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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
JOEL BRANCHINI FILHO A VISÃO DOS PROFESSORES SOBRE A RELAÇÃO
ENTRE CONCEITOS CIENTÍFICOS VEICULADOS NAS PROPAGANDAS TELEVISIVAS E O PROCESSO
ENSINO APRENDIZAGEM
São Paulo
2010
JOEL BRANCHINI FILHO
A VISÃO DOS PROFESSORES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE CONCEITOS CIENTÍFICOS VEICULADOS
NAS PROPAGANDAS TELEVISIVAS E O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como parte das atividades para a obtenção do título de licenciado em Biologia, sob a orientação do Professor Dr. Rinaldo Molina, no 6º semestre, turma B, da Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Orientador: Prof. Dr. Rinaldo Molina
São Paulo 2010
A minha namorada Sara que sempre esteve comigo nesta caminhada.
A meus pais e irmã que me apoiaram
em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
À Deus, criador de todo o universo, que me deu forças e me capacitou
para que este trabalho pudesse ser realizado.
Ao Ilustre Professor Dr. Rinaldo Molina, orientador deste trabalho, pela
dedicação, apoio e orientação durante esta realização.
Aos demais professores da Faculdade de Ciências Biológicas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie que muito contribuíram para o
meu desenvolvimento pessoal e, sobretudo, acadêmico.
Aos meus maravilhosos pais.
À minha irmã Fabiana, pessoa muito importante em minha vida e que
sempre esteve comigo.
As minhas avós Herminia e Maria Esther, pessoas tão diferentes, mas
com muito valor e que muito me ensinaram no decorrer dos anos.
A minha amiga, namorada e futura mulher Sara.
A meus amigos e colegas pelo suporte dado nas situações mais
complicadas e pela alegria compartilhada nos momentos felizes.
“A criança absorve fatos levados a ela pela
mídia e não pela escola." FREIRE E GUIMARÃES
RESUMO
Dada a influência da mídia no publico infanto-juvenil, a presente monografia tem
como foco principal abordar a visão dos professores sobre os conceitos científicos
vinculados nas publicidades televisivas. Esta investigação enfatiza que dentre os
programas televisivos é a propaganda aquela que mais se faz preocupante quando
destinada ao público menor, tendo em vista que é um público em formação e fácil de
ser enganado pelas investidas publicitárias. Com a intenção de verificar se os
professores reconhecem e atuam frente aos conceitos científicos veiculados nas
propagandas; foi desenvolvido e aplicado um questionário com questões abertas
para obtenção de dados em seis professores de Ciências e Biologia. A partir das
respostas fornecidas verificou-se que há conceitos científicos ligados às
propagandas televisivas que nem sempre são coerentes aqueles ensinados em sala
de aula. Dessa forma discute-se a importância do professor em educar o aluno e
apoiá-lo no desenvolvimento de um olhar critico sobre os meios de comunicação.
Palavras chave: Conceitos Científicos; Publicidade televisiva; Mídia; Ensino
aprendizagem.
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ABSTRACT
Given to the influence of media on children and teenagers, this monograph focused
primarily on addressing the teachers' view on scientific concepts bounded to
television advertisements. This research emphasizes that among TV programs the
advertising is the most disturbing when intended for younger audiences, considering
that it is a public on development and easily fooled by the advertising invested. With
the intention of verifying whether teachers recognize and act when facing scientific
concepts conveyed in advertisements; it was developed and applied a questionnaire
with open questions to gather data with six science and biology teachers. From the
answers provided it was verified that there are science concepts related to television
advertisements that are not always related to those taught in the classroom. Through
this it is discussed the importance of teachers in educating and supporting the
students on its development of a critical eye on the medias.
Keywords: Scientific Concepts; television advertising, media, teaching learning.
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SUMÁRIO
1 – Introdução........................................................................................8
2 – Referencial Teórico ........................................................................10
1.1 – A criança e o adolescente em face da publicidade ...........18
1.2 – Educar para um olhar critico...............................................20
3 – Procedimentos Metodológicos .......................................................24
4 – Análise ...........................................................................................27
5 – Considerações Finais ....................................................................34
6 – Referências Bibliográficas .............................................................36
7 - Anexo..............................................................................................40
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1- INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo averiguar se os
professores das áreas de ciência e biologia percebem que há conceitos científicos
veiculados nas publicidades televisivas e se estes divergem daqueles
conhecimentos ensinados em aula.
Tendo em vista que os meios de comunicação influenciam as pessoas, a
Revista do Professor (2006) afirma que os pensamentos das crianças e jovens
mudam drasticamente sob a influência das propagandas estimuladas pela televisão,
o mais poderoso e abrangente veículo de comunicação existente nos dias de hoje. O
impacto causado por esse meio de comunicação sobre a infância caracteriza-se por
mudanças de comportamento, no consumo de produtos veiculados pela TV e na
padronização de modelos e linguagens, sendo, o público infantil o mais visado na
sociedade de consumo contemporânea. Fator que desencadeia nosso interesse pelo
tema.
Para a apresentação desse estudo primeiramente situasse o assunto de
acordo com os referenciais teóricos utilizados, fazendo-se uma breve discussão
sobre a comunicação e os meios em massa, tendo como foco principal a
programação publicitária televisiva.
Posteriormente, discutir-se-á a influência de tais programações na formação
do público infantil e a necessidade da educação para os meios, sensibilizando o
aluno da não transparência da TV (MORAN 1991).
9
Na parte seguinte apresenta-se os procedimentos utilizados; encerrando-se
com a análise que, possibilitará o leitor tecer suas próprias conclusões a respeito do
tema, identificando se existe uma real influência dos conceitos científicos
apresentados nas propagandas televisivas, no modo de agir do público infantil.
10
2- REFERENCIAL TEÓRICO
Todos os seres desde que nascem possuem a necessidade de se comunicar.
Estudos demonstram que foi por meio dessa necessidade que a fala e a escrita
foram desenvolvidas.
Esta obrigação imprescindível de um indivíduo falar com o outro deu origem a
gemidos e grunhidos dos ancestrais comuns ao homem; que consecutivamente
evoluíram e juntos constituíram línguas para cada grupo em especial. Ainda é
possível notar essa necessidade nos achados em cavernas antigas, rabiscos e
desenhos (pinturas rupestres), pelos quais tribos se comunicavam.
Diferentes meios foram criados para que os indivíduos pudessem se
comunicar. Esses instrumentos criados nos ajudam a comunicarmos um com os
outros, nos auxiliam a receber ou transmitir informações.
Fazendo um salto no tempo os meios sofreram grandes avanços, de forma
que os homens passaram a se comunicar mesmo com longas distâncias, por
intermédio de cartas, telegrafia e telefonia.
A necessidade de se comunicar e transmitir informação ficou cada vez maior
e novos meios de comunicação foram descobertos, foi por meio desta necessidade
que surgiu os meios de comunicação em massa. Para Raboy (2006), estes meios de
comunicação funcionaram como mecanismos que permitiram a disseminação em
massa da informação.
11
Atualmente, os principais meios de comunicação em massa são: o rádio, a
televisão, o cinema e a internet, que são mídias que possuem um centro emissor e
uma multidão de receptores. A informação destes instrumentos é veiculada sem
nenhuma interação entre o locutor e os muitos que o ouvem.
É através dos meios de comunicação em massa que as diferentes pessoas
da sociedade recebem com muita rapidez informação, conhecimento, cultura e
divertimento. A recepção desses meios é, dentre outras, uma prática apreendida e
desempenhada pelas pessoas adultas, jovens e crianças no dia a dia (FUSARI,
1985).
Com o acelerado processo de globalização e urbanização, a maioria dos
adolescentes e crianças permanece por longos períodos do dia confinada em suas
casas e quartos, enquanto os pais trabalham fora. Desta forma, os meios de
comunicação (rádio, revista, computador, televisão, etc.) com os quais têm constante
contato passam a ser uma opção de entretenimento.
Nos dias de hoje, dentre esses meios de comunicação, é a televisão quem
concentra o maior poder de informação, levando-se em consideração o número de
pessoas atingidas simultaneamente a partir dos centros emissores e também a
acessibilidade do aparelho.
A TV não é considerada o meio de comunicação mais atualizado e rápido,
mas sem dúvida é o aparelho que mais está nos lares dos habitantes da sociedade,
já que alguns meios, como o computador não estão disponíveis para todos, pois
neste último caso é necessário um maior investimento financeiro para obter tal
produto.
Dentro deste contexto, neste trabalho em especial, focaremos os meios
televisivos dirigidos às crianças e jovens.
Moran (1991) entende que os meios de comunicação, principalmente a
televisão, exercem poderosa influência em nossa cultura. Esta reflete, recria e
difunde o que se torna importante socialmente. Além de exercerem esta influência,
12
esses meios, segundo Fusari (1985) possuem a finalidade de educar, entreter,
comunicar e apresentar aos telespectadores produtos a serem consumidos.
Um breve levantamento histórico feito por Pereira (2002) sobre a relação da
criança com a televisão no Brasil nos últimos cinqüenta anos revela que a
programação infantil veiculada na mídia televisiva era baseada apenas nos clássicos
literários, nos quais a criança era seduzida por esse objeto mágico, que inclusive
conversava com ela.
Informa ainda que uma primeira modificação em relação à criança e seu papel
com a televisão se deu nos anos sessenta, quando a criança deixou de ser
espectadora e passou a ser protagonista dos programas exibidos; num primeiro
momento apenas em programações infantis.
Posteriormente, já na década de oitenta, deixou de ser protagonista de
historinhas literárias ou de cunho artístico, passando a participar de animações e
gincanas, pelas quais a competição era instigada. Paralelamente a esse avanço da
relação entre a TV e criança, se cria um mercado de produtos veiculados aos
programas, que variam de bonecas e estampas em vestuários, até aparelhos
eletrônicos e produtos alimentícios.
A criança assiste televisão a todo o momento e os programas que são vistos
não são apenas infantis, mas envolvem todos os aspectos, podendo ser desenhos,
filmes, novelas e, consequentemente, as propagandas transmitidas entre a
programação.
Sendo a criança um grande espectador da televisão, as emissoras abertas
destinam parte de sua programação para atender ao público infanto-juvenil
(MESQUITA, 2008). Não haveria problema se as emissoras televisivas mostrassem
suas programações dentro do aspecto principal transcrito por Pereita (2006), qual
seja: “a educação é um dos fins do serviço televisivo e é segundo o Código Federal
a finalidade preferencial, sendo o caráter educativo necessário sempre que a TV
esteja orientada ao público infanto-juvenil” (p.81).
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Contudo, percebe-se que as emissoras utilizam determinadas artimanhas
para “enfeitiçar” e fazer com que o público mais jovem fique vislumbrado com tudo
aquilo que é apresentado a eles, principalmente quando está envolvido com
animações, bichinhos e pessoas famosas.
Para Leal (2006):
“A TV alcançou níveis de descompromisso com a qualidade da programação, afrontou a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente [...] passou longe dos ideais educativos [...] surge como um empreendimento comercial batizado dos interesses de empresas privadas frentes a uma expansão de negócios”. (p.10)
Há um problema ainda maior que este, para Doghie (2008), os meios de
comunicação exercem grande influência sobre os sujeitos, sendo que estes passam
a acreditar e a depositar certa fé no que é apresentado pelas TVs, passando a
organizar suas condutas e vivências a partir dessa imagem produzida.
Uma consequência do problema citado acima é que determinadas crianças e
jovens estão se acomodando em relação àquilo que é veiculado pela mídia, já não
há uma racionalidade ou busca por determinados assuntos. Muitos dos saberes dos
jovens e crianças se formam pela mídia áudio-visual, em que a informação precede
de modo direto, imediato e intuitivo (DIEUZEID, 1973).
O adulto significava para a criança uma referência para busca de resposta às
suas indagações, entretanto com a maciça presença da televisão na vida cotidiana,
esse quadro se modificou, já que a televisão aborda quase todos os temas,
oferecendo respostas às perguntas que nem chegaram a ser feitas (PEREIRA,
2002).
Para Pereira (2002) essa geração moderna vai em busca de conhecimento,
aprendizagem e respostas, a TV como é a mais popular mídia acaba assumindo um
papel fundamental na formação intelectual, na produção de conhecimento, entre
outras áreas transformando-se em referência.
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Hoje a TV tem sido objeto de muita discussão a respeito do seu papel na
sociedade, sabe-se que há programas educativos que são importantes e relevantes
para o desenvolvimento da criança, entretanto há muita influência negativa da
programação veiculada. Mesquita (2008) diz que a TV é culpada por muitos males e
cita principalmente aqueles que influenciam na violência, apatia e consumismo.
Dentre os muitos programas veiculados na televisão o que mais preocupa é a
propaganda. A publicidade possui um grande espaço na programação e está a todo
o momento tentando buscar situações e meios para atrair os consumidores, já que
são muitas as artimanhas publicitárias para atrair o público.
Para Bucht (2002) a maioria da publicidade está enquadrada nas
propagandas, que são caracterizadas por poderosas forças que exercem influência
sobre a mídia audiovisual.
A partir de um seminário que aconteceu na Dinamarca em 2009, Catharine
Bhucht em seu livro “a criança e a midia” (2002) apontou os principais tópicos
levantados no evento em relação a publicidade dirigida às crianças pela televisão.
Duas visões bem distintas surgiram durante a discussão descrita pela autora.
Um determinado grupo era favorável à propaganda dirigida à criança, dizendo
que embora as crianças estejam em formação, elas não são tão ingênuas e a
propaganda faz parte da vida de todas, de forma que é necessário saber lidar com
ela.
Outra idéia era que as emissoras necessitam da propaganda direcionada para
a criança para produzir programas infantis. Outros aspectos apontados pelos
defensores da propaganda são que a propaganda é boa para a criança, pois
beneficia e informa como o mundo funciona e ainda, a propaganda dirigida à criança
contribuiria para a existência de uma indústria televisiva livre e independente.
Já o outro grupo, não favorável, acredita que a propaganda não tem uma boa
programação para o grupo jovem e infantil, pois muitas das vezes as crianças não
conseguem distinguir e entender a realidade da investida publicitária.
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Nesta perspectiva é possível notar que a publicidade acabou aderindo à
lógica do mercado, fazendo, então um caminho para o consumo, abrindo cada vez
mais a mão para a reflexão do mundo em prol da incessante busca da mercadoria.
Nesta idéia de publicidade, Pereira (2002) infere que as propagandas acabam
criando uma outra sociedade, na qual todos são felizes, a vida tem mais cor é
consequentemente é mais bonita.
Em sua obra “Infância, televisão e publicidade”, a mesma autora exemplifica a
situação fazendo uso de uma citação de Rocha (apud PEREIRA, 2002), por esta:
“Somente este universo mágico é capaz de unir sucesso e cigarro, ecologia e
conjunto habitacional, margarina e saúde infantil, batom e beleza do eterno feminino”
(p. 91).
A publicidade cria um estereótipo de mundo fictício e faz com que o seu
público fique cada vez mais atraído com os produtos apresentados, tendo em vista
que os adultos já possuem certa formação intelectual. A investida publicitária se
utiliza do público mais jovem como principal consumidor do produto.
Moran (1991) faz uma análise sobre a programação publicitária e informa que
as crianças e os jovens são os preferidos da publicidade, já que seguram a
audiência da TV por longas horas do dia e porque são dentro de uma família os
acionadores da compra (eles compram e influenciam na hora das aquisições).
No documentário Criança a Alma do Negocio (2006) há depoimentos de mães
que mostram suas insatisfações sobre a programação dirigida à criança e também
sobre a quantidade de produtos objetos de compra, que são escolhidos por seus
filhos. Assim, eles acabam influenciando dentro do lar no que comer, no que usar,
entre outras coisas.
As propagandas estão apresentando ao consumidor produtos que vão de
alimentos até eletrodomésticos, como citado anteriormente, os publicitários utilizam
bonecos, personagens infantis e famosos para atrair o público infantil.
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Sendo a criança, a grande influenciadora de compra no lar, os publicitários
utilizam os personagens para apresentar os produtos à criança, muitas das vezes
esses produtos não são para elas, mas a intenção é que essas influenciem seus
pais a adquirir determinada mercadoria.
Um determinado grupo chamado CONAR (conselho nacional de
autorregulação publicitária) tem hoje no Brasil a responsabilidade de fiscalizar as
propagandas que utilizam artimanhas desnecessárias e abusivas de acordo com as
leis.
É um grupo formado por publicitários e profissionais de outras áreas numa
organização não – governamental que defende a população da publicidade de
acordo com as constituições da propaganda comercial
Um exemplo a ser dado de propaganda dirigida ao público adulto, que teve a
veiculação proibida pelo CONAR é a de que determinada marca de bebida alcoólica
utiliza de personagens infantis como o papa-léguas, além de um ambiente todo
infantil por trás do produto.
No Brasil há órgãos que vistoriam propagandas, entretanto isso se faz há
pouco tempo, Moran (1991) mostra a realidade da publicidade nos países:
A maior parte dos países permite que a publicidade sustente os meios de comunicação. Mesmo os europeus, onde o rádio e a televisão permaneciam sob o controle estatal, foram claudicando e abrindo brechas, até liberá-la quase totalmente. Os meios se transformam, assim, no entretenimento da maioria das pessoas e na articulação cada vez mais estreita com grupos econômicos. Tudo é vendido, tudo é trocado, tudo é produto. O que conta não o valor cultural do programa oferecido, mas seu poder de atrair o publico desejado (p. 43).
Já hoje a realidade é outra, visto que a cada dia a publicidade dirigida a
criança e jovens está apurando sua investida, o documentário “A Criança a Alma do
Negocio”, mostra as principais punições para os países Europeus que dirigem a
publicidade a crianças.
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Um reflexo da propaganda que se faz notório, segundo Soifer (1992) é ver o
quanto crianças pequenas imitam as propagandas, cantam os jingles. Isso se dá
porque das programações é a propaganda a que mais se repete dentro da TV e se
apresentam mais constantes.
Para aumentar a investida publicitária Fonteles (2008) descreve que alguns
canais utilizam o horário do desenho animado ou programação jovem para aumentar
a quantidade de propaganda dirigida a este público.
Outra artimanha utilizada e descrita por Pereira (2002) é:
Os programas de TV também interrompem sua história no ponto culminante, adiando o desenredo da história depois do intervalo comercial[...] Entretanto tem ficado cada vez mais difícil precisar esses distintos momentos, uma vez que os anúncios foram admitidos no interior dos programas em forma de merchandising, assim como os programas não se tem diferenciado muito dos filmes publicitários. (p. 90)
Tanto Pereira (2002) quanto Fonteles (2008) descrevem sobre a utilização
dos próprios personagens (fictícios e reais) para fomentarem a chamada da
propaganda, ficando ainda mais difícil diferenciar o momento de desenho ou filme da
propaganda em si.
A publicidade tende a apontar sempre para o consumismo e capitalismo, mas
dentre as propagandas é possível se notar que, em geral são três as influências: a
primeira a é aquela que está relacionada à apatia e violência.
Outra influência bastante grave e a mais visível no meio publicitário é a que
cria ideologia. Propagandas que se utilizam de famosos para apresentar o produto, e
com suas falas mexem com o imaginário do público infantil e jovem em adquirir o
produto e conseqüentemente este será igual aos apresentadores.
Por fim, há a propaganda que utiliza conceitos além do comum; pela qual
existe uma veiculação de conceitos científicos que, induzem ao consumo de
determinado produto, a partir destes conceitos que podem não representar a
verdade.
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Dentro dos aspectos citados aquele que menos é visível é o conceitual; os
publicitários utilizam palavras e situações relacionadas à ciências não conhecidas
pelo senso comum, a fim de que esses termos acabem enganando ao consumidor.
Mesquita (2008) alerta sobre isso, mostra que: “fatos e conceitos relacionado
com a ciência são veiculados via televisão e as crianças e jovens acabam sendo
influenciados em suas idéias a respeito do tema.” (p. 420)
Tais conceitos veiculados muitas vezes são imperceptíveis aos olhos dos
jovens e crianças, e muitos se diferem daqueles ensinados em sala de aula. Nesta
perspectiva, Kominsky e Giordan (apud MESQUITA, 2008) reafirma que: “As visões
do mundo dos estudantes também devem ser influenciadas pelo pensamento
científico e pelas expressões de sua cultura, cujos traços são parcialmente
divulgados na mídia” (p. 421).
É possível notar então que a cada dia o marketing se modela e utiliza de
infindáveis mecanismos para ludibriar e trazer os jovens para o consumo. Assim, o
público infantil é muito visado pela publicidade, pois este é suscetível de
manipulação, pois está em formação (FONTELES, 2008).
2.1. A CRIANÇA E O ADOLESCENTE EM FACE DA PUBLICIDADE
A publicidade como já citado possui grande espaço na programação
televisiva, Frente a esta situação Fonteles (2008) entende que algumas
propagandas dirigidas a crianças são consideradas:
Pelo código de defesa do consumidor porque se vale da deficiência de julgamento e experiência das crianças que são seres humanos em formação [...] A criança e o adolescente devem ser protegidos de forma abrangente, aponta para um sistema de proteção integral que torna intrinsecamente ilegal toda a publicidade dirigida ao publico infantil (p. 65).
Os publicitários utilizam mecanismos que ultrapassam o discernimento do
público infantil para manipular e induzi-los ao consumo, fermentado cada vez mais o
19
sistema capitalista. Afirma Henriques (apud FONTELES,2008, p. 9) que está
situação mostra que a criança, diferente do adulto, não possui mecanismos internos
para compreender as investidas publicitárias. O público infantil não tem condições de
se defender dos instrumentos de persuasão criados e utilizados pela tão poderosa
indústria publicitária.
O adulto normalmente consegue distinguir em determinadas ocasiões as
possíveis verdades e mentiras aplicadas pelas propagandas; já as crianças não
conseguem ter olhos críticos em relação à publicidade.
Hoje a publicidade se modelou à criança, é notório quando vemos carrinhos
de supermercados exclusivos para crianças, shoppings com apenas utensílios
infantis. Pereira (2002) As inúmeras adequações feitas pela publicidade se fizeram
no intuito da criança não mais depender dos pais, de forma a poder fazer a escolha
que desejar.
A mídia tem esse poder de fazer com que a grande parte do que é
apresentado como produto vire febre mercadológica; suas investidas tanto no
caráter ideológico quanto conceitual acabam sendo inexistentes ao público mais
jovem. Tudo para essa geração é bom e faz bem para sua vida e satisfação pessoal.
Para Pereira (2006) é tão sucinta essa investida para o público mais jovem
que estes não acabam notando que o caráter comercial da TV é quem decide sobre
o que eles devem vestir, beber e comer.
Tendo em vista que as crianças não estão prontas para se defenderem dos
apelos comerciais e televisivos, há no geral dois aspectos para amenizar e tentar
acabar com a influencia negativa, já que difícil será acabar coma programação
televisiva visto que é uma cultura do nosso país.
Segundo Pereira (2006) primeiramente se deve remeter a responsabilidade
às emissoras de TV; exigindo uma postura diferente destes. É necessário considerar
a programação veiculada em horário de intensa assistência do público mais jovens e
20
pender para uma tolerância mais quantificada da programação tendo em vista a
situação vulnerável e sensível do receptor.
Sendo assim, como que essa remodelação de programação se torna inviável
devido às características televisivas publicitárias outro aspecto que pode solucionar
essa problemática é o de trazer para a educação a reflexão do público mais novo
sobre as forças persuasivas da televisão.
2.2.EDUCAR PARA UM OLHAR CRÍTICO
Dados levantados por Moran (1991) mostram: “A criança chega a
adolescência depois de assistir 15 mil horas de televisão, mais de 350 mil
comerciais, contra menos de 11 mil horas de escola” (p.61).
Os alunos dedicam quase tanta atenção à essas mensagens como as
atividades escolares, dessa forma não se pode eternizar a recíproca ignorância que
esse meio não influencie na relação escolar (DIEUZEID, 1973).
A televisão se torna assim um dispositivo agradável de ser assistido e se faz
notória a diferença de quantidade de horas dedicadas a esse meio em relação a
quantidade de tempo destinado aos estudos. Além disso todo o conteúdo veiculado
não requer esforço para compreensão, está tão fácil e simples de ser entendido que
os alunos não vêem dificuldades de captar as informação veiculadas.
Quando os alunos chegam à escola, estes já estão acostumados e
acomodados com a linguagem ágil, fragmentada e sedutora da mídia a criança
desta forma julga a aprendizagem a partir da TV (MORAN, 1991).
Fusari (1985) ressalta que dentre os elementos da telecomunicação, são os
receptores que precisam urgentemente aprender e conhecer as atrações frente à
mídia; objetivando uma formação de consciência critica, a favor de uma melhoria
individual. Além de educar o espectador infantil quanto ao que olhar e assistir e de
ajudar a escolher programas televisivos que os auxiliem na educação.
21
Os educadores classificam essa ação educativa como “Educar para os
meios”, claramente Moran (1991) descreve essa atitude: “É problematizar o que não
é visto como problema e desideologizar p que só é visto por ideologia[...] do
conteúdo veiculado, do expicito-implicito [...] das sutilezas das imagens, da
articulação verbal visual e escrita” (p. 89).
Felizmente, pesquisadores e professores já detectaram os problemas que
estes meios acabam influenciando na vida das crianças e jovens. Soifer (1992)
informa que além dos professores e educadores, um pequeno número de família,
possui a noção clara do prejuízo nefasto que esses meios ocasionam no inicio da
infância, influenciando no falar, no como se vestir e nas atitudes violentas que seus
filhos apresentam em determinadas situações.
Entretanto, é necessário fazer com que estas crianças comecem a entender e
atuar criticamente a respeito destes meios de comunicação. Nestas circunstâncias,
Karsaklian (apud FONTELES, 2008, p. 68) entende que:
A percepção das intenções da publicidade tende a crescer de forma diretamente proporcional com a idade da criança. O estado de desenvolvimento cognitivo, junto com a idade e nível atingido na escola, é o determinante central da compreensão dos comerciais de TV. (...), é por volta dos 8 a 11 anos que a maioria das crianças está realmente capacitada a tomar consciência tanto dos objetivos informáticos quanto persuasivos, nos quais se baseiam o discurso publicitário (p. 68).
Como já citado anteriormente, além da família e do Estado vigiar e proteger o
público infantil, é papel do educador apresentar e trabalhar o senso critico dos
alunos em meio à publicidade.
É função educativa mostrar contradições da mídia, sensibilizar o aluno da não
transparência dos meios, das respostas ambíguas, entretanto o trabalho é complexo
e demorado, não sendo possível modificar todas as relações dos participantes. Com
um fim principal de formar cidadãos esclarecidos de olhos abertos para uma
sociedade capitalista (MORAN 1991).
22
Entretanto é necessário que a escola e os professores repensem a relação da
televisão na sala de aula e como está sendo utilizada. Tendo em vista que a
educação para o meio não é suficiente para que os professores se utilizem deste
material para apresentar apenas obras literárias ou documentários sobre
determinado assunto (DIEUZEID, 1973).
A educação se faz em mostrar as tais investidas publicitárias, os conceitos
veiculados pela mídia comparando com aqueles ensinados na sala de aula.
É importante que a professora conduza com competência o processo de
aproximação da realidade apresentada pela mídia com aquele da realidade da aula
do aluno; a fim de se fazer significativa diferença (MESQUITA, 2008).
O próprio parâmetro curricular nacional (PCN,S) dispõe em sua exposição a
atitude que o professor deve aderir frente a TV; descreve que:
A programação convencional de televisão, quem em principio não tem finalidade educativa, pode ser utilizada como fonte de informação para problematizar os conteúdos das áreas do currículo, por meio de situações em que o veiculo pode ser um instrumento que permite observar, identificar, comparar, analisar e relacionar dados, cenários e modos de vida ( BRASIL, 1998, p.143).
Os meios de comunicação desempenham importante papel educativo, sendo
classificado por alguns autores como escola secundária; sendo ela eficiente e
informal, porque ensina de forma atraente (MORAN, 1991).
A escola e os professores precisam repensar e assumir posturas diferentes
meio a utilização da TV; além de desenvolver uma percepção mais ativa e atenta
dos alunos, utilizando esse meio “informal” para mostrar e ensinar.
Segundo Freire (apud FONTELES, 2008):
As crianças absorvem fatos levados à ela pela mídia e não pela escola, parecendo que há mais atenção aos conteúdos divulgados pela primeira em detrimento da segunda, o que transforma a mídia numa espécie de escola paralela (FONTELES, 2008, p.47).
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Moran (1991) diz que não se pode de maneira alguma ignorar e ser inimigo
dos meios de comunicações e quando utilizado tomar muito cuidado para não imitar
ou torná-lo como entretenimento; utilizando-o como motivação, informação e
pesquisa.
Complexo e árduo é conseguir fazer com que os alunos estejam aptos para
atuar criticamente em relação aos meios de comunicação. Dieuzeid (1973) alerta
que para o professor se desenvolver em relação a educação para os meios e
necessário que este venha a receber determinada preparação para o manejo critico
das mensagens áudio visuais
Desta forma seria muito efetivo discutir esses assuntos relacionado aos
impactos da mídia na formação do professor e segundo Moran (1991) é a
universidade que oferece espaço para debates e reflexões sobre atuação do
professor frente a educação para os meios.
A fim de formar alunos telespectadores que saibam realmente atuar
criticamente a respeito da programação televisiva oferecida, exercendo assim, o seu
poder, a sua força de escolha e de controle (FUSARI, 1985).
24
3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Na Busca de dados para averiguar se os professores vinculados a ciência e
biologia estão cientes de que há conceitos científicos veiculados na mídia televisiva
e que estes influenciam no dia a dia do aluno, foi elaborado e aplicado um
questionário para os professores do ensino fundamental II e médio de duas escolas
diferentes; ambas situadas na cidade de São Paulo.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário. Esta
modalidade foi escolhida, pois permite um número maior de questões; além do que,
garante o anonimato e diminui a influencia do pesquisador em relação a suas
indagações não influenciando ou modelando as respostas dos pesquisados.
O questionário com questões abertas consente que o examinado discorra sua
resposta de maneira sincera, descrevendo tudo aquilo que julga ser necessário
dentro daquilo que é perguntado. Diferente do questionário de questões fechadas
que os sujeitos de pesquisa não podem responder abertamente, sendo limitado pela
alternativa proposta.
A questão aberta permite que o sujeito de pesquisa mostre melhor suas
concepções, porém como é uma questão que envolve um pouco mais de trabalho,
alguns indivíduos acabam por não respondê-la ou respondê-la de qualquer jeito
(GIL, 2006).
Dessa forma o questionário foi montado para obtermos informações e
posteriormente uma analise qualitativa dos dados.
25
O primeiro questionário elaborado continha antes das questões em si um
pequeno cabeçalho em que se elucidava o objetivo do trabalho, as recomendações
para o mesmo e garantia do anonimato do sujeito como recomenda Gil (2006).
Todas as seis questões estavam voltadas para os conceitos científicos
veiculados na mídia. As primeiras questões examinavam se haviam conceitos
científicos veiculados na publicidade televisiva e se os professores conheciam algum
tipo de comercial que apresentava tais conceitos.
Outra questão argüia se os conceitos científicos veiculados eram corretos e
coerentes com aquilo que era ensinado na sala de aula. Depois perguntava se estes
utilizavam e aproximavam os assuntos aos alunos.
Por fim examinava se o professor questionado tinha alguma instrução na sua
formação acadêmica sobre os assuntos midiáticos e a preocupação que os
professores devem ter sobre eles.
Uma primeira preocupação em relação ao método foi: a qualidade das
perguntas, ou seja, se essas seriam eficientes para coletar os dados necessários à
pesquisa e, não deixar o questionário cansativo para o pesquisado. Padua (2000)
alerta sobre questionários com questões abertas e a quantidade de perguntas para
não se tornar algo fadigoso.
Para se chegar ao questionário final (anexo 1), foi realizado um questionário
piloto (anexo 2) aplicado em seis alunos graduandos do curso de licenciatura em
Biologia de uma universidade particular. Os alunos escolhidos estavam na fase do
curso de licenciatura prestes a receberem o titulo de professores, ou seja, muito
próximos dos professores, reais sujeitos de pesquisa.
Esse pré-teste é importante para que se descubram as dificuldades existentes
e as melhorias que podem ser feitas no instrumento (PÁDUA, 2000; GIL, 2006).
Após essa primeira aplicação foi possível notar que algumas modificações
deveriam ser realizadas. Foi introduzida uma nova questão, que apresenta o slogan
26
de determinada propaganda em que conceitos científicos são relacionados a um
produto e o pesquisado deve apresentar sua opinião sobre o assunto.
De acordo com o pré-teste três questões foram respondidas sucintamente
(sim ou não), não sendo suficiente para uma analise qualitativa. Essas questões
foram adicionados verbos como: explique, exemplifique e opine; a fim de exigir que o
pesquisado dê suporte suficiente para tal análise.
Após as mudanças o questionário foi aplicado aos professores. No total foram
seis questionários aplicados. Três deles numa escola da região Oeste e os restantes
em uma escola da zona Norte de São Paulo. Ambas as escolas eram particulares e
todos os professores deveriam ser da área de Ciências (ensino fundamental II) ou
Biologia (ensino médio).
O questionário foi entregue aos professores sem tempo limite para resposta.
Foi permitido que estes levassem o questionário para responder fora do ambiente
escolar.
Após receber todos os questionários respondidos (anexo 1) foi iniciada a
metodologia de análise.
Foram analisadas questões por questões, da segunda até a sétima. Em cada
pergunta se tentou aproximar as respostas dos professores a fim de analisar e
discutir com os referenciais teóricos abordados. Além disso, os professores foram
enumerados de um a seis para facilitar a identificação no decorrer da análise,
garantindo o anonimato do docente.
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4- ANÁLISE
Após o recebimento dos questionários e obtenção dos dados, algumas
considerações em relação às posições dos professores frente aos conceitos
científicos veiculados nas propagandas puderam ser feias.
Apresentamos os questionários (anexo 1) para auxiliar o leitor na reflexão. A
princípio foi pedido para que os professores expusessem as suas opiniões sobre
determinada apresentação publicitária veiculada na programação televisiva.
A apresentação que seguia era: “Danoninho aquele que vale por um bifinho”.
Entre os examinados notamos dois conjuntos de respostas diferentes.
Quatro deles (professores 1, 2, 5 e 6) não concordaram com a propaganda.
Isso pode ser notado em especial na afirmativa do professor 1: “o Danoninho não
vale por um bifinho”. Já os outros dois participantes (professores 3 e 4) não
apontaram para uma propaganda enganosa ou errada, notando a investida
publicitária por trás do produto.
Os publicitários na propaganda apresentada dão a entender que a ingestão
do danoninho é equivalente a alimentação de um bife, entretanto sabe-se que
determinados alimentos como a carne é insubstituível na alimentação,
principalmente das crianças por estarem em crescimento.
Sendo assim propaganda não condiz com o que é apresentado; pois o
produto danoninho não contém as proteínas suficientes para substituir um alimento
28
como o bife. Embora o laticínio tenha nutrientes importantes para a alimentação, não
se pode compará-lo a um bife.
Segundo o relato da professora 1:
O pior é que as mães preguiçosas [...] devem acreditar nisso oferecendo para os seus filhos o danoninho e não as proteínas e elementos químicos presentes na carne que são insubstituíveis para a saúde da criança em desenvolvimento.
Como relatado pela professora acima a propaganda consegue fazer com que
a população acredite naquilo apresentado. Algumas crianças e até mesmo adultos
não visualizam aquilo oferecido. Nota-se que a propaganda implicitamente trabalha
conceitos científicos que muitas vezes não são compreendidos pelo senso comum.
A utilização desses conceitos não deixa de ser uma das artimanhas que a
publicidade utiliza para elaboração de suas propagandas.
De acordo com as respostas foi possível notar que os educadores
conseguiram vislumbrar que o produto apresentado na ocasião não condizia com
aquilo que era oferecido, que o objeto a ser vendido não era real e que a sua
apresentação não passava de uma investida publicitária com o objetivo de enganar
ao público.
Nota-se então que o produto apresentado não passa de objeto de uma
investida publicitária. Isso se confirma com os depoimentos do professor 4: “para
atingir uma clientela infantil é boa” e do professor 3: “ o objetivo é o mercado com
potencial para convencer”.
Referente a esse artifício, Moran (1991) aponta que os jovens e as crianças
são os alvos preferidos da publicidade porque dentro das casas são os que mais
assistem TV e porque são acionadores da compra.
A criança, por estar em formação, é mais suscetível de ser manipulada pela
publicidade e, dessa forma, é super visada pelos “marketeiros” (FONTELES, 2008).
Alem de convencer às crianças, o marketing tem força e condições para convencer
aos pais das crianças.
29
A publicidade tem a intenção de convencer a principio a criança e,
conseqüentemente, esperar que esta venha a influenciar seus pais. Como descreve
Moran (1991): a criança influencia e dita muitos dos produtos a serem comprados.
Nota-se que o autor alerta sobre a investida a fim de conseguir fazer com que
os pais e os filhos venham a acreditar e a consumir o produto, entretanto não se
pode culpar os pais, pois muitas das vezes eles também não conseguem distinguir a
realidade do produto, deixando se levar por questões de eficiência e de preferência
de seus filhos.
Toda investida publicitária, como transcrita no referencial teórico, tende a ter
diferentes aspectos, entretanto todos esses apontam para o consumismo
mercadológico vigente no mundo. Moran (1991) relata que a maioria dos programas
fortifica o consumismo, explorando muito bem o desejo e a necessidade de todos,
principalmente das crianças.
Constata-se ainda nesta primeira indagação feita que o professor 3 vislumbra
uma atitude da empresa de fomento às suas programações, com o objetivo de
supervisar o capitalismo. Segundo a resposta deste: “eu não gosto porque leva ao
consumismo”.
Vê-se hoje em dia na programação televisiva, inúmeros comerciais excitando
a compra. Dentre os aspectos das propagandas citados (ideológico e conceitual)
que estão vinculados nas informações dos comerciais, se observa um em especial,
em razão do objetivo deste trabalho, aqueles que estão relacionados aos conceitos
científicos.
Sendo assim, os professores foram questionados se na publicidade televisiva
atual haveria veiculação de conceitos científicos ligados à informação e à
apresentação dos produtos.
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Conforme os dados nota-se que a maioria concorda que há conceitos
científicos vinculados àquilo que é transmitido na mídia. Tal fato se comprova na
resposta dada pelo professor 1: “Sim, vi um neste final de semana sobre o efeito do
gás metano sobre o efeito estufa”.
Esse fato acaba corroborando com o que diz Dieuzeid (1973), do que toda
televisão, inclusive a comercial, oferece notícias e ensinam sobre diferentes coisas,
como a política, as pessoas, os animais, a Ciência, dentre outros.
Os professores apontaram propagandas que utilizavam termos científicos
relacionados com as florestas e destruição, sobre a alimentação mais saudável do
ser humano, saúde e efeitos destrutivos causados pelo homem.
Estes conseguem capturar as informações científicas relacionada às
propagandas, entretanto apenas um mostrou desconhecido sobre o assunto, pelo
fato de não ver TV, “não sei se há alguma propaganda com esse tipo de conceito”.
(professor 2)
Como apresentado em capítulos anteriores, segundo Deuzeid (1973) é papel
do professor aproximar dos alunos assuntos discutidos na televisão sobre a
sociedade, moral, consumismo entre outros e não somente aqueles programas
televisivos utilizados no ensino de ciência ou clássicos da obra literária.
Alem disso, os PCN’S falam sobre a utilização da TV, que a principio não teria
finalidade educativa, como fonte de informação para a esquematização dos
conteúdos nas áreas.
Como citado acima a utilização da televisão se faz importante para abordar
conteúdos não educativos como a propaganda do cotidiano do aluno. Dessa forma
os professores foram questionados sobre a possibilidade de utilizarem os conceitos
de ciência e biologia ligados à propaganda, com o objetivo de trabalhar com o aluno
em sala de aula.
31
Todos os professores responderam que utilizariam esses conceitos isso pode
ser notado de acordo com as respostas: “explorar o conceito melhor” (professor 3),
“usaria para fazer alguma correção caso o conceito tivesse sido apresentado de
forma errada” (professor 2), “procuraria alertar as falsas vitaminas” (professor 5).
Entretanto, notou-se em algumas repostas que parte dos sujeitos não consideram
importante trabalhar estes conceitos. Por exemplo, pelas respostas: “usaria como
gancho” (professor 4), “falaria no geral” (professor 2). De certa forma, estes
professores não notam a gravidade que esses meios acarretam no comportamento
das crianças, influenciando no modo de agir, pensar e falar.
Dieuzeid (1973) expõe que não se pode eternizar a recíproca ignorância e as
influências dos meios, pois os alunos dedicam quase tanta atenção à essa
mensagem, como às atividades escolares.
Faz-se visível dentre as respostas, que os professores usariam tais
propagandas para uma melhor explicação dos assuntos relacionados à ciência
vigente na propaganda, podendo então corrigi-los quando errados.
No entanto, determinado professor, embora tenha mostrado que utilizaria a
propaganda, disse “é interessante e embora não tenha muito discurso, não passa
informação errada” (professor 1). Essa afirmativa permite que se iniciem as
discussões acerca de outro questionamento feito aos professores: eles têm noção
que há conceitos científicos veiculas, na propaganda, de forma incorreta.
Já se nota, segundo a resposta anterior apresentada pelo professor 1, que
este acredita que os conceitos científicos veiculados nas propagandas não passam
informações erradas.
De acordo Mesquita (2008), é importante investigar quais são as visões de
ciências transmitidas pela TV, pois essas influenciam os alunos na formação, seja
com conceitos veiculados de forma correta ou errada.
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Alem do professo 1, o professor 3 acreditava que os conceitos científicos
veiculados nas propagandas eram corretos. Nota-se isso através da resposta: “sim”
todos os conceitos científicos divulgados pela propaganda são corretos.
Contudo, as respostas dos outros professores (2,4,5 e 6) mostraram que eles
não acreditam que todos os conceitos científicos veiculados são coerentes. Duas
justificativas dadas à essa incoerência foram: “as propagandas são rápidas e não dá
tempo para se transmitir um conceito adequado”(professor 1); “pode ser que tenha
alguns mas na maioria das vezes não há embasamento cientifico, não há uma
pesquisa séria por trás”.(professor 2)
Os conceitos veiculados, de certa forma, constituem um caráter pedagógico,
pois nestes são veiculados conhecimentos, concepções e modelos a serem imitados
(DIEUZEID, 1973).
Segundo Mesquita (2008) sabe-se que os conceitos veiculados na TV e que
são relacionados à ciência acabam influenciando as idéias das crianças e jovens.
Assim, partindo deste pressuposto, faz-se necessário averiguar se há
conceitos científicos veiculados nas propagandas que se contrapõem aos
aprendidos em sala de aula.
A maior parte dos pesquisados disseram que determinados conceitos
relacionados à ciências e biologia se conflitam algumas vezes com aqueles
ensinados em salas de aulas.
Alguns exemplos de conceitos conflitados com os ensinados foram
levantados, sendo eles: “floresta Amazônia pulmão do mundo”(professor 4),
“Shakes, aparelhos milagrosos e Activia para melhorar o transito intestinal”(professor
3).
De acordo com as respostas, os professores mostraram a necessidade de
apontar e trabalhar com os alunos esses conceitos errados a fim de não prejudicar
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aquilo que é ensinado. Relata o professor 2: “caso o conceito seja errado o professor
tem que ficar atento para passar a informação correta”.
Dentre as respostas é essencial ressaltar aquela que alerta a dificuldade do
professor em fazer essas correções, mostrando que: “dá maior trabalho para o
professor explicar que não é bem do jeito que foi apresentado” (professor 1).
Como já relacionado, devido a informalidade e eficiência da programação, a
mídia ensina de forma atraente, sendo considera como escola paralela, pois ensina,
tanto quanto a escola freqüentada pelos alunos (DOGHIE, 2008).
Tendo em vista que as visões de ciências transmitidas pela TV influenciam
(MESQUITA, 2008). Não importa se o assunto veiculado esteja correto ou incoerente
no contexto da propaganda de alguma forma ele influenciará no desenvolvimento do
aluno.
Dessa forma, se faz necessário, urgentemente, como esclarece Fusari (1985),
que os educados recebam orientação para estarem aptos a captar as reais
informações que lhes são apresentadas.
Os alunos já vêm com informação adquirida sobre os assuntos expostos
pelos programas. Além disso, depositam determinada fé naquilo que é apresentado.
Sendo assim, é de suma importância que o professor esteja atento para fazer
essa correção, já que muitos dos assuntos veiculados na mídia ensinam mais que
aqueles apresentados em sala de aula.
Doghie (2008) diz que a criança absorve fatos levados à ela pela mídia e não
pela escola, parecendo que há mais atenção na primeira em relação à segunda,
situação em que se pode caracterizar a escola paralela.
Tendo em vista essa dificuldade de alertar o aluno para os meios e criar uma
sensibilidade crítica para a informação passada, Diezeid (1973) alerta que os
34
professores deveriam receber alguma educação ou preparação para o manejo crítico
das mensagens audiovisuais.
Tendo este alarme, foi averiguado se havia algum professor que, em sua
formação acadêmica, tenha recebido alguma instrução sobre os impactos da mídia
na formação do aluno.
Dos dados obtidos, quatro deles (professor 2, 3, 4 e 6) não receberam
nenhuma instrução sobre os possíveis impactos da mídia. Dentre esses quatro, o
professor 3 justificou a não instrução: “foi anterior ao impacto da mídia (internet, TV
voltada com bombardeios ao cliente de um determinado produto)”.
Pode ser que o professor tenha se formado anteriormente aos impactos
escancarados da mídia, entretanto notam-se antigos referenciais teóricos como
Fusari (1985) e Diuzeid (1973), que já alertavam sobre os conflitos impostos pelos
meios de comunicações.
Os professores 1 e 5 restantes receberam subsídios na formação para educar
seus alunos para os meios, neste sentido Moran (1991), aponta para a universidade
local onde oferece debates e reflexões sobre esses assuntos.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do estudo empreendido por este trabalho foi de contribuir para a
reflexão sobre a atitude dos professores frente ao reconhecimento e ação das
propagandas, visto que ela influencia os educados no processo do ensino
aprendizagem
Sabendo que a programação televisiva em especial a publicidade dirigida à
criança implicitamente acaba educando, é papel do educador averiguar aquilo que é
veiculado na TV (MESQUITA, 2008).
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Tendo como foco principal a veiculação de conceitos científicos ligados as
propagandas, foi possível inferir que os professores pesquisados concordam que há
transmissão de conceitos relacionados com a ciência e biologia, entretanto não
foram todos que vislumbraram que esses conceitos nem sempre são coerentes com
aquilo passado.
Como já transcrito esses meios educam e ensinam. Dessa forma o professor
deveria ter uma maior atenção frente a esses programas (MORAN, 1991). Nota-se
como relatado que alguns professores não reconhecem o grande impacto desses
meios e de forma descompromissada utilizam a propaganda apenas como “ligação”
do conteúdo ou de forma “geral”.
Tendo em vista que a televisão é um meio muito atraente e ensina facilmente
as pessoas, principalmente as crianças (DOGHIE, 2008), o professor deveria ter
maior atenção para estes meios.
Precisaria aproximar cada vez mais do aluno as programações veiculadas na
mídia desmistificando aqueles conceitos incoerentes, inadequados e errôneos feito
pela publicidade a fim de vender o produto.
Tais conceitos muitas vezes são imperceptíveis aos olhos dos jovens e
crianças e algumas vezes muitos se diferem com aqueles ensinados em aula.
Como reflete Pereira (2006) dever-se-ia remeter às responsabilidades as
emissoras de TV exigindo uma postura melhor frente aquilo transmitido. Isso seria
inviável e difícil de ocorrer tendo em vista que as emissoras deveriam modificar suas
programações. Sendo assim, uma saída seria recorrer para a educação para os
meios.
Sabiamente como já relatado, dentre os elementos da telecomunicação, são
os receptores que precisam urgentemente aprender a ser críticos frente aos
programas (SOIFER, 1987)
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Conclui-se que os professores reconhecem nos programas de TV alguns
conceitos relacionados a ciência e biologia e estes trabalham em sala de aula.
Entretanto não são todos que vislumbram os conceitos errôneos e inadequados
utilizados pelos publicitários. Além disso, mostram não ter tanta atenção e dedicação
para trabalhar esses assuntos com seus alunos.
Dessa forma é interessante enfatizar que é de suma importância o docente
educar seus alunos a terem senso crítico, a fim de permitir que ele possa assistir as
programações televisivas e não serem manipulados pelos publicitários evitando
adquirir conhecimento errôneo entrelaçado as informações.
Contudo os professores em questionamento devem continuar trabalhando os
assuntos, no entanto com mais constância e atenção no que é veiculado tentando
evitar os enganos e a má influência no processo ensino aprendizagem.
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6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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38
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40
7- ANEXO