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ANDRÉA GEORGIA SANTIAGO GUERRA BAGGIO A Terapia Familiar no século XXI: um estudo comparativo PROFª: MARY SUE DE CARVALHO PEREIRA Rio de Janeiro Junho de 2003

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ANDRÉA GEORGIA SANTIAGO GUERRA BAGGIO

A Terapia Familiar no século XXI: um estudo comparativo

PROFª:

MARY SUE DE CARVALHO PEREIRA

Rio de Janeiro

Junho de 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A Terapia Familiar no século XXI: um estudo comparativo

MONOGRAFIA ELABORADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE TERAPEUTA DE FAMÍLIA

PROFª:

MARY SUE DE CARVALHO PEREIRA

Rio de Janeiro Junho de 2003

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, à todos os professores, corpo docente do Projeto “A Vez do

Mestre”, a professora Mary Sue pelo interesse em relação ao tema proposto, por ter

repartido a sua experiência, pelas horas dedicadas e pelo estímulo dado durante todo o

processo de elaboração do trabalho e também no período de formação.

Aos meus familiares, pelo carinho, amor, compreensão e dedicação, sempre

demonstrando e acreditando que seria possível a realização de mais uma etapa vencida para

minha formação profissional.

A Deus porque cada vitória profissional, ele estarás por trás dela, como estivestes

sempre presente em cada momento da minha vida.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia ao meu marido Mario Luiz e meu futuro neném que vem

para trazer mais alegria e completar a nossa família. Também a todas as famílias brasileiras,

que representam uma unidade taxonômica, utilizada na classificação dos seres vivos, que

reúne um ou mais gêneros similares ou relacionados, pois e nas convivências em grupo que

experimentamos sentimentos diferentes como: alegria, prazer, realização, raiva, rejeição,

fracasso, inveja..., portanto esses sentimentos estão muito ligados às relações que

mantemos com as outras pessoas e com o que trazemos de nossa história de vida.

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RESUMO

No meio universitário brasileiro, a palavra monografia tem sido empregada para

designar o trabalho científico. Com a reformulação do conceito de tese de doutorado de

cátedra, juntamente com a reestruturação do ensino e dos sistemas de formação profissional

nas escolas superiores, o trabalho monográfico passou a ter uma notabilidade que antes não

tinha.

A elaboração da monografia é requisito parcial obrigatório da Universidade

Candido Mendes, para obtenção do título em Terapia de Família no curso de pós-graduação

– lato senso.

Ao escolher a área de estudo, surgiu o tema, sendo o ponto de partida para

elaboração do plano de projeto de pesquisa.

A definição do tema foi de interesse pessoal, desde o início do curso de pós-

graduação, em desenvolver um estudo mais aprofundado sobre Terapia de Família, se

associando a uma motivação para confecção da monografia.

Não estando tão distante do assunto por ter no primeiro semestre a disciplina de

Terapia de Família e no segundo semestre a disciplina de História da Família, só ampliaram

a vontade para desenvolvimento da monografia.

O desenvolvimento deste trabalho preconiza sempre a utilização de uma análise

crítica, sendo uma pesquisa construtiva e de caráter exploratório.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada buscou alcançar os objetivos da pesquisa, tentando

responder as questões propostas. Construindo a seguinte afirmação básica: Um estudo

sobre terapia familiar no século XXI é afirmado como importante na atuação dos

profissionais afins, por tratar-se de uma área que trabalha a família.

Algumas questões, com base nessa afirmação foram investigadas no

desenvolvimento da pesquisa:

- Por que é importante relacionar a história da família ao terapeuta?

- O que significa a história da família no contexto atual?

- Qual a influência do papel do terapeuta para a família?

- Como o terapeuta trabalha a questão da família?

Para subsidiar essa afirmação serão utilizadas as seguintes categorias analíticas:

Família, terapeuta e abordagens terapeuticas.

Este estudo trata-se de um trabalho teórico porque pretende investigar através de

conhecimentos presentes na literatura o tema proposto.

Em função da temática escolhida, identifica-se na pesquisa um caráter exploratório:

ou seja, a escolha da temática, a delimitação do “problema”, a definição dos objetivos, a

construção do quadro teórico-conceitual, os instrumentos de coletas de dados, imprimem a

temática Terapia Familiar uma configuração “particular”.

Através de leituras de material bibliográfico de acordo com autores que abordam a

questão referente a prática do terapeuta familiar e a questão da história da família, permitiu

uma melhor apreciação para conhecimento do assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 10

EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA 10

CAPÍTULO II 21

UM BREVE HISTÓRICO DA TERAPIA FAMILIAR 21

CAPÍTULO III 52

FAMÍLIA E TERAPIA 52

CONCLUSÃO 61

BIBLIOGRAFIA 63

ÍNDICE 65

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INTRODUÇÃO

Este estudo investiga alguns aspectos sobre a relação entre família e terapia,

presentes na categoria dos terapeutas familiares.

Esse tema “A Terapia Familiar no século XXI: um estudo comparativo”,

despertado pelo interesse de aprofundar o assunto, para melhor subsidiar a prática

profissional, tornou-se imprescindível, já que podemos perceber a todo momento, que o

mundo está mudando, através do que vemos e ouvimos todos os dias, principalmente por

intermédio dos meios de comunicação. Percebemos esse fato em nossa cidade, na

instituição onde trabalhamos, nas escolas, na natureza, em nós mesmos e principalmente

em nossa família e nas pessoas que vivem em nosso meio social.

Assim, investigar a relação entre família e a prática profissional de terapia familiar

ao longo da trajetória histórica até os dias atuais e analisar como o terapeuta familiar trata a

questão da família, relacionando-a em sua prática, requer um estudo aprofundado sobre o

tema, acompanhando mudanças morais e históricas para que seja possível o profissional ter

uma melhor compreensão da realidade social, em seus múltiplos aspectos, nos quais a

prática profissional se concretiza.

Este trabalho estrutura-se da seguinte forma: Introdução, Capítulo I, Capítulo II e

Capítulo III, Conclusão e Bibliografia.

O Capítulo I apresenta a Evolução da Família, enfocando: As Imagens da Família,

Da família Medieval à Família Moderna e Formação da Família Brasileira e

Transformações Atuais.

O Capítulo II aborda, ainda que brevemente, um Histórico da Terapia Familiar,

mostrando o Surgimento da Terapia Familiar, Abordagens Sistêmicas e as Abordagens

Psicanalíticas.

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No Capítulo III, ilustra-se Família e Terapia, abordando questões referentes a

Terapia Familiar.

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CAPÍTULO I

Evolução da Família

“Família: Grupo de pessoas ligadas entre si

por laços de casamento ou de parentesco, ou

conjunto dos ancestrais ou os descendentes

de um indivíduo ou linhagem.”

Dicionário: Larousse Cultural (1992)

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A Idade Média ocidental se caracterizou pelo hábito de reunir através do

simbolismo noções cujas correspondências secretas, ocultas por detrás das aparências, se

desejava sublinhar. A Idade Média ligava as profissões às estações, assim como o fazia

com as idades da vida ou os elementos. Era esse o sentido dos calendários de pedra e de

vidro dos calendários das catedrais e dos livros de horas.

1.1 – As Imagens da Família

A iconografia evoluiu ao longo dos livros de horas até o século XVI, de acordo com

tendências significativas.

No que tange as imagens da família. Primeiramente surgi a mulher, a dama do

amor cortês ou a dona-de-casa. A mulher camponesa aparece mais vezes, pois ela participa

dos trabalhos dos campos com os homens.

Avançando no tempo, e sobretudo no século XVI, mais freqüentemente a família do

senhor de terra é representada entre os camponeses, supervisionando seu trabalho e

participando de seus jogos.

O homem não aparece sozinho. O casal não é visto como imaginário do amor

cortês. A mulher e a família participam do trabalho e vivem perto do homem, na sala ou

nos campos. Não se trata propriamente de cenas de família pois, as crianças ainda estão

ausentes no século XV. Os artistas sentem a necessidade de exprimirem discretamente a

colaboração da família, dos homens e das mulheres da casa, no trabalho cotidiano, com

uma preocupação da intimidade que em outro tempo era desconhecida.

Ao mesmo tempo a rua surge nos calendários. A rua já era um tema familiar da

iconografia medieval.

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Essa rua medieval, assim como a rua árabe de hoje, não se opunha à intimidade da

vida privada, era um prolongamento dessa vida privada, o cenário familiar do trabalho e das

relações sociais. Os artistas, em suas tentativas relativamente tardias de representação da

vida privada, começariam por mostrá-la na rua, antes de segui-la até dentro de casa.

Talvez, essa vida privada se passasse tanto ou mais na rua do que em casa.

A partir do século XVI, uma nova personagem entra em cena nos calendários: a

criança.

As representações sucessivas dos meses do ano introduziram portanto essas novas

personagens: a mulher, o grupo de vizinhos e companheiros, e finalmente a criança. E a

criança se ligava a essa necessidade outrora desconhecida de intimidade, de vida familiar,

quando não ainda precisamente, de vida “em família”.

Ao longo do século XVI, essa iconografia dos meses sofreria uma última

transformação muito significativa, ela se tornaria uma iconografia da família. Ela se

tornaria familiar ao se combinar com o simbolismo de uma outra alegoria tradicional: as

idades da vida. Havia várias maneiras de representar as idades da vida, mas duas delas

eram mais comuns: a primeira, mais popular, sobreviveu na gravura, e representava as

idades nos degraus de uma pirâmide que subia do nascimento à maturidade, e daí descia até

a velhice e a morte. Os grandes pintores recusavam a adotar essa composição demasiado

ingênua. Adotavam a representação das três idades da vida sob a forma de uma criança,

alguns adolescentes, em geral um casal, e um velho.

No decorrer do século XVI, surgi uma nova idéia, que simbolizava a duração da

vida através da hierarquia da família.

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O aparecimento do tema da família na iconografia dos meses, não foi um simples

episódio. Uma evolução maciça arrastaria nessa mesma direção toda a iconografia dos

séculos XVI e XVII.

De acordo com a análise iconográfica, conclui-se que o sentimento da família era

desconhecido da Idade Média e nasceu nos séculos XV e XVI, para se exprimir com um

vigor definitivo no século XVII.

A idéia essencial dos historiadores do direito e da sociedade é que os laços de

sangue não constituíam um único grupo, e sim dois, distintos embora concêntricos: a

família, que pode ser comparada à nossa família conjugal moderna, e a linhagem, que

estendia sua solidariedade a todos os descendentes de um mesmo ancestral. Haveria, mais

do que uma distinção, uma oposição entre a família e a linhagem: os progressos de uma

provocariam um enfraquecimento da outra, ao menos entre a nobreza.

A família conjugal moderna seria portanto a conseqüência de uma evolução que, no

final da Idade Média, teria enfraquecido a linhagem e as tendências à indivisão.

No mundo dos sentimentos e dos valores a família não contava tanto como a

linhagem. Podendo dizer que o sentimento da linhagem era o único sentimento de caráter

familiar conhecido na Idade Média Mas ele é muito diferente do sentimento da família,

como mostra a iconografia dos séculos XVI e XVII. Estende-se aos laços de sangue, sem

levar em conta os valores nascidos da coabitação e da intimidade. A linhagem nunca se

reúne num espaço comum, em torno de um mesmo pátio. Ao contrário o sentimento da

família está ligado à casa, ao governo da casa e à vida na casa. Seu encanto não foi

conhecido durante a Idade Média porque esse período possuía uma concepção particular da

família: a linhagem.

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A partir do século XVI, a legislação real se empenhou em reforçar o poder paterno

no que concerne ao casamento dos filhos. Enquanto se enfraqueciam os laços de linhagem,

a autoridade do marido dentro de casa tornava-se maior e a mulher e os filhos se submetiam

a ela mais estritamente. Passara-se portanto a atribuir à família o valor que antes se atribuía

à linhagem. Ela torna-se a célula social, a base dos Estados, o fundamento do poder

monárquico.

A exaltação medieval da linhagem, de sua honra, da solidariedade entre seus

membros, era um sentimento especificamente leigo, que a Igreja ignorava, quando não via

com desconfiança. O naturalismo pagão dos laços de sangue pode ter-lhe parecido

repugnante.

O sacramento do casamento poderia ter tido a função de enobrecer a união conjugal,

de lhe dar um valor espiritual, bem como a família. Mas, na realidade, ele apenas

legitimava a união. Durante muito tempo o casamento foi apenas um contrato.

Portanto, a iconografia nos permite acompanhar a ascensão de um sentimento novo:

o sentimento da família. O sentimento era novo, mas não a família, embora esta sem

dúvida não desempenhasse em suas origens um papel primordial. Com o nascimento e o

desenvolvimento do sentimento da família, passa ela a não ser apenas vivida discretamente,

mas reconhecida como um valor e exaltada por todas as forças da emoção. Esse sentimento

tão forte se formou em torno da família conjugal, a família formada pelos pais e filhos.

Este sentimento está muito ligado também ao sentimento da infância. Ele afasta-se

cada vez mais das preocupações com a honra da linhagem ou com a integridade do

patrimônio, ou com a antigüidade ou permanência do nome: brota apenas da reunião

incomparável dos pais e dos filhos.

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1.2 – Da Família Medieval à Família Moderna

O estudo iconográfico mostra o novo lugar assumido pela família na vida

sentimental dos séculos XVI e XVII. É significativo que nessa mesma época tenham

ocorrido mudanças importantes na atitude da família para com a criança. A família

transformou-se profundamente na medida em que modificou suas relações com a criança.

A partir do século XV, as realidades e os sentimentos da família se transformariam:

uma revolução profunda e lenta, mal percebida tanto pelos contemporâneos como pelos

historiadores, e difícil de reconhecer. E, no entanto, o fato essencial é bastante evidente: a

extensão da freqüência escolar. Na Idade Média a educação das crianças era garantida pela

aprendizagem junto aos adultos, e que, a partir de sete anos, as crianças viviam com uma

outra família que não a sua. Dessa época em diante, ao contrário, a educação passou a ser

fornecida cada vez mais pela escola. A escola deixou de ser reservada aos clérigos (aqueles

que pertencem à condição eclesiástica) para se tornar o instrumento normal da iniciação

social, da passagem do estado da infância ao do adulto. Essa evolução correspondeu a uma

necessidade nova de rigor moral da parte dos educadores, a uma preocupação de isolar a

juventude do mundo sujo dos adultos para mantê-la na inocência primitiva, a um desejo de

treiná-la para melhor resistir às tentações dos adultos. Mas ela correspondeu também a

uma preocupação dos pais de vigiar seus filhos mais de perto, de ficar mais perto deles e de

não abandoná-los mais, mesmo temporariamente, aos cuidados de uma outra família.

A substituição da aprendizagem pela escola exprime também uma aproximação da

família e das crianças, do sentimento da família e do sentimento da infância que antes eram

separados. A família concentrou-se em torno da criança. Esta não ficou porém desde o

início junto com seus pais: deixava-os para ir a uma escola distante, embora no século XVII

se discutissem as vantagens de se mandar a criança para o colégio e muitos defendessem a

maior eficácia de uma educação em casa, com um preceptor. Mas o afastamento do escolar

não tinha o mesmo caráter e não durava tanto quanto a separação do aprendiz. A criança

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geralmente não era interna no colégio. Morava num pensionato particular ou na casa do

mestre. Nos dias de feira, traziam-lhe dinheiro e provisões. O laço entre o escolar e sua

família se estreitara.

Algumas crianças mais ricas não saíam de casa sozinhas, eram acompanhadas de

um preceptor, um estudante mais velho, ou de um criado, quase sempre seu irmão de leite.

Os tratados de educação do século XVII insistem nos deveres dos pais relativos à escolha

do colégio e do preceptor, e à supervisão dos estudos, à repetição das lições, quando a

criança vinha dormir em casa. O clima sentimental era agora completamente diferente,

mais próximo do nosso, como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo tempo que a

escola, ou, ao menos, que o hábito geral de educar as crianças na escola.

De qualquer maneira, o afastamento que o pequeno número de colégios tornava

inevitável não seria tolerado por muito tempo pelos pais. O esforço dos pais, secundados

pelos magistrados urbanos, no sentido de multiplicar as escolas a fim de aproximá-las das

famílias, é um sinal digno de nota.

No início do século XVII, criou-se uma rede muito densa de instituições escolares

de importância diversa.

Entre o fim da Idade Média e os séculos XVI e XVII, a criança havia conquistado

um lugar junto de seus pais, lugar este a que não poderia ter aspirado no tempo em que o

costume mandava que fosse confiada a estranhos.. Essa volta das crianças ao lar foi um

grande acontecimento: ela deu à família do século XVII sua principal característica, que a

distinguiu das famílias medievais. A criança tornou-se um elemento indispensável de vida

quotidiana, e os adultos passaram a se preocupar com sua educação, carreira e futuro. Ela

não era ainda pivô de todo o sistema, mas tornara-se uma personagem muito mais

consistente. Essa família do século XVII, entretanto não era a família moderna: distinguia-

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se desta pela enorme massa de sociabilidade que conservava. Onde ela existia, ou seja, nas

grandes casas, ela era um centro de relações sociais, a capital de uma pequena sociedade

complexa e hierarquizada, comandada pelo chefe de família.

A família moderna, ao contrário, separa-se do mundo e opõe à sociedade o grupo

solidário dos pais e filhos. Toda a energia do grupo é consumida na promoção das

crianças, cada uma em particular, e sem nenhuma ambição coletiva: as crianças, mais do

que a família.

Essa evolução da família medieval para a família do século XVII e para a família

moderna durante muito tempo se limitou aos nobres, aos burgueses, aos artesãos e aos

lavradores ricos. Ainda no início do século XIX, uma grande parte da população, a mais

pobre e a mais numerosa, vivia como as famílias, com as crianças afastadas da casa dos

pais. O sentimento da casa, não existia para eles. O sentimento da casa é uma outra face

do sentimento da família. A partir do século XVIII, e até os nossos dias, o sentimento da

família modificou-se muito pouco. Ele permaneceu o mesmo das burguesias rurais ou

urbanas do século XVIII. Por outro lado, ele se estendeu cada vez mais a outras camadas

sociais.

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1.3 – Formação da Família Brasileira e Transformações Atuais

Nas últimas décadas, historiadores têm-se voltado para o estudo sistemático da

família, penetrando em um campo anteriormente limitado a trabalhos de antropólogos e

sociólogos.

Essa preocupação se justifica, dada a importância do tema para se entender a

natureza das sociedades, tanto no presente como no passado, levando-se em conta que a

família é uma instituição social fundamental, de cujas contribuições dependem todas as

outras instituições.

De acordo com a literatura, a família brasileira, seria o resultado da transplantação e

adaptação da família portuguesa ao nosso ambiente colonial, tendo gerado um modelo com

características patriarcais e tendências conservadoras em sua essência.

No Brasil desde o início da colonização as condições locais favoreceram o

estabelecimento de uma estrutura econômica de base agrária, latifundiária e escravocrata.

Essa situação, associada a vários fatores, como a descentralização administrativa local,

excessiva concentração fundiária e acentuada dispersão populacional, provocou a instalação

de uma sociedade do tipo paternalista, onde as relações de caráter pessoal assumiram vital

importância.

A família patriarcal era a base desse sistema mais amplo e, por suas características

quanto a composição e relacionamento entre seus membros, estimulava a dependência na

autoridade paterna e a solidariedade entre os parentes.

De acordo com esse modelo, a família brasileira, no período colonial, apresentava

uma feição complexa, incorporando ao seu núcleo central componentes de várias origens,

que mantinham diversos tipos de relações com o dono da casa, sua mulher e prole legítima.

Assim, todos viviam juntos sob um mesmo teto.

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Na periferia da família patriarcal apareciam, portanto, diversos indivíduos ligados

ao proprietário, por laços de parentesco, trabalho ou amizade, que, por sua vez, definiam a

complexidade do modelo, pois a composição do núcleo central estava, até certo ponto, bem

delimitada.

Outros elementos, como filhos ilegítimos ou de criação, parentes, afilhados,

expostos, serviçais, amigos, agregados e escravos, é que conferia à família patriarcal uma

forma específica de organização, já que a historiografia utiliza o conceito de família

patriarcal como sinônimo de família extensa.

Concentrando em seu seio as funções econômico-sociais mais importantes, a família

desempenhou um papel fundamental na sociedade colonial, aparecendo também como

solução para os problemas de acomodação sócio-cultural da população livre e pobre.

É difícil desvincular a produção da História da Família no Brasil da própria

Demografia Histórica, fato que ocorre principalmente na década de 70, na qual a maior

parte dos estudos foi feita por demógrafos-historiadores. Por outro lado, com o grande

impulso tomado pela História Social, a família adquire um papel fundamental, ampliando

os estudos nessa área e seguindo de perto as tendências de vanguarda, na medida em que a

análise do tema possibilita uma revisão profunda na História Social do Brasil. A riqueza e

ineditismo das fontes primárias, associados à pluralidade de assuntos que o tema aborda

(mulher, criança, sexualidade, educação, etc.), colocaram definitivamente a História da

Família no Brasil, na década de 80, como um ramo específico de conhecimento e pesquisa,

com sua própria área de atuação, mas sem dúvida utilizando os recursos técnicos e

metodológicos da Demografia Histórica e das demais ciências afins.

A vida familiar se modificou para todos os segmentos da população brasileira nas

últimas décadas. Entretanto, as diferenças raciais e regionais aparecem ainda mais

acentuadas. As transformações no tradicional arranjo familiar, casal com filhos, assinalam

aspectos significativos de mudanças e também de continuidade no relacionamento entre

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seus membros. Esposas e filhos participam mais intensamente nas atividades de mercado

de trabalho e na renda monetária familiar.

Entre as explicações mais comuns para as mudanças nas estruturas familiares nos

anos 80 sobressai a crescente e marcante presença das mulheres brasileiras nos espaços

públicos nas últimas décadas, acompanhada pelas discussões sobre feminismo, trabalho,

desigualdades e direitos da mulher.

As famílias brasileiras passam por mudanças nos inícios dos anos 90 que fazem

parte de um processo de modernidade “contraditório”, característico do Brasil na segunda

metade do século XX. A tendência é de uma diminuição no tamanho e uma maior

diversificação nos arranjos domésticos e familiares. Os arranjos de maior crescimento

foram de adultos vivendo só e de famílias monoparentais. A complexidade da vida familiar

aumentou devido ao incremento no número de famílias reconstruídas, resultado do

incremento nas taxas de separação, divórcio e recasamentos.

No século XXI, a família patriarcal dá lugar a outras formas de famílias, sendo

reinventada no cotidiano, havendo redefinições de papéis nos padrões de hierarquia e

sociabilidade.

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CAPÍTULO II

Um Breve Histórico da Terapia Familiar

“Parece-me que o prêmio mais alto possível para

qualquer trabalho humano não é o que se recebe por

ele, mas o que se torna através dele.”

Brock Bell

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A terapia familiar evolui a partir de uma multiplicidade de influências tendo

recebido contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Desde o início da formulação

da psicanálise, Freud considerou e ressaltou em seus estudos as relações familiares. Em

fragmento da análise de um caso de histeria (1905), ele afirma que devemos prestar tanto

atenção às condições humanas e sociais dos enfermos quanto aos dados somáticos e aos

sintomas patológicos, ressaltando que o interesse do psicanalista deve dirigir-se sobretudo

para as relações familiares dos pacientes.

2.1 – Surgimento da Terapia Familiar

Freud faz referência à família em vários outros momentos de sua obra. Em uma das

suas conferências ele se refere às resistências externas, emergentes das circunstâncias do

paciente, de seu ambiente, que interferem no processo analítico e que podem explicar um

grande número de fracassos terapêuticos. Ressalta que, muitas vezes, quando a neurose

tem relação com os conflitos entre os membros de uma família, os membros sadios

preferem não prejudicar seus próprios interesses de que colaborar na recuperação daquele

que está doente. Todavia apesar da preocupação com as relações familiares e da

importância que atribui a elas, Freud, como sabemos, não desenvolveu uma teoria da

família nem tampouco uma técnica de atendimento familiar.

2.2 – Abordagens Sistêmicas

A teoria dos sistemas propôs um ponto de vista totalmente diferente. Teve início

com a revolução cibernética no final dos anos 40 e influenciou a psiquiatria e a psicologia,

o início dos anos 50, foi o momento em que algumas pessoas começaram a receber famílias

inteiras e tentavam encontrar um meio de teorizar essa prática.

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A teoria dos sistemas é, por definição, uma teoria em que a causa é atual. Segundo

ela, um sintoma é sempre apropriado, pois reflete o comportamento adaptado ao contexto

social da pessoa e, de nenhuma forma, um comportamento inadaptado oriundo do passado

prescinde de alguma função no presente. Essa foi uma idéia revolucionária no campo da

psicologia clínica: ela obrigou, pela primeira vez, que considerássemos a situação atual do

paciente. Isso implicava, logicamente, que, se um sintoma fosse apropriado ao contexto

social atual e, portanto, adaptado a este último, o terapeuta precisava mudar o contexto a

fim de eliminar o sintoma. Foi nesse momento que surgiu a terapia familiar. Afinal, o fato

de mudar o contexto de um indivíduo poderia resolver seus problemas psicológicos.

No final da primeira metade do século, após a publicação em 1948 por Norbert

Wiener do livro Cybernetics, várias ciências começaram a enfatizar os sistemas

homeostáticos com processos de retroalimentação (feedback) que tornam os sistemas

autocorretivos. Assim desenvolvimentos teóricos da biologia, da sociologia, da

antropologia, da informática, da teoria geral dos sistemas, influenciam significativamente

as primeiras formulações da teoria e da técnica do trabalho terapêutico com famílias.

A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias

escolas de terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de formação foram

criados.

Os autores das abordagens sistêmicas conceituam sistemas interacionais como dois

ou mais comunicantes no processo de definição da natureza de suas relações. O sistema

familiar é visto como um circuito de feedback negativo, constantemente regulado, na

medida em que tende a preservar seus padrões estabelecidos de interação, buscando sempre

um equilíbrio, que é mantido pelas regras de interação familiar. Quando, por algum

motivo, estas regras são quebradas, entram em ação metarregras para restabelecer o

equilíbrio perdido.

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Os axiomas básicos da teoria da comunicação são apresentados por Watzlawick et

al. (1967), que discutem os efeitos comportamentais da comunicação humana. Para esses

autores, todo comportamento numa situação interacional tem valor de mensagem, ou seja, é

comunicação. Outro axioma importante é o de que qualquer comunicação implica um

envolvimento e, como conseqüência, define a relação. Para Bateson et al. (1956), essas

duas operações constituem, respectivamente, os aspectos de relato e de ordem presentes em

qualquer comunicação.

Os estudos de Bateson deram origem à caracterização da comunicação por

Watzlawick como simétrica ou complementar, a partir de relações baseadas na igualdade

ou na diferenciação. Tanto os comportamentos complementares como os simétricos podem

ser apropriados, dependendo do contexto da situação. O problema surge quando uma

relação se cristaliza numa dessas classes, tornando-se rigidamente simétrica ou

complementar.

A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema

familiar sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da família. O

passado é abandonado como questão central pois o foco de atenção é o modo

comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas pessoas para

três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma organização e uma

estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do sistema com relação a outras

partes, de modo que a comunicação analógica é mais enfatizada que a digital.

Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em que

assumem que novas experiências, no sentido de um novo comportamento que provoque

modificações no sistema familiar, é que geram mudanças. Neste sentido são usadas

prescrições nas sessões, com a preocupação de encorajar uma gama mais ampla de

comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma certa concentração no

problema presente mas este não é considerado apenas como um sintoma. O

comportamento sintomático é visto como uma resposta necessária e apropriada ao

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comportamento comunicativo que o provocou.

A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvolveram.

Podemos citar entre elas a escola estratégica, a estrutural, a de Milão e, mais recentemente,

a escola construtivista.

2.2.1 – A Escola Estratégica

Os principais teóricos da terapia estratégica, Jackson, Bateson, Haley, Weakland e

Watzlawick, fundaram em 1958, o Mental Research Institute de Palo Alto, Califórnia.

Nessa ocasião, a terapia familiar estava apenas no início de seu desenvolvimento e o

Mental Research Institute, dirigido por Jackson, constituía-se num dos primeiros centros

onde se faziam pesquisas, se praticava e se dava formação em terapia familiar.

O trabalho inicial do grupo de Palo Alto estava centrado nos padrões de

comunicação das famílias com um membro esquizofrênico. Bateson et al. (1956)

desenvolveram o conceito de duplo-vínculo, apresentando uma teoria da esquizofrenia

baseada na análise das comunicações, mais especificamente, na teoria dos tipos lógicos.

O esquizofrênico é geralmente descrito como alguém que apresenta “debilidade da

função do ego” e, na hipótese desses autores, o termo “função do ego” diz respeito ao

processo de descriminar modos comunicacionais, seja dentro da pessoa ou entre a pessoa e

os outros.

Bateson e seus colaboradores postulam que, se o esquizofrênico de sua hipótese é o

produto da interação familiar, deveria ser possível chegar, a priori, a uma descrição formal

das seqüências de experiências que levaram a tal sintomatologia. A partir de tais

seqüências, o paciente adquiriu os hábitos mentais exemplificados na esquizofrenia, ou

seja, o esquizofrênico deve viver num universo onde as seqüências não-convencionais de

comunicação são, de alguma forma, apropriadas. E, para designar tais seqüências de

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experiências não-resolvidas, eles empregam a expressão “duplo-vínculo”.

São condições necessárias, segundo Bateson et al. (1956), para que tenha lugar uma

situação de duplo-vínculo:

1. Duas ou mais pessoas envolvidas (em geral a mãe e o bebê), uma das quais é

chamada de “vítima”. O duplo-vínculo pode ser infligido pela mãe sozinha ou

por alguma combinação de mãe, pai e/ou irmão.

2. Experiência repetida – O duplo-vínculo é um tema recorrente na experiência da

“vítima” e a estrutura do duplo-vínculo passa a ser uma experiência habitual.

3. Uma injunção negativa primária que pode ter uma das duas formas:

a) Não faças isto ou te castigarei; b) Se não fizeres isto, eu te castigarei.

4. Uma injunção secundária que está em conflito com a primeira, num nível mais

abstrato, e que, como a primeira, é reforçada por punições ou sinais que indicam

um perigo para a sobrevivência.

5. Uma injunção negativa terciária que proíbe a “vítima” de escapar do campo.

Num sentido formal, os autores consideram que talvez seja desnecessário

classificar essa injunção como elemento isolado, já que o reforço nos outros dois

níveis implica uma ameaça à sobrevivência e, na medida em que os duplos-

vínculos são impostos na infância, é naturalmente impossível escapar.

6. Finalmente, o conjunto completo das condições deixa de ser necessário quando

a “vítima” aprendeu a perceber seu universo sob padrões de duplo-vínculo.

A hipótese dos referidos autores é que se produzirá um colapso na capacidade do

indivíduo de discriminar entre os tipos lógicos cada vez que se apresentar uma situação de

duplo-vínculo. Essa classe de comunicação, que se dá entre o pré-esquizofrênico e sua

mão, pode também ocorrer nas relações normais. Quando uma pessoa se encontra numa

situação de duplo-vínculo, responde defensivamente, de maneira similar ao esquizofrênico.

Uma pessoa toma literalmente um enunciado metafórico quando se encontra numa situação

em que tem de dar uma resposta e em que se defronta com mensagens contraditórias, sendo

incapaz de comentar as contradições. Os esquizofrênicos também confundem o literal e o

metafórico em suas próprias verbalizações quando se sentem envolvidos num duplo-

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vínculo.

Weakland (1960) mostra como os pontos de vista originais, referentes à formulação

do duplo-vínculo, são úteis para esclarecer a interação tripartida esquizofrenizante. Se

considerarmos a mãe e o pai em relação com o filho como a situação tripartida particular,

que na prática talvez seja a mais importante na esquizofrenia, fica claro que a maioria dos

fatores que foram enumerados para a situação bipartida pode apresentar-se também na

situação tripartida.

Sluzki e Verón (1971) formula a teoria comunicacional da neurose e descrevem o

duplo-vínculo como uma situação patogênica universal, e não apenas específica da

esquizofrenia. Eles postulam que a neurose é uma técnica, ou um sistema de técnicas para

a manipulação de significado transmitido em situações interpessoais. Isso significa que o

neurótico processa informação de acordo com um conjunto de regras de codificação, ou

seja, de normas para a atribuição de significado aos objetos no mundo real e de normas que

definem as relações entre esses significados.

Para formular sua teoria comunicacional das neuroses, Sluzki e Verón (1971)

baseiam-se nos postulados de Faibairn (1952) e tentam definir as contradições inerentes às

experiências de aprendizagem específicas, que eventualmente vão gerar a histeria, a fobia e

a neurose obsessivo-compulsiva, respectivamente.

O termo “estratégica” foi utilizado inicialmente por Haley (1963) para descrever

qualquer terapia em que o terapeuta realizava ativamente intervenções para resolver o

problema. Haley, posteriormente, separa-se do grupo de Palo Alto e passa a enfatizar os

conflitos pelo poder dentro da família.

Weakland, Fisch, Watzlawick e Bodin, em 1974, publicam o artigo Brief therapys

focused problem resolution, onde apresentam as idéias centrais de seu trabalho, isto é,

focalizar interações comportamentais observáveis no presente e intervir deliberadamente

para alterar o sistema em andamento.

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Para esses autores, brevidade não é em si uma meta, embora reconheçam as

vantagens práticas e econômicas da terapia breve; o que postulam, entretanto, é que

estabelecer limites de tempo no tratamento tem influência positiva tanto no terapeuta como

no paciente.

A premissa fundamental da terapia estratégica, apresentada por Weakland et al.

(1974), é que os vários tipos de problemas trazidos pelos pacientes aos terapeutas só

persistem se forem mantidos pelo comportamento atual do paciente e das pessoas que com

ele interagem. Se o comportamento que mantém o problema for eliminado, o problema

desaparecerá, qualquer que seja sua natureza ou etiologia.

Os teóricos da terapia estratégica apresentam, então onze princípios gerais de seu

trabalho:

1. Orientação franca para o sintoma – Os membros da família buscam a terapia

porque têm determinadas queixas e, ao aceitá-los para o tratamento, o terapeuta

assume o compromisso de aliviar essas queixas.

2. Os problemas são vistos como dificuldades de interação – Os problemas que o

paciente ou a família trazem, exceto síndromes claramente orgânicas, são vistos

como dificuldades interacionais que envolvem o paciente identificado, sua

família, seus amigos, seus colegas de trabalho etc.

3. Os problemas são vistos como resultantes de dificuldades cotidianas que não

foram resolvidas – Os problemas que os pacientes trazem são, principalmente, o

resultado de dificuldades que envolvem alguma mudança de vida que não foi

bem realizada e acabou envolvendo outras atividades e resultando em formação

de sintoma.

4. As transições de vida requerem grandes mudanças nos relacionamentos – Os

passos normais da vida em família, mais que dificuldades ocasionais como

doença, acidente, desemprego etc., podem levar ao desenvolvimento de

problemas, na medida em que requerem grandes mudanças nos relacionamentos

pessoais.

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5. Os problemas desenvolvem-se através da superênfase ou da subênfase nas

dificuldades de viver – Os problemas surgem quando se trata uma dificuldade

comum com “problema”, por expectativas utópicas de vida; ou quando se trata

uma grande dificuldade como não sendo um problema, por negação das

dificuldades manifestas.

6. A continuação do problema resulta de um círculo de feedback positivo centrado

nos comportamentos dos indivíduos que pretendem resolver a dificuldade – A

dificuldade inicial mistura-se com o objetivo de solucionar o problema, o qual

intensifica a dificuldade original, e assim por diante.

7. Os problemas de longa duração não são indicadores de cronicidade, mas de

persistência de uma dificuldade mal-enfrentada – As pessoas que apresentem

problemas ditos crônicos estiveram, por longos períodos de tempo, fazendo

esforços impropriados, mas tais problemas têm a mesma possibilidade de

mudança que aqueles ditos agudos.

8. A resolução de problemas requer primeiramente a substituição de padrões de

comportamento – Para interromper os círculos de feedback positivo, é preciso

criar novos padrões de comportamento que vão substituir os comportamentos

atuais.

9. Promover mudança através de meios que funcionem mesmo que possam parecer

ilógicos – Por exemplo, dizer a um depressivo que, diante de determinada

situação, ele deveria estar mais deprimido ainda.

10. “Pensar pequeno”, ou seja, focalizar o sintoma apresentado pelo paciente e

trabalhar em busca de alívio para o mesmo.

11. Abordagem terapêutica pragmática – As intervenções são baseadas na obtenção

direta da situação de tratamento, tendo em vista o que está ocorrendo nos

sistemas interacionais, como continuam funcionando e como podem ser

alterados. Nesse contexto, a questão “por quê” é evitada.

Haley (1976) coloca que a ênfase de sua abordagem não reside num método, mas na

maneira como cada problema é analisado, através de técnicas específicas para uma situação

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específica. A função do terapeuta é formular claramente o sintoma apresentado pelo

paciente e planejar uma intervenção para mudar o referido sintoma, levando em conta a

situação social do paciente. A abordagem proposta por Haley difere de outras psicoterapias

orientadas para resolução de sintomas, na medida em que enfatiza o contexto social do

problema apresentado. Problema é definido por Haley como um tipo e comportamento que

é parte de uma seqüência de atos entre várias pessoas. Um sintoma é um rótulo para a

seqüência ou a cristalização dessa seqüência numa organização social. Assim, Haley

considera que sintomas como “fobia” ou “depressão” podem ser um contrato entre as

pessoas, ou seja, podem ser adaptativos para suas relações.

Ao realizar a mudança do enfoque de uma unidade individual para uma unidade

social de duas ou mais pessoas, Haley inclui o terapeuta como membro da unidade social

que engloba o problema. Ao definir uma questão terapêutica em função das relações

sociais dos pacientes, o terapeuta deverá incluir-se no problema, na medida em que

participa de sua definição. Se aceitamos a idéia de que os problemas do paciente incluem o

social mais amplo, inclusive o terapeuta, este deve considerar sempre as coalizões nas quais

está envolvido quando age. Portanto, o terapeuta deve considerar que poderá estar atuando

como agente de controle social de uma sociedade que quer aplacar os que incomodam,

como também poderá esta agindo dentro de um esquema social menos abrangente que o da

sociedade como um todo.

Para Haley, toda relação contém uma luta pelo poder, e as pessoas em interação

estão constantemente em luta para definir e redefinir sua relação. Compreender uma

família é compreender como seus membros se comportam nessa luta pelo poder.

Haley postula que, para um terapeuta terminar bem, é preciso que comece

adequadamente, isto é, através da negociação de um problema solucionável, e da

descoberta da situação social que o mantém. A primeira entrevista assume para ele

importância fundamental e o terapeuta deve solucionar que todas as pessoas que vivem na

casa estejam presentes nesse primeiro contato, o que não significa que depois o tratamento

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não possa prosseguir sem a presença de todos.

Ao discutir o conceito de “diretivas terapêuticas” Haley (1973) fala da influência

que sofreu do trabalho de Milton Erikson. As diretivas ou tarefas propostas aos indivíduos

e às famílias têm, em primeiro lugar, o objetivo de fazer com que as pessoas se comportem

diferentemente e, como resultado, tenham experiências subjetivas diferentes. Em segundo

lugar, as diretivas terapêuticas são usadas para intensificar o relacionamento com o

terapeuta, pois, na medida em que ele diz ao paciente o que fazer, torna-se envolvido na

ação. Em terceiro, as diretivas terapêuticas são usadas para se obterem informações sobre

os pacientes e sobre como eles responderão às mudanças desejadas.

O principal objetivo da abordagem estratégica é mudar o comportamento manifesto

do paciente. São utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever

comportamentos que, aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas

que visam mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais freqüentemente

utilizada sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando-se aparentemente o

comportamento sintomático. Para Watzlawick et al. (1967) o uso do paradoxo leva à

substituição do duplo-vínculo patogênico por um duplo-vínculo terapêutico.

2.2.2 – A Escola Estrutural

O principal teórico da escola estrutural é Salvador Minuchin que, em 1967,

publicou, em colaboração com uma equipe interdisciplinar, o livro Family of the Slums,

resultado de seu trabalho com famílias de adolescentes delinqüentes na Escola Wiltwych,

em Nova Iorque. O objetivo do projeto, iniciado por Minuchin em 1962, era tentar aplicar

as idéias recentes sobre terapia familiar a famílias de baixo nível sócio-econômico. Nesse

trabalho, que é um marco importante para a compreensão dos sistemas familiares de baixo

nível sócio-econômico, Minuchin questiona a “família delinqüente”, na medida em que as

famílias assim rotuladas apresentavam diferentes tipos de organização.

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Posteriormente, Minuchin assume a direção da Philadelphin Child Guidance Clinic

e publica, em 1974, Families and Family Therapy, onde expõe de maneira clara e concisa

sua teoria sobre a estrutura e o funcionamento da família.

A terapia estrutural de família é definida por Minuchin (1974) como sendo uma

terapia de ação para modificar o presente e não para explicar ou interpretar o passado. O

objetivo da intervenção do terapeuta é o sistema familiar ao qual ele se une, utilizando-se a

si mesmo para transformá-lo, Mudando a posição dos membros da família no sistema, o

terapeuta modifica as exigências subjetivas de cada membro.

A estrutura familiar é, para Minuchin, o conjunto invisível de exigências que

organiza as diferentes maneiras através das quais os membros da família interagem. A

família é um sistema que opera por meio de padrões transacionais, e as transações repetidas

reforçam o sistema. O sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus

subsistemas. Cada indivíduo pertence a diferentes subsistemas onde tem diferentes

habilidades e diferentes níveis de poder.

As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa de cada

subsistema e como participa. A função das fronteiras é proteger a diferenciação do sistema

e, para que o funcionamento da família seja adequado, elas devem ser nítidas. Em algumas

famílias, a distância entre os membros fica diminuída e a diferenciação do sistema se

prejudica em conseqüência de fronteiras muito difusas. Outras famílias desenvolvem

fronteiras muito rígidas e a comunicação entre seus membros fica prejudicada. Esses dois

extremos de funcionamento das fronteiras são classificados, respectivamente, de aglutinado

e desligado e todas as famílias são concebidas como incidindo em algum ponto do

continuam cujos pólos são fronteiras difusas e fronteiras rígidas. As operações nos

extremos indicam áreas de possíveis patologias.

A estrutura familiar não é, para Minuchin, uma entidade imediatamente acessível ao

observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obterá os dados.

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Analisando o campo transacional em que ele e a família se encontram, o terapeuta poderá

fazer um diagnóstico estrutural.

À medida que os acontecimentos ocorrem na sessão, o terapeuta faz observações e

coloca questões, determina os padrões transacionais e as fronteiras, e levanta hipóteses

sobre que padrões são disfuncionais. Começa, assim, a obter um mapa familiar. O mapa é

um esquema organizacional que, apesar de estático, é um recurso de simplificação que

permite ao terapeuta formular hipóteses a respeito de diferentes áreas da família, ajudando

também a determinar os objetivos terapêuticos.

Para Minuchin (1974), a função do terapeuta de família é ajudar o paciente

identificado e a família, facilitando a transformação do sistema familiar, e esse processo

inclui três passos importantes: o terapeuta une-se à família, desempenhando o papel de

líder; descobre e avalia a estrutura familiar; e cria circunstâncias que vão permitir a

transformação dessa estrutura. Se o terapeuta não puder unir-se à família e estabelecer um

sistema terapêutico, a reestruturação não poderá ocorrer e os objetivos terapêuticos não

serão atingidos.

As mudanças terapêuticas são provocadas pelas chamadas operações

reestruturadoras. Minuchin descreve pelo menos sete categorias de operações de

reestruturação:

1. Efetivação de padrões transacionais – O terapeuta investiga a coerência dos

padrões transacionais familiares confrontando relatos verbais e não-verbais. Na

busca de incentivar padrões mais funcionais ele recorre a intervenções

terapêuticas como representação de padrões transacionais (falar e agir como em

casa); recriação de canais de comunicação durante a sessão; manipulação do

espaço alterando a posição dos membros da família na sessão para facilitar o

diálogo e a interação.

2. Delimitação de fronteiras – O terapeuta estimula cada membro da família e cada

subsistema a negociar autonomia e interdependência. Isto leva à delimitação

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das fronteiras dos subsistemas conjugal, parental, filial, fraterno, garantindo uma

interação familiar mais saudável.

3. Escalonamento de stress – O terapeuta busca estimular a família a substituir

padrões transacionais estressantes por padrões mais funcionais. Com este

objetivo ele produz stress em partes diferentes do sistema familiar bloqueando

padrões habituais e enfatizando diferenças e discordâncias, desenvolvendo

conflitos, fazendo coalizões.

4. Distribuição de tarefas – O terapeuta propõe tarefas com o objetivo de

desenvolver áreas atrofiadas do relacionamento familiar.

5. Utilização de sintomas – O terapeuta intervém na maneira como a família lida

com o comportamento sintomático, exagerando o sintoma, diminuindo sua

importância, focalizando outros sintomas no sistema familiar, redefinindo o

sintoma inicialmente apresentado.

6. Manipulação do humor – O terapeuta reclassifica os afetos predominantes na

família ressaltando aspectos não explicitados da relação entre os membros.

7. Apoio ou orientação – O terapeuta orienta os membros da família a se apoiarem

mutuamente e pode até se propor como modelo.

Em Psychosomatic Families, Minuchin et al. (1978) fazem um relato da estrutura

disfuncional de famílias com crianças portadoras de distúrbio psicossomático. Utiliza o

enfoque estrutural na compreensão e no tratamento dessas famílias e mostra como certos

tipos de organização familiar estão relacionados com o desenvolvimento e a manutenção de

síndromes psicossomáticas em crianças. Os sintomas psicossomáticos desenvolvidos e

manifestados pelas crianças exercem papel importante na manutenção da homeostase

familiar, e têm a ver com a presença ou não de tensão na relação dos pais.

A evolução do pensamento da abordagem estrutural é apresentada por Minuchin em

Techniques of Family Therapy (1981) onde aprofunda suas concepções teóricas sobre a

família e discute as técnicas de terapia familiar por ele propostas.

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2.2.3 – A Escola de Milão

Mara Selvini Palazzoli, depois de Ter trabalhado muitos anos numa abordagem

psicanalítica com crianças anoréticas, desencorajada com os resultados que obteve e

influenciada pela literatura de Palo Alto sobre terapia de família, adota uma posição que

chama de sistêmica pura. Em 1967, organiza o Centro para o Estudo da Família, em Milão,

que conta também com a participação dos psiquiatras Luigi Boscolo, Giuliana Prates e

Gianfranco Cecchin.

O grupo de Milão desenvolve então um modelo sistêmico de intervenção familiar

que é utilizado não apenas no atendimento de famílias com crianças anoréticas, mas em

famílias com sérios problemas emocionais.

Partindo da hipótese de que a família é um sistema auto-regulado que se governa

através de regras, Palazzoli et al. (1978) relatam suas pesquisas com diferentes grupos de

famílias e concluem que as famílias de anoréticos são caracterizadas pela presença de

redundâncias comportamentais e por regras particularmente rígidas, enquanto as famílias

com um paciente psicótico, embora tenham a rigidez do modelo de base, apresentam

enorme complexidade nas modalidades transacionais.

O Centro para o Estudo da Família, em Milão, propõe-se atender famílias de

diferentes níveis sócio-econômicos, que pagam pelo tratamento de acordo com suas

possibilidades. O atendimento é realizado por uma dupla terapêutica heterossexual, o que,

segundo, Palazzoli, evita certos estereótipos culturais em relação a ambos os sexos, dos

quais os terapeutas inevitavelmente participam.

O primeiro contato com família é telefônico e os terapeutas estabelecem um horário

especial para as chamadas, de forma que pelo menos um terapeuta esteja disponível para

atender aos telefonemas. Ao longo do telefonema, grande número de fenômenos é

observado: particularidade da comunicação, tom de voz, demandas peremptórias, de todo

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tipo de informação, tentativas imediatas de manipulação para obter a sessão em dias e horas

determinados, tudo isso significando uma inversão de papéis, como se os terapeutas é que

estivessem pedindo algo à família. As informações obtidas pelo primeiro contato

telefônico são passadas para uma ficha padronizada.

A sala de atendimento é equipada com microfone, gravador e espelho unidirecional,

dando para uma sala de observação contígua. A família é informada da modalidade de

trabalho em equipe, da utilização dos equipamentos e da dupla que assiste ao trabalho, com

a qual os terapeutas se reúnem antes do fechamento de cada sessão.

Cada sessão é composta de cinco partes:

1. Reunião preparatória.

2. Sessão.

3. Discussão da sessão.

4. Conclusão da sessão.

5. Processo verbal da sessão.

Durante a primeira parte, os terapeutas se reúnem em equipe para a leitura da ficha,

quando se trata de primeira sessão, ou para a leitura do processo verbal da sessão

precedente.

Na Segunda parte, que geralmente tem uma hora de duração, os terapeutas solicitam

certo número de informações e se interessam não somente pelos conteúdos concretos, mas

sobretudo pelos “modos” através dos quais as informações são fornecidas, na medida em

que estes indicam o estilo transacional da família. O comportamento das terapeutas tende a

provocar transações entre os diferentes membros da família, para que sejam observadas as

seqüências, os comportamentos verbais e não-verbais, e as eventuais redundâncias que

revelam as regras ocultas. Na primeira sessão, os terapeutas não explicam à família os

fenômenos observados, nem fazem julgamentos ou avaliações.

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Se os observadores percebem os terapeutas desorientados ou dominados pelas

manobras da família, batem à porta e pedem a um deles que venha à sala de observações,

onde lhe são dadas indicações de intervenções adequadas. É comum também o terapeuta

sair espontaneamente em busca de ajuda. Em seguida, os terapeutas se reúnem numa sala

reservada para a discussão em equipe. Nessa terceira parte, os terapeutas e os observadores

discutem a sessão e decidem sobre a conclusão.

Na quarta parte, os terapeutas voltam para comunicar à família a conclusão da

sessão. Essa conclusão consiste num breve comentário ou numa prescrição, que são

estudados de maneira a serem geralmente paradoxais. No final da primeira sessão, os

terapeutas posicionam-se sobre a adequação ou não de um tratamento psicoterápico. Em

caso positivo, e se a família aceita a indicação, discutem-se o preço e o número das sessões.

O número de sessões é geralmente fixado em dez, uma por mês. Em casos raros,

faz-se um contrato de mais dez sessões, mas nunca se ultrapassam vinte sessões. Nos

primeiros anos de trabalho do grupo de Milão, as sessões eram realizadas uma vez por

semana, com exceção de famílias que vinham de muito longe. Mas a experiência mostrou

que as famílias que tinham sessões menos freqüentes faziam maiores progressos. Essa

prática foi então, aos poucos, estendida a todas as famílias, na medida em que se percebia

que um comentário, uma prescrição ou um ritual exercia maior impacto sobre o sistema

familiar quando se tratava de um tempo mais longo.

Na quinta parte da sessão, a equipe torna a reunir-se, depois de se Ter despedido da

família. Nesse momento, discutem-se s colocações feitas no final da sessão, formulam-se

previsões e redige-se um processo verbal da sessão sintetizando-se os elementos essenciais.

Em caso de dúvida, escuta-se a gravação.

Palazzoli reafirma sua convicção de que uma terapia extremamente difícil, como a

de famílias com transações esquizofrênicas, não pode ser realizada, com chance de sucesso,

senão por uma equipe que não tenha lutas internas, pois, caso contrário, a competição

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transforma os problemas da família em pretexto para as discussões da equipe.

Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação positiva.

A primeira função da conotação positiva de todos os comportamentos observados no grupo

familiar é a de facilitar aos terapeutas o acesso ao modelo sistêmico. A conotação positiva

é uma metacomunicação, isto é uma passagem a um nível superior de abstração.

Metacomunicando positivamente, ou seja, confirmando todos os comportamentos dos

membros da classe, metacomunicamos alguma coisa sobre a classe, passando a um nível

superior de abstração.

Quando se qualificam de positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela

tendência homeostática, o que de fato se conota positivamente é a tendência homeostática

do sistema e não as pessoas. Os terapeutas vão até o ponto de prescrever essa tendência.

Para Palazzoli et al. (1978), a conotação positiva permite:

1. Colocar todos os membros da família no mesmo plano, na medida em que eles

são complementares em relação ao sistema; e evitar traçar arbitrariamente linhas

de demarcação entre uns e outros;

2. Ter acesso ao sistema, confirmando sua tendência homeostática;

3. Incluir os terapeutas como membros do sistema;

4. Conotar positivamente a tendência homeostática para introduzir paradoxalmente

a capacidade de transformação;

5. Definir claramente a relação família-terapeutas;

6. Definir o contexto como terapêutico.

Outro conceito importante para o grupo de Milão é o “ritual familiar”. Trata-se de

uma ação ou de uma série de ações, das quais todos os membros da família são levados a

participar. Em geral, essas ações são misturadas com expressões verbais, e, para que o

ritual seja eficaz, ele deve dizer respeito a toda a família.

Para cada ritual, os terapeutas devem precisar detalhadamente as modalidades de

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lugar e horário, bem como o ritmo da repetição. A prescrição de um ritual visa evitar o

comentário verbal sobre as normas que perpetuam o jogo em ação. O ritual familiar é a

prescrição ritualizada de um jogo no qual novas normas substituem tacitamente as normas

precedentes. A elaboração de um ritual requer grande esforço de observação e de criação

por parte dos terapeutas. Um ritual eficaz em uma família não o será em outra, pois o ritual

é rigorosamente específico a determinada família.

Além das intervenções terapêuticas citadas até então, do tipo prescrições ativas,

Palazzoli et al. (1975) propõem ainda uma intervenção aparentemente contrária, ou seja, “a

declaração da impotência dos terapeutas”. Algumas famílias respondem com rápidas

mudanças às intervenções terapêuticas; outras embora confirmem no momento a validade

da intervenção, voltam à sessão sem mudança alguma.. Os terapeutas intervêm então mais

fortemente, mas tais famílias permanecem imutáveis.

A saída então é modificar a própria posição na relação, ou seja, a definição da

relação, declarando honestamente a própria impotência. Quando o terapeuta faz essa

declaração de impotência, é importante evitar qualquer queixa da família e controlar não

apenas o conteúdo verbal, mas também o tom em que fala, para não parecer irritado, irônico

ou acusador. O terapeuta deverá dizer que, apesar da colaboração e da boa vontade da

família, se sente incapaz de ter uma idéia precisa e de ajudar. Dito isso, os terapeutas

observam atentamente as reações dos diferentes membros da família e, depois de um

momento de suspense, marcam a data do próximo encontro e cobram a sessão.

Este tipo de intervenção terapêutica é eficaz na medida em que é paradoxal.

Quando os terapeutas declaram estar confusos e sem saber o que fazer, na realidade fazem

uma coisa importante: definem-se como complementares na relação em que, até então,

estavam implicitamente simétricos. Mas, na realidade, eles não são complementares;

definindo-se assim, através de sua incapacidade, estão retomando o controle da situação.

Marcar a hora seguinte e cobrar a sessão são indicadores de uma segurança profissional

totalmente oposta à declaração de impotência.

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Posteriormente, o grupo de Milão inclui na sua prática o modo de pensar

construtivista, que apresentaremos a seguir. Palazzoli et al. (1980) estabelecem três

princípios indispensáveis ao trabalho terapêutico: a formação de uma hipótese, a

circularidade e a neutralidade. A hipótese formulada deve ser testada ao longo da sessão;

se rejeitada, o terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da

primeira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir todos os

membros da família e fornecer uma conjetura que explique a função da relação. A

circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a sessão baseando-se nos

feedbacks recebidos da família como respostas à informação que solicitou em termos

relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do terapeuta que se

alia a cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de coalizão ou sedução de

qualquer componente do grupo familiar.

2.2.4 – A Escola Construtivista

No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de Segunda ordem

e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a escola construtivista. A partir da concepção

de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979) considera-se que a evolução de um

sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a cada patamar, surgem

novas instabilidades que geram novas ordens e assim sucessivamente. Nesta perspectiva

em que os sistemas vivos são considerados como hipercomplexos e indeterminados, a

instabilidade e a crise ganham um novo sentido no sistema familiar. A crise não é mais um

risco mas parte do processo de mudança, assim como o sintoma. Assim os terapeutas de

família da escola construtivista passam a considerar a autonomia do sistema familiar

partindo do estudo dos sistemas auto-organizados, da cibernética de Segunda ordem, e dos

sistemas autopoiéticos postulados por Humberto Maturana (1990).

Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o

terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O terapeuta

estará interessado não mais no comportamento a ser modificado mas no processo de

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construção da realidade da família e nos significados gerados no sistema. A ênfase é

deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para aquilo que o sistema permite

a ele selecionar e compreender. Assim como o grupo de Milão, outros terapeutas

estratégicos incluíram posteriormente nas suas postulações o modo de pensar construtivista.

Embora Watzlawick tenha organizado em 1981 o livro L’ Invention de la Realité

com artigos de renomados autores construtivistas, sua prática clínica, assim como a dos

terapeutas do Mental Research Institute, não sofreu grandes modificações fincando mais

identificado com as “práticas estratégicas” do que com as “práticas construtivistas”.

Numa ótica construtivista os problemas, como ressalta Hoffman (1989), não estão

mais na família mas no modo como ela constrói a realidade, ou seja, como permite a

emergência e a organização dos dados da realidade.

Para Goolishian e Winderman (1989) é a linguagem que determina o sistema

interacional que é relevante para o terapeuta e são os sistemas de significado da linguagem

que organizam os comportamentos e os problemas que levam a família a pedir ajuda.

A partir do conceito de autonomia, questionam-se as intervenções terapêuticas que

pretendem dirigir o sistema para algo determinado. Não é mais o sistema que determina o

problema, mas o problema que determina o sistema (Goolishian e Anderson, 1987).

O estudo da linguagem passa então a ser fundamental. Pakman (1988) define a

linguagem como um conceito de Segunda ordem tendo em vista que ele pode referir-se a si

mesmo. No processo terapêutico concebido como atividade lingüística o terapeuta deixa de

ser um agente que intervem no sistema familiar através da aplicação de técnicas específicas.

A terapia passa a ser um processo de novas linguagens, novas possibilidades.

Von Foerster (1981) ressalta que pode parecer estranho hoje estipular a autonomia

porque a autonomia implica a responsabilidade, e postula as conseqüências do modo de

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pensar construtivista para a ética e para a estética. O conseqüente imperativo ético seria:

aja sempre de maneira a aumentar o número de escolhas possíveis. E o estético: se você

quiser ver, aprenda a agir.

Maria José Vasconcelos, no livro Terapia familiar sistêmica, publicado em 1995,

propõe a expressão “Si cibernética” como uma terapia familiar plenamente “novo-

paradigmática” em que é considerada não apenas a complexidade (circularidade,

recursividade) mas também a instabilidade do sistema (indeterminação, desordem saltos

qualitativos). Não é só o sistema que faz escolhas, o terapeuta também tem a

responsabilidade de fazê-las. Fazendo escolhas ele criará possibilidades de escolhas para o

sistema.

Rapizo (1994) investiga a pertinência das intervenções diretivas no contexto da

terapia de família orientada por aportes construtivistas e conclui que não existem

“intervenções construtivistas” e assim um contexto relacional construtivista. Uma pergunta

não é necessariamente reflexiva mas o espaço para a reflexão é garantido pela relação que

inclui a pergunta. Desta forma, a terapia de família de segunda ordem sai do domínio da

exigência e da obrigatoriedade de uso ou não de alguma intervenção, para o terreno da

criatividade, de uso da pessoa do terapeuta e não de algo que é apenas um instrumento.

Assim, a abordagem construtivista proposta a partir da ótica da Segunda cibernética

questiona o poder do terapeuta na terapia familiar e as intervenções terapêuticas diretivas.

A ênfase não é colocada na pergunta mas na construção da interação e a ação do terapeuta

pretende explorar as construções onde surgem os problemas.

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2.3 – Abordagens Psicanalíticas

Nas abordagens psicanalíticas das terapias de família há uma ênfase no passado, na

história, tanto como causa de um sintoma quanto como meio de modificá-lo. Para os

teóricos destas abordagens, os sintomas apresentados pelos membros da família são

decorrências de experiências passadas que foram recalcadas fora da consciência. Na maior

parte das vezes, portanto, o método terapêutico utilizado é o interpretativo e os tratamentos

são de mais longa duração.

Diferentes autores podem ser agrupados nas escolas psicanalíticas em terapia

familiar. Destacando-se as propostas de Nathan Ackerman, de Lily Pincus e Christopher

Dare, de André Ruffiot e Alberto Eiguer, e de Jürgen Willi.

Ü Nathan Ackerman:

Ackerman pode ser considerado o primeiro autor nas abordagens psicanalíticas do

trabalho com famílias. Tendo tido formação psicanalítica clássica e trabalhando como

psiquiatra infantil, ele postula que os papéis familiares se formam de maneira a atender as

necessidades intrapsíquicas de cada membro da família. A família adoece quando fracassa

no cumprimento de suas funções essenciais, que dizem respeito à reciprocidade de relações

entre os papéis familiares de prover vias de solução para o conflito, de estabelecer

complementaridade eficaz e de prover apoio aos novos níveis de identificação.

Ackerman (1961) ressalta que a psicoterapia familiar e a terapia analítica, tal como

formulada originalmente por Freud, são métodos distintos, mas que não se excluem

mutuamente, podendo ser considerados complementares. Em alguns casos, o mais

indicado pode ser a terapia de toda a família (incluindo até três gerações), em outros, a

terapia individual e, em outros ainda, a combinação de ambas as modalidades. Para

Ackerman, as relações entre esses dois enfoques ficarão mais claras quando pudermos

alcançar melhor compreensão das relações existentes entre os aspectos internos e externos

da experiência humana, entre o que ocorre dentro de uma mente e o que ocorre entre as

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mentes individuais.

O autor mostra que as formas específicas de família variam com a cultura e analisa

as inter-relações entre a conduta familiar e a conduta individual em três dimensões: a

dinâmica da família como grupo; os processos de integração emocional do indivíduo e seus

papéis familiares e a reciprocidade básica das relações de papel; e a organização interna da

personalidade individual e seu desenvolvimento histórico.

Para Ackerman (1969), as principais funções do terapeuta de família são:

1. Estabelecer um rapport proveitoso entre os membros da família e entre a família

e o terapeuta.

2. Utilizar esse rapport para suscitar a expressão dos principais conflitos e as

formas de manejá-los.

3. Desempenhar, em parte, o papel da figura paternal, controlando o perigo e sendo

fonte de apoio emocional e de elementos que proporcionem satisfação.

4. Dissolver as resistências e reduzir a intensidade das situações de culpa e de

temor, através do uso da confrontação e da interpretação.

5. Servir de instrumento pessoal de prova de realidade para a família.

6. Servir de educador e de personificador de modelos úteis de saúde familiar.

Muitas vezes, a sensação de tensão e de perigo aumenta no processo de atendimento

familiar. A presença serena do terapeuta oferece proteção contra esse perigo e, à medida

que os conflitos familiares se definem mais nitidamente, os conflitos internos, individuais,

tendem a diminuir.

Ackerman (1976) descreve o processo da terapia familiar como verdadeira

experiência social onde se devem correlacionar: os conhecimentos intrapsíquicos e os

interpessoais; a organização da experiência consciente e da inconsciente; o real e o irreal, a

transferência e a realidade; o passado e o presente; e o indivíduo e o grupo.

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Ü Lily Pincus e Christopher Dare:

Influenciados pelo trabalho estritamente psicanalítico, desenvolvido na Clínica

Tavistock de Londres, Pincus & Dare (1978) formulam suas hipóteses que fundamentam a

prática clínica com famílias e casais a partir de um grande interesse na trama inconsciente

dos sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem os membros de uma família ente

si e aos seus passados individuais e familiar.

Estes autores interessam-se particularmente pelos efeitos dos segredos e dos mitos

na dinâmica familiar. Ressaltam que os segredos podem pertencer a um membro da

família, ou serem tacitamente compartilhados com outros; ou, inconscientemente,

endossados pelos membros da família, de geração para geração, até se tornarem um mito.

Quando um membro da família desafia um segredo familiar, a atitude dos outros membros

também muda em relação ao segredo, o conluio é rompido e novos fatos e fantasias vêm à

tona. A partir da prática clínica Pincus & Dare mostram como os segredos mais freqüentes

e mais cuidadosamente escondidos são aqueles que nascem de sentimentos ou fantasias

incestuosas.

Os estudos destes autores sobre o casamento baseiam-se em princípios gerais que

são maneiras de encarar qualquer relacionamento. O primeiro deles é de que as motivações

que levam as pessoas a se casarem são, em grande parte, inconscientes. Tais motivações

podem ser mantidas fora da consciência de modo que sua existência seja percebida somente

indiretamente. Portanto raramente é possível saber, questionando diretamente, qualquer

razão convincente do porquê da escolha do parceiro, ou qual a natureza do casamento.

Os processos de projeção que ocorrem em todo tipo de relacionamento são

especialmente poderosos nas relações que têm laços emocionais mais fortes. O casamento

oferece, portanto, um campo particularmente fértil aos mecanismos projetivos. Na escolha

original do parceiro, a projeção joga um papel muito importante na medida em que se

encontra desejoso de aceitar e atuar, pelo menos em parte, algo daquilo que o outro

necessita projetar nele.

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Tais escolhas podem ter aspectos profundamente terapêuticos se cada um dos

parceiros conseguir constatar no outro aqueles aspectos de si mesmo que não conseguiu

desenvolver. O uso da projeção no casamento não é apenas uma tentativa de livrar-se de

sentimentos indesejados ou de alguns aspectos do self. Porque agora são vividos pela

pessoa amada, tais sentimentos podem perder um pouco da ansiedade que costumavam

produzir e, com o tempo, podem até parecer aceitáveis. Às vezes, sentimentos ou aspectos

do self podem ser aceitos no parceiro mas não podem ser expressados diretamente pelo

sujeito.

Por outro lado, a mesma dinâmica que levou à escolha original, na tentativa de

resolver ansiedades, pode conduzir o casal a um círculo vicioso: o parceiro que projetou

aspectos temerosos de si mesmo no outro pode dissociar-se, cada vez mais, forçando assim

o outro a expressá-los de maneira exacerbada e o resultado é um aumento de ansiedade para

ambos.

O segundo princípio que norteia a abordagem de Pincus $ Dare, tanto no casamento

como nas relações humanas em geral, é que nos relacionamentos duradouros, considerados

importantes pelos participantes, há geralmente uma complementaridade das necessidades,

dos desejos e dos medos que fazem parte da vida a dois. Este princípio é baseado no

primeiro na medida em que deixa claro que o acordo que mantém a complementaridade é

inconsciente e, geralmente, implica também o uso da projeção.

O terceiro princípio que norteia a abordagem destes autores sobre a relação conjugal

é o de que muitos dos anseios e medos inconscientes que fazem parte do “contrato secreto”

do casamento provêm, principalmente, dos relacionamentos da infância. Isto significa que

todas as pessoas tendem a padrões repetitivos de relacionamento, que são motivados pela

persistência dos desejos numa forma de fantasia inconsciente e derivados da forma como as

primeiras necessidades foram satisfeitas. No casamento, muitas vezes, o aspecto repetitivo

da seqüência da escolha é literal, como por exemplo quando uma mulher cuja infância foi

prejudicada por um pai alcoólatra acaba casando-se com um alcoólatra, divorcia-se dele e

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novamente repete a situação.

O quarto e último princípio, descrito por estes autores, é o de que estes padrões

repetitivos de relacionamento são sobretudo derivados da época em que a criança se dá

conta da intensidade dos seus anseios em relação aos pais, ao mesmo tempo em que

reconhece que estes formam um casal do qual ela é excluída, ou seja, da vivência do

Complexo de Édipo.

A abordagem terapêutica com casais proposta por estes autores leva em conta, ao

longo de todo o processo terapêutico, o resgate da história de cada cônjuge e da história da

relação conjugal norteada pela consideração dos quatro princípios acima descritos.

Ü André Ruffiot e Alberto Eiguer:

Ruffiot e Eiguer estão entre os principais representantes da abordagem psicanalítica

em terapia familiar e de casal também denominada por eles de abordagem grupalista.

Os desenvolvimentos teóricos propostos por Bion (1965), Anzieu (1975) e Kaës

(1976) para os grupos terapêuticos são aplicados pelos grupalistas à clínica do grupo

familiar e do grupo conjugal, considerando que o funcionamento psíquico inconsciente

destes grupos apresenta peculiaridades que os distingue do funcionamento do indivíduo.

Ruffiot (1981) postula o conceito de aparelho psíquico familiar que se edifica na

zona psíquica obscura, indiferenciada, dos diferentes membros do grupo familiar e ressalta

que a terapia familiar psicanalítica trata tal aparelho e não os psiquismos individuais. Ele

estabelece assim uma relação entre o aparelho psíquico do grupo familiar e o aparelho

psíquico primitivo do recém-nascido, considerando que a natureza do psiquismo primário é

o fundamento do psiquismo familiar e de todo psiquismo grupal.

Para Ruffiot a terapia familiar conjunta possibilita a emergência de processos

psíquicos individuais até então bloqueados e sua eficácia se traduz sobretudo pela

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individualização dos psiquismos individuais, no quadro grupal, levando a ressaltados

terapêuticos individuais. Esta abordagem se baseia numa escuta do funcionamento da

fantasmática da família no aparelho psíquico familiar, um inconsciente a várias vozes que

aparece na associação livre dos membros da família reunidos na sessão.

Eiguer (1984), para tentar explicar a origem fantasmática da família, leva em

consideração a idéia de “organizador” de grupos para situar os investimentos recíprocos e

particulares entre os membros da família. Ele identifica três organizadores da vida conjugal

inconsciente: a escolha de objeto no momento da instalação da relação amorosa, o eu

conjugal e os fantasmas partilhados pelos membros do casal.

O primeiro organizador, a escolha do parceiro, é articulado ao complexo de Édipo

de cada cônjuge e tem um valor semelhante ao das formações de compromisso

inconsciente, como o sintoma ou o lapso. Possui, portanto, uma função defensiva e

contribui para a economia libidinal.

O segundo organizador, o eu conjugal, é formado pela consonância dos vínculos

narcísicos e composto por representações compartilhadas pelos cônjuges que levam a um

ideal de ego conjunto. Ele é responsável pelo sentimento de pertencimento, pela formação

de uma “pele conjunta” na expressão criada por Anzieu (1975).

O terceiro organizador, a interfantasmatização, é definido como o ponto de

encontro dos fantasmas individuais, próximos por seu conteúdo, que organizam os vínculos

libidinais e os vínculos narcísicos do casal.

Eiguer considera a transferência familiar um dos pilares da terapia familiar

psicanalítica. Ela é definida como o denominador comum dos afetos ligados a um objeto

do passado familiar, referidos ao terapeuta. Tendo em vista que os vínculos entre os

membros da família são estabelecidos bem antes do início da terapia e que as

representações inconscientes de uns em relação aos outros já estão consolidadas, a

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transferência do grupo familiar em terapia é bem menor do que a de um grupo informal.

O autor ressalta três aspectos da transferência que devem ser distinguidos: a

transferência sobre o terapeuta, a transferência sobre o enquadre e a transferência sobre o

processo terapêutico.

A proposta de terapia psicanalítica com a família e o casal, formulada por Ruffiot e

por Eiguer, privilegia as produções imaginárias, utiliza a associação livre incentivando os

membros da família a falar livremente sem omitir nada, fundamenta-se na regra da

abstinência e ressalta que a função do terapeuta é ouvir e interpretar.

Ü Jürgen Willi:

Willi (1978) considera que a relação pais-filhos na primeira infância tem uma

grande influência sobre a escolha conjugal dos adultos. A relação conjugal saudável

permite que cada cônjuge ora tenha um comportamento regressivo, atuando como criança,

ora tenha um comportamento progressivo, atuando com adulto. As atitudes progressivas e

regressivas podem-se alterar, ou seja, quando um cônjuge está fragilizado busca proteção

no outro e vice-versa.

Em alguns casais todavia esta possibilidade é inexistente e um dos cônjuge vivencia

rigidamente o papel regressivo mantendo o comportamento infantil, enquanto o outro

vivencia o comportamento progressivo numa tentativa de disfarçar sua própria fragilidade.

Willi descreve o conceito de colusão como um jogo conjunto e não confessado,

entre dois parceiros, em função de um conflito similar e não superado. Os cônjuges se

unem por supostos comuns, quase sempre inconscientes, e com expectativa de que o

parceiro o liberte de seu conflito. A colusão seria uma matriz interacional que organiza a

vida amorosa do casal.

A eleição colusiva do casal se dá como efeito de um acoplamento que pode produzir

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em ambos os cônjuge uma troca de estratos, de características latentes ou manifestas da

personalidade. Esses estratos são facetas de uma mesma temática comum, que se arranja de

forma complementar.

Os tipos de colusão, cujos temas são relacionados à teoria psicanalítica do

desenvolvimento, são os seguintes: colusão narcísica, colusão oral, colusão sádico-anal e

colusão-edípica

O esquema da relação narcísica apresenta como tema fundamental a questão de até

que ponto um pode se entregar ao outro sem perder seus próprios limites, sem se fundir

com o outro. Na colusão narcísica, ambos os parceiros manifestam as mesmas

perturbações básicas, um ego mal configurado, com sua delimitação em perigo. O

narcisista pretende valorizar seu ego por meio do parceiro e o narcisista complementar

aspira obter no outro um ego idealizado.

O segundo esquema, colusão oral, apresenta como tema básico a questão do amor

como preocupação de um pelo outro. Essa temática se funda na existência de um parceiro

com disponibilidade de ajuda inesgotável, de um lado, e outro que requer cuidados e não se

dispõe a ajudar o outro.

O terceiro esquema, a colusão sádico-anal, apresenta, como temática principal, a

questão do amor como pertencer um ao outro. Coloca-se em pauta até que medida podem-

se permitir aspirações autônomas do parceiro sem que se desintegre a relação. Nesse tipo

de colusão, o parceiro ativo deseja progredir na relação enquanto autônomo e dominante e

o passivo adota a posição de dependência e docilidade, se assegurando regressivamente

contra os temores de separação e abandono. O parceiro ativo pode, dessa maneira,

desconhecer seus próprios temores de separação porque estão expressos pelo passivo.

O quarto esquema, a colusão fálico-edípica, apresenta como temática básica o amor

como afirmação masculina. Aqui entra em jogo o complexo problema da distribuição de

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aspectos “masculinos”, identificados com a atividade, e “femininos”, identificados com a

passividade, em ambos os parceiros. As dificuldades geradas por conflitos na fase edípica

aparecem em casais soba a forma de um tipo de histeria conjugal. Ambos os parceiros

buscam defender-se de suas debilidades através de atitudes polarizadas, onde um representa

a posição ativa sexual e o outro a posição débil, passiva.

Para Willi, os quatro tipos de colusão são quatro princípios dinâmicos fundamentais

e, como tais, não formam unidades de patologia. Todo casamento pode ser afetado pelos

quatro temas, ou seja, pelo tema do “amor como ser um mesmo”, “amor como preocupar-se

um com o outro”, “amor como pertencer um ao outro”, e “amor como afirmação

masculina”. Mas embora os quatro temas possam afetar o casamento, o acento do conflito

conjugal quase sempre se apresenta sob a forma de um destes tipos de colusão.

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CAPÍTULO III

Família e Terapia

“Lição: As palavras escritas no muro

quebrado da escola, formam questões

acabadas por saber que o saber é mais

simples quando se está com você.”

Dinaldo Medeiros (1993)

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O tempo todo, as famílias enfrentam e resolvem uma variedade de problemas e

situações estressantes. Embora, de modo geral, elas consigam solucioná-los sozinhas, às

vezes as famílias esgotam suas maneiras de resolver os problemas e precisam de ajuda. A

terapia familiar é uma oportunidade de aprender maneiras novas e efetivas de resolver

problemas e prosseguir com mais tranqüilidade.

3.1 – Por que Terapia Familiar?

A terapia familiar é uma maneira de as famílias conseguirem ajuda para muitos

tipos diferentes de problemas. Ela pode ser altamente efetiva quando as pessoas de uma

família tem dificuldade em se relacionar; quando uma criança ou um adolescente demonstra

problemas de comportamento; quando uma pessoa da família está deprimida ou ansiosa;

quando os pais brigam demais; ou quando as pessoas se batem, se tocam ou se falam de

maneiras que provocam raiva e mágoa.

3.1.1 – Que Tipos de Famílias a Terapia Pode Ajudar?

A terapia familiar pode ajudar todos os tipos de famílias, aquelas com filhos

pequenos ou maiores, adolescentes, as famílias com um ou dois progenitores. Ela pode

ajudar as famílias tradicionais e as não-tradicionais, as famílias formadas por segundo

casamento, as famílias ampliadas e os adultos com seus próprios pais.

3.1.2 – Por que Envolver Toda a Família?

Às vezes, a necessidade de tratamento familiar parece óbvia, como quando todos na

família estão sofrendo ou quando toda a família parece estar envolvida nos problemas.

Entretanto, é mais comum que os sintomas ou comportamentos de uma pessoa sejam

identificados como “o problema”. Quando esse é o caso, as famílias geralmente ficam

perplexas com a indicação de tratamento familiar.

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A terapia familiar baseia-se na crença de que os comportamentos de uma pessoa

precisam ser compreendidos no contexto da família. O que parece ser um problema

individual pode ser o sinal de que toda a família está em dificuldade.

3.1.3 – Preocupações a Respeito da Primeira Sessão

Os membros da família geralmente não sabem bem o que esperar da sua primeira

sessão de terapia. Uma das preocupações mais comuns é quando uma pessoa da família se

recusa a participar do primeiro encontro, mas os terapeutas de família sabem bem como

ajudar a encorajar a participação. Este é freqüentemente o primeiro problema a ser

examinado no tratamento.

Os membros da família também se perguntam se aquilo que eles disseram em

terapia será comentado fora da família. Os terapeutas familiares, como os outros

profissionais de saúde mental, não compartilham essas informações a não ser em

circunstâncias incomuns, como quando existe o risco de danos físicos.

Às vezes, os membros da família tem medo de ficar constrangidos nas sessões. Eles

podem ter medo de discutir na frente de um estranho. Alguém da família pode ficar com

medo de ser deixado de fora ou ser acusado, ou temer que um segredo familiar seja

revelado. Tais preocupações são compreensíveis. Entretanto, o terapeuta foi treinado para

manejar o estresse e o desconforto dessas situações.

Normalmente, os terapeutas começam a primeira sessão, pedindo aos membros da

família que falem sobre o que os trouxe a tratamento. As opiniões de todos os membros

sobre os problemas familiares são consideradas importantes. Cada membro da família será

questionado sobre o seu ponto de vista.

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As pessoas da família habitualmente começam a terapia com alguma idéia sobre o

que está errado na família e qual é o “verdadeiro problema”. É muito comum um dos

membros ser visto como “a causa” do problema. Quando as coisas dão errado, as pessoas

da família geralmente acham que existe uma única fonte a ser acusada.

3.1.4 – Novas Maneiras de Ver os Problemas Familiares

Quando as pessoas estão se acusando mutuamente e sentindo como se tivessem

fracassado, é difícil para elas enxergar soluções que funcionem. Durante a primeira sessão

de terapia familiar, os terapeutas tentarão ajudar a família a começar a encontrar maneiras

construtivas de examinar seus problemas.

Por exemplo, os pais podem relatar que um filho é desobediente ou que está

brigando demais com um dos irmãos. Eles geralmente pensam que a criança é a única

pessoa que precisa mudar. Na sessão, o terapeuta poderia observar que quando outras

pessoas da família parecem cansadas, sem energia e sem esperança, surge um padrão, a

“criança problema” entra em ação e só então os outros membros da família se animam e se

envolvem uns com os outros.

O terapeuta poderia apontar esse padrão e mostrar como o mau comportamento da

criança está ajudando a energizar a família. Nesse exemplo, o terapeuta ajuda a família a

reconhecer que aquilo que parece ser o problema de uma pessoa é na verdade um problema

da família. Às vezes, a “criança problema” está realmente tentando ajudar a família ao

distrair seus membros das questões dolorosas. Ao tentar “consertar” unicamente a “criança

problema” a família pode estar ignorando totalmente o problema subjacente. E, enquanto o

problema subjacente permanecer, é impossível que a “criança problema” vá mudar.

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3.2 – Como o Terapeuta Passa a Conhecer a Família

O terapeuta prestará atenção a como é ser um membro da sua família. Por exemplo,

o terapeuta poderia observar quem fala mais, que pessoas na família tendem a interagir

mais umas com as outras, e se certos membros da família recebem atenção ou são

ignorados. O terapeuta tentará entender como se sente um membro da sua família e qual é

a “personalidade” da família. Por exemplo, algumas famílias são muito barulhentas e

expressivas, enquanto outras são quietas e contidas.

É importante que o terapeuta perceba outros aspectos da personalidade da família na

sessão inicial. Isso poderia incluir os contextos cultural e religioso aos quais pertencem,

assim como os interesses especiais e as atividades de lazer prediletas. O terapeuta precisa

compreender os valores e as crenças que orientam a família.

Durante a sessão inicial, o terapeuta começa a perceber quais são os papéis e as

regras que operam naquela família.

As regras podem ser coisas simples, tais como que prepara as refeições ou que é o

responsável por tomar as decisões importantes. Pode haver regas para as crianças

arrumarem o quarto depois de brincar ou para os adolescentes obedecerem a um horário de

voltar para casa. Tais regras geralmente são verbalizadas, mas algumas delas não são

faladas. Por exemplo, as crianças poderiam perceber que os pais estão “de mau humor” e

saber que a “regra” é a de não aborrecê-los, mesmo que precisem de sua ajuda.

Os papéis podem ser menos óbvios, entretanto, como quando alguém é o

“comediante da família”, o mensageiro, ou a pessoa que conforta quando alguém está triste,

tenso ou zangado.

Os papéis podem ser úteis para organizar as famílias, ou podem fazer com que a

família se sinta insatisfeita ou presa, coagida. Durante a terapia, as famílias percebem quais

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regras e papéis são desconfortáveis ou não estão funcionando mais. Elas também aprendem

a criar novas regras e papéis que levam a interações mais satisfatórias.

Durante o primeiro encontro, o terapeuta pode perguntar o que está “certo” na

família. Existe uma boa razão para isso, pois quando as famílias vem se sentindo mal-

sucedidas na resolução de seus problemas, elas freqüentemente esquecem o fato de que

existem coisas que estão indo bem e coisas que fazem bem. O terapeuta poderia pedir a

cada pessoa que pensasse em tudo o que gosta em relação a pertencer àquela família. O

terapeuta pode ajudar as famílias a reconhecerem suas forças e aproveitá-las.

Por exemplo, uma criança que joga bem futebol demonstra a capacidade de

trabalhar em equipe, perseverar e lidar com a competição. Uma mãe que é uma boa

professora demonstra habilidades organizacionais, paciência e criatividade. O terapeuta

ajuda os membros da família a usarem suas habilidades para trabalhar em seus

relacionamentos e resolver seus problemas.

3.2.1 – O que Acontece depois da Sessão Inicial?

O primeiro encontro estabelece os fundamentos para as sessões de terapia

posteriores. Quando as pessoas começam a terapia familiar, geralmente se perguntam

quanto tempo ela vai durar. Isso varia muito, dependendo dos tipos de problemas, do

tempo que faz que eles existem e do efeito que tiveram sobre a capacidade da família de

funcionar.

Quando a terapia começa, o terapeuta em geral atende toda a família uma vez por

semana. Na medida em que o tratamento progride, as pessoas podem ser atendidas em

diferentes combinações. Os pais podem ser atendidos sem os filhos, os irmãos podem ser

atendidos juntos, ou um dos filhos pode ser atendido com apenas um dos pais.

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As sessões podem começar de várias maneiras. O terapeuta pode fazer alguma

pergunta geral, por exemplo, “Como foi a semana?”, ou fazer uma observação sobre como

a família parece estar naquele dia. Qualquer membro da família também pode trazer um

assunto. Ouvir sobre como foi a semana dá aos membros da família uma oportunidade de

conhecer as opiniões dos outros sobre as coisas que aconteceram. Isso os lembra do valor

de ouvir as percepções dos outros. Isso também mostra ao terapeuta como os membros da

família estão se sentindo e se comunicando um com os outros.

Com base naquilo que a família discute e no que o terapeuta observa, o que geralmente

ocorre é o seguinte:

Ü Os membros da família passam a compreender seus padrões de comportamento em

relação aos outros. Isso inclui ficar sabendo como os pensamentos e sentimentos são

expressos ou evitados, e perceber com quem geralmente falam e quem é deixado de

fora das conversas familiares. É importante que os membros da família compreendam

por que esses padrões existem, quais padrões são úteis e quais impedem que eles se

entendam e tenham prazer com a convivência.

Ü Os membros da família percebem suas forças e recursos e se tornam mais capazes de

desenvolver novas estratégias para resolver as diferenças.

Ü Os membros da família aprendem a se comunicar mais efetivamente. O terapeuta pode

ajudá-los a aprender a escutar cuidadosamente o que o outro diz, compreender o ponto

de vista do outro e encontrar maneiras novas e diretas de compartilhar suas idéias e

sentimentos.

Um aspecto notável da terapia familiar é a oportunidade que ela oferece à família de

praticar maneiras novas e mais recompensadoras de interagir e resolver os problemas num

lugar seguro. Durante as sessões, os membros da família serão solicitados a experimentar

maneiras diferentes de se expressar e estilos diferentes de resposta a determinadas

situações.

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3.2.2 – E se os Membros da Família Sentirem Vontade de Desistir?

A maioria dos membros da família, em algum momento da terapia, sente vontade de

parar antes de chegar ao fim. Eles podem ficar desencorajados em relação ao seu

progresso, sentir-se acusados por mais do que a sua parte nos problemas, ou ficar zangados

por algo que o terapeuta ou algum membro da família falou. Essa pode ser uma

oportunidade de aprender que existem outras maneiras de lidar com tais sentimentos além

de ir embora. A terapia é como qualquer outro processo de aprendizagem. Existem altos e

baixos, incluindo momentos em que um membro acha que não está ganhando muito com a

terapia.

Em vez de cair fora, faz-se necessário o encorajamento, para irem à próxima sessão

e falarem sobre o que estão pensando. Um bom terapeuta vai gostar de ouvir todas essas

coisas. Independente da decisão final, para que possam se sentir bem por terem enfrentado

o problema em vez de fugir dele.

3.2.3 – Chegou a Hora de Parar a Terapia?

O tratamento e bem sucedido quando:

Ü Os problemas ou sintomas originais que levaram ao tratamento praticamente

desapareceram ou melhoraram muito;

Ü Os membros da família tem confiança em sua capacidade de utilizar os próprios

recursos para resolver os problemas;

Ü A família sente que aprendeu novas estratégias para manejar os problemas presentes e

os problemas futuros que poderão surgir;

Ü Os membros da família se sentem mais à vontade uns com os outros;

Ü A família não precisa mais da ajuda do terapeuta para expressar idéias e sentimentos;

Ü O terapeuta e a família concordam que chegou o momento de terminar.

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Às vezes, toda a família, os pais ou um indivíduo quer voltar à terapia. Uma vez

que as famílias atravessam diferentes estágios de vida que apresentam novos desafios, um

retorno à terapia não é uma coisa incomum, podem precisar de mais ajuda do terapeuta se:

Ü Se os esforços para resolver uma situação não estão funcionando;

Ü O problema está piorando, em vez de melhorar, à medida que tentam resolvê-lo;

Ü O problema ficou crônico e perturbador na vida familiar;

Ü O problema está afetando o sentimento de bem-estar da família;

Ü Existem dúvidas sobre se a família precisa entrar novamente em tratamento.

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CONCLUSÃO

O campo da terapia familiar pode ser dividido, de uma maneira geral, em

abordagens sistêmicas e abordagens psicanalíticas. É importante que esta divisão possa ser

tomada sem rigidez e que consideremos a possibilidade de articular diferentes abordagens

no trabalho com famílias. Para chegarmos à nossa proposta de articulação dos diferentes

enfoques, faz-se necessário compreendermos os caminhos do surgimento e da organização

do campo das terapias de família.

Na organização do campo da terapia familiar distinguimos duas grandes

abordagens: as sistêmicas e as psicanalíticas. Através dos dois enfoques é essencial

estudar a articulação entre o indivíduo e seu grupo familiar, levando em conta as

descobertas significativas, não nos prendendo somente a teorias.

Podemos observar que dependendo do tipo de demanda familiar, pode-se escolher

um referencial de compreensão mais sistêmico ou mais psicanalítico. É importante

escolher um quadro de pensamento, mas este não deve ser rígido pois, a visão sistêmica e a

visão psicanalítica não se excluem mutuamente.

Percebe-se que não se trata de afirmar que um modelo é melhor que o outro ou que

um grupo detém a solução, mas de poder atender esta ou aquela família na abordagem

terapêutica que melhor responda ao seu estilo. Considera-se importante a consistência

entre teoria e prática, a coerência com uma determinada posição epistemológica. Dentro

de uma mesma posição epistemológica, incontáveis modelos de atendimento são possíveis.

Só não podemos deixar de perceber que há sim, diversos modos de fazer terapia, mais que

cada tipo vai estar relacionado com as distintas características dos terapeutas, para aplicá-

los.

Observamos que é na nossa família que aprendemos a ouvir e a nos expressar de

modo que os outros possam compreender nossos sentimentos e idéias. Quando toda a

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família tenta melhorar nesse aspecto, cada um de seus membros se torna mais capaz de

relacionamentos mais profundos e mais ricos dentro da família e com as outras pessoas.

A terapia familiar pode parecer um trabalho duro, mais seus resultados são

incrivelmente importantes, pois durante o período em que estão resolvendo os problemas

em terapia, pode-se perceber que os membros da família vão: se sentir mais bem-sucedidos

como grupo e melhor em relação a si mesmos como indivíduos; se comunicar mais

efetivamente dentro da família e com os outros; ser capazes de se apoiar mutuamente

quando precisarem; aprender a manejar o estresse e a raiva construtivamente; sentir menos

depressão, ansiedade e sintomas físicos; e se sair melhor e se sentir mais à vontade nos

relacionamentos íntimos.

Supõe-se que a leitura sobre o tema: “A Terapia Familiar no século XXI: um estudo

comparativo”, gere uma contribuição e um maior aprofundamento sobre o assunto,

ajudando na formação profissional da área, em virtude da expectativa investida durante o

processo de construção desta monografia.

Conclui-se que não devemos hesitar em fazer contato com um terapeuta, com a

finalidade de ajuda e decisão se é necessário uma consulta, pois tanto como profissionais

devemos saber se precisamos também de terapia e não sermos somente terapeutas,

levantando a seguinte questão: os terapeutas também tem família.

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

INTRUDUÇÃO

CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA

1.1 – As Imagens da Família

1.2 – Da Família Medieval a Família Moderna

1.3 – Formação da Família Brasileira e Transformações Atuais

CAPÍTULO II

UM BREVE HISTÓRICO DA TERAPIA FAMILIAR

2.1 – Surgimento da Terapia Familiar

2.2 – Abordagens Sistêmicas

2.2.1 – A Escola Estratégica

2.2.2 – A Escola Estrutural

2.2.3 – A Escola de Milão

2.2.4 – A Escola Construtivista

2.3 – Abordagens Psicanalíticas

CAPÍTULO III

FAMILIA E TERAPIA

3.1 – Por que Terapia Familiar?

3.1.1 – Que Tipos de Famílias a Terapia Pode Ajudar?

3.1.2 – Por que Envolver Toda a Família?

3.1.3 – Preocupações a Respeito da Primeira Sessão

3.1.4 – Novas Maneiras de Ver os Problemas Familiares

3.2 – Como o Terapeuta Passa a Conhecer a Família

3.2.1 – O que Acontece depois da Sessão Inicial?

3.2.2 – E se os Membros da Família Sentirem Vontade de Desistir?

3.2.3 – Chegou a Hora de Parar a Terapia?

CONCLUSÃO

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título da Monografia: A Terapia Familiar no século XXI: um estudo comparativo Data da Entrega: 1º de julho de 2003. Avaliação: Avaliado por: Grau:

Rio de Janeiro, de de 2003.