a utilizaÇÃo da estimulaÇÃo elÉtrica …€¦ · (chantraine et..al., 1999; faghri et. al.,...

26
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA ESPECIALIZAÇÃO A UTILIZAÇÃO DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES) EM DOENÇAS NEUROMUSCULARES – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA FT. CÁTIA BARION FT. DANIELE DO NASCIMENTO LISBOA SÃO PAULO 2006

Upload: phunganh

Post on 29-Aug-2018

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - ESCOLA PAULISTA DE

MEDICINA

ESPECIALIZAÇÃO

A UTILIZAÇÃO DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES) EM

DOENÇAS NEUROMUSCULARES – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

FT. CÁTIA BARION

FT. DANIELE DO NASCIMENTO LISBOA

SÃO PAULO

2006

FT. CÁTIA BARION

FT. DANIELE DO NASCIMENTO LISBOA

A UTILIZAÇÃO DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES) EM

DOENÇAS NEUROMUSCULARES

Monografia apresentada à Universidade

Federal de São Paulo – Escola Paulista

de Medicina, para obtenção do Título de

Especialista em Intervenção

Fisioterapêutica nas Doenças

Neuromusculares.

ORIENTADOR: DR. EVANDRO PENTEADO VILLAR FÉLIX

CO-ORIENTADOR: MS.VINÍCIUS MARTINS

São Paulo

2006

Barion, Cátia; Lisboa, Daniele do Nascimento

A Utilização da Estimulação Elétrica Funcional (FES) em Doenças

Neuromusculares / Cátia Barion e Daniele do Nascimento Lisboa – São Paulo, 2006.

X. 18

Monografia – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de

Medicina. Curso de Especialização em Intervenção Fisioterapêutica nas Doenças

Neuromusculares.

The Utilization of Functional Electrical Stimulation in Neuromuscular Diseases

1. Estimulação Elétrica Funcional. 2 .FES. 3. Fraqueza Muscular. 4. Doenças

Neuromusculares

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE NEUROLOGIA

INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS DOENÇAS

NEUROMUSCULARES

Chefe do Departamento: Alberto Alain Gabbai

Coordenadores do Curso de Especialização:

Prof. Dr. Acary Souza Bulle Oliveira

Ms. Francis Meire Fávero

Dra. Sissy Velozo Fontes

TERMO DE APROVAÇÃO

Ft. Cátia Barion

Ft. Daniele do Nascimento Lisboa

A UTILIZAÇÃO DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES) EM DOENÇAS

NEUROMUSCULARES

Presidente da banca: Prof. Dr. ___________________________

Banca Examinadora

Prof. Dr. ______________________________________________

Prof. Dr. ______________________________________________

Aprovada em: _____/_____/_____

Dedicamos este estudo a todos aqueles

que, por alguma razão, se empenham a

pesquisar melhores formas de tratamento,

enriquecendo ainda mais as evidências

sobre o trabalho do fisioterapeuta.

Agradecemos primeiramente a Deus, que nos

concedeu a vida e a oportunidade de adquirirmos

conhecimento. Aos nossos familiares, que nos

apoiaram e nos compreenderam no desenrolar

deste estudo e aos nossos orientadores, que

através de seus conhecimentos nos prestaram

esclarecimentos essenciais que possibilitaram a

execução deste estudo.

RESUMO

A Estimulação Elétrica Funcional (FES), é um método de tratamento que utiliza corrente

elétrica para produzir uma contração muscular efetiva e funcional, promovendo

fortalecimento e manutenção da massa muscular. Este recurso tem sido usado

terapeuticamente na reabilitação de pacientes com disfunções tanto ortopédicas quanto

neurológicas, visando a melhora da função motora. As doenças neuromusculares são

aquelas que afetam o nervo periférico, os neurônios motores e sensitivos relacionados a

estes nervos, suas raízes, a junção mioneural e os músculos. A fraqueza muscular é vista

como um dos fatores que causam maior perda da qualidade de vida destes pacientes. Em

vista disto, qualquer tratamento que melhore a função motora é de grande importância. O

objetivo deste estudo é demonstrar através de uma revisão bibliográfica, a utilização da

Estimulação Elétrica Funcional (FES) na musculatura de pacientes portadores de doenças

neuromusculares. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico de 1986 a 2006

nas bases de dados atualmente disponíveis. Não foram encontrados trabalhos específicos

relacionando FES e doenças neuromusculares, no entanto, os achados de sua utilização

em patologias do Sistema Nervoso Central, sugerem que possa ser utilizados com

sucesso nestes pacientes.

SUMÁRIO

Dedicatória .............................................................................................................VII

Agradecimentos .................................................................................................... VIII

Resumo .................................................................................................................. IX

1. Introdução ...................................................................................................... p. 10

2. Objetivo ...........................................................................................................p. 15

3. Método ............................................................................................................p. 16

4. Resultados ......................................................................................................p. 17

5. Discussão ........................................................................................................p. 19

6. Conclusão .......................................................................................................p. 22

7. Referências Bibliográficas ...............................................................................p. 23

Abstract

1. INTRODUÇÃO

A eletroterapia é o tratamento de pacientes com a utilização de meios elétricos,

ocasionando alterações fisiológicas com fins terapêuticos. O uso da eletricidade como

recurso terapêutico é antigo. Os romanos já utilizavam descargas elétricas para

tratamento de gota. Luigi Galvani, em 1786 estimulou os nervos e músculos de rãs com

cargas elétricas. Após a publicação de seu trabalhou em 1791, iniciou-se uma enorme

experimentação científica deste recurso. Humboldt chamou este tipo de aplicação de

¨galvanismo”, onde foram usadas correntes constantes para diferenciá-la de cargas

geradas por fricção (ROBINSON, 2001).

Desde então, as correntes galvânicas (corrente direta contínua), passaram a ser

utilizadas terapeuticamente, principalmente para a introdução de medicamentos através

dos tecidos, método conhecido como iontoforese (LOW e REED, 2001).

Em 1833, Duchenne de Boulogne, identificou as diferenças na resposta entre as

correntes galvânica e farádica (pulso mais curto com duração geralmente entre 0,1 e 1ms

e aplicados com freqüências entre 30 e 100 Hz), com o músculo desnervado respondendo

à corrente galvânica ao invés da farádica. A duração da corrente era o fator decisivo para

desencadear uma contração (SCOTT, 2003).

Em 1841, estudos afirmaram que a eletroestimulação poderia compensar as

mudanças estruturais e fisiológicas que acompanham a inatividade muscular. Desde

então, o interesse por esse suporte terapêutico aumentou (ROBINSON, 2001).

Na Segunda Guerra Mundial a eletroestimulação cresceu e ganhou espaço com o

grande número de ferimentos de guerras que levavam a amputações e paralisias,

culminando na década de sessenta, com o primeiro relato de ortostatismo de um paciente

paraplégico. (ROBINSON, 2001)

A estimulação elétrica funcional (FES) é definida como um método que utiliza

corrente elétrica para gerar contração muscular em músculos normais ou desprovidos do

controle do sistema nervoso central. Podendo promover fortalecimento muscular mesmo

sem ação voluntária do músculo e a manutenção da massa muscular (CUCCURULLO S.,

et. al., 2004; LOW e REED, 2001).

Segundo SOBRINHO (1992), este tipo de estimulação permite a entrada seletiva e

repetitiva aferente até o sistema nervoso central, ativando não só a musculatura local,

mas também mecanismos reflexos necessários à reorganização da atividade motora.

Além disso, o estímulo elétrico diminui o tônus do grupo muscular antagonista, pelo

mecanismo de inibição recíproca.

A estimulação elétrica funcional do músculo difere da contração voluntária. Na

contração voluntária ocorre um disparo não sincronizado e gradual das unidades motoras,

há um aumento das frequências de disparo das unidades motoras e mais unidades são

estimuladas ocorrendo um aumento da força muscular. O uso da FES promove uma

estimulação sincronizada do músculo subjacente ao estimulado, com freqüência de

disparo fixa e o aumento da intensidade da corrente pode ser utilizada para estimular

maior quantidade de fibras musculares (LOW e REED, 2001; LIANZA, 2003).

A contração voluntária leva a uma ativação de unidades motoras menores depois

de unidades motoras maiores.

O potencial de repouso eletronegativo da membrana celular neuronal, pode ser

modificado pela estimulação elétrica externa, desencadeando um potencial de ação

nervoso, tendo como conseqüência a contração das fibras musculares relacionadas aos

nervos intramusculares estimulados.

A estimulação externa com intensidade baixa, estimula fibras sensitivas, com maior

intensidade também estimula fibras motoras, levando a uma contração muscular.

A aplicação eletroterapêutica da FES deve incluir uma especificação dos pulsos

elétricos utilizados (LOW e REED, 2001).

O estímulo deve ser dado no ponto motor (ponto sobre a superfície da pele onde

pode ser conseguida máxima contração muscular, perto do ponto onde o tronco nervoso

motor entra no músculo, geralmente localizado na junção do terço proximal com os dois

terços distais do ventre muscular do músculo e o outro é colocado em outra parte do

corpo, geralmente mais distalmente sobre o ventre muscular (SCOTT, 2003). Utiliza-se

geralmente uma frequência entre 20-80 Hz, valores abaixo de 20 Hz não causam

contração eficiente e acima de 80 Hz levam à fadiga muscular. A intensidade é alterada,

dependendo da tolerância do paciente.

Em síntese, a FES é utilizada para produzir contrações que resultem em

movimento funcional (PETROFSKY, 1988). Esta estimulação leva o músculo privado do

controle normal, a produção de uma contração funcionalmente útil, que possibilita a

facilitação do recrutamento das unidades motoras, o que proporciona um fortalecimento

muscular (SCOTT, 1998).

Este recurso tem sido usado terapeuticamente na reabilitação de pacientes com

disfunções tanto ortopédicas, quanto neurológicas, os efeitos da estimulação elétrica na

reabilitação neurológica podem ser divididos em melhora da função motora (CHAE et. al.,

1998; FRANCISCO et. al.,1998; HESSE et. al., 1998; PAND-YAN e GRANAT, 1997;

POWELL et. al. ,1999; WEINGARDEN, ZEILIG e HERUTI, 1998), redução da

espasticidade (HESSE et. al., 1998), aumento de força muscular (GLANZ et. al., 1996;

POWELL et. al., 1999), aumento da amplitude de movimento do punho ( PANDYAN,

GRANAT e SCOTT, 1997; POWELL et. al., 1999) e redução das disfunções articulares

(CHANTRAINE et..al., 1999; FAGHRI et. al., 1994; WANG, CHAN e TSAI, 2000).

Historicamente, sempre houve cautela ao administrar exercícios de fortalecimento

aos pacientes com doenças neuromusculares, isso deu origem a vários estudos. Porém,

recentemente, surgiram artigos que apóiam o uso de exercícios para melhorar a força ou

a resistência (STOKES, 2000).

Os efeitos da FES relatados na literatura, retardariam a atrofia e degeneração

muscular, enquanto esta musculatura se encontra desprovida de inervação normal

(SPEILHOLZ, 1987). Porém, relatos sobre a aplicação da estimulação elétrica em

músculos onde a inervação está comprometida por desmielinização, lesão axonal ou

degeneração progressiva da fibra muscular, não têm sido descritos.

2. OBJETIVO

O objetivo do presente estudo é demonstrar através de uma revisão bibliográfica, a

utilização da Estimulação Elétrica Funcional (FES) em pacientes portadores de doenças

neuromusculares.

3. MÉTODO

Foi realizado um levantamento bibliográfico em livros clássicos da literatura e

busca direta de artigos científicos nas bases de dados: Medline, Scielo, Lilacs e Pubme. O

período de busca na literatura limitou-se de 1986 a 2006. Foram selecionados artigos

publicados na literatura e trabalhos apresentados em congressos internacionais. As

palavras-chaves utilizadas nas bases de dados foram: doenças neuromusculares, FES,

eletroestimulação, miopatias, neuropatias periféricas, neuromuscular diseases, functional

electrical stimulation, nervous and muscular stimulation, peripheral neuropathy e electrical

stimulation. O cruzamento foi realizado da seguinte maneira: eletroestimulação e doenças

neuromusculares, FES e doenças neuromusculares, eletroestimulação e miopatias,

eletroestimulação funcional e doenças neuromusculares, eletroestimulação funcional e

miopatias, eletroestimulação funcional e neuropatias periféricas, functional electrical

stimulation and neuromuscular diseases, FES and neuromuscular diseases, electrical

stimulation and miopathy, functional electrical stimulation and peripheral neuropathy.

4. RESULTADOS

Não foram encontrados estudos específicos relacionando (FES) e sua aplicação

nas doenças neuromusculares.

Os resultados do presente estudo oferecem dados e evidências favoráveis quanto

a melhoria da capacidade funcional e qualidade de vida de pacientes neurológicos (vide

tabela 1), quando utilizado terapia para aumento da força muscular através da

estimulação elétrica funcional. Porém, se faz necessário melhores evidências sobre a

utilização deste método de tratamento em doenças neuromusculares, por tratar-se de

uma abordagem escassa na literatura.

Tabela 1. Resultados encontrados com o uso de FES em doenças neurológicas

AUTORES ANO DE PUBLICAÇÃO

Melhora da força

muscular

CHAE et. al.

FRANCISCO et. al.

HESSE et. al.

PAND-YAN e GRANATY

POWEL et. al.

WEINGARDEN et. al.

1998

1998

1998

1997

1999

1998

Redução da espasticidade HESSE et. al. 1998

Aumento da Força

Muscular

GLANS et. al.

POWEL et. al.

BECK

CARMICK

HAZLEWOOD et. al.

1996

1999

1997

1997b

1994

Aumento da amplitude de

movimento

PAND-YAN et. al.

POWEL et. al.

HAZLEWOOD et. al.

COMEAUXet. al.

1997

1998

1994

1997

Redução da subluxação

de ombro

CHANTRAINE et. al.

FAGHRI et. al.

WANG et. al.

1999

1994

2000

Função motora PAPE et. al. 1993

STEINBOCK et. al.

PECKHAM e KUNTSON

STAUB et. al.

BURRIDGE et. al.

1997

2005

2005

1997

Facilitação da contração

muscular

CARMICK

PECKHAM e KNUTSON

1993

2005

Melhora da resistência RUTHERFORD e JONES 1988

Um estudo realizado por PFEIFER et. al. 1997, relata melhora de força muscular

em indivíduos normais.

De acordo com LOW e REED, 2001, achados sobre as variações em relação aos

parâmetros da FES, utilizados em doenças neurológicas, revelam dados contraditórios, e

talvez seja este um fator a ser melhor especificado e esclarecido, através de estudos

práticos.

Estudos defendem a utilização da estimulação elétrica funcional de forma isolada,

outros a associam a exercícios voluntários, ambos encontraram melhora da força

muscular (NUNES e DAVINI, 2000; ALON, 1994; LOW e REED, 2001)

SALMONS et. al., (2005), realizou um estudo com ratos onde a aplicação da

estimulação elétrica funcional resultou na restauração da massa e força musculares.

5. DISCUSSÃO

Experiências realizadas em laboratório com ratos, demonstraram que a

excitabilidade do músculo estimulado em longa duração com baixa freqüência e alta

intensidade, proporcionou consideravelmente a restauração da massa e força musculares

(SALMONS et. al., 2005).

Exercícios ativos livres, ativos resistidos de forma moderada e ativos assistidos,

são comumente aplicados a pacientes com doenças neuromusculares, em tratamentos

fisioterapêuticos, visando o fortalecimento muscular (AITKENS et. al., (1993); LINDEMAN

et. al., (1995); RUTLAND AND SHIELDS, (1997); KILMER et. al., (1994). Porém, alguns

autores demonstraram um melhor resultado em relação ao ganho de força muscular,

quando o exercício voluntário e ativo, é utilizado juntamente com a aplicação da (FES),

em indivíduos normais e portadores de disfunções neurológicas (ALON, 1994).

NUNES e DAVINI (2000) demonstraram que a eletroestimulação isolada é mais

efetiva no aumento de força muscular que o exercício isométrico voluntário, em indivíduos

normais, enquanto ALON (1994), observou um aumento de força muscular no grupo que

associou a eletroestimulação aos exercícios voluntários. Estudos mostram que a

estimulação elétrica aumenta a força muscular, embora não na mesma extensão que

ocorreria com o exercício voluntário.

LOW E REED (2001) concluíram que, em geral, a estimulação elétrica não é um

substituto satisfatório para a atividade voluntária. Porém, a estimulação elétrica isolada ou

combinada com atividade voluntária, leva a ganhos de força similares ou, em alguns

poucos casos, até maiores do que quando o exercício voluntário é feito isoladamente.

PFEIFER (1997) em seu estudo envolveu adultos saudáveis acima de 65 anos, o

qual encontrou ganho de força quase idênticos (cerca de 25%) no músculo tríceps sural

dos que receberam estimulação elétrica e dos que fizeram exercícios voluntários

De acordo com KERN et. al. (2005), a análise de biópsias realizadas em

musculatura desnervada, estimulada com FES, não mostra diferença significativa entre

antes e depois da aplicação.

Os principais achados positivos da aplicação da FES foram que, a FES em

paralisia cerebral melhorou significativamente a função (PAPE et. al., 1993; STEINBOCK,

REINER e KESTLE, 1997) e a amplitude de movimento de dorsiflexão do tornozelo na

posição sentada (HAZLEWOOD et. al., 1994) ou durante o contato do calcanhar

(COMEAUX et. al., 1997). Houve também uma evidência de que a força muscular

melhorou (BECK, 1997; CARMICK, 1997b; HAZLEWOOD et. al., 1994).

A estimulação elétrica funcional tem sido usada de forma terapêutica para iniciar e

facilitar a contração voluntária de músculos, porém, não é possível distinguir este efeito,

do fortalecimento muscular. Este conceito pode ser aplicado em crianças com paralisia

cerebral, onde a estimulação elétrica pode favorecer a contração muscular e fornecer

sensações de modo que a criança possa acrescentar movimento a uma resposta fraca e

ter resultados efetivos (CARMICK, 1993).

Em mais de 40 anos de pesquisas, os princípios da eletroestimulação funcional

aplicados em tecidos neurologicamente lesados, têm como principal objetivo a contração

muscular e não necessariamente o fortalecimento muscular, levando a uma recuperação

da função (PECKHAM e KNUTSON, 2005).

Estudos iniciais sobre o uso de FES na paraplegia e tetraplegia, verificaram que a

fadiga limitava o tratamento, porém este problema foi parcialmente solucionado pela

preparação da musculatura por condicionamento com baixa freqüência de estímulos, para

aumentar a resistência. Além disso, os padrões de freqüência utilizados para o

condicionamento devem ser observados, pois uma freqüência baixa pode ocasionar

atrofia muscular, enquanto que a aplicação intermitente de alta freqüência pode manter a

força e melhorar a resistência (RUTHERFORD & JONES, 1988).

Um estudo realizado com quatro crianças portadoras de Encefalopatia Crônica não

Progressiva com Diplegia demonstrou melhora da função motora para a marcha, quando

utilizado a FES nos músculos quadríceps femoral e tibial anterior bilateralmente com

freqüência de 40 Hz por 10 minutos (STAUB, e cols., 2005).

O protocolo e a técnica de aplicação da eletroestimulação utilizados são fatores de

extrema importância para a efetividade dos resultados da mesma. Isto explica o grande

número de pesquisas realizadas com o objetivo de determinar o protocolo de estimulação

mais adequado para proporcionar um aumento na atividade contrátil do músculo, ou um

padrão específico de eletroestimulação capaz de produzir hipertrofia muscular.

(NORONHA, 1997)

Os estudos sobre o uso da estimulação elétrica funcional, são aplicados e versam

sobre a musculatura de pacientes com doenças neurológicas centrais, havendo

constatação de benefícios para estes pacientes sugere-se que esta aplicação na

musculatura de pacientes com doenças neuromusculares, poderá apresentar bons

resultados.

Observando-se os princípios fisiológicos da aplicação da eletroestimulação

funcional nos tecidos, nervos e músculos, pode-se dizer, levando-se em consideração

estudos feitos até a presente data, que não há evidências relatando danos ou prejuízos

causados por este método de tratamento, sabendo-se que em musculatura sadia, os

ganhos em relação à melhora da função motora, já estão bem definidos e especificados

na literatura.

6. CONCLUSÃO

Os dados encontrados na literatura sobre estimulação elétrica funcional e doenças

neuromusculares são restritos, por isso mais estudos devem ser realizados, visando

melhores esclarecimentos sobre o assunto, abrindo possibilidades para estudos práticos

que possam basear em evidências um procedimento fisioterapêutico tão utilizado na

atualidade

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AITKENS, S. G., McCORE M. A., KILMER D. D., et. al., Moderate resistance exercice

program: its effect in slowly progressive neuromuscular disease. Arch Phys Med

Rehab 1993, 74: 711-715.

BECK, S. Use of sensory level electrical stimulation in the physical therapy management

of a child with cerebral palsy. Pediatric Physical Therapy 1997; 9: 137-138.

BERCIANO J., COMBARROS, O., CALLEJA, J., POLO J. M., LENO, C., The application

of nerve conduction and clinical studies to genetic counseling in hereditary motor and

sensory neuropathy tipe I. Muscle Nerve 1989; 12: 302-306.

BOYER, F., MORRONE, I., LAFFONT, O., DIZIEN, J., ETIENNE, C., NOVELLA, J. L.

Health related quality of life in people with hereditary neuromuscular diseases: An

investigation of test–retest agreement with comparison between two generic

questionnaires, the Nottingham health profile and the short form-36 items.

Neuromuscular Disorders 2006; 16:99-106.

BURRIDGE J. H., TAYLOR P. N., HAGAN S. A., WOOD D. E., SWAIN F. D., The effects

of common peroneal stimulation on the effort and speed of walking. A randomized

controlled trial with chronic hemiplegic patients. Clin. Rehab 1997; 11: 201-10.

CAMARRO, U., ROSSINI, K., MAYR, W., KERN, H. Muscle Fiber Regeneration in Human

Permanent Lower Motoneuron Denervation: Relevance to Safety and Effectiveness

of FES-Training, Which Induces Muscle Recovery in SCI Subjects .Artificial Organs

2005; 29: 187.

CARMICK J.,Clinical Use Off Neuromuscular Electrical Stimulation For Children With C. P.

Phys. Ther. 1993; 73: 505-22.

CHAE, S., BETHOUX, F., BOHINC, T. Neuromuscular stimulation for motor

neuroprosthesis in hemiplegia. Critical Reviws in Physical and Rehabilitation

Medicine 1998; 12: 1-23.

CHANTRAINE, A., PATTERSON, N., RUBIN, M. Effect of neuromuscular

electrostimulation during gait in children with cerebral palsy. Pediatric Physical

Therapy 1999; 9: 103-109.

COMEAUX, P., PATTERSON, N., RUBIN, M. Effect of neuromuscular electrical

stimulation during gait in children with cerebral palsy. Pediatric Physical Therapy

1997; 9: 103-109.

CUCCURULLO S., GONZALEZ P., STRAX T. E., Physical modalities, therapeutic

exercise, extended bedres and aging effects, Physical Medicine and Rehabilitation

Board Review, by Demos Medical Publishing, Inc, 2004.

DIMITRIJEVIC, M. M., DIMITRIJEVIC, M. R. Clinical Elements for the Neuromuscular

Stimulation and Functional Electrical Stimulation Protocols in the Practice

of Neurorehabilitation. Artificial Organs 2002; 26: 256.

EMERY, A. E. H. Polpulation frequencies of inherited neuromuscular diseases. A World

survey. Neuromuscular diseases 1991; 1: 19-29.

FAGHRI, D., RODGERS, M., GLASER, R. The effects of functional electrical stimulation

recovery and shouder pain in hemiplegic stroke patients. Archives of Physical

Medicine and rehabilitation 1994; 75: 73-79.

FRANCISCO, G. CHAE, J. CHAWLA, H. Eletromyogramtriggerede neuromuscular

stimulation for improvingue the arm function of acute stroke biofeedback alone on

fecal incontinence after obstretic trauma. Diseases of the Colon and Rectum 1998; 42

(6): 753-758.

GARNETT R., STEPHENS, J. A., Changes in the recruitment threshold of motor units

produced by cutanious stimulation in man. J. Physiol. 1981; 311: 463-73,.

GLANZ, M., KLAWANSKY, S., STASON, W. Function electrostimulation in poststroke

controlled trials. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation 1996; 77: 549-553.

GRAHAM, A. T. G. M., POPOVIC, M. R. Reducing Muscle Fatigue Due to Functional

Electrical Stimulation Using Random Modulation of Stimulation Parameters. Artificial

Organs 2005; 29: 453.

HAZLEWOOD, M. E., BROWN, J. R., ROWE, P. J. The use of therapeutic electrical

stimulation in the treatment of hemiplegic cerebral palsy. Developmental Medicine

and Child Neurology 1999; 36: 661-673.

HESSE, S., REITER, F., KONRAD, N.Botulinum toxin type A and short term electrical

stimulation in the treatment of upper limb flexor spacity after stroke: a randomised

double-blind, placebo-controlled trial . Clinical Rehabilitation 1998; 12 : 381-388.

KERN H.; ROSSINI K.; DBiol; CARRARO U.; MAYR W.; VOGELAUER M.;

HOELLWARTH U.; HOFER C.; Muscle biopsies show that FES of denervated

muscles reverses human muscle degeneration from permanent spinal motoneuron

lesion; Journal of Rehabillitation Research & Development 2005; 42(3): 43-54.

KILMER DD., McCORY MA, WRIGHT NC., et. al., The effect of a high resistance exercise

program in slowly progressive neuromuscular disease. Arch Phys Med Rehab. 1994,

75: 560-563.

LEVY, J. A., BULLE, A. S. O., Reabilitação em Doenças Neuromusculares: Guia

terapêutico prático. São Paulo: Atheneu, 2003. p. 213.

LINDEMAN E., LEFFERS P., SPAANS F., et. al., Strenght training in patients with

myotonic dystrophy and hereditary motor and sensory neuropathy: a ramdomised

clinical trial. Arch Phys Med Rehab, 1995, 76: 612-620.

LOW J., REED A., Eletroterapia Explicada-Princípios e Prática, 3º ed, Editora Manole:

São Paulo, 2001. p.57-144.

LOW J., REED A., Electrotherapy Explained . 3ª ed. Butterworth-Heinemann: Oxford,

2000.

OLDHAM JA, HOWE TE, PETERSON T, et al. Electrotherapeutic rehabilitation of the

quadriceps in elderly osteoarthritic patients: a double blind assessment of patterned

neuromuscular stimulation, Clin Rehab 1995, 9:10-20.

PANDYAN, A. D., GRANAT, N. H., STOTT, D. J. Effects of electrical stimulation on flexion

contractures in hemiplegia wrist. Clinical Rehabilitation 1997; 11: 123-130.

PAPE, K. E., KIRSCH, S. E., GALIL, A. Neuromuscular approach to the motor deficits of

cerebral palsy: a pilot study. Journal of Orthopaedics 1993; 13: 628-633.

PECKHAM, P. H. Functional Electrical Stimulation for neuromuscular applications. Annual

Review of Biomedical Engineering 2005; 7: 327-360.

PECKHAM, P.H., GRAY, D.B. Funcitonal Neuromuscular Stimulation (FNS). Journal of

Rehabilitation Research and Development 1996; 33: ix-xi.

PETROFSKY J. Functional electrical stimulation and its application in the rehabilitation of

neurologically injured adults. In: Finger S. et al., eds. Brain Injury and Recovery:

theoretical and controversial issues. New York: Plenum Press; 1988.

PFEIFER A. M., CRANFIELD T., WAGNER S., CRAIK R. L., Muscle strength: a

comparison of electrical stimulation and volitional isometric contractions in adults over

65 yers. Physiotherapy (Canada), winter 1997; 32-9.

POWELL, S., PANDYAN, D., GRANATI, M. Electrical Stimulation of Wrist Extensors in

poststroke hemiplegia. Stroke 1999; 30: 1384-1389.

RUTLAND JL., CHIELDS RK., The effects of a home exercise program on impairment and

health – related quality of life in persons with chronic peripheral neuropathies. Phys

Ther 1997; 77: 1026-1039.

RUTERFORD OM, JONES DA. Contractile properties and fatiguability of the human

adductor pollicis and first dorsal interosseus: a comparison of the effect of two chronic

stimulation patterns. J Neurol Sci 1988; 85: 319-33.

SALMONS S.; ASHLEY Z.; SUTHERLAND H.; RUSSOLD M. F.; LI F., JARVIS J. C.;

Functional Electrical Stimulation of Denervated Muscles: Basic Issues. Artificial

Organs 2005; 29 (3): 199-202.

SCOTT, O. Ativação de Nervos Sensitivos e Motores.In: Kitchen, S. Eletroterapia Prática

Baseada em Evidências. 11ª ed. Manole: São Paulo, p. 57-58. 2003.

STAUB, A. L. P., ROTTA, N. T., MAHMUD, M. A. I., SVIRSKI, A. S., FONTELES, V. R.,

SILVA, Y.G, e cols. Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular em pacientes com

paralisia cerebral do tipo diplegia espástica. Fisioterapia Brasil 2005; 1(6): 6-9.

STEINBOK, P., REINER, A., KESTLE, J.R. Therapeutic Electrical Stimulation falowing

Selective PosteriorRhizotomyin children with spastic diplegic cerebral palsy: a

randomized clinical trial. Developmental Medicine and Child Neurology 1997; 39:

515-520.

SPIELHOLZ N., 1987, Electrical stimulation of denervated muscle. In clinical

electrotherapy (Nelson R. M., Currier D. P., Eds) Norwalk, Connecticut: Appleton and

Lange 1987; 97-113.

STOKES. M. Neurologia para Fisioterapeutas . São Paulo: Premier. p. 135-147, 2000.

WANG, R. Y., CHAN, R. C., TSAI, M. W. Functional electrical stimulation on chronic and

aculte hemiplegic subluxation. American Journal of Physical Medicine and

Rehabilitation 2000; 79 (4): 385-390.

WEINAGARDEN, H. P, ZEILIG, G., HERUTI, R. Hybrid functional electrical stimulation

orthosis in chronic stable hemiplegia. American Journal of Physical Medicine and

Rehabilitation 1998; 77 (4): 276-281.

ABSTRACT

The Functional Electrical Stimulation (FES) is a treatment of method that use electric

current to produce a effective and functional muscular contraction, promoting strengthener

and maintenance of muscular mass, even without muscular voluntary action. This resort

has been used therapeutically in the rehabilitation of patients with orthopedic and

neurologics disturbances, aiming of a general mode the improvement of sensorial and

motor function. The neuromuscular diseases are those that affect the second inferior

motor neuronal, nervous root , pheripherical nerve, mioneural shall and muscle, so don’t

have central disorders. The muscular frankness is seen with a of factor that cause bigger

loss of motor function and life’s quality of patients. The study’s objective is to show with a

bibliographic analysis, the utilization of Functional Electrical Stimulation in the

neuromuscular diseases. Was realized a detailed bibliographic analysis in literature‘s

classical books and research of articles in data’s base, limiting in the last twenty years.

The results of the present study give datas and favorables evidences how the

improvement of functional capacity and life’s quality of neurological patients, however, if do

necessary more evidences about the utilization of treatment’s method in neuromuscular

diseases, because don’t have studies that speech about this. Don’t have evidence about

the in improvement or worse however use this method in the denerved muscle by inferior

motor neuronal injury. Studies that speech about the treatment with FES in central

neurologics injuries, show a effective improvement in the walk, functionality and in the life’s

quality of patients. This results justify more efforts in the field and encourage another

researchers irrespective of our hypothesis and conclusions.