a trajetória comunicacional de josé sarney por paulo césar d
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A Trajetória Comunicacional de José SarneyPaulo César D’Elboux - [email protected] METODISTA DE SÃO PAULO
osé Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu em Pinheiro - Maranhão, no dia 24
de abril de 1930, filho do desembargador Sarney de Araújo Costa e D. Kyola
Ferreira de Araújo Costa. Seu pai foi membro do Tribunal de Justiça do Maranhão,
inicialmente como promotor público, depois juiz, com andanças em quase todas as
comarcas do interior maranhense.Com isso, o filho que acompanhava o pai, estudou as
primeiras letras no Colégio Mota Junior, na cidade de São Bento, e no Colégio de
Professor Joca Rego, na cidade de Santo Antonio de Balsas.
JAos 12 anos de idade, em janeiro de 1942, vindo de São Bento, chegou a São Luís
para prestar exame de admissão no Liceu Maranhense, sendo aprovado em primeiro
lugar. Dois anos mais tarde, quando tinha 14 anos, José Ribamar começou a sua carreira
política, candidatando-se a presidente do Centro Liceísta. Saiu vencedor. No Centro
Liceísta, alem da militância política estudantil, iniciava a sua atividade jornalística,
editando o jornal “O Liceu”.
Em 1945, o Brasil começava a retornar à democracia. Na qualidade de líder
estudantil, lutou nas ruas e praças públicas para a queda da ditadura getulista que se
expressava no Maranhão pela ação implacável do interventor Paulo Ramos, que chegou
a prendê-lo. Em 1947, José Ribamar começou a se preocupar com a sua situação
financeira, e com isso participou do concurso de reportagem lançado pelo jornal “O
Imparcial”, do Diário Associado. Com o pseudônimo de “Zé da Ilha” produziu a melhor
reportagem, sendo com isso contratado como repórter do jornal. No ano seguinte, passou
a colaborar, também, com o “Diário de Pernambuco” e no “Correio do Ceará”.
Em 1950, ingressa na Faculdade de Direito. Tinha 20 anos, mas já era considerado
culto nos meios intelectuais de São Luís. Também nesse ano, passou a exercer o cargo
de Diretor do suplemento “Letras e Artes” do jornal “O Imparcial”. Em 1952, exatamente
no dia 12 de julho casou-se com D. Marly Macieira. No ano de 1953 formou-se bacharel
em Direito pela Faculdade de Direito do Maranhão. Nesse mesmo ano nasceu sua
primeira filha Roseana, que se tornou deputada federal e por duas vezes Governadora do
Maranhão sendo hoje Senadora da República.
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Em 1954 José Ribamar tomou a iniciativa de candidatar-se a deputado federal. Na
época o Maranhão vivia sob forte comando político do senador Vitorino Freire que era um
dos fundadores do PSD. Nessa sua primeira empreitada em cargo público ele não foi
feliz. Terminou na quarta suplência com 3271 votos. Mesmo na suplência, José Ribamar
chegou a assumir o mandato em diversas oportunidades, quando mostrou posições
arrojadas na época, chamando a atenção da imprensa nacional.
Já no ano de 1955 ocorreu a eleição para a sucessão do governo do Maranhão e,
também nesse ano nasceu o seu segundo filho, Fernando. Passou a lecionar a disciplina
de Noções de Direito, na Faculdade de Serviço Social da Universidade Católica do
Maranhão. Em 1957, José Ribamar deixou o PSD e ingressou na UDN – União
Democrática Nacional. Neste ano recebeu o título de Doutor Honoris Causa da
Universidade Federal do Maranhão. Também em 1957 nasceu o seu terceiro filho, José.
No ano seguinte, 1958, aconteceu nova eleição para deputado federal. José
Ribamar, por iniciativa do poeta português Bandeira Tribuzi, que desde que chegou a São
Luís, no início da década de 50, tornou-se um dos seus melhores amigos, decidiu adotar
o pseudônimo de José Sarney, nome achado pelo avô paterno no Almanaque Bristol e
com o qual ele batizara o filho Sarney de Araújo Costa, seu pai, que era desembargador.
Assim como José Sarney, ele começou um trabalho de marketing político ligando,
através do nome, a sua imagem, à imagem de seu pai, que era figura de destaque na
sociedade maranhense. Com esse novo pseudônimo, José Sarney elegeu-se deputado
federal, com 15081 votos, sendo o segundo deputado mais votado do Maranhão. Sua
campanha foi baseada no combate à corrupção eleitoral e administrativa que reinava no
Estado.
No início de 1962, aconteceu o esperado: o rompimento da UDN com o vitorinismo,
isto é, entre o deputado José Sarney e o governador Newton Bello, passando o deputado
José Sarney a combater ostensivamente a figura do governador, como faziam os partidos
das Oposições Coligadas. Nesse ano, José Sarney disputou a reeleição para deputado
federal com dois problemas: as críticas do PSP e contra a máquina do governo do Estado
que utilizou todas as formas para prejudicá-lo nas urnas. Essa campanha foi vitoriosa e
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José Sarney conquistou 21.294 votos, tornando-se o deputado das Oposições mais
votado.
No ano de 1963 José Sarney começou a articular a sua campanha para
Governador do Estado do Maranhão. Depois dessa articulação inicial, Sarney tinha outras
metas a serem atingidas, visando ser o candidato único das oposições. A primeira meta
era quebrar a resistência do PSP ao seu nome, a segunda era convencer o deputado
Neiva Moreira a abrir mão de sua candidatura a seu favor e a terceira meta, talvez a mais
importante, era lutar para que a Justiça Eleitoral providenciasse um recadastramento
eleitoral, para que a vontade do povo fosse respeitada no Maranhão, afastando dessa
forma os eleitores fantasmas, que existiam em grande quantidade.
A candidatura Sarney começava a ganhar constantes apoios contando, inclusive,
com a simpatia do novo Presidente da República escolhido pelos militares, o Marechal
Castelo Branco. Com o apoio do novo Presidente, a Justiça Eleitoral, através do Tribunal
Superior Eleitoral realizou o processo de recadastramento eleitoral no Estado para
comprovar o que os partidos de oposição do Maranhão estavam alegando há muito
tempo. O resultado foi vergonhoso. Dos 497.463 eleitores que votaram nas eleições de
1962, mais de 200.000 foram cancelados, isto é, eram fantasmas. No governo do
Maranhão, Sarney manteve estreito relacionamento com o Presidente Castelo Branco, o
que possibilitou realizar uma verdadeira revolução na administração maranhense. No dia
14 de maio de l970, José Sarney renuncia aos 10 meses que faltavam para completar seu
mandato, para concorrer ao Senado Federal. Os resultados das urnas elegeram José
Sarney com 236.618 votos e Alexandre Costa, outro companheiro de chapa de José
Sarney, com 183.990 votos. Durante esse mandato de oito anos, Sarney passou a ser
liderança política nacional, quando ocupou importantes comissões no Senado Federal.
Ainda no ano de 1978, Sarney concorre a reeleição ao Senado, pelo Maranhão, quando
obteve mais de 200.000 votos, batendo recorde de votação: 63,7%; o maior percentual
registrado por um candidato da ARENA nessa eleição.
No ano de 1979 foi indicado pelo então Presidente João Figueiredo, para a
presidência nacional da ARENA, com a missão de transformar o partido moderno e de
orientação social-democrata. No final de 79, Sarney visando a sustentação político
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parlamentar do governo Figueiredo e de defender o estado social de direito, propôs a
criação de um novo partido para suceder a ARENA, o PDS - Partido Democrático Social.
Partido esse que também passou a presidir nacionalmente.
O ano de 1984 foi marcante na política brasileira, quando ocorreu a campanha
pelas Diretas Já, para que a escolha do Presidente da República fosse realizada pelo
povo brasileiro, isto é, pelo voto direto. Mas essa proposta, mesmo com a participação da
população brasileira em grandes manifestações nas ruas, não foi aprovada pela Câmara
Federal. Com isso passou-se a discutir quem seria o candidato escolhido pelo PDS e que
teria a maioria para eleger o futuro presidente da república. Os candidatos à vaga de
concorrer pelo PDS eram: Aureliano Chaves, Mário Andreazza e Paulo Maluf.
Na tentativa de barrar a candidatura malufista, José Sarney, que era o presidente
do partido, propôs a Executiva Nacional a realização de uma consulta prévia nos Estados
para apurar as preferências das bases pedessistas. O objetivo dessa prévia era prejudicar
a candidatura de Paulo Maluf, que em resposta a essa tentativa, convocou seus aliados
para comparecerem em massa na reunião da Executiva Nacional e perturbarem a reunião
evitando a aprovação da proposta. O tumulto foi tanto que Sarney renunciou a
presidência do partido. Com esse fato outros políticos do PDS acompanharam José
Sarney acarretando um “racha” no partido do governo. Nessa reunião ocorreu um fato
curioso: o senador José Sarney avisado de que um grupo exaltado de malufistas
preparava-se para desacatá-lo, compareceu à reunião com um revólver na cintura.
Em entrevista, a mim concedida, no dia 18 de dezembro de 2002, em seu gabinete,
no Senado Federal, José Sarney comentou esse fato, quando disse:
Eu tinha absoluta consciência de que a eleição do Maluf, a maneira como
o processo estava, chegaria a um ponto que levaria o país a um impasse.
Diante disso, tomei a decisão e renunciei ao PDS. Mas julgaram que com
aquilo eu estava encerrando minha carreira política. O Maluf estava eleito
presidente e a revista Veja, naquele dia depois da renúncia trouxe na
capa de fim de semana: Maluf vence o último obstáculo’, que era eu no
PDS.
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Em seguida à renúncia de Sarney, o vice-presidente da época, Aureliano Chaves,
também retira a sua candidatura e juntamente com o senador Sarney forma-se a Frente
Liberal, que passaria a apoiar a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da
República. No dia 18 de junho de 1984, a Frente Liberal propôs o nome do Senador José
Sarney como o candidato à vice-presidente da República na chapa com Tancredo Neves,
do PMDB. Formando, dessa forma, a Aliança Democrática para concorrer no início do ano
de 85 à eleição, no Colégio Eleitoral, contra Paulo Maluf, que foi o vencedor da
convenção do PDS.
Na entrevista realizada por mim, com José Sarney, sobre esse assunto ele disse:
Não queria ser o candidato à vice-presidente. Não me sentia bem, pelo
fato de ter acabado de deixar a presidência do PDS. Meu candidato era o
Marco Maciel. Mas fui convencido a aceitar pelo próprio Tancredo,
quando me chamou a Belo Horizonte para dizer que não saia do Governo
de Minas se eu não fosse candidato à vice dele, e eu ponderei que era
muito melhor o Marco Maciel e fiz tudo para o Maciel aceitar e ele não
aceitou. Foi aí que ele ousou ‘não acho que nós teremos grandes
possibilidades de vitória porque se isso ocorrer, porque juntamos a
dissidência de PDS conosco e você sabe o mapa da mina.’ A história de
que eu sabia os delegados do nordeste. Eu aceitei dizendo que era uma
aceitação provisória diante da recusa do Maciel, porque se ele tivesse
algum outro nome que pudesse ser para ajudar a vitória eu estava
disposto a abrir mão. Até porque para mim era um processo traumático,
porque eu tinha sido presidente do PDS, ser candidato a vice, de certo
modo foi um processo muito traumático. Mas o Tancredo teve muita
coragem e determinação e me convenceu a participar, e aconteceu.
A eleição para a escolha do primeiro Presidente da República, após 21 anos de
governos militares, foi realizada no dia 15 de janeiro de 1985, quando a chapa
Tancredo/Sarney foi vitoriosa, com uma vantagem de 300 votos sobre o candidato do
governo Paulo Maluf. Após a eleição, Sarney recolheu-se discreta e silenciosamente ao
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seu sitio do Pericumã, nos arredores de Brasília, e deu a seguinte declaração aos jornais
da época: “Preparo-me para ser um vice-presidente discreto, de um presidente forte”. Na
época, Tancredo apreciou e elogiou a compreensão e comportamento de Sarney.
A três dias da posse o Presidente Tancredo começava a ter fortes dores no
abdômen, mas o Presidente apenas se consultava com médicos. Tomava remédios e se
recusava a uma internação recomendada pelos médicos. Tudo por causa do medo da
transição. Tancredo contava os minutos para a posse, mas a doença se agravava. Havia
perigo de morte. Com isso na noite de 14 de março, véspera da posse, Tancredo foi
internado no Hospital de Base de Brasília, onde passou por exames, que acabaram
indicando a necessidade da cirurgia. Tancredo aceitou, mas não antes da posse. Resistiu,
lutou, implorou:
Eu peço pelo amor de Deus: me deixem até amanhã e depois de amanhã
façam de mim o que vocês quiserem. Mas eu tenho a obrigação. É um
compromisso que eu tenho. Eu sei de fonte fidedigna que o Figueiredo
não dá posse ao Sarney (COUTO apud OLIVEIRA BASTOS, 2001, p.
98.).
Sabendo da doença de Tancredo, o então Presidente João Figueiredo, que tinha
em Sarney um inimigo, disse:
Esse não pode. Ele não assume! Como é que ele vai assumir, se ele não
é vice-presidente? Ele é vice-presidente eleito, mas não empossado.
Então não pode substituir alguém que não foi empossado também
(COUTO apud OLIVEIRA BASTOS, 2001, p. 98.)
Figueiredo admitia a posse para Ulisses Guimarães, presidente da Câmara dos
Deputados, ou do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves. Mas
Tancredo ainda lúcido, não aceitava a cirurgia, queria resolver o problema da posse, pois
defendia que a posse fosse dada a Sarney, pois caso contrário temia pela instalação da
Nova República. A discussão dominou a madrugada. O constitucionalista respeitado, o
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jurista Afonso Arinos de Melo Franco, que estava em Brasília para a posse, é chamado
para dar o seu parecer, que foi este:
De acordo com a Constituição, o vice-presidente eleito, José Sarney,
deve assumir a Presidência da República e exercê-la, em caráter
provisório, até que o Presidente Tancredo se recupere, e possa
comparecer ao Congresso e faça seu juramento (GUTEMBERG,2001,
p.122).
Há um consenso entre os líderes políticos e fica determinado que a posse será
dada para José Sarney. Com essa notícia o presidente Tancredo Neves aceita ser
operado. Na manhã do dia 15 de março de 1985, a posse foi dada a José Sarney. No
Palácio do Planalto, o então Presidente, João Figueiredo recusou-se a transmitir o cargo e
passar a faixa presidencial para José Sarney, deixando o Palácio pela porta dos fundos,
rumando ao aeroporto, de onde embarcaria para o Rio de Janeiro. José Sarney cumpre o
seu papel de substituto eventual e provisório, nomeia os ministros que Tancredo havia
escolhido e assina os primeiros atos de governo que Tancredo havia programado.
Mostrou ser um colaborador competente e discreto como havia prometido que estava se
preparando para exercer o cargo de vice-presidente da República. Essa sua atitude coube
ao Presidente Tancredo, mesmo no hospital a escrever uma carta elogiando a sua
atuação. O texto dessa carta, inscrito no dia 23 de março de 1985, é o seguinte:
Caro Sarney,
A Nação está registrando o exemplo de irrepreensível correção moral que
o prezado amigo lhe transmite no exercício da Presidência da República.
Na política, o exemplo é mais importante que o discurso. O discurso é
efêmero pela sua própria natureza, o seu efeito termina com a leitura de
sua divulgação por mais eloqüente e oportuno que seja ele.
O exemplo, ao contrário, contribui para a construção ética da consciência
do nosso povo que, na solidariedade que tem demonstrado, tem me dado
forças para superar esses momentos.
O seu exemplo, Presidente Sarney, ficará memorável em nossa história.
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Um cordial abraço para Marly.
Tancredo NevesO estado de saúde de Tancredo Neves se agravou e ele foi transferido para São
Paulo. Os esforços foram em vão, e ele veio a falecer no dia 21 de abril de 1985. Com
isso Sarney se vê diante da responsabilidade de passar da condição de interino, a de
Presidente da República de fato e de direito. A substituição de Tancredo Neves não
implicava apenas tornar-se Presidente, mas sim implantar uma nova ordem democrática
que substituiria o regime militar. Os primeiros momentos da Nova República foram
terríveis, pois era necessário instaurar confiança no comando da transição para a
democracia plena, cumprindo os compromissos explícitos e implícitos assumidos por
Tancredo e pela Aliança Democrática e também administrar o país, que estava em
péssima situação econômica, financeira e social. As primeiras medidas do Presidente
Sarney foram acabar com a figura das cidades de segurança nacional, restabelecendo
dessa forma as eleições diretas para a escolha de prefeitos dessas cidades. Restabelece,
também, eleições diretas para as prefeituras das capitais dos Estados; propõe emenda
constitucional restabelecendo eleições diretas para Presidente da República; cria o direito
de voto ao analfabeto; modifica o sistema partidário, criando facilidades para a formação
de novos partidos; acaba com a censura, assegurando uma liberdade absoluta para a
imprensa brasileira; cria o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário; cria o
SUS - Sistema Único de Saúde; estende o direito à previdência, aos trabalhadores rurais.
Mas nem tudo são flores. Começam também a ocorrer no País as greves, em
quantidades que se multiplicavam assustadoramente. Mas a democratização do País
continuava sendo a prioridade de Sarney, quando então, cumpre um dos principais
compromissos da Aliança Democrática, que era a convocação da Assembléia Nacional
Constituinte. Para eleger os deputados constituintes, 22 partidos concorreram nessa
eleição, até mesmo dois partidos comunistas participaram. Também foi a primeira eleição
com votos dos analfabetos. Essa eleição ocorreu em 1986.
Outra grande discussão ocorrida durante o mandato do Presidente Sarney foi à
duração de seu mandato. Isso começou com a instalação da Assembléia Nacional
Constituinte, no dia 26 de janeiro de 1987. No total foram eleitos 559 delegados, com
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larga maioria para o PMDB, com 305 membros, e do PFL, 134 delegados, e o restante
120 distribuídos em 9 partidos que obtiveram coeficiente elegendo alguns deputados.
Com essa grande maioria o PMDB impõe Ulisses Guimarães como presidente,
cumulativamente, da Câmara dos Deputados e da Assembléia Nacional Constituinte. Com
isso, começa a disputa pelo poder em Brasília, quando a imprensa e os políticos
discutiam quem tinha mais poder, o Presidente da República ou o Presidente da
Assembléia Constituinte e da Câmara Federal, Ulisses Guimarães. A discussão da
duração do mandato de Sarney passou a ser o grande tema da Assembléia Constituinte.
É bom lembrar que Tancredo e Sarney foram eleitos para o mandato de seis anos. À tona
desse momento foram as negociações, e as notícias davam conta que o governo
distribuía concessões de rádios e televisão para os deputados ou seus afiliados em troca
do voto para 5 anos de mandato do Presidente Sarney.
DEPOIS DE TANTA DISCUSSÃO, EM JUNHO DE 1988, 17 MESES DEPOIS DE SEU INÍCIO, A ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE APROVA, POR 328 A 222 VOTOS, O MANDATO DE CINCO ANOS PARA O PRESIDENTE JOSÉ SARNEY. SOBRE ESSE TEMA JOSÉ SARNEY DECLARA:
ESTE FOI UM DOS MAIORES ERROS DA MÍDIA, NO BRASIL. PASSARAM AO PÚBLICO A IDÉIA DE QUE EU PRORROGUEI MEU MANDATO EM UM ANO QUANDO, NA VERDADE, EU ABDIQUEI DE UM ANO. MEU MANDATO, FIRMADO NO TERMO DE POSSE ASSINADO PELA MESA DO CONGRESSO, EM FUNÇÃO DA LEI ENTÃO VIGENTE, EXPIRAVA EM 1991, NO MÊS DE MARÇO. ERA, PORTANTO, UM MANDATO DE SEIS ANOS, COMO FORA O DO PRESIDENTE ANTERIOR. PARA PACIFICAR O AMBIENTE, JÁ TUMULTUADO PELO AÇODAMENTO DE ALGUNS CANDIDATOS À MINHA SUCESSÃO, DECLAREI QUE ACEITAVA A FÓRMULA DE ‘CINCO ANOS’. AÍ SE DESENCADEOU A CAMPANHA PELOS QUATRO ANOS. EU COMETI UM ERRO, CONFESSO. DEVIA TER FICADO CALADO. CASO A CONSTITUINTE FIXASSE MEU MANDATO EM QUATRO ANOS, BASTARIA IR AO SUPREMO, QUE CONFIRMARIA OS SEIS – DIREITO ADQUIRIDO PELO DIPLOMA QUE ME OUTORGARAM. (COUTO APUD OLIVEIRA BASTOS, 2001, P.33)
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EM MARÇO DE 1990, JOSÉ SARNEY DEIXA O GOVERNO PASSANDO A FAIXA PRESIDENCIAL PARA FERNANDO COLLOR DE MELLO VENCEDOR DAS ELEIÇÕES DE 89. E NESTE MESMO ANO, SARNEY RESOLVE CANDIDATAR-SE A UMA VAGA PARA O SENADO FEDERAL. SÓ QUE NÃO PELO MARANHÃO, ONDE ESTAVA COM PROBLEMAS COM A CÚPULA DO PMDB LOCAL, MAS SIM PELO ESTADO DO AMAPÁ, QUE ACABARA DE SE TORNAR ESTADO E ELEGERIA PELA PRIMEIRA VEZ OS SEUS SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS. PORTANTO O ESTADO DO AMAPÁ ELEGERIA TRÊS SENADORES, SENDO QUE O MAIS VOTADO TERIA MANDATO DE OITO ANOS E OS OUTROS DOIS PARA UM MANDATO DE QUATRO ANOS. E JOSÉ SARNEY CONSEGUIU SE ELEGER COMO O MAIS VOTADO, PASSANDO A PARTIR DE JANEIRO DE 1991 A SER SENADOR DA REPÚBLICA PARA UM MANDATO ATÉ O ANO DE 1998. NESSE MANDATO, JOSÉ SARNEY TORNA-SE, ELEITO PELOS SEUS PARES, O PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL E DO CONGRESSO NACIONAL PARA O PERÍODO DE DOIS ANOS, 95 E 96.
NO ANO DE 1998, SARNEY CONCORRE A REELEIÇÃO, E NOVAMENTE SAI VENCEDOR, OBTENDO MAIS DE 52% DOS VOTOS VÁLIDOS DO ESTADO DO AMAPÁ. ESSE MANDATO DE SENADOR INSPIRA-SE NO FINAL DE 2006.
Trajetória ComunicacionalJosé Sarney é um dos poucos políticos brasileiros a se manter mais de 50 anos no
cenário político do país, chegando a ser Presidente da República do Brasil. No total,
Sarney foi, por dois mandatos, Deputado Federal. Teve ainda um mandato de Governador
do Estado do Maranhão, dois mandatos de 8 anos, como Senador pelo Maranhão, um
mandato de 5 anos como Presidente da República e dois mandatos de Senador pelo
Amapá. Para se manter por tanto tempo assim no poder, o político deve ter um bom
trabalho de marketing político. Na entrevista que realizei com José Sarney, em seu
gabinete, no Senado Federal, dia 18 de dezembro de 2002, quando perguntei o que era
para ele o marketing político, ele respondeu:
Acho que é imprescindível. Primeiro, a ação política, 50% ou mais dela é
feita pela palavra. A maneira de se massificar as idéias que as palavras
têm é através dos instrumentos que se tem. A imprensa é o mais antigo
de todos, depois os meios que a gente dispõe hoje. Ninguém pode fazer
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política, a não ser no anonimato, se não tiver condições dela ser do
conhecimento, ser massificada. É uma obrigação do político, é quase que
uma extensão da personalidade. Ninguém pode ter sucesso político se
não for capaz de expor suas idéias para que os outros possam comungar
delas. Acho que tive a sorte de começar certo junto com o Miguel Gustavo
que foi um homem muito importante para mim. Todas as campanhas,
esses marqueteiros que participaram sabem que sou muito palpiteiro e
muito rigoroso em matéria de criticar. Tenho coragem de dizer a eles o
que está certo e o que está errado.
Sobre a importância de Miguel Gustavo na comunicação política de José Sarney,
encontramos outra entrevista em que Sarney fala sobre a participação do marqueteiro em
sua trajetória política. Essa entrevista foi concedida à Rádio Mirante AM de São Luís, no
dia 19/10/94, no programa “Eu, você, a noite e a música” de Silvan Alves. Nela, Sarney
falou:
Quando eu fui candidato e deputado, tive a sorte de conhecer o maior
nome da propaganda, do marketing político musical brasileiro, o Miguel
Gustavo, um gênio. Ele era fã da Emilinha, do César de Alencar, da
Revista do Rádio, fofoca aqui e acolá era dele, era craque em jingle, Casa
da Banha, dos porquinhos da Casa da Banha, ele fez a campanha do
Jango, criou o jingle do Jango ‘É Jango, é Jango, é Jango, é Jango , é
Jangoulart’. Eu conheci quando era deputado, no Rio de Janeiro. Fiquei
amigo do Miguel. Ele era poeta, simpático, figura extrovertida e brincava
comigo e dizia que ia fazer uma música para minha campanha. A
reeleição era em 1962. Aí ele fez a música que passou a figurar em todas
as minhas campanhas políticas que era ‘Meu voto é minha lei, para
deputado José Sarney’ . Então esse disco era um baião, e o baião estava
surgindo naquela época. E ele fez o baião do Sarney que fez um sucesso
extraordinário aqui no Maranhão. Era cantado por Luiz Vieira que até hoje
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é meu amigo e faz programa na madrugada. O Miguel não fazia música
para todo mundo, mas fez para mim que era seu amigo.
Por essa campanha de 62, o atual Secretário de Comunicação do Governo do
Estado do Maranhão, Dr. Antonio Carlos Lima, me disse em entrevista, no dia 16 de
dezembro de 2002, em seu gabinete, no Palácio Henrique de La Rosse, sede do governo
maranhense, que considera José Sarney o pioneiro do marketing político no Maranhão.
Na entrevista que realizei com José Sarney perguntei sobre a afirmação de Antonio
Carlos Lima. Ele respondeu: “ Talvez eu possa dizer que, no Maranhão, pela primeira vez,
nós introduzimos uma campanha planificada ... Para isso utilizamos também pela primeira
vez no Estado a comunicação musical, com jingle ...”
No ano de 1965 José Sarney tornou-se candidato ao Governo do
Maranhão há 20 anos dominado pelos vitorinistas, isto é, políticos aliados
ao Senador Vitorino Freire. A imagem do político José Sarney começou a
ser planejada desde o início de sua trajetória, como disse o próprio
Sarney.
A grande novidade nessa campanha eleitoral foi a inclusão da plataforma de
governo em forma de músicas, que eram tocadas nos carros de som e nas rádios. Essa
novidade foi feita por Miguel Gustavo que deu ao disco o nome de “Show da Vitória”. Nele
cantavam os maiores nomes da música brasileira da época: Agostinho de Moreira, Elza
Soares, Elisete Cardoso, o palhaço Carequinha. Os locutores das chamadas, pedindo os
votos para o governador José Sarney eram: Cid Moreira e Aracy de Almeida.
Vamos agora relatar algumas músicas desse famoso disco, que foi a sensação
dessa campanha eleitoral. Na primeira faixa do disco os locutores Cid Moreira e Aracy de
Almeida, dizem:
A campanha de José Sarney ao governo do Estado continua recebendo a
solidariedade de todo o povo do Maranhão e a colaboração de brasileiros
de todos os Estados. Agora mesmo está José Sarney recebendo a
valiosíssima adesão dos maiores cartazes do rádio, do cinema e da
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televisão. Aqui está a grande expressão da música brasileira: Zezé
Gonzaga.
Zezé Gonzaga canta, então, a música que era o carro chefe da campanha:
Meu voto é minha lei
Governador José Sarney
Quando entrar na cabine
O eleitor é José Sarney governador
A vitória de Sarney marcará um quadro novo
Vai o povo pro governo e o governo vem pro povo
Meu voto é minha lei,
Governador José Sarney
A eleição foi realizada no dia 03 de outubro de 1965 e o resultado começou a
consolidar a liderança de José Sarney no Maranhão. É importante lembrar que essa
eleição foi garantida pelas forças federais, que por recomendação do Presidente da
República, marcaram presença em todos os municípios do Estado. As apurações
chegaram ao final com o seguinte resultado: José Sarney – 112.062 votos; Costa
Rodrigues – 68.560 votos e Renato Archer – 36.103 votos. Sarney tomou posse em 31 de
janeiro de 1966. Portanto foi a primeira vez que as Oposições Coligadas derrotaram o
candidato do vitorinismo, que estava no poder há mais de 20 anos. E, para marcar esse
acontecimento, Sarney resolveu inovar e marcou a sua posse para a praça pública, com a
presença de uma grande multidão. Segundo os livros, mais de 50.000 pessoas estiveram
prestigiando a posse de Sarney, que prometia uma revolução no comando do Estado.
Para fazer a cobertura dessa posse Sarney convidou o grande cineasta Glauber Rocha,
que esteve registrando todo os momentos da posse. Esse registro transformou-se em
documentário, denominado “Maranhão 66”. Esse documentário tem doze minutos de
duração, e começa apresentando a multidão na praça pública gritando o nome do Sarney.
Depois, revela a pobreza dominante no Maranhão, mostrando pessoas desnutridas,
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esgoto a céu aberto, casas sem condições de moradia. Durante essas imagens, Glauber
colocou a voz de Sarney, em seu discurso de posse, transmitindo esperança de dias
melhores para o povo maranhense. Esse documentário realista de Glauber é hoje parte
integrante de sua filmografia.
O filme de Glauber concentra toda a emoção dos dias de horror de que se libertava o Maranhão, as esperanças que nasciam no Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de rua e, no meio de tudo, a voz de Sarney. Mas não simplesmente a voz de Sarney; Glauber, modificando a ciclagem da voz do novo governado no seu discurso de posse, obteve um efeito emocionante e fez com que ela soasse como a voz de um vulto profético, fixando o choque entre o impossível, que a mensagem de esperança do novo governador anunciava, e a miséria que as imagens mostravam. (GUTEMBERG, 2001, p.70)
Sobre esse documentário realizado por Glauber Rocha, José Sarney, na entrevista, que me concedeu, disse:
Eu também fui ligado a um grupo de cinema. Era presidente do Festival de Cinema de Brasília. Luis Carlos Barreto, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, nós todos éramos amigos. O Glauber estava fazendo ‘Terra em Transe’ e estava com uma certa dificuldade. Quando fui eleito governador, o levei para fazer o documentário da posse. Ele se empolgou e fez. Eu também ajudei porque fiz, de certo modo, o roteiro que era do documentário, para fugirmos daquela coisa, para ver o contraste que se encontrava e o que a gente desejava. E ele fez. Depois ele utilizou as cenas da minha posse no filme dele, ‘Terra em Transe’. Esse documentário foi exibido no programa de arte da Rua Paissandu, no Rio de Janeiro e quando colocaram ‘Posse do Governador José Sarney’, foi uma vaia imensa dentro da sala. Porque era um cinema de arte, e com um documentário naquela época político, sobre um governador de 65. Quando terminou o documentário, a platéia levantou e aplaudiu de pé. Finalmente, ficou sendo um marco na história do cinema. O Glauber utilizou uma técnica que a gente não nota. Pegou a minha voz de governador, do meu discurso e mudou a ciclagem, de 60 ciclo para 50. Então está meio deformada, parece uma voz de fantasma, no meio daquela pobreza toda havia um homem que tinha um sonho de uma utopia.
O contraste entre o governo Sarney que se iniciava e os métodos, pessoas e expectativas das administrações do
passado oligárquico do Estado, logo foi batizado popularmente de “Maranhão Novo”. Para continuar com a
comunicação através da música, Miguel Gustavo fez nova música, que Sarney, na entrevista concedida a mim,
mencionou: “O Miguel foi um dia ao Maranhão e disse que preparou um hino para o Maranhão (Maranhão Novo). Era
um hino empolgante, que era linha melódica que depois utilizou para o hino da Copa de 70 (vinte milhões em ação ...)
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era mesma linha melódica...”. Esse hino passou a ser a meta que o governo José Sarney precisaria atingir para ser de
fato um Maranhão Novo. A letra desse hino é:
Novas estradas vem vindoEnergia surgindoEscolas se abrindoCrianças sorrindoNovo Maranhão
Boa esperança cantandoO óleo embarcandoPetróleo jorrandoProgresso chegandoNovo Maranhão
Todo o BrasilVai ouvir e falarDo meu MaranhãoMeu MaranhãoVai ser grandeNa grande Federação
Boa esperança cantandoO óleo embarcandoPetróleo jorrandoProgresso chegandoNovo Maranhão
Vê É o trabalhoA fé e a lei Vê É o governoJosé Sarney
Por tudo e tá aquiVai abrir um mundo novo Maranhão e uniãoÉ o povo com o governoO governo com o povo
Novas estradas vem vindoEnergia surgindoEscolas se abrindoCrianças sorrindoNovo Maranhão
O governo José Sarney teve, várias inovações em termos de comunicação. Um
deles foi a criação da TV Didática, em que inicialmente através de um circuito fechado, os
melhores professores ensinavam as crianças através da televisão. Depois esse circuito
fechado virou a TV Educativa do Maranhão, que até hoje existe.
José Sarney sempre foi um político voltado para a comunicação, e sempre utilizava
novas técnicas para se comunicar com o povo. Observe a entrevista que me concedeu
sobre esse tema:
Em matéria de saúde, nós fazíamos os comícios da saúde, convocava o povo para a praça e fazia a erradicação da varíola, na época. O pessoal se vacinava, o governador fazia o discurso, os médicos iam. Eram campanhas feitas nessa direção. Mas é necessário sempre para usar esse método que haja uma liderança política por traz para ter o apelo popular. Enfim, foram sempre meios que eu procurei usar, sempre vinculado a planos de governo, a obra, inaugurações. As placas
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padronizadas fazíamos com apelos didáticos, como o que era estrada, para que se destina. Era uma maneira de o povo ver quando passava, era uma certa interação. Naquele tempo, há 40 anos, era um impacto.
Outra grande inovação ocorrida durante o governo José Sarney, no tocante a
comunicação, foi a mudança no Diário Oficial do Maranhão, quando no ano de 1967,
passou a ter em sua primeira página notícias do governo, tais como: visita do governador
a uma determinada cidade do interior, inaugurações de obras, assinaturas de convênios,
entre outras. Sempre as notícias estavam acompanhadas de fatos. Com essa
transformação, o Diário Oficial do Maranhão passou a ser vendido nas bancas de jornais
do Estado do Maranhão. Durante o seu governo, Sarney também utilizou muito o rádio
para transmitir sua mensagem ao povo do Maranhão. A seguir dois spots utilizados pelo
Governo Sarney, no ano de 1967, para divulgar atos do seu governo. O primeiro é sobre a
obra:
Maranhão NovoGoverno José SarneyRestauração total da rede elétrica de São LuísProgresso
Já o segundo spot vinculado nas rádios do Maranhão, no ano de 1967 dá a mensagem de dinamismo e de austeridade do governo:
O Maranhão cresce com o BrasilNovo MaranhãoGoverno José SarneyAusteridade – Ação
A seguir, vamos abordar o marketing utilizado na campanha que elegeu Tancredo
Neves Presidente da República e José Sarney, vice. Foi uma campanha atípica, já que
visava, através da população, convencer os 686 convencionais que tinham direito a voto.
Nos embasamos em entrevistas realizadas com o publicitário Mauro Salles, coordenador
geral daquela campanha e com o próprio José Sarney. Importante destacar aqui que
Mauro Salles era profissional de extrema confiança de Tancredo Neves, tendo sido
também coordenador nas “Diretas Já”. Durante todo o período de campanha morou em
Brasília, na residência de Tancredo Neves.
A relação profissional e de confiança entre Tancredo e Mauro Salles já era antiga,
isto é, vinha desde o primeiro governo de Getúlio Vargas, quando o pai de Mauro Salles,
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Dr. Apolônio Salles, era Ministro da Agricultura, junto com Tancredo Neves que era
Ministro da Justiça.Com a renúncia de Jânio Quadros em 61, quando o Brasil passou a
ser regido pelo regime parlamentarista, sendo Tancredo Neves o Primeiro Ministro, ele
convidou o publicitário Mauro Salles para ser o Secretário do Conselho de Ministros. No
regime parlamentarista, os ministros obrigatoriamente se reuniam semanalmente, e era o
secretário que coordenava essas reuniões. E durante esses 10 meses de governo
parlamentarista, a amizade e o respeito mútuo entre Tancredo e Mauro Salles se
fortaleceu. Por isso que Mauro era pessoa de extrema confiança de Tancredo Neves para
coordenar a parte publicitária e de comunicação da sua campanha a Presidente da
República.
Na entrevista que me concedeu, no dia 26 de novembro de 2002, em seu escritório
na Avenida Faria Lima, 2055 – 15º andar, em São Paulo, Mauro Salles, falou que o
planejamento da campanha começou muito antes até mesmo da derrota das “Diretas Já”.
Disse ele:
Primeiro quero aproveitar para dissertar um pouco sobre políticos que
trabalham em cima de fatos, ou seja, o que acontece de manhã é o tema
para saber o que ele vai fazer à tarde. São políticos menores. Os políticos
maiores, os estadistas, têm a obrigação de dar um passo à frente, de
estar mais adiante e se preparar para o mais adiante. Não são apenas
operadores táticos, eles tem obrigação de serem operadores estratégicos.
E a lição da estratégia que tanto vale para a política como para o militar, é
uma lição em que você tem que estar preparado para as várias
alternativas, quer dizer, se você vai fazer um avanço você tem que estar
preparado para ter sucesso e preparado para você fazer se não tiver
sucesso. Então quando a campanha das Diretas começou a crescer, o
que de início parecia apenas um gesto de protesto começou a ter força de
uma ação política, ou seja, havia chance de que a emenda Dante de
Oliveira fosse aprovada. Enquanto havia o grande entusiasmo sobre
como isso ia se processar, os políticos mais experientes, os estadistas,
estavam olhando a frente, ou seja, o que aconteceria se as ‘Diretas Já’
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fossem vitoriosas e o que aconteceria se não fossem, ou seja, o político
tanto mais estadista, tanto mais profissional quanto menos é surpreendido
pelos fatos.
A seguir Mauro Salles descreve sobre a reunião que teve com Tancredo Neves
quando a campanha das “Diretas Já” estava em pleno andamento:
Eu estive com o Dr. Tancredo numa reunião no Rio e fiz uma análise para
ele do que eu achava que estava acontecendo. Evidentemente a análise
dele estava muito mais à frente e ele tinha a conclusão de que se as
‘Diretas Já’ fossem aprovadas o PMDB tinha um candidato a ser lançado
que se chamava Ulisses Guimarães para tentar assumir a Presidência da
República pelo voto direto. Mas sabia o Dr. Tancredo que se as ‘Diretas
Já’ não fossem aprovadas então iria haver um formato para a escolha,
que ia ser o do colégio eleitoral. E nesse caso o próprio Dr. Ulisses
admitia que ele não seria o candidato ideal porque seria muito mais ideal
para o PMDB, um nome com capacidade de agregar forças para enfrentar
o PDS que iria ter o Maluf ou o Andreazza como candidatos. Aí comecei a
trabalhar com o Dr. Tancredo, nas duas hipóteses. Na primeira eu iria
ajudá-lo a dar um suporte à campanha do Ulisses Guimarães e na
segunda, se não fosse o Ulisses, eu iria ajudar a ele e as outras
lideranças na busca do Candidato que, ele nunca confessava, mas ele
sabia que ele era a pessoa mais adequada para ser o candidato nessas
circunstâncias.
E logo após a derrota das “Diretas Já”, no plenário da Câmara Federal, mais
exatamente, no dia seguinte, Mauro Salles já estava em Minas Gerais, traçando as
diretrizes a serem alcançadas, como disse na entrevista:
No dia seguinte eu já estava em Minas Gerais traçando com o Dr.
Tancredo diretrizes de um trabalho, enquanto os políticos do dia-a-dia
estavam perguntando só o que aconteceria no dia seguinte. Eu estava
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junto com alguns políticos, quer dizer, junto com o próprio Dr. Ulisses,
com o Franco Montoro e com José Sarney. Essas pessoas conversavam
muito, mas não apareciam nos jornais o que eles estavam fazendo.
Mauro Salles conta sobre a estratégia da divulgação de que Tancredo Neves
aceitaria ser candidato e também de como seria divulgado o seu nome como o
coordenador da campanha. Nesse trecho da entrevista o publicitário, diz:
Aos poucos os governadores foram exigindo do Dr. Tancredo, que
aceitasse ser o candidato. E se você recorda, essa escolha foi divulgada,
essa decisão de que o Dr. Tancredo aceitaria, numa reunião aqui no
Palácio dos Bandeirantes, convocada por Montoro que era o governador.
Teve vários governadores e teve o Dr. Tancredo. E os analistas nem
estavam sabendo o que estava fazendo o Mauro Salles ali... O Dr.
Tancredo combinou com o Sarney e com o Ulisses e o Franco Montoro
que na hora em que formalizasse a candidatura do Tancredo, ao mesmo
tempo iria formalizar a coordenação da candidatura. E foi o Dr. Montoro
que primeiro me chamou formalmente na frente deles todos para me
convidar,se eu aceitava. Uma das coisas dos políticos mais profissionais,
é que eles não abrem mão do ritual.
Outro fato curioso contado por Mauro Salles é que Tancredo e Sarney, já
conversavam sobre política o tempo todo, mesmo antes da renúncia de José Sarney à
presidência do PDS. Ele citou inclusive os conversadores profissionais que ajudavam a
existir essas conversas não noticiadas, que ele chama de costureiros silenciosos, que
eram: Dr. Amaral Peixoto, o genro de Getúlio, casado com Alzira Vargas e Thales
Ramalho. Nessa oportunidade, conta Mauro Salles,apenas o nome de Tancredo Neves é
que foi lançado sem ser formalizada a candidatura de Sarney. E a partir daí a candidatura
de Tancredo começou a ganhar corpo e trouxe uma grande novidade no processo do
marketing político, segundo Mauro Salles, que é a centralização da coordenação de uma
campanha. Ele diz que:
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Na comunicação e na coordenação de uma campanha tem que ter uma
palavra só. Evidentemente que iria ter um outro candidato a vice que não
seria do mesmo partido. E o comum seria um partido indicar um, e outro
partido, indicar outro. Pode indicar vinte, mas se não tiver uma pessoa só
coordenando de um lado da coligação partidária não funciona.
Mauro Salles, inclusive, comprova sua tese mostrando a sua participação na
campanha de Fernando Henrique Cardoso e porque a campanha de marketing da
Roseana Sarney deu certo e a de José Serra não. Ele explica dizendo:
Por duas vezes participei da campanha do Dr. Fernando Henrique como
indicado pelo PFL/Marco Maciel. Nas duas vezes eu fiz questão de ser
auxiliar do Sr. Nizan Guanae que, no combate do dia-a-dia publicitário,
era concorrente meu. Mas ou você tem um só mandando ou não
funciona. Você viu os exemplos, a confusão que a tucanagem fez porque
tinha muita gente mandando demais. Porque Nizan deu certo na
candidatura Roseana e não deu na candidatura Serra? Simples, na
candidatura da Roseana ele só tinha uma pessoa que era superior a ele:
Jorge Bornhausen. Dois, quando Bornhausen mostrava que quem falava
em seu nome, era Mauro Salles, que era o presidente da comissão de
marketing do PFL, mas que nunca aparecia e que tinha com o Nizan a
maior facilidade. Então, ele pode fazer o que era importante e que era
evidente sujeito da censura da própria candidata.
Voltando a falar sobre a eleição de Tancredo, Salles reafirma que a campanha de
Tancredo só funcionou pelo estilo centralizador de comando adotado por ele. Também
comenta a sua principal estratégia adotada para a campanha que foi a de realizá-la como
se fosse uma eleição direta, conforme disse na reunião que fez com Tancredo e Sarney:
Essa campanha só se ganha se vocês esquecerem que ela é uma
campanha de colégio eleitoral. Nós temos que tratá-la como se fosse uma
campanha de voto direto, temos que ir para as ruas, para as praças,
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temos que começar com um comício enorme e que tem que ser tão
brilhante quanto um comício das Diretas Já. Não se vai conquistar voto
em cima dos 400 e poucos congressistas e mais os 100 que iriam ser
enviados pelas Assembléias Legislativas. Então, se são 550 pessoas, o
processo de pressão e de corrupção era uma loucura. Eu queria que o
povo fizesse uma pressão tão grande que esses parlamentares do colégio
eleitoral não pudessem trair o povo. Então, porisso, só com o povo
fazendo exigências. Eu assumi o comando, me deram todo o poder e a
minha interlocução era um dos dois candidatos que era Tancredo e
Sarney e a outra interlocução única era o Dr. Franco Montoro. Eu não
precisava falar com mais ninguém. Tinha-se que falar com mais alguém
era o Montoro que falava.
Já sobre a campanha propriamente dita, Mauro Salles conta sobre o primeiro
comício, realizado por Tancredo Neves e José Sarney, em Goiás:
Nós fizemos o primeiro comício em Goiás, porque o governador Íris
Resende tinha feito um brilhante comício com 200 mil pessoas para as
Diretas Já. E ele tinha uma administração operacional de política, sabia
construir um palanque e trazer o povo. Questionaram dizendo que podia
ser no Rio, mas eu quis Goiás. Se Íris levou 200 mil no primeiro comício,
no de Tancredo / Sarney temos que ter mais de 200 mil e provar que isso
vale.
Depois o publicitário conta de outras estratégias usadas e das grandes
negociações que foram necessárias para atingir o objetivo de engajar a população
brasileira no processo.
Uma das negociações realizadas, conta Mauro Salles, foi à transmissão pelas TVs,
ao vivo, de trechos dos comícios, quando foi necessário criar um horário exato para
Tancredo falasse. Outra negociação feita pelo publicitário foi quanto ao número
exagerado de bandeiras vermelhas na frente do palanque, bandeiras essas, na sua
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maioria do Partido Comunista. A negociação foi para a redução do número de bandeiras e
a localização, passando para as laterais, possibilitando uma melhor captação de imagens
pelas câmaras de TV, que Mauro Salles queria, ficassem no meio do comício. Nesse
comício, Mauro Salles percebeu que a estratégia planejada iria funcionar, pois o povo
estava disposto a apostar na eleição de Tancredo e Sarney, ao invés de ficar triste e
xingando porque perdeu as Diretas Já.
Outra estratégia usada por Mauro Salles, foi a de solicitar ao TSE a autorização
para transmitir a sessão do colégio eleitoral, ao vivo, através das emissoras de televisão.
E isso foi feito com muita antecedência, o que passou despercebido pelo adversário, que
não deu importância para o fato. Mas a intenção de Mauro Salles era que toda a
população pudesse acompanhar a votação e soubesse exatamente como votaria cada
convencional e até a formação do pool de emissoras foi planejado e organizado por
Mauro Salles. O publicitário conta que quando o adversário percebeu o fato tentou, via
tribunal, a proibição da transmissão, mas já era tarde, pois a autorização já havia sido
divulgada. Nesse caso, Mauro Salles nos contou a sua estratégia caso o TSE não
permitisse a transmissão da sessão do colégio eleitoral pelas televisões, que era colocar
aproximadamente 10 famílias com megafones na frente das residências dos
convencionais que eles achavam que iriam votar no candidato adversário, dizendo “aqui
tem um deputado que vai votar contra a liberdade etc” “Mas não foi necessário isso, pois
a própria mídia fez esse serviço divulgando os votos de cada convencional/deputado”.
Mauro Salles fala que a campanha de Tancredo e Sarney não foi uma campanha
de publicidade, mas sim de comunicação, justificando isso me disse na entrevista:
A gente colocou todas as agências que queriam participar, (a gente não
fez anúncio praticamente, foi pouca coisa). Criou-se um comitê que tinha
umas 20 agências, porque cada uma dessas agências precisava nos seus
Estados dizer que elas foram parte importante (os nomes dos publicitários
apareciam em ordem alfabética e o nome Mauro Salles aparecia lá no
meio só que depois do nome Mauro aparecia como coordenador).
Coordenador não é chefe, não é presidente, então massageou o ego da
rapaziada toda e se pode trabalhar.
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Questionei o publicitário se não existia incoerência sobre a estratégia adotada por
ele, de se fazer uma campanha como se fosse uma campanha para eleições diretas,
tendo um vice que era presidente do partido, na época das Diretas Já, que trabalhou para
derrotar a volta das eleições diretas para a escolha do Presidente da República. Ele
respondeu:
Não importa. Você não luta contra o inexorável. Se ele votou pelas
Diretas não tem a menor importância. Isso nunca foi questionado. Foi
questionado o seguinte: qual é a regra agora? Tentavámos retornar o
poder civil através das eleições diretas, se não for possível vamos
retomar o poder civil pela eleição indireta. E o Sarney sempre foi a favor
do poder civil. Se era a favor de diretas ou não diretas, eu nem me lembro
se ele votou de um jeito ou de outro. Eu sei que ele nunca foi cobrado. Do
ponto de vista eleitoral, nem uma vez.
Nessa entrevista, a mim concedida, Mauro Salles fala também como era o coração
da campanha, quem participava dela,e sobre a participação de Sarney::
O trabalho era o seguinte: havia um núcleo básico de pensamento da
campanha que se reunia diariamente. Era o Tancredo, o Sarney e Marco
Maciel. Durante a campanha eu de novo morei com o Dr. Tancredo.
Então dormia no apartamento dele e até às 7 horas não deixava que
nenhum telefonema entrasse para ele. Aí tinha o café da manhã, com
Tancredo, eu que era auxiliar, às vezes o Aécinho, que também morava
lá, mas como era jovem e tinha muitas mulheres bonitas pelo mundo ele
esquecia de dormir em casa várias vezes e chegava tarde. O Francisco
Dornelles, com um pouco mais de cuidado porque ainda era Secretário da
Receita e não podia aparecer demais e o Marco Maciel e o Sarney. Eram
5 a 7 pessoas. O Ulisses participava as vezes, mas bem menos. Quem
vivia em contato permanente com o Ulisses era o Tancredo e o Sarney.
Eles faziam o meio campo. Não era a única reunião do dia, mais eram as
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reuniões de decisão, o que vamos fazer hoje, qual a agenda do dia,
depois de amanhã tem um discurso sobre agricultura, cadê o texto?.
Precisamos ter discurso sobre como se faz a reforma do Estado, onde vai
fazer esse discurso.Aí cada um dizia para o Sarney, olha vai ter um
encontro nacional de magistrados lá no Espírito Santo daqui há 20 dias, e
ele dizia: “Ótimo, é lugar ótimo para fazer isso. Vamos então arrumar um
jeito do Dr. Tancredo ser convidado para ir”. E foi lá que nasceu o
discurso para a Nova República, ou seja, em política profissional não há
acidente de trabalho. E dizia o Dr. Gustavo Capanema que política é feita
de fatos e de feitos. Fato é aquele que te surpreende. Você lê no jornal
pela manhã e isso é uma prática muito de político paulista, de que não se
mexe antes de ler o Painel da Folha, ler os fatos e começa a reagir aos
fatos. O político profissional não é de ler os fatos ele é de criar os feitos (o
Jânio era mestre nisso, o Dr. Tancredo, o Ulisses, também).
Também questionamos o publicitário na entrevista sobre o fato de o nome de José
Sarney ter sido pouco utilizado na matéria publicitária da campanha. E ele respondeu:
Não era da tradição da política brasileira o vice aparecer. Inclusive porque
durante muito tempo o vice tinha função, ao mesmo tempo que ele era
vice presidente ele era presidente do Congresso, ou seja, presidia o
senado sem ter sido eleito senador .... Depois acabou isso. Aí começou a
aparecer o nome do candidato a vice. Mas o Sarney era muito ouvido e
muito respeitado, ou seja, não era desconhecido em nenhum momento,
discursava nos comícios.
Além da campanha como se fosse uma eleição direta, Mauro Salles, também,
conta do esquema de controle dos votos dos convencionais, onde todos os membros da
coordenação pediam votos, e quem tinha dúvida de um voto, procurava saber quem era
amigo desse convencional e fazia esse intermediário tentar confirmar o voto a favor de
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Tancredo / Sarney. Agora existia uma coordenação mais profissional como diz Mauro
Salles:
Curiosamente a montagem mais profissional foi feita pela Roseana
Sarney e pelo ex-prefeito de Pato Branco, do Paraná, que foi Ministro da
Saúde, Alceny Guerra. Eles montaram o esquema de computação que
permitia controlar todos os eleitores do colégio. Tinha dois ou três
computadores. Mas tinha um escritório num andar e a gente tinha um
outro andar que ninguém nunca soube e que tinha mais infra-estrutura era
onde ficava essa unidade de trabalho, com fichas, etc. Hoje seria muito
mais fácil, mas naquela época computador ainda era uma coisa muito
misteriosa e a Roseana e o Alceny e o que depois integrou o grupo e
virou assessor de imprensa do Sarney, o Fernando César Mesquita. E eu
fazia o correio entre o Dr. Tancredo e esse núcleo de trabalho. Esse
núcleo que dava alertas, tipo: toma cuidado com o Juruna, etc.
Sobre o episódio Juruna, que na época era deputado federal, Mauro Salles afirma
que nada foi montado, apenas ajudou o fato a ser repercutido na mídia. Segundo Salles,
tudo começou com uma conversa de Juruna com alguns deputados, quando para se
valorizar ele afirmou que era importante: “olha quanto eu ganhei para votar no Maluf.” Aí
um desses deputados que estavam na conversa chamou alguns repórteres para ouvirem
e Juruna, sentindo muito importante confirmou toda a história, chegando a se deixar
fotografar com o dinheiro recebido, o que acarretou na época matéria desmoralizadora
para a campanha de Paulo Maluf.
Já José Sarney, em entrevista que me concedeu, no seu gabinete em Brasília, no
dia 18 de dezembro de 2002 , contou sobre a sua participação na campanha,
especialmente na parte de comunicação, quando afirmou:
Eu opinava muito na área de comunicação, até eles tinham feito uma
primeira campanha que eu vetei, porque que era negativa, não me lembro
bem qual era o tipo. Fizemos campanha de rua e de colégio eleitoral. Do
colégio eleitoral nós montamos uma equipe grande, muito eficiente no
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escritório do Aureliano Chaves e essa operação foi feita em grande parte
pelo Marco Maciel, essa campanha do mapeamento dos membros do
colégio eleitoral, função para cada um se dirigir a um desses membros.
Roseana era o braço direito, juntamente com o Alceny e o Fernando
César Mesquita. A Roseana fez o fichário de todos os delegados, o
acesso a eles, quem era, quem não era, quem tinha compromisso e quem
não tinha, enfim foi um trabalho de muita eficiência e objetividade. O
Tancredo e o Ulisses tinham muita confiança nesse trabalho. A
coordenação era de pessoas ligadas a mim.
Ainda, sobre a sua participação na campanha Sarney falou:
A campanha que vetei foi a que Mauro Salles levou com outros
publicitários e nós fizemos reunião a noite sobre a campanha e eu como
palpiteiro em matéria de comunicação eleitoral de campanha disse que
não gostei. Aí saiu outra, a ‘Muda Brasil’.
Também sobre a coordenação da campanha, Sarney reafirma o que nos contou
Mauro Salles, que o comando se reunia no café da manhã para decidir e planejar toda a
estrutura da campanha. Sobre esse assunto Sarney disse:
Tudo acontecia no café da manhã, nós organizávamos e planejávamos
tudo, eu, Tancredo, Maciel, Dorneles e Mauro Salles, era o grupo de
decisão. Eu tinha uma grande ligação com o Mauro porque ficávamos
nessa parte da comunicação. Participei, pelo menos opinava em todas as
coisas. Na tentativa de mudar as bandeiras vermelhas nos comícios e
colocar o verde e amarelo, junto com o Mauro, como uma maneira de
desfazer aquilo, pois, naquele tempo havia um núcleo militar que queria
pichar quem eram os comunistas, que era momento de contestação e nós
precisávamos vencer essa barreira e isso foi feito. Tão bem feito que
terminou com a vitória no colégio eleitoral, foi uma campanha muito bem
planejada executada, com várias faces, a face política, a face de
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comunicação, a face de determinado setor e ao mesmo tempo face de
desenvolvimento da população brasileira na eleição do colégio eleitoral.
O resultado da eleição indireta, realizada no dia 15 de janeiro de 1985 foi Tancredo
Neves 480 votos, Paulo Maluf 180 votos, 17 abstenções e 09 ausências. Foi uma vitória
tranqüila que levou a população as ruas comemorando a Nova República.
Para falar de comunicação do governo José Sarney é necessário entender o que
estava acontecendo no país em 1985, onde os ódios e desencontros da sociedade
brasileira estavam se arrastando há anos de autoritarismo e preconceitos. E em entrevista
a Gutemberg, (2001, p.185) José Sarney, diz as atitudes que escolheu para marcar os
novos tempos da política brasileira :
Plantei o exemplo da paciência política, que foi essencial à convivência
democrática. Plantei os ventos da liberdade que varreram o País inteiro.
Plantei as modificações institucionais promovidas sem hesitação. Semeei
o exemplo de respeitar, até o limite dos exageros, a liberdade de
imprensa, do rádio e da televisão. Semeei a conciliação democrática que
já viveu este País. Os poderes da Presidência foram contidos para que
maior fosse o poder do povo. A sociedade libertou-se do medo e semeei o
exemplo da tranqüilidade e da compreensão. Semeei o exemplo da
magnanimidade, de amor à pátria, de educação política. Preferi ser
injustiçado a cometer injustiças. Silenciar a fazer silenciar. E hoje eu me
orgulho de ter contribuído, através de meu comportamento pessoal, para
que o País reencontrasse na paz o caminho da reconciliação de uma
sociedade dividida pelo ódio, pelo ressentimento, pela amargura e pela
prepotência.
Um dos marcos de comunicação do governo de José Sarney, foi o programa de
rádio, que ele fazia às sextas-feiras, sempre às sete horas da manhã. Nesse programa, o
Presidente se comunicava com os brasileiros em uma linguagem simples, onde ele
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relatava as atividades desenvolvidas pelo governo no decorrer da semana. Na entrevista
que me concedeu Sarney fala com orgulho desse programa :
Eu iniciei na presidência, lembra a conversa ao pé do rádio, que foi um
veículo de comunicação que nós atingimos de maneira fantástica. Até
hoje as pessoas se lembram, e o tipo de conversa que eu fazia não era
um discurso, eu fazia coisa coloquial, pequena, dando notícia sobre o que
tinha ocorrido na semana, o que o presidente tinha feito, tipo prestação de
contas, mas coloquial.
Para poder melhor compreender esse projeto vamos transcrever o programa
“Conversa ao Pé do Rádio” em dois momentos: um deles do dia 07 de março de 1986,
sobre o lançamento do Plano Cruzado, quando a população brasileira transformou-se em
“Fiscal do Sarney” :
Brasileiras e brasileiros, bom dia ! Aqui vos fala, mais uma vez, o Presidente José Sarney.Há uma semana, precisamente na sexta-feira passada, ao anunciar as
medidas econômicas de liquidação da inflação, resolvi pedir ao povo que
ajudasse o Governo na fiscalização do comércio para o fiel cumprimento
do congelamento dos preços.
Todos recordam o apelo direto que fiz às brasileiras e aos brasileiros,
para que assumissem o papel de meus representantes pessoais e diretos,
e fossem os fiscais do presidente. Tenho certeza de que consegui
transmitir sinceridade no pedido, porque, meia hora depois, quando ainda
se desenvolvia a solenidade no Palácio do Planalto, chegou a primeira
denúncia de remarcações, em flagrante desobediência à Lei que eu
acabava de assinar. Imediatamente, o Ministro da Fazenda acionou a
SUNAB e o supermercado infrator foi autuado e multado. A partir daquele
momento, no País inteiro, milhares de denúncias iniciaram o acelerado
processo de pressão sobre os preços remarcados. Não se tratava de
denúncias anônimas, mas de denúncias de homens e mulheres que se
apresentavam legítima e abertamente.
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Em São Paulo, no dia seguinte, surgiram brasileiras e brasileiros portando, orgulhosamente, presos ao peito, distintivos confeccionados em que se declaravam : Sou fiscal do Presidente Sarney. Trata-se do maior voluntariado vivido da nossa História e de uma mobilização consciente, em que todos espontaneamente, demonstrando confiança no Presidente, ajudam a fazer uma fiscalização que o Governo, com todos os seus funcionários, órgãos e forças não conseguiria jamais realizar. O plano contra a inflação, contém muitas providências, além do congelamento, mas se o congelamento de preços falhar, nada ficará de pé. Se os preços continuassem a crescer não adiantaria nada, ter tirado três zeros do velho e falecido cruzeiro, criando-se o novo cruzado, a moeda forte de que hoje nos orgulhamos, que não perde mais o valor de cada dia, pelo contrário, nestes primeiros oito dias somente se valorizou. Não adiantaria nada ter acabado com a correção monetária; os preços, crescendo, soterrariam as nossas esperanças e tornariam inúteis nossos melhores esforços, pois foi o povo, unicamente o povo, exclusivamente o nosso povo, que ao aceitar o meu apelo, tornando-se fiscal do Presidente, deu forças à Lei do congelamento e tornou vitorioso o plano contra a inflação.A primeira hora foi fundamental e talvez devemos muito ao exemplo daquele bendito primeiro fiscal do Presidente, que mal me ouviu em casa pela TV, foi à rua e conseguiu que o supermercado infrator fosse multado. Agora não podemos nos dispersar e não podemos relaxar. Vamos manter a fiscalização; vamos fazer valer a força da lei, sem violência mas com firmeza, para que os preços da |Tabela Oficial sejam respeitados e o congelamento funcione. Faço um apelo a todos os brasileiros, inclusive os responsáveis pela área do comercio, que se comportem diante da tabela como esperam o Governo e o povo que eles se comportem.Finalmente, neste País, o povo descobriu que manda, nunca mais pretenderá fazer nada no Brasil sem o apoio do povo. Eu sempre disse: vai dar certo, e repeti aqui todas as semanas, vai dar certo. Com o povo fiscalizando, apoiando, não tenho dúvidas de que a nossa economia vai tomar o rumo certo, como já começou a tomar. Criou-se uma nova mentalidade no Brasil. Vai surgir um novo País sério, do trabalho, do progresso, sem a mentalidade do golpe, da esperteza e da especulação.Tudo isso aconteceu graças à coragem do povo, que foi a minha coragem. E isso eu repito: você é o Presidente, porque o Presidente hoje é você.
Uma das coisas que Mauro Salles destaca em Sarney é a chamada liturgia do
poder. “Ninguém é mais simples do que ele para conversar, mas para se trajar e se
comportar, Sarney era exemplo.” Para o publicitário Mauro Salles, o Presidente José
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Sarney é um político que entende de comunicação e, por isso, sempre deu atenção a
esse meio.
Vale ressaltar aqui a comunicação ocorrida no período de 15 de março a 21 de
abril de 1985, exatamente o período da doença até a morte do Presidente Tancredo
Neves que foi vivenciado e comandado pelo publicitário Mauro Salles. Esse período onde
José Sarney exercia o cargo de Presidente da República do Brasil de forma interina, foi
um período triste no início do governo da Nova República.
Mauro Salles fala que Sarney utilizou a mesma diretriz traçada por Tancredo,
inclusive sobre o discurso da primeira reunião com os Ministros de Estado, no dia 16 de
março. O publicitário diz: “... o discurso que o Tancredo ia pronunciar, chamado ‘É
proibido gastar’, que eu fui o redator-coordenador, era o discurso do Tancredo na primeira
reunião do ministério, no dia seguinte a posse, e Sarney leu exatamente esse discurso”. O
próprio Mauro Salles reconhece que logo após a morte de Tancredo, Sarney precisou
alterar essa diretriz pelo fato do processo político, onde pressões do partido começaram a
existir, fato normal após a lua de mel de início de governo.
Outro fato revelado por Mauro Salles nesse período é sobre a preocupação que a
doença de Tancredo piorasse e o levasse, o que realmente ocorreu, à morte, pois
naquele período o receio era que ocorresse uma revolta popular, o que acarretou por
parte do governo a realização de pesquisa diária para monitorar a opinião pública sobre o
caso. Mauro Salles nessa época era o Secretário de Assuntos Extraordinários do
Gabinete Presidencial, escolhido por Tancredo Neves, a quem a Secretaria de
Comunicação era subordinada.
Mauro Salles disse que esse período da doença de Tancredo foi o que trouxe mais
receio para a equipe de governo, mais até que a noite da internação de Tancredo, quando
decidia quem iria tomar posse, o vice, ou o presidente da Câmara Federal. Os riscos eram
pelos boatos que surgiam quando os boateiros diziam “estão matando o Tancredo”. Esses
boatos é que fizeram surgir a carta que Tancredo mandou para Sarney agradecendo a
lealdade que estava conduzindo o país e o seu comprometimento com os compromissos
da Aliança Democrática.
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Após a morte de Tancredo Neves, o publicitário Mauro Salles recusou-se a
continuar no cargo. Mesmo com insistência do Presidente José Sarney, preferiu sair. E
Sarney, com isso ,extinguiu a Secretaria de Assuntos Extraordinários, e criou quatro
assessorias em substituição, sendo uma delas o Conselho de Comunicação que passou
a ser coordenado pelo jornalista Fernando César Mesquita.
Depois de deixar a Presidência da República, em março de 1990, Sarney
imaginava retornar para o Maranhão e dedicar-se unicamente à literatura, mas não
conseguiu ficar longe da política. No mesmo ano, em 90, haveria eleições para a Câmara
Federal e para o Senado Federal e Sarney resolveu voltar a se candidatar. Porém
encontrou alguns problemas: o primeiro, quanto a legenda do PMDB no Maranhão, onde
ele não tinha o domínio total do partido; o segundo foi o risco de não ser o vitorioso na
disputa pelo Maranhão, que nessa eleição elegeria apenas um senador. Como Sarney
deixou a Presidência em baixa na popularidade, corria risco nessa eleição. Com todos
esses problemas, Sarney buscou uma alternativa que foi concorrer a uma vaga pelo
recém criado Estado do Amapá. Por se tratar da primeira eleição do Amapá, o Estado iria
eleger 3 senadores, sendo que o primeiro colocado teria um mandato de 8 anos e o
segundo e terceiro colocados teriam um mandato de 4 anos. E o eleitor, por sua vez,
votaria em três candidatos. Com isso, Sarney teria uma eleição mais tranqüila. Na eleição,
mostrando ser o responsável pela criação do Estado, e que o Amapá precisaria escolher
um político experiente para que o Estado tivesse força política, obtendo mais recursos
federais, Sarney foi o mais votado conquistando 53.004 votos. Portanto, com essa
eleição, José Sarney volta à política, em janeiro de 1991, quando assumiu o mandato de
8 anos de Senador da República, pelo Estado do Amapá. Em 1998, José Sarney voltou a
candidatar-se à reeleição para o senado federal, novamente pelo Amapá. Nessa eleição,
ele utilizou um marketing político muito forte, pois a eleição era de apenas um senador,
isto é, apenas o primeiro colocado é que seria eleito.
Para mostrar o estilo de marketing político adotado por Sarney nessa eleição,
vamos transcrever o programa de televisão realizado por sua equipe para a campanha
eleitoral. Esse programa revela bem como foi a tática usada para essa eleição mostrando
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as conquistas obtidas pelo Estado, através da ajuda de Sarney. O programa que será
transcrito foi exibido no dia 19 de agosto de 1998:
O Edmilton tem 8 anos. Quando ele nasceu o Amapá dava os primeiros passos como Estado. Hoje, depois de 8 anos, o Amapá já apresenta avanços fundamentais na sua história. O Edmilton pode nem saber de tudo isso, mas com certeza sente os benefícios desta mudança na sua escola, na sua casa, no seu dia-a-dia. O que o Edmilton ainda não sabe é que tudo isso é só o começo. O nosso Estado ainda tem muito o que crescer e o Sarney vai continuar ajudando. (texto lido por um locutor, com imagens do garoto).
A seguir é exibido um clipe das obras conquistadas por Sarney para o Amapá. A música do
clipe é cantada pela famosa sambista maranhense, Alcione:
Amapá tá na cabeçaE vamos votar de novoNo Sarney pra SenadorO candidato do povoEleitor da capital, eleitor do interiorVote pro voto da genteQue esse homem tem valor
Lutador, é competenteNas lutas sempre presenteEle veio para ficarPra lutar pelo AmapáPolítico e escritorHomem de garra e valenteEu falo porque eu seiMeu voto é do Sarney
Foi nosso presidenteEle é nosso SenadorÉ Sarney, é SarneyEle é nosso defensor
Amapá hoje tem forçaCom esse homem experienteNosso voto é de SarneyGente que é gente da genteZona livre de comércioSaúde, força e energiaVendo o Amapá respeitado
No Brasil um grande estado
Lutador, é competenteNas lutas sempre presenteEle veio para ficarPra lutar pelo AmapáPolítico e escritorHomem de garra e valenteEu falo porque eu seiMeu voto é do Sarney
Foi nosso presidenteEle é nosso SenadorÉ Sarney, é SarneyEle é nosso defensor
Alô galera do Amapá É com vocês meu povo
Com José Sarney, pra senador
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Depois do clipe, a locutora, uma negra de nome Dalva Abreu, disse:
Sarney adotou o Amapá. O Amapá adotou o Sarney. A luta apaixonada
pela criação do novo Estado quando ainda era Presidente da República,
foi o primeiro ato de uma bela história que já rendeu muitos frutos para o
Amapá. A eleição para o primeiro mandato no Senado pelo Amapá, foi o
coroamento da grande vitória que une para sempre os destinos do povo
amapaense e o de Sarney.
A seguir entra José Sarney com uma mensagem:
Na abertura deste meu programa eleitoral, eu quero fazer como sempre faço em todas as mensagens que dirijo ao Estado do Amapá. Quero saudar todas as famílias independente de qualquer conotação partidária e eu peço licença, para aí, na sua casa, solicitar o seu apoio para minha candidatura a senador, para a minha reeleição. Eu não aceitei, como todos vocês sabem, ser candidato à Presidência da República, com um grande índice nas pesquisas eleitorais. E não aceitei por muitas razões. Mas, eu optei pra disputar minha reeleição pelo Amapá. Por quê? Porque aqui eu me sinto mais útil; eu acho que a minha presença tem sido importante para o Estado. O Amapá passou a ter grande visibilidade nacional, a ter força no debate dos grandes temas do país. E aqui eu tenho procurado, pelo exemplo, mostrar que a política não deve ser feita como se ela fosse uma guerra. Eu tenho dialogado com todos, e sempre estive pronto a servir sem qualquer conotação partidária. Todos conhecem o meu estilo, no Brasil e no Amapá. Eu nunca fiz política atropelando ninguém, nem com o fígado semeando ódios ou divisões. Eu sempre fiz política com a cabeça, com os dons que Deus me deu e com o meu coração. E meu lema tem sido sempre, ao longo da minha vida, de trabalhar. E tenho a consciência tranquila que eu tenho trabalhado pelo Brasil e pelo Amapá. Assim, eu espero, com o seu voto, com a sua confiança, continuar nesse caminho.
Fechando o programa um locutor diz: “O futuro do Edmilton depende muito do
futuro do Amapá. E o futuro do Amapá depende de você. Vote 15 – Sarney Senador! O
Amapá com força” Já nas inserções de 30 segundos, Sarney utiliza a sua famosa
música, composta por Miguel Gustavo, adaptada para o Amapá. A transcrisão completa
do spot é:
Meu voto é minha leiPra senador José Sarney
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Ouça aquilo que o povo falouJosé Sarney para Senador
Aí entra Sarney dizendo: “Olha hein! Nós vamos fazer muito mais”. Fechando o
spot, é apresentado o logotipo da campanha e a voz do locutor in off : “Vote 15 – Sarney
Senador – O Amapá com força”. Portanto, como podemos observar, o slogan da
campanha de José Sarney foi “O Amapá com força”. E toda a campanha consistiu em
mostrar as conquistas que o Amapá obteve nesses seus primeiros anos de existência,
isto é, nos 8 anos de mandato de José Sarney. Além dos programas de televisão e de
rádio, Sarney participava dos comícios, juntamente com os candidatos da coligação
“Frente de Luta” e distribuía cartazes com sua foto e o slogan “O Amapá com Força” –
Senador José Sarney. Vote 15 – Sarney Senador – O Amapá com Força.
No final, José Sarney foi mais uma vez, o grande vencedor , conquistando a sua
reeleição para um mandato de 8 anos de Senador da República. No total José Sarney
obteve 97.466 votos, o que corresponde a 59,31% dos votos válidos.
No ano de 2003, o senador José Sarney, com o apoio do Governo Lula, foi eleito
para presidir o Senado Federal, para o biênio 2003 e 2004.
Cabe ressaltar que a família Sarney é dona do maior grupo privado de comunicação do Estado do Maranhão, que é o Sistema Mirante de Comunicação, formado pelos seguintes veículos: a Rede Mirante de Televisão, o Jornal O Estado do Maranhão, a Rádio Mirante FM e a Rádio Mirante AM e canal 20 (canal de TV por assinatura). A Rede Mirante de Televisão é o principal veículo do grupo, sendo que a cabeça da rede é a TV Mirante São Luís formada por mais três emissoras afiliadas, com sedes nas cidades de Imperatriz, Santa Inês e Codó. A TV Mirante existe há 15 anos, sendo 11 anos afiliada à Rede Globo de Televisão.
No segmento da radiodifusão, o Sistema Mirante de Comunicação conta
atualmente com 19 emissoras, das quais seis transmitem em freqüência modulada (FM) e
as treze restantes em ondas médias (AM).
O Jornal “O Estado do Maranhão” é o primeiro veículo de comunicação do Sistema
Mirante e tem 42 anos de existência. Também é líder em circulação em todo o Estado,
tendo 74% de participação.
O Canal 20 é o mais novo empreendimento do grupo. Foi inaugurado em 2001. É
um canal a cabo, sendo transmitido através da TVN – TV a cabo, do Nordeste. O canal se
caracteriza pela divulgação e valorização das coisas do Estado.
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O grupo Sistema Mirante de Comunicação é dirigido pelo filho de José Sarney,
Fernando Sarney. Na entrevista que realizei com o Senador José Sarney, no dia 18 de
dezembro de 2002, em seu gabinete, em Brasília, perguntei se o fato de ser empresário
de comunicação ajudou no seu marketing político. Ele respondeu:
Nunca fui um empresário de comunicação. Eu criei o jornal porque eu
tinha que ter um instrumento político, todos os jornais do Maranhão foram
fechados. Fiz um jornal que era o nosso veículo de expor nossas idéias.
Evidentemente teve grande sucesso porque era muito bem feito. Naquela
época uma das pessoas mais inteligentes, o diretor e fundador ao meu
lado era o poeta Bandeira Tribuzzi, considerado o maior poeta do
Maranhão no século passado. Era muito meu amigo e também um
homem de formação de esquerda, e nós começamos a fazer esse jornal,
há 40 e poucos anos; um jornal político. Depois ele não podia sobreviver
só com um jornal político e teve que ter um caminho. O jornal não era de
empresário, não era um negócio que nós estávamos precisando, era uma
inspeção do processo político. Tanto que no Maranhão, a única coisa que
nós participamos é realmente das coisas que são importantes para a
nossa ação política, porque esse é um sistema de comunicação. Depois,
eu já estou com 73 anos e ao longo desses anos todos os meios de
comunicação foram modernizados, o jornal que era feito do tipo a mão
passou a linotipo, foi o primeiro no Maranhão que introduziu a composição
a frio. Fomos o primeiro a informatizar a primeira rotativa que entrou e
depois veio o processo de modernização e de liderança que tem hoje. O
que também foi importante é que sempre mantivemos o jornal com um
instrumento só, um jornal plural que dá notícia de todas as coisas e,
mesmo sabendo que é um jornal com posição política pelo fato de ser
nosso, tem o espírito de ser um jornal, para informar e manter também a
estrutura, por isso é bem aceito na sociedade. Primeiro veio a rádio e
tivemos que entrar, depois veio a televisão, tivemos que entrar, com isso
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o desdobramento da nossa necessidade política que teve condições de
comunicação. Isso de certo modo ajuda e bastante.
José Sarney sempre está produzindo, através de discursos, artigos de jornal,
entrevistas e conferências, testemunhos que se transformam em livros. No total, já
escreveu 32 livros. E sobre esse assunto, ele concedeu uma entrevista ao jornalista Luis
Antônio Ruff, no jornal Folha de São Paulo, em 25 de março de 1998, onde comenta
sobre essa interação na sua vida, entre a literatura e a política. Na entrevista Sarney
disse:
“Minha vida tem duas vertentes, a da política e a da literatura. A política
foi o destino, a literatura é a vocação. Escrever é uma compulsão. Tem
uma certa relação com a arte de Deus por causa da arte da Criação.
Deus, quando criou o mundo, o criou com leis físicas. E o escritor viola
todas essas leis para criar um mundo imaginário, que é eterno e não se
modifica. É muito difícil ser político e ser escritor. O político lida com
realidades, o escritor lida com abstrações. Como intelectual e político, vivi
a angústia entre o ideal e os meios. O intelectual é o homem da justiça
absoluta; já o político é aquele que busca a arte do possível, com os
instrumentos da contigência. Mas quem governa vive suas circunstâncias.
Não decide sobre abstrações, mas sobre fatos. Minha opção foi esta:
governo de liberdade”, disse..
Em 1952 lançou o seu primeiro livro de poesia intitulado “A Canção Inicial” e alguns
ensaios sociológicos e políticos, entre os quais “ A Pesca de Curral na Baixada”, que lhe
valeram o ingresso na Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira, cujo
patrono é Humberto de Campos, tornando-se o mais novo integrante da Academia
Maranhense. No ano de 1953 publica a Pesquisa sobre a pesca de curral. No ano de
1956 passou a colaborar no Jornal do Brasil e nas revistas Senhor e Cruzeiro.
Em 1966 assumiu a presidência da Academia Maranhense de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico do Maranhão. Neste mesmo ano realiza a sua terceira publicação,
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com o livro “Cultura e Governo, discursos”. Em 1969, ainda quando era governador do
Maranhão, lançou o seu quarto livro, talvez um dos maiores sucessos o conto “Norte das
Águas”. Desse livro foram lançadas quatro edições no Brasil e também, na Venezuela e
no México. Em 1970, Sarney lança o seu quinto livro “Governo e Povo”. Em 1973, tornou-
se membro da Academia Brasiliense de Letras. O ano de 1977 foi um ano de grande
produção para José Sarney, publicando mais três livros, que são: “Democracia formal e
liberdade”; “Desafios do nosso tempo” e “Petróleo: novo nome da crise”.
O nono livro é publicado no ano de 1978, chamado: “Desafios do Futuro”. Outro
livro de grande sucesso escrito por José Sarney foi o livro de poesia “Os Marimbondos de
Fogo”, lançado em 1979. Esse livro também foi lançado em Portugal. Aos 50 anos, em
1980, José Sarney foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira de nº 38,
ocupada antes pelo paraibano José Américo de Almeida, romancista (autor do clássico “A
Bagaceira”).
Em 1985, já ocupando a Presidência da República ele publica dois livros de ficção:
“Brejal dos Guajas e Outras Histórias”, “Dez Contos Escolhidos” e, ainda, o discurso de
saudação ao escritor pernambucano e seu grande amigo, Marcos Vilaça, que toma posse
na Academia Brasileira de Letras. Em 1990, ao deixar a Presidência da República as
obras de José Sarney foram acrescidas em 8 volumes: “Discurso da Academia das
Ciências de Lisboa”; “A fala do Presidente” (5 volumes) e “Conversa ao Pé do Rádio” (2
volumes). Esses livros são fruto de discursos variados, conferências e até as famosas
coletâneas dos programas radiofônicos pelos quais o Presidente se comunicava com a
população brasileira, semanalmente, sempre às sextas-feiras, pela manhã. No ano de
1991 publica o livro: “Supremo Tribunal Federal” e em 1992, sai o seu trigéssimo livro que
é: “América Latina, perplexidade e futuro”. Também em 92, José Sarney volta a escrever
ocupando às sexta-feiras um dos espaços mais importantes da imprensa brasileira, na
página 2, da Folha de São Paulo.
Em 94, através da Editora Siciliano é publicada uma coletânea dos principais
artigos no jornal A Folha de São Paulo, denominado: “Sexta-feira, Folha”.
No ano de 1995 Sarney publica o seu primeiro romance, “O Dono do Mar”, também
pela Editora Siciliano, e em 1999 é lançada uma coletânea de artigos através do livro: “A
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onda Liberal na hora da verdade”. No ano de 2000, José Sarney publica mais um
romance, “Saraminda”, que como o romance anterior “O Dono do Mar” vira best-sellers,
inclusive sendo traduzido em vários idiomas. Nesse mesmo ano, Sarney publica o livro
“Amapá, a terra onde o Brasil começa”. Além dos 32 livros editados, José Sarney,
escreveu nos jornais: “O Imparcial”; “Combate”, “Jornal do Dia”, “Jornal do Povo” e “O
Estado do Maranhão” (todos esses do Maranhão); no “Diário de Pernambuco”; no
“Correio do Ceará”; no “Jornal do Brasil” (Rio de Janeiro), no “O Globo” (Rio de Janeiro);
“Correio Braziliense” e na “Folha de São Paulo”. Também colaborou, escrevendo nas
revistas: “Clã”, “Ilha”, “Região e Ceará”, “Senhor” e “O Cruzeiro”.
Pelos livros publicados e sua intensa vida intelectual José Sarney é Doutor Honoris
Causa da Universidade de Pequim – China, da Universidade de Moscou, da Universidade
de Coimbra – Portugal e da Universidade Federal do Maranhão.
Na entrevista que me concedeu, em seu gabinete, no Senado Federal, no dia 18 de
dezembro de 2002, perguntei se o fato de ser intelectual ajudou a sua trajetória política e
a comunicação com seus eleitores. Ele respondeu:
Sim! Dá uma visão mais humana das pessoas. Pelo próprio temperamento
meu, sou uma criatura simples e não muito retórica e a literatura e a cultura
dão um embasamento e uma certa segurança em abordar os assuntos. Não
ter a preocupação de ser brilhante, e sim de se comunicar com as pessoas.
Não se pode falar daquilo que não conhece. Quem tem formação intelectual
só fala do que conhece. Quando fala do que não conhece faz uma péssima
comunicação.
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