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A TEORIA DOS WHITE-COLLAR CRIMES, SUAS DIVERGÊNCIAS CONCEITUAIS E A NECESSÁRIA REFLEXÃO SOBRE AS TÉCNICAS DE TUTELA Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 94/2012 | p. 417 | Jan / 2012 DTR\2012\23 Guilherme Gouvêa de Figueiredo Mestre e Especialista em Ciências Jurídico-criminais pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Doutorando em Ciências Penais pela UFMG. Advogado criminal. Área do Direito: Penal Resumo: A despeito da expressão "crimes de colarinho branco" ser extremamente recorrente, poucos são os que tencionam atribuir ao conceito um verdadeiro sentido operativo. Ademais, a tentativa de especificar, mesmo que a traço largo, o conteúdo da categoria e inseri-la no contexto da criminologia crítica ganha atualidade à medida que se nota a sua capacidade de descortinar todo um contexto de privilégio e seletividade, desdenhado pelas abordagens eminentemente jurídicas. E o "núcleo duro" do trabalho é exatamente a procura - pela via de uma abordagem que releva a criminologia, o direito penal e a política criminal, numa autêntica relação de "unidade funcional" - por alternativas jurídico-criminais idôneas e legítimas para a tutela dos crimes of the powerfull. Palavras-chave: Criminologia - Crimes de colarinho branco - Direito penal secundário - Direito penal econômico - Política criminal - Técnicas de tutela - Teorias da pena - (Des)criminalização - Direito administrativo sancionador Abstract: In spite of the extreme recurrence of the expression "white collar crimes", few intend to give this concept a true operating sense. Furthermore, the attempt, to even broadly speaking, specify the contents of the category and insert it into the context of critical criminology, grants it a current status and the capacity to unveil a context of privilege and selectivity is noticed, while disregarded by the purely juridical approaches. The "hard core" of this work is precisely the search - through an approach that places criminology, criminal law and criminal policy in a true relationship of a "functional unit" - for ideal and legitimate legalcriminal alternatives to provide judicial relief for the crimes of the powerful. Keywords: Criminology - White collar crimes - Secondary criminal law - Economic criminal law - Criminal policy - Judicial relief techniques - Theories of punishment - (De)criminalization - Administrative punishment law Sumário: 1.INTRODUÇÃO - 2.DIVERGÊNCIAS CONCEITUAIS À VOLTA DA CRIMINOLOGIA DOS WHITECOLLARS - 3.CRIMES DE COLARINHO BRANCO E CRIMINOLOGIA CRÍTICA - 4.CRIMES DE COLARINHO BRANCO E SISTEMA JURÍDICO-PENAL (CRIMINALIZAÇÃO, TÉCNICAS DE TUTELA E MODELO SANCIONATÓRIO) - 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS - 6.BIBLIOGRAFIA 1. INTRODUÇÃO 1.1 As vantagens de se pensar o problema criminal da perspectiva de uma “ciência conjunta” Há muito se sabe que o estudo do direito penal (em sentido estrito), enquanto estudo dogmático dos pressupostos e categorias normativas que predicam como crime uma conduta humana e a ela atribuem uma pena, não deve ocorrer de modo isolado e alheio a contribuições oriundas de outras disciplinas afins. Tornou-se lugar comum, sobretudo em terreno europeu, a necessidade de ser o direito penal permeado por incursões provenientes de outras disciplinas, que também tem no fenômeno criminal o seu eixo fundamental de problematização: a criminologia e a política criminal. “Foi ao tentar englobar este conjunto de disciplinas numa unidade coerente e harmoniosa que Liszt criou o designativo, que se tornaria justamente célebre de ‘ciência global (total, universal ou conjunta) do direito penal’”. 1 Pretendia Liszt atentar para o fato de ser o direito penal – visto como disciplina normativa e sujeita a pressupostos dogmáticos – sempre impotente para dar, com seus instrumentos particulares de atuação, uma resposta contundente a todos os questionamentos que o “problema criminal” evoca. 2 Mas não se deve pensar que Liszt, a partir a ideia de uma “ciência conjunta” do direito penal, A TEORIA DOS WHITE-COLLAR CRIMES, SUAS DIVERGÊNCIAS CONCEITUAIS E A NECESSÁRIA REFLEXÃO SOBRE AS TÉCNICAS DE TUTELA Página 1

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WHITE-COLLAR CRIMES crime de colarinho branco

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  • A TEORIA DOS WHITE-COLLAR CRIMES, SUAS DIVERGNCIASCONCEITUAIS E A NECESSRIA REFLEXO SOBRE AS TCNICAS DE

    TUTELARevista Brasileira de Cincias Criminais | vol. 94/2012 | p. 417 | Jan / 2012

    DTR\2012\23

    Guilherme Gouva de FigueiredoMestre e Especialista em Cincias Jurdico-criminais pela Faculdade de Direito da Universidade deCoimbra. Doutorando em Cincias Penais pela UFMG. Advogado criminal.

    rea do Direito: PenalResumo: A despeito da expresso "crimes de colarinho branco" ser extremamente recorrente,poucos so os que tencionam atribuir ao conceito um verdadeiro sentido operativo. Ademais, atentativa de especificar, mesmo que a trao largo, o contedo da categoria e inseri-la no contexto dacriminologia crtica ganha atualidade medida que se nota a sua capacidade de descortinar todo umcontexto de privilgio e seletividade, desdenhado pelas abordagens eminentemente jurdicas. E o"ncleo duro" do trabalho exatamente a procura - pela via de uma abordagem que releva acriminologia, o direito penal e a poltica criminal, numa autntica relao de "unidade funcional" - poralternativas jurdico-criminais idneas e legtimas para a tutela dos crimes of the powerfull.Palavras-chave: Criminologia - Crimes de colarinho branco - Direito penal secundrio - Direito penaleconmico - Poltica criminal - Tcnicas de tutela - Teorias da pena - (Des)criminalizao - Direitoadministrativo sancionadorAbstract: In spite of the extreme recurrence of the expression "white collar crimes", few intend to givethis concept a true operating sense. Furthermore, the attempt, to even broadly speaking, specify thecontents of the category and insert it into the context of critical criminology, grants it a current statusand the capacity to unveil a context of privilege and selectivity is noticed, while disregarded by thepurely juridical approaches. The "hard core" of this work is precisely the search - through an approachthat places criminology, criminal law and criminal policy in a true relationship of a "functional unit" - forideal and legitimate legalcriminal alternatives to provide judicial relief for the crimes of the powerful.Keywords: Criminology - White collar crimes - Secondary criminal law - Economic criminal law -Criminal policy - Judicial relief techniques - Theories of punishment - (De)criminalization -Administrative punishment lawSumrio:

    1.INTRODUO - 2.DIVERGNCIAS CONCEITUAIS VOLTA DA CRIMINOLOGIA DOSWHITECOLLARS - 3.CRIMES DE COLARINHO BRANCO E CRIMINOLOGIA CRTICA - 4.CRIMESDE COLARINHO BRANCO E SISTEMA JURDICO-PENAL (CRIMINALIZAO, TCNICAS DETUTELA E MODELO SANCIONATRIO) - 5.CONSIDERAES FINAIS - 6.BIBLIOGRAFIA1. INTRODUO1.1 As vantagens de se pensar o problema criminal da perspectiva de uma cincia conjunta

    H muito se sabe que o estudo do direito penal (em sentido estrito), enquanto estudo dogmtico dospressupostos e categorias normativas que predicam como crime uma conduta humana e a elaatribuem uma pena, no deve ocorrer de modo isolado e alheio a contribuies oriundas de outrasdisciplinas afins. Tornou-se lugar comum, sobretudo em terreno europeu, a necessidade de ser odireito penal permeado por incurses provenientes de outras disciplinas, que tambm tem nofenmeno criminal o seu eixo fundamental de problematizao: a criminologia e a poltica criminal.Foi ao tentar englobar este conjunto de disciplinas numa unidade coerente e harmoniosa que Lisztcriou o designativo, que se tornaria justamente clebre de cincia global (total, universal ouconjunta) do direito penal.1 Pretendia Liszt atentar para o fato de ser o direito penal visto comodisciplina normativa e sujeita a pressupostos dogmticos sempre impotente para dar, com seusinstrumentos particulares de atuao, uma resposta contundente a todos os questionamentos que oproblema criminal evoca.2

    Mas no se deve pensar que Liszt, a partir a ideia de uma cincia conjunta do direito penal,

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    REFLEXO SOBRE AS TCNICAS DE TUTELA

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  • conferia poltica criminal ou criminologia uma posio privilegiada em relao dogmtica. Emuma designao sempre recorrente, o autor germnico atribua poltica criminal uma posioacessria e secundria, firmando o direito penal como barreira intransponvel da poltica criminal.

    Apesar da ideia de uma cincia conjunta do direito penal no ter sido abandonada ao longo dosculo passado,3 as ulteriores contribuies doutrinrias mais contundentes s vieram partidas doestudo programtico de Roxin, Kriminalpolitik und strfrechtssystm (1970)4 e tiveram o objetivo deredimensionar a relao a interceder entre o direito penal e a poltica criminal. Nos quadros de umEstado de Direito material, assumidas as vantagens de se compreender e interpretar o sistemajurdico-penal de forma teleolgica, foi-se aos poucos sedimentando uma nova postura que seconvencionou chamar de teoria racional-final ou teleolgica (funcional). 5 A poltica criminal deixaento de assumir uma posio somente auxiliar e passa atuar na prpria determinao dosconceitos e categorias dogmticas e, assim, a exercer uma posio privilegiada no discurso jurdico.Efetivamente, so j quase inabarcveis os estudos a reconhecer as benesses de um sistemadogmtico poltico criminalmente ancorado e a confessar a adeso a esta atitude metodolgica que,na formulao de Schnemann, objetiva restabelecer a conexo direta entre as pedras do sistemapenal e a respectiva funo,6 ou, agora com Figueiredo Dias, permitir poltica criminal nosomente reforar a sua posio, j adquirida, de autonomia, mas ganhar uma posio de domnio emesmo de transcendncia face prpria dogmtica;7 tornando-se transsistemtica e competentepara definir os limites ltimos do punvel, ao mesmo tempo que entre ela e a dogmtica jurdico-penalse estabelece uma autntica relao de unidade funcional .8 Tudo isso a emprestar sentido esubstncia expresso de Roxin de que o direito penal h de ser a forma atravs da qual asproposies poltico-criminais se vazam no modus da validade jurdica.9

    Contudo, transcende os objetivos deste estudo um olhar mais profundo sobre tudo o que se afirmou,mormente sobre todos os pontos problemticos que insurgem de uma concepo teleolgica dosistema jurdico-penal.10 Poderamos, de fato, questionar: at que ponto o pensamento doproblema, quando elevado agora a um novo status, no prejudica ou inviabiliza o mtodosistemtico, prprio do direito penal em sentido estrito? Se, agora, as finalidades de poltica criminalno s influenciam, mas determinam o prprio desenho das categorias e conceitos jurdico-penais,de que poltica criminal estamos a falar?11 Seria ela imanente ou extrassistemtica em relao aosistema jurdico-constitucional e aos seus valores polticos institucionalizados? Uma tal metdicateleolgica destitui qualquer sentido apriorstico ou ntico das categorias dogmticas concebidaslegislativamente?12

    1.2 Direito penal, poltica criminal e criminologia: universos distantes

    A resposta para esta srie de indagaes seria extremamente frutuosa se no tivssemos ainda queconfrontar um problema muito mais premente, cingido dura realidade do estado do pensamentojurdico-criminal brasileiro. De fato, se por um lado, pululam aqui e ali ensaios e estudos preocupadosem escancarar a incoerncia das nossas categorias dogmticas ou a falncia poltico-criminal donosso sistema punitivo, por outro, so a prpria doutrina e a prxis acadmica13 a demonstrar adistncia entre as construes jurdicas e todo o horizonte poltico-criminal e criminolgico que ascondena. Aprisionado aos pressupostos metodolgicos do finalismo e a um pragmatismo apoltico, oestudioso do direito penal ainda desmerece todo um universo de conhecimento que no somentereflete e aponta solues para a questo criminal como dialoga e intervm nas construeseminentemente jurdicas.O direito penal para os juristas, exclusivamente para os juristas. A qualquer indbita intromissono nosso Lebensraum, faamos ressoar, em toque de rebate, nossos tambores e clarins!, diziaNlson Hungria dcadas atrs.14 Pois se, naquela altura, o ilustre doutrinador combatia com fervor ainterferncia do cientista social no seu pequeno universo dogmtico, com o mesmo fervor quedevemos, agora, reconhecer a urgncia de uma tal interferncia. Mais do que isso, urge, pois, quens, vertidos ao direito, tomemos tambm como nossa a tarefa de encontrar solues satisfatriasdiante da falncia das respostas institucionais ofertadas para o combate criminalidade.15

    E tudo isso to mais urgente quanto mais se nota, um pouco por todo lado, o quadro de crise porque passa a cincia do direito penal (em sentido estrito).De um lado, as categorias dogmticas que compem o sistema se mostram, com o recorte atual que

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  • a doutrina lhes imprime, antiquadas e carentes de um olhar poltico-criminalmente interessado.Assim, a ttulo meramente explicativo, o conceito finalista de ao, a doutrina da imputao objetiva eo dogma da causalidade, o ilcito-tpico e o conceito material de crime, a doutrina da culpabilidadecomo culpabilidade da vontade, a teoria da dosimetria da pena e as finalidades de preveno gerale especial etc. Para todos estes problemas a poltica criminal oferece respostas que no somenteauxiliam na reforma penal, mas que, tal como acima se descortinou, atuam no plano de jureconstituendo a permitir uma renovada determinao dos conceitos dogmticos pala via de umapenetrao axiolgica.

    De outro lado, para alm da velada crise por que passa a dogmtica jurdico-penal, muito maisdeclarado o quadro desordenado e ilegtimo que se desenha quando em conta a relao entre oproblema criminal e as respostas institucionais que o direito penal oferece. De fato, observamosuma poltica legislativa em que o que sobreleva o desrespeito por parte do legislador amandamentos poltico-criminais que buscam restringir a interveno penal a condutas de fatoofensivas a valores fundamentais sobrevivncia da sociedade (bens jurdico-penais) e, ademais,aos casos em que a cominao, aplicao e execuo da pena ineficaz do ponto de vistapreventivo geral e especial. Desdenha-se, pois, a necessidade de criminalizar somente condutas defato relevantes, o que implica num conjunto legislativo casusta e simblico;16 por outro lado,segue-se uma orientao de recrudescimento das respostas punitivas em relao aos crimes dosmenos favorecidos e, em contrapartida, uma parca interveno, do ponto de vista da sua efetividadepreventiva, em relao criminalidade econmica e poltica.1.3 White-collar crimes, criminologia e direito penal

    Se nos achegarmos mais proximamente criminalidade de colarinho branco, veremos que aminguada interveno acima referida no significa, por sua vez, a no edio de tipos penais deforma aleatria, nos moldes de uma corrida para o direito penal. Em outras palavras, sintoma aineficcia dos instrumentos formais de controle para a tutela efetiva de crimes desta sorte a ediocasusta e inflacionada de tipos legais de crime, sobretudo no mbito do direito penal secundrio.Esta inflao legislativa em relao ao direito penal extravagante, nomeadamente quele setorlegislativo que busca punir os crimes dos poderosos (v.g. a lei de crimes ambientais, crimes contra aeconomia popular, contra a ordem econmica, contra a propriedade industrial, contra o sistemafinanceiro etc.) fenmeno causado to s para censurar fatos (e no seus autores, por no semostrarem perigosos), uma vez que no geram penalidade in concreto. Trata-se de uma legislaopromulgada para ser virtual, cuja finalidade ser estigmatizante de determinados fatos e, a um stempo, indulgente para com seus autores.17

    Todo o dito para que possamos afirmar, agora com maior rigor, que uma alternativa satisfatria paraos problemas acima levantados mais especificamente a busca por respostas institucionais(jurdicas) alternativas aptas a combater de forma minimamente eficaz e legtima a criminalidade dewhite-collar s ser encontrada se partirmos de uma abordagem criminolgica. semelhana doque deve ocorrer com a poltica criminal, tambm a criminologia reivindica uma posio deautonomia e transcendncia em relao ao horizonte jurdico-criminal. E exatamente por meio dopensamento criminolgico que pretendemos encontrar algumas respostas para a ineficcia dosistema jurdico-penal no controle dos crimes of the powerfull; respostas que devero influenciar, nosmoldes de uma autntica relao de unidade funcional, o sistema institucionalizado de controle deum modo geral, e, mais precisamente, a partir de mandamentos de poltica criminal, a cincia dodireito penal em sentido estrito.18

    2. DIVERGNCIAS CONCEITUAIS VOLTA DA CRIMINOLOGIA DOS WHITECOLLARS2.1 A proposta de Sutherland e a seletividade dos instrumentos formais de controle

    Antes da notvel obra de Edwin Sutherland,19 o problema da criminalidade dos poderosos erasempre deixado margem, j que as correntes do pensamento criminolgico que se sucediamsempre se voltavam para a tentativa de condicionar a explicao do fenmeno criminal a partir dapobreza.20

    Abandonando a ideia de que o crime teria causas plurvocas, j na dcada de 30 o criminlogo iniciao seu empreendimento de buscar por uma teoria geral explicativa do crime. Para tanto, aproxima-sedas explicaes sociolgicas do crime em detrimento da viso do criminoso como algum com uma

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  • constituio biolgica anormal. O crime, segundo o autor, pode ser (e geralmente ) cometido porindivduos absolutamente normais, que somente o fazem por terem sido influenciados por padresfavorveis ao desvio.21

    O criminoso, para a teoria da associao diferencial,22 adota um comportamento desviante medidaque se associa a determinados grupos. Ocorre sempre que h motivao para a sua prtica e umaprendizado sobre o procedimento para o seu cometimento, provenientes ambos do interior degrupos sociais. Portanto, toda vez que os valores e interesses dominantes no seio de umdeterminado grupo social forem favorveis deviance o indivduo violar a lei, precisamente porqueos estmulos favorveis a tal comportamento excedem os desfavorveis.23 As chamadas leis daimitao, aventadas por Tarde,24 sugerem que, assim como as classes sociais exercem influnciaumas sobre as outras, tambm os empregados tendem a imitar seus empregadores e os filhos aseus pais. Portanto, apesar de determinados indivduos possurem alguma maior propenso para ocomportamento criminoso, a delinquncia manifestao de um processo de comunicao ocorridodurante a socializao do indivduo.

    Da a importncia que o autor atribui aos crimes de white-collar na sua teoria. No h maior exemplode no ser a diferena econmica ou social o fator determinante para a prtica criminosa do que asinfraes praticadas por agentes dotados de elevado status social, poltico ou econmico. , pois, acriminalidade de colarinho branco que comprova a pertinncia da teoria da associao diferencial,levando o clebre criminlogo a um estudo aprofundado das suas especificidades e causas.

    Debruado sobre esta espcie de crime e criminoso, desenvolve uma definio em que sobressai oentono subjetivo. Segundo Sutherland, crime de colarinho branco pode ser definidoaproximadamente como um crime praticado por uma pessoa, de respeitabilidade e elevado statussocial, no curso da sua ocupao.25 De tal acepo podemos j descortinar alguns dos elementosmais marcantes da sua proposta.26

    Em primeiro lugar, por mais evidente que possa parecer, a deviance de colarinho branco devesempre constituir uma infrao penal. A obviedade de uma tal afirmao perde sentido se nosativermos a grande parte das crticas que sobrevieram a este aspecto da teoria de Sutherland. Defato, como logo veremos, entre as ulteriores anlises que se deram volta da criminalidade decolarinho branco, um dos aspectos mais marcantes, seno o mais importante, relaciona-se seletividade operada pelas instncias formais de controle. Seletividade que se daria j no momentoda criminalizao pelo legislador e que permitiria afirmar, com rigor, que parte das infraescometidas por agentes influentes no se adquam, formalmente, a um tipo legal de crime.27

    Por outro lado, os crimes de colarinho branco so sempre praticados por um grupo especfico deagentes: pessoas dotadas de grande respeitabilidade e status social, no exerccio de suasocupaes profissionais. E, por serem sempre cometidos no exerccio da atividade profissional, soinfraes que ocorrem, em regra, a partir de uma violao de confiana.28

    Tambm, na quase totalidade dos seus escritos, Sutherland, de forma direta ou velada, pretendesempre chamar a ateno para o esquecimento que distingue as atividades criminosas praticadaspelos inatingveis. Esquecimento este que se deve, de uma perspectiva mais generalizante, a umtratamento distinto que ocorre tanto pela sociedade de um modo geral como pelo instrumentosinstitucionais de persecuo e controle. E a realar este ltimo elemento definidor viria logo emseguida todo o um elenco de autores atrelados ao paradigma da reao social.29

    Portanto, a famosa definio aventada pelo criminlogo restringia o crime de colarinho brancoquelas condutas praticadas por agentes dotados de respeitabilidade e status no exerccio de suaatividade profissional. Com um tal significado era possvel e essa era uma inteno declarada doautor chamar a ateno com alguma repulsa para a forma benvola com que os white-collars eramtratados pela sociedade e pelas instituies formais de persecuo.

    E no se contentou em declarar o tratamento favorecido que distinguia esta sorte de crimes dacriminalidade comum, seno props descortinar as razes para um tal favorecimento. Ora, por seremos agentes pessoas veneradas, o status e a respeitabilidade geraria um misto de respeito, admiraoe medo nos administradores da justia. Acresce a isto o fato de serem os agentes favorecidos e osmembros das instncias de persecuo (juzes, promotores, delegados) pertencentes a um mesmouniverso cultural, o que prejudicaria a atribuio do estigma de criminoso. Um outro elemento

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  • explicativo invocado para justificar a desigualdade na aplicao da justia estaria e a este pontodeveremos retornar repetidas vezes no descrdito e na ineficincia do sistema legal. E por maisque existisse uma previso legal, haveria uma dissintonia entre a legislao e os hbitos herdadosde comportamentos passados, favorveis infrao e ainda no sedimentados na conscinciacoletiva.30

    Do brevemente exposto, ser possvel destacar o que talvez seja ponto essencial da doutrina deSutherland e para o qual convergiam suas preocupaes mais prementes: a brandura com que eramtratados os criminosos de colarinho branco e a consequente necessidade de um qualquerendurecimento por parte das instituies repressivas.312.2 Colorindo o crime e no o criminoso

    Mas, a despeito de todo o mrito da teoria da associao diferencial e da noo proposta porSutherland acerca dos white-collars, a sua concepo fora de seguida objeto de uma srie dereapreciaes. Todas com o intuito de redimensionar o conceito e imprimir-lhe contornos maisobjetivos.32 Os ulteriores significados propostos tentaram promover uma democratizao dowhite-collar crime e, ao mesmo tempo, revolver os elementos determinantes daquela criminalidadedos aspectos subjetivos vinculados ao agente para as definies que assinalavam para o horizontedas caractersticas especficas da infrao.33

    A notvel definio atrs demarcada foi combatida por dar excessiva relevncia aos criminosos e,nesta mesma medida, desdenhar as peculiaridades que caracterizam o crime. 34 Dentre os autoresque se atreveram a uma concepo mais atenta s especificidades do crime merece destaque otrabalho de Shapiro, para quem devemos colorir o crime e no o criminoso.35 Centrando nocomportamento criminal, a tentativa era de purificar o antigo conceito, criticado por confundir asnormas com os infratores e as formas de execuo do crime com o executor. O que definiria o crimede colarinho branco seria principalmente a violao da confiana: os criminosos de colarinho brancodesenvolvem sua atividade delituosa de forma muito distinta do criminoso comum, j que, para almde quase nunca recorrerem violncia, utilizam-se de artifcios peculiares relacionados aoaproveitamento dos vnculos de confiana, que se multiplicam ao passo em que as relaes sociais eeconmicas se tornam mais complexas, e burla pelo emprego fraudulento de conhecimentos muitoespecficos e refinados. Assim, partidos de uma definio que se afirma no modus operandi doagente e no em caractersticas deste ltimo, as formas de controle social aptas a surtir algum maiorefeito preventivo deveriam centrar seus esforos na anlise dos meios que levam quela violao daconfiana.36

    Contudo, se, por um lado, o significado por ltimo delimitado pretende purificar o conceito e conferirao mesmo uma maior operatividade, fato que, deste modo, amplia-se a noo de white-collar crimea todo um conjunto de condutas em que as caractersticas do agente so lanadas a um segundoplano, seno absolutamente subestimadas. Da que, partindo desta nova conceituao, estende-se owhite-collar crime tambm aos blue-collar criminals, o que acarreta inevitavelmente uma diversaresposta para o problema fulcral da seletividade das instncias de controle como decorrncia daespecial posio econmica e social dos agentes. Diversa exatamente por no serem ascaractersticas relacionadas aos agentes os fatores determinantes desta espcie de comportamentocriminoso. Ora, se obviamente no podem ser negligenciadas as vantagens desta maneira de seconceituar os crimes de colarinho branco, nomeadamente pelo mrito irrenuncivel de se atentarpara as especficas formas de cometimento das infraes,37 estas construes no podem, emcontrapartida, ser to operativas no momento de se demonstrar como a seletividade e o tratamentodesigualitrio das instncia de controle se do.

    Portanto, cremos que, assumindo esta como a nossa preocupao essencial de buscar respostasjurdico-criminais notria seletividade institucional que ocorre em relao a crimes praticados poragentes influentes -, as referncias categoria dos crimes de white-collar devem centralizar-se nosautores mais contemporneos, que, seguindo mais proximamente a Sutherland, no abandonaram aconceituao dos crimes de colarinho branco partindo da posio privilegiada dos agentes diversamente do que defendem Hirschi/Gottfredson ou Croall38 e que portanto apontam no parauma mudana de enfoque conceitual to drstica apta a abarcar tambm os blue-collar crimes(crimes cometidos por uma classe social menos favorecida). Assim, socorreremo-nos naquelesautores que se mantm na defesa de um conceito mais estreito dos occupational e corporate crimes,39 entretanto, mais operativo para efeitos de constataes criminolgicas.40

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  • 3. CRIMES DE COLARINHO BRANCO E CRIMINOLOGIA CRTICA

    Modernamente, o pensamento criminolgico passou por uma grande reviravolta, ocorrida em vriosnveis. Transformaes que, de alguma forma, direta ou transversa, tem grandes imbricaes naliteratura especializada sobre os crimes de white-collar e que, por isso, merecem a nossa ateno.De resto, podemos afirmar que toda uma renovao metodolgica e de sentido fica a dever chamada criminologia crtica e s suas vertentes fundamentais: a interacionista e a radical. Assim,depois de discorrermos, em linhas gerais, sobre estas duas grandes manifestaes da criminologiacrtica e sendo a nossa fulcral preocupao a tentativa de encontrar na doutrina dos white-collarcrimes algumas proposies fundamentais a permitir uma anlise crtica da nossa realidadejurdico-instituconal -, oportuno ser buscar, tanto entre os tericos do labeling quanto entre osradicais, alguns pontos de sintonia e contradio com a doutrina desenvolvida a partir dopensamento de Sutherland.

    Partindo-se de renovada perspectiva, o criminoso, num primeiro momento, deixa de ser visto comoalgum a quem se deve imprimir um qualquer predicado negativo, sendo a adeso a valores,normas, definies e o uso de tcnicas que motivam e tornam possvel um comportamentocriminoso, um fenmeno no diferente do que se encontra no caso de comportamentos conforme lei.41 O que diferencia o comportamento desviado do normal depende muito menos da assunode uma postura interior intrinsecamente positiva ou negativa do que da definio legal e social, quedetermina quais devem ser as condutas aceitveis e quais as criminosas. Da mesma forma, o crimeperde o seu trivial significado de conduta atentatria a valores consensuais e indispensveis manuteno da ordem social, ao passo que a doutrina criminolgica vai progressivamentereconhecendo o carter crimingeno desta mesma (des) ordem social.Oportuna ser, pois, uma breve referncia discusso volta da problemtica da criminologia doconsenso vs. criminologia de conflito. Ora, enquanto a primeira aposta na existncia de valorescomuns e indispensveis manuteno da sociedade e no direito como forma de assegurar o livreexerccio de tais valores; a segunda, de inspirao crtica,42 desdobra-se para demonstrar queaqueles mesmos valores, reforados pelos instrumentos institucionais, exprimem no mais do que avontade das classes sociais dominantes. O modelo criminolgico do conflito ficou a dever a umapluralidade de matrizes tericas, marxistas e no marxistas,43 e a sua transposio mais detalhadapara o pensamento criminolgico encontrou eco principalmente nos setores da nova criminologia (oucriminologia radical) que, como se ver, tiveram como fundamental o propsito de descortinar ocarter classista do direito criminal.44

    De mais a mais, entre as matrizes da criminologia do conflito e a doutrina dos white-collar crimespodemos encontrar estreitas conexes. Isto porquanto ambas voltam suas preocupaes para aseletividade que ocorre j no momento da criminalizao e para o favorecimento e privilgio que asinstncias formais de controle concedem aos indivduos pertencentes s classes superiores.Portanto, tanto para os criminlogos do conflito como para os do colarinho branco,45 a legislaorepressiva , a um s tempo, extremamente dura para a punio da criminalidade comum e benvolapara com a que tem como agentes indivduos influentes. Este favorecimento ocorre j no plano dacriminalizao, dado o carter extremamente fragmentrio e lacunoso da legislao criminal, e, nummomento posterior, pela desigualdade no sancionamento e a seletividade promovida pelas instnciasformais de controle.46

    3.1 Criminologia crtica, labeling approach e colarinho branco

    Adiante, com o advento das teorias da reao social, ou labeling approach, a prpria definiodos objetivos e mtodos de investigao criminolgica que posta cabea abaixo. Partindo de umanotvel inverso de sentido, os criminlogos do labeling deixam de lado a tradicional busca pelasrazes do fenmeno criminal nos fatores (biolgicos, psicolgicos ou sociais) que interferem napessoa do criminoso e se voltam para os mecanismos institucionais de definio, seleo e controle.Assim, as teorias do etiquetamento procuram uma resposta para o problema da criminalidade pormeio de uma postura assumidamente crtica, que se ocupa em condenar as instncias formais decontrole, enquanto formas constitutivas e no preventivas da criminalidade. Portanto, a prpriadefinio institucional de crime teria um efeito estigmatizante ao determinar previamente e de formano consensual quais so os comportamentos atentatrios ordem social.

    A orientao metodolgica dos tericos do labeling approach se concentra em duas direes

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  • fundamentais, que, da perspectiva da doutrina da reao social, se podem condensar na distinoentre delinquncia primria e delinquncia secundria.47 Esta distino desenvolvida por Lemert, considerada o grande marco para o desenvolvimento da perspectiva interacionista. De fato, toda ainvestigao interacionista, radicada na busca por solues declarada estigmatizao operadapelas estruturas sociais, procura por respostas a duas grandes indagaes: quais so os critriosem nome dos quais certas pessoas e s elas so estigmatizadas como delinquentes? e quais asconsequncias desta estigmatizao?.48

    A resposta primeira delas se busca fundamentalmente a partir da anlise geral dos mecanismos deseleo e controle, responsveis pelo processo de criminalizao primria e pela fragmentariedadedo ordenamento jurdico-penal. Nesta linha, os autores do labeling, partidos de uma pretensaneutralidade poltica,49 atacam grande parte dos mandamentos de criminalizao por seremcontrrios ao pluralismo cultural e a valores legtimos pertencentes a parcelas segregadas dasociedade. Por outro lado, o prprio processo de criminalizao e controle, assim como as instnciasinformais, so considerados responsveis, por meio da simbolizao normativa que promovem, pelaestigmatizao de determinados indivduos como delinquentes. Eis, em breves linhas, os motivosque determinam a estigmatizao de determinadas pessoas no ambiente social antes mesmo deuma resposta desviante e que implicam num rearranjo da atitude do indivduo consigo mesmo e dopapel por ele desempenhado no seio social.

    Quanto segunda indagao, a resposta se encontra partindo da construo de uma pliade deconceitos cunhados para a determinao do impacto das respostas sociais ao desvio, ou seja, para aaferio das consequncias das respostas sociais na formao da identidade dos indivduos e naschamadas carreiras criminais.50 Obtm-se, portanto, numa relao de dilogo com a primeira, aresposta segunda indagao. A ento chamada delinquncia secundria seria uma consequnciada interiorizao bem sucedida pelo indivduo do estigma de delinquente. Assim, o desvio no caracterstica de uma ao praticada por um indivduo, mas um rtulo social e institucional que seatribui a algum, estigmatizado ento como desviante ou outsider. Da emerge todo um ambienteintelectual de repulsa reao social promovida contra os indivduos rotulados como desviantes.

    Para um estudo crtico dos processos de desviao secundria, os tericos do labelling procuramdeslindar os mecanismos de etiquetamento da perspectiva dos que rotulam e da dos que sorotulados (role-engulfment). Ora, como se viu, a seleo que ocorre no plano das estruturas sociais,v.g. os processos de criminalizao, em si uma demonstrao de uma definio antecipada eestereotipada que a sociedade promove. Alm disso, da perspectiva do indivduo etiquetado, o fatode se inserir nesta definio j em si um fator estigmatizante. E o comportamento propenso aodesvio secundrio se concretiza medida que o indivduo se percebe como um outsider. Da o fervorcom que a doutrina do etiquetamento condena todo o procedimento de seleo e persecuo. Desdea criminalizao, passando pelo contato com os rgos de investigao e controle at o finaljulgamento, as chamadas cerimnias degradantes, furtam a identidade dos submetidos e lhesatribuem uma outra. A forma teatral e ritualizada como ocorrem as atuaes estigmatizantesinterferem de tal forma na autoimagem do indivduo que os torna cada vez mais donos dosestigmas que lhes so atribudos. Na formulao de Becker, tratar uma pessoa como se ela nofosse, afinal, mais do que um delinquente acaba por funcionar como umprofecia-que-a-si-mesma-se-cumpre. Pe em movimento um conjunto de mecanismos quecompelem a pessoa a conformar-se e a corresponder com a imagem que o pblico tem dela.Quando o desviante apanhado, tratado em harmonia com o diagnstico vulgar. E o tratamentoque provavelmente provocar um aumento da delinquncia.51 Em outras palavras, a estigmatizaopblica como desviado e criminoso implica na atribuio pessoa de um papel desviado, quefinalmente adota e conforme o qual se comporta.52

    Como se evidenciou, o grande mrito da teoria do etiquetamento est numa profunda rupturaepistemolgica que inverte o objeto de investigao criminolgica do homem delinquente para osistema de aplicao da justia. J da perspectiva da doutrina dos white-collar crimes, no sendoesta inverso metodolgica um elemento distintivo,53 fato que aqui j sobrevm uma frequentepreocupao em demonstrar reiteradamente a seletividade nos procedimentos de persecuo doscrimes dos poderosos, e, portanto, um abrir de olhos para o carter desigualitrio do funcionamentoda Justia.

    H que se destacar ainda a influncia que ambas as correntes sofreram do interacionismosimblico. Tanto as teorias do etiquetamento quanto as do colarinho branco desenvolvem uma

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  • concepo segundo a qual a formao do comportamento criminal se baseia no aprendizado.54 Sque, enquanto para a doutrina do etiquetamento o comportamento delituoso, assimilado por meio dacriminalizao e da atribuio de rtulos, seria neutro, para a teoria da associao diferencial essascondutas, estimuladas por meio de um processo de comunicao no interior de grupos, eram tidascomo criminosas, mesmo no havendo uma formal criminalizao. Da a frequente meno feitapelos autores do labeling aos crimes de colarinho branco para asseverar a ideia de etiquetamento.Assim, enquanto a criminalidade comum manifesta a predominncia de valores no consensuais e anecessidade de uma reao social estigmatizante, a criminalidade de white-collar no possuinenhum efeito de rotulao em relao a seus agentes.55 Portanto, o comportamento doswhite-collars frequentemente no previsto pela lei, ou proibido mas desacompanhado de um efetivosancionamento, como carece daquela reao social, comunitariamente considerado incuo e noacarreta qualquer estigmatizao para seus agentes. Os poderosos preservam assim a suareputao e bom nome independentemente das prtica ilcitas que adoptem.56

    Por ser a criminologia da reao social extremamente avessa aos instrumentos institucionais decontrole, nomeadamente os processos de criminalizao, as vias institucionais de persecuo57 ascerimnias degradantes de que falava Garfinkel58 e a pena privativa de liberdade (cunhadas comoinstituies totais), as propostas reformistas vo por caminhos no institucionais. Em contrapartida,j para os teorizadores do white-collar, em resposta premente impunidade que caracteriza oscrimes dos inatingveis, deveria haver por parte das instituies criminais no s um endurecimentodas sanes em relao aos crimes j tipificados como uma crescente busca pela edio de novostipos legais de crime.3.2 White-collar crimes e criminologia radical

    A seguir ao aparecimento da doutrina do etiquetamento, a criminologia crtica passa por umacrescente politizao. A ento nova criminologia 59 dos anos 70 viria a apontar para certas limitaesdas construes desenvolvidas pelos autores do labeling. Estes so criticados por apresentaremuma teoria de mdio alcance medida que no oferecem respostas satisfatrias aos problemasque os mesmos se propuseram a descortinar.60 Estas teorias teriam reduzido o estudo dacriminalidade prpria definio legal ocorrida no momento da criminalizao, deixandoconsequentemente fora do seu horizonte de anlise a discusso sobre a existncia de uma srie deoutros interesses merecedores de tutela.61 Por outro lado, so criticadas por negligenciarem aanlise politicamente interessada, de fatores sociais e econmicos, que deveria oferecer umaenorme contribuio para o discurso criminolgico.

    A nova criminologia, tambm chamada de criminologia radical, busca, por sua vez, oferecer umateoria criminolgica globalizante. Para tanto parte para o questionamento das estruturas sociais,econmicas e polticas que avalizam a manuteno de uma sociedade desigual e fragmentada eque, assim, reproduz um modelo de controle da criminalidade tambm injusto e fragmentado.62Partindo da crtica dos postulados positivistas, avana para uma abordagem que contempla adefinio legal de crime como uma tentativa institucional de adaptar os valores da classetrabalhadora aos da classe dominante. Por meio do carter estigmatizante e coercitivo do sistemapunitivo, o Estado pretende tornar consensual a necessidade de obedincia a determinados padresde comportamento que na verdade afirmam as vontades das classes mais favorecidas. Sendo assim,as reformas que foram propostas pelas correntes criminolgicas logo anteriores so menosprezadaspor perpetuarem o carter classista do aparato punitivo estatal. E exatamente por isso que esteramo da criminologia chamado de radical. Os pressupostos tericos de que parte, bem como aintencionalidade poltica que a caracteriza, levam a criminologia radical a recusar todas as tentativasde conceptualizao j ensaiadas: porque partem de perspectivas epistemolgicas viciadas e, almdisso, funcionam como racionalizao de legitimao ou mesmo apologtica da ordem vigente.63Da surgem domnios do pensamento criminolgico radical que aspiram, avessos s tendnciasreformistas impulsionadas pela tentativa de minimizar o carter desigualitrio do sistemajurdico-penal, utilizao do sistema como um instrumento revolucionrio de transformao dasociedade.64

    A este setor da criminologia critica foram dirigidas uma srie de objees, a atestar o seu carterutpico e a insuficincia das alternativas institucionais oferecidas. Isto porque estas doutrinasencontrariam extremas dificuldades em conciliar de forma coerente as vertentes interacionista ematerialista, principalmente por privilegiarem a segunda em detrimento da primeira. De fato, aominimizar a tradicional correlao entre crime e estratificao social, foi-se progressivamente

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  • abandonando o empenho reformista (que buscava modelos alternativos de integrao social esocializao), visto este ltimo como um paliativo a corroborar um sistema sempre desigualitrio.Cumpre, todavia, clarificar que esta corrente do pensamento criminolgico nascida a partir dapolitizao do labeling approach no assume uma forma unvoca, sendo possvel divisar, ao longo doseu desenvolvimento, vrias linhas de abordagem que vo atenuando progressivamente o seucarter radical e apostando em propostas de reforma do aparato punitivo estatal.65

    Pontos de comunho tambm podero ser encontrados entre setores da criminologia radical e adoutrina dos white-collar crimes. Como vimos, a chamada nova criminologia prope-se a radicalizar olegado do labeling pela via de uma crescente politizao, questionando o desigual funcionamento dajustia a partir de matrizes radicadas mormente na teoria marxista. Da mesma forma que ocorre coma criminologia do conflito, nas suas primeiras manifestaes, a criminologia radical elege acriminalidade de colarinho branco como um elemento privilegiado do seu discurso subversivo. Porseu turno, a ausncia de consenso como marco distintivo do sistema institucional de controle e aconsequente afirmao do carter conflituoso do mesmo sistema encontra-se manifesta entre oscriminlogos do colarinho branco. Alm disso, entre ambas as correntes h uma coincidente buscapor um aprimoramento da interveno penal,66 a partir de mandamentos de neocriminalizao e derenovados processos, institucionais ou no, de represso e preveno.

    De resto, no so poucos os autores que atribuem teoria dos white-collars o mrito de ter servidode base para que o interacionismo simblico e as sucessivas correntes da reao social, radicais ecrticas, descortinassem que o sistema penal estava imerso num modelo desigualitrio e classista.67Portanto, em certa medida, Sutherland antecipa este transcendentalismo radical que com os anospropiciaria o surgimento da nova esquerda e de uma criminologia crtica e revolucionria, semobviamente chegar quela extrema politizao e radicalizao do pensamento.684. CRIMES DE COLARINHO BRANCO E SISTEMA JURDICO-PENAL (CRIMINALIZAO,TCNICAS DE TUTELA E MODELO SANCIONATRIO)

    Ora, se o propsito dos tpicos anteriores fora o de explicitar os traos mais caractersticos dadoutrina dos white-collar crimes e encontrar pontos de convergncia e dissintonia com as correntesmais atuais do pensamento criminolgico, o que se pretende aqui traar, mesmo que superfcie,uma definio que seja compatvel com uma integrao das teorias criminolgicas. Uma definio,por sua vez, que, nos moldes de uma autntica cincia conjunta do direito penal, implique numainterao promissora com a poltica criminal e a cincia penal (em sentido estrito), apta a orientarpropostas jurdico-dogmticas.A doutrina criminolgica contempornea vem, progressivamente, deixando de lado os modismos e afalaciosa opo por modelos generalizantes e buscando alternativas renovadas aos diversosdesafios que o problema criminal suscita. Surge, pois, uma teoria criminolgica empenhada emretomar as conquistas devidas a construes criminolgicas anteriores e desenvolve-las segundouma nova conjuntura.69

    Assim, em relao por exemplo criminologia crtica, reconhecida a importncia ou, diramosns, a indispensabilidade de se retomar o problema da seletividade e do funcionamentodesigualitrio das instncias formais de controle: a seletividade que ocorre j no momento dacriminalizao e a fragmentariedade politicamente condicionada da legislao criminal; a seletividadeoperada ao nvel da atuao policial, do ministrio pblico, dos tribunais; a crtica pena privativa deliberdade como instituio total e a busca por formas de sancionamento menos estigmatizantes emais redutoras do conflito, como por exemplo as penas restritivas de direito, a suspenso provisriado processo; a composio entre autor e vtima etc.4.1 A convenincia de uma criminologia integrada, os crimes de colarinho branco e asespecificidades da infrao

    Entre este enorme legado ao qual no podemos voltar as costas e a doutrina dos white-collar crimesh, como vimos, mltiplos pontos de convergncia. Por outro lado, tambm no seio das teorias docolarinho branco, cremos que os aparentes embates mormente entre as construes queprivilegiam fatores subjetivos vinculados ao sujeito e aquelas outras que do prevalncia aoespecfico modus operandi dos agentes e s especificidades da infrao podem ser superados por

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  • um modelo renovado.70

    J o dissemos, uma definio dos crimes de colarinho apta a surtir resultados concretos, a ponto deofertar respostas contundentes impunidade e s notrias dificuldades de imputao e atribuio deresponsabilidade, no plano institucional e jurdico-dogmtico, s se consegue se no nos desviarmosdas teorizaes de cunho subjetivo. E isto porquanto as propostas de substituio dos fatoresvinculados ao agente por outros adstritos s especificidades da infrao71 redimensionam o conceitode tal forma que o mesmo perde a sua capacidade funcional.72 Por outro lado, cremos que adefinio cingida aos moldes mais clssicos a nica que tem condies de demarcando oscrimes de colarinho branco como aqueles perpetrados por uma elite e que, por conta disso,perpetuam um tratamento favorecido dos seus agentes pela justia penal -, preservar ainda ointeresse criminolgico do conceito.73

    Ser possvel, comparando a efetiva resposta institucional ante a criminalidade comum e aquela decolarinho branco, atestar uma qualquer desigualdade ou disparidade? Ora, se a essa perguntaalguns autores, crticos da concepo primitiva, fizeram questo de responder negativamente,74 fato que, mesmo ante a ausncia de pesquisas empricas confiveis, quanto nossa realidade, trata-sede algo incontestvel. Basta atentarmos para a manifesta corrupo75 que se d em vrios nveis donosso sistema institucional de persecuo, a ineficincia tcnica que ocorre j no plano deelaborao da lei, o recurso a uma defesa tcnica extremamente especializada que facilita aabsolvio ou o trancamento do procedimento de persecuo etc. Portanto, se a concepo quedefine os crimes de colarinho branco a partir do status do agente mostra-se a mais operativa, delano devemos nos afastar tambm, ou sobretudo, porque, para alm disso, a que melhor explicita ocarter desigualitrio da administrao da nossa justia.76

    Por outro lado, mesmo no nos modelando aos novos contornos das teorias que pretendem estenderos white-collar crimes tambm aos agentes de blue-collar,77 nestas doutrinas h muito de til eoperativo, mormente a ateno dispensada s especificidades das infraes. Em termos mais claros,sendo o nosso interesse declarado o de, da perspectiva de uma cincia conjunta do direito penal,encontrar modelos renovados de criminalizao e controle de crimes desta sorte, o aprofundar nascaractersticas da infrao uma das vias mais promissoras.

    Assumindo este objetivo essencial, mesmo diante das formas vrias que se podem enquadrar nacategoria dos white-collar crimes,78 ser possvel identificar alguns elementos comuns quecaracterizam esta espcie de criminalidade.

    Deveremos desde j sublinhar como aspecto determinante a complexidade 79 e a opacidade, ou aaparncia externa de licitude,80 das condutas criminosas resultantes. Ora, com o desenvolvimentocientfico que caracteriza o tempo presente, houve necessariamente uma repercusso no mundo dasrelaes humanas e, consequentemente, das atividades criminosas, com uma especializaolaboral com decisivas consequncias para o objecto do nosso estudo. Assim, com a exigncia deconhecimentos muito especficos, vrias atividades acabam por tornarem insindicveis por todosaqueles que no dominam o modus operandi dos novos experts.81 Por lgica decorrncia, ocorre afalta de visibilidade social das condutas criminosas j que se do, diferentemente do crime comum,longe dos olhos da sociedade e, pois, distantes de uma exposio frutuosa para efeitos depersecuo penal.

    Da referida complexidade das condutas deriva um outro problema, mais atrelado ao objeto que saltado presente estudo, respeitante dificuldade dos rgos formais de controle de selecionar e reagirs condutas criminosas. Alm de ser indispensvel um conhecimento muito especializado por partedos rgos institucionais para a descoberta da deviance, sobretudo, num primeiro momento, dapolcia, o que se nota que o prprio legislador revela, muitas vezes, problemas na regulamentaode matrias mais complexas, e as autoridades judicirias sentem, tambm, particulares dificuldadesna apreciao das mesmas.82 Especificamente no que respeita atividade legislativa, o que nosparece notrio que o legislador ptrio no se atm aos problemas tcnicos suscitados, atuando deforma casusta e expansiva (nomeadamente quanto em meta a tutela do meio ambiente, daeconomia popular, da ordem econmica, da propriedade industrial, do sistema financeiro etc.) o queimplica em srios problemas de legitimidade e eficcia.83

    De outra perspectiva, caracterstica desta espcie de criminalidade o fato de, como regra, no sernecessrio recorrer-se violncia para a sua prtica. Da deriva mais uma vez a opacidade dascondutas delituosas, por ser menos perceptvel a existncia de um conflito, o que,

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  • conseguintemente, torna imperceptvel a prtica da infrao e impede a interveno penal.84 Odelinquente de white-collar, diferentemente do delinquente comum, no necessita, para a realizaodo ilcito, de expor-se, bastando abusar de sua posio privilegiada.

    Alm, outro fator que distingue os crimes of the powerful dos crimes comuns pode-se divisar daperspectiva da relao entre a conduta delinquente e a vtima. Ocorre aqui uma difuso das vtimasque, mais uma vez, implica na opacidade da conduta delinquente. De fato, nesta espcie decriminalidade as vtimas desconhecem sua condio: seja porque os crimes cometidos, notoriamentedesvaliosos, atingem as vtimas somente de forma reflexa ou bagatelar em relao a cada umadelas, mesmo sendo o resultado inegavelmente ofensivo aos interesses coletivos,85 seja porquemuitos dos agentes justificam sua atitude por serem eles mesmos vtimas das mesmas ou seja,acaba por haver uma maior tolerncia social, medida que a conduta passa a ser socialmente aceitacom a justificativa de que todos fazem o mesmo. o que se passa, por exemplo, nas infraespenais tributrias e ecolgicas.86 De mais a mais, como notrio, de grande importncia a posioda vtima na seleo da criminalidade: crimes com vtimas difusas ou crimes sem vtima importamem enormes cifras negras. Temos, pois, mais um fator que leva impunidade dos intocveis.87

    Por fim, h que se atentar para a difuso da responsabilidade como outro fator que leva dificuldadede punio. Aqui, o que se descortina uma caracterstica peculiar a crimes que envolvemorganizaes.88 E as dificuldades de prova da responsabilidade inerentes diviso das tarefasacrescem se tivermos em conta que, para alm da responsabilidade moral nem sempre coincidir coma autoria material, so frequentes os casos em que se alega inexistir uma inteno criminosa,invocando-se antes o descuido, a falta de condies.894.2 (Des)criminalizao, inflao legislativa e tcnicas de tutela

    Vertidos agora, mais diretamente, para o horizonte jurdico-penal, devemos fazer as conclusesadvindas da criminologia tornarem em propostas poltico-criminais aptas a refletir num modelojurdico-criminal renovado e capaz de responder satisfatoriamente ao problema da criminalidade decolarinho branco. E isso j no horizonte da criminalizao e estruturao tpica: ponto privilegiado decrticas, partidas no s dos criminlogos do colarinho branco, como de todo um setor dacriminologia crtica.90

    De mais a mais, j tivemos oportunidade de nos manifestar sobre a absoluta ilegitimidade do recursoa um direito penal expansionista,91 como forma simblica de responder aos clamores sociais porpunio. Esta declarada corrida para o direito penal repercute numa crescente edio demicrossistemas punitivos de forma casusta e desapegada aos mandamentos poltico-criminais querestringem a interveno penal (nomeadamente o merecimento e a necessidade de pena). Antes,pois, de se questionar sobre a tcnica de tutela mais adequada preveno dos crimes de colarinhobranco, devemos atestar a sua adequao aos princpios poltico-criminais que restringem acriminalizao proteo subsidiria de bens jurdico-penais. Problema que ganha enormeatualidade conforme se nota que a maior parte dos crimes of the powerfull, se confunde com o atualdireito penal secundrio92 e, pois, que o debate sobre a sua criminalizao imerge em toda adiscusso em torno da legitimidade deste ramo do direito. Discusso que tem como pontosprivilegiados a desmaterializao do conceito de bem jurdico, a criao de crimes de meradesobedincia e o desrespeito ao princpio da ofensividade, a legitimidade dos crimes de perigoabstrato, a responsabilidade penal de entes coletivos, o recurso excessivo normao penal embranco etc.93

    Devemos, portanto, desde j assumir a necessidade de descriminalizao de grande parte doscrimes previstos na legislao vigente, nomeadamente aqueles crimes que implicam na meradesobedincia a atos administrativos ou na simples exposio do bem jurdico a perigo abstrato, naforma de perigo presumido. Por a, h que se constatar que grande parte dos tipos legais de crimepositivados para o combate aos white-collars devem ser extirpados da rbita penal, sendodefensvel a sua converso em ilcitos administrativos.

    Noutros casos, delimitados os bens jurdicos que legitimam a interveno penal, deve o legisladoroptar pela tcnica de tutela mais acertada ao princpio da ofensividade e ao princpio poltico-criminalda interveno mnima.

    Deve tambm o legislador, para alm de tudo, ater-se s especificidades da infrao criminal, demodo a concretizar no tipo elementos atentos s caractersticas que fazem, como vimos, dos crimes

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  • de colarinho branco crimes dotados de peculiaridades que revelam notrias dificuldades de punio.Trata-se de um ponto extremamente complexo e, entre ns, carecedor de contribuiesacademicamente comprometidas. De mais a mais, toda esta problemtica, em certa medida, coincidecom a discusso suscitada volta da legitimidade da interveno penal e das tcnicas de tutela nombito de novos bens jurdicos supraindividuais. Discusso que, pensamos, encontra no direitopenal ambiental o seu exemplo mais emblemtico.94

    Por outro lado, no seria desarrazoado descortinar a equiparao que vem ocorrendo,nomeadamente em terreno germnico, entre a categoria criminolgica dos crimes de colarinhobranco e a delinquncia econmica (Wirtschaftkriminalitt). Apesar de discordamos da referidaequivalncia, por restringir o grupo de condutas praticadas pelos white-collars a uma nica rea deatuao (infraes ofensivas ordem econmica), encontra-se aqui um exemplo frutuoso da buscapor densificar a discusso sobre as tcnicas de tutela e a eficcia do direito penal secundriopartindo de consideraes criminolgicas.954.3 Que direito penal e que modelo sancionatrio para os white-collars?

    Contudo, mesmo que o legislador se ativesse aos rgidos padres de legitimidade que delimitam ainterveno punitiva do Estado, optando por uma criminalizao mais restrita e, a um s tempo,recorresse a tcnicas de criminalizao atentas ao peculiar modus operandi dos agentes,haveramos de lidar com grandes cifras negras a apontar ainda para a ineficcia do direito penal eseu carter simblico.

    Noutros termos, teramos ainda de procurar por uma resposta para a inefetividade do direito penal,quando os agentes criminosos so pessoas de extremo status social e poltico e a seletiva relaodos mesmos com os aparatos formais (institucionais) de controle e punio.96

    Ora, para alm das propostas, oriundas da criminologia, que objetivam prevenir os crimes decolarinho branco partindo de solues no institucionais como, por exemplo, a sugesto detcnicas da preveno situacional 97 que apontam mtodos preventivos alternativos, anterioresmesmo interveno criminal e, portanto, ao cometimento do crime devemos ainda perscrutar sepode o direito penal ofertar um modelo de controle que redunde em algum efeito preventivo e que,portanto, ainda dignifique a interveno jurdica.Neste empenho, mesmo atentos s limitaes do nosso estudo, no podemos abandonar aqui toda adiscusso em torno do papel sancionatrio do direito penal nesta rea.

    Sabe-se que, desde que os estudiosos atentaram para a criminalidade dos poderosos, houveconsequentemente um apelo crescente por mandamentos de criminalizao e por um endurecimentodas sanes penais. Assim, por um lado, se minimizaria a seletividade que ocorre j no plano dacriminalizao e, por outro, haveria um maior efeito preventivo.98 Contudo, se, j o dissemos, acriminalizao, por si, no implica necessariamente num maior efeito preventivo, o mesmo pode-sedizer do apelo por um endurecimento das respostas punitivas. Alm dos mais, a imposio desanes criminais severas (nomeadamente penas privativas de liberdade de longa durao) emreas onde esta mesma punio ocorre de forma fortemente seletiva, reitera o carter simblico daresposta Estatal punindo com severidade os bodes expiattios cados aleatoriamente nas malhasaparato punitivo, o Estado satisfaz simbolicamente o clamor social por punio.99

    Propondo-nos enfrentar o problema da ineficcia preventiva do direito penal no mbito dacriminalidade de colarinho branco, e a ante ao que ficou dito sobre o endurecimento das respostaspunitivas, cremos que uma proposta coerente no mbito sancionatrio s ser avistada pelaperspectiva da sempre atual discusso sobre a funo e legitimidade poltico-criminal das penascriminais.100 Por sermos declaradamente contrrios aos que se socorrem das teorias absolutas ouretributivas segundo as quais ao direito penal s caberia a funo retribuir o mal crime com o malda pena e, consequentemente, pena a funo de expiao e castigo101 nossas preocupaes sevoltam s chamadas teorias da preveno, nomeadamente as da preveno geral positiva ou deintegrao e as da preveno especial positiva.

    Para a teoria da preveno geral positiva, a interveno do Estado por meio da imposio de penascriminais s legtima quando visa proteo necessria de bens jurdico-penais. Assim, cumpre pena criminal a manuteno da vigncia da norma violada; sendo por isso uma razovel forma deexpresso afirmar como finalidade primria da pena o restabelecimento da paz jurdica comunitria

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  • abalada pelo crime.102 Por ser esta a funo primordial da pena criminal, sempre que se constatarque com a sano penal no se atinge nenhum efeito preventivo, ou seja, no promove aestabilizao contraftica das expectativas comunitrias na validade da norma violada,103 deve-seoptar por outros instrumentos menos atentatrios liberdade e mais eficientes que osjurdico-penais. Por sua vez, sendo a preveno geral positiva ou de integrao a funo primordial ea tarefa essencial atribuda pena criminal, legtimo e louvvel que a esta funo primria acresauma outra, voltada no para a comunidade mas para a pessoa do delinquente. Portanto, sempredentro da moldura de preveno oferecida pela preveno geral positiva, deve-se recorrer ainstrumentos sancionatrios aptos a surtir efeitos socializadores naquele a quem se impe a pena.104Significa, pois, a preveno especial positiva, a misso atribuda pena de afastar o mximopossvel, o apenado, de um novo comportamento criminal. E uma tal misso s no determinantenos casos em que o indivduo se revelar carente de socializao.105

    Ocorre que, no mbito da criminalidade de colarinho branco, a referida carncia de socializao umdos vetores de convergncia para a descrena acerca dos modelos tradicionais de controle106 e aopo por um retorno s teorias absolutas. Com efeito, fora o cepticismo quanto ao idealressocializador que levou grande parte dos autores retomada do modelo retribucionista, nosmoldes do just deserts norte americano. A partir da crise do ideal ressocializador que ocorreu emrelao criminalidade comum e, posteriormente, de white-collar, so retomadas aquelas posturasconservadoras que vislumbravam como nica funo da pena criminal a imposio de um castigopela culpa manifesta, garantidos ao apenado somente os seus direitos fundamentais. No s adeterminao da sano efetiva, mas, sobretudo, a sua fixao concreta ficavam alheias s diretrizesda socializao e, alm, da preveno geral positiva.

    Mas a retomada do modelo retribucionista, como j adiantamos, no deve ser vista como aalternativa mais coerente para o sancionamento dos criminosos de colarinho branco. Este modelo,por um lado, mantm absolutamente intacta toda a seletividade que caracterstica marcante doscrimes desta sorte. A ideia de que a justa punio seria a nica opo ante a falncia do iderioressocializador e da preveno geral falaciosa exatamente porque mantm intacto todo o aparatodesigualitrio que culmina numa crescente impunidade. Assim, a afirmao dos just deserts comomodelo de controle no passa de um retorno a um direito penal seletivo e simblico. Por outro lado,parece-nos obvio que, como acertadamente esclarece Cruz Santos, a adopo de um modelo decooperao por parte das instncias formais de controlo mais til que um modelo adversarial. Este,diz-se, leva criao de uma cultura da resistncia, com os potenciais white-collars a partilharementre si as estratgias de burla dos aplicadores da lei.107 Para alm do mais, a manuteno de umsistema de controle que obedece todo um procedimento persecutrio rico em garantias, dada a suamorosidade e o acesso dos acusados a defensores conhecedores de todas os expedientesdilatrios, dificulta ainda mais a preveno efetiva. Some-se a tudo isso os fatores atrelados sespecificidades dos crimes praticados j descortinadas que levam a manifestas dificuldade de prova108 e, consequentemente, inefetividade da punio.

    Mas qual seria ento, do ponto de vista sancionatrio, o modelo preventivo mais eficiente e, aomesmo tempo, congruente com os postulados poltico-criminais de um direito penal mnimo?Reiteramos que a resposta ser bem avistada se lograrmos dimensionar o problema com a modernadoutrina dos fins da pena criminal. Na condio de assumidos defensores das teorias da prevenogeral e especial positivas, devemos, pois, compatibiliz-las com as especficas exigncias advindasda criminalidade de colarinho branco.

    Neste empenho, pensamos que depois de definidas as violaes que de fato devem sercriminalizadas atentando-se assim para a necessria legitimidade da criminalizao e a acertadatcnica de tutela por conta das especificidades da infrao de white-collar -, ou seja, as infraes defato merecedoras de pena, deve-se levar em considerao, dentro do elenco de sanes que dispeo direito penal, quais seriam as espcies de pena que mais surtiriam efeito preventivo e qual a suadeterminao.

    E por esta via h que se discordar, desde j, de um certo setor da literatura especializada quedemonstra serem os autores desta espcie de crime carecedores de socializao, medida que, porserem pessoas de elevado status social e econmico, esto extremamente vinculadas ao ncleo devalores fundamentais que o direito penal busca tutelar.109 Devem, pois, ser contrariados os queafirmam ser incua in casu qualquer tentativa de preveno especial, nomeadamente na suavertente negativa. As sanes criminais podem e devem, depois de impostas, refletir em efeitos

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  • preventivos especiais quanto aclaradas as particularidades dos autores, a ponto de, uma vezimpostas, inviabilizarem uma eventual reincidncia.

    Devemos, por outro lado, negar sentido s afirmaes de que a criminalizao e o efetivosancionamento dos white-collar crimes ineficaz do ponto de vista preventivo geral positivo, sejaporque a grande maioria destes crimes eticamente neutro, ou mesmo, para alm disso, por ser acriminalizao vista como algo negativo entre os seus destinatrios. Caracterstica da criminalidadede colarinho branco , com efeito, a de que os destinatrios das normas tendem a no se sentircomo beneficirios da incriminao (mas antes como perseguidos por ela) e, consequentemente,tambm no como vtimas. Tendem, portanto, a desinteressar-se da punio e da sua eficcia. Ou,por outras palavras, no reclamam punio.110 Mesmo sendo assim, sempre que entender olegislador dever incriminar violaes aceitas socialmente, deve assim proceder desde que acriminalizao seja legtima. Noutros termos, cabe ao direito penal no somente a criminalizao decondutas j consagradas na conscincia coletiva como violadoras de interesses fundamentais, mastambm uma funo propulsora ou promocional111 de outros interesses to ou mais valiosos, masainda no sedimentados socialmente. E, entre tais interesses, tutelados contempora-neamentemuitas vezes de forma ilegtima e casusta por uma srie de microssistemas punitivos, esto osviolados pelos white-collars. Nestes casos, legtima a incriminao porque atenta aos mandamentospoltico-criminais restritivos da atuao punitiva do Estado, a funo de preveno geral positivamantm-se da mesma forma, somente distinguindo-se porque aqui o direito penal no confirma umaexpectativa social preexistente. As normas em questo as novas normas penais e a suarespectiva punio tero, neste caso, uma funo particular de tornar visvel para os seusdestinatrios (o conhecimento d) as vantagens que a observncia da norma conleva e, ao mesmotempo, os reais quocientes de vitimizao produzidos pelos comportamentos proibidos.112

    Ademais, esta tarefa de promoo de novos valores a serem respeitados ser to mais frutuosaquanto mais eficiente for a atuao do direito penal, minimizando a seletividade institucional e asconsequentes cifras negras.5. CONSIDERAES FINAIS

    Portanto, e finalmente, tarefa do direito penal no combate aos white-collar crimes a tutela dedeterminados bens jurdicos de forma fragmentria e subsidiria. Do ponto de vista sancionatrio,no se desacredita ainda no recurso pena de priso de mdia durao como sano principal,nomeadamente naqueles crimes graves, onde a vida ou a integridade fsica das pessoas ao menosso expostas a perigo. O mesmo se podendo dizer para a privao de liberdade de curta duraonos crimes de mdio potencial ofensivo.113

    Contudo, so as sanes alternativas privao de liberdade o recurso mais eficiente. Emdeterminados casos, como nos corporate crimes, as penas de prestao de servios, somadas specunirias, so as que podem surtir um maior efeito preventivo: assim, nos crimes contra asrelaes de consumo, a oferta de mercadorias aos potenciais consumidores prejudicados; noscrimes ecolgicos, o efetivo desenvolvimento de programas de recuperao ambiental; a distribuiode remdios gratuitos pela indstria farmacutica, nos crimes de fraude etc.114 Com isso, se tornampblicos os efeitos ofensivos dos crimes organizacionais, minimizando por decorrncia a difuso davitimizao. Por outro lado, as prprias organizaes imersas em sanes desta ordem ganham aoportunidade de ter a imagem retomada aos olhos da opinio pblica.

    Mas so as penas pecunirias a espcie sancionatria mais eficiente para crimes desta espcie,mormente os occupacional crimes. Na literatura criminolgica especializada, h uma pliade deestudos a demonstrar que a opo pela conduta desviante tomada de forma extremamenteracional,115 ponderando o agente sobre a vantagem do crime a partir do quantum de punio, nosmoldes de um juzo de custo/benefcio.116 Ora, se sempre, ou quase sempre, o enriquecimentoilcito que motiva o criminoso de white-collar, a imposio de limites mximos (e elevados) para assanes pecunirias funciona como um notvel elemento dissuasor.

    Em suma, tal como ocorre em relao criminalidade comum, a pena de priso, mesmo sendolegtima para grande parte da criminalidade de colarinho branco, s ser aplicada quandoindispensvel luz de consideraes preventivas gerais. Em contrapartida, no contrariando areafirmao (ou, in casu, a promoo) das expectativas comunitrias, ser sempre oportuna a suasubstituio por sanes no detentivas, sobretudo as sanes pecunirias e as prestaes deservios, enquanto formas especficas de reafirmar o ideal preventivo especial, mesmo que numa

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  • vertente mais negativa do que positiva. Inoportuna a substituio, sempre ser defensvel aaplicao cumulativa.

    Ao que foi dito devemos acrescer que em variados setores do direito penal secundrio em que seexige um flexibilizao das regras tradicionais de imputao, locus privilegiado de atuao doswhite-collars (v.g. o direito penal ambiental ou o econmico), tem-se defendido que umredimensionamento dogmtico s seria legtimo a partir de uma configurao dualista 117 quecominasse para estes crimes penas no privativas de liberdade. S assim se legitimaria um atenuardas cerradas regras de imputao do direito penal clssico, indispensvel tutela efetiva de crimesdesta sorte.

    De resto, mesmo diante de todo o nosso esforo por redimensionar o papel do direito penal napreveno dos crimes de colarinho branco, minimizando a sua interveno e conferindo mesma ummaior relevo preventivo, dever o legislador atentar sempre para o aprisionamento que reflete anorma penal diante de contextos mutveis e procedimentos complexos que notabilizam os crimes dewhite-collar.118 Aprisionamento que manifestao do carter seletivo do direito penal j no horizonteda criminalizao e que aponta para um novo modelo institucional de controle para alm dosmodelos no institucionais que vem progressivamente sendo adotados119 -, mais flexvel, maisclere, mais eficiente: o direito administrativo sancionador ou direito de mera ordenao social.120

    Como bem esclarece Baratta, preciso instaurar uma poltica de interveno mnima coerente, apartir de programas alternativos de controle social, nos quais a interveno penal no se d somentepara a punio daqueles menos favorecidos socialmente.121 Assim, por bvio, um direito penalmnimo deve ocupar-se tambm do sancionamento da criminalidade praticada por agentes influentese acobertados por um favorecimento que, em ltima medida, se explica por um contexto dedesigualdade e conflito. Contudo, no tarefa do direito penal servir como instrumentorevolucionrio, prima ratio de um programa poltico de supresso de desigualdades. Cumpre aodireito penal a tutela subsidiria de bens jurdico-penais, devendo o legislador reservar o recurso ssanes jurdico-criminais somente para aqueles comportamentos insuportveis socialmente,relegando para outros ramos do direito, menos ofensivos e mais eficazes, a resoluo dos demaisconflitos.122

    De mais a mais, se, como se demonstrou, o papel do direito penal em relao tutela doswhite-collar crimes (deve ser) modesto, devemos avanar na busca por modelos distintos depreveno (institucionais ou no).123 E neste empenho temos a firme convico de que respostasfrutuosas s sero avistadas se entre os universos jurdico, criminolgico e poltico-criminal houveruma autntica relao dialgica e de interferncia recproca.6. BIBLIOGRAFIA

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    1 Dias, Jorge de Figueiredo; Costa Andrade, Manuel. Criminologia: o homem delinquente e asociedade crimingena. Coimbra: Coimbra Ed., 1992. p. 93.

    2 Convictamente neste sentido: Baratta, Alessandro. Criminologia crtica e crtica do direito penal(introduo sociologia do direito penal). Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 155 e ss.3 Como salientam Dias, Jorge de Figueiredo; Costa Andrade, Manuel. Op. cit., p. 96, notas 10 e 11.

    4 Consultamos a verso em espanhol: Poltica criminal y sistema de derecho penal. Barcelona:Bosch Casa Editorial, 1972.

    5 Roxin, Claus, Derecho penal Parte general. Trad. Diego-Manuel Luzn Pea, Miguel Diaz.Madrid: Civitas, 2000. t. I. p. 203 e ss.

    6 Costa Andrade, Manuel. A dignidade penal e a carncia de tutela penal como referncias deuma doutrina teleolgico-racional do crime. RPCC 2/173.

    7 Cf. Dias, Jorge de Figueiredo. Questes fundamentais de direito penal revisitadas. So Paulo: Ed.RT, 1999. p. 40 e ss.

    8 Cf. Dias, Jorge de Figueiredo. Os novos rumos da poltica criminal e o direito penal portugus dofuturo. Revista da Ordem dos Advogados. Lisboa: Ordem dos Advogados, 1983. p. 11.

    9 Roxin, Claus. Poltica criminal y sistema de derecho penal cit., p. 27.

    10 Profundidade que encontramos no trabalho de DAvila acerca o papel da poltica criminal nocontexto de uma cincia conjunta de direito penal. Na sua apurada percepo, a supervalorizaoda poltica criminal empreendida por Roxin redunda num equvoco metodolgico, na justa medidaem que desmerece a normatividade nsita ao prprio sistema dogmtico. Nas suas palavras, se osprincpios reitores da dogmtica penal, se os critrios axiolgicos que lhe devem servir de base jno mais esto na normatividade, mas na poltica criminal, encontrando, da, apenas eexclusivamente nela, a orientao axiolgica capaz de conduzir, de forma ajustada, aos parmetros

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  • de um Estado democrtico e social de Direito, o que ento resta normatividade? (cf. DAvila, FabioRoberto. Ofensividade em direito penal (escritos sobre a teoria do crime como ofensa a bensjurdicos). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 25 e ss.).11 Sobre as vrias maneiras de se determinar o que seja poltica criminal para o modelofuncionalista, especialmente as propostas de Jakobs, Roxin e da Escola de Frankfurt, ver: Roxin,Claus. La evolucion de la poltica criminal, el derecho penal y el processo penal. Valencia: Tirant loBlanch, 2000. p. 57 e ss.

    12 Roxin, Claus. La evolucion de la poltica criminal cit., p. 111 e ss.

    13 Estamos aqui a falar de uma declarada dissintonia entre o universo, extremamente restrito, dosverdadeiros estudiosos das cincias penais e aquele outro, infelizmente amplamente difundo pelacultura dos manuais, de acadmicos que se bastam em discorrer sobre o crime da perspectivasempre reducionista de falidas matrizes dogmticas e tcnico-jurdicas.14 Hungria, Nlson. Novas questes jurdico-penais. Rio de Janeiro: Nacional de Direito, 1945. p. 15.15 Na brilhante formulao de Baratta, a indicao do momento tcnico-jurdico e da suadependncia da cincia social, no mbito de um novo modelo integrado de cincia penal, pretendeser tudo menos uma capitis diminutio do jurista, tudo menos a sua reduo a tcnico da sociedade.Ao contrrio, ela quer suscitar a conscincia de uma nova dignidade cientfica da atividade do jurista,indicando claramente a sede em que esta dignidade deve poder se realizar. Ele ser cientista, e nomero tcnico, na medida em que, finalmente, se tornar um cientista social e sustentar com acincia a sua obra de tcnico (cf. Baratta, Alessandro. Criminologia crtica cit., p. 156).16 Albrecht, Peter-Alexis. El derecho penal en la intervencin de la poltica populista. La insusteniblesituacin del derecho penal. Granada: Comares, 2000. in fine.

    17 Cf. Sales, Sheila Jorge Selim de. Princpio da efetividade no direito penal e a importncia de umconceito garantista do bem jurdico penal. RT 848/417.18 Sobre as relaes a interceder entre o direito penal e criminologia, nos moldes de uma cinciaconjunta do direito penal, mas chegando a diferentes concluses: Baratta, Alessandro. Criminologiae dogmtica penal. Passado e futuro do modelo integral da cincia penal. Revista e Direito Penal31/5 e ss.; Dias, Jorge de Figueiredo; Costa Andrade, Manuel. Op. cit., p. 96 e ss.

    19 Sutherland, Edwin. White-collar crime. The uncut version. New Haven: Yale Univessity Press,1983.

    20 De fato, praticamente consensual o fato de, com a doutrina de Sutherland, ter-se demonstradoas limitaes das teorias estruturalistas, sempre vertidas explicao da criminalidade partidas doestudo da lower class. Cf. Young, Jock. La sociedad excluyente. Exclusin social, delito y diferenciaen la modernidad tardia. Madrid: Marcial Pons, 2003. p. 72; Fernndez, Jos Nes. Algunosaspectos conceptuales y polticos de la criminalidad de cuello blanco. Cuadernos de Poltica Criminal71/523 e ss.

    21 Conforme afirma Sutherland, the social and personal pathologies are not the right explanation forthe criminal behavior (cf. Sutherland, Edwin. White-collar crime cit., p. 5).22 Sobre a teoria da associao diferencial, entre tantos: Mannheim, Hermann. Criminologiacomparada. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1984. vol. II. p. 732 e ss.; Bajo Fernndez,Miguel. La delincuencia econmica desde el punto de vista criminolgico. In: Alfaro, Reyna; Miguel,Luis (coords.). Nuovas tendencias del derecho penal econmico y de la empresa. Lima: Ara, 2005. p.31 e ss. No Brasil, merece destaque o trabalho de: Shecaira, Srgio Salomo. Criminologia. SoPaulo: Ed. RT, 2004. p. 187 e ss.

    23 Cruz Santos, Cludia Maria. O crime de colarinho branco (da orgem do conceito e sua relevnciacriminolgica questo da desigualdade na administrao da justia penal). Coimbra: Coimbra Ed.,2001. p. 44.

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  • 24 Tarde, Gabriel. The laws of imitation. New York: Henry Holt and Co., 1903. p. 70 e ss.

    25 Cf. Sutherland. White-collar crime cit., p. 7.

    26 No empenho de delimitar e problematizar os elementos da definio, tal como proposta porSutherland. Aller, German. White collar crime. Edwin H. Sutherland y El delito de cuello blanco.Revista de Derecho Penal y Procesal Penal 6/16; Bajo Fernndez, Miguel. Op. cit., p. 21 e ss.;Mannheim, Hermann. Op. cit., p. 724 e ss.; Racitti, Annamaria. Il criminale economico nella ricercacriminologica: dallopera di Sutherland alle pi recenti formulacione teoretiche. Rivista Trimestrale diDiritto Penale DellEconomia 18/680 e ss.

    27 Como a propsito, num momento posterior, questionou o prprio: Sutherland, Edwin. Iswhite-collar crime crime? American Sociological Review 10/132-139. Assim, em ulterioresdesenvolvimentos do seu conceito, Sutherland chama a ateno para o fato de o que o criminlogochama de crime, nem sempre o formalmente, o que no inviabiliza a designao do ponto devista criminolgico e cientfico.

    28 Num estudo realizado por Sutherland, em que pesquisou crimes cometidos por 70 das maisprestigiadas sociedades e corporaes norte-americanas, concluiu que as infraes se deram pelaviolao da confiana de scios em relao aos demais acionistas ou de gerentes contra a confianade seus superiores. Desenvolvidamente: Aller, German. Op. cit., p. 19 e ss. e p. 26 e ss.

    29 Referimo-nos aos autores da chamada criminologia crtica, cf. infra 3.1 e 3.2.

    30 Cf. Cruz Santos, Cludia Maria. O crime de colarinho branco cit., p. 56 e ss.

    31 Sutherland, assim, acaba por plantear la existencia de uma gestion politica de los ilegalismos. Lano criminalizacion de los delitos de cuello blanco es prescisamiente el resultado de dicha gestin, yello opera a dos niveles: o bien porque no estn caracterizados abstractamente como delitos, oporque estndolo, el aparato represivo del Estado no se ocupa de ellos (Martnez, Juan C. Vasco.Sutherland y la criminalidad de cuellos blancos. Revista de Derecho Penal y Procesal Penal12/2369).32 Cf. Fernndez, Jos Nes. Op. cit., p. 525.

    33 Sobre as novas compreenses do white-collar crime, sintetizando as mais significativasmanifestaes, ver: Bollone, Luisa Balma. White collar crimes: Sutherland ancora attuale? RivistaTrimestrale di Diritto Penale DellEconomia. vol. 9. n. 1. Padova: Cedam, 1996. p. 196 e ss.

    34 Assim, para autores da sorte de Braithwaite, uma definio apegada aos contornos iniciaisdelineados por Sutherland seria sempre fadada infecundidade cientfica (cf. Braithwaite, John.White-collar crime. Annual Review of Sociology 11/1 e ss.).35 Shapiro, Susan. Collaring the crime, not the criminal. American Sociological Review. vol. 55. 1990.p. 346 e ss. apud Cruz Santos, Cludia Maria. O crime de colarinho branco cit, p. 61 e ss.

    36 Conforme explicita Bajo Fernndez, el nombre delinuencia profesional nace de aquellos queponen el acento ms en el vnculo entre la infraccin y la actividad profesional que en la pertenenciadel autor a uma clase social determinada (op. cit., p. 22).37 Problema fulcral para o direito penal de fato a transposio das particularidades da conduta doswhite-collars para os tipos legais de crime. Neste sentido: Figueiredo, Guilherme Gouva de. Direitopenal secundrio, inflao legislativa e white-collar crimes. RBCCrim 87/308 e ss.

    38 Hirschi, Travis; Gottefredson, Michael. Causes of white-collar crime. Criminology. vol. 25. n. 4.1987; Croall. White-collar crime. Buckingham: Open University Press, 1992, passim.

    39 A criminologia moderna preocupada em estudar os white-collar crimes, distingue esta espcie decriminalidade em duas categorias: os corporate crimes e os occupational crimes. Os primeiros so

    A TEORIA DOS WHITE-COLLAR CRIMES, SUASDIVERGNCIAS CONCEITUAIS E A NECESSRIA

    REFLEXO SOBRE AS TCNICAS DE TUTELA

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  • aqueles crimes cometidos por funcionrios de uma organizao no interesse desta. Os segundosso crimes praticados por pessoas individuais no exerccio de suas funes profissionais(advogados, mdicos, polticos etc.). Classificao esta que foi originria dos estudos de Clinard eQuinney. Dirty business Exploring corporate missconduct. London: Sage Publications, 1996. p. 54 ess.

    40 Assim, por exemplo: Coleman, James. The criminal elite. 4. ed. New York: St. Martins Press,1998; Kaiser, Jnter. La funcion de la criminologa com respecto a la poltica legislativa penal.Revista de Derecho Penal y Criminologa. n. 1. Madrid: Uned, 1991; Bajo Fernandez, Miguel. Op. cit.,p. 23 e ss.

    41 Cf. Baratta, Criminologia crtica cit., p. 85. De fato, a partir do momento em que as construesde cunho mais marcadamente sociolgico comeam a questionar o determinismo das vetustasteorias etiolgicas do crime, passa-se a considerar a deviance no como algo anormal ou inato aoagente, mas antes como o resultado de um peculiar processo de socializao.

    42 Para uma sntese das doutrinas do conflito, em contraste ao pensamento do delito natutal ver:Baratta, Alessandro. Criminologia crtica cit., p. 117 e ss.

    43 Ficou a dever a Dahrendorf a mais conceituada construo cont