a transicao solar como possivel-impossiv

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    [-] www.sinaldemenos.org  Ano 7, n°11, vol. 2, 2015   2

    [-] Sumário # 11 vol. 2  

    EDITORIAL  4

    PAULO ARANTES 9 

     Entrevista com Marcos Barreira e Maurílio Lima Botelho

     ARTIGOS

    SOBRE O LIMITE ABSOLUTO DO CAPITAL 48

     Especulações acerca de uma hipótese teórica

    Daniel Feldmann

     A POTÊNCIA DO ABSTRATO 70

     Resenha com questões para o livro de Moishe Postone

    Cláudio R. Duarte

     A DEMOCRACIA E O SONO DA HISTÓRIA 123  Fragmentos 

    Raphael F. Alvarenga

    DIREITO E INTERCÂMBIO SOCIAL 142  Hipóteses sobre a forma e a função do direito

    à luz do desenho histórico-estrutural de Kojin Karatani

    Joelton Nascimento

    ISAAK RUBIN E GYÖRGY LUKÁCS 169

     As origens da “leitura crítica” de Marx na década de 1920 

    Marcos Barreira

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    O RENASCIMENTO MILAGROSO DE ANTONIO GRAMSCI 214

    Robert Bösch

    FAVELIZAÇÃO MUNDIAL 248

    O colapso urbano da sociedade capitalista

    Maurilio Lima Botelho

    CIBERATIVISMO, O PARADIGMA DO ANTIPODER E 271

     AS FISSURAS DO CAPITALISMO

     A revolução em tempos de internet

    Sílvia Ramos Bezerra

    PÓS-NATUREZA 286

     Pilhagem ecológica e os monstros do capital  

     André Villar Gomez

    O CAPITALISMO E A MALDIÇÃO DA 297

    EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

    John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York

     A TRANSIÇÃO SOLAR COMO POSSÍVEL-IMPOSSÍVEL 312

    Daniel Cunha

    O DINHEIRO COMO CORAÇÃO DAS TREVAS 328

     Nota sobre o último livro de Robert Kurz

    Daniel Cunha

    O QUE FALTA? 332Francisco C.

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     A TRANSIÇÃO SOLAR

    COMO POSSÍVEL-IMPOSSÍVEL 

    Daniel Cunha

     El tiempo se bifurca perpetuamente

    hacia innumerables futuros. En uno

    de ellos soy su enemigo. (Jorge Luis Borges,  El jardín desenderos que se bifurcan). 

    1. Possível 

    O capitalismo, ao mesmo tempo que desenvolve as forças produtivas e o seupotencial emancipatório, apresenta uma tendência imanente estruturalmente destrutiva

    do meio natural e material, decorrente de um metabolismo com a natureza inconsciente,

    que assume a forma do trabalho abstrato. Nesse contexto, a mudança climática se

    apresenta talvez como o problema mais crítico e de abrangência global. 1  Atualmente, o

    mundo se encaminha para um aquecimento de 3,9 oC, muito além do limite

    politicamente convencionado de 2 oC e certamente muito além de qualquer limite

    seguro; recentemente foi divulgado que 2014 foi o ano mais quente do registro histórico

    meteorológico. 2   O problema do aquecimento global exige que a base energética fóssil

    seja substituída nas próximas décadas. A queima de combustíveis fósseis gera a emissão

    de carbono à atmosfera, a maior contribuição para as emissões de gases de efeito estufa.

    1  Ver meus textos Cunha (2012), Cunha (2013) e Cunha (2015).2 Sobre a tendência de aquecimento, ver Climate Action Tracker (nd); sobre o recorde de temperatura

    média global em 2014, ver Japan Meteorological Agency (nd).

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    Cientistas estabelecem como um limite de segurança para a concentração de carbono

    atmosférico de 350 partes por milhão (ppm), valor que já foi ultrapassado.3  Para manter

    a possibilidade de permanecer abaixo desse limite, a queima de carvão deveria ser

    imediatamente interrompida, as emissões de carbono reduzidas à taxa de 6% ao ano e

    aplicadas técnicas de captura de carbono na biosfera e nos solos. 4   O comportamento

    não-linear, sujeito à ocorrência de pontos de não-retorno (tipping points) torna a

    questão não-trivial.5   Retroalimentações positivas, como o derretimento das camadas

    polares e a liberação do metano no gelo permanente, podem causar acelerações súbitas

    nas mudanças climáticas, e a inércia sistêmica pode atrasar a resposta às decisões

    humanas em milhares de anos – é a escala de tempo na qual o aumento da temperatura

    média global permaneceria após a cessação das emissões e sem geoengenharia

    (manipulação intencional do clima), segundo modelos climáticos.6  

     As alternativas aos combustíveis fósseis já existem, destacando-se a energia

    solar fotovoltaica e a energia eólica. Para que tais sistemas energéticos possam

    substituir a infraestrutura fóssil, porém, é necessário que eles “parasitem” essa base, ou

    seja, a energia para a construção da infraestrutura solar deve ser fornecida pela base

    fóssil. A energia solar existe em quantidade suficiente, já que atualmente o consumo

    global de energia é de 17 TW, e a energia solar capturável com células fotovoltaicas,

    apenas em áreas facilmente acessíveis, é de 360 TW.7

      Ao final 2013, a capacidadeinstalada de energia fotovoltaica era de apenas 0,136 TW, apesar do impressionante

    crescimento exponencial nos últimos anos.8  A questão pertinente, portanto, é quanto à

    possibilidade da construção de uma base solar a partir da base fóssil, em poucas

    décadas, para não se correr o risco de desestabilizar o sistema climático de maneira

    catastrófica, e sem tampouco submeter parte ou a totalidade da população mundial à

    escassez energética. Aqui é preciso mencionar que, ao contrário do que pregam certas

    ideologias (“decrescimento” e afins) o consumo total global de energia precisa

    aumentar, ao invés de diminuir, para que toda a população mundial tenha alta

    3 Röc kstrom et al (2009); Steffen et al (2015).4 Hansen et al (2008) e Hansen (2013)5 Hansen (2013)6 Solomon et al (2009)7  Estamos computando tão somente a energia solar fotovoltaica, sem contar energia eólica e outras.EIA

    (nd); Jacobson & Delucchi (2009).8 I nternational Energy A gency (2014).

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    qualidade de vida. Isso é ilustrado em um gráfico cruzando consumo energético per

    capita por país com o IDH, o que também mostra que além de 3,5 kW per capita não há

    aumento de IDH (ver figura 1). Com esse valor para uma população mundial atual de 7

     bilhões de pessoas, seriam necessários 24,5 TW ou 35 TW com os 10 bilhões projetados

    em 2050. Ou seja, ainda vivemos um período de carência energética agregada global,

    concomitantemente a uma distribuição extremamente desigual, com “excesso

    energético” para alguns países e carência para muitos outros. 

    Figura 1: Índice de Desenvolvimento Humano da ONU em função do consumo energético,por país. O gráfico mostra uma correlação entre qualidade de vida e consumo energético, eque com cerca de 3,5 kW/hab é possível atingir um alto IDH. Acima disso, porém, há umplatô, onde o aumento do consumo energético não corresponde a um aumento do indicador.9 

    Com esse intuito de investigar uma transição solar sem carência energética,

    David e Peter Schwartzman desenvolveram um modelo matemático que mostra que

    uma transição solar é possível em poucas décadas, caso se dedique um percentual da

    energia fóssil para a construção da base renovável (solar e eólica), somada a uma fração

    9 Fonte: Wikipedia (nd a) e Wikipedia (nd b); ver também Goldemberg (1998), p. 47 -9.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

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    0 5 10 15 20 25

       I   D   H 

    kW/hab

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    desta própria para a sua expansão. Segundo esse modelo, em 40 anos seria possível uma

    transição com a utilização de 1 a 2% da energia fóssil e cerca de 10% da energia

    renovável gerada para autoexpansão.1 0  

    Crítico nessa modelagem é o retorno energético sobre a energia investida

    (EROI), a proporção entre a energia que é gerada pelo sistema e a que é investida em

    sua construção. O modelo Schwartzman utiliza um EROI de 20, baseado em dados da

    literatura. Porém, após a publicação do seu estudo, um estudo das usinas fotovoltaicas

    espanholas forneceu uma visão muito mais detalhada (e pessimista) do EROI para a

    energia fotovoltaica, que seria de 2,46. Esse valor de EROI poderia inviabilizar uma

    transição energética como visualizada no modelo Schwartzman. De outra parte, outros

    elementos que não foram considerados nesse modelo podem melhorar o prospecto da

    transição: a “curva de aprendizado” dos módulos solares, que aumenta o EROI em 17% a

    cada vez que a capacidade instalada é dobrada 1 1 ; a vida útil estendida dos painéis, com

     vários estudos indicando que se degradam à taxa de 1% ao ano, e, portanto, podem ser

    utilizados por período muito mais longo do que a vida útil nominal de 25 anos modelada

    por Schwartzman.1 2   Especialmente, os dados das usinas espanholas incluem a energia

    embutida na construção e operação das usinas ( o gasto energético indireto “embutido”

    em cada componente da planta, força de trabalho, etc.), o que foi apenas assumido no

    modelo Schwartzman.1 3

     Com o fim de investigar como esses fatores influem a transiçãosolar, propomos modificações no modelo Schwartzman para incorporar esses fatores. O

    detalhamento matemático do modelo se encontra no apêndice.

    Os resultados do modelo modificado com os dados de EROI mais pessimistas

    encontrados na literatura indicam que a transição solar é mais difícil do que mostrado

    no modelo Schwartzman, porém confirma que ela é possível. Com nossa modelagem, é

    necessário reinvestir cerca de 40% da energia renovável em sua autoexpansão, além de

    3% da energia fóssil, para concluir a transição em cerca de 36 anos (figura 2). Os

    resultados são indicados nas figuras 1 e 2, onde R é a fração de potência energética

    10  Schwartzman e Schwartzman (2012)11  Görig & Breyer (2012)12 Skoczek et al (2009)13 O modelo Schwartzman assume que a energia embutida está contida em três fatores da transição solar:

    maior eficiência termodinâmica das energias renováveis, maior eficiência energética no norte global e ocrescimento exponencial das energias solares, com EROI’s muito maiores. Es sa assunção, porém, é bastante vaga. No modelo aqui proposto, essa energia está quantificada em um EROI muito menor.

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    renovável em relação à potência fóssil inicial – ou seja, quando R=1 a base solar iguala a

     base fóssil, mas esse valor é levado até adiante até que se atinja o nível de 3,5 kW/hab. A

    figura 3 compara o modelo Schwartzman com o modelo aqui proposto, com os mesmos

     valores de EROI, energia fóssil e energia renovável investidos na infraestrutura solar,

    mostrando que o modelo aqui apresentado é mais pessimista. É preciso enfatizar que

    aqui se está usando mais pessimista de todos os EROI’s já publicados. 

    Figura 2: Transição solar segundo o modelo modificado proposto

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    Figura 3: comparação entre o modelo proposto (R) e o modelo Schwartzman (R_Sch)

    Figura 4: evolução da base energética segundo o modelo proposto, com evolução da potênciarequerida para garantir 3,5 kW/hab (P_req), potência total disponível (P_disp), potencia fóssil(P_FF) e potência renovável (P_RE).1 4 

    Na figura 4 pode-se ver a evolução da transição energética, onde se ilustra que a

     base fóssil somente é desativada após garantido o acesso energético global no nível

    desejado, sendo que após atingido esse patamar o crescimento da base energética

    corresponde à modelagem do crescimento populacional. As emissões de carbono no

    período estão ilustradas na figura 5. Durante a transição aqui modelada seriam emitidos

    cerca de 320 GTon de carbono à atmosfera. Hansen (2013) propõe um limite total de

    500 GTon de emissões cumulativas (concomitantemente ao sequestro de 100 GTon por

    reflorestamento), o que, descontados os 337 GTon já emitidos 1 5 , resulta em um saldo de

    163 GTon. Os cenários mais permissivos (de 450 ppm) permitem emissões cumulativas

    de 1000 GTon, o que resulta em um saldo de 663 GTon. A modelagem proposta indicaultrapassagem do limite proposto por Hansen, o que implicaria a necessidade um

    programa de reflorestamento mais ambicioso.

    14 A potência disponível (P_disp) é definida como a potência fóssil mais a potência renovável descontadada fração para autoexpansão, ou seja, apenas a potência disponível para outros usos que não aautoexpansão do sistema.

    15  Cf. CDIAC (nd)

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    ecologicamente necessária, é preciso que ela passe pelo processo da valorização e pela

    mediação da concorrência. É esclarecedor aqui citar os autores do estudo das usinas

    fotovoltaicas espanholas:

    Sabemos que se tomamos três unidades de calor a partir do carvãopodemos gerar uma unidade de eletricidade de alto valor em uma usinatermelétrica. Se, ao invés disso, investirmos três unidades de calorprovenientes da queima de carvão em um sistema fotovoltaico naEspanha, ele geraria 7,35 unidades de eletricidade de alto valor; issoperfaz 7,35 vezes mais do que queimando carvão numa usinatermelétrica. O problema é que a primeira gera eletricidadeimediatamente; o problema para a geração fotovoltaica é que essasunidades são geradas ao longo de 25 anos, e precisam de umaantecipação de investimento de combustíveis fósseis de cerca de 2unidades térmicas no primeiro ano para o sistema fotovoltaico, e aterceira unidade ao longo dos 25 anos para operação e manutenção eoutras despesas recorrentes. (...) Pensamos que a falta de incentivo

    mercadológico para a energia fotovoltaica não se deve tanto ao seu baixoEROI, mas à taxa de desconto, ao valor temporal do dinheiro.1 6 

    Ou seja, aqui o fetiche do valor atua como uma camisa de força da tecnologia

    ecológica e socialmente mais adequada, entravando o seu desenvolvimento. A usina

    fotovoltaica gera mais energia e de maneira mais ecológica, mas na competição por

    rentabilidade ela perde a concorrência para o carvão e, em termos capitalistas, é um

    “investimento irracional” –  mesmo que insistir com a queima de fósseis signifique

    induzir uma catástrofe ecológica global. Daí que só pode tornar-se “competitiva” e

    desenvolver-se no capitalismo à base de subsídios ou taxação sobre o carbono. A

    “solução” da moda é o keynesianismo de um “ New Deal   Verde”, proposto mesmo alguns

    postulantes do ecossocialismo (como Schwartzman), uma nova era de ouro de

    “regulação estatal, crescimento e empregos”, que combinaria ecologia e acumulação.1 7  

    Mas o que significa isso no século XXI? As forças produtivas microeletrônicas

    simplesmente não comportam mais o emprego em massa de força de trabalho como as

    fábricas de automóveis da primeira metade do século passado. 1 8   Por outro lado, os

    investimentos são enormes. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA),

    são necessários investimentos de 700 bilhões de dólares anuais ao longo de vinte anos

    16 Prieto e Hall (2013), p. 119 (tradução minha).17  UNEP (2009), Schwartzman (2011).18 Kurz (2014), Kurz (1991).

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    para manter a concentração de carbono atmosférico abaixo de 450 ppm. Parece pouco,

    mas é 1% do PIB mundial, todos os anos, em tempos de recessão em que cada fração de

    ponto percentual no PIB é celebrado. E os custos tendem a subir muito para manter a

    teor em 350 ppm.

    Na Alemanha e na Espanha, dois dos países com maior potência fotovoltaica

    instalada e com boa base de dados, o que se viu empiricamente foi um aumento

     vertiginoso no preço da energia. Na Alemanha esse custo é repassado principalmente

    aos consumidores residenciais, para não prejudicar a “competitividade” da indústria

    exportadora.1 9   Na Alemanha, ao mesmo tempo em que avança a  Energiewende (as

    energias renováveis já respondem por 25% da energia elétrica), retorna a exploração de

    carvão, o combustível mais intensivo em carbono. Esses padrões indicam que a

    transição energética que vem sendo feita em alguns países tem objetivos concorrenciais

    entre estados, geopolíticos e de segurança energética –  redução de dependência dos

    produtores de petróleo e riscos do pico do petróleo –  muito mais do que redução de

    emissões de carbono.2 0   De resto, o baixo custo de certas técnicas de geoengenharia

    associado às análises de custo benefício da economia neoclássica, que descontam

    impactos futuros e compõe os lucros presentes à taxa de juros e pressupõe a

    substitutibilidade absoluta da riqueza material pela acumulação de capital, e a cada vez

    mais intensa crise de valorização capitalista apontam fortes contratendências a umatransição energética.2 1   A crise de 2008 teve forte impacto na expansão das usinas

    solares espanholas e no investimento em energia renovável no mundo inteiro, e as

    expansões do capital em busca de mais-valia absoluta costumam associar-se aos

    combustíveis fósseis, como no caso Chinês. 2 2   A recente corrida ao gás via  fracking 

    parece ser o golpe de misericórdia.

    19 Cf. Borden & Stonington (2014).20 Cf. Rest (2011).21  Sobre o baixo custo da geoengenharia, ver Barrett (2007). Sobre a economia neoclássica aplicada ao

    aquecimento global, ver Nordhaus (2013), e para uma crítica v er Cunha (2012) e (2015). Sobre a crise da valor ização ver Kurz (1992) e Kurz (2014 ); no contexto de uma transição e nergética, ver Konicz (2012).

    22 Cf. Hall & Prieto (2013), Rest (2011). Sobre o caso chinês e o aumento recente das emissões, ver Malm(2012) e Cunha (2013).

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     ANEXO

    Equações do modelo

    O modelo baseia-se no modelo Schwartzman.2 3  As modificações se referem ao

    EROI dinâmico, variando com a capacidade instalada, 2 4   a inclusão da totalidade da

    energia embutida no denominador do EROI (energia embutida em infraestrutura,

    reprodução da força de trabalho, etc.)2 5  e a modelagem explícita da degradação a 1% ao

    ano, com extensão da vida útil dos painéis para 40 anos. 2 6  As equações são as seguintes:

     

     

     

     

     A variável de estado e os parâmetros do modelo são listados na tabela 1. Na

    primeira equação, o primeiro termo da equação diferencial refere-se à potência

    renovável gerada a partir de energia fóssil, o segundo termo corresponde à potência

    renovável gerada a partir da própria base solar e o terceiro termo corresponde à

    degradação anual dos painéis. A segunda equação modela o EROI dinâmico, utilizando

    o fator empírico definido pela terceira equação. A quarta expressão é um indicador do

    avanço da transição solar (razão entre a potência solar construída e a potência fóssil

    inicial).

    O valor do EROI inicial de 2,46 foi modificado para 6,9 no modelo proposto

    ponderando quantitativamente as diferenças do contexto global em relação ao espanhol

    23 Schwartzman & Schwartzman (2010).24 Görig (2012).25 Prieto & Hall (2013).26 Skokczek (2009).

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    e excluindo o custo energético embutido que são especificamente capitalistas (tais como

    custos financeiros), a fim de modelar tanto quanto possível apenas as condições e

    restrições materiais envolvidas. As modificações do EROI incluíram: correção para vida

    útil de 40 anos, substituição da irradiação espanhola (1700 kWh/m2/ano) por uma

    irradiação representativa global (2000 kWh/m2 /ano) e exclusão do efeito da degradação

    dos painéis (já que a degradação é modelada explicitamente no modelo). Ainda, a “curva

    de aprendizado” é aplicada apenas para os módulos solares, e não para a estrutura como

    um todo, de maneira que a taxa de aprendizado efetiva, com a devida proporção

    quantitativa, é de 6,9%.

    Como todo modelo, o aqui proposto possui limitações. De todo modo, utilizou-

    se estimativas conservadoras, entre as quais podemos citar a não consideração do efeito

    de inovações tecnológicas, modelagem apenas da energia fotovoltaica (de menor EROI),

    sem considerar a aplicação simultânea de energia eólica e outras, bem como considerar

    a energia requerida de 3,5 kW/hab, quando certamente a abolição da “anarquia do

    mercado” acarretaria uma diminuição desse requerimento  –  isso se reflete no fato de

    que o IDH, usado na correlação com requerimento energético, é uma composição de

    expectativa de vida, escolarização e PIB per capita, sendo este último índice muitas

     vezes desacoplado da das necessidades ecológico-sensíveis. Ainda, trata-se de um

    modelo que desconsidera especificidades geográficas, subestimando, assim, fontesenergéticas que em localidades específicas podem ser muito mais eficientes do que a

    fotovoltaica (eólica, marés, etc.). Tudo isso faz com que os resultados sejam

    conservadores.

    Finalmente, as emissões de carbono foram calculadas considerando a

    desativação do uso de carvão, petróleo e gás natural, nesta ordem (ou seja, em ordem

    decrescente de emissões por unidade de energia produzida), utilizando os fatores de

    emissão típicos.

    Deixamos para investigações futuras a análise do efeito da variação dos valores

    de EROI e energia requerida por habitante e outros.

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    Tabela 1: v ariáveis e parâmetros do modelo

    Símbolo Variável / parâmetro Valor inicial / valor Unidade

    PRE Potência renovável instalada 0,136 TW

    f Fração da potência renovávelinstalada utilizada para ampliação

    de infraestratura renovável

    0,35 -

    f FF Fração da potência fóssil instalada

    utilizada para construção de

    infraestrutura renovável

    0,03 -

    D Taxa de degradação dos painéis 0,01 -

    M EROI de novos painéis calculado -M0 EROI inicial de novos painéis 6,9 -

    L Vida útil dos painéis 40 anos

    PRE0 Potência renovável instalada inicial 0,136 TW

    LR Taxa de aprendizado 0,069 -

     b Constante empírica calculado -

    PFF0 Potência fóssil instalada inicial 17 TWR Razão de transição energética (R=1

    corresponde a PRE = PFF0)

    calculado -

    Referências

    Barrett, S (2007) “The incredible economics of geoengineering”. Environmental

    and resource economics 39 (9): 45-54.

    Borden, E & Stonington, J (2014) “Germany’s Energiewende”, in: Clark II, WW

    Global Sustainable Communities Design Handbook: Green Design, Health,

    Technologies, Education, Economics, Contracts, Policy, Law and Entrepreneurship.

    Elsevier Press.

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    CDIAC (Carbon Dioxyde Information Analysis Center), Cf. CDIAC (nd),

    http://cdiac.ornl.gov/trends/emis/tre_glob.html (acesso em abril/2015). 

    Climate Action Tracker (nd), disponível em http://climateactiontracker.org

    (acessado em janeiro/201 5).

    Cunha, D (2012) “O Antropoceno como alienação”, Sinal de Menos 8:

    Cunha, D (2013) “A todo vapor rumo à catástrofe?”, Sinal de Menos 9:

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