a websÉrie como cÁpsula estilÍstica: os recursos expressivos comprimidos em uma webnarrativa...

A WEBSRIE COMO CPSULA ESTILSTICA: OS RECURSOS EXPRESSIVOS

COMPRIMIDOS EM UMA WEBNARRATIVA JUVENIL DE FICO CIENTFICA

Joo Paulo Lopes de Meira Hergesel1

Resumo:

Nesta pesquisa, procuramos investigar quais so as estratgias de estilo utilizadas na criao

de uma websrie brasileira juvenil de fico cientfica, usando como foco a sequncia inicial

da websrie Cpsula e tendo como objetivo o de detectar os fenmenos estilsticos da

linguagem audiovisual presentes no objeto. Para tanto, foram pesquisadas obras de autores

como Aeraphe (2013), Roche (2013), Vanoye e Goliot-Lt (2002), Suhamy (s/d) e Canclini

(2008). Dessa forma, chegamos ao resultado de que as imagens impressivas ou hipotticas, as

epizeuxes, as interrogaes e as reticncias so elementos predominantes na narrativa, bem

como o uso da cmera fixa e os cortes diretos so recursos usados com a finalidade de

aumentar o clima de desespero.

Palavras-chave: Narrativas. Websrie brasileira. Cultura juvenil. Comunicao juvenil.

Thalles Cabral.

1. Websrie, uma narrativa em cpsulas

Segundo Aeraphe (2013), aps ser mencionada pela primeira vez em um ensaio a

respeito das novas narrativas audiovisuais desenvolvido pelos pesquisadores espanhis Nuria

Romero e Fernando Centellas, a websrie teve seu conceito renovado na obra Cultura da

Convergncia, de Henry Jenkins, na qual os autores discorrem sobre a narrativa transmdia e

sua relevncia no mundo ps-moderno.

De forma simplificada, a websrie uma narrativa audiovisual composta por episdios

que so periodicamente lanados na internet e que podem ser acessados a qualquer momento

e por qualquer computador ou aparelho com acesso on-line ou seja, as websries nada

mais so do que a frmula clssica das sries televisivas aplicadas ao universo

multiplataforma da internet. (AERAPHE, 2013, p. 24).

1 Mestrando em Comunicao e Cultura e licenciado em Letras pela Universidade de Sorocaba. Docente do

Colgio Objetivo So Roque e administrador da Editora Jogo de Palavras. Dedica-se produo literria e

pesquisa na rea de Mdia e Juventude, com enfoque nos recursos estilsticos. Contato: [email protected].

9 Interprogramas de Mestrado em Comunicao da Faculdade Csper Lbero http://www.casperlibero.edu.br | [email protected]

Cpsula, por exemplo, uma websrie brasileira de fico cientfica idealizada por

Thalles Cabral na poca, 18 anos e aluno da Academia Internacional de Cinema numa

coproduo da Blas Filmes com a Inluzzio, entre setembro e dezembro de 2012. Alm de

criador, roteirista e diretor, Thalles tambm atua como protagonista, ao lado da tambm

adolescente Larissa Ribeiro. uma websrie feita por jovens e, sobretudo, para jovens.

Isso desperta ainda mais interesse, visto que, acompanhando Canclini (2008, p. 53), a

fala e a escrita dos jovens caracterizam-se por modulaes lingusticas compartilhadas,

apresentam cdigos estilsticos e de autorreconhecimento semelhantes, bem como a

comunicao juvenil caracteriza-se pelas formas que os adolescentes e jovens adultos

escolhem para decidir quando e onde ser acessveis, articular disponibilidade social e

intimidade e transmitir mensagens que no se animam a dizer cara a cara (p. 53).

Dividida em seis episdios, a websrie narra a histria de Pedro e Clara, jovens de 19

anos e estudantes universitrios ele, em Jornalismo; ela, em Direito. Ambos se submetem a

uma entrevista de emprego na agncia de publicidade Milnio, mas so estrategicamente

sequestrados pelos funcionrios que, na verdade, so enfermeiros e seguranas de um

laboratrio farmacutico.

Os dois ficam trancafiados em um cmodo, sendo espionados por uma cmera e

recebendo, esporadicamente, a visita de uma das enfermeiras, que lhes leva comprimidos para

a dor de cabea e tontura que passam a sentir. Sem saber, ambos se tornam cobaias de um

experimento que consiste em criar uma doena (Sndrome I.D.) responsvel por, entre tantos

sintomas, ocasionar uma crise de identidade.

A inteno do laboratrio farmacutico desenvolver um vrus infectocontagioso cuja

cura desconhecida; assim, podem lucrar com as vendas do medicamento Billium, que

promete resolver os problemas de crise de identidade, mas na verdade s alivia as dores e os

sangramentos. Em suma, o desfecho da narrativa trata-se de uma crtica visvel ao

capitalismo, em que o dinheiro mais relevante do que o prprio ser humano.

Assim, essa websrie, cumprindo o papel de uma boa narrativa de fico cientfica,

consegue nos mostrar um universo diferente [...], mesmo que faa com que a dvida surja a

ponto de no sabermos se o que est escrito realmente fico ou se passamos a acreditar que

a narrativa no uma realidade to distante. (ROCHE, 2013, p. 32-33).


A sociedade, da forma como apresentada, sintetiza um conjunto simples de

interaes humanas alocada nos padres pr-estabelecidos, concentrado em normas e valores.

Ainda compartilhando a viso de Roche (2013), aplica-se aqui a viso de Karl Marx, de uma

sociedade heterognea, composta por classes sociais que se mantm com base em ideologias

dos possuidores do poder de controle dos meios de produo, isto , as elites.

A narrativa em si faz uso do tempo psicolgico, abusando de flashbacks e mesclando

realidade e alucinao, para construir a histria. Alm disso, uma estratgia estilstica

interessante para despertar a curiosidade do espectador foi utilizar apenas uma frase de efeito

para criar a sinopse dos episdios (CPSULA, 2012):

1x01 Trancados (Piloto): Chegou a hora. A vida deles nunca mais ser a mesma.

1x02 Contato: As coisas esto piorando para Pedro e Clara.

1x03 Milnio: Eles no podem mais voltar atrs.

1x04 Seleo: Como tudo comeou...

1x05 Sndrome I.D.: Pedro e Clara tm um plano.

1x06 Dj vu: O efeito da Cpsula.

As frases de efeito, alm de aguarem o interesse do espectador e facilitar a leitura do

texto escrito verbal a brevidade um fator predominante das narrativas nos tempos atuais,

segundo Benjamim (1994) , funcionam como cpsulas, pores superdiminudas do enredo,

em que ficam comprimidas as principais informaes do respectivo episdio.

Ao utilizar a metalinguagem como funo estilstica na descrio dos vdeos, a

identidade da websrie reforada. Temos, portanto, a cpsula como assunto central da trama

(o remdio para amenizar os sintomas da doena criada em laboratrio), no cenrio (os

personagens ficam confinados em um pequeno cmodo) e tambm na parte externa (forma

utilizada ao resumir os episdios).

O elemento mais interessante desta websrie, alm da narrativa em si, o fato de ter

um jovem em sua produo. Como aluno do curso Filmworks, promovido pela Academia

Internacional de Cinema (AIC), Thalles Cabral assumiu o posto de criador (ao lado de Larissa

Ribeiro), roteirista, diretor, produtor e ator principal. Para compreender melhor a relao do

jovem como realizador de uma obra audiovisual, discutimos um pouco o processo de

produo dessa narrativa.


2. O jovem como produtor audiovisual, a representao de uma diversidade

A Comunicao entende por jovem todo aquele inserido na faixa etria de 15 a 24

anos de idade, grupo representado por cerca de 35 milhes de brasileiros (MATTOS, 2010),

em estimativa realizada no ano de 2010. A mdia tem concentrado crescente ateno dirigida

aos jovens nos ltimos anos, oferecendo-lhes produtos com contedos especficos e cada vez

mais segmentados, levando em conta a heterogeneidade desse grupo. (MATTOS, 2010,

p.135).

O jovem, por sua vez, tem deixado de ser apenas o alvo, a recepo, o consumidor, e

passou a agir como realizador, processador, criador de produtos miditicos (principalmente,

contedos na hipermdia), configurando um exemplo de diversidade. Uma amostragem desse

fenmeno a websrie Cpsula, cujo principal produtor, Thalles Cabral, tinha apenas 18 anos

durante o processo de criao.

Em entrevista cedida ao portal TeleSries (CARLOMAGNO, 2012), Thalles contou

que a ideia de Cpsula surgiu em 2011, quando Larissa Ribeiro (coautora) e ele se reuniram e

fizeram um brainstorming, registrando tudo que pensavam. Desejavam criar algo no gnero

suspense ou fico cientfica, por serem temas com os quais se identificavam.

Inspirado por Lost e Fringe, Thalles escreveu um episdio piloto cuja extenso

permitiu que, posteriormente, com o amadurecimento das ideias, esse original se derivasse

nos seis episdios da primeira temporada, sendo que cada um dos episdios passou por cerca

de trs tratamentos antes de chegarem verso final.

O trabalho de roteirizao durou cerca de seis meses e, ento, iniciou-se a pr-

produo da parte audiovisual, que levou aproximadamente duas semanas. Com uma equipe

formada por alunos de cinema da Fundao Armando Alvares Penteado (FAAP) e da

Academia Internacional de Cinema (AIC), a maior dificuldade encontrada foi o espao para

locao (sala vazia e sem janelas) problema solucionado poucos dias antes da data prevista

para o incio das gravaes.

Em entrevista prpria AIC, Thalles explicou que a websrie

Foi uma alternativa que encontrei por essa rea do audiovisual fazer parte de um

sistema muito restrito, no qual os iniciantes no tm chance. O primeiro episdio foi

lanado no dia 13 de setembro com o intuito de observar a repercusso que teria.

Como o retorno foi positivo, a websrie se solidificou e atraiu a ateno da Inluzzio


Produes que, em um contrato de coproduo com nosso selo Blas Filmes , topou bancar a primeira temporada completa de Cpsula, com seis episdios.

(ACADEMIA INTERNACIONAL DE CINEMA, 2013, p. 1).

Thalles tambm v as novas mdias como uma oportunidade a quem est comeando

no audiovisual: Tudo nesse universo da internet ainda incerto, o que timo. Temos isso a

nosso favor, ela ainda est sendo descoberta. E, alm disso, completamente acessvel, tanto

para assistir quanto para disponibilizar projetos na rede. Todos podem criar. (ACADEMIA

INTERNACIONAL DE CINEMA, 2013, p. 1).

Para esta pesquisa, Thalles Cabral ofereceu uma entrevista exclusiva (disponvel por

completa no endereo eletrnico: http://goo.gl/v7snjR), na qual revelou alguns aspectos

pensados durante a produo do roteiro e da parte audiovisual, propriamente dita: No final

de 2011, eu e Larissa Ribeiro, amiga e atriz, decidimos que iramos criar uma websrie.

Comeamos a fazer reunies, brainstormings e, a cada encontro, amos definindo algo sobre

o projeto. Alm disso, ainda comentou sobre o processo de interao com o pblico e das

expectativas atingidas, levando em considerao a recepo.

3. Destrancando a linguagem de Trancados, uma leitura estilstica do episdio

Aps a apresentao da parte tcnica da websrie Cpsula e da figura do jovem como

responsvel pela produo, apresentamos uma leitura do estilo aplicado na narrativa da

sequncia inicial do primeiro episdio (dos 0'06" aos 3'41"), levando em considerao os

estudos sobre linguagem cinematogrfica (VANOYE; GOLIOT-LT, 2002) e sobre

recursos estilsticos (SUHAMY, s/d).

Sequncia inicial do primeiro episdio de Cpsula: Clara e Pedro acordam na cpsula.

Durao da cena: 3'36". 24 planos.

Resumo da sequncia Clara acorda e percebe que est em um lugar desconhecido.

Tenta sair, mas percebe que a porta est trancada. Entra em desespero e percebe que h um

garoto (Pedro) com ela no cmodo. Pedro desperta, pergunta onde est e Clara diz que

tambm no sabe. Ele tenta abrir a porta sem sucesso e nota que est com uma pulseira de

identificao. Pergunta se Clara tambm tem uma. Ela entra novamente em desespero e

comea a esmurrar a porta e a pedir por socorro.


Descrio dos planos da sequncia Os planos curtos so focados em um nico

personagem, enquanto os planos longos direcionam a narrativa para o dilogo entre ambos.

Os planos mdios servem como recurso para apresentar a situao ao espectador de uma

forma no muito rpida, nem muito vagarosa, funcionando como forma de estabelecer um

contato de identificao, de criar um vnculo com o pblico.

PLANO 1 [0'06" 0'24"]. 19" (mdio)

Trilha de imagem Plano detalhe nos cabelos de Clara; movimento da cmera para a

direita, com foco embaado, enquadrando as sobrancelhas, os olhos fechados e o nariz;

movimento leve de cmera, captando a abertura dos olhos; foco ntido, apresentando a

movimentao dos globos oculares e o franzimento da testa; movimento da cmera para a

direita.

Trilha sonora Silncio total durante a introduo da cena. Som off: entrada de uma

msica de suspense.

Interpretaes estilsticas A opacidade da cmera, no incio, remete ao olhar

embaado da personagem, como quem acaba de acordar. O movimento dos olhos e o

franzimento da testa indicam o estranhamento por no reconhecer o lugar em que est. Em se

tratando de figuras de linguagem, podemos mencionar que h o uso de uma imagem

impressiva ou hipottica, aquelas responsveis por gerar uma ilustrao na mente do

espectador, sem que seja necessrio dizer objetivamente o que est acontecendo ou deixando

de acontecer.

PLANO 2 [0'25" 0'45"]. 21" (mdio)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara deitada sobre o lado esquerdo, vestindo

uma camiseta branca; movimentao dos braos para conseguir apoio no piso de madeira e

tentar se levantar; mos levadas cabea e testa franzida; Clara senta-se. Cmera fixa.

Trilha sonora Som in: suspiros ofegantes; contato da mo com o piso. Som off:

continuidade da msica de suspense.

Interpretaes estilsticas Os dedos apoiando a tmpora e o franzimento da testa

remetem a uma suposta dor de cabea. Novamente, h a presena de uma imagem impressiva

ou hipottica.


PLANO 3 [0'46" 0'54"]. 9" (mdio)

Trilha de imagem Plano detalhe na parte alta da porta cinza e metlica, revelando a

parede de tijolos vista ao redor; imagem embaada tornando-se ntida; movimentao de

cmera at centralizar a fechadura.

Trilha sonora Som fora de campo: suspiros ofegantes. Som off: continuidade da

msica de suspense.

PLANO 4 [0'55" 0'59"]. 5" (curto)

Trilha de imagem Plano de meio conjunto, apresentando (por trs) Clara sentada de

frente para a porta; o piso ocupa o maior espao no enquadramento. Cara, descala e com

cala comprida azul-escuro, levanta-se e corre at a porta. Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: continuidade da msica de suspense.

PLANO 5 [1'00" 1'07"]. 8" (curto)

Trilha de imagem Plano detalhe no brao direito de Clara e sua movimentao para

tentar abrir a porta; trs descidas na maaneta e um soco na porta com o punho direito; Clara

encosta-se na porta e vira o corpo. Cmera fixa.

Trilha sonora Som in: barulho da maaneta sendo forada; contato do punho com a

porta metlica; suspiros ofegantes; rudo da camiseta esfregada na porta. Som off:

continuidade da msica de suspense.

Interpretaes estilsticas A repetio no movimento de tentativa para abrir a

fechadura corresponde figura de linguagem chamada epizeuxe e tem a funo de enfatizar a

situao, ou seja, confirmar de forma mxima que a porta estava trancada e que no havia por

onde escapar.

PLANO 6 [1'08" 1'19"]. 12" (mdio)

Trilha de imagem Plano geral centralizando Clara encostada porta e com olhar

assustado; movimento da mo direita para afastar o cabelo do olho. Cmera fixa.

Trilha sonora Silncio. Som off: entrada de uma nova msica de suspense.


PLANO 7 [1'20" 1'38"]. 19" (mdio)

Trilha de imagem Plano de mdio contrapicado, aproximando a parte do ombro

direito de Pedro, ocupando a metade inferior do enquadramento, e distanciado, no canto

esquerdo, Clara encostada porta. Clara avana trs passos. Cmera fixa.


Interpretaes estilsticas A aproximao por parte de Clara, indicada pelos passos

sequenciais na direo do garoto, pode ser compreendida como uma gradao em clmax,

representando certa adrenalina ao avizinhar-se do alvo.

PLANO 8 [1'39" 1'57"]. 19" (mdio)

Trilha de imagem Plano mdio picado, enquadrando o cruzamento das paredes do

fundo e apresentando Pedro deitado sobre o lado direito com o brao direito sobre o abdmen;

no canto esquerdo inferior, parte da traseira da cabea de Clara. Pedro est trajando uma

roupa semelhante de Clara e tambm se encontra descalo. Clara avana um passo; Pedro

abre os olhos; Clara recua. Pedro observa o ambiente e se senta. Cmera fixa.


Interpretaes estilsticas Como no plano anterior, o passo adiante de Clara

representa um clmax, uma aproximao maior, enquanto o recuo caracteriza-se pelo

anticlmax, um afastamento do alvo.

PLANO 9 [1'58" 2'33"]. 36" (longo)

Trilha de imagem Plano americano, focalizando Pedro sentado na metade esquerda

do enquadramento; movimentao de cmera para acompanhar Pedro levantando-se; Pedro

exibido de perfil, no canto esquerdo (um sexto do enquadramento) com a sombra projetada na

parede. Pedro corre at a porta; a cmera acompanha; o rosto de Clara entra em cena; Pedro

fora a maaneta. Pedro vira-se para Clara, volta o corpo e d dois tapas na porta. A linha de

cruzamento das paredes divide a tela: Clara, esquerda, em plano prximo; Pedro, direita,

em plano mdio. Pedro olha novamente para Clara e chacoalha a cabea e os braos.

Trilha sonora Som off: instrumento de sopro. Som in: presena de dilogos; Pedro:

O que aconteceu?; Clara: T trancada.; barulho da maaneta sendo forada; Clara: T


trancada!; Pedro: Ah, mesmo?; dois tapas na porta metlica; Pedro: Desculpa. Eu...;

Clara: Tudo bem..

Interpretaes estilsticas A primeira fala acontece apenas com quase dois minutos

de vdeo, o que faz aumentar a tenso, devido ao silncio oral dos personagens. O dilogo faz

uso, principalmente de interrogaes (levantando questionamentos, dvidas), epizeuxes

(repetio com finalidade de enfatizar as informaes) e reticncias (frases incompletas). As

imagens tambm se utilizam das epizeuxes, no momento em que Pedro tenta abrir a porta, tal

como Clara j havia feito.

PLANO 10 [2'34" 2'37"]. 4" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo centralizando Pedro; a porta atrs e o interruptor

esquerda. Pedro observa o ambiente. Cmera fixa.


Que lugar esse?.

Interpretaes estilsticas Uso de outra interrogao.

PLANO 11 [2'38" 2'43"]. 6" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara de costas; Clara se vira e agita a cabea

para os lados. O cruzamento das paredes divide a tela: direita, Clara; esquerda, a sombra

produzida. Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: instrumento de sopro. Som in: presena de dilogos; Clara:

T no mesmo barco que voc..

Interpretaes estilsticas Uso de uma metfora desgastada, mas caracterstica da

linguagem juvenil.

PLANO 12 [2'44" 2'45"]. 2" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo centralizando Pedro; a porta atrs e o interruptor

esquerda. Pedro observa o ambiente. Cmera fixa.


Faz tempo que a gente t aqui?.



PLANO 13 [2'46" 2'57"]. 12" (mdio)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara. O cruzamento das paredes divide a

tela: direita, Clara; esquerda, a sombra produzida. Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: instrumento de sopro. Som in: presena de dilogos; Clara:

No sei! Eu... eu acordei um pouco antes que voc; respirao ofegante.

Interpretaes estilsticas Uso de outra reticncia.

PLANO 14 [2'58" 3'02"]. 5" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo centralizando Pedro; Pedro desvia o olhar e

encosta-se com seu lado direito na porta. Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: som de batidas.

PLANO 15 [3'03"]. 1" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo em Pedro encostado porta, observando a

pulseira que tem no brao direito.

Trilha sonora Som off: continuidade do som de batidas.

PLANO 16 [3'04" 3'08"]. 5" (curto)

Trilha de imagem Plano detalhe na pulseira do brao direito de Pedro; possvel

ler: FREITAS, Pedro. 47. MASC. AB+ inscrito em preto no fundo branco. Com o polegar e

o indicador esquerdos, Pedro toca a pulseira. Cmera fixa.


Interpretaes estilsticas A inscrio na pulseira, indicando o nome completo do

garoto (o sobrenome em caixa-alta seguido do primeiro nome em caixa-baixa, separados

apenas por uma vrgula, como em referncias bibliogrficas), o nmero do quarto em que ele

est, o gnero sexual e o tipo sanguneo, outro exemplo de imagem impressiva ou

hipottica, remetendo ao fato de que os dois adolescentes so provavelmente uma cobaia para

um possvel experimento.

PLANO 17 [3'09"]. 1" (curto)


Trilha de imagem Plano prximo em Pedro encostado porta, segurando a pulseira

e virando-se para sua esquerda. Cmera fixa.


PLANO 18 [3'10"]. 1" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo, centralizando Pedro, segurando a pulseira e

olhando para baixo. Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: continuidade do som de batidas. Som in: presena de

dilogos; Pedro: Voc tambm tem?.


PLANO 19 [3'11" 3'12"]. 2" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara, apresentando o franzimento de testa.

Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: continuidade do som de batidas. Som in: presena de

dilogos; Clara: Qu?.


PLANO 20 [3'13" 3'16"]. 4" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo, centralizando Pedro; Pedro levanta o brao

direito, olha para a frente (Clara fora de campo) e, em seguida, olha para a pulseira. Cmera

fixa.


PLANO 21 [3'17" 3'23"]. 7" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara; Clara olha para seu brao direito,

constata a presena da pulseira, segura-a com a mo esquerda e olha para a frente (Pedro fora

de campo). Cmera fixa.


PLANO 22 [3'24" 3'26"]. 3" (curto)


Trilha de imagem Plano prximo em Pedro, com olhar para a frente (Clara fora de

campo). Cmera fixa.


PLANO 23 [3'27" 3'31"]. 5" (curto)

Trilha de imagem Plano prximo em Clara, segurando a pulseira do brao direito

com a mo esquerda; corre para a frente (porta fora de campo). Cmera fixa.

Trilha sonora Som off: continuidade do som batido. Som in: suspiros ofegantes e

profundos; som dos passos pesados.

PLANO 24 [3'32" 3'41"]. 10" (mdio)

Trilha de imagem Plano americano, centralizando Pedro encostado porta; Clara

surge correndo, empurra-o e d um tapa na porta. Pedro apresentado de perfil, esquerda,

enquanto Clara d vrias batidas na porta com o punho direito. Travelling para a frente at as

costas de Clara e fade out para entrar a vinheta de abertura.

Trilha sonora Som off: continuidade do som batido. Som in: suspiros ofegantes;

tapas na porta; presena de dilogos; Clara: Socorro! Algum me ajuda! Socorro, algum me

ajuda! Algum!. Os gritos continuam at o incio da abertura (cena seguinte), colidindo com

a msica da vinheta.

Interpretaes estilsticas Uso de outras epizeuxes.

No foi possvel identificar exatamente cada elemento da trilha musical utilizado na

sequncia; porm, nos crditos finais, informado que todos os recursos sonoros possuem

licena Creative Commons (essa licena permite que outros distribuam, remixem, adaptem ou

criem obras derivadas, mesmo que para uso com fins comerciais, contanto que seja dado

crdito pela criao original, conforme informaes do site: http://creativecommons.org.br/).

So mencionados os seguintes autores: Bristol Stories, Chris Zabriskie, Dexter Britain, Larry

Austin, Suonho, Thanvannispen.


4. Para encerrar este momento...

Aps uma apresentao terica de diferentes temas abordados neste artigo quanto

criao de narrativas juvenis (feita para o jovem e pelo jovem), especialmente as brasileiras

de fico cientfica, e da parte prtica consistente em descrio e discusso da sequncia

inicial do primeiro episdio da websrie Cpsula, possvel abstrair ideias, at ento

conclusivas, derivada de trs pontos de vista: da Comunicao, da Cultura, do Cinema.

Do ponto de vista da Comunicao, temos o jovem como um sujeito em constante

dilogo com outros jovens, com outras mdias e, inclusive, com a fico. Ao termos a

comunicao como cincia criada para combater a angstia provinda da ideia de que a morte

a nica coisa certa na nossa vida (FLUSSER, 2008), o estilo juvenil de se comunicar, por

meio das narrativas na hipermdia, cumpre com o papel de entreter e criar novos vnculos

miditicos.

Do ponto de vista da Cultura, o jovem deixou de ser apenas um consumidor ou

coprodutor, em se falando de recriao pela interpretao (WOLFF, 1989) da linguagem

audiovisual e passou a ser realizador de narrativas do gnero, quebrando o senso comum de

que apenas cineastas especializados e com titulao so capazes de produzir uma obra com

contedo, criatividade e qualidade, caracterizando um novo estilo na cultura juvenil.

Do ponto de vista do Cinema, percebemos que o uso da cmera fixa e dos cortes secos

so recursos usados em praticamente todos os planos, com a finalidade de aumentar o clima

de desespero. Thalles Cabral confirma a inteno ao contar que no incio da temporada,

quando eles ainda esto presos na sala, a cmera est paralisada, os planos so duros. Tudo

isso para transparecer essa fobia, esse ambiente fechado, essa solido (entrevista disponvel

em: http://goo.gl/v7snjR).

Alm disso, levando em considerao os recursos estilsticos, notamos a presena

constante de imagens impressivas ou hipotticas (mesmo sem dizer objetivamente o que

ocorre com os personagens, os elementos presentes nas cenas permitem a interpretao),

epizeuxes (repeties constantes com o objetivo de enfatizar a situao), interrogaes

(destacando a dvida, o questionamento por estar em um local complemente estranho) e as

reticncias (indicando a incerteza das ideias).


Por fim, encerramos este pensamento como uma contribuio aos estudos de

Comunicao e Cultura, principalmente quanto a discusses sobre websries brasileiras

enquanto narrativas juvenis; a leitura estilstica como metodologia para pesquisa qualitativa; e

a interao juvenil sendo uma forma de diversidade que corrobora a viso de que o jovem

contemporneo no apenas um consumidor, e sim um realizador.

Referncias

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