a sustentabilidade nos projetos de habitaÇÃo de social no centro urbano ... dos idosos...

15
A SUSTENTABILIDADE NOS PROJETOS DE HABITAÇÃO DE SOCIAL NO CENTRO URBANO DE SÃO PAULO: VILA DOS IDOSOS Rosio Fernández Baca Salcedo, Renata Cardoso Magagnin, Talita Cristina Pereira 1 INTRODUÇÃO Diante dos problemas da poluição do ar, da água, do solo, do desmatamento indiscriminado, do uso irracional dos recursos não renováveis, da destruição demasiada de construções, da falta de acessibilidade, da desigualdade social gritante, entre outros, surge no final do século XX, a proposta de sustentabilidade como parte do processo de reflexão para a solução desses problemas. A sustentabilidade é a “manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser satisfeitas” (AFONSO, 2006, p. 11). A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (1991) indica que para haver sustentabilidade, é preciso que: todos tenham suas necessidades básicas atendidas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar seu desejo de uma vida melhor; Os padrões de consumo sejam mantidos dentro do limite de interferência que o meio natural pode suportar; As necessidades humanas sejam atendidas de modo igualitário, assegurando a todos as mesmas oportunidades; Os recursos não renováveis sejam utilizados de modo racional, com ênfase na reciclagem e no uso eficiente, de modo que não se esgotem antes de haver substitutos adequados; Impactos negativos sobre a qualidade do ar, da água e dos demais elementos naturais minimizados, a fim de manter a integridade global do sistema (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991).

Upload: trinhdieu

Post on 10-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A SUSTENTABILIDADE NOS PROJETOS DE

HABITAÇÃO DE SOCIAL NO CENTRO URBANO DE

SÃO PAULO: VILA DOS IDOSOS

Rosio Fernández Baca Salcedo, Renata Cardoso Magagnin, Talita Cristina

Pereira

1 INTRODUÇÃO

Diante dos problemas da poluição do ar, da água, do solo, do desmatamento

indiscriminado, do uso irracional dos recursos não renováveis, da destruição

demasiada de construções, da falta de acessibilidade, da desigualdade social

gritante, entre outros, surge no final do século XX, a proposta de

sustentabilidade como parte do processo de reflexão para a solução desses

problemas. A sustentabilidade é a “manutenção quantitativa e qualitativa do

estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas

fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as

necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser satisfeitas”

(AFONSO, 2006, p. 11).

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU

(1991) indica que para haver sustentabilidade, é preciso que:

todos tenham suas necessidades básicas atendidas e lhes sejam

proporcionadas oportunidades de concretizar seu desejo de uma vida

melhor;

Os padrões de consumo sejam mantidos dentro do limite de

interferência que o meio natural pode suportar;

As necessidades humanas sejam atendidas de modo igualitário,

assegurando a todos as mesmas oportunidades;

Os recursos não renováveis sejam utilizados de modo racional, com

ênfase na reciclagem e no uso eficiente, de modo que não se

esgotem antes de haver substitutos adequados;

Impactos negativos sobre a qualidade do ar, da água e dos demais

elementos naturais minimizados, a fim de manter a integridade global

do sistema (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO, 1991).

Também, a Carta do Rio (CONFERÊNCIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991 apud IPHAN,

2004) ressalta que “todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na

tarefa essencial de erradicar a pobreza, como requisito indispensável do

desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as disparidades nos níveis de

vida e responder às necessidades da maioria dos povos”. Necessidades como:

alimentação, saúde, educação, habitação, lazer, etc.; cujos espaços

construídos devem contemplar propostas arquitetônicas que reflitam novos

parâmetros de habitabilidade.

Al incidir sobre la forma de habitar, el arquitecto influenciará cada

usuario para que tenga un modo de vida sostenible, intentando que

en el conjunto, la sociedad tenga un comportamiento consciente y

responsable en relación a los problemas globales (CARDOSO, 2008,

p. 5-6).

A Agenda 21 trata dos aspectos que devem ser trabalhados para transformar a

dinâmica social na direção da sustentabilidade: dimensões sociais e

econômicas, conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento,

fortalecimento do papel dos grupos principais com a proposta de ações de

integração e participação de vários grupos sociais no redirecionamento do

processo de transformação social, iniciativas relacionadas à participação das

autoridades locais e das comunidades científica e tecnológica, e meios de

implementação (COFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 2001). Portanto, os governos federal,

estadual e local devem contemplar ações de sustentabilidade nas políticas,

programas e projetos. As universidades podem desenvolver pesquisas

atreladas a sustentabilidade: manejo de recursos naturais, tecnologias,

poluição ambiental, reabilitação de edifícios, proposta de ações de

sustentabilidade, entre outros. E cabe a população adotar ações de

sustentabilidades no seu fazer cotidiano.

O Protocolo de Kyoto, desdobramento da Conferência do Rio 1992, visa

atender os princípios estabelecidos na Convenção sobre Mudanças Climáticas.

No Brasil, os projetos prioritários são relativos à implantação de fontes

renováveis de energia e uso de novas tecnologias para geração de energia,

entre outros.

Em relação à arquitetura, Corcuera (2005) ressalta que a sustentabilidade “está

ligada a dois conceitos: energia e meio ambiente; que apoiam-se sobre três

pilares: deve ser socialmente justo, economicamente viável e preservar o meio

ambiente”.

Ainda em relação à arquitetura, as Nações Unidas (UNCHS, 1993 apud

CORCUERA, 2005) indicaram as seguintes estratégias para o design de

componentes e projeto de edifícios: uso de materiais e sistemas estruturais de

baixa energia, optar por materiais de descarte ou reciclagem, projetar edifícios

com larga durabilidade, adaptáveis a novas necessidades, levando em conta a

reciclagem de seus materiais, entre outros.

Além das estratégias citadas, Corcuera (2005) destaca:

O uso de sistemas de energia mais eficientes e menos poluentes

privilegiando as formas passivas de energia (inércia térmica,

ventilação natural, iluminação natural, etc.) pela correta implantação

do edifício;

O uso de sistemas de coleta e tratamento de água para reduzir a

demanda do sistema público e proporcionar o uso racional da água;

O uso de sistemas de automação e monitoramento inteligentes

visando a otimização e a eficiência de instalações;

Uso de sistemas para redução da formação de lixo e correta

separação e destinação do mesmo para reciclagem ou

compostagem;

O desenho funcional do edifício, reduzindo deslocamentos e

equipamentos e permitindo a acessibilidade física de todos ocupantes

de forma autônoma e segura;

O cuidado de preservação do local e seu entorno durantes as obras

civis e após;

A otimização e racionalização do processo de construção, de modo a

reduzir o desperdício e descarte de materiais durante a construção

(CORCUERA, 2005).

Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo analisar a sustentabilidade

do projeto de habitação social do Conjunto Habitacional Vila dos Idosos,

localizado no centro urbano de São Paulo, implementado pela Prefeitura

Municipal de São Paulo (gestões de 2001 a 2004 e de 2005 a 2008) através do

Programa de Locação Social.

A metodologia: a análise da sustentabilidade dos projetos de habitação social

do Conjunto Habitacional Vila dos Idosos foi realizada a partir dos seguintes

indicadores: aspectos socioeconômicos dos residentes (sexo, idade, renda

mensal, condições da anterior residência e grau de satisfação dos usuários

com a residência atual), viabilidade econômica (incentivos públicos, custo da

obra e financiamento, e valor da locação) e meio ambiente (acessibilidade,

sistema construtivo e acabamentos, iluminação e ventilação natural, uso de

sistemas de coleta e tratamento de água, uso de sistemas de automação e

monitoramento inteligentes visando à otimização e a eficiência de instalações,

coleta seletiva do lixo, entre outros).

As informações foram coletadas através de questionários aplicados aos

moradores, entrevistas realizadas com os arquitetos responsáveis pelo projeto,

levantamento fotográfico do edifício e das habitações, redesenho no Autocad

das plantas, cortes e fachadas do edifício, e memorial de obra.

2 LOCAÇAO SOCIAL: CONJUNTO HABITACIONAL VILA DOS

IDOSOS

O Programa de Locação Social teve início a partir da Lei Estadual 10.365 de 2

de setembro de 1999, a qual definiu as condições primárias para a aplicação

do Programa. Baseada na referida Lei Estadual a Prefeitura de São Paulo

elaborou a Resolução CFMH nº 23, de 12 de junho de 2002. O objetivo do

programa é suprir a demanda de moradia para setores da população que não

possuem condições de participar de outros programas que envolvem a

aquisição ou arrendamento.

As unidades produzidas através deste programa com recursos do Fundo

Municipal de Habitação são de propriedade do Poder Público. São beneficiários

do Programa de Locação Social as pessoas sós e as famílias cuja renda não

ultrapasse três salários mínimos e que pertençam prioritariamente aos

seguintes grupos: idosos acima de 60 anos, pessoas em situação de rua,

pessoas portadoras de direitos especiais e moradores de áreas em risco ou

insalubres (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002).

O Conjunto Habitacional “Armando Amadeu”, mais conhecido como Vila dos

Idosos, está localizado na Praça Ili Ottani do Bairro Pari, o acesso principal ao

edifício encontra-se na Av. Carlos de Campos, número 840. O bairro

apresenta-se com infraestrutura consolidada, com oferta considerável de

estabelecimentos de comércio, serviços e instituições, e de fácil acesso ao

transporte público (ônibus), enquanto que a estação de metrô mais próxima é a

“Armênia”, localizada a 2 km.

O Conjunto Habitacional Vila dos Idosos é resultado da luta do Grupo de

Articulação para Moradia de Idosos na Capital (GARMIC), formado por idosos

que lutaram pelo direito de possuir uma moradia definitiva (QUIROGA, 2007). A

Prefeitura Municipal de São Paulo nas gestões 2001 a 2004 e 2005 a 2008,

através do Programa Locação Social implementou o Conjunto Habitacional Vila

dos Idosos.

O projeto de arquitetura foi elaborado pelo escritório de arquitetura Vigliecca &

Associados e o prédio inaugurado em 2007. O edifício apresenta o seguinte

programa arquitetônico: 145 apartamentos, sendo 88 quitinetes (31,30m²) e 57

apartamentos com um dormitório (44,12m²), três salões de festas, três

elevadores, biblioteca, horta comunitária, campo de bocha (inacabado), amplo

espaço verde e um espelho d'água no centro do gramado. Em cada andar há

um salão com espaço para assistir televisão ou jogar cartas. Ver Figuras 1, 2, 3

e 4.

Figura 1: Vila dos Idosos Figura 2: Maquete física da Vila dos Idosos Fonte: PEREIRA, 2011 Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2011

Figura 3: Implantação Vila dos Idosos Legenda: Quitinetes (marrom), Apartamentos com 1

dormitório (amarelo), Áreas comunitárias (lilás), Guarita (laranja), Elevadores (vermelho), Horta

(verde escuro), Espelho d’água (azul), Biblioteca (cinza), Áreas livres (verde claro).

Figura 4: Planta-tipo Legenda: Quitinetes (marrom), Apartamentos

com 1 dormitório (amarelo), Áreas comunitárias (lilás), Elevadores (vermelho) e Escadas (azul).

Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2012 Organização: PEREIRA, 2012

Fonte: VIGLIECCA&ASSOC, 2012 Organização: PEREIRA, 2012

2.1 COMPONENTE SOCIAL

A análise das características sócio-econômicas dos residentes do Conjunto

Habitacional Vila dos Idosos foi feita através da aplicação de questionários aos

moradores durante o segundo semestre de 2011.

De um universo de 145 beneficiários, foram entrevistados 67. Adotando como

referência a Tabela de Amostras Casuais Simples para nível de Confiança de

95,5% (ORNSTEIN, 1992, p. 80), com uma população no intervalo entre 151 –

200, e com uma margem de erro de 10%, para mais ou para menos, a amostra

necessária mínima seria de 67 habitantes. Os questionários foram aplicados

em setembro de 2011.

Os residentes foram caracterizados por: sexo, idade, renda familiar, local da

residência anterior e grau de satisfação com a atual moradia.

Dentre os entrevistados e suas famílias (perfazendo um total de 90 pessoas), a

maioria são mulheres (56,67%) e uma minoria homens (43,33%). O maior

grupo da amostra corresponde às mulheres com idades entre 70 e 79 anos

(25,56%), seguidas pelo grupo de homens nesta mesma faixa etária (23,33%).

Com relação à renda dos residentes, a maioria possui até 1 salário mínimo

(97,01%), 1,49% até 2 salários mínimos e outros 1,49% até 3 salários

mínimos. Portanto, os moradores possuem renda de até 3 salários mínimos.

Com esta questão também foi possível verificar que os moradores

apresentavam-se satisfeitos com o baixo preço dos aluguéis, pois poder pagar

por sua moradia traz aos idosos uma sensação de bem-estar, de

contentamento. Com relação à questão “Endereço anterior da residência”, as

respostas fornecidas demonstram que grande parte dos idosos habitava em

casas alugadas, nas quais pagavam mensalidades muito altas quando

comparadas à renda que possuíam. Assim, a condição anterior de moradia de

muitos idosos era uma casa alugada (35,82%), geralmente em regiões mais

simples da cidade, onde pagavam aluguéis elevados. A segunda opção mais

escolhida como resposta foi apartamento alugado com 29,85%.

Quando perguntamos: “Sua moradia melhorou em relação à anterior?”, a

maioria dos entrevistados disse estar satisfeito, mencionavam a satisfação de

poder pagar um preço mais justo pelo espaço em que habitam.

Com relação à imagem da atual residência, a maioria dos entrevistados

declarou ter sensações agradáveis (64,18%), apenas para 19,40%, a moradia

traz imagens negativas (falta de espaço, ausência de alguns ambientes, desejo

de mudar-se, inimizades com a vizinhança), 5,97% expressaram que a palavra

casa, os remetia a imagens de ambientes divididos, e outros 5,97% não

responderam a esta pergunta.

2.2 VIABILIDADE ECONÔMICA

A análise da viabilidade econômica foi realizada através dos seguintes

indicadores: incentivos do poder público, custo da obra, valor da locação.

Em 2002, a Prefeitura de São Paulo, ao formular o Plano Diretor Estratégico do

Município, visando combater o processo de esvaziamento do Bairro Pari

ocasionado em parte pela transferência de muitas indústrias para outras

regiões, incluiu o Pari na Macroárea de Reestruturação e Requalificação

Urbana e a área onde foi implantada o empreendimento como ZEIS 3 (Zona

Especial de Interesse Social). Segundo o Estudo de Pré-viabilidade Técnico-

Econômica da Vila dos Idosos, elaborado pela COHAB-SP em 2003 (CEDTEC,

2012) o bairro faz parte da denominada Z2, a qual caracteriza-se como,

predominantemente, residencial e com densidade demográfica baixa. Em 2005,

o Pari foi incluído como área de intervenção da Operação Urbana Diagonal Sul

(CEDTEC - PMSP, 2012).

O Plano Diretor, nesta região, “objetiva-se alcançar transformações

urbanísticas estruturais para obter melhor aproveitamento das privilegiadas

condições locacionais e de acessibilidade” (PMSP, 2002). Para isto, o

esvaziamento populacional deve ser combatido através da implantação de

habitações de interesse social e pela intensificação de ofertas do mercado

imobiliário, através de melhorias na qualidade dos espaços públicos existentes

no bairro, pelo estímulo das atividades comerciais e de serviços, pela

preservação e reabilitação de edifícios pertencentes ao patrimônio

arquitetônico e pela reorganização da infraestrutura e do transporte coletivo

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002).

Segundo a ficha de inscrição da Vila dos Idosos no Prêmio Melhores Práticas

da Caixa Econômica Federal elaborada em 2009, os recursos do

empreendimento foram provenientes: 61% (R$ 5.202.771,07) da Caixa

Econômica Federal, 39% (R$ 3.300.000,00) da Prefeitura Municipal de São

Paulo obtidos do Orçamento Geral da União, que estavam destinados ao

Programa Morar Melhor – Programa Especial de Habitação Popular (PEHP) e

do empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A

Prefeitura Municipal disponibilizou o terreno para a realização do projeto.

O valor da locação do apartamento pago pelos residentes é realizado segundo

a renda mensal familiar e a composição familiar. Ver Tabela 1.

Tabela 1 – Comprometimento de Renda Familiar para o pagamento da habitação no

Programa de Locação Social

Faixa de Renda Familiar

(em salários mínimos)

Composição Familiar

(membros)

Capacidade de

endividamento

Até 2 SM Todas 10%

Acima de 2 SM até 3 SM

1 – 4

5 – 7

8 ou mais

12%

11%

10%

Acima de 3 SM*

1 – 4

5 – 7

8 ou mais

15%

14%

13%

* Famílias com renda per capita inferior a 1 SM

Este “valor de referência” é composto pela taxa de recuperação mensal, pela

taxa de administração do agente operador e pela taxa de manutenção do

condomínio (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2002). Os valores

pagos pelos beneficiários da Locação Social são retribuídos ao Fundo

Municipal de Habitação.

2.3 MEIO AMBIENTE

O meio ambiente é analisado através dos seguintes indicadores:

acessibilidade, segurança, sistema construtivo e acabamentos, iluminação e

ventilação natural, uso de sistemas de coleta e tratamento de água, uso de

sistemas de automação e monitoramento inteligentes visando a otimização e a

eficiência de instalações, coleta seletiva do lixo, entre outros.

A análise da acessibilidade e segurança apresenta-se como ponto importante

em todos os edifícios. Na Vila dos Idosos, devido ao seu público alvo, estes

aspectos se tornam ainda mais relevantes. Em entrevista ao arquiteto

responsável pelo projeto, perguntamos: “De que forma os critérios

estabelecidos para acessibilidade de deficientes físicos, segurança no edifício,

rotas de emergência em caso de incêndio, sustentabilidade (captação solar,

reciclagem e armazenamento de águas pluviais) influenciaram o projeto

arquitetônico?”. Segundo Héctor Vigliecca, todos “estes critérios já são uma

condicionante do partido arquitetônico” (janeiro de 2012).

Ainda em relação à acessibilidade no edifício, perguntamos aos moradores: “A

acessibilidade no prédio é ótima, boa, regular ou ruim?”. Para 34,33% dos

residentes é “ótima”, para 55,22% “boa”. Apenas 10,45% dos moradores

consideraram-na “regular”. A maior parte dos habitantes da Vila dos Idosos

mencionou os elevadores enquanto respondiam a esta questão. Para eles, a

presença de três colunas de elevadores em pontos estratégicos do edifício

(seus “vértices”) é adequada. A manutenção é constante, e mesmo quando

surge algum problema, a distância entre os elevadores não é demasiada. Além

disso, para aqueles que têm mais disposição física, a presença das escadas

facilita o trajeto a todas as partes do edifício.

No que se refere à acessibilidade dos ambientes internos do edifício podemos

afirmar: i) os acessos aos apartamentos não apresentam desníveis que

possam comprometer o acesso de qualquer idoso à edificação (ver Figuras a

seguir); ii) a circulação vertical pode ser realizada tanto por escadas (que

possuem guarda corpo de acordo com as normas de acessibilidade) como por

elevadores; iii) os espaços de circulação horizontal (corredores) possuem

dimensões compatíveis para o trânsito de cadeirantes auxiliados por um

acompanhante; iv) os acessos ao interior dos apartamentos possuem portas

com dimensões adequadas para portadores de necessidades especiais.

Internamente, como mostrou os croquis dos apartamentos tipo I e II, as portas

também estão adequadas às normas técnicas brasileiras de acessibilidade.

Entretanto, é importante destacar que o projeto prevê apenas 09 apartamentos

e 16 quitinetes (implantadas no andar térreo) com adaptação às pessoas com

dificuldade de locomoção, com espaço interno para circulação de cadeirantes;

o que significa que apenas 17,2% das unidades (apartamentos e quitinetes)

podem ser consideradas inclusivas. As demais unidades não levaram em

consideração que o envelhecimento traz algumas restrições de mobilidade

(temporária ou permanente) e por este motivo todos os ambientes devem

assegurar ao idoso uma autonomia de utilização de todos os ambientes de sua

residência. Um dos ambientes mais problemáticos é o banheiro, como pode ser

observado na Figura 6, nas unidades não adaptadas o layout do ambiente não

permite que o usuário que ao longo de sua permanência neste local possa ter

Figura 5a,b,c,d,e,f : Acessos à edificação, acesso ao elevador, circulação, escada e acesso ao

apartamento. Fonte: SALCEDO, 2011.

problema de mobilidade e assim ser usuário de cadeira de rodas tenha

liberdade de deslocamento; uma vez que a norma técnica diz que a área

mínima de circulação para a rotação em 360º de uma cadeira de rodas é de

1,50m2. Não há área de transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário

e a área do chuveiro não possui assento para os idosos ou cadeirantes.

Figura 6: Planta dos Apartamentos Tipos I e II

Fonte: http://www.vigliecca.com.br/

Com relação aos espaços externos, a Vila dos Idosos foi projetada para

atender as necessidades de interação entre os moradores, através de uma

vivência comunitária. Os acessos às áreas comuns de convivência são

realizados em nível, conforme mostram as Figuras 7 e 8.

Figura 7: Área de convivência Figura 8: Entrada principal

Fonte: http://www.vigliecca.com.br/ Fonte: PEREIRA, 2011.

O edifício Vila dos Idosos foi executado em alvenaria estrutural. A cobertura do

edifício foi realizada com telhas trapezoidais de aço galvanizado e estas estão

apoiadas na laje através de perfis metálicos e uma estrutura auxiliar de tijolos.

Quanto ao acabamento interno, ao serem entregues aos moradores, as

“alvenarias internas receberiam acabamento em pintura látex na cor branca ou

pintura acrílica na cor branca sobre gesso”. As áreas molháveis (sanitários) são

“revestidas em parte com cerâmica esmaltada 30x25cm na cor branca, e em

parte com revestimento em massa única e pintura acrílica texturizada”. As

alvenarias externas deveriam receber “acabamento com emboço e reboco e

texturizado de acrílico” (MANUAL DO MORADOR, 2011).

Segundo o Manual do Morador (2011), o piso das áreas de “circulação,

escadas, salas e dormitórios são em laje de concreto nivelado a laser com

acabamento com motoacabadora”. O piso dos sanitários e cozinhas “de

cerâmica esmaltada 30x30cm PEI 3 na cor gelo” e o forro e sancas realizados

nestas áreas são executados “em placas de gesso fixadas com arame

amarrado na laje” e com acabamento feito “com pintura látex na cor branca”.

Para auxiliar no aumento da taxa de permeabilidade do solo as calçadas foram

executadas “em blocos de concreto intertravados nas dimensões 20cm x10cm

e uma espessura de 4cm na cor cinza”.

Ao aprofundarmos os estudos em relação à iluminação e ventilação naturais

das unidades visitadas, tendo como referências os padrões estabelecidos pelo

Código de Obras e Edificações de São Paulo, observou-se que a análise do

item “Insolação”, nos 226 cômodos avaliados no edifício demonstrou que

51,33% dos ambientes estavam orientados corretamente em relação ao Sol,

sendo avaliados como “ótimo”. Outros 30,09% foram classificados como “ruim”

por possuírem aberturas com orientações incorretas (sul), e 18,58% dos

cômodos tiveram a insolação classificada como péssima por não apresentarem

aberturas (banheiros das quitinetes – a ventilação é realizada por dutos); a

opção “bom” não foi selecionada. A “Qualidade da Iluminação” que também

consiste num aspecto importante para avaliar a salubridade das moradias,

demonstrou que dos 226 cômodos analisados 11,06% obtiveram a

classificação “ótimo”, enquanto que 11,06% representaram a opção “bom”;

18,58% a opção “ruim” e 59,30% a opção “péssimo”. Estes valores

demonstram que a área da maior parte das aberturas é insuficiente para

iluminar bem os ambientes, a falta de aberturas voltadas para o exterior nos

banheiros das quitinetes também contribuiu para que a porcentagem

insatisfatória aumentasse.

Segundo informações concedidas pela COHAB-SP o edifício conta com

medidores de água, energia elétrica e gás individual e, também, com captação

de águas pluviais (o reservatório encontra-se sob o espelho d’água). Quanto à

captação de energia solar, a COHAB-SP informou que ainda não foram

desenvolvidos sistemas que possam captar a energia suficiente para um

conjunto habitacional, de dimensões consideráveis, a um baixo custo. Implantar

este sistema inviabilizaria o empreendimento economicamente e, por este

motivo, optou-se pela não exigência deste item no edital de licitação da obra

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Conjunto habitacional da Vila dos Idosos implementado pela Prefeitura

Municipal de São Paulo através do Programa Locação Social foram atendidas

algumas necessidades dos idosos como: acessibilidade, segurança, tipologias

de apartamentos com 1 dormitório (44,12m²), proximidade ao transporte

coletivo, comércio e serviços, atendimento social, valor da locação proporcional

a renda mensal do beneficiário e atividades coletivas de socialização.

A maioria das unidades de habitação (88), quitinetes não atendem as

necessidades dos idosos, por ter uma área pequena de 31,30m² e não possuir

ambiente próprio para dormitório. Esta área é insuficiente para o

desenvolvimento de atividades, acomodação do mobiliário e locomoção;

portanto há necessidade de que todas as unidades de habitação tenham 1

dormitório com área suficiente.

Tendo em vista que os idosos apreciam a entrada da radiação solar em suas

casas, pois isto confere a elas mais salubridade e conforto térmico,

destacamos que a localização e dimensionamento das aberturas devem ser

estudados com cuidado, para reduzir o gasto desnecessário com energia

elétrica.

Sugerimos que os futuros empreendimentos levem em consideração a

possibilidade de implantar sistema de captação da energia solar, uso de

sistemas de coleta e tratamento de água, captação e reciclagem de águas

pluviais, sensores que minimizem o consumo de água e energia elétrica, uso

de materiais e sistemas estruturais de baixa energia, optar por materiais de

descarte ou reciclagem, e projetar edifícios com larga durabilidade, adaptáveis

as necessidades dos usuários. Tais medidas, à primeira vista podem ser

consideradas inviáveis devido ao seu alto custo, porém, em longo prazo

gerarão benefícios aos moradores e retorno econômico aos investidores.

Outra sugestão é que os futuros empreendimentos para idosos possam ser

totalmente inclusivos, permitindo que todos os usuários tenham segurança e

conforto ao longo de sua permanência no imóvel. Desta forma, os

empreendimentos garantirão a satisfação pessoal, física e também econômica

dos moradores e o Programa de Locação Social se firmará como uma

alternativa viável para garantir o cumprimento do direito a uma moradia digna

para todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050:

Acessibilidade às Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos

Urbanos. Rio de Janeiro, 2004.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Prêmio Melhores Práticas, 2009. In:

http://www.caixamelhorespraticas.com.br/wp-

content/uploads/sp_vila_idosos.pdf. Acesso em 08/06/2011, às 18h56min.

CARDOSO, Sara. Definidores Del Habitat. Desde El usuário hacia uma

arquitectura sostenible. Maestria de Arquitectura, Energia y Medio Ambiente.

Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Catalunya, UPC. Barcelona,

setiembre, 2008.

CONFERÊNCIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO, 1991. In: IPHAN: Cartas Patrimoniais. Brasília:

IPHAN, 2004.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE, 1991. In: IPHAN: Cartas

Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 2004.

CORCUERA, Daniela. Arquitetura Eco-Sustentável: Conceito, estratégia e

proposições. In: Boletim do INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL: SÃO

PAULO. Bo 52. Out/Nov/Dez, 2005.

GOVERNO DE SÃO PAULO. Lei Estadual 10.365, de 2 de setembro de 1999.

IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida

da população brasileira, 2010. In:

http://www.ibge.gov.br/home/estetistica/populacao/condocoesdevida/indicadore

sminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf. Acesso em 20/01/2012, às

18h36min.

ORNSTEIN, Sheila W.; ALMEIDA PRADO, Adriana R. & LOPES, Maria

Elisabete. Desenho universal: caminhos a acessibilidade no Brasil. São

Paulo: Anablume, 2010.

ORNSTEIN, Sheila. Avaliação pós-ocupação (APO) do ambiente

construido/Sleila Ornstein, Marcelo Roméro (colaborador). São Paulo: Estúdio

Nobel: Editora da Universidade de São Paulo, 1992. 223 p.

PEREIRA, T. C., SALCEDO, R. F. B. Ambiência do centro histórico de São

Paulo. Programa de Locação Social e seus rebatimentos no projeto de

arquitetura da Vila dos Idosos. Bauru, Iniciação Científica/ FAPESP, 2012.

PEREIRA, T. C.. Fotografias: Conjunto Habitacional Vila dos Idosos.

Capturadas em setembro de 2011.

PREFEITURA DE SÃO PAULO – COHAB-SP. Manual do Morador.

____. COHAB-SP: Informações e dados sobre o Conjunto Habitacional

Vila dos Idosos. Acesso em janeiro de 2012.

____. Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano. Programa Morar

no Centro. São Paulo, mar. 2004.

____. Resolução CFMH n° 23, de 12 de junho de 2002. Programa de

Locação Social.

QUIROGA, Olga Luiza Leon de. O GARMIC e a luta por moradia para idosos

na cidade de São Paulo. In: ROJAS, Vera Beatriz Freire. Contribuições para

o planejamento de ambientes construídos destinados à convivência de

idosos. Dissertação (Mestrado em Engenharia). UFRGS, 2005.

VIGLIECCA&ASSOC. Memorial Descritivo, Imagens referentes às plantas,

cortes e elevações do Conjunto Habitacional Vila dos Idosos e

fotografias. Acesso obtido em 13 de janeiro de 2012.

____. Vila dos Idosos. In: http://www.vigliecca.com.br/. Acesso em 10/06/2011

às 17h35min.

VIGLIECCA, Héctor. Entrevista concedida em 19 de janeiro de 2012.

AGRADECIMENTO

A FAPESP pelo auxílio concedido para a realização da pesquisa e participação

neste evento. Aos moradores da Vila dos Idosos, à Prefeitura Municipal de São

Paulo e ao escritório Vigliecca&Assoc.