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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE NATÁLIA CONRADO WANDERLEY A VALORIZAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS COM A VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Monografia Final de Bacharelado em Direito UFPE Recife 2017.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE

NATÁLIA CONRADO WANDERLEY

A VALORIZAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS COM A

VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Monografia Final de Bacharelado em Direito – UFPE

Recife

2017.

NATÁLIA CONRADO WANDERLEY

A VALORIZAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS COM A

VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Recife

2016

Monografia Final apresentada como requisito

parcial para Conclusão do Bacharelado em

Direito pelo Centro de Ciências Jurídicas da

Universidade Federal de Pernambuco

(CCJ/UFPE).

Áreas de Conhecimento: Teoria Geral do

Processo, Direito Processual Civil e Direito

Constitucional.

Orientanda: Natália Conrado Wanderley

Orientadora: Sérgio Torres Teixeira

NATÁLIA CONRADO WANDERLEY

A valorização dos precedentes judiciais com a vigência do Novo Código de Processo

Civil.

Monografia final de curso

Para obtenção do título de Bacharel em Direito

Universidade Federal de Pernambuco/CCJ/FDR

Data de aprovação:

______________________________________

Prof. Sérgio Torres Teixeira

______________________________________

Prof.

______________________________________

Prof.

AGRADECIMENTOS

Estudar na Faculdade de Direito do Recife foi um verdadeiro divisor de águas em

minha vida. Foram cinco anos de muito amadurecimento, esforço e aprendizado. Somado aos

conhecimentos jurídicos adquiridos, aprendi com meus professores e colegas para além dos

muros da universidade. Lugar de efervescência política, de desconstrução de preconceitos e

de luta social. Sou imensamente grata por toda trajetória percorrida e sei o quão importante

são as pessoas que estiveram ao meu lado.

Agradeço aos meus pais, a quem devo minha formação pessoal e acadêmica, pelo

constante apoio na conclusão de mais essa etapa.

À minha avó Letícia, por toda confiança, incentivo e por acreditar em mim mais do

que eu mesma.

Aos meus amigos e colegas de curso, pela convivência, pelos debates enriquecedores e

por vibrarem com minhas conquistas junto comigo.

Por fim, agradeço ao Prof. Sérgio Torres Teixeira, meu orientador, com quem tive

contato ainda no primeiro ano de curso e que me apresentou ao novo mundo do Direito com

tanta maestria e paciência.

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objeto umas das principais inovações

trazidas pelo Novo Código de Processo Civil: a incorporação dos precedentes vinculantes no

direito brasileiro. Proveniente da família jurídica do Common Law, o precedente judicial

recebeu um regramento específico conforme se observa, principalmente, nos artigos 926 e

927 do Novo CPC. Percebe-se, pois, a intenção do legislador em aproveitar os fundamentos

do referido sistema anglo-saxônico com o objetivo de privilegiar a busca pela uniformização e

estabilização da jurisprudência no sistema jurídico brasileiro, que possui forte inspiração do

Civil Law. Desse modo, com o fito de compreender a teoria dos precedentes judiciais e sua

inserção ao direito processual pátrio, serão perpassadas as seguintes etapas: primeiramente,

faz-se imperioso abordar algumas noções básicas do instituto dos precedentes. Após, será

realizada uma análise da sistematização dos precedentes judiciais no Novo CPC, apontando as

principais mudanças que contribuíram para o seu fortalecimento. Abordar-se-á também a

atual aproximação entre os sistemas jurídicos da Common Law e Civil Law e como os

princípios constitucionais foram afetados pela adoção da referida teoria no direito processual

brasileiro.

Palavras-chave: Precedente Judicial. Novo Código de Processo Civil. Inovações. Civil Law.

Common Law. Uniformização da jurisprudência.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

1. NOÇÕES FUNDAMENTAIS ACERCA DO PRECEDENTE JUDICIAL .................... 8

1.1. Origem e conceito ............................................................................................................ 8

1.2. Elementos constitutivos: ratio decidendi e obiter dictum ............................................... 9

1.3. A confusão terminológica entre os institutos da súmula, jurisprudência e precedente . 11

1.4 Técnicas de flexibilização e superação dos precedentes ................................................ 13

1.4.1 Método de distinção do precedente - distinguishing ............................................... 13

1.4.2 Método de superação do precedente – overruling ................................................... 14

2. OS PRECEDENTES JUDICIAIS E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ..... 16

2.1 A crise do Judiciário brasileiro e a aproximação com o Common Law ......................... 16

2.2 As ferramentas inovadoras para o sistema de precedentes ............................................. 17

2.2.1 Necessidade de fundamentação dos atos judiciais .................................................. 18

2.2.2 Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas .................................................. 19

2.2.3 Incidente de Assunção de Competência .................................................................. 21

2.3 A eficácia dos precedentes ............................................................................................. 23

2.3.1 Precedentes judiciais obrigatórios, vinculantes ou normativos ............................... 23

2.3.2 Precedentes judiciais persuasivos ............................................................................ 26

2.3.3. Precedentes judiciais impeditivos e permissivos .................................................... 27

2.4 Críticas frente ao novo paradigma .................................................................................. 27

3. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS À LUZ DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

.................................................................................................................................................. 30

3.1 O Novo CPC e a constitucionalização do processo civil ............................................... 30

3.2 O princípio da isonomia ................................................................................................. 30

3.3 A segurança jurídica ....................................................................................................... 31

3.4 A regra de motivação das decisões ................................................................................. 32

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 37

7

INTRODUÇÃO

O direito pátrio apresenta notória filiação à Escola do Civil Law, a qual considera a lei

como fonte primária do ordenamento jurídico. Assim, o Judiciário brasileiro sempre utilizou o

direito positivado como instrumento primordial para solucionar as controvérsias levadas ao

seu conhecimento. Diferente do que se verifica no sistema da Common Law, que confere aos

costumes primordial importância, na tradição do Civil Law o juiz é tido como intérprete e

aplicador da lei, não sendo conferidos a ele quaisquer poderes de criação do Direito.1

Nesta esteira, o Novo CPC representa uma nova era processual, concedendo uma força

até então inexistente à utilização dos julgados. Os tribunais, hoje, têm o dever de uniformizar

suas posições, o dever de imaginar-se um só Judiciário, um só órgão. A adoção dos

precedentes judiciais quando das decisões passou a ser regulamentado mais incisivamente

com o escopo de estabelecer uma jurisprudência uniforme e estável, inaugurando uma nova

visualização da decisão judicial. Pode-se observar, portanto, uma crescente aproximação com

a tradição do Common Law.

Assim, em que pese o sistema brasileiro ser essencialmente legalista, impossível se

pensar em um ordenamento no qual os magistrados interpretem a lei de maneiras diferentes

em casos idênticos, visto que tal fato geraria uma enorme insegurança jurídica.2 As mudanças

trazidas pelo Novo CPC, as quais fortaleceram o instituto dos precedentes judiciais, vêm para

conferir à sociedade uma maior previsibilidade das consequências que podem ser aplicadas à

prática dos seus atos. No caso do precedente vinculante, por exemplo, após sua formação, os

juízes e tribunais são obrigados a aplica-los em casos análogos, atribuindo maior solidez à

ordem jurídica, transmitindo à sociedade confiança e previsibilidade de condutas.

1LEITE, Gisele; HEUSELER, Denise. O poder dos precedentes judiciais no CPC/2015. Disponível em:

http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16471 Acesso em:17/03/2017. 2 OLIVEIRA, Alexandre Máximo Oliveira; MORAIS, Bruna Naiara. A aplicação vinculante dos precedentes

judiciais no Novo Código de Processo Civil. Revista Jurisvox, n. 16, vol. 2, dez. 2015, p. 108.

8

1. NOÇÕES FUNDAMENTAIS ACERCA DO PRECEDENTE JUDICIAL

1.1. Origem e conceito

A chamada teoria dos precedentes judicias remonta ao sistema da Common Law, no

qual a jurisprudência constitui fonte primária do Direito e o ato de julgar é dotado de uma

grande liberdade. Calcado na doutrina do stare decisis (fórmula reduzida do adágio latino

stare decisis et non quieta movere, que, literalmente, significa “mantenha-se a decisão e não

se moleste o que foi decidido”3), o sistema compreende o precedente judicial como sendo um

instituto vinculante, não só para o órgão judicial que decide, mas para todos os que lhe forem

inferiores. Pode-se dizer que as bases da força vinculante dos precedentes no sistema de

direito consuetudinário assentam-se no Direito inglês, em 1898, no caso London Tramways

Company vs. London County Council.4

Esses chamados precedentes nada mais são que decisões judiciais que servem de

subsídio para processos posteriores análogos. Como o próprio nome já diz: é algo que precede

o anteriormente ocorrido. Fredie Didier explica que “em sentido lato, precedente é a decisão

judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo núcleo essencial pode servir como diretriz

para o julgamento posterior de casos análogos.”5

O precedente serve como diretriz para o julgamento de decisões futuras, sempre

emanando de uma decisão judicial, o que não significa dizer que toda decisão judicial tornar-

se-á um precedente. Sua característica essencial é a relevância, a potencialidade para se

tornar paradigma de orientação a advogados e magistrados, tem-se de elaborar tese jurídica

inédita ou definitivamente delineá-la, deixando-a cristalina.6

Portanto, para a existência e formação de um precedente exige-se a presença de alguns

elementos. Primeiramente, a provocação jurisdicional para a solução de um caso concreto,

delimitação fática e jurídica, com a interpretação realizada entre os fatos e o direito positivo,

dando origem à decisão judicial. Já para a utilização do precedente, inclui-se um novo item,

os casos similares futuros.

3MIRANDA, Tássia Baia. Stare decisis e a aplicação do precedente no sistema norte-americano. 2006. 54 ff.

Monografia (Conclusão do curso) – Universidade Federal do Pará, Centro de Ciências Jurídicas, Belém, p. 12. 4 TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente Judicial como Fonte do Direito. São Paulo: RT, 2004, p. 158-161. 5 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 441.

6 NEVES, Antônio Castanheira. O instituto dos assentos e a função jurídica dos supremos tribunais apud

ROSITO, Francisco.Teoria dos precedentes judiciais. Curitiba: Juruá, 2012, p. 93.

9

Ademais, ressalte-se que o ato de decidir não é o que forma o precedente, mas o

caminho que se levou para chegar à convicção da decisão. Em outras palavras, o importante

do precedente é a fundamentação da tese jurídica.

1.2. Elementos constitutivos: ratio decidendi e obiter dictum

O precedente judicial é composto pelas circunstâncias fáticas e pelos fundamentos

jurídicos e argumentação acessória que o julgador utilizou para resolver a controvérsia. Para

entender melhor tal composição, analisar-se-á o processo de construção da decisão judicial.

Ora, o magistrado, ao decidir uma demanda judicial, cria duas normas jurídicas. A

primeira possui caráter geral, sendo fruto da interpretação dos fatos envolvidos na causa e de

sua relação com o Direito vigente: Constituição, leis etc. Trata-se de uma norma jurídica,

constante na fundamentação do julgado, criada para justificar sua decisão. Em outras palavras,

seria a razão explicitamente dada pelo juiz para chegar àquela decisão. Já a segunda, de

caráter individual, é a própria decisão acerca daquele conflito de interesses submetido à

análise jurisdicional. Esta se aplica somente às partes e constitui uma norma jurídica

individualizada, presente no dispositivo da decisão, que rege apenas determinado caso

concreto.7

Aquela norma jurídica, de caráter geral, traduzida nos fundamentos jurídicos que

sustentam a decisão é justamente a ratio decidendi, ou seja, as razões de decidir. Trata-se de

uma norma transcendental, posto que poderá servir como uma formatação basilar para outras

decisões futuras que se identificarão com os fatos constantes na limitação feita pelas razões de

decisão. Ela é a porção do julgado que vincula os demais órgãos judiciais. É justamente a

norma que se extrai de um julgado e que governará casos semelhantes. A sua definição

pressupõe a plena compreensão dos fatos juridicamente relevantes para a causa, da questão de

direito que eles colocam, bem como o exame dos fundamentos utilizados pelo tribunal para

decidir o caso concreto.

É preciso perceber que a ratio decidendi não é sinônimo de fundamentação –

tampouco, de raciocínio judiciário. Na verdade, ela não se confunde com nenhum dos

elementos da decisão judicial (relatório, fundamentação e dispositivo). A fundamentação – e o

7 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 442.

10

raciocínio judiciário que nela tem lugar – diz com o caso particular. Nada obstante, tanto a

ratio como a fundamentação são formadas com material recolhido na justificação.8

“A tese jurídica (ratio decidendi) se desprende do caso específico e pode ser aplicada

em outras situações concretas que se assemelhem àquela em que foi originariamente

construída”.9 Devido a esse caráter geral e à potencialidade de se desprender de um caso

específico, a ratio decidendi constitui a essência do precedente judicial.

Ademais, para construir um caminho de argumentação jurídica o juízo passa por

diversos fundamentos, considerações ou comentários, seja para comparação, contraposição,

etc. Existem, então, argumentos jurídicos expostos apenas de passagem na motivação da

decisão, de serventia suplementar, que constituem o chamado obiter dictum. Ou seja, é a

fundamentação acessória da interpretação jurídica realizada na decisão, é tudo aquilo que,

retirado da fundamentação da decisão judicial, não alterará a norma jurídica individual.

De acordo com os ensinamentos de Fredie Didier Jr, Paula Sarno Braga e Rafael

Oliveira:

O obiter dictum (obiter dicta, no plural), ou simplesmente dictum, consiste nos

argumentos que são expostos apenas de passagem na motivação da decisão,

consubstanciando juízos acessórios, provisórios, secundários, impressões ou

qualquer outro elemento que não tenha influência relevante e substancial para a

decisão.

O obiter dictum, embora não sirva como precedente, não é desprezível. O obiter

dictum pode sinalizar uma futura orientação do tribunal, por exemplo.10

É importante esclarecer que a essência do precedente é apenas a razão de decidir do

julgado, a sua ratio decidendi. É dizer que os fundamentos que sustentam os pilares de uma

decisão é que podem ser invocados em julgamentos posteriores.

As circunstâncias de fato que deram embasamento à controvérsia e que fazem parte do

julgado não têm o condão de tornar obrigatória ou persuasiva a norma criada para o caso

concreto. Além disso, os argumentos acessórios elaborados para o deslinde da causa (obiter

8 ARENHART, Sergio Cruz; MITIDIERO, Daniel; MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo

civil; tutela dos direitos mediante procedimento comum. Vol. 2. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2015, p. 345. 9 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 443.

10 Idem. Ibidem. p. 444.

11

dictum) não podem ser utilizados com força vinculativa por não terem sido determinantes para

a decisão.11

Assim sendo, o precedente judicial precisa ser compreendido como texto que precisa

ser interpretado; a ratio decidendi, por sua vez e em complemento a essa perspectiva, seria

a norma do precedente, é o comando construído a partir do seu texto que vincula o

jurisdicionado. Já a obiter dictum é a parte da decisão judicial que não servirá para a

construção da norma do precedente, posto que apenas acrescenta argumentos à ratio

decidendi para chegar-se a um decisão melhor explicada e detalhada.

1.3. A confusão terminológica entre os institutos da súmula, jurisprudência e precedente

O Novo Código de Processo Civil, embora recorrentemente faça referência às

expressões precedente, jurisprudência e súmula, olvidou-se em traçar a diferença ontológica

entre os termos. Contribui, portanto, para criar uma confusão entre tais institutos, já que os

coloca no mesmo patamar, em seu art. 927. Assim, faz-se imperioso delinear o conceito de

cada um deles.

Primeiramente, destaque-se que todos provêm de uma matriz em comum, isto é, da

produção dos tribunais colegiados. Sendo assim, as sentenças monocráticas, quando

invocadas em casos análogos, constituem exemplos e importante subsídio, mas não são

consideradas quaisquer um dos termos acima.12

Jurisprudência, para grande parte da doutrina, seria o conjunto de decisões em um

mesmo sentido, sobre uma mesma matéria. Seria o produto de reiteradas decisões judicias em

um mesmo sentido. Para a jurisprudência ser formada, portanto, há a necessidade do elemento

quantitativo.

O precedente, por sua vez, não precisa contar com uma reiteração numérica, o aspecto

quantitativo é irrelevante, podendo ser extraído de uma única decisão judicial. No entanto,

para a decisão judicial formar um precedente, há características essenciais que ela deve

apresentar. Ora, ela precisa possuir não só a solução para determinado caso concreto, mas

também a capacidade de influir e ser diretriz para as decisões futuras que sejam proferidas em

11 TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2004, p. 14. 12 TUCCI, José Rogério Cruz e. Notas sobre os conceitos de jurisprudência, precedente judicial e súmula.

Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-jul-07/paradoxo-corte-anotacoes-conceitos-jurisprudencia-

precedente-judicial-sumula Acesso em: 27/03/2017.

12

casos idênticos ou semelhantes àqueles. O precedente exige que haja concordância nas razões

de decidir, ele é extraído dos fundamentos de uma decisão.

Nesse ponto, importantes são as lições de Câmara sobre o que vem a ser

jurisprudência:

[...] há uma diferença quantitativa fundamental entre precedente e jurisprudência. É

que falar sobre precedente é falar de uma decisão judicial, proferida em um

determinado caso concreto (e que servirá de base para a prolação de futuras decisões

judiciais). Já falar de jurisprudência é falar de um grande número de decisões

judiciais, que estabelecem uma linha constante de decisões a respeito de certa

matéria, permitindo que se compreenda o modo como os tribunais interpretam

determinada norma jurídica. [...] porém, há ligação entre o conceito de precedente e

o de jurisprudência. Afinal, a identificação de uma linha de jurisprudência constante

se faz a partir do exame de um conjunto de decisões judiciais, e cada uma destas

decisões poderá ser considerada, quando analisada individualmente,

um precedente.13

Por fim, súmulas são enunciados que representam a jurisprudência dos tribunais. Os

enunciados de súmula resumem, em poucas linhas, o entendimento do tribunal a respeito de

um determinado tema. Neste sentido:

A palavra súmula, do latim summula, significa sumário, resumo. No âmbito jurídico,

a súmula de jurisprudência refere-se a teses jurídicas solidamente assentes em

decisões jurisprudenciais, das quais se retira um enunciado, que é o preceito

doutrinário que extrapola os casos concretos que lhe deram origem e pode ser

utilizado para orientar o julgamento de outros casos. As palavras súmula e

enunciado, embora tenham significados diferentes, acabaram por serem usadas

indistintamente, de modo que, por súmula, atualmente entende-se comumente o

próprio enunciado, ou seja, o preceito genérico tirado do resumo da questão de

direito julgada.14

Não são dogmas, tanto que podem ser revistas e, quando justificadamente necessário,

ponderadas ou abrandadas à vista dos fatos concretamente postos nos autos da demanda. A

finalidade da súmula não é somente proporcionar maior estabilidade à jurisprudência, mas

também de facilitar o trabalho do advogado, dando maior segurança, e simplificando o

julgamento das questões mais frequentes.15

Em síntese, de um instituto para o outro há uma evolução gradativa. O ponto de

partida seria o precedente, o qual, quando recorrentemente aplicado, transforma-se na

jurisprudência do Tribunal, que futuramente pode transformar-se em súmula, sendo esta a

concretização textual e sintética do precedente.

13 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 826. 14 SIFUENTES, Mônica. Súmula vinculante: um estudo sobre o poder normativo dos tribunais. São Paulo,

Saraiva, 2005, p. 237. 15 VALADÃO, Haroldo. Súmulas. In: Enciclopédia Saraiva do Direito: coord. do Prof. R. Limongi França.

vol. 71. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 335.

13

1.4 Técnicas de flexibilização e superação dos precedentes

Existem hipóteses em que o magistrado pode deixar de observar a força vinculante de

um precedente. Ora, caso perceba que o litígio pendente de julgamento difere do precedente,

aplica-se o método de distinção, chamado de distinguishing, ou ainda caso o entendimento

firmado no precedente encontre-se ultrapassado, utiliza-se o método de superação, o

overruling.

Sobre o assunto, Marinoni leciona:

Note-se que o distinguishing atinge uma finalidade distinta daquela que é pretendida

no overruling. O primeiro não nega a necessidade do precedente, mas requer a sua

acomodação diante de nova circunstância. O overruling, ao contrário, em vista da

transformação dos valores, da evolução da tecnologia ou da própria concepção geral

do direito, parte da premissa certa de que o precedente não tem como ser mantido,

sendo impossível a sua correção ou emenda para atender uma nova situação. É

indiscutível, diante disso, que o overruling exige boa dose de tempo para ocorrer, ao

passo que o distinguishing se relaciona ao tempo necessário para a percepção de

circunstância inicialmente não prevista. Dessa forma, embora o distinguishing não

seja algo que faça parte da rotina do tribunal, ele não tem requisitos tão rígidos

quanto os do overruling.16

1.4.1 Método de distinção do precedente - distinguishing

Nas hipóteses em que o órgão julgador está vinculado a precedentes judiciais (mais

adiante será detalhado os precedentes considerados vinculantes no Brasil), o magistrado deve,

necessariamente, perpassar certas etapas.

Primeiramente, ele deve observar se o caso sob análise apresenta alguma semelhança

com outros já julgados. Se encontrar algum possível precedente, deve identificar os elementos

objetivos da demanda em julgamento, confrontando-os com os elementos caracterizadores de

demandas anteriores, realizando uma comparação entre ambos.

Num segundo momento, vê-se o seguinte: havendo aproximação, aplica-se o

precedente, no entanto, se não houver ou existindo alguma peculiaridade no caso que afaste a

aplicação da ratio decidendi daquele precedente, o magistrado poderá se ater à hipótese sub

judice sem se vincular ao julgamento anterior. Portanto, quando se percebe que no caso

específico há alguma característica diferente, isso pode acarretar no afastamento do

precedente.

16 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 362.

14

Esta comparação e eventual distinção entre os casos leva o nome técnico de

distinguishing (ou distinguish), havendo um distringuishing método, que seria o primeiro

momento, e resultado, o segundo.17

Denota-se que, neste método, a aplicação do precedente é afastada, quando um caso

aparenta ser similar a ele, mas apresenta distinção essencial, seja porque não há coincidência

entre os fatos fundamentais discutidos e aqueles que serviram de base à ratio decidendi

constante no precedente, seja porque a despeito de existir uma aproximação entre eles, alguma

particularidade no caso em julgamento afasta a aplicação do precedente. Esse afastamento,

contudo, é casualístico, mantendo-se o precedente válido no ordenamento jurídico. Isto é,

“não significa que o precedente constitui bad law, mas somente inapplicable law.”18

De mais a mais, no caso de o distinguishing ser usado arbitrariamente pelo julgador -

caso em que o magistrado usa a distinção, sem esta existir, para julgar conforme seu

entendimento - o sistema pode transformar-se em um caos.19 Em razão disso, percebe-se a

obrigatoriedade da fundamentação ao se valer de uma distinção para não aplicar um

precedente.

1.4.2 Método de superação do precedente – overruling

Com as mais diversas mudanças da sociedade, seja política, social, etc, a atividade

interpretativa tende a acompanhá-la ao longo dos anos. A atenção aos costumes e usos atuais

bem como a sistematização dos princípios, de modo a considerá-los em conexão com outras

normas do ordenamento, são formas que possibilitam a mudança no sentido interpretativo nas

normas. Assim, embora seja primordial buscar um Judiciário que ofereça soluções com maior

segurança jurídica, coerência, celeridade e isonomia, ignorar tais mudanças seria engessar os

órgãos jurisdicionais, no sentido de vincular eternamente a aplicação de determinado

entendimento.

Ora, o direito brasileiro não deve nem pode manter-se obsoleto, pois, assim como a

sociedade é dinâmica, as decisões judiciais também devem ser. É imperioso que se possibilite

aos tribunais modificar sua orientação no decorrer do tempo, caso necessário.

17 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 491. 18 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 328.

19 VIEIRA, Andréia Costa. Civil Law e Common Law: os dois grandes sistemas legais comparados. Porto

Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2007. p.127.

15

Por tais razões é que a doutrina – amparada nas teorias norte-americanas – propõe a

adoção de técnicas de superação dos precedentes judiciais. Nesse contexto, surgiu a técnica do

overruling, a qual difere do distinguishing por revogar o entendimento consubstanciado no

precedente por outro e não apenas afastar sua aplicação do caso concreto.

Para Fredie Didier Jr., trata-se de técnica através da qual um precedente perde a sua

força vinculante e é substituído (overruled) por um outro precedente. Essa revogação pode

ocorrer de forma explícita – quando um tribunal expressamente resolve adotar um novo

entendimento, abandonando o anterior – ou implícita – quando o novo precedente se limita a

instaurar novo posicionamento, em desacordo com o anterior, sem lhe mencionar. Esta última

espécie, no entanto, não é admitida no direito processual brasileiro, em virtude da exigência

de fundamentação adequada e específica para a superação de uma determinada orientação

jurisprudencial (art. 927, § 4°, CPC).20

Decisão equivocada, mudança dos valores sociais ou mudanças na concepção geral

acerca do direito podem deixar o precedente desatualizado e o efeito que se esperava obter

com ele não deve subsistir. Fatores como estes, autorizam a aplicação do overruling.

No ordenamento jurídico brasileiro, um exemplo de técnica de superação de

precedentes judiciais é o processo para revisão ou cancelamento de súmulas vinculantes, que

tem previsão no art. 103-A, §2º, da Constituição, na Lei Federal nº. 11.417/2006 e no

Regimento Interno do STF.21

20 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 494.

21 Idem. Ibidem. p. 495.

16

2. OS PRECEDENTES JUDICIAIS E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

2.1 A crise do Judiciário brasileiro e a aproximação com o Common Law

Como anteriormente dito, a teoria de utilização dos precedentes advém do sistema

Common Law, adotado pelos países anglo-saxões, que se baseia no uso e costume. Neste

sistema, o Judiciário é apto e legítimo a criar direitos, a partir da atividade judicante. A

jurisprudência tem importância de fonte primária do direito, acima, na maioria das vezes, até

da lei, que também existe. Os juízes e tribunais se espelham nos costumes, no que já foi

decidido anteriormente. Esse respeito ao passado é inerente à teoria declaratória do Direito e é

dela que se extrai a ideia de precedente judicial.22

Já o Civil Law, sistema adotado no Brasil, tem como principal fonte do Direito a lei

em sentido amplo, abrangendo a Constituição, leis ordinárias e os atos normativos em geral,

como decretos, resoluções, medidas provisórias etc. Em geral as jurisdições do Civil Law são

organizadas preponderantemente com o objetivo de aplicar o Direito escrito, ou seja, o Direito

positivado. Os adeptos do sistema do Civil Law consideram que o juiz é o intérprete e

aplicador da lei, porém, não lhe reconhecem os poderes de criador do direito. Assim se

verifica que as balizas legais e técnicas da faculdade criadora dos juízes que laboram no

sistema da Civil Law são bem mais restritas e limitadas do que ocorre no sistema da Common

Law.

Os dois sistemas sempre foram vistos como uma dicotomia, restava clara a

impossibilidade de convivência entre ambos. Acreditava-se que o Civil Law nunca poderia

usar institutos do Common Law pela própria diferença na atuação entre os juízes de cada

sistema, já que para um a lei sempre iria prevalecer e para outro a jurisprudência.

No entanto, percebeu-se que a lei é restrita, que ela é insuficiente para reger a

imensidade de casos concretos que podem acontecer. Por isso, o legislador tem adotado, cada

vez mais, conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas abertas, incorporando a obediência a

precedentes para trazer segurança à crise de insuficiência da lei.

Ademais, há vários anos o Judiciário brasileiro vem atravessando uma forte crise

numérica, traduzida no fato de que tal poder não tem mais a capacidade de gerir de forma

adequada a quantidade de processos que estão sob sua tutela. O legislador, portanto, vem

trazendo inovações para que a prestação jurisdicional seja dada de forma mais célere, criando

institutos para racionalizar o julgamento de casos repetitivos. Assim, a busca pela melhor

22 LEMOS, Vinicius Silva. Os precedentes judiciais e seus Princípios no Novo Código de Processo Civil.

Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo, nº 153, dez./2015, p. 141/142.

17

aplicabilidade da justiça e pela resolução da multiplicidade de demandas idênticas ocasionou

na convergência dos dois sistemas.

Coloca-se em destaque a atuação dos órgãos jurisdicionais, notadamente dos tribunais

colegiados. Nas palavras de Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Jr., essa nova perspectiva “se

volta a solucionar com maior segurança jurídica, coerência, celeridade e isonomia as

demandas de massa, as causas repetitivas, ou melhor, as causas cuja relevância ultrapassa os

interesses subjetivos das partes”.23

Sobre o assunto, Humberto Theodoro Júnior, discorre:

É por estas razões que o Novo CPC fornece fundamentos normativos para o sistema

de precedentes brasileiro, é dizer, os já mencionados princípios da comparticipação,

coerência, integridade, estabilidade e da busca do resgate da efetiva colegialidade na

sua formação, para, com esta medida, evitar-se o retrabalho dos tribunais que

analisam (com recorrência) mal e de modo superficial os casos, induzindo que

tenham que desencadear reanálises mediante a utilização de argumentos

negligenciados na primeira análise, pelo equívoco da motivação formal.24

O que se quer, através desse sistema de precedentes implantado pelo Novo CPC, é a

racionalização das decisões judiciais e o fortalecimento do direito jurisprudencial. “Nesta

dimensão, os advogados podem dar aos seus clientes uma previsibilidade acerca de uma dada

situação jurídica ou de um possível litígio”.25 A importância é evitar decisões conflitantes

acerca de situações análogas, mantendo-se a coerência e igualdade no sistema processual.

2.2 As ferramentas inovadoras para o sistema de precedentes

“O sistema de precedentes judiciais no Brasil ainda está incompleto e depende de

algumas imprescindíveis correções para que dele se possa extrair a finalidade esperada”.26

De fato, não é incomum encontrarmos resistência na doutrina e nos tribunais acerca da

aplicação dos precedentes judiciais. No entanto, em razão da lenta velocidade pela qual se

processam as alterações legislativas no Brasil, a tendência é que a jurisprudência ganhe

musculatura, a fim de que possa solucionar as situações que não podem ser resolvidas por

23 ATAIDE JR, Jaldemiro Rodrigues de. Uma proposta de sistematização da eficácia temporal dos

precedentes diante do projeto de novo CPC. O projeto do Novo Código de Processo Civil. Estudos em

homenagem ao Professor José Joaquim Calmon de Passos (Coord. Fredie Didier e Antonio Adonias Aguiar

Bastos). Salvador: Juspodivm, 2012, p.363. 24 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Novo CPC: Fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2015, p. 340/341. 25 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 169. 26 LIMA, Tiago Asfor Rocha. Precedentes judiciais civis no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 480.

18

meio da aplicação literal da lei. Com vistas ao aperfeiçoamento do stare decisis brasileiro, o

Novo Código de Processo Civil trouxe importantes mecanismos referentes ao sistema de

precedentes judiciais e, consequentemente, de uniformização e estabilização da jurisprudência

pátria. 27

Permitiu-se, por exemplo, a rejeição liminar da demanda em um maior número de

casos, entre outras modificações que fortaleceram os precedentes judiciais, as quais serão

destrinchadas a seguir.

2.2.1 Necessidade de fundamentação dos atos judiciais

O art. 499 do Código de Processo Civil vigente estabelece os elementos e efeitos da

sentença, preconizando o seguinte:

Art. 499 [...]

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela

interlocutória, sentença ou acórdão, que:

[...]

V – se limita a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus

fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta

àqueles fundamentos;

VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado

pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a

superação do entendimento.28

O dispositivo em questão demonstra a importância que os precedentes conquistaram

no sistema jurídico brasileiro. Vê-se que o que vincula as demais instâncias são os

fundamentos determinantes do precedente, portanto, sua ratio decidendi. Como anteriormente

dito, ela é o coração do precedente, é essa fundamentação que servirá de base para que o

precedente seja aplicado em casos análogos.29 Sendo assim, é dever do magistrado apontar

não apenas o precedente que aplicará, mas também a tese jurídica do mesmo.

A decisão judicial deverá apresentar também os motivos pelos quais está aplicando à

demanda em análise, a orientação consolidada jurisprudencialmente. Ela deve certificar que o

caso concreto “se ajusta aos fundamentos” do julgado anterior.

27 DONIZETTI, Elpídio. A força dos precedentes no Novo Código de Processo Civil. Disponível em:

http://www.tjmg.jus.br/data/files/7B/96/D0/66/2BCCB4109195A3B4E81808A8/A%20forca%20dos%20precede

ntes%20no%20novo%20Codigo%20de%20Processo%20Civil.pdf Acesso em: 17/03/2017.

28 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 20/03/2017. 29 MELLO, Patrícia Perrone Campos. Como se opera com precedentes segundo o Novo CPC? Disponível em:

https://jota.info/artigos/como-se-opera-com-precedentes-segundo-o-novo-cpc-22032016 Acesso em: 25/04/2017

19

Da mesma forma, para que o juiz deixe de seguir enunciado de súmula, jurisprudência

ou precedente invocado pela parte, deverá demonstrar que há distinção entre o precedente e a

situação concretamente apresentada ou que o paradigma invocado já foi superado. Ou seja,

para afastar a aplicação de um precedente, os parâmetros para a utilização do distinguishing

ou overruling devem ser explicitados. Isso porque se a nova ação apresenta diversidade fática

que requer decisão de questão de direito distinta, o precedente anterior não vincula a decisão

da última ação.30

2.2.2 Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) é instituto totalmente

novo no processo civil brasileiro, que busca a uniformidade das decisões judiciais. Trata-se de

instrumento previsto no artigo 976 do Novo CPC, in verbis:

Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas

quando houver, simultaneamente:

I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma

questão unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.31

Sendo assim, quando for verificada que uma determinada controvérsia está gerando ou

pode gerar uma multiplicação de causas relativas à mesma questão de direito, cabe o referido

procedimento. Seu objetivo é proporcionar um tratamento igualitário aos jurisdicionados,

dirimindo a insegurança jurídica que a coexistência de decisões conflitantes pode ocasionar.

Ademais, busca-se minimizar os efeitos decorrentes do excessivo número de processos em

trâmite no Judiciário brasileiro.

Ora, se, no âmbito jurisdicional de qualquer TRF ou TJ, surge uma determinada tese

acerca de uma situação fática e tal sustentação começa a se mostrar repetitiva ainda na 1ª

instância, o procedimento comum seria cada magistrado julgar a ação que lhe compete, de

acordo com sua convicção, o que, certamente, traria decisões conflitantes. No entanto, por

meio do denominado IRDR, qualquer uma das partes, MP, Defensoria Pública ou mesmo o

órgão julgador (CPC, art. 977) poderão requerer a instauração do incidente, dirigindo seu

pedido ao presidente do respectivo tribunal, visando uma resolução uniforme da questão

múltipla debatida. Deferido o processamento do IRDR (pelo órgão colegiado competente

30 Idem. Ibidem. 31 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 04/04/2017.

20

para o seu julgamento), a consequência será a suspensão do processo em que ele for arguido

(causa paradigma) e também de todos os demais processos que tratarem da tese repetitiva no

âmbito do tribunal, seja em 1ª ou 2ª instância, até sua solução.32

Logo, com o intuito de garantir a celeridade processual, o legislador criou um limite

temporal para o julgamento do IRDR, a saber:

Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre

os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas

corpus.

Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos

processos prevista no art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido

contrário.33

No mais, o acórdão proferido no julgamento do incidente constitui precedente judicial

vinculante. Ele servirá de parâmetro para os processos em tramitação, bem como para os que

ainda venham a ser instaurados, vinculando os órgãos de primeiro grau e o próprio tribunal.

Sendo assim, se a tese adotada no incidente não for seguida, caberá reclamação

constitucional. Observe-se o art. 985 do Novo CPC:

Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:

I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão

de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive

àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região;

II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar

no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986.

§ 1o Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação.

§ 2o Se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço

concedido, permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao

órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva

aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.34

No entanto, algumas críticas foram feitas a esse novo incidente, do qual decorre

precedente obrigatório. Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior, por exemplo, manifestou-se

para dizer que ele traz “o risco de que o entendimento jurisprudencial venha a ser fixado de

forma prematura, ensejando novos dissensos, num curto lapso temporal, tendo em vista o

32 RUBENNING, Michael. Decifrando o novo CPC: a teoria dos precedentes. Disponível em:

https://micrub.jusbrasil.com.br/artigos/317096689/decifrando-o-novo-cpc-a-teoria-dos-precedentes Acesso em:

04/04/2017. 33 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 04/04/2017. 34 Idem. Ibidem.

21

surgimento de novos argumentos não imaginados ou não trazidos à discussão na época do

incidente”.35

Evaristo Aragão Santos, por sua vez, também critica o incidente de resolução de

demandas repetitivas, porque, segundo ele, a possibilidade atribuída a uma única pessoa de

requerer ao STF ou ao STJ (a depender da matéria em jogo) a suspensão dos processos

individuais sobre a matéria objeto do incidente aborta a diversidade e a possibilidade de se

ampliar a discussão da causa.36

Percebe-se que o que se critica é a possibilidade de formação de precedente judicial

vinculante, sem que tenha havido um amplo debate em torno da questão tratada. No entanto, a

proposta trazida pelo Novo CPC é que antes da formação do precedente, por meio do

incidente de resolução de demandas repetitivas, seja promovido um amplo debate, permitindo

a participação das partes e dos demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com

interesse na controvérsia, que poderão apresentar novos argumentos e informações.

Por outro lado, fixado o precedente judicial, nada impede que, fundamentadamente,

promova-se a sua alteração ou superação, aplicando-se a técnica do overruling. É que o art.

985, I,37 autoriza o próprio Tribunal competente para julgar o IRDR, assim como o Ministério

Público e a Defensoria Pública a dar início ao procedimento de revisão da tese jurídica. Por

isso, caso algum deles entenda que este seja o caso, poderá suscitar a questão para o

colegiado, que decidirá se dá início, ou não, a um novo incidente de julgamento de questão

repetitiva.

2.2.3 Incidente de Assunção de Competência

O antigo Código de Processo Civil possibilitava ao relator, diante de um recurso

envolvendo relevante questão de direito, propor que este fosse julgado pelo órgão colegiado

que o regimento indicasse, com o intuito de prevenir ou compor divergência entre câmaras ou

turmas do tribunal.

O Novo Código de Processo Civil, por sua vez, conservou essa “assunção de

competência”, acrescida de algumas peculiaridades. Agora, o relator terá o dever, e não

35 ATAÍDE JÚNIOR, Jaldemiro Rodrigues. Precedentes vinculantes e irretroatividade do direito no sistema

processual brasileiro: Os Precedentes dos Tribunais Superiores e sua Eficácia Temporal. Curitiba: Juruá,

2012, p.130

36 SANTOS, Evaristo Aragão. Em torno do conceito e da formação do precedente judicial. In WAMBIER,

Teresa Arruda Alvim (coord.). Direito jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p.176. 37 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 07/04/2017.

22

apenas a faculdade, de propor o incidente, além de que as partes e o Ministério Público

poderão suscitá-lo. Ademais, com a instauração do incidente, suspendem-se todas as

demandas que versem sobre a mesma matéria, até que sobrevenha a decisão acerca da

controvérsia, a qual vinculará todos os órgãos daquele tribunal, que diante de outro caso

análogo não poderão decidir de maneira diversa.38

Outro detalhe importante é que antigamente a assunção de competência só cabia em

julgamento de apelação ou de agravo, ou seja, nos tribunais de segundo grau. Hoje, em

qualquer recurso, na remessa necessária ou nas causas de competência originária, poderá

ocorrer a instauração do incidente. Ademais, a questão de direito discutida não pode repetir-se

em múltiplos processos, pois tal fator atrairia a aplicação do Incidente de Resolução de

Demandas Repetitivas.

A Assunção de Competência constitui mais um instrumento de valorização do

precedente e está previsto no art. 947 do Novo CPC:

Art. 947: É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso,

de remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante

questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos

processos.

§ 1o Ocorrendo a hipótese de assunção de competência, o relator proporá, de ofício

ou a requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, que

seja o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária julgado

pelo órgão colegiado que o regimento indicar.

§ 2o O órgão colegiado julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de

competência originária se reconhecer interesse público na assunção de competência.

§ 3o O acórdão proferido em assunção de competência vinculará todos os juízes e

órgãos fracionários, exceto se houver revisão de tese.

§ 4o Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a

respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre

câmaras ou turmas do tribunal.

O termo assunção, no sentido que aqui se impõe, significa elevação. No caso, haverá

a ascensão da competência de um órgão fracionário que inicialmente seria competente para

o julgamento do recurso, remessa necessária ou ação originária no Tribunal, para um órgão

colegiado especificado no Regimento Interno do respectivo Tribunal. Há, portanto,

38 SARLET. Ingo Wolfgang Sarlet; TESHEINER, José Maria Rosa; FERNANDES, Juliano Gianechini.

Instrumentos de uniformização da jurisprudência e precedentes obrigatórios no Projeto do Código de

Processo Civil. Disponível em: http://www.tex.pro.br/home/artigos/175-artigos-set-2013/4751-instrumentos-de-

uniformizacao-da-jurisprudencia-e-precedentes-obrigatorios-no-projeto-do-codigo-de-processo-civil Acesso em:

07/04/2017.

23

deslocamento que se dá no campo da competência funcional, que é de natureza absoluta.

Este deslocamento pode ser também chamado de avocação ou de afetação.39

Ressalte-se que o acórdão proferido pelo Tribunal forma um precedente de força

obrigatória, cuja inobservância pode ensejar a propositura de reclamação, conforme disposto

no art. 988, IV, do Novo CPC40. Importante sublinhar que de acordo com o Novo CPC o

precedente judicial firmado neste incidente poderá ser usado em diversas hipóteses de

julgamento antecipatório, evitando o trâmite de causas que tratem de questões idênticas, e

garantindo ao julgador que aplique ou distinga o caso daquele segmentado na jurisprudência.

Aprimora-se, assim, o caráter normativo e sistemático do instituto.

Por fim, agora que já explanados os Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas

e o de Assunção de Competência, é possível perceber a identidade de seus objetivos, quais

sejam: conferir maior estabilidade e previsibilidade à jurisprudência do tribunal local; evitar a

divergência interpretativa e a chamada “jurisprudência lotérica” entre juízes vinculados ao

mesmo tribunal; garantir a celeridade processual; diminuir os recursos aos tribunais

superiores; prestigiar a igualdade e a segurança jurídica; atribuir força obrigatória e

vinculativa ao precedente do tribunal local com relação aos órgãos a ele vinculados nas

demandas repetitivas; acabar com o fenômeno da pulverização de demandas que versem sobre

um mesmo assunto.41

2.3 A eficácia dos precedentes

Os precedentes têm, quando classificados sobre a sua eficácia em relação aos

próximos casos, diferentes espécies de aplicabilidade. Aqui, serão abordados os precedentes

vinculantes, impeditivos, permissivos e persuasivos.

2.3.1 Precedentes judiciais obrigatórios, vinculantes ou normativos

39 SOARES, Marcos José Porto. Do Incidente de Assunção de Competência segundo o Novo Código de

Processo Civil. Disponível em: https://marcosjps.jusbrasil.com.br/artigos/296243608/do-incidente-de-assuncao-

de-competencia-segundo-o-novo-codigo-de-processo-civil Acesso em: 07/04/2017.

40 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 07/04/2017. 41 GARCIA, André Luis Bitar de Lima. Sistema de precedentes do novo CPC terá impacto em empresas.

Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-ago-22/sistema-precedentes-cpc-impacto-empresas. Acesso em

20/04/2017.

24

Os precedentes vinculantes são a regra no Direito Common Law, onde sua

obrigatoriedade assenta-se na própria cultura jurídica. Num sistema híbrido igual ao

brasileiro, com base no Civil Law e alguns aspectos do Common Law, a vinculação existente

do precedente decorre de determinação especificada em alguma norma. Assim, sem previsão

legal não há obrigatoriedade ao juízo que enfrenta tal matéria em aplicar o precedente.42

Nesse contexto, o art. 927 do Novo CPC inovou ao introduzir um grande número de

precedentes vinculantes no sistema brasileiro, observe-se:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de

constitucionalidade;

II - os enunciados de súmula vinculante;

III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de

demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial

repetitivos;

IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria

constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.43

Portanto, além das decisões proferidas em controle concentrado de constitucionalidade

e das súmulas vinculantes, que já possuíam tal eficácia anteriormente, hoje, os seguintes

precedentes apresentam efeitos obrigatórios e gerais: os julgados proferidos pelo STF e STJ,

em recursos extraordinários e especiais repetitivos; os acórdãos produzidos pelos demais

tribunais, em incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) e em incidente de

assunção de competência (IAS); os enunciados das súmulas do STF em matéria constitucional

e do STJ em matéria infraconstitucional; a orientação do plenário ou do órgão especial aos

quais estiverem vinculados.

Em todos esses casos, os precedentes deverão ser obrigatoriamente observados pelas

demais instâncias, sob pena de cassação do entendimento divergente, por meio de

reclamação.44

Note-se que o CPC faz menção específica acerca da obrigatoriedade de se seguir

súmulas do STF relativas à matéria constitucional e súmulas do STJ relativas à matéria

infraconstitucional. Isso se dá porque atualmente existem diversas súmulas do STF

disciplinando matérias processuais, por exemplo, que dizem respeito à matéria

42 LEMOS, Vinicius Silva. Os precedentes judiciais e seus Princípios no Novo Código de Processo Civil.

Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo, nº 153, dez./2015, p. 144/145.

43 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 20/04/2017.

44 MELLO, Patrícia Perrone Campos. Como se opera com precedentes segundo o Novo CPC? Disponível em:

https://jota.info/artigos/como-se-opera-com-precedentes-segundo-o-novo-cpc-22032016 Acesso em: 20/04/2017.

25

infraconstitucional, de forma que há doutrina afirmando que tais súmulas não teriam eficácia

vinculante.45

Destaque-se, ainda, que o supracitado rol não é exaustivo, sendo importante trazer à

tona o art. 926, também introduzido pelo Novo CPC:

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável,

íntegra e coerente.

§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento

interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua

jurisprudência dominante.

§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias

fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.46

Do artigo em comento, depreende-se que os tribunais (ou seja, todos os órgãos

jurisdicionais colegiados, incluindo-se as Turmas Recursais dos Juizados Especiais) não

podem apresentar oscilações de entendimento em seus julgados, devendo buscar a

integridade da aplicação do direito. Eles devem, portanto, velar pela “coerência interna de

seus pronunciamentos”.47

Sobre o assunto, destaque-se o enunciado n. 169 do Fórum Permanente de

Processualistas Civis: “órgãos do Poder judiciário devem obrigatoriamente seguir os seus

próprios precedentes”.48

No mesmo sentido, Thomas Bustamante ensina que:

Antes mesmo de produzir e seguir a sua própria súmula, os tribunais devem seguir

seus próprios precedentes, para que haja sólida jurisprudência a ser sumulada. Esse

dever é um dos conteúdos dos deveres gerais de integridade e coerência.

Na verdade, "sempre que um juiz ou tribunal for se afastar de seu próprio

precedente, este deve ser levado com consideração, de modo a que a questão do

afastamento do precedente judicial seja expressamente tematizada" - não se pode

admitir overruling implícito.49

Ademais, o caráter vinculante dos precedentes apresentam uma acepção tanto interna

como externa, ou seja, são impositivos tanto para o tribunal que o produziu, como também

45 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC: Código de Processo Civil: Lei 13.105/2015: inovações,

alterações, supressões comentadas. São Paulo: Método, 2015. Ebook, p.155.

46 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 20/04/2017.

47 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de direito processual civil. 47ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p.

425 48 Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis – Coordenadores gerais: Fredie Dider Jr.,

Eduardo Talamini – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.

49 BUSTAMANTE. Thomas da Rosa de. Teoria do Precedente judicial - A justificação e a aplicação de

regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, p. 388.

26

para os demais órgãos a ele subordinados. Confira-se o enunciado n. 170 do Fórum

Permanente de Processualistas Civis: “As decisões e precedentes previstos nos incisos do

caput do art. 927 são vinculantes aos órgãos jurisdicionais a eles submetidos”.50

Os precedentes judiciais obrigatórios, vinculantes ou normativos transcendem ao caso

concreto, projetando efeitos não apenas entre as partes, mas firmando também uma orientação

a ser obrigatoriamente seguida em todas as hipóteses análogas. Ou seja, a decisão judicial que

formou o precedente repercute suas consequências sobre a esfera jurídica de terceiros, que

não intervieram no processo em que se formou a ratio decidendi.

2.3.2 Precedentes judiciais persuasivos

No direito brasileiro, os precedentes judiciais persuasivos são a regra. Isto é, a maioria

dos precedentes apenas serve como orientação aos magistrados, sendo que estes não estão

adstritos a aplicá-los em casos análogos. Os precedentes exercem forte influência no

convencimento dos julgadores e são utilizados para embasar e reforçar os fundamentos de

suas decisões.

Nas palavras de Cruz e Tucci, o precedente persuasivo “presta-se a auxiliar o julgador

no processo hermenêutico em busca da correta determinação do cânone legal aplicável ao

caso concreto. Apresenta-se, assim, com uma particular carga de persuasão pelo simples fato

de constituir indício de uma solução racional e socialmente adequada”.51

Para que tenham autoridade, estes precedentes dependem de vários outros fatores

como: a posição do tribunal que proferiu a decisão na hierarquia do Poder Judiciário, o

prestígio do juiz condutor da decisão, a data da decisão, se foi unânime ou não, a qualidade da

fundamentação e etc.52

Sobre o assunto, importante colacionar os ensinamentos de Fredie Didier Jr., Paula

Sarno Braga e Rafael Oliveira:

Nenhum magistrado está obrigado a segui-lo; “se o segue, é por estar convencido de

sua correção”. Há situações em que o próprio legislador reconhece a autoridade do

precedente persuasivo e isso tem o condão de repercutir em processos posteriores.

Isso ocorre, por exemplo, quando admite a interposição de recursos que têm por

objetivo uniformizar a jurisprudência com base em precedentes judiciais, tais como

os embargos de divergência (art. 1.04 3, CPC) e o recurso especial fundado em

50 Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis – Coordenadores gerais: Fredie Dider Jr.,

Eduardo Talamini – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016.

51 CRUZ E TUCCI, José Rogério. Precedente judicial como fonte de direito. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2004, p. 12. 52 SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante. Curitiba: Juruá, 2006, p. 126.

27

divergência (art. 105, 111, "c", CF, e 1.029, §1o, CPC). São casos em que a

existência de precedentes em sentido diverso é utilizada como mecanismo de

convencimento e persuasão do julgador no sentido de reformar sua decisão e adotar

aquele outro entendimento.53

2.3.3. Precedentes judiciais impeditivos e permissivos

Nesse caso, ambos são espécies de precedentes judicias vinculantes, mas que visam

garantir (permissivos) ou obstar (impeditivos) a apreciação de demanda, a revisão de decisão

judicial ou o reexame necessária. Somente com a existência de um precedente que o recurso

pode ser interposto criando um requisito de admissibilidade específico daquele recurso.

Exemplos de precedentes que possibilitam essa denegação de plano, seriam: aqueles

formados no julgamento de casos repetitivos ou de assunção de competência e enunciados de

súmula, que autorizam a improcedência liminar da demanda (art. 332, CPC); precedente que

foi transformado em enunciado de súmula e tem o poder de negar provimento a recurso que o

contrarie (932, IV, C PC); a tese firmada no julgamento de recursos repetitivos que leva à

inadmissão dos demais recursos sobrestados pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de

origem, que serão considerados prejudicados se o acórdão recorrido coincidir com orientação

do tribunal superior (art. 1040, I, CPC). Já quanto aos que autorizam o acolhimento do ato

postulatório, tem-se: a existência de tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em

súmula vinculante, ao autorizar a concessão de tutela de evidência documentada (art. 311,II,

CPC)54

2.4 Críticas frente ao novo paradigma

“Embora o Civil Law caminhe em direção a uma verdadeira sobreposição entre a

interpretação e a criação do direito, 'oficialmente' resiste-se em aceitar a decisão judicial como

fonte formal do direito.”55

Há autores que entendem que o uso dos precedentes vinculantes seria um obstáculo ao

desenvolvimento do Direito e ao surgimento de decisões adequadas às novas realidades

sociais. Muitos apontam afronta à realização da isonomia substancial, violação do princípio

53 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015. p. 456/457.

54 Idem. Ibidem. p.458/459. 55 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 204.

28

da separação dos poderes, violação da independência dos juízes, violação do juiz natural e a

violação da garantia do acesso à justiça.

Oposição frequente à instituição dos precedentes vinculantes é feita com o argumento

de que haveria violação ao princípio da separação de poderes, em que, precipuamente, o

Poder Legislativo legisla, o Poder Executivo executa e o Poder Judiciário julga. A

Constituição, salvo exceções, não autorizaria a função legislativa ao Poder Judiciário, de

forma que os precedentes normativos representariam uma clara invasão de competência ao

permitir ao Poder Judiciário produzir normas gerais e abstratas, como no rol do art. 927 do

CPC.56

Em contrapartida, aduz a corrente contrária que a atividade jurisdicional é justamente

a reconstrução da norma, aplicando a lei, que apresenta caráter geral e abstrato ao caso

específico e formando o precedente, norma geral e concreta. As normas só existem por meio

da interpretação dos magistrados, sendo a lei o limite à discricionariedade judicial.57 Outro

fator importante é a interação funcional que existe entre os poderes, que são independentes,

mas harmônicos entre si, num “Sistema de Freios e Contrapesos”. Assim, a atribuição de

efeito vinculante às decisões judiciais não exclui funções inatas de um poder, outorgando-as a

outro, em determinados casos. O legislador buscou concretizar princípios constitucionais

caros à ordem jurídica, dentre eles o da segurança jurídica, da igualdade, da celeridade etc.

Dessa forma, quando edita um precedente com eficácia vinculante, o Poder Judiciário exerce

função paralegislativa.58

Ademais, mesmo com as novas exigências e avanços que o Novo Código de Processo

Civil trouxe, a aplicação dos precedentes ocorre, muitas vezes, de maneira deturpada. É como

Dierle Nunes e André Frederico Horta explicam:

Caso a nova lei não seja interpretada em sua unidade e em conformidade com a

teoria normativa da comparticipação, corre-se o risco de manter-se o “velho” modo

de julgamento empreendido pelos magistrados, que, de modo unipessoal (solista),

aplicam teses e padrões sem a promoção de juízos de adequação e aplicabilidade ao

caso concreto, citando ementas e súmulas de forma descontextualizada, e não se

preocupando em instaurar um efetivo diálogo processual com os advogados e as

partes, especialmente se a doutrina não reassumir a função e a postura crítica que

dela se espera, ao contrário de se conformar em repetir o ementário e os enunciados

56 SOUSA, Adriano Antônio de. O tradicional sistema processual brasileiro de Revolução dos precedentes

judicias no CPC/2015. Disponível em:

http://www.esamg.org.br/artigo/Art_Adriano%20Ant%C3%B4nio%20de%20Sousa_17.pdf Acesso em:

06/05/2017 57 Idem. Ibidem. 58 MORAIS, Gisella Teles de Menezes. O precedente vinculante na solução das controvérsias. Revista de

Direito: Anhanguera Educacional. vol. 14, n. 19, 2011. p. 40/41.

29

sumulares de uma prática jurisprudencial que se vale, em um círculo vicioso, dos

mesmos enunciados e ementas.59

59 NUNES, Dierle; HORTA, André Frederico. Aplicação de precedentes e distinguishing no CPC/2015: uma

breve introdução. In: CUNHA, Leonardo Carneiro da; MACÊDO, Lucas Buril de; ATAÍDE JR,

Jaldemiro Rodrigues de (org.). Precedentes judiciais no CPC. Coleção Novo CPC e novos temas. Salvador:

Juspodivm, 2015, no prelo, p. 6/7.

30

3. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS À LUZ DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

3.1 O Novo CPC e a constitucionalização do processo civil

Impende reconhecer a existência de um modelo constitucional de direito

processual estabelecido a partir dos princípios constitucionais que estabelecem o modo como

o processo civil deve desenvolver-se. A edição da lei 13.105/2015, que resultou no Novo

Código de Processo Civil, seguiu essa tendência de constitucionalização do processo, o que

implica que este deve ser interpretado com base na Carta Magna, sendo, assim, instrumento

de concretização dos direitos fundamentais. Em várias passagens, resta claro o objetivo do

Novo Código em entregar a realização plena e efetiva do direito material, sem tecnicismos.

O Novo CPC acha-se estruturado e aparelhado para cumprir a missão de um

processo justo capaz de realizar a tutela efetiva dos direitos materiais ameaçados ou

lesados, sem apego ao formalismo anacrônico e de acordo com os princípios

constitucionais democráticos que regem e asseguram o pleno acesso de todos ao

Poder Judiciário.60

Pois é a partir desse modelo constitucional de processo que foi construído o Código

de Processo Civil. E alguns dispositivos do Código mostram isso muito claramente,

como é o caso dos que tratam do princípio do contraditório (arts. 9o e 10),

compreendido como garantia de participação com influência e não surpresa, e do

que estabelece os casos em que se considera haver vício de fundamentação na

decisão judicial (art. 489, § 1o)61

No entanto, com a força vinculante que se têm atribuído aos precedentes no sistema

jurídico nacional, alguns princípios constitucionais merecem ser repensados, com o escopo de

adequação à teoria do precedente.

3.2 O princípio da isonomia

Como mencionado, um dos objetivos primordiais da inserção dos precedentes

vinculantes no direito brasileiro é evitar que jurisdicionados, em situações idênticas, recebam

decisões diferentes. O Novo Código de Processo Civil trouxe hipóteses em que o magistrado

tem o dever de, constatando a semelhança entre o caso concreto e determinado precedente,

aplicar sua ratio decidendi. Tal realidade garante a observância ao princípio da igualdade, ao

passo que promove um tratamento isonômico aos tutelados.

60 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil – Volume I. 56ª ed. Rio de Janeiro:

Editora Forense. 2015, p. 61.

61 CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas. 2016, p.21.

31

Presente no art. 5º, caput, da CF62, o princípio da isonomia de termina que todos são

iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. No entanto, é imprescindível que se

promova sua redefinição dogmática de forma que o ideal de isonomia seja frente ao Direito, e

não apenas à lei. A partir dessa ótica, a isonomia deve ser observada perante as decisões

judiciais, já que nada adiantaria a lei ser isonômica e os julgamentos não, o que resultaria

numa incongruência.63 Daí a importância do respeito aos precedentes na solução de casos

futuros, exigência que, definitivamente, se afina com a noção comum de igualdade.

Nas lições de Lima:

A isonomia reclamada é, portanto, a do Direito judicado, ou seja, aquele que resulta

da interpretação judicial. E o processo de interpretação judicial da norma legislada

impõe não apenas o conhecimento, mas também o reconhecimento dos precedentes

judiciais, exatamente para evitar que o resultado prático da demanda seja diverso de

caso semelhante já decidido, algumas vezes até por um órgão hierarquicamente

superior.64

3.3 A segurança jurídica

Ao afirmar que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada”65, a Constituição Federal confere a garantia de que nenhum ato normativo do

Estado atingirá situações consolidadas no passado, assegurando o seu respeito no presente e

no futuro.

No entanto, o princípio da segurança jurídica pode ser visto sob outra perspectiva,

projetada para o futuro. É a noção de segurança jurídica como previsibilidade, estabilidade.

Ora, quando os tribunais proferem decisões, eles põem em prática as leis, o Direito e a

sociedade age pautada justamente nessa materialização. Assim, é possibilitado ao indivíduo

antecipar as consequências jurídicas da conduta própria ou alheia, isto é, prever as alternativas

interpretativas e efeitos normativos de norma jurídica.

Neste sentido, quanto maior for a uniformidade de interpretação das normas pelo

Judiciário, maior será a previsibilidade das decisões judiciais. É que, quando firma-se um

62 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de

outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

Acesso em: 02/05/2017.

63 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015 p.396.

64 LIMA, Thiago Asfor Rocha. Precedentes judicias civis no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p.153. 65 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de

outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

Acesso em: 02/05/2017.

32

entendimento acerca de uma questão jurídica, se assegura a previsibilidade da jurisdição,

possibilitando o real conhecimento do ordenamento jurídico pela sociedade.

Em outra perspectiva, a segurança jurídica reflete a necessidade de a ordem jurídica

ser estável. Esta deve ter um mínimo de continuidade. E isso se aplica tanto à legislação

quanto à produção judicial, embora ainda não haja, na prática dos tribunais brasileiros,

qualquer preocupação com a estabilidade das decisões. Frise-se que a uniformidade na

interpretação e aplicação do direito é um requisito indispensável ao Estado de Direito. Há de

se perceber o quanto antes que há um grave problema num direito variável de acordo com o

caso.66

Nessa lógica, pode-se inferir que o precedente judicial – formação da solução de uma

questão jurídica – garante a previsibilidade da jurisdição, visto que permite que a sociedade

conheça a ordem legal que a determina. E, ao conferirem maior previsibilidade às decisões

judiciais, contribuem para a estabilidade nas relações sociais e para a credibilidade da

sociedade no poder Judiciário.

3.4 A regra de motivação das decisões

O art. 93, IX, da CF/198867, dispõe que toda decisão deve ser fundamentada, sob pena

de nulidade. Nas palavras de Chaim Perelman, “motivar é justificar a decisão tomada,

fornecendo uma argumentação convincente, indicando a legitimidade das escolhas feitas pelo

juiz”.68 Trata-se de parte imprescindível da decisão, é o momento em que o magistrado

delimita os fatos com a demonstração da análise realizada, com a explicação da relação fato e

direito, expondo as normas utilizadas e o pensamento jurídico invocado para chegar ao

resultado da decisão.

Decisões que se limitem a simplesmente mencionar artigos de lei ou que invoquem

motivos genéricos ou conceitos jurídicos indeterminados sem inseri-los no contexto do caso

concreto, não podem ser compreendidas como fundamentada. Destaque-se o § 1o do art. 489

do Novo CPC:

Art. 489:

66 MARINONI. Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto de CPC: A ratio decidendi ou os

fundamentos determinantes da decisão. Revista dos Tribunais, vol. 918, abr. 2012, p. 561. 67 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de

outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

Acesso em: 02/05/2017. 68 PERELMAN, Chaim. Lógica jurídica. Trad. por Vergínia K. Pupi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004,

p.222.

33

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela

interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar

sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de

sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,

infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus

fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta

àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado

pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a

superação do entendimento.69

Ademais, a exigência de motivação possui dupla função, sendo estas endoprocessual e

extraprocessual. A função endoprocessual consiste, essencialmente, em permitir que as partes

exercitem o seu direito de recorrer, partindo do conhecimento das razões do julgado,

viabilizando uma espécie de controle interno. Já a função extraprocessual seria exercida pelo

povo, garantindo o controle da sociedade sobre a legitimidade do exercício da função

jurisdicional pelo magistrado, membro do Poder Judiciário.70

Assim, considerando que, em um sistema de precedente, os fundamentos jurídicos

constituem a essência do precedente, sua ratio decidendi, é imperioso exigir maior qualidade

na motivação dos atos decisórios.

Mais do que nunca, é necessário valorizar a função extraprocessual da

fundamentação, percebendo que ela não serve apenas à justificação, para as partes

envolvidas naquele processo específico, da solução alcançada pelo órgão

jurisdicional. Num sistema em que se valorizam os precedentes judiciais, a

fundamentação serve também como modelo de conduta para aqueles indivíduos que

não participam, nem nunca participaram, daquele processo específico, haja vista que

o precedente poderá ser por eles invocado (ou invocado em seu desfavor) para

justificar e legitimar sua conduta presente (ou questioná-la).

Assim, a regra segundo a qual as decisões judiciais devem ser fundamentadas há de

ser vista de modo mais contundente, entendendo - se como adequado não qualquer

fundamento exposto pelo órgão jurisdicional, mas sim aquilo que se reputa como

fundamento útil para a solução do caso e para a perfeita identificação do

precedente.71

69 Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil, Brasília – DF, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-

2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 02/05/2017. 70 ALMEIDA, Vitor Luis. A fundamentação das decisões judiciais no sistema do livre convencimento

motivado. Ano 1, nº 5, 2012. Disponível em:

http://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/2012/05/2012_05_2497_2536.pdf Acesso em: 02/05/2017. 71 DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito

processual civil - v. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela

provisória. 10. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015 p.471.

34

CONCLUSÃO

A crise numérica que o Judiciário brasileiro enfrenta é notória. Os magistrados não

estão mais conseguindo administrar a enorme quantidade de processos sob sua tutela, o que

gera uma grande morosidade processual. Assim, tem-se verificado, na prática, que o princípio

da razoável duração do processo não tem sido observado em muitos feitos. Seja pelo grande

de número de demandas envolvendo uma mesma questão jurídica, seja pela alta quantidade de

recursos interpostos ou até pelo costume da sociedade brasileira de recorrer ao Judiciário em

causas que efetivamente poderiam ser resolvidas por outros meios de solução do conflito.

Ressalte-se que processos excessivamente longos são bastante perigosos, porquanto criam um

ambiente de insegurança jurídica, favorecem a impunidade e, consequentemente, diminuem a

credibilidade da sociedade na justiça, no Estado de direito e na democracia.

Diante deste cenário, a adoção dos precedentes vinculantes no processo civil, através

da Lei 13.105/2015, se mostra bastante benéfica, à medida que contribui para a celeridade do

processo, para a estabilidade jurídica e para a uniformização da jurisprudência de forma

íntegra e coerente. O instituto vem, portanto, como uma alternativa para desafogar o

Judiciário e aumentar a homogeneidade na solução de conflitos, ao oferecer uma solução pré-

definida para casos semelhantes, sem que haja o risco de tratamento diferenciado.

Tal inovação aproximou o ordenamento jurídico brasileiro, que baseia-se

essencialmente no direito escrito, da tradição da Common Law, que confere à jurisprudência

uma maior relevância.

Ora, apesar de ser a lei a fonte primária do Direito, não é possível admitir a existência de

um Estado absolutamente ou exclusivamente legalista. É que a sociedade, em sua dinâmica

evolutiva, passa por várias modificações, as quais não são acompanhadas pela lei ou pelo

legislador. Seja porque este não é capaz de prever a solução para todas as situações concretas e

futuras submetidas ao crivo judicial. E, da mesma forma que não se pode admitir um ordenamento

jurídico dissociado de qualquer interpretação jurisdicional, não se pode abdicar da segurança

jurídica proporcionada pelo ordenamento previamente positivado (típico do positivismo jurídico).

Por essas razões, naturalmente esses dois sistemas se avizinham. Assim, os países de cultura

anglo-saxônica cada vez mais legislam e positivam regras por meio da lei e, em contrapartida, os

países de tradição romano-germânica estabelecem crescentemente a força obrigatória dos

precedentes judiciais.72

72 LEITE, Gisele; HEUSELER, Denise. O poder dos precedentes judiciais no CPC/2015. Disponível em:

http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16471 Acesso em:11/05/2017.

35

Ademais, a adoção dos precedentes vinculantes evidencia o intuito do legislador em,

por meio do processo civil, garantir uma maior efetividade a diversos princípios

constitucionais. Os precedentes são mais um instrumento para oferecer isonomia, segurança

jurídica, decisões bem fundamentadas, enfim, justiça. A respeito dessa constitucionalização

do processo civil, Cassio Scarpinella Bueno acrescenta:

O Capítulo I do Título Único do Livro I da Parte Geral do CPC de 2015 trata, em

seus doze artigos, das normas fundamentais do processo civil. São as normas que

querem ser fundantes não só do próprio Código, mas também de todo o direito

processual civil. O caráter didático de cada um daqueles onze artigos, contudo, é

inegável e merece, por isso mesmo, ser enaltecido e bem compreendido para

viabilizar uma interpretação e uma aplicação do CPC de 2015 – e, repito, de todo o

direito processual civil –, mais harmônico com os valores do Estado constitucional

brasileiro”.73

Outro fato importante é que a obrigatoriedade na aplicação de certos precedentes, de

fato, induz a uma provável diminuição no âmbito de livre criação jurisprudencial, já que os

próprios tribunais e os órgãos a ele vinculados estarão obrigados à observância e respeito às

suas próprias decisões anteriormente prolatadas. No entanto, isso não significa uma

“eternização” das decisões judiciais. O juiz continua a exercer o seu livre convencimento e a

agir conforme a sua ciência e consciência, afastando determinada norma quando ela não for

capaz de solucionar efetivamente o caso concreto.74 É aí que está a importância das técnicas

do distinguishing, ou seja, não aplicação do precedente em determinado caso concreto por

este apresentar alguma peculiaridade e do overruling, a superação do entendimento

consubstanciado no precedente. Tudo vai depender da motivação.

Pode-se dizer, portanto, que a ampla adoção de precedentes vinculantes é ao mesmo

tempo um desafio e uma oportunidade. Um desafio porque impõe à comunidade jurídica que

se familiarize e busque argumentar com noções muito pouco utilizadas até este momento, tais

como ratio decidendi (fundamentos essenciais), obiter dictum (considerações marginais),

distinguish (distinção entre casos) e overruling (superação do precedente). Uma oportunidade

porque essas noções possibilitam o aprimoramento da prática brasileira no sentido de

73 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturado à luz do novo

CPC. São Paulo: Saraiva. 2015, p. 75.

74 DONIZETTI, Elpídio. A força dos precedentes no Novo Código de Processo Civil. Disponível em:

http://www.tjmg.jus.br/data/files/7B/96/D0/66/2BCCB4109195A3B4E81808A8/A%20forca%20dos%20precede

ntes%20no%20novo%20Codigo%20de%20Processo%20Civil.pdf Acesso em: 07/05/2017.

36

racionalizar o trabalho de tribunais tão sobrecarregados, para assegurar maior previsibilidade

jurídica e promover o tratamento isonômico.75

No entanto, é preciso que os magistrados se libertem do antigo modus operandi e

adequem-se a uma nova metodologia processual em que o produto da atividade jurisdicional,

a sentença, poderá deixar de ser apenas norma individual aplicável ao caso decidido para

converter-se, pelo menos uma parte dela (ratio decidendi), em regra geral a alcançar todas as

situações que por uma relação de semelhança mereçam idêntico tratamento.

Sobre o assunto, importante colacionar os ensinamentos do procurador federal

Adriano Antônio de Sousa:

O atingimento dos objetivos de maior estabilidade e, intuitivamente, de justiça (em

sentido leigo), apresenta um pressuposto de ordem comportamental subjetiva

elementar: a compreensão do magistrado de que é parte integrante de um todo, não

atuando isoladamente. A atividade jurisdicional do juiz, fruto de uma liberdade

responsável, sem se descurar de sua independência, deve se direcionar a uma

prestação de justiça caracterizada pela coerência, integridade, celeridade,

credibilidade e confiabilidade. Bem, não é tarefa fácil em se considerando séculos de

individualismo, característico da tradição do civil law, a moldar o comportamento, a

conduta e cultura judicial.76

No mesmo sentido, nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni, “o cargo de juiz não

existe para que aquele que o ocupa possa proferir ‘a sua decisão’, mas para que ele possa

colaborar com a prestação jurisdicional – para o que a decisão, em contraste com o

precedente, nada representa, constituindo, em verdade, um desserviço”77.

75 MELLO, Patrícia Perrone Campos. Como se opera com precedentes segundo o Novo CPC? Disponível em:

https://jota.info/artigos/como-se-opera-com-precedentes-segundo-o-novo-cpc-22032016 Acesso em: 10/05/2017. 76 SOUSA, Adriano Antônio de. O tradicional sistema processual brasileiro de Revolução dos precedentes

judicias no CPC/2015. Disponível em:

http://www.esamg.org.br/artigo/Art_Adriano%20Ant%C3%B4nio%20de%20Sousa_17.pdf Acesso em:

10/05/2017. 77 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 2 ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

37

REFERÊNCIAS

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