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A VELHINHA HISTÓRIA DE NATAL Texto e Ilustrações de José Monteiro Morais

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A VELHINHA

HISTÓRIA DE NATAL

Texto e Ilustrações de

José Monteiro Morais

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A VELHINHA

HISTÓRIA DE NATAL

Texto e Ilustrações de

José Monteiro Morais

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5

Vinha a lua a despontar

Nas serranias de além

E a velhinha a pensar

No Presépio de Belém.

6

Imaginava Maria,

Com S. José, a caminho;

Numa noite escura e fria

A cavalo num burrinho.

À sua mente chegavam

Arroubos e fantasia;

As mãos brancas revelavam

Os medos que concebia.

7

Aquele medonho caminho,

Veredas, imensidão;

Do mais escuro cantinho

Pode surgir um ladrão...

Confrangida, bem sentia

O bater do coração;

Mas que fazer poderia,

Ali no seu cadeirão.

8

Um rebate lhe acudiu

– Alertar a Natureza;

E em voz alta pediu

Num tom de grande firmeza:

Escuta, lua encantadora!

Não vês Deus em apuros?

Vai no seio da Senhora

Por esses montes escuros.

9

Ela vai ter o seu Filho,

E a hora é chegada

Venha de ti grande brilho

Sobre a escura caminhada

E Tu, burro, vai ligeiro,

Corre a trote pró curral.

Jamais um teu companheiro

Tivera tarefa igual

Sabes que levas no dorso

Nosso Deus que vai nascer?

É p’ra Ele o teu esforço,

Não te deixes esmorecer.

10

Dito isto se quedou

Sorrindo de olhos fechados,

Pensando que alguém escutou

Seus inocentes recados.

É que o burro trepava

Com desusado vigor;

E a lua rebrilhava

Que enorme esplendor!

Aquietada, a Velhinha,

Na cadeira baloiçante,

Acha então não estar sozinha.

No precioso instante.

11

Era um bem celestial

Que chega ao coração.

Não tivera enlevo tal

Desde a sua concepção.

Agora, de olhos fechados,

Vislumbrava lindos quadros

No seu sonho deslumbrante.

Uma estrela multicor

Cintila no Oriente,

Muitos anjos do Senhor

Esvoaçam alegremente.

Soam hosanas, louvores

Dum coro celestial.

São vozes de mil cantores

Cantando: Natal, Natal!

E lá estava S. José

Junto da Virgem Maria;

Andava pé ante pé;

Nas palhas Jesus dormia.

12

Mas eis que chegam pastores

Com farnéis de alimento,

Cantando, também, louvores

Ao Senhor do Firmamento.

13

14

Chegam reis do Oriente,

Era aquele o seu destino

– Cada qual trás um presente

Para dar ao Deus Menino.

15

Aquele recanto divino

A velhinha deslumbrava;

Mas, uma vez mais o Menino

Apreensão lhe causava.

Escuta gritos lancinantes

Das mães, loucas, em Belém

E, por terríveis instantes,

Sente a dor de uma mãe.

Uma lágrima vai rolar

Pela face da velhinha.

Viu um soldado matar

Uma pobre criancinha.

E a visão terminou

No torpor duma oração.

Seus olhos semicerrou,

Com a paz no coração

16

17

Também, não via ninguém

Desde a fuga p’ró Egipto;

Mas, por sentir-se tão bem,

Deu largas ao seu sonito.

18

Aveiro, Natal de 1997

J. Morais