam 104 milhes de hectares de florestas nativas em reas particulares que poderiam ser utilizados para produo agrcola. A rea equivale

    a quatro vezes o estado de So Paulo. somente nas

    reas degradadas - terrenos j modificados, em sua maioria pastos - h terra frtil suficiente para dobrar a atual produo

    de gros no brasil: 60 milhes

    de hectares. Ou seja, nas vastas reas

    disponveis, a associao de tecnologia com manejo agrcola sustentvel e melhor aproveitamento das culturas j implantadas nos do garantia de segurana de produo agrcola, sem necessidade de afrouxar a proteo ambiental. Para os ruralistas, aqueles que so contra mudanas no Cdigo Florestal querem impedir o Brasil de ampliar suas fronteiras agrcolas e, assim, manter sua competitividade no mercado exterior. O relatrio chega

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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    Dois modelos agrcolas em disputa

    Na verdade, o que est por trs da defesa dos pequenos produtores agrcolas empregada no relatrio a resposta, h tanto tempo solicitada pela bancada ruralista no Congresso Nacional, para as exigncias de flexibilizao das leis feitas pelo agronegcio exportador de commodities. Trata-se da mesma bancada que, financiada ou ela prpria integrada por grandes proprietrios de terra, contra a aprovao da PEC do trabalho escravo e promove ataques sistemticos ao meio ambiente e ao Cdigo Florestal. No relatrio proposto, so os grandes proprietrios falando em nome dos pequenos e colocando o Brasil no rumo do atraso e da devastao.

    O modelo do agronegcio defendido no relatrio um modelo de desenvolvimento rural que atende a uma poltica agrcola e agrria insustentvel social e ambientalmente. E que tem como eixo central a devastao das florestas, a contaminao das guas e solos, a eroso, salinizao e desertificao, e o uso excessivo de agrotxicos. uma

    poltica que emite mais gazes de efeito estufa, gera menos empregos e, em matria de produo agrcola para o pas, no fica frente dos pequenos produtores. A questo que, como o Brasil virou um grande exportador de commodities, com pouco valor agregado mas em alta no mercado externo, o agronegcio ganhou legitimidade na cpula do poder ao trazer divisas para o pas pagar os juros da dvida pblica.

    Mas os beneficirios deste modelo so poucos: os grandes exportadores, que agem pelo lucro e as indstrias monopolistas de sementes, fertilizantes e agrotxicos. Basta lembrar o episdio recente da alta do preo da carne. Com a valorizao do produto no mercado externo, os exportadores brasileiros giraram sua produo para a exportao, levanto ao aumento do preo da carne dentro do Brasil. Ou seja, o que vale o lucro e no uma viso do papel da exportao para o mercado interno. Na verdade, so os pequenos produtores os verdadeiros responsveis pelos alimentos que chegam s mesas dos

    ao ponto de comparar a invaso holandesa e a vinda de Maurcio de Nassau para o Brasil na poca da colonizao com o financiamento, por organizaes holandesas, de ONGs ambientalistas que defendem

    o Cdigo atual. No entanto, quem historicamente se ajoelhou cartilha da Organizao Mundial do Comrcio foram os grandes partidos polticos que, agora, defendem as mudanas no Cdigo Florestal.

  • Cdigo Florestal

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    Agropecuria Pequeno produtor

    PIb 25% 21%

    Pessoal empregado 10% 26%

    emisso de carbono 70% 3%

    terras degradadas 70% 4%

    Ativos nobres no sim

    Incentivo pblico Crdito muito forte Crdito muito fraco

    terras griladas 80% -

    IndICAdoRes ComPARAtIvos de AtIvIdAdes RuRAIs nA AmAznIA

    Fonte: pesquisa do Ncleo de Altos Estudos Amaznicos (NAEA) da UFPA, apresentada pelo professor Francisco Costa na Comisso Especial do Cdigo Florestal em dezembro 2009, Braslia.

    brasileiros e brasileiras.O desafio consiste em aproveitar

    economicamente os recursos florestais aliando a conservao, o conhecimento e as potencialidades da tecnologia e da biodiversidade.

    Um processo desse porte no pode ser desenvolvido com base em uma legislao que anistia desmatamentos em reas protegidas por lei. A preservao da vegetao nativa, com suas funes ambientais, gera mais valor do que determinadas produes. Manter uma vegetao nativa em mata ciliar algo muito mais valorizado do que derrubar esta rea para plantar um roado de milho na beira do rio, assoreando o mesmo, acabando com a flora e a fauna, com a polinizao das espcies

    e o filtro contra o envenenamento das guas. Da a importncia de o governo auxiliar o pequeno produtor com compensao para sua sobrevivncia e desenvolvimento para a agricultura com crdito, assistncia tcnica e outros estmulos.

    Diante da atual crise ambiental global e suas crescentes conseqncias sobre os recursos naturais, preciso, atravs do conhecimento de um novo saber ambiental, mudar a cultura poltica em vigor e promover o desenvolvimento tecnolgico e o bem estar da humanidade em um ambiente saudvel. Tudo isso pe em xeque a viso economicista e imediatista presente no relatrio que est para ser votado.

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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    O que significa pequena propriedade

    Em meio disputa ideolgica em torno das mudanas do Cdigo Florestal, importante precisar inclusive o conceito de pequeno produtor que vem sendo utilizado pelo relatrio. Quando a bancada ruralista utiliza a medida de 4 mdulos fiscais, como se falasse de pequenas propriedades, sendo que, a depender da regio, 4 mdulos podem significar at 400 hectares. Para os defensores da mudana no Cdigo tambm no interessa a condio econmica e social do proprietrio.

    No entanto, segundo o Cdigo atual, pequena propriedade aquela explorada pelo trabalho pessoal do proprietrio e de sua famlia, admitida a ajuda eventual de um terceiro, e cuja renda bruta seja proveniente, no mnimo, em 80 %, de atividade agroflorestal ou do extrativismo. A rea da propriedade tambm no pode ultrapassar:

    a) 150 hectares se ela estiver localizada nos estados do Acre, Par, Amazonas, Roraima, Rondnia, Amap e Mato Grosso e nas regies da chamada Amaznia Legal no Pantanal mato-grossense ou sulmato-grossense;

    b) 50 hectares, se localizada no polgono das secas ou a leste do Estado do Maranho;

    c) 330 hectares, se localizada em qualquer outra regio do pas.

    Esta pequena propriedade possui uma forma de trabalhar a natureza diferente da explorao degradante, baseada na reproduo social da famlia e no desenvolvimento regional sustentvel. A natureza presente nas unidades produtivas dos pequenos agricultores , portanto, fonte de alimentos, medicina, cultura e gerao de renda e deve ser utilizada de forma sustentvel pela agricultura familiar e camponesa.

    Para essas propriedades, o atual Cdigo Florestal j garante direitos especiais no que se refere aos limites de Reserva Legal e APPs. Elas podem computar como Reserva Legal, por exemplo, o plantio de rvores frutferas ornamentais ou industriais, composto por espcies exticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consrcio com espcies nativas. E, como j dito, podem sobrepor APPs e RL quando a soma das duas exceder 25% da rea da propriedade.

    A especificidade no tratamento da pequena propriedade rural voltada agricultura familiar tem respaldo na funo social que elas cumprem. Mesmo assim, a agricultura familiar ficou de fora do relatrio, cuja definio de pequena propriedade no se d conforme as caractersticas especficas da atividade, mas atravs da unidade mdulo rural ou mdulo fiscal.

  • Cdigo Florestal

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    Caso o relatrio Aldo Rebelo seja aprovado como est, somente a dispensa da recomposio de reas de Reserva Legal desmatadas em propriedades de at 4 mdulos fiscais liberar cerca de 70 milhes de hectares para o desmatamento. Segundo estudos da Embrapa, isso significa que 12,8 bilhes de toneladas de CO2, estocadas na Floresta Amaznica, sero jogadas na atmosfera, aumentando significativamente a emisso de gazes responsveis pelo efeito estufa e o aquecimento global.

    Riscos para o aquecimento global

    Para a bancada ruralista, o aquecimento do planeta no fruto da ao predatria do homem, e sim de um ciclo natural da Terra que, de tempos em tempos, passa por aquecimentos e resfriamentos. O que o agronegcio no conta que, em apenas cinco anos,

    o mundo perdeu 36 milhes de hectares de florestas e

    mais de 16 mil espcies de animais entraram na lista de

    risco de extino.A autorizao para novas

    derrubadas de rvores no Brasil e sua consequente emisso de CO2 na atmosfera contrariam a Poltica Nacional de Mudanas Climticas (Lei 12.187/2009), que define regras para o cumprimento do compromisso nacional voluntrio assumido pelo Brasil em Copenhague. O Artigo 12 da lei diz que o Brasil deve implementar aes de mitigao de emisses de gases de efeito estufa, com vistas a reduzir para uma faixa de 36,1 a 39% as emisses do pas projetadas at 2012. Mudar o Cdigo Florestal neste sentido significa, portanto, desrespeitar as metas assumidas pelo prprio governo federal.

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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    O resultado da negociao com o governo

    Nas ltimas semanas, o governo federal entrou em cena para defender mudanas no relatrio original, aprovado pela Comisso Especial do Cdigo Florestal. A preocupao maior da gesto Dilma, no entanto, no garantir a preservao do atual Cdigo, mas evitar desgastes internacionais diante do aumento do desmatamento que as mudanas pleiteadas traro. Dilma assumiu em sua campanha que no sancionaria nenhuma lei que autorizasse a derrubada de florestas, e o Brasil sediar no prximo ano uma conferncia internacional sobre meio ambiente, a Rio+20.

    No entanto, os pontos acordados at agora com o governo revelam que o governo j cedeu, ao permitir o computo das APPs e Reservas Legais, abrir mo da recomposio das reas j derrubadas e deixar inmeras brechas para que a fronteira agrcola avance sobre as rvores. A ltima verso do acordo entre governo federal e bancada ruralista mantm muitos pontos do relatrio original e at agrava em alguns aspectos o texto aprovado na Comisso Especial.

    O acordo retira a possibilidade de o Ministrio Pblico agir para estabelecer Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) com os proprietrios rurais em

    desconformidade com a legislao. Em vez de Termo de Ajustamento de Conduta, se fala agora de Termo de Adeso e Compromisso. Em relao s reas desmatadas irregularmente, que pela lei atual devem ser embargadas, o texto insere a palavra poder na atual obrigatoriedade de embargo. O acordo fragiliza ainda a proteo a terras indgenas e s unidades de conservao.

    O ponto de conflito entre governo e bancada ruralista, que adiou mais uma vez a votao do projeto, refere-se s chamadas reas consolidadas nas APPs. O agronegcio quer liberar essa consolidao para toda e qualquer atividade ou imvel em APPs. J o governo defende tratar a questo via decreto presidencial, a partir da anlise de cada caso individualmente. O PSOL contra a liberao das reas consolidadas, por entender que esta seria mais uma forma de anistia queles que violaram a lei ambiental.Um levantamento recente da imprensa revelou que 15 deputados e 3 senadores tem multas aplicadas pelo IBAMA e sero beneficirios pelas anistias propostas no novo Cdigo.

    Por isso, preciso seguir pressionando o governo para evitar a votao do novo Cdigo Florestal, que atenta contra qualquer viso de desenvolvimento sustentvel.

  • Cdigo Florestal

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    A urgncia de um processo participativo

    As discusses em torno da atualizao do Cdigo Florestal devem obrigatoriamente incorporar a ideia de sustentabilidade ambiental para o desenvolvimento socioeconmico. No h dvidas de que o tema complexo e merece ser melhor analisado.

    Caso as mudanas no Cdigo sejam aprovadas, o PSOL recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Na avaliao da Procuradora da Repblica em So Paulo Ana Cristina Bandeira Lins, h uma srie de princpios constitucionais que esto sendo rasgados com o projeto de mudana do Cdigo Florestal, como o princpio do no-retrocesso da legislao e o princpio da precauo. Com base neles, o PSOL mover uma Ao Direta de Inconstitucionalidade contra tais mudanas no Cdigo.

    Tambm defendemos a realizao de um referendo nacional sobre o novo Cdigo. O desenvolvimento sustentvel e a preservao da biodiversidade so problemas de todos. necessrio garantir um amplo e democrtico debate sobre o projeto, que trata de uma questo difusa, que interessa

    no apenas a uma corporao. Desta

    forma, a tramitao aodada do texto

    e o terrorismo feito para sua rpida votao respondem apenas a interesses imediatistas

    e significam, na prtica,

    uma negao do direito participao

    da populao em uma discusso da maior relevncia.

    A sociedade deve ento se mobilizar para ser ouvida e para que no se consume este grave retrocesso na legislao ambiental brasileira.

  • Mandato Ivan Valente PSOL/SP

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  • Escritrio em So Paulo: Rua dos Heliotrpios, 58 - Praa da rvore - SP (11) 5539-6204 e (11) 5081-7563 [email protected] em Braslia: Gabinete 716 Anexo IV (61) 3215-3716 / [email protected] www. ivanvalente.com.br www.twitter.com/dep_ ivanvalente

    DEPUTADO FEDERAL

    Esse caderno quer informar, denunciar e chamar a sociedade brasileira a dizer NO a estas mudanas no Cdigo Florestal. No queremos e no precisamos de reformas que fragilizem ainda mais as condies de vida em nosso pas e que priorizem mais uma vez o grande capital e a monocultura de exportao. No queremos deixar

    impunes aqueles que se acostumaram a descumprir sistematicamente a lei ambiental e a mud-la quando lhes convm, segundo seus prprios interesses.

    Mudanas no Cdigo Florestal devem caminhar no sentido de moderniz-lo e aperfeio-lo luz dos avanos cientficos acerca da preservao da natureza, da questo climtica e das funes institucionais das reas de Preservao Permanente e Reservas Legais; de ampliar a educao ambiental dos produtores e da populao em geral.

    Ivan Valente Deputado Federal PSOL/SP