a sociologia do trabalho frente à reestruturação produtiva uma discussão teórica

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A Sociologia do Trabalho frente à Reestruturação Produtiva: Uma Discussão Teórica Mareia de Paula Leite Roque Aparecido da Silva “Sendo uma revolução científica que ocorre numa sociedade ela mesma revolucionada pela ciência, o paradigma a emergir dela não pode ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma de uma vida decente).” (Boaventura de Sousa Santos, 1993, p. 37) A Sociologia do Trabalho enfrenta nos dias atuais um importante desafio teórico, pro vocado por um duplo movimento. Por um lado, ao contrário da expectativa colocada por Offe (1989), ao advogar o fim da categoria trabalho como conceito sociológico funda mental, o estudo do trabalho está no centro das atenções dos sociólogos. Impulsionado pela vertiginosa produção científica voltada para a análise das transformações que vem sofrendo, o trabalho vem se transformando, na realida de, num tema da moda. Incontáveis estudos sobre o assunto invadem hoje as estantes das livrarias e bibliotecas, trazendo à tona o gran de esforço da literatura especializada para compreender as mudanças em curso. Nesse contexto, a Sociologia do Trabalho vem ad quirindo um novo dinamismo, ao mesmo tem po em que se vê diante de novas e intrincadas questões teóricas. Por outro lado, as teorias disponíveis para pensar o trabalho vêm se mostrando cada vez mais incapazes de dar conta dos proble mas colocados pelas transformações que o têm atingido nas últimas décadas, sugerindo a necessidade de se relacionar as atuais dificul dades da Sociologia do Trabalho à crise mais geral dos modelos teóricos que têm embasado a teoria sociológica e a ciência em geral. Este texto é uma tentativa de aprofundar essa discussão a partir da análise dos estudos sobre os quais vem se apoiando a atual discus são sociológica sobre as transformações por que vem passando o trabalho no novo contex to mundial de reestruturação produtiva. Nosso ponto de partida é de que a maior parte dos estudos que têm servido de base para a discus são do trabalho parte de uma postura que restringe a análise do problema a seus aspec tos materiais e tecnológicos, apoiando-se em pressupostos teóricos hoje bastante discutí veis, na medida em que, ao privilegiar temas como produtividade, competitividade e lucra tividade, se mostram presos a uma postura positivista, centrada na análise de variáveis quantitativas que ignoram as implicações so ciais mais amplas das transformações em cur so. Tal postura vem encobrindo uma realidade de aprofundamento das desigualdades so ciais, recolocando de forma premente a dis * Trabalho apresentado ao XVIII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, 1994. Uma primeira versão deste texto foi publicada na revista espanhola Sociologia dei Trabajo. Os autores agradecem a Laís Abramo pelos comentários feitos àquela versão. BEB, Rio de Janeiro, n. 42, 2.° semestre de 1996, pp. 41-57 41

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Artigo trata da Sociologia do Trabalho Frente à Reestruturação Produtiva a partir de uma discussão teórica que relaciona diversos aspectos e conceitos dos autores da Sociologia do Trabalho

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  • A Sociologia do Trabalho frente Reestruturao Produtiva:

    Uma Discusso Terica

    M areia de Paula Leite Roque Aparecido da Silva

    Sendo uma revoluo cientfica que ocorre numa sociedade ela mesma revolucionada pela cincia, o paradigma a emergir dela no pode ser apenas um paradigma cientfico (o paradigma de um conhecimento prudente), tem de ser tambm um paradigma social (o paradigma de uma vida decente).

    (Boaventura de Sousa Santos,1993, p. 37)

    A Sociologia do Trabalho enfrenta nos dias atuais um importante desafio terico, provocado por um duplo movimento. Por um lado, ao contrrio da expectativa colocada por Offe (1989), ao advogar o fim da categoria trabalho como conceito sociolgico fundamental, o estudo do trabalho est no centro das atenes dos socilogos. Impulsionado pela vertiginosa produo cientfica voltada para a anlise das transformaes que vem sofrendo, o trabalho vem se transformando, na realidade, num tema da moda. Incontveis estudos sobre o assunto invadem hoje as estantes das livrarias e bibliotecas, trazendo tona o grande esforo da literatura especializada para compreender as mudanas em curso. Nesse contexto, a Sociologia do Trabalho vem adquirindo um novo dinamismo, ao mesmo tempo em que se v diante de novas e intrincadas questes tericas.

    Por outro lado, as teorias disponveis para pensar o trabalho vm se mostrando cada vez mais incapazes de dar conta dos problemas colocados pelas transformaes que o tm atingido nas ltimas dcadas, sugerindo a necessidade de se relacionar as atuais dificuldades da Sociologia do Trabalho crise mais geral dos modelos tericos que tm embasado a teoria sociolgica e a cincia em geral.

    Este texto uma tentativa de aprofundar essa discusso a partir da anlise dos estudos sobre os quais vem se apoiando a atual discusso sociolgica sobre as transformaes por que vem passando o trabalho no novo contexto mundial de reestruturao produtiva. Nosso ponto de partida de que a maior parte dos estudos que tm servido de base para a discusso do trabalho parte de uma postura que restringe a anlise do problema a seus aspectos materiais e tecnolgicos, apoiando-se em pressupostos tericos hoje bastante discutveis, na medida em que, ao privilegiar temas como produtividade, competitividade e lucratividade, se mostram presos a uma postura positivista, centrada na anlise de variveis quantitativas que ignoram as implicaes sociais mais amplas das transformaes em curso. Tal postura vem encobrindo uma realidade de aprofundamento das desigualdades sociais, recolocando de forma premente a dis

    * Trabalho apresentado ao XVIII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, 1994. Uma primeira verso deste texto foi publicada na revista espanhola Sociologia dei Trabajo. Os autores agradecem a Las Abramo pelos comentrios feitos quela verso.

    BEB, Rio de Janeiro, n. 42, 2. semestre de 1996, pp. 41-57 41

  • cusso sobre o determinismo econmico e tecnolgico que, conquanto esteja relativamente esquecida nos ltimos tempos, j foi um tema caro Sociologia do Trabalho.

    As Relaes entre Tcnica e Trabalho: Uma Questo de Determinismo Tecnolgico ou Processo de Construo Social?

    Pensar as relaes entre tcnica e trabalho tem sido um dos eixos fundamentais da Sociologia do Trabalho desde seus primrdios. Foi a partir de preocupaes relacionadas s caractersticas que o trabalho assumia a partir do desenvolvimento tecnolgico que a disciplina surgiu e se consolidou institucio- nalmente nos vrios pases onde veio a se constituir como um campo especfico do conhecimento.

    Essa preocupao trouxe Sociologia do Trabalho uma problemtica terica que gira em torno do conceito de determinismo tecnolgico, segundo o qual o desenvolvimento da tcnica considerado como determinante na conformao das caractersticas do trabalho e da estrutura industrial. A evoluo dessa discusso ser abordada no tpico que vem a seguir, no qual buscaremos analisar algumas trajetrias particulares de elaborao terica da Sociologia do Trabalho especificamente no que se refere a essa questo.

    Sociologia do Trabalho e Razo Tcnica nos Anos 50, 60 e 70

    A Sociologia do Trabalho consolidou-se como disciplina no transcorrer dos anos 50. Influenciada pelos xitos do fordismo e pela crena que ento se propagava de que o progresso tcnico, o crescimento econmico e a melhoria das condies de vida configuravam um progresso sem limites, ela comporta em seu interior, desde o incio, um grande fascnio pela sociedade industrial e seu desenvolvimento.

    Essa influncia da realidade econmica sobre a produo sociolgica teve, entretanto, matizes e nuanas diferentes, relacionadas

    com o entorno scio-poltico-cultural no qual se dava a produo acadmica, bem como com a relao que as instituies e atores sociais estabeleceram com a disciplina nas distintas realidades. Nesse sentido, como veremos a seguir, uma das variveis mais importantes a ser considerada para se entender as particularidades do desenvolvimento da Sociologia do Trabalho nos pases onde ela mais floresceu a fonte de seu financiamento, que preestabelece o objetivo a ser buscado no processo de pesquisa. A discusso sobre esse processo em alguns pases pode ser elucidativa a esse respeito.

    Nos Estados Unidos, por exemplo, onde no se pode desvincular a Sociologia do Trabalho da evoluo anterior da Sociologia Industrial, Casassus e Desmarez (1985) consideram que o nascimento deste campo da Sociologia, no momento em que se processavam importantes reformas na gesto e organizao do trabalho, nos anos 1900-20, foi importante na definio das prioridades que ele viria a assumir posteriormente. A entrada das cincias sociais na indstria teve um carter essencialmente pragmtico. Alertando para o fato de que teriam sido utilizadas pelos engenheiros como suporte de sua ao transformadora, os autores sustentam que as cincias sociais americanas foram apropriadas nesse momento pelos engenheiros para consolidar o poder do management e negar razo contestao operria.

    Casassus e Desmarez concluem que os engenheiros conseguiram fazer com que os cientistas sociais elaborassem um approach mais sofisticado da gesto do trabalho, mediante a elaborao de tcnicas capazes de assegurar a colaborao dos trabalhadores. No difcil compreender, nesse contexto, que, sendo a prpria empresa o ator que demandava e financiava as pesquisas, a Sociologia Industrial americana, voltada que estava para o objetivo de assegurar o melhor funcionamento possvel das organizaes, tivesse sido fortemente marcada pela concepo fun- cionalista.

    Essa tendncia se consolida no ps-guer-

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  • ra com Parsons e sua definio da empresa como um sistema social relativamente autnomo, a qual deixa de forada anlise a questo dos seus fins. A funo da Sociologia do Trabalho seria, dessa forma, assegurai- a continuidade do sistema e controlar as tenses provenientes de seu entorno; dele viriam os fatores provocadores de distrbios, j que o sistema internamente seria harmnico e equilibrado.

    Casassus e Desmarez chamam a ateno para o fato de que exatamente no momento em que a Sociologia Industrial reconhecida como uma rea particular da Sociologia pela comunidade dos socilogos, a abstrao do sistema parsoniano leva ao desenvolvimento do conceito de organizao, promovendo o desaparecimento daespecificidade do sistema social da empresa industrial. A organizao uma noo mais genrica, que se aplica a instituies de qualquer natureza, eliminando os traos especficos da esfera da produo: o trabalho e sua organizao. De acordo com esse enfoque, os efeitos sociais da industrializao so os mesmos se a tecnologia a mesma, no importando o contexto em que est inserida, o que expressa o mais puro determinismo tecnolgico.

    Embora esse enfoque terico comece a perder espao com a entrada dos anos 70, a partir da utilizao generalizada das novas tecnologias na indstria e nos servios, e as novas problemticas que engendraram, o determinismo tecnolgico continua com um espao assegurado na Sociologia do Trabalho americana.

    J na Itlia, em funo das caractersticas do movimento operrio e da tradio intelectual, os estudos da Sociologia Industrial demandados e orientados pelos interesses empresariais no tiveram a quase exclusividade de que desfrutaram nos Estados Unidos. Juntamente com eles floresceu desde o incio na produo italiana o que De Masi (1973) chamou de sociologia estrutural da empresa, desenvolvida por socilogos vinculados cultura europia do sculo XIX, que elaboraram uma anlise crtica da empresa industrial. E

    apenas a partir dos anos 60, entretanto, que, fora dos meios acadmicos, se desenvolve uma sociologia crtica do trabalho, elaborada principalmente por um grupo de intelectuais que se articulou em torno da revista Quademi Rossi.

    Conforme sublinha Barisi (1985), o que caracterizou o mtodo de trabalho dos colaboradores do Quademi Rossi foi a utilizao de instrumentos refinados de pesquisa emprica, acompanhada de um esforo contnuo de re- elaborao e discusso da teoria em confronto com os resultados da pesquisa. Nesta confrontao, as avaliaes e opinies emitidas pelos coletivos de trabalhadores tinham uma importncia especial. Ainda quanto aos procedimentos metodolgicos, os estudos, por exemplo, sobre as mudanas socioeconmicas foram conduzidos vinculados ao estudo das estratgias dos atores sociais.

    Segundo Barisi, esses procedimentos metodolgicos e modelos de interpretao da realidade conseguiram construir novas categorias de anlise e elaborar novos modelos de interpretao dos processos sociais e dos valores expressos pelos atores sociais, a partir de uma postura terico-metodolgica que teve como ponto de partida a conscincia da impossibilidade de se chegar a uma neutralidade da cincia, principalmente das cincias humanas, em que a escolha subjetiva do pesquisador, os instrumentos de anlise e a utilizao possvel dos resultados exercem uma influncia decisiva sobre a verdade que se ir descobrir.

    Barisi afirma ainda que vrias pesquisas realizadas dentro de empresas revelaram a ocorrncia de relaes sociais at ento desconhecidas. Descobriu-se, em particular, a existncia de uma organizao informal (organizao real) do trabalho, muitas vezes bastante diferente da organizao formal prevista nos organogramas e na descrio de postos de trabalho. Nas experincias de resoluo de problemas tcnicos ou em casos de autogesto de estabelecimentos foram demonstradas capacidades profissionais e criativas dos trabalhadores que no eram formal-

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  • mente reconhecidas. Estes elementos teriam se constitudo na base da afirmao da possibilidade de se superar os modelos tayloristas de organizao do trabalho e a rgida estratificao do poder dentro das empresas.

    Como fica claro, o florescimento da Sociologia do Trabalho na Itlia se deu, ao contrrio do exemplo americano, em relao direta com as organizaes dos trabalhadores. Nesse sentido, enquanto nos Estados Unidos a pesquisa tinha como objetivo assegurar a continuidade do desenvolvimento do sistema produtivo, no caso italiano, o objetivo central era identificar e sistematizar os projetos de transformao do sistema que estariam sendo gestados no seio da classe operria. Neste caso, o que determinava os procedimentos de pesquisa e o processo de elaborao de conceitos e de construo terica era a razo social e no a razo tcnica. Por outro lado, o eixo terico do enfoque era de que as caractersticas da organizao, tanto da sociedade como do sistema produtivo, eram determinadas, em grande parte, pela vontade poltica dos diferentes atores sociais e expressavam o resultado de sua interao.

    Esta Sociologia do Trabalho engajada chegou a ser hegemnica na Itlia no final dos anos 60 e incio dos 70, tendo mobilizado grande nmero de pesquisadores. Na segunda metade dos anos 70, entretanto, os velhos enfoques tericos baseados no positivismo e no determinismo tecnolgico voltaram a se impor. De um lado, a crise econmica provocou o desaparecimento das principais revistas que davam vida sociologia crtica do trabalho. De outro lado, com a crise do financiamento da pesquisa pelo Estado, as novas fontes de recursos foraram o redirecionamento dos objetos e objetivos das investigaes. Estes comeam a ser definidos pelas concepes neoliberais que passam a ter um peso decisivo no plano internacional com a crise do Estado do Bem-Estar, influenciando profundamente na orientao sobre como enfrentar as dificuldades econmicas que se avolumavam.

    Nessas condies, conforme destaca mais uma vez Barisi, as pesquisas voltadas

    para a organizao da produo e para as modalidades de adaptao da empresa crise (do ponto de vista da eficincia e do mercado) passaram a ter um desenvolvimento muito maior que aquelas voltadas para a organizao do trabalho. De acordo com suas palavras,

    no seria por acaso, ento, que a maior parte dos estudos empregar um enfoque terico de tipo estrutural-funcionalista. A dimenso temporal e a subjetividade dos atores, da mesma forma que a questo da autonomia e o carter poltico das intervenes dos trabalhadores parecem ter desaparecido pelo peso e pela onipresena asfixiante da CRISE que colocou a sociedade em um estado de emergncia permanente, justificando assim todas as manobras de restaurao (Barisi, 1985, p. 237).

    Finalmente, naFrana, onde a Sociologia do Trabalho nasceu como disciplinano perodo ureo do fordismo e da apologia do progresso tcnico, seus fundadores expressaram desde cedo uma crena implcita na libertao dos trabalhadores pela tcnica, em particular pela automao do trabalho, considerando o modelo industrial um avano em relao aos modelos de desenvolvimento que o antecederam.

    De fato, no famoso Tratado de Sociologia do Trabalho, Georges Friedmann e Pierre Naville (1973) vem o trabalho industrial como o alicerce sobre o qual se apia o desenvolvimento das sociedades, o que, segundo eles, conferia Sociologia do Trabalho um papel fundamental no interior da Sociologia. Tambm sobre a diviso do trabalho, o Tratado expressa uma viso otimista, ao considerar que, diante de uma diviso social antagnica, o mundo da produo o da cooperao tcnica:

    A diviso do trabalho a expresso de uma relao e estabelece ao mesmo tempo antagonismo e cooperao. Dentro da empresa, a diviso de tarefas , antes de tudo, uma forma de cooperao tecnicamente eficaz (Friedmann e Naville, 1973, p. 44).

    Com o passar dos anos e a ampliao dos estudos, contudo, esta viso otimista da tcnica e do progresso tcnico foi sendo superada,

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  • cedendo espao para uma viso mais crtica. Pode-se dizer, inclusive, que a obra de Fried- mann perpassada por uma certa ambigidade nesse sentido, na qual convivem ao mesmo tempo a crena no progresso tcnico e a preocupao com suas implicaes sociais. Essa tenso se expressa de maneira evidente em seu ltimo livro (Friedmann, 1956), onde o autor afirma que existia naquele momento um desequilbrio angustiante entre o poder que o progresso cientfico e tcnico conferia humanidade e as foras morais de que ela dispunha para enfrentar a questo.

    preciso ter presente que a amplitude e profundidade da pesquisa sociolgica na Frana (assim como nas demais reas do conhecimento) s foi possvel devido existncia de um enorme financiamento pblico. Montero (1994) lembra que, antes da crise dos anos 70, as agncias estatais no exigiam dos pesquisadores um enfoque pragmtico, como comeou a ocorrer a partir de ento. No se esperava que eles apresentassem ou formulassem sugestes de polticas, havendo clareza sobre a diviso do trabalho entre intelectuais e cientistas, de um lado, e polticos e administradores, de outro.

    A crise dos anos 70, entretanto, provocou uma inflexo nesta tendncia, na medida em que, a partir de ento, a demanda passou a ser claramente voltada para a busca de caminhos para o enfrentamento da reconverso produtiva. ,A anlise de dois importantes colquios realizados na dcada pode ser elucidativa para a compreenso da evoluo da produo terica, bem como dos enfoques terico-metodo- lgicos predominantes em cada um dos momentos.

    Fazendo uma avaliao dos textos apresentados e dos debates travados no Colquio de Dourdan, realizado em 1975, Burnier e Tripier (1985) consideram que a questo central do encontro foi a da diviso do trabalho, sobre a qual prevaleceu um enfoque crtico, que chegou a questionar, no apenas suas conseqncias sobre os trabalhadores, mas o seu prprio princpio (Durand, 1985). Alentados pelo movimento de 1968, os estudos cen

    travam-se na anlise do comportamento dos atores sociais envolvidos no processo de produo, assim como das causas do conflito, predominando um enfoque que, baseado nas prticas sociais, deixava pouca margem para a postura determinista.

    Passados mais de cinco anos, contudo, um novo Colquio em Dourdan revelou no s novas temticas e preocupaes, mas, sobretudo, novos enfoques terico-metodolgi- cos que vinham fortalecer a postura determinista. Embora, em funo dos efeitos das novas tecnologias sobre o trabalho, a idia da existncia de uma correlao entre progresso tcnico e progresso das qualificaes tenha sido questionada (Dassa, 1985), a correlao entre tecnologiae qualificao foi reafirmada, podendo-se considerar que houve um predomnio da posio determinista. Na realidade, o contexto do processo de reestruturao, o posicionamento dos atores e a correlao de foras foram elementos praticamente ausentes do colquio, no qual as novas tecnologias emergiram como o principal agente das transform aes. Conform e sublinhou Linhart (1985, p. 192), os atores foram substitudos pelas empresas e pelo Estado, e a complexidade do sistema desapareceu.

    Sociologia do Trabalho e Reestruturao Produtiva

    A crise do fordismo e as conseqentes tentativas de superao que a ela se seguiram significaram um conjunto de mudanas econmicas, polticas e sociais que atingiram rapidamente, e de maneira profunda, praticamente todos os cantos do mundo.

    No plano do processo produtivo, as tentativas de superao das dificuldades vieram com a intensificao do processo de mudana da base tcnica e organizacional da produo. No plano poltico, a falncia das concepes social-democratas, que haviam florescido sob a gide do fordismo, cedeu lugar s concepes neoliberais, que no s conquistam a hegemonia na conduo dos destinos de vrios pases, como passam a dirigir os principais organismos financeiros internacionais,

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  • o que vai se refletir nas orientaes das pesquisas.

    E importante destacar que tal hegemonia levou difuso da idia de que o mercado deve ser o instrumento bsico de regulao social, substituindo as noes de finalidade e de valor social do desenvolvimento pelas de utilidade e competitividade, sem que os efeitos sociais do processo sejam levados em considerao. Neste contexto, a noo de conflito perde a legitimidade e o que passa a importar a cooperao que viabilizaria a produtividade e a competitividade que, por sua vez, supostamente solucionariam o conjunto de problemas que, segundo tal concepo, so comuns a todas as classes e camadas sociais.

    E nesse contexto que a discusso das relaes entre tecnologia e trabalho assume uma nova atualidade, tendo em vista as profundas e rpidas transformaes que atingiram o mundo do trabalho. Na realidade, as novas tendncias de organizao da produo e do trabalho galvanizaram a ateno dos socilogos, que passaram a se debruar sobre o estudo das transformaes que ocorriam no interior dos processos produtivos, bem como sobre as novas relaes entre as empresas.

    Nesse processo, foram ganhando visibilidade as anlises que comearam a propor o surgimento de um novo sistema industrial, diferente do fordismo, que se basearia na integrao de tarefas, inclusive das relativas concepo e execuo; no emprego de uma mo-de-obra estvel, qualificada, com alto nvel de escolarizao e bem-remunerada; na formao e difuso de redes de subcontratao, que se baseariam num relacionamento cooperativo entre as empresas. Embora cunhado com nomes diferentes especializao flexvel, para Piore e Sabei (1984); produo enxuta, paraW omack et a i (1992); sistemo- fatura, para Hoffman e Kaplinsky (1988) , o novo sistema industrial (ps-fordista) caracterizar-se-ia, para todos esses autores, pela superao da organizao fordista do processo de trabalho e sua substituio por uma nova forma de organizao baseada no envolvimento dos trabalhadores com os objetivos

    empresariais. Ainda que esses trabalhos tenham cumprido o importante papel de sublinhar as profundas transformaes que vm ocorrendo na organizao industrial desde o final dos anos 70, e nos brindar com uma anlise ampla das modificaes que esto ocorrendo na lgica da produo industrial, seria mister reconhecer que h uma srie de problemas que emergem de suas anlises, os quais no podem ser desprezados, tendo em vista a importncia que elas vm assumindo nos debates atuais.

    Apesar de haver diferenas no estilo de abordagem desses estudos, algumas caractersticas importantes os identificam. Em primeiro lugar, todos eles partem da anlise de alguns setores estratgicos da economia, como a indstria automobilstica ou metal- mecnica, e, a partir deles, generalizam as tendncias encontradas para o conjunto da economia. Em segundo lugar, ao centrar a anlise nos aspectos tcnicos e econmicos, eles ignoram os demais fatores que interferem nas caractersticas do sistema industrial, como os aspectos polticos, sociais e culturais, sob cuja gide vem se dando o processo de reestruturao produtiva nos vrios pases, inclusive os relacionados s prticas sociais dos diferentes atores envolvidos. Finalmente, mas no menos importante, esses estudos tm uma viso extremamente otimista do processo em curso, ignorando totalmente os problemas sociais que o vm acompanhando.

    Convm lembrar, contudo, que esta no foi a nica orientao terica a predominar no interior da Sociologia do Trabalho. Ao lado dela, muitas outras vozes se levantaram, apontando a complexidade da realidade, bem como a possibilidade de coexistncia entre as novas formas de organizao do trabalho e os princpios fordistas.

    Na realidade, j no so poucas as anlises que vm revelando que a produo flexvel ou enxuta, longe de ser um padro nico, vem, no s comportando manifestaes muito distintas e apresentando caractersticas bastante diferentes, conforme o pas, o setor e a

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  • empresa, como no tem mostrado a universalidade que seus defensores pressupem.

    No que se refere s diferenas entre os pases, Humphrey (1989), por exemplo, em uma interessante discusso sobre a transferncia de tecnologia de empresas multinacionais ao Brasil, considera que

    tanto as comparaes entre pases com sistemas sociais, econmicos e polticos diferentes como o contraste direto entre os centros de trabalho oferecem uma fonte imediata de hipteses de trabalho estimulantes e uma clara refutao do determinismo tecnolgico. Se examinamos as multinacionais que exportam tecnologias idnticas a um pas menos desenvolvido e que desejam recriar modelos similares de organizao do trabalho, podemos demonstrar muito claramente que a organizao do trabalho se v afetada por fatores tais como a organizao e a fora dos sindicatos, a qualidade da mo-de-obra disponvel, a existncia de um excedente de mo-de- obra e o s is tem a de trabalho im p eran te (Humphrey, 1989, pp. 87-8).

    J no que respeita diferena entre empresas, a anlise de Shiroma (1993) pode ser esclarecedora. Referindo-se s transformaes nas relaes interindustriais e s tendncias de formao de redes de subcontratao presentes na experinciaj aponesa, esta autora ressalta as diferenas nas formas de gesto da mo- de-obra encontradas entre as empresas, a partir dos distintos lugares que elas podem ocupar na cadeia produtiva. De acordo com Shiroma, existe uma diviso do trabalho entre as empresas, atravs da qual se transferem as tarefas gerais e desqualificadas para as pequenas empresas, ficando as grandes com o trabalho especializado, qualificado. Dessa forma, uma grande discrepncia observada entre grandes e pequenas empresas no Japo a proporo de trabalhadores qualificados que so minoria nas pequenas (5% a 10%) e quase a totalidade nas grandes firmas. (Shiroma, 1993, p. 71).

    Vrios autores se debruaram tambm sobre a anlise da diviso sexual do trabalho, elucidando que mesmo no interior de uma mesma empresa os trabalhos destinados s

    mulheres e aos homens costumam apresentar diferenas significativas.

    Wood (1989), por exemplo, enfatiza a possibilidade de a reestruturao produtiva estar significando um trabalho mais rico e qualificado para os homens, ao lado de uma degradao das condies de trabalho para as mulheres, as quais estariam sofrendo intensificao dos ritmos, rotinizao das tarefas, desqualificao e aumento do controle.

    Tambm Hirata tem insistido sobre a relatividade do que vem sendo chamado de modelo da competncia, alertando para o fato de que ele se baseia na figura do trabalhador homem como encarnando o universal. Introduzindo ainda as distines entre as tendncias observadas nos pases de economia central e os do Terceiro Mundo, a autora conclui que o panorama extremamente complexo e heterogneo:

    [...] as teses de alcance universal, tais como as dos novos paradigmas ou dos novos conceitos de produo, so forosamente questionadas luz de pesquisas empricas introduzindo tais diferenciaes (Hirata, 1994. p. 132).

    Convm considerar que as colocaes de Hirata tm efetivamente sido confirmadas por dados empricos que refletem os efeitos diferentes da inovao tecnolgica entre a mo- de-obra masculina e a feminina. Segundo o Instituto Nacional de Estatsticas e Estudos Econmicos da Frana, por exemplo, a proporo de mulheres que trabalham em linhas de montagem vem aumentando, ao passo que a dos homens vem diminuindo. Da mesma forma, a porcentagem dos assalariados submetidos a ritmos de trabalho impostos vem crescendo entre a mo-de-obra feminina, e decrescendo para a masculina (Volkoff, 1991).

    Tudo indica, assim, que, apesar da valorizao por parte das empresas de comportamentos tradicionalmente identificados com o sexo feminino,' a reconverso produtiva no alterou, at o momento, o quadro tradicional de discriminao da mulher nos locais de trabalho detectado em muitos trabalhos anteriores. Com efeito, os postos de trabalho continuam sendo divididos entre homens e mulhe-

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  • res a partir de critrios discriminatrios, que reservam aos primeiros os trabalhos mais ricos e complexos. Por outro lado, a prpria caracterizao do trabalho feminino como trabalho simples e desqualificado continua passando tambm por critrios discriminatrios, na medida em que no considera nem habilidades (caracterizadas como naturais nas mulheres) como ateno, concentrao, destreza manual, nem a formao, como o nvel de escolaridade, em geral mais alto entre as mulheres do que entre os homens (Kergoat, 1987).

    Diante deste quadro, podemos concordar com Harvey (1993, p. 146) quando afirma que a transio para a acumulao flexvel foi marcada, na verdade, por uma revoluo (de modo algum progressista) no papel das mulheres nos mercados e processos de trabalho, num perodo em que o movimento de mulheres lutava, tanto por uma conscincia quanto por uma melhoria das condies de um segmento, que hoje representa mais de 40% da fora de trabalho em muitos pases capitalistas avanados.

    Convm lembrar ainda as anlises voltadas para a compreenso das novas relaes industriais, as quais vm mostrando no s que a reao operria pode ser muito diferente de acordo com a tradio, a cultura e a capacidade de organizao dos distintos coletivos de trabalhadores (Leite, 1993 e 1994), conformando, portanto, diferentes realidades de relao entre capital e trabalho, mas tambm que os novos padres produtivos vm dando lugar a experincias de relao com os sindicatos muito diversas, que vo desde sua marginalizao at sua integrao no processo de reconverso (Sengenberger, 1991; Lipietz, 1991).

    Por outro lado, comeam a surgir alguns estudos apontando os graves problemas sociais que o processo de reestruturao vem colocando para as sociedades atuais. Em ins- tigante artigo apresentado ao I Congreso La- tinoamericano de Sociologia dei Trabajo, Castillo (1994), por exemplo, alerta para fatos que, em borajno sejam considerados temas

    prioritrios da Sociologia do Trabalho, como os relacionados aos acidentes de trabalho, revelam o agravamento de problemas sociais. Propondo que a Sociologia do Trabalho assuma a tarefa de converter os problemas sociais em problemas sociolgicos, o autor sublinha que a incidncia de acidentes de trabalho vem aumentando na Europa e nos Estados Unidos: na Frana, a parte dos assalariados afetados por penosidade e danos no trabalho aumentou fortemente entre maro de 1984 e maro de 1991; na Espanha, o nmero de acidentes de trabalho praticamente dobrou entre 1984 e 1990; para os pases da OCDE, em seu conjunto, as taxas globais de acidentes de trabalho no-mortais estancaram ou aumentaram na metade dos pases considerados; na Califrnia, uma recente pesquisa revelou as altas possibilidades de que os latinos deixem a vida no trabalho nos distritos de alta tecnologia (Castillo, 1994, p. 9).

    Muitos estudos tm alertado tambm para o aumento das taxas de desemprego, bem como para a tendncia precarizao do trabalho que vem acompanhando o atual processo de reestruturao, com a multiplicao do trabalho temporrio, subcontratado e em tempo parcial.2 Conform e esclarece Harvey (1993, p. 144), a atual tendncia dos mercados de trabalho reduzir o nmero de trabalhadores centraise empregar cada vez mais uma fora de trabalho que entra facilmente e demitida sem custos quando as coisas ficam ruins .

    J Brando Lopes (1993, p. 182) vem chamando a ateno para a correlao entre reestruturao industrial, de um lado, e excluso e pobreza, de outro, alertando que a simples f nas virtudes daindustrializao no bsta mais quando se pensa em enfrentar a questo da pobreza em pases industrializados da periferia, como o Brasil.

    Em recente balano sobre a Sociologia do Trabalho no Brasil, Castro e Leite (1994, p. 49) apresentam um grande conjunto de trabalhos que tm seguido essas preocupaes, atravs de saudveis rupturas nos estilos metodolgicos e nas tematizaes mais ortodoxas

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  • da Sociologia do Trabalho Industrial no Brasil. As autoras concluem que o determinismo material parece ter encontrado limites tanto na fora com que os elementos organizacionais tm se mostrado determinantes nas mudanas recentes no mundo do trabalho fabril no Brasil, quanto no reconhecimento da virtualidade explicativa de fatores relativos concepo da ordem no trabalho, s representaes dos agentes e ao simbolismo nas instituies fabris (Castro e Leite, 1994, p. 50).

    Embora seja evidente que estes estudos so muito mais ricos, na medida em que buscam dar conta da complexidade da realidade, bem como dos problemas sociais advindos do atual processo de reestruturao produtiva, a capacidade dos defensores de um nico modelo no s de orientar a discusso, mas tambm de impor novas categorias de anlise e subscrever um campo de preocupaes, que tem orientado, inclusive, a produo de seus crticos, no deixa de ser intrigante.

    A essa discusso dedicaremos o ltimo tpico deste texto. Nossa proposta que, embora a crtica s anlises que estamos discutindo venha sendo bem feita em termos de apontar para a simplificao da realidade provocada pela generalizao, para o conjunto da economia, de caractersticas que podem ser observadas nas empresas de ponta de alguns setores estratgicos, ela se absteve at o momento de discutir as bases tericas mais amplas sobre as quais tais estudos se apiam. Do nosso ponto de vista, talvez falte ainda fazer uma crtica mais profunda ao determinismo econmico e tecnolgico que orienta essapro- duo terica luz da discusso epistemol- gica atual, a qual tem alimentado um rico debate sobre o predomnio da razo tcnica que orientou o pensamento cientfico at recentemente.

    A Postura Determinista e a Crise da Razo Tcnica

    Valeria comear relembrando que uma das marcas mais importantes desses estudos consiste no privilegiamento das idias de eficincia e produtivismo. Tal postura tem con

    siderado como fundamental na anlise das empresas, dos vrios setores de atividade, bem como das economias nacionais, dados relacionados lucratividade e competitividade. No que se refere s implicaes sociais das transformaes em curso, duas posturas tm predominado: ou os estudos simplesmente ignoram a questo, ou ressaltam seus aspectos positivos, como a tendncia ao emprego de uma mo-de-obra mais qualificada, estvel e escolarizada, dedicando, em geral, muito pouca ateno aos graves problemas sociais que o atual processo de reconverso produtiva vem provocando mundialmente, como a segmentao do mercado de trabalho, o aumento do desemprego, a concentrao da riqueza, o aumento da misria e o enfraquecimento de importantes formas de organizao da sociedade civil, como os sindicatos e comisses de empresa. Dois problemas srios advm dessa postura. Na realidade, tudo se passa como se estes fenmenos fossem conseqncias inevitveis do avano tecnolgico, ou efeitos passageiros que o prprio desenvolvimento se encarregar de resolver, o que pressupe, de um lado, o atual processo de reestruturao produtiva como algo determinado pela tecnologia e no como processo de construo social e, de outro, o privilegiamento da razo tcnica sobre a razo social.

    Essas duas questes encontram-se, entretanto, profundamente imbricadas, fazendo parte, na verdade, de uma mesma viso de mundo e de cincia que esteve na base do positivismo. Concedendo tcnica um papel central na vida humana, este tipo de raciocnio tem como pressuposto implcito, como j vimos, uma valorao positiva do crescimento econmico e da evoluo tecnolgica, entendidos como sinnimo de desenvolvimento social e humano, de melhoria da qualidade de vida e de progresso. Tem como pressuposto, em outras palavras, a idia que Castoriadis (1982) identificou como a instituio imaginria da sociedade, de que o crescimento ilimitado da produo e das foras produtivas constitui o objetivo central da civilizao.

    Tal postura, entretanto, comea a ser co-

    49

  • locada em xeque nos dias atuais, quando a prprianoo de progresso vem sendo proble- matizada e, quando, como adverte Morin (1982, p. 48), comeamos a aperceber-nos de que pode haver uma dissociao entre quantidade de bens [...] e qualidade de vida, ou quando vemos que, a partir de um certo limiar, o crescimento pode produzir mais prejuzos do que bem-estar e que os subprodutos tendem a tomar-se os produtos principais.

    Convm lembrar, por outro lado, que esse tipo de reflexo no se expressa nos textos que estamos analisando devido sua total desconsiderao do papel dos atores sociais. Partindo de uma anlise que ignora inteiramente o sujeito e que apresenta um determinado modelo de desenvolvimento como uma inexorabilidade do avano tecnolgico, tais estudos submergem os atores sociais na lgica econmica da competitividade. O processo no analisado como resultado de interesses e prticas sociais determinadas, nem sequer como podendo ter seu rumo modificado pela ao dos sujeitos. Totalmente dependente da razo tcnica, o modelo no parece passvel de adaptaes ou mudanas provocadas pelos atores, o que pode ser claramente identificado na tendncia a pressupor um modelo nico ao invs de diferentes trajetrias de desenvolvimento, como a literatura crtica tem apontado.

    Evidentemente, no se trata de ignorar o carter global do atual processo de reestruturao produtiva e os constrangimentos que o mercado mundial vem colocando s empresas; sem dvida, preciso ter presente que os atores sociais agem constrangidos pelas normas colocadas pelo processo mundial de globalizao. Isso no significa, entretanto, que se possa esquecer que essas normas no possuem a capacidade de definir um nico caminho. Pelo contrrio, pressupem, como qualquer norma social, a possibilidade de construo de diferentes propostas e projetos sociais de acordo com as distintas realidades nas quais se inserem.

    A arrogncia implcita numa teoria que advoga a superioridade da razo tcnica sobre

    toda e qualquer outra forma de razo, e que ignora totalmente os subprodutos a que se refere Morin, como se o prprio desenvolvimento econmico e tecnolgico fosse suficiente para a soluo final de todos os problemas que afligem a humanidade, ou, pior ainda, como se eles -nem mesmo existissem, nos remete tambm discusso das relaes entre a cincia e a tica, tema que vem se colocando de forma cada vez mais insinuante nos debates recentes sobre a razo cientfica.

    Na verdade, a postura de neutralidade implcita nesse tipo de anlise se contrape a uma tendncia que se vem acentuando nos dias atuais, de introduzir a preocupao tica na anlise cientfica. Com efeito, cada vez mais os cientistas vm desenvolvendo a preocupao com a tica do comportamento tcni- co-cientfico e se afastando da concepo cientfica clssica que, ao separar fato e valor, elimina de seu seio a competncia tica. Conforme esclarece Buarque (1993, p. 15), quase unnime a conscincia do risco de deixar o cientista de hoje movido pelo mesmo esprito de desenvolvimento da cincia que prevaleceu desde o Iluminismo . Da mesma forma que um fsico sensvel no pode considerar a bomba atmica apenas como a maravilha da cincia, os cientistas sociais no podem fechar os olhos para os efeitos dramticos dos atuais modelos de desenvolvimento. Se abrirem os olhos, adverte o autor, no vero apenas a maravilhosa fora da transformao que criou um mundo eficiente, vero tambm misria a ponto de reduzir o homem a ser parte do lixo; aculturao a ponto de formarem-se sociedades enlouquecidas; depredao da natureza a ponto de ameaar-se o prprio futuro da espcie (Buarque, 1993, p. 18).

    Estas consideraes nos alertam para a pertinncia das colocaes de Castillo (1994) e para a urgncia de que a Sociologia do Trabalho transforme em questes sociolgicas os problemas sociais que as transformaes produtivas vm fazendo emergir, como os do desemprego, da precarizao do trabalho, da excluso social, do enfraquecimento dos

    50

  • sindicatos, do debilitamento da noo e dos direitos da cidadania..

    Evidentemente, esse tipo de reflexo no pode estar presente em anlises que absoluti- zam a lgica do mercado, substituindo as noes de finalidade e de valor pelas de produtividade e competitividade, ao mesmo tempo em que se abstm de problematizar seus efeitos sociais.

    Ao contrrio desta postura que restringe a realidade, a Sociologia do Trabalho necessita de estudos que, recuperando a mais pura tradio sociolgica, alarguem o campo de anlise, levando em considerao a interao existente entre o conjunto de fenmenos que fazem parte da realidade social, e que reconheam que a razo tcnica um tipo de razo eno arazo absoluta, ou anicarazo. Que no percam de vista, enfim, que embora o desenvolvimento social seja influenciado tambm pela tcnica, ela no o nico fator a determinar os rumos da histria. Mais que isso, que levem em conta que a tcnica a expresso de uma determinada relao social, de um projeto que se vem impondo atravs de um processo conflituoso de embate entre contendores que so sujeitos sociais com diferentes projetos de racionalidade; ou ainda, como j alertou Touraine (1990), que expressem a tenso entre o triunfo da razo e a afirmao do sujeito.

    H que se considerar, por outro lado, que cada vez mais a cincia vem se apercebendo de que a razo j no d conta da complexidade da realidade. Como explicita Gonalves (1989, p. 138),

    sabemos hoje, principalmente aps Freud e graas tambm antropologia, que a razo no est separada da irrazopor uma muralha da China: o hxtmo sapiens tambm homo demens. A vida est povoada de sem sentidossem os quais no teria sentido viver, como o amor, a paixo, a arte, o jogo, o prazer. Neste terreno de intersubjetivi- dades, que o terreno do conflito e da poltica,

    a razo instrumental encontra seus limites.Alis, no seria demais lembrar que esses

    limites se constituram num dos temas privilegiados da Escola de Frankfurt, que dedicou

    grande parte dos seus eforos para demonstrar como, em sua trajetria, a razo foi sendo colocada a servio da dominao e represso do homem e a tcnica foi adquirindo um carter ideolgico:

    a tcnica e a cincia, na forma de uma conscincia positivista imperante e articulada como conscincia tecnocrtica , comeam a assumir o valor posicionai de uma ideologiaque substitui as ideologias burguesas destrudas (Habermas,1994, p. 84).

    Na verdade, a idia de que a razo se reduz razo cientfica e tecnolgica, na qual a cincia se apoiou durante tanto tempo, vem sendo hoje contestada por todos os lados. Cada vez mais vem-se afirmando a concepo de que a

    relao sujeito-objeto, caracterstica da razo cientfica, no pode ser transposta sem as necessrias mediaes para o terreno do social, campo onde se desenvolvem as relaes sujeito-sujeto expressas simbolicamente (Gonalves, 1989, p. 140).

    Isso significa reconhecer que a cincia tambm socialmente instituda e que as teorias se apiam em princpios fundamentais que, embora inconscientes ou invisveis, comandam o processo de conhecimento, organizando-o de acordo com sua lgica. Como tais princpios fazem parte da viso de mundo e da cultura dominantes na sociedade, cabe tambm cincia refletir sobre as caractersticas culturais dos conceitos e teorias sobre os quais se apia, bem como sobre seu papel na sociedade. Esse esforo supe, como j alertou Morin (1982, p. 46), a introduo da reflexi- dade consciente, ou seja, a reintroduo do sujeito no conhecimento cientfico , a fim de que ele no se mantenha cego para o papel que desempenha na sociedade.

    Muito distantes dessas.preocupaes, os estudos que estamos analisando se baseiam no postulado da reduo, sobre o qual se apoiou a cincia positivista e que, segundo Morin (1982, p. 34), atribui a verdadeira realidade no s totalidades, mas aos elementos, no s qualidades, mas s medidas, no aos seres e

    51

  • aos entes, mas aos enunciados formalizveis e matematizveis.

    O determinismo econmico e tecnolgico aparece, assim, como uma conseqncia quase natural do mtodo de anlise e dos princpios tericos que o embasam. Totalmente preso aos postulados da cincia clssica que se baseou na supremacia da razo tcnica; na decomposio da realidade em suas categorias mais simples e na busca das leis universais; na quantificao da realidade como garantia da cientificidade; na separao entre sujeito e objeto do conhecimento e na suposta neutralidade do sujeito, o que gerou, nas palavras de Morin, uma cincia sem conscincia , esse tipo de anlise do atual processo de reestruturao produtiva s poderia ser to determinista como os princpios sobre os quais se apia. Estes, na realidade, j haviam se encarregado de eliminar o acaso, o indeterminado e o imprevisto da anlise cientfica. Ao enfatizar abusca das leis universais, a lgica da simplificao rejeitou no s a incerteza como o irracionalizvel, no s o sujeito como suas imprevisveis manifestaes.

    Concluso

    O atual processo de reestruturao produtiva que se vem processando em escala mundial vem jogando por terra princpios de organizao da produo e do trabalho consagrados pelo taylorismo e o fordismo. De uma maneira geral, as empresas vm buscando integrar tarefas e processos anteriormente compartimentalizados, envolver os trabalhadores com os objetivos empresariais e focalizar a produo em seus produtos principais, externalizando, ou terceirizando, a produo de partes complementares. Esse processo vem se dando, entretanto, de maneira muito diferente de pas a pas, de setor a setor, e mesmo de empresa a empresa de um mesmo setor.

    Se, em alguns casos (em geral, as empresas lderes dos setores de ponta da economia), ele tem significado a eliminao do trabalho parcelado" e realizado em tempos impostos, maior autonomia aos trabalhadores para to

    mar decises relativas ao processo produtivo e, ambientes de' produo mais participativos e menos conflituosos, isso no significa que o trabalho desqualificado tenha sido abolido, que o capital tenha abandonado sua preocupao de controlar os trabalhadores ou que esteja havendo uma efetiva democratizao dos locais de trabalho e das relaes industriais. No significa, tampouco, que essas tendncias estejam inscritas no desenvolvimento futuro, devendo obrigatoriamente se concretizar com o passar do tempo. Ao contrrio, o que a pesquisa emprica tem demonstrado que a realidade extremamente complexa e multi- facetada, apresentando, muitas vezes, tendncias ao mesmo tempo opostas e complementares.

    Com relao qualificao da mo-de- obra, por exemplo, vale lembrar os estudos que vm afirmando no s a permanncia dos trabalhos desqualificados, mas tambm sua imbricao com os preconceitos sociais relacionados s diferenas de gnero, de etnia, de cor, de nacionalidade, de idade. Por outro lado, importante no perder de vista que o fato de as empresas no estarem mais buscando o controle sobre seus trabalhadores, atravs do parcelamento do trabalho e da desqualificao da mo-de-obra, no significa que elas tenham abandonado a preocupao com o controle. Na verdade, tudo indica que a mudana estaria somente na maneira de controlar, tendo em vista que as estratgias nesse sentido continuam atuais. Valeria lembrar, a esse respeito, o alerta de Sewell e Wilkinson (1992), que associam as novas formas de vigilncia ao Panptico, tendo em vista a sofisticao dos sistemas utilizados como formade controlar os trabalhadores individualmente. De acordo com eles, ao contrrio da suposta autonomia do trabalho, os mtodos japoneses possuem um eficiente sistema de vigilncia que se apia tanto na visibilidade natural do processo de produo e do desempenho do trabalhador na fbrica organizada sob os princpios do just-in-time, como no uso freqente de sistemas de informao administrativa ca-

    52

  • pazes de assinalar rapidamente os desvios das normas de produo ou de qualidade.

    Tambm no que se refere aos sistemas participativos e busca de uma mo-de-obra mais autnoma para tomar decises relativas ao processo produtivo, convm destacar que j h vrios estudos que vm ressaltando que as estratgias participativas nem sempre tm significado uma democratizao da fbrica e das relaes de trabalho. Analisando a questo, Leite (1995, p. 147) alerta para o fato de que o poder continua concentrado nas mos da gerncia das empresas, bem como para a resistncia das firmas em permitir a participao dos trabalhadores em qualquer forma de deciso que extrapole as relativas s atividades produtivas de rotina, concluindo que uma anlise mais cuidadosa do que vem acontecendo no interior das fbricas aponta, na realidade, para um processo de participao parcial, limitado e, sobretudo, controlado.

    Por outro lado, quando se leva em considerao as diferentes realidades nacionais, o que se observa que a reestruturao vem se dando de forma muito distinta de pas a pas, havendo muitos exemplos de economias inteiras que no vm adquirindo as caractersticas da especializao flexvel, da produo enxuta, ou da sistemofatura. Tampouco se pode defender a possibilidade de que tal modelo venha inexoravelmente a se tornar dominante num futuro prximo e que sua difuso seja, portanto, apenas uma questo de tempo.

    Ao contrrio, muitas pesquisas vm revelando que, no processo de reestruturao produtiva, as novas tendncias de uso da mo-de-obra vm, muitas vezes, se conectando com velhos princpios, incorporando- os e revitalizando-os.3

    A compreenso desse processo exige, portanto, que a Sociologia do Trabalho abandone a perspectiva determinista. No s porque ela no permite que se capte sua complexidade, suas diferentes formas de manifestao, assim como as distintas formas de imbri-

    ' cao dos novos princpios de produo com velhas formas de uso do trabalho que se rea- tualizam, ganhando inclusive novo dinamismo, mas principalmente porque, ao fechar a possibilidade para sadas diferentes, a perspectiva determinista nos impe um modelo que elimina da anlise os atores sociais, bem como a possibilidade de transformao do curso da histria a partir de suas conscincias, suas vontades, suas prticas sociais. Tal perspectiva, por sua vez, torna-se to mais preocupante, quanto mais se leva em conta os graves problemas sociais que o atual processo de reestruturao vem provocando, e que as teorias deterministas insistem em no levar em considerao, por no se encaixarem em seus pressupostos tericos.

    (Recebido para publicao em maio ck, 1996)

    Notas

    1. Hola e Todaro (1992), por exemplo, alertam para o fato de que, em virtude das novas tendncias de gesto da mo-de-obra que esto acompanhando o processo de modernizao tecnolgica, as empresas estariam valprizando aspectos comportamentais considerados como tipicamente femininos, como capacidade de comunicao, facilidade para trabalho em grupo, habilidade de transmisso de conhecimento, flexibilidade no trato com as pessoas (Abramo, 1993, p. 2).

    2. Uma rica e pormenorizada anlise dessas tendncias no mundo atual pode ser encontrada em Mattoso (1995).

    3. Em interessante coletnea organizada por Abreu e Sorj (1993), por exemplo, esto reunidos estudos que elucidam as relaes entre trabalho a domiclio e modernizao tecnolgica,

    53

  • revelando que o atual processo de reconverso produtiva vem reatualizando essa forma de produo e ocupao (Abreu e Sorj, 1993, p. 12). Tambm Harvey chama a ateno para essa questo, lembrando o modo como as novas tecnologias de produo e as novas formas de organizao permitiram o retorno dos sistemas de trabalho domstico, familiar e paternalista: O retomo da superexplorao em Nova York e Los Angeles, do trabalho em casa e do teletransporte, bem como o enorme crescimento do setor informal por todo o mundo capitalista avanado, representa de fato uma viso bem sombria da histria supostamente progressista do capitalismo (Harvey, 1993, p. 175).

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    ResumoA Sociologia do Trabalho diante da Reestruturao Produtiva: Uma Discusso Terica

    Partindo da discusso da trajetria da Sociologia do Trabalho em trs pases onde a disciplina mais se desenvolveu, e analisando as transformaes porque vem passando o trabalho no atual contexto mundial de reestruturao, o artigo discute as principais tendncias tericas que se vm difundindo na rea. Os limites das anlises, que restringem seu campo de estudo aos aspectos materiais e tecnolgicos da questo, so sublinhados, ao mesmo tempo em que se destaca sua incapacidade de levar em conta os graves problemas sociais que se vm colocando para as sociedades atuais. Um dos eixos da discusso a noo de determinismo tecnolgico, tema considerado ainda central para o avano da disciplina.

    AbstractLabor Sociology in the Context o f the Restructuring o f Production: A Theoretical Discussion

    Based on both a discussion of the history of labor sociology in the three nations where it has enjoyed greatest development and on an analysis of labor transformations within the current world context of the restructuring of production, the article discusses the main theoretical trends within this field. The limitations of analyses whose scope is restricted to study of the material and technological aspects of the question are underscored, along with their incapacity to take into account the serious social problems currently facing todays societies. One of the main threads of this discussion is the notion of technological determinism, a topic deemed central to further progress within this field.

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