a sociologia de Émile durkheim

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A sociologia de Émile Durkheim (I) Objetivos Definir o que é fato social e suas características. Explicar a classificação dos fatos sociais como normais e patológicos. Identificar o crime como fato social e através do método proposto por Durkheim trabalhar o distanciamento necessário para analisar a evolução deste fenômeno a partir da ordem normativa de cada sociedade ou grupamento. Explicar a noção de consciência coletiva enquanto fenômeno associado às formas de solidariedade social. Demonstrar a influência da sociedade sobre comportamentos antes tidos como pessoais, problematizando as ideias de normalidade e patologia. Estrutura do Conteúdo 1. Émile Durkheim – criador da Escola sociológica francesa, com ele a sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente cientifica. Define o objeto da sociologia: os fatos sociais e atribui-lhe um método de investigação: a análise objetiva dos fatos sociais, que deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o investigador deveria manter uma relação objetividade com o objeto estudando, desfazendo-se de qualquer pré-noção em relação a eles. 2- Fatos sociais. Em seu livro “As regras do método sociológico”, Durkheim define os fatos sociais como “maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a característica marcante de existir fora da consciência individual”. Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constitui características intrínsecas de tais fatos. Para Durkheim a sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios). 2.1. Fato social normal - É normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Por isso, em sua concepção, o crime é

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A sociologia de Émile Durkheim (I)ObjetivosDefinir o que é fato social e suas características. Explicar a classificação dos fatos sociais como normais e patológicos. Identificar o crime como fato social e através do método proposto por Durkheim trabalhar o distanciamento necessário para analisar a evolução deste fenômeno a partir da ordem normativa de cada sociedade ou grupamento. Explicar a noção de consciência coletiva enquanto fenômeno associado às formas de solidariedade social. Demonstrar a influência da sociedade sobre comportamentos antes tidos como pessoais, problematizando as ideias de normalidade e patologia.Estrutura do Conteúdo1. Émile Durkheim – criador da Escola sociológica francesa, com ele a sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente cientifica. Define o objeto da sociologia: os fatos sociais e atribui-lhe um método de investigação: a análise objetiva dos fatos sociais, que deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o investigador deveria manter uma relação objetividade com o objeto estudando, desfazendo-se de qualquer pré-noção em relação a eles. 2- Fatos sociais. Em seu livro “As regras do método sociológico”, Durkheim define os fatos sociais como “maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a característica marcante de existir fora da consciência individual”. Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constitui características intrínsecas de tais fatos. Para Durkheim a sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios). 2.1. Fato social normal - É normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Por isso, em sua concepção, o crime é considerado um fato social normal, porque pode ser entendido como necessário (útil) para uma sociedade, pois se a consciência coletiva (moral) fosse excessiva, se cristalizaria e a consciência individual inovadora não se manifestaria. Desse modo, onde o crime existe é porque os sentimentos coletivos estão no estado de maleabilidade necessária para tomar nova forma: representa um fato social que integra as pessoas em torno de uma conduta valorativa, que pune o comportado considerado nocivo, que fere a consciência coletiva. Quando os sentimentos coletivos são fortemente atingidos, algumas ofensas passam de faltas morais para delitos e crimes. É por essa lógica que ele irá avaliar o castigo imposto não como forma de acabar com o crime, mas sim para mantê-lo na taxa social “média”. 2.2. Fato social patológico – é todo fato fatos que extrapola os limites aceitos pela consciência coletiva vigente em uma sociedade, é o comportamento tido com desviante. São fatos que põem em risco a harmonia e consenso representa um estado mórbido da sociedade. Eles são transitórios e excepcionais assim como as doenças. 2.3. Normalidade x patologia: O que é normal? Quais os parâmetros estabelecidos para

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diferenciar o “normal” do “anormal”? O que é normal varia de sociedade para sociedade. Segundo Richard Miskolci, “os anormais nada mais são do que construções sociais naturalizadas, as quais derivam de relações de poder que atribuem a eles uma posição de inferioridade e submissão na ordem social. Nossos corpos socializados trazem o passado ao presente e contribuem para a manutenção das categorias sociais e da hierarquia imposta pelo padrão de normalidade burguês. Assim, a desigualdade de poder chega aos indivíduos nos seus próprios corpos e no uso destes, dos prazeres e capacidades reprodutivas”. “Mas eu também sei ser careta De perto ninguém é normal Às vezes segue em linha reta A vida, que é meu bem, meu mal” Caetano Veloso, em “Vaca Profana”. 3. Consciência coletiva. Em seu livro “Da divisão do trabalho social”, Durkheim definiu consciência coletiva como “o conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade, forma um sistema determinado que tem sua vida própria; podemos chamá-la de consciência coletiva ou comum. Sem dúvida, ela não tem como substrato um órgão único; é, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade; mas nem por isso deixa de ter características específicas, que a tornam uma realidade distinta. Com efeito, ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas diferentes profissões. Por outro lado, não muda em cada geração, mas ao contrário liga as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira.” A consciência coletiva pode ser verificada em fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade. As torcidas organizadas e os grandes festivais de música, por exemplo, representam fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade.

Aplicação Prática Teórica

Questão discursiva: Leia o caso concreto e responda as questões propostas: Jovens roubam e agridem doméstica e afirmam que a confundiram com prostituta RIO - A empregada doméstica Sirley Dias de Carvalho Pinto, de 32 anos, teve a bolsa roubada e foi espancada por cinco jovens moradores de condomínios de classe média da Barra da Tijuca, na madrugada de sábado. Os golpes foram todos direcionados à sua cabeça. Presos por policiais da 16ª. DP (Barra), três dos rapazes — o estudante de administração Felippe de Macedo Nery Neto, de 20 anos, o técnico de informática Leonardo Andrade, de 19, e o estudante de gastronomia Júlio Junqueira, de 21 — confessaram o crime e serão levados para a Polinter. Como justificativa para o que fizeram, alegaram ter confundido a vítima com uma prostituta. (Publicada em 24/06/2007 às em O

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Globo On Line). 1 - Utilizando como base de análise a perspectiva teórica de Durkheim e as discussões em sala de aula, como podemos interpretar o comportamento individual e em grupo dos jovens mostrados abaixo? 2 – A partir da perspectiva sociológica de Durkheim, como pode ser analisado o ato cometido por estes jovens? Nessa perspectiva, a transgressão da juventude pode ser considerada um dado natural? 

Questão de múltipla escolha: Segundo Durkheim, em Educação e Sociedade, “todo o sistema de representação que mantém em nós a ideia e sentimento da lei, da disciplina interna ou externa, é instituído pela sociedade.” Conforme a teoria desse autor assinale a alternativa correta. A) Apesar de sua natureza social, o fim da educação é individual. B) A educação não possui natureza social, antagonizando indivíduo e sociedade. C) A educação tem por objetivo suscitar o individualismo a fim de conservar a ordem. D) Cabe à educação constituir no homem a capacidade de vida moral e social. E) A educação visa inculcar nas classes populares a ideologia da classe dominante.

Procedimentos de EnsinoAula teórica: Exposição oral com o auxílio de métodos áudios-visuais. Debate em grupo sobre temas correlatos à aula. Resolução de exercícios apresentados, bem como de exemplos, exercícios e estudos de caso escolhidos pelo professor, de forma a privilegiar, sempre que possível, as especificidades regionais. Sugestão de atividade extraclasse: Ver vídeo da música Gentileza, de Marisa Monte, em http://www.youtube.com/watch?v=mpDHQVhyUrY&p=77747511DFA895AA&playnext=1&index=13. Discuta, a partir do vídeo, as noções de normalidade e patologia.Recursos FísicosQuadro e pincel; Áudio-visual e/ou artigos de jornal/revista.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXQuestão discursiva: Leia o caso concreto e responda as questões propostas: Infância na hora da morte A mortalidade infantil na pequena cidade alagoana de Carneiros, a 253 quilômetros de Maceió, não é um índice, é um massacre: 633,3 em cada mil crianças. A miséria absoluta em que vive o pequeno município de 5800 habitantes é a causa principal da infinidade de enterros: crianças mal nutridas num lugar que praticamente nada produz, com exceção de pequenas culturas de mandioca e feijão, não resistem às doenças respiratórias e às complicações intestinais. O único médico da cidade, Gérson Leão de Mello, 31 anos, clínico geral formado pela Universidade Federal de Alagoas, atende em média oitenta pessoas, por dia, entre adultos e crianças. Muitas doenças, diz ele, poderiam ser evitadas caso a população fosse mais informada e menos afeita a crendices populares e tradicionais da região. As mulheres, por exemplo, em sua maioria casam-se muito jovens, com cerca de

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14 anos, isto quer dizer, quase crianças ainda, e têm em média, dezesseis filhos. Metade das crianças nascidas morre antes do primeiro ano de vida. Há casos drásticos, como o de Marinalva Maria de Jesus de 51 anos. Dos seus 26 filhos, apenas 4 sobreviveram. “Vivemos em um mundo diferente”, diz ela, esperamos somente o dia em que Deus chama para nos tirar desta terra. A morte das crianças é encarada como uma graça divina em Carneiros. Como diz Maria Milton dos Santos, 38 anos, que perdeu seis dos dezesseis filhos que teve: “Deus resolveu levá-los, me fazendo um favor”. (Adaptado da revista Isto É, maio de 2008) 1 - Considerando o texto apresentado responda: Na visão durkheimiana qual seria o modelo de sociedade que caracterizaria a cidade de Carneiros? Por quê? 2 – Que tipo de solidariedade social constitui a base da sociedade de Carneiros? Justifique sua resposta. 

Questão de múltipla escolha: Ao estudar os fatos sociais, Durkheim percebeu que alguns fenômenos desvelavam situações em que um indivíduo ou grupos perdiam as referências normativas que orientavam a vida e, com isso, enfraqueciam a solidariedade social. Qual o conceito desenvolvido por este autor que corresponde ao tema tratado na letra da música de Paulinho Moska exposta abaixo: “Meu amor o que você faria se só lhe restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Abria a porta do hospício, fechava a da delegacia? Entrava de roupa no mar, transava sem camisinha? Dinamitava o seu carro? Parava o trânsito e ria...” A) Normalidade B) Anomia C) Anarquia D) Solidariedade orgânica E) Solidariedade mecânica

Procedimentos de EnsinoAula teórica: Exposição oral com o auxílio de métodos áudios-visuais. Debate em grupo sobre temas correlatos à aula. Resolução de exercícios apresentados, bem como de exemplos, exercícios e estudos de caso escolhidos pelo professor, de forma a privilegiar, sempre que possível, as especificidades regionais. Sugestão de trabalho extraclasse: Pesquise sobre a peça “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque. Discuta as principais questões abordadas pela sociologia durkheimiana a partir das situações sociais presentes na peça. Recursos Físicos• Quadro e pincel; • Áudio-visual e/ou artigos de jornal/revista.

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