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A utilização e importância do visual merchandising no design de interiores comercial
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
A utilização e importância do visual merchandising no design de
interiores comercial
Alessandra Chaia - [email protected]
Pós-graduação em Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
Campo Grande - MS
Resumo
Com todas as possibilidades de consumo existentes nos dias de hoje, o valor do cliente para
qualquer marca, produto ou serviço é importantíssimo. Excesso de produtos, concorrência,
momentos econômicos e globalização fazem com que o consumidor tenha um maior livre
arbítrio sobre suas escolhas de compra. Sendo assim, a experiência de compra passa a ser
objeto de estudo para o desenvolvimento de técnicas cada vez mais acertivas para persuadir
e encantar este cliente. Dentro da especialização em design de interiores, o projeto de
estabelecimentos comerciais tem grande influência na experiência de comprar, sendo assim,
o profissional deve conhecer todas as ferramentas a sua disposição. Uma delas é o visual
merchandising. Sua utilização hoje é específica e requisitada pelos mais variados tipos de
produtos ou serviços. Pegunta-se então: qual a importância da utilização do visual
merchandising no design de interiores? Através de uma revisão bibliográfica e impressões
pessoais da experiência da autora, conclui-se que a utilização do visual merchandising tem
grande impacto nas vendas de produtos e serviços, integrando toda uma gama de técnicas e
ferramentas que um especialista em design de interiores deve dominar.
Palavras-chave: Visual merchandising. Varejo. Comércio. Projeto comercial. Retail design.
1. Introdução
O desenvolvimento do comércio de varejo sempre trouxe desafios aos lojistas quanto à
distribuição e exposição de seus produtos. A medida em que as cidades foram ficando cada
vez mais populosas e o processo de consumo cada vez mais complexo, novas técnicas foram
adotadas para aumentar as vendas. O especialista em design de interiores pode atuar no varejo
tanto em projetos e conceitos bem como na montagem de expositores e vitrines.
Visual merchandising é um termo em inglês utilizado para definir este ramo da Arquitetura,
Design de Interiores e também, hoje, já uma profissão com cursos técnicos especializados.
Merchandising é o ato de tentar vender produtos expostos de forma atrativa, sendo que este
termo deriva da palavra merchandise, que significa produto de compra e venda. Visual é,
como no português, relacionado à visão, ao ato de ver, enxergar. Também pode ser uma
figura, gráfico ou desenho que ajuda na transmissão de uma informação. Sendo assim, o
visual merchandising é a arte de expor produtos de forma atrativa e facilmente perceptível.
Bhalla & Shingal (2010:18) definem visual merchandising “como a apresentação de toda e
qualquer mercadoria no seu melhor: a coordenação de cores (cores sincronizadas);
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disponibilização de complementos (produtos/acessórios) e a auto explicação
(descritiva/ilustrativa). ”
Segundo Morgan (2011:30), “o design de lojas reúne todos os aspectos do visual
merchandising: vitrines e interiores, instalações, mobiliário, acessórios e iluminação. ”
Hoje a melhor definição para merchandising é
“[...] ir fisicamente ao encontro do consumidor deixando límpida a leitura de oferta,
convencê-lo intelectualmente sobre a história que se conta (seja de moda, de
autenticidade, de singularidade, de tecnicidade, de qualidade, etc.), mas também
seduzi-lo emocionalmente, sabendo surpreender, sensibilizar e divertir o
consumidor. Uma definição que não se aplica apenas aos produtos e moda desde que
marcas como Sephora, L’Occitane, Nature & Découvertes, Paul, etc. aplicaram um
merchandising sofisticado a produtos (cuidados de pele, aromas, bússolas, pão) que
até então passavam muito bem sem utilizá-lo. Uma definição que se organiza em
torno de quatro eixos principais: estratégia e organização da oferta, gestão, sedução
e comunicação. ” (SACKRIDER, et. al., 2009:159)
Já que a experiência de compra depende do livre arbítrio do consumidor e que a oferta de
produtos e marcas é extenso, este artigo busca na literatura, apresentar, conceituar e explicar
as ferramentas do visual merchandising, para, enfim concluir, que este é indispensável no
universo do design de interiores comerciais de forma cada vez mais profissional e
especializada.
2. História – desenvolvimento do Visual Merchandising
Desde que as antigas civilizações começaram a se comunicar através de migrações e viagens,
o comércio faz parte de nossas vidas. A fabricação e comercialização de produtos
manufaturados e artesanais desenvolviam-se por volta do ano 1000 a.C. Entretando, foi com a
industrialização que a humanidade viu uma grande mudança na forma de adquirir produtos.
“Em cerca de 150 anos, transformou sociedade de camponeses e artesão, trabalhadores
manuais, em sociedades de maquinistas e guarda-livros.” (ROBERTS, 2001:555).
Outra grande mudança foi a urbanização, onde cada vez mais e mais pessoas mudaram-se
para cidades, principalmente para as regiões industrializadas. Cidades cresciam em número e
tamanho.
Com o estabelecimento do comércio, a necessidade de exposição dos produtos sempre foi um
desafio aos lojistas. Os primeiros lojistas expunham seus produtos de forma chamativa, com
grandes letreiros e produtos para fora das lojas. Isso mudou com o a modernização na
produção do vidro, em 1840, que permitiu a criação de vidraças de grande porte para a
instalação de vitrines.
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Figura 1 – Exposição de aves e peixes para venda
Fonte: MORGAN, 2011:10
Morgan (2011:11) descreve que “com uma grande variedade de mercadorias e muito espaço
disponível para expor os produtos à venda, as lojas de departamentos foram precursoras do
vitrinismo.”
A primeira loja de departamentos surgiu na França, em 1852: Aristide Boucicaut abriu as
portas da Le Bon Marché pensando em vender todo tipo de mercadoria para um grande
público. Preços fixos, margens reduzidas, entrega ao domicílio, troca de artigos, venda por
correspondência, mês da roupa para a casa, saldos, concertos privados, cantinho biblioteca
foram algumas das inovações desta loja de departamentos. Hoje a loja vende produtos
refinados e aposta em marcas de luxo desde vestuário e acessórios até bebidas alcóolicas e
alimentos gourmet.
Figura 2 – Le Bon Marché em 1852 e hoje
Fonte: Site LE BON MARCHÉ. Acesso em: 15 outubro 2015.
Nos Estados Unidos, logo surgiram lojas no mesmo modelo como a Macy’s em 1858 e a
Bloomingdale’s, ambas em Nova York.
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Figura 3 – Macy's e Bloomindale's
Fonte: sites Macy’s e NYC, Style and a little Canolli. Acesso em: 15 outubro, 2015.
Na Inglaterra, um norte-americano idealista, ex-diretor-geral da loja de departamentos
Marshall Field’s (Chicago), inaugurou em 15 de março de 1909, da Selfridges. Gordon
Selfridge incorporou algumas inovações nesta loja como, deixar as vitrines iluminadas à
noite, com a loja fechada, espaço para servir bebidas no interior da loja, e também espaço
reservado de espera. Em 1928, a Selfridges dobrou de tamanho e é, ainda hoje, referência de
visual merchandising com suas vitrines, displays de produtos e marketing. As quatro lojas
vendem vestuário feminino, masculino e infantil, artigos para casa e decoração, alimentos,
tecnologia, beleza e joias.
Figura 4 - Selfridges, Londres em 1909 e hoje
Fonte: site Selfridges London Department Store Tourist Guide. Acesso em: 15 outubro 2015. SELFRIDGES-
Oxford-Street-store-exterior-image-2-Andrew-Meredith.jpg
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Figura 5 - Displays de exposição de produtos no interior da Selfridges
Fonte: Sites Revision Interior e History Extra. Acesso em: 15 outubro 2015.
Além das lojas de departamento, as lojas de rua começaram a trabalhar a visibilidade de seus
produtos nas vitrines em parceria com os artistas da época como, Salvador Dalí e Andy
Warhol. O surgimento do prêt-à-porter em 1960 aumentou ainda mais a necessidade de
visibilidade de produtos, alinhando marcas à conceitos. As estilistas Mary Quant e Vivienne
Westwood expuseram sua moda de forma conceitual e assim, promoveram tendências sociais
nos anos 1960.
A partir dos anos 1990, uma nova onde de consumo surge no mundo, com grandes marcas,
novas tecnologias e maior podeer aquisitivo. As vitrines passam a ser grandes veículos de
comunicação, aliando identidade visual ao conceito das coleções, promovendo a fidelização
de clientes às marcas e aumentando a concorrência.
Atualmente, marcas diversas estão espalhadas em lojas próprias ou de departamento e a
identidade visual desses produtos é importante meio de comunicaçção e venda. O visual
merchandising utiliza-se de ferramentas poderosas de exposição, iluminação, ergonomia entre
outras para promoção dos produtos.
3. Comportamento do consumidor e visual merchandising
Sackrider, et. al. definem três fases da evolução da distribuição e do comportamento do
consumidor. A primeira foi do pós-guerra mundial até meados dos anos 1970 e está ligada à
três fatores: o aumento de padrão de vida, explosão de natalidade (baby boom),
desenvolvimento do trabalho feminino e suas consequências sobre o poder aquisitivo e do
consumo. Nesta época, a fabricação em massa de produtos de grande consumo faz com que a
população tenha uma qualidade de vida até então desconhecida. O modelo de autosserviço
começa a ser implantado para suprir a demanda de acesso aos produtos e deixava o
consumidor à vontade para escolher os produtos que mais lhe atraíssem.
A segunda fase foi na virada dos anos 1980. Mesmo com as crises de petróleo, o consumo
continuou a crescer bem como as classes média e alta. O aumento da urbanização e as
evoluções de produção passaram a focar na “compra por querer” e não por necessidade. Todo
este movimento levou à melhoria nos ambientes das lojas, na praticidade ao comprar, preço
versus qualidade do produto. Grandes marcas souberam aproveitar este momento e o modelo
de franquia passou a crescer (Benetton, por exemplo), e a abertura de filiais – C&A, Gap,
Zara – em grandes centros reafirmavam que a cidade era o maior centro de consumo. Ainda
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neste momento, as técnicas de visual merchandising passaram por um grande
desenvolvimento e aplicação, principalmente no setor de vestuário.
Ainda segundo Sackrider, et. al., a terceira fase aconteceu na virada dos anos 1990. Nesta
época o excesso e a saturação levaram a uma retração do consumo, agravada pela Guerra do
Golfo. O consumidor passou a se preocupar mais com o significado de sus compras,
inaugurando assim, a era do consumo consciente, mesmo que apenas na aparência. Busca de
autenticidade, valores justos, desapego às marcas, consciência ecológica, tudo isso e mais,
levou a dois tipos básicos de empresas: as que ofereciam preços competitivos (outlets, redes
etc.) e as marcas que adequavam seus valores aos seus conceitos temáticos (The Body Shop,
etc.). Surge então o marketing temático, onde as mensagens de tranquilidade, autenticidade,
qualidade do valor do produto eram transmitidas através do ponto de venda. A utilização da
arquitetura, decoração, serviço e recepção, vitrines, displays e iluminação, além de eventos e
promoções passam a fazer parte desse universo. Todos esses elementos passam a fazer parte
do valor agregado do produto.
Acrescenta-se aqui o surgimento da internet e a globalização de produtos e marcas. A
necessidade de alcançar cada vez mais consumidores e de uma comunicação legível a vários
consumidores fez com que as vendas on line tenham dois segmentos: grandes lojas e lojas
temáticas. Assim como no varejo sólido, as marcas buscam na internet uma fidelização do
cliente e o aumento do desejo por seus produtos.
Existem ainda, as grandes lojas virtuais, como a Amazon, que começaram on line e
continuam assim, investindo nas políticas de preço e pagamento cada vez mais seguros e na
logística de entrega para vários países.
Além disso, “o processo de compra em lojas virtuais está associado a uma maior comodidade
para os clientes, além de possibilitar a comparação de preços. ” (MORGAN, 2011:15).
Hoje, o consumidor tem livre arbítrio e define suas escolhas através de um conjunto de
informações como valor agregado à marca, produto, qualidade e preço, fabricação e
procedência de matérias primas, simbologia de status em seu meio e, principalmente, ao
desejo de compra: uma afirmação de que aquele produto não é apenas necessário, é
imprescindível em sua vida.
4. Design de lojas – ferramentas e técnicas para vender mais
O principal objetivo do projeto de uma loja é apresentar os produtos da melhor
maneira possível através de uma combinação de ambiência, funcionalidade e design
de interiores convidativo. Cada loja é diferente e suas características devem estar de
acordo com o tipo de produto que comercializa: para um supermercado, a
funcionalidade é primordial e, no caso de uma loja de artigos de luxo, a criação da
atmosfera adequada e exclusiva será mais importante. (MORGAN, 2011:34)
Os itens observados pelo profissional ao projetar uma loja são variados, mas distribuem-se
entre a vitrine e o interior da loja. Antes de mais nada, conhecer o produto ou serviço,
entender a política da marca, seu posicionamento no mercado, seu público-alvo, suas técnicas
de marketing, enfim, todas necessidades e desejos desta marca ao comunicar seu produto são
de fundamental importância para o desenvolvimento de um bom projeto.
Assim como um hipermercado é diferente de uma loja de artigos de luxo, uma marca
feminina de roupas é diferente da outra, uma rede de lojas tem alcance diferente de uma loja
em shopping center, e assim por diante.
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Aqui encontram-se os dois principais objetivos do visual merchandising: “favorecer o ato da
compra e afirmar a identidade da empresa” (SACKRIDER, et. al., 2009;154).
Quanto ao favorecimento da compra, os elementos arquitetônicos e de distribuição dos
produtos ou serviços propostos levam a quatro ações conjuntas, segundo Sackrider, et. al.:
facilitar o percurso do cliente, aumentar a legibilidade da oferta, oferecer um serviço coerente
com o posicionamento e a imagem da marca e com as expectativas do cliente, traduzir a
noção de qualidade.
Já a afirmação da identidade da marca, faz com que o produto tenha uma história que além de
atrair o consumidor, seja coerente com os princípios da empresa, diferenciando-a das demais
concorrentes.
A imagem da marca, portanto, “passa por vários vetores: produtos, serviços e rede de
distribuição, comunicação e identidade visual, mas também arquitetura dos pontos de venda e
merchandising. ” (SACKRIDER, et. al., 2009:172). Qualquer incoerência entre estes vetores
enfraquece a comunicação entre o que a marca quer passar e o que o cliente percebe,
diminuindo assim, as possibilidades de maiores vendas e fidelização.
Dito isso, a execução do projeto e da loja em sim começa a ganhar seu contorno. Os
elementos que constituem o projeto são a vitrine, os interiores comerciais e os manequins
(quando houver).
4.1 Vitrines
Tanto em lojas de rua como em centros comerciais, a vitrine é a ferramenta de marketing do
produto ou serviço. Não existe um padrão para o formato ou tamanho de vitrines em lojas de
rua, e ainda assim, produtos diferentes pedem vitrines específicas. Produtos menores, por
exemplo, devem ser elevados ao nível do olhar e realçados.
Vitrines fechadas, abertas no fundo, mostradores ou estabelecimentos sem vitrine são os mais
comuns mas existem também vitrines inclinadas, de esquina ou em projeção.
Iluminação apropriada, fácil acesso, tomadas elétricas e sprinklers (dispositivos de combate a
incêndios), painéis e grelhas são alguns dos itens necessários para sua montagem.
A escolha dos temas ou conceitos para a exposição do produto leva em consideração fatores
como estações e épocas do ano (Verão, Inverno, Natal, liquidações, etc.), orçamento, conceito
ou tema pré-definido, como por exemplo, temas sociais ou políticos. Além disso, os esquemas
de coordenação da montagem utilizam-se de cores, iluminação, móveis e adereços para ajudar
a contar essa história visual em poucos metros quadrados. Sinalização e comunicação visual
complementam os itens de composição.
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Figura 6 - Uma girafa realista e em tamanho natural foi o tema da Louis Vuitton, em Londres.
Fonte: MORGAN, 2011:85.
4.2 Interiores comerciais
Sendo a vitrine o início da história contada pela marca, o interior da loja deve seguir o mesmo
tema e esquema, além de levar o consumidor aos produtos com facilidade, evitando a
monotonia na exposição dos produtos.
Segundo Morgan (2011:112): O visual merchandising de interiores é o conjunto de técnicas aplicadas para orientar
a circulação dos clientes no interior do estabelecimento através de uma sequência
lógica, incentivando-os a parar em determinados pontos e motivando a compra. Ao
questionar os consumidores sobre os fatores que determinam suas lojas preferidas, a
maioria provavelmente responderá que p espaço é agradável, os produtos são
facilmente encontrados e a sinalização é clara e explicativa. Esses fatores
demonstram a eficácia do visual merchandising de interiores. ”
A correlação de produtos é o início de uma boa distribuição. Lençóis próximos à travesseiros,
travesseiros próximos a toalhas de banho, ou camisas masculinas próximas a ternos, meias e
gravatas, produtos esportivos agrupados em outra seção. Esse cuidado faz com que o
consumidor encontre mais facilmente o produto que procura e também, perceba produtos
correlatos que não pensava em comprar inicialmente.
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Figura 7 - Loja Primark, em Bristol. Aqui os artigos estão separados por cor e as passagens são claramente
definidas
Fonte: MORGAN, 2011:116
Depois de definir seções o layout é projetado. O percurso através da loja deve fazer com que o
cliente acesse todos os produtos. Para isso, o layout pode ser dividido em áreas setorizadas.
São elas: platina, ouro, prata e bronze.
Platina é a área mais próxima à entrada do estabelecimento sendo assim a mais nobre. Depois
dela vem a área ouro e do meio da loja para o fundo, prata e bronze. Logicamente que
conhecer os pontos de acesso à loja pelos clientes é fundamental. Uma loja de departamentos,
por exemplo, possuirá tantas áreas platina quanto forem suas entradas ou saídas. A partir
disso, disposição de mostradores e gôndolas, circulação, linhas de visão e pontos focais,
localização dos produtos e estilo complementam o layout.
Um layout eficaz com certeza trará benefícios à instalação da loja e sua manutenção, visto que
clientes conduzidos de forma agradável e direta encontrarão o produto que procuram e
poderão exercer o livre arbítrio da experiência de compras.
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Figura 8 - Distribuição das áreas no layout e posicionamento de expositores e displays alinhados às áreas
Fonte: MORGAN, 2011:118
Produtos são expostos conforme sua natureza: roupas em araras e expositores, alimentos em
gôndolas, bijuterias em pedestais e expositores de parede, etc. A construção dos móveis
expositores e sua aparência também são parte da identidade da marca.
Já a disposição dos produtos é diversa e sua escolha depende do expositor e da criatividade na
forma de apresentação. Algumas técnicas, entretanto, são mais comuns: disposição por grupos
de cores, disposição horizontal, disposição vertical, disposição por categoria de produtos,
disposição simétrica, disposição por cores alternadas, disposição anatômica, disposição
coordenada e disposição por coleções de produtos.
Figura 9 - Uniqlo, em Tókio. Disposição por grupos de cores e tamanhos, sendo que a maior numeração fica
embaixo
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Fonte: MORGAN, 2011:144
4.3 Manequins
A utilização de manequins é, há muitos anos, marca registrada de estabelecimento de
vestuário. Hoje são utilizados também para compor a identidade visual de marcas de outros
segmentos. Fabricados em fibra de vidro, os manequins podem ser muito parecidos com o ser
humano em cor e formato ou seguir uma linha ousada em suas cores e materiais.
O agrupamento e composição de cenas utilizando os manequins favorecem o contar da
história da experiência de compra além de expor o produto de forma eficaz.
Após conhecer essas ferramentas, afirma-se a importância do estudo das técnicas de
exposição e venda, comportamento do consumidor contemporâneo, e a trabalhabilidade de
conceitos de venda através de informação de projeto, conceito e tema, além de atributos
visuais bem pensados.
Sackrider, et. al. apontam ainda os estímulos sonoros e sensoriais dentro da loja. A tendência
atual é a criação de ambientes musicais próprios, direcionados ao público-alvo e compostas
por músicos ou DJs de renome. “O ambiente sonoro de um ponto de venda pode ser
considerado um elemento constitutivo da imagem – até mesmo da identidade – da marca,
[...]”. (SACKRIDER, et. al., 2009:214).
Assim com a audição, o tato e a visão, o olfato é um dos sentidos trabalhados hoje em dia
para compor a identidade de uma marca. A criação de perfumes para uma marca, que invade
as lojas e os produtos é um desafio, já que isso equivale ao efeito de um letreiro aos olhos.
Lojas de alimento também utilizam reforços olfativos para o estímulo à compra.
Observa-se enfim, que todas as ferramentas acima combinam-se para formar uma loja, uma
identidade, uma marca. A busca incessante por novas técnicas de venda e seu aumento,
consecutivamente, é hoje um campo importante do mercado de trabalho onde o profissional
de design de interiores atua.
“Assim, o visual merchandising constitui a etapa final da implantação do produto,
concernindo essencialmente à exposição do produto e à sua gestão no ponto e venda. ”
(SACKRIDER, et. al., 2009:252).
Antes dele, projeto de design de interiores e arquitetura trabalham juntos. Composição
espacial, linhas de projeto, materiais de acabamento, iluminação,
5. Conclusão
No projeto arquitetônico de um estabelecimento comercial, linhas e composição espacial,
materiais de construção e acabamento, cores, iluminação e escala transmitem inicialmente ao
consumidor as sensações ambientais desejadas pela marca, produto ou serviço ao qual abriga.
Em uma loja de shopping center, a fachada é padronizada e o apelo visual da vitrine cresce
diante da concorrência. Ainda assim, as sensações ambientais continuam presentes na loja.
Um pequeno stand da mesma marca em uma loja de departamentos tem o desafio de passar
essa mesma mensagem em um ambiente aberto, exposto e ainda mais competitivo, já que
essas lojas possuem uma grande variedade de marcas.
Como então chegar aos clientes de forma eficaz e que se reverta em vendas?
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Neste artigo, descreveu-se a técnica do visual merchandising: seu surgimento e aplicação.
Ferramentas que contribuem para a comunicação da mensagem, da identidade visual da
marca, juntamente com arquitetura e design de interiores.
Tipos de expositor, formas de apresentação, iluminação, cores, sinalização, alcance dos
produtos, setorização e distribuição de fluxos são algumas ferramentas utilizadas para
alcançar metas pré-definidas no tema e conceito da loja.
Seja uma loja de luxo, hipermercado, mercearia, loja de departamentos, shopping center, de
veículos ou livros, todas têm suas particularidades e necessidades. Mas todas têm o mesmo
objetivo final: aumentar vendas e fidelizar clientela.
A resposta para a pergunta é muito clara: o visual merchandising é importante para o design
de interiores de estabelecimentos comerciais pois distribui e expõe os produtos de forma
coerente e atrativa. A identidade visual acompanha esta importância, destacando-se marcas
que investem em sua diferenciação perante as concorrentes, segundo sua filosofia inicial, seus
princípios e metas finais.
Uma loja de luxo não investirá em promoções constantes pois não é seu objetivo, não faz
parte de sua linha de vida. Investe sim em fidelização, qualidade do produto e oferta de
serviços diferenciados e exclusivos. A exclusividade faz parte do valor agregado de uma
marca de luxo, que vende um estilo de vida, uma história pessoal para um pequeno grupo de
pessoas.
O estabelecimento do modelo comercial de franquias transforma uma identidade visual em
padrão. Um padrão da história contada sobre aquele estabelecimento em vários lugares do
país ou até mesmo, do mundo. Ao entrar em qualquer lanchonete McDonald’s ou Bob’s o
consumidor é avisado pelos símbolos visuais de que está em local familiar. Mesmo ao lado do
melhor restaurante da cidade, um viajante paravelmente entrará no fast food conhecido e
amigável. É da natureza do ser humano essa busca por familiaridade e confiança. Faz parte da
fidelização das marcas.
Neste caso, um lojista local, o dono do melhor restaurante da cidade de nosso exemplo,
deverá seguir as mesmas técnicas e princípios de atratividade para que sua marca se destaque
e transmita ao cliente a segurança necessária para que ele entre e saboreie uma ótima refeição
com ingredientes do local em que se encontra.
Cadeia formada, concorrência estabelecida, os fatores que levarão às escolhas são vários:
cultura pessoal, orçamento, desejo de experimentar ou não novidades, enfim, o consumidor
tem a liberdade de escolha e o futuro de marcas em suas mãos.
Algumas tendências de varejo também influenciam nas escolhas dos consumidores:
transversalidade é uma delas. Colette, inaugurada em 1997 em Paris, expressa bem este
conceito. Moda, música, arte, cultura, design, beleza para um público alvo bem definido se
misturam para vender mais que produtos, mas sim, estilo de vida, tendência e
contemporaneidade. Há apenas uma loja em Paris e a loja virtual, para aqueles que não podem
presenciar a experiência Colette, segundo o site da loja.
O visual merchandising do espaço distribuído em três andares é claro, conciso e acessível. O
site da loja identifica: reativa, determinada, influente e apaixonada, visionária e espontânea,
estas são talvez as palavras-chave para descrever Colette. Os ambientes, portanto, devem
expressar esta identidade.
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Figura 10 - Setor de roupas femininas Colette.
Fonte: COLETTE. Acesso em: 31 outubro 2015.
Figura 11 - Galeria Colette
Fonte: COLLETE. Acesso em: 31 outubro 2015.
A busca por novas experiências de compra e as modificações culturais de marketing fazem
com que o visual merchandising esteja sempre em desenvolvimento. Sendo assim, o
profissional desta área no design de interiores conhecerá também, varejo, tendências e
costumes culturais e sociais para melhor entender seu cliente, seu projeto.
O entendimento da marca, como descrito neste artigo é o início de toda sua concepção
espacial.
Para que a comunicação entre consumidor e produto esteja sempre alinhada com os conceitos
e valores da marca trabalhada, todo conhecimento sobre sua história, filosofia e crescimento
interessa. Ainda que a meta final seja aumento de vendas, a experiência de compra não pode
ser negligenciada.
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O projeto de design de interiores já traz em sua concepção, parte desta história, desta
experiência. Mas o que seria de uma loja sem produtos, senão um espaço morto?
Portanto, a distribuição de espaços e exposição de produtos é sim extremamente importante
para o processo de venda.
O que faz o cliente retornar, indicar, valorizar e se lembrar dessas marcas são as conexões
com seu próprio estilo de vida, suas aspirações e desejos representados em um produto ou
serviço. Um símbolo, nada mais. Um símbolo de ser.
Traços de sua personalidade são magicamente compreendidos por um objeto, um serviço,
uma experiência e a sensação de representatividade, de prazer e satisfação são suficientes para
fazê-lo retornar.
Então, é claro que o visual merchandising importa. Importa muito.
Conclui-se, finalmente, a importância do visual merchandising no design de interiores
comercial, existente em todas as suas aplicações, que contribui para a qualificação do
processo de compra, pois traz consigo, valores e preceitos arquitetônicos, de design,
ergonomia e concepção espacial em função do ser humano, para o ser humano.
Referências
BHALLA, Swati; SINGHAL, Anuraag. Visual merchandising. New Delhi: Tata
McGraw-Hill, 2010.
COLETTE. About. Disponível em: http://en.colette.fr/about. Acesso em : 31 outubro
2015.
LE BON MARCHÉ. A história do Bon Marché. Disponível em
http://www.lebonmarche.com/br. Acesso em: 15 outubro 2015.
MORGAN, Tony. Visual Merchandising - vitrines e interiores comerciais. São
Paulo: Gustavo Gili, 2011.
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001.
SACKRIDER, Françoise; GUIDÉ, Gwenola; HERVÉ, Dominique. Entre
vitrinas: distribuição e visual merchandising na moda. São Paulo: Editora SENAC
São Paulo, 2009.
SELFRIDGES & Co. Our heritage. Disponível em
http://www.selfridges.com/GB/en/content/our-heritage. Acesso em: 15 outubro 2015.